Cuidar



Adeus ou Tchau


Capítulo Cinco - Cuidar

I don’t care if it hurts
I wanna have control
I want a perfect body
I want a perfect soul


Hermione ia e voltava continuamente, a passos rápidos e ansiosos, circulando toda a sala comunal deserta. Rony estava sentado em uma poltrona diante do fogo, como Harry estipulara no plano. Em alguns minutos ele deveria aparecer naquela lareira, para dar o sinal... O ruivo estava tenso como poucas vezes na vida. Talvez ele pudesse dizer o mesmo de Hermione, mas como ela passara os últimos meses nervosa e muito propensa a uma crise histérica. Na verdade, o modo como ela circulava sem parar afligia Rony.
-Quer parar com isso, Hermione? – ele acabou soltando, nem de perto com a gentileza que deveria.
A garota estacou de súbito, e os cabelos fofos voaram para frente devido à inércia – e encarou Rony furiosamente.
-Eu estou enlouquecendo, Rony! – confessou, com lágrimas brotando numa velocidade assustadora. – Quero dizer, que garantia nós temos de que dará certo? Nós nem mesmo treinamos o suficiente aquele feitiço que o Harry disse... Se nós errarmos, Rony... Se nós errarmos, eu não quero nem pensar! – ela levou de repente a mão a um bolso interno de sua capa e virou-se de costas para ele. – Quem sabe o que os Comensais farão conosco? – a voz dela estava cortada demais para o gosto dele neste ponto; Rony levantou-se e ficou observando as costas de Hermione, sem saber exatamente o que fazer.
-Hermione... – ele murmurou, dando dois passos incertos. – Por favor, fique calma... Nós treinamos, não é, e conseguimos fazer a coisa milhares de vezes...
-Mas Rony! – ela o interrompeu de repente, virando-se, com uma lágrima definitivamente escorrendo por seu rosto. – É uma situação de risco! E você sabe como são essas coisas! Você não viu como eu acabei no quinto ano, quando fomos todos ao Ministério? Eu acabei lá, estatelada no chão!
-Hermione, por favor! – Rony retrucou, parecendo exasperado. – Você tinha quinze anos e achava que tinha acabado de derrubar o Comensal, eu sei da história. Nós tínhamos apenas os treinamentos da AD na época!
Os dois ficaram em silêncio; Rony ficou um pouco desconfortável porque os olhos castanhos de Hermione estavam cravados nos dele; Rony fitou o chão, sentindo o rosto esquentar, enquanto ainda lutava com a aflição de vê-la amedrontada. Afinal ele ergueu a vista e encarou-a.
E de repente, do nada, ela se precipitou e jogou os braços do pescoço do ruivo, abraçando-o com força. Rony sentiu os dedos trêmulos tateando seu pescoço, sentiu todo o peso da garota apoiado nele, e apenas a segurou, forte, como se só com o ato de envolvê-la com seus braços fosse suficiente para protegê-la de qualquer perigo que pudesse ameaçá-la. Como se ele fosse mesmo deixar os Comensais chegarem perto dela...
Mas Hermione estava com o rosto enfiado bem na curva do ombro com o pescoço, respirando contra a pele dele.
-Eu tenho medo... – disse ela de novo, com a voz entrecortada. – Está tudo nas nossas mãos... E se...
-Vai dar tudo certo, Hermione – e com isto Rony apertou-a contra si, como que para fazê-la ter uma noção inconsciente do quanto ele a queria perto. – Não duvide. Vai dar tudo certo...
Hermione se permitiu uns segundos de relaxamento ali; sentia as pernas transformadas em gelatina e não sabia dizer que era culpa do medo ou da presença de Rony. A mão dele se ergueu até seus cabelos, e acariciou-os repetidas vezes, lentamente. Ela não queria falar nada, e nem queria que ele falasse. Até que, finalmente se sentindo melhor, ergueu o rosto e fitou os olhos azuis de Rony com uma faísca de sua vivacidade original.
E, para sua surpresa, percebeu que aqueles olhos estavam progressivamente mais perto; Hermione não se assustou, nem teve qualquer impulso de se afastar, ela se sentiu também atraída, querendo ficar ali, para sempre...
Rony se sentia sob algum transe. Que se danassem os Comensais da Morte. Não pode evitar, seus olhos se deixaram ficar nas linhas dos lábios de Hermione, tão próximos como nunca haviam estado antes.
Para desagrado dos dois, a lareira repentinamente se incendiou e o susto fez ambos pularem para o lado; entre as chamas verdes que apareceram, a cabeça de Harry olhava para os dois, com fios de suor escorrendo pelo rosto.
-Está na hora. – e desapareceu, depois de um olhar significativo para ambos.
Hermione buscou a mão do ruivo de novo, que apenas falou, depois de respirar fundo:
-Vamos botar uns Comensais pra correr.


*-*-*-*-*-*-*

-Saiam da frente!
Dois bruxos jogaram-se com as cadeiras para o lado, a fim de que Rony passasse correndo com uma Hermione desacordada nos braços; o que acontecera com ela, ele não sabia. Carlinhos estava correndo logo atrás dele, com Nicolai em seus calcanhares. Draco ficou sentado onde estava, sem se incomodar de forma muito especial com o desmaio da bruxa.
Dan também se levantou de onde estava e correu a sacar a varinha, fazendo reaparecer uma porta no canto direito da parede às suas costas. Rony passou arfando e os três continuaram seguindo-o.
Estavam numa saleta pequena, com quadros insones nas paredes, alguns sofás e uma mesinha com o que poderia ser um bule de café, ladeado por algumas xícaras. Rony depositou Hermione deitava sobre um longo sofá azul-escuro, e apertou inconscientemente a mão dela, sentindo a sua própria muito fraca.
-O que aconteceu? - inquiriu ele, com um olhar incisivo sobre seu irmão.
-Eu não sei - respondeu Carlinhos, passando uma mão pelo cabelo e parecendo tenso. - Ela estava discursando, como vários outros, e de repente ela parou de falar, se apoiou na mesa... Não sabemos de nada!
Nicolai estava inquieto atrás de Rony. O ruivo se virou, sentindo raiva sem saber de onde ela vinha, e interrogou o rapaz.
-Quem é você?
-Nicolai Strotski, senhorrr...
-O que estava fazendo ao lado da Mione?
-Eu... - Nicolai gaguejou. - Eu ser o intérrrrprete dela.
Rony se voltou para Carlinhos.
-Mas não era ela que estava falando? Todos aqui entendem inglês, não é verdade? Para quê ela precisa de um tradutor se ninguém estava falando em russo?
Carlinhos pensou um pouco e deu de ombros.
-Apenas os membros da conferência e o dono do hotel falam inglês, senhor... Hum...
-Weasley. Sou irmão dele - replicou Rony, indicando Carlinhos.
-Sr. Weasley - Dan recomeçou. - São normas do Ministério russo. A princípio a idéia do governo era que o russo fosse o idioma usado na conferência, mas como quase ninguém além dos próprios russos fala a língua...
-Tá, certo, já entendi. - Rony interrompeu, virando-se depressa para Hermione. Tentou pensar, alucinado, no quê poderia fazer para despertá-la. - Enervate! - Tentou, apontando sua varinha para ela.
Nada.
Vê-la desacordada trazia más lembranças a Rony. Fazia muito pouco tempo que ele a vira acordar de uma maldição lançada por Voldemort. Se ele pelo menos tivesse ouvido as palavras. Ninguém conseguira... Ela estava em língua de cobra. Apenas Harry teria entendido, se não tivesse chegado depois. Sentiu os olhares apreensivos dos outros perto dele.
-A conferência não está continuando? - perguntou ele subitamente, virando-se para eles. - Eu vou tomar conta dela, podem deixar.
-Rony, você tem certeza... - começou Carlinhos.
-Vocês sabem o que ela estava dizendo, não sabem? - o outro cortou-o de novo. - Então continuem com o que quer que seja. Se Hermione acordar e descobrir que os tais dos Yets se ferraram porque ela passou mal, será capaz de convocar outra conferência.
Carlinhos sustentou o olhar do irmão por um momento. Dan e Nicolai também se entreolharam. Depois Dan e Carlinhos viraram as costas a Rony; Nicolai ainda observou o rosto pálido e imóvel de Hermione com certa preocupação antes de sair atrás dos dois, fechando a porta.
Rony ficou ali por alguns instantes, fitando o rosto de Hermione, preocupado. Ela poderia ter sido envenenada! Poderia ter sido azarada por baixo da mesa de qualquer país... Ou Harry poderia estar certo. Ela ainda estava sob os efeitos da maldição. Da última vez... Da última vez ele a trouxera de volta. Ele sentia que tinha feito.
Ah, aquela situação era ridícula! Por mais que as circunstâncias fossem remisturadas, era quase irreal ver Hermione ali, fraca e abatida, e Rony cuidando (ou tentando cuidar) dela, quando ela era uma bruxa com talentos tão mais poderosos e não era nada desajeitada, comparada com ele.
Questão de sorte, ele decidiu.

*-*-*-*-*-*-*-*

Hermione não estava sonhando, a princípio. Estivera apenas numa espécie de estado de semi-consciência, onde podia sentir muito distantes braços esticando-se e a levando do chão, com algumas vozes e algum movimento. Ela sentia muito frio, tremia. Esticou uma mão e se segurou a um suéter de lã que lhe parecia confortavelmente familiar. E então caiu em sonhos. E não viu mais mortos nem trevas nem nada dos outros sonhos, apenas viu-se sozinha, nua, diante de um campo aberto de terra seca e infértil. Hermione olhou de um lado e de outro, procurando algo para se vestir, um amigo para a proteger, mas não viu nada. Começou a correr de súbito, achando que mais cedo ou mais tarde ela teria que encontrar alguma coisa. Mas quanto mais ela corria, menos ela parecia percorrer, e o cenário não mudava, nem mesmo o sol, em posição de cinco horas às suas costas, não se mexia. A vergonha que ela tinha de encontrar alguém estando sem roupas começou a ser substituída pelo desejo aflito dessa mesma coisa; antes que a vissem nua do que ninguém a ver, ninguém ajudá-la, ninguém se importar com ela.
Mas a imagem foi se dissolvendo sozinha, gradativamente, como sonho que era; o sentimento de desconforto e solidão foi de desanuviando, e ela começou a se sentir acordada, ainda de olhos fechados, e mexeu a ponta dos dedos da mão esquerda, com muito pouca força, apenas para provar a si mesma que conseguia ao menos aquilo. A outra mão parecia estar de alguma forma imobilizara; Hermione deu-se conta de que havia uma pessoa muito próxima dela. Uma mão grande e morna prendia seus dedos juntos, como se estivessem colados, e havia uma respiração cortada que às vezes chegava a fazer cócegas em suas bochechas. Ela hesitou em abrir os olhos, mas antes que pudesse decidir qualquer coisa, um barulho de vestes esfregando-se umas nas outras se fez notar e, para seu estremecimento, dois lábios se juntaram num beijo em sua testa.
Hermione pareceu despertar melhor depois daquele gesto de carinho; seus olhos piscaram e se abriram para fitar bem de frente o rosto sardento e preocupado de Rony, que tinha os olhos azuis fixos nela como se fossem algo de outro mundo a que ele nunca antes tivera acesso.
Ela sentiu uma onda de felicidade tão poderosa, que foi capaz de inundar seus sentidos e sua razão, de modo que ela acabou por se sentar depressa para se jogar nos braços de Rony, não pela primeira vez.
Rony sentiu-se abraçado com uma sensação de alívio indescritível; também abraçou Hermione de volta e apertou-a, querendo sentir todos seus sinais de vida com aquilo. O susto acelerara sua respiração; o ruivo apertou-a contra seu ombro e viu o cabelo dela se mexer ao receber as bufadas violentas do ar sendo expulso de seus pulmões a intervalos.
-Não faça mais isso comigo. – ele disse de forma abrupta e inesperadamente delicada. – Não pense que você pode me chutar assim da sua vida.
Hermione sorriu para si mesma, tocada pelas palavras.
-Você está bem? – ele perguntou, quando ela se soltou parcialmente e encarou-o.
-Estou... – ela murmurou, com sinceridade. – O que você está fazendo aqui, Rony?
-Vim buscar certa moça que parecia muito perturbada e que provou que estava precisando de cuidados. – ele respondeu, deixando um sorriso presunçoso atravessar seu rosto.
Ambos sentiram o ar ficar mais leve; mas Hermione se tornou de repente muito ciente do braço que restara em sua cintura, embora ela não tivesse certeza de seu propósito.
-Rony... – ela começou, sem mesmo ter escolhido qualquer coisa para dizer. Pensava tanto nele que era simplesmente impossível sintetizar tudo em uma única frase. E havia outro fator que contribuía para seu silêncio: os olhos azuis fixos nela tão fortemente quanto eram capazes.
Os dedos que tocavam sua cintura se mexeram de forma quase preguiçosa, como ela acabara de fazer, antes de despertar. Hermione engoliu em seco e ergueu os olhos, para ver um ruivo que se aproximava lenta e fatalmente, como se fosse a coisa mais óbvia a ser feita naquele momento.
Rony e Hermione buscaram os lábios um do outro como se fizessem aquilo todos os dias; ela jogou os braços à volta do pescoço dele como se simplesmente fosse sua natureza fazer, sentindo a pele morna embaixo de seus dedos, enquanto a mão em sua cintura pareceu reanimada e a apertou quase numa tentativa de fazê-la mais real.
Beijaram-se... De forma livre e natural, apoiando-se um contra o outro. Hermione foi puxada mais para perto, apenas para encontrar Rony de frente, correspondendo a cada abraço, soltando-se e se libertando do medo que a perseguira durante todo aquele tempo.
Rony perdeu o controle de si; exagerou na força com que retinha Hermione em seus braços, exagerou no desespero com que sorveu seus lábios. Ele só queria ter certeza que ela estava mesmo ali, que ela o queria mesmo com tudo que ele acarretava.
Lentamente ela se soltou, e as bocas apenas se separaram quando a consciência da bruxa começou a despertar, devagar e avassaladoramente. O sorriso que ameaçara brincar em seu rosto foi sumindo conforme ela se forçava a lembrar o perigo que representava para ele.
O ruivo notara as nuvens que encheram os olhos dela.
-O que foi? – ele perguntou, temendo a resposta.
Hermione levou uma mão à testa, olhou com preocupação para ele. Depois levantou-se do sofá e observou enquanto ele também se erguia.
-Rony... Por favor, me escute – disse ela, tentando escolher as palavras. – Eu tenho um problema. Um não, alguns. E... – dizer que ela estava em perigo certamente atiçaria o espírito grifinório dele. Era tolice dizer que ela estava em perigo. – E... São coisas que... Apenas eu posso resolver, sozinha.
As sobrancelhas de Rony se juntaram.
-Ah, não venha com conversa – cortou ele. – Eu atravessei a Europa inteira só porque você me falou uma palavra diferente do normal. Vim justamente para te ajudar e ficar... – ele hesitou, desviando o olhar. – do seu lado.
Os olhos dela arderam, e Hermione virou-se de costas. Rony não podia ver que ela estava chorando, ou se convenceria de que ela precisava dele.
-Você não entende, Rony – murmurou ela, fraca. – são coisas sérias, essas das quais eu estou falando. – Hermione encheu o peito de ar. – E eu tenho que resolver tudo sozinha, é, é isso mesmo. Sozinha, sem você. E não pense que estou falando do congresso, porque não tem nada a ver com isso.
Rony sentiu as orelhas se avermelhando, costume antigo. Ele odiava quando ela falava como uma sabe-tudo! Era sempre a parte que mais o irritava nos tempos de escola.
-Está cuidando muito mal desses problemas, pelo que vejo! – replicou ele, erguendo a voz.
Ela respirou fundo, sentindo os olhos secos de novo, e virou-se.
-Eu não quero mesmo que você fique atrás de mim. – ponderou, prendendo a respiração depois do ponto final. – Sou uma bruxa adulta e renomada, sei muito bem me cuidar sozinha.
Hermione deu dois passos na direção da porta quando Rony disparou:
-Então por que diabos você me beijou?
Porque eu te amo, foi seu impulso.
-Eu... Eu não sei. – retorquiu ela com um olhar gelado, tomando mais uma vez o rumo da porta.
Mas a passos largos o ruivo alcançou-a quando ela estava prestes a pôr a mão na maçaneta, segurando-a pelo cotovelo.
Ela se virou, forçando uma expressão enfastiada, para encontrar um rosto terno com uma boca trêmula pela emoção retraída.
-Deixe-me cuidar de você, Hermione. – ele falou, quase num sussurro. – Tomar conta de você. Você está enlouquecendo. Está se destruindo e nem quer me dizer por quê. Por favor, me deixe tomar conta de você, Hermione.
Por um instante tenso, ela encarou-o. Depois, se dizer nada, livrou-se com um puxão e abriu a porta.
Rony viu-se de volta ao salão de refeições. Hermione estava atravessando o saguão silencioso; todos tinham ido embora, exceto por alguém sentado à mesa da Rússia. Rony pensou um pouco e reconheceu um certo Dan Strotsnov, ou qualquer coisa parecida. Hermione foi até ele a passos rápidos e iniciou uma conversa sussurrada, enquanto o homem lançava olhares para Rony a intervalos.
O ruivo de repente lembrou-se de sua chegada àquele país; com certeza havia algo esquisito acontecendo naquela conferência. Precisava contar para Hermione, independente de quantas vezes ela pudesse chutá-lo. Aquele, que fora seu maior medo, agora não o assustava tanto; Rony estava convencido que ela estava com alguma idéia de que não podia ficar com ele.
Aproximou-se dos dois depressa, com a história do “disfarrrce” na garganta. Os dois cortaram seu assunto quando ele chegou.
-Hermione – arfou ele, tentando parecer mais impessoal, lançando um olhar de desconfiança para Dan. – Quando eu cheguei a este país aconteceram umas coisas suspeitas... Eu preciso falar a sós com você. – disparou, sem fôlego.
Os dois ficaram em silêncio. Hermione estudou-o com cautela, depois olhou de esguelha para Dan.
-Dan já mencionou algo do tipo, Rony. – murmurou ela, forçando um tom formal.
-A conferência foi adiada por causa dela, Sr... Weasley – Dan explicou, visivelmente envergonhado. – Em três dias ela será realizada outra vez. – Estou aqui com a Chave de Portal, devemos voltar para o hotel de Gaarder. Depois conversaremos sobre o que está sendo planejado às nossas costas.

*-*-*-*-*-*-*

Rony não gostava nadinha do jeito daquele Dan. Ele parecia demais com o tipo sensato e maduro. Demais.
E, acima de tudo, ele percebeu que o bruxo tratava Hermione com especial cuidado. E definitivamente ele não estava imaginando coisas... Com certeza ele queria algo com ela! Sim, aquilo explicava toda a dedicação.
Quando chegaram ao hotel, Hermione dispersou com tal agilidade que Rony nem tentou segui-la. Dan aconselhou-o a fazer o registro no hotel por aqueles três dias, se pretendia ficar no país. Não perguntou por que ele tinha vindo; Rony queria que ele tivesse perguntado. Só para responder que viera por causa de Hermione, porque estava preocupado com ela; também daria a entender que os dois tinham um caso, para quem sabe, desanimá-lo a chegar perto dela.
Sentindo ainda aquele ciúme quase selvagem, Rony avistou Carlinhos na recepção do hotel, notavelmente esperando por ele.
-Janta comigo? – perguntou seu irmão quando Rony o alcançou. – O restaurante do hotel parece ser muito bom.
Rony assentiu, sentindo os ombros ainda tensos; Dan desaparecera entre a multidão que se aglomerava na recepção. Alguns bruxos lançaram olhares curiosos a Rony, o que era previsível; afinal, ele havia invadido a reunião deles aparentemente do nada e bem no instante que aquela bruxa inglesa de cabelos cheios resolvera desmaiar.
Carlinhos guiou-se entre as pessoas até um salão contíguo, com móveis antigos e de certa forma mesmo barrocos, rebuscados e com entalhes curiosos nos braços das cadeiras. Rony se sentou, muito desconfortável, diante do irmão.
-Comece a falar. – murmurou Carlinhos, depois de fazer o pedido. – O que está fazendo aqui?
-Hermione está com problemas. – retorquiu Rony, que não tinha muita vontade de entrar em detalhes.
-Que tipo de problemas? – Carlinhos insistiu.
Na verdade, ele não tinha a menor vontade de entrar em detalhes.
-Ela está se recusando a me dizer. – murmurou ele, contrariado. – Você não vai perguntar tudo, vai?
Carlinhos fitou-o com seriedade.
-Rony, eu não sei o que está acontecendo com você. – comentou ele. – Você está estranho. Já estamos sentados aqui há cinco minutos e você ainda não fez uma piada. Nem mesmo disse que os braços da cadeira parecem cabeças de sereianos, o que eu mesmo reparei ontem, quando cheguei.
-Aconteceu uma coisa quando cheguei à estação de Flu. – revelou o outro, olhando para a entrada; alguns bruxos começavam também a escolher mesas e a fazer seus pedidos. Olhando em volta de novo, Rony contou tudo, desde o velho bruxo que perguntara se ele trouxera os papéis até a citação do tal nome – Hawstings.
Carlinhos respirou fundo e virou-se de costas, espiando a entrada.
-Está vendo aqueles dois bruxos loiros, o gordo e o magrelo?
Rony assentiu.
-Muito bem, o magro é justamente o cara chamado Hawstings. Da Noruega.
-Bem, então o que a Noruega poderia querer de especial com esses bichos, os Yets?
-Eu não sei. – respondeu Carlinhos. – Mas Dan Strotski já comentou comigo que anda pescando no ar alguma tramóia. E talvez o nosso homem seja Hawstings. E com certeza van Pels, o outro ao lado dele, também está nisso.
Rony fechou imediatamente a cara quando seu irmão mencionou Strotski.
-E eu acho que você deveria contar isso a ele. Se eles estavam esperando um ruivo, o verdadeiro com certeza chegou depois e não teve a Chave para chegar à conferência. E agora que Hermione passou mal, eles terão três dias para se reestruturar.
-Eu não vou pedir a ajuda daquele Stroski! – Rony vociferou, pondo as mãos na mesa. – Não gosto dele. Ele também me parece suspeito. Ele te disse de onde tirou essa idéia de conspiração? Muito bem, eu acho que não passa de uma armadilha para heróis. Se alguém demonstrar muito interesse em investigar as coisas, ele já dá fim na pessoa.
Carlinhos revirou os olhos, sem acreditar.
-E por que Dan estaria mancomunado com os noruegueses?
-Eu não sei – retorquiu Rony, agressivo. – Mas eu não vou pedir a ajuda dele. Já disse.
Carlinhos ia insistir, mas os dois se calaram quando Malfoy entrou no restaurante.
-E isso? O que está fazendo aqui? – ele perguntou.
-O Ministério quis se livrar dele e o mandou atrás de mim. – sibilou de volta seu irmão, quando Malfoy chegou e se sentou.
-Este lugar está um inferno. – ele reclamou. – Se mais alguém vier me perguntar como a Granger está, acho que vou dizer que ela está em coma e não deve despertar pelos próximos cinqüenta anos.
-Cale a boca, Malfoy. – replicou Carlinhos. – Agradeça se ela ficar nova em folha, porque vamos precisar dela quando a conferência recomeçar.
Malfoy virou os olhos.
-Estou pouco me ferrando com que rumo levam esses malditos animais.
Rony segurou uma resposta, mas estava muito ocupado pensando consigo mesmo.

*-*-*-*-*-*-*-*

Depois do jantar, Rony foi se registrar com o dono do hotel. Tão logo entrou na sala de Gaarder (a recepção estava vazia, muita gente já havia se recolhido), viu Hermione ali, falando com ele a sussurros.
Rony congelou, encarando-a. Hermione notou a presença dele imediatamente e tratou de se despedir de Gaarder, passando depois por ele como se fosse um enfeite da sala.
Já registrado, o ruivo pegou a chave de seu quarto – embora ele não tivesse lá muita certeza de como chaves funcionavam – e começou a subir as escadas. Foi quando veio descendo um homem alto, magro e de cabelos loiros, com olhos azuis estalados. Hawstings deixou seu olhar sobre Rony por um instante a mais do que ele gostaria; e se perguntassem a Rony, ele diria que fora um dos olhares mais assassinos que já lançaram nele.




N/A - Obrigada pelo comentário!! Eu tenho uma ilustração que fiz pra esse capítulo... Se quiser, me adicione no msn (amandadumbledore hotmail.com) q eu te passo!

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