Memórias



Cartas Para Ninguém



Capitulo 3



Memórias





-Malfoy? Quem é o Malfoy?



A rapariga voltou-se e encarou-o seria.



-Como assim, quem é o Malfoy? Tu és o Malfoy.

-Desculpa mas estás enganada, esse não é o meu nome.

-Então qual é?

-….Hum…… Não me lembro ….. O que é que eu estou aqui a fazer?

-Espera, tu não te lembras do teu nome? Não me digas que…. Não! Sabes quem sou eu?

-Não propriamente.

-Weasley, e então, lembras-te?

-Não.

-Roupas em segunda mão, sardas, cabelos flamejantes, não?

-Não. Arranja-me um espelho.



Ginny tirou a varinha do bolso e conjurou um espelho.



-Como é que fizeste isso? – Perguntou o loiro confuso.

-Magia …. Não acredito que também te esqueceste disso!

-Magia?!?! – Ele estava espantado.

-Sim, com uma varinha. Experimenta com a tua – Caminhou até á lateral da cama do rapaz e da mesinha de cabeceira tirou a que seria a varinha dele.



Draco pegou-a e agitou-a no ar fazendo com que algumas faúlhas verdes saíssem da ponta da varinha.



-O que é que isto significa?

-Que essa é a tua varinha. Pega o espelho – Passou o espelho ao rapaz e ele encarou-se duma forma estranha.

-…Eu não conheço esta cara….. Eu não me lembro de nada …. – Murmurou em tom baixo.

-Alguma coisa tens de te lembrar. Faz um esforço ….



Draco fechou os olhos por um momento tentando lembrar-se de alguma coisa.



-E então?

-Nada….

-Vá lá Malfoy …. Tenho a certeza que consegues….

-Não me chames Malfoy!

-E queres que te chame o quê?

-Não tenho outro nome, um nome próprio?

-Draco, Draco Malfoy.

-Draco…. – Repetiu em tom baixo.

-Vou chamar alguém para tratar de ti – Disse.

-Não, espera, fica.



Ginevra sentou-se na cama do loiro e olhou-o.



-Como é que te chamas?

-Ginny, para os amigos.

-Nós éramos amigos?



A ruiva riu deixando o rapaz confuso.



-Não, nem por isso….

-Então?

-Nós odiávamo-nos.

-Porquê?

-Famílias rivais, a tua odiava a minha e a minha odiava a tua.

-Porquê?

-A tua família é rica e a minha não.

-Isso não é um pouco ridículo, duas famílias odiarem-se por causa de dinheiro?

-Exactamente…. Tens mais perguntas?

-O que é que me aconteceu?

-Bem, ninguém sabe ao certo, houve um ataque no mês passado, um ataque de devoradores da morte e tu foste atingido. Foste encontrado pelos aurores e trazido para aqui, tens estado desacordado desde então.

-Ataque? Devoradores da morte? Aurores?

-Enquanto falamos o mundo lá fora está em guerra.

-Guerra? Contra quê? Contra quem?

-Basicamente, há um bruxo que quer acabar com todos os feiticeiros que ele considera impuros, e o nosso lado luta contra os seus servidores, os devoradores da morte.

-E á quanto tempo é que estamos em guerra?

-Cerca de quatro meses.



A conversa dos dois foi interrompida por um chamar insistente.



-Gi! Gi! – A ruiva levantou-se da cama e caminhou até á pequena que a chamava.

-Bom dia baixinha – Ergueu-a no ar fazendo com que ela risse.



A loirinha segredou algo ao ouvido da ruiva e depois afastou-se dela, esperando uma resposta. Ginny caminhou até á cama do loiro e pousou Mara.

A pequena gatinhou até estar em cima do peito de Draco e deu-lhe um beijo lambuzado na face.



-Acho que ela gosta de ti – Disse a ruiva ainda a rir da cara espantada do loiro.

-E quem és tu baixinha? – Perguntou Draco elevando-a um pouco em seus braços.

-Ma….

-Ela é a Mara – Respondeu a ruiva – Foi encontrada pelos aurores no mesmo ataque que tu. Ela é órfã, os pais dela foram mortos pelos devoradores da morte.

-E agora?

-Ela tem ficado aqui no hospital, com sorte, no final da guerra arranje uma boa família que a adopte.

-E entretanto?

-Ela está aos meus cuidados, assim como a Bia e a Liza. Os pais dessas duas estão aqui no hospital, mas ainda incapacitados de voltar a casa. Mas acho melhor descansares agora, depois de um mês de “coma” tens de te recuperar – Pegou a loirinha no colo e saiu do quarto para procurar uma enfermeira.



Draco recostou-se nas almofadas. Estava confuso, não se lembrava de absolutamente nada do seu passado e só poderia contar com a ruiva para o ajudar.



Alguns minutos depois Ginny voltou ao quarto, ainda carregando Mara.



-A enfermeira deve estar a chegar, provavelmente vais ser transferido, vão colocar-te junto com outros pacientes.

-Eu quero ficar aqui.

-Mas aqui é muito barulhento, as miúdas são irrequietas.

-Não importa, eu quero ficar aqui, para que tu me ajudes a lembrar.

-Eu não sei …. Acho melhor ires, mas se queres mesmo ficar tens de falar com os médicos, eu não tenho importância suficiente para decidir isso.



Afastou se da cama do Draco e caminhou até á cama das pequenas.



-Bom dia dorminhocas…. – Disse ao ver que as duas raparigas a olhavam, ainda com olhos de sono.

-Bom dia Gin….

-Vou pedir-vos um favor …. Têm de se comportar porque ele acordou – disse apontando levemente com a cabeça em direcção á cama do loiro.

-Já acordou?

-Sim, mas ele ainda está um pouco confuso. Não se lembra bem do que lhe aconteceu, por isso não lhe façam perguntas, ok?

-Sim Gin.

-A Jenny deve estar a chegar com o pequeno-almoço. Depois disso vão ver os vossos pais.



Assim que as duas saíram do quarto com Jenny, Ginevra sentou-se à secretária, entre a cama de Mara e a de Draco.



“Finalmente o Malfoy acordou… Já me sentia estranha de o ver assim …. Mas estranha mesmo foi o que se revelou ser esta situação … Depois de estar um mês completamente “desligado” ele acordou sem qualquer memória do passado … Ele nem se lembra do próprio nome…. Se calhar esta situação é mais complicada do que imaginava …. Quer dizer, será que ele vai ficar assim por muito tempo? Sem memória, sem se lembrar de nada? “



-O que é que tanto escreves? – Era Draco que falava.



Tinha sido observado minuciosamente pelos médicos que nada acharam de estranho a não ser a falta de memória. Agora estava deitado de lado na cama e olhava para ela.



-Ah….Nada de especial na realidade …. É como uma espécie de diário, normalmente escrevo sobre o dia-a-dia … Nada de muito importante ….

-E o que é que costumas fazer aqui?

-Tratar das pequenas….. Elas não dão muito trabalho, é só saber como mantê-las entretidas. Por vezes vamos ao jardim brincar na neve, outras vezes leio-lhe uma história, elas fazem desenhos … E por falar em desenhos elas fizeram um monte para ti.

-Para mim?

-Sim. Estão em cima da mesinha de cabeceira.



Draco voltou-se para o outro lado da cama e deparou-se com uma pilha de pergaminhos. Sentou-se na cama e começou a ver os desenhos feitos pelas raparigas.



-Tu não te lembras mesmo de nada, pois não? – Perguntou quebrando o silêncio.

-Não, porquê?

-É a forma como tu ages …. Se te lembrasses mesmo de quem és nem sequer estarias aqui, a respirar o memo ar que eu … Eu já te disse, nós odiávamo-nos…. Mas apesar de tudo, gosto mais de ti assim….

-Se calhar é melhor assim … Quer dizer, se eu era assim tão insuportável ….

-Mas eu acho que no fundo não eras assim … Acho que aquilo era só fachada… Para agradar ao teu pai…

-O meu pai …. Também não me lembro dele …. Mas afinal que raio de pai era o meu, que se agradava com o facto de eu ser um pirralho mimado e intragável….

-Lucius Malfoy … Digamos que ele não é a melhor pessoa do mundo … Na realidade nem sei se tem algo de bom …. Desculpa estar a falar assim do teu pai…

-Não tem mal… Eu não me lembro …. Mas provavelmente deves ter razão …. – Voltou a deitar-se na cama, desta vez com os braços cruzados atrás da cabeça, a fixar o tecto.



Ficaram em silêncio e Ginny tornou a escrever.



“Parece mesmo que ele não se lembra de nada … Deve ser difícil para ele …. Não se lembrar de nada, do que se passou, nem ao menos saber de onde vem…. É, não deve ser uma situação nada fácil ….. Começo a ter pena do Malfoy…. Será que alguém sabe o que lhe aconteceu nestes tempos, porque a ultima vez que o vi foi no dia da formatura do Ron, ou seja, no dia da sua própria formatura ….”



-Potter … - Disse ele em tom baixo.

-O quê?

-Potter, quem é? – Perguntou, voltando-se para ela.

-O teu maior inimigo. Harry Potter, vocês odeiam-se desde o dia em que entraram para a escola.

-Eu odeio muita gente, não?

-E muita gente de odeia de volta – Disse arrependendo-se logo em seguida – Não era isso que eu queria….

-Deixa … Já sabes que não vou ficar chateado, pura e simplesmente porque eu não posso provar que o que dizes é mentira … eu não me lembro….

-Mas de qualquer maneira desculpa …. Esta situação já deve ser difícil o suficiente para ti, eu devia ajudar-te e não dizer-te que és odiado por toda a gente.

-Bem se essa é mesmo a verdade, então estás a ajudar-me – Concluiu voltando a fixar o tecto.



. . . . .



“St. Mungus, 6 de Dezembro



Tenho passado estas últimas noites na Toca, por ultimato da Jenny. Em casa está tudo bem, e no hospital também.



As miúdas estão cada vez mais felizes, a mãe da Liza acordou e em breve, tanto a Liza como a Bia poderão voltar para casa. Depois disso serei só eu e a Mara, ou melhor dizendo, eu a Mara e o Malfoy.



O Malfoy, ou melhor, o Draco (como ele insiste que o trate) está totalmente restabelecido, tirando a parte da memória. De vez em quando ele lembra-se de coisas soltas, normalmente nomes de pessoas de Hogwarts.



Tenho tentado re-ensina-lo a fazer magia, mas as coisas não têm corrido muito bem”



-Vá, aos três, Wingardium Leviosa. Um, dois, três.

-Wingardium Leviosa – Disse ele, apontando para um pergaminho que estava em cima da secretária.



O pergaminho ergue-se alguns centímetros mas logo depois voltou a cair.



-Estou farto! Esta falta de memória está a dar cabo de mim! Este é um feitiço básico, dizes tu, mas sinceramente, eu não consigo.

-Não sejas parvo Draco, concentra-te, os miúdos fazem isto no primeiro ano de Hogwarts e eles só têm 11 anos.

-Isso não está a ajudar!

-Ok, ok, desculpa. Tenta lá uma vez mais.

-Wingardium Leviosa – O pergaminho levitou e seguiu os movimentos da varinha de Draco.



“Mas nada que não se resolva… Com um pouco de paciência e tempo isto vai ao sitio.

As miúdas adoram o Draco, e parece que ele gosta delas de volta. Mara apegou-se muito a ele e por ela passava todo o tempo abraçada ao loiro, deitada ao lado dele na cama.”



Draco estava deitado na cama e Mara estava sentada em cima do peito dele.



-Mara – Disse, para que a loirinha pudesse repetir.

-Ma….

-Ginny.

-Gi!

-Liza.

-Lixa.

-Bia.

-Bia.



Ginny observava a cena, sentada na sua poltrona, voltada para a cama do loiro.



-Draco – Disse ela.

-Daky – Repetiu Mara fazendo a ruiva rir.

-Daky? – Perguntou ele.

-É, parece que sim. Vamos Mara, está na hora do banho – Ergueu-se e esticou os braços para a loirinha.

-Não.

-Não? Vamos lá Mara, tens de tomar banho.

-Daky – Abraçou-se ao pescoço do loiro.

-Hei, baixinha, tens de tomar banho. Vai com a Ginny – Afastou a loirinha delicadamente de sim e entregou-a á ruiva.

-Obrigada Draco.

-De nada.



“É estranho conviver com o Draco … Primeiro porque estava habituada a tê-lo como inimigo, a ouvi-lo dizer mal da minha família e agora somos como amigos …. Em segundo porque ele não se lembra de nada ….. É estranho falar com ele e a cada momento ter de parar a conversa para lhe explicar as coisas….”





-Então o Ron e a Hermione estavam lá….

-A Hermione é aquela que namora com o teu irmão e que era a melhor aluna em Hogwarts?

-Sim…. De qualquer maneira…. Onde é que eu ia mesmo?

-Eles estavam lá….

-Ah sim…. Eles estavam lá e começaram a discutir assim do nada, no meio da rua, e toda a gente ficou a olhar para eles. Eles são assim, sempre a discutir mas não podem viver um sem o outro.

-E tu não tens ninguém…?

-Não…. Não tenho tempo para isso, ainda para mais estamos em guerra, não é a altura apropriada para um romance….

-Porque não?

-Ah sei lá … as coisas já são tão complicadas quando temos de temer pela nossa vida, imagina o que é ficar preocupado todo o tempo com a outra pessoa….

-Bem visto …. Mas tendo outra pessoa não se fica sozinho ….. Quer dizer, se tu tivesses alguém não estarias tanto tempo no hospital….

-Não sei se não estaria … Estas miúdas são muito importantes para mim …. Principalmente a Mara…. Vai custar-me imenso a separação …. Mas por enquanto não quero pensar nisso…..

-É …. Não vale a pena sofrer antecipadamente…Mas acho que devias arranjar alguém , para te distraíres, sei lá tu só tens o quê, 17 anos, devias aproveitar a juventude, e não ficares aqui trancada neste hospital … Tudo bem que é uma boa maneira de ajudar, mas tens de pensar em ti….

-Nunca esperei dizer isto, mas concordo contigo Draco …. Só que as coisas não são assim tão fáceis….



“É verdade, mas até agora ainda não acredito que contei tudo aquilo ao Draco … Ok ele não era o pirralho mimado dos Slytherin como antes… Mas continuava a ser o Malfoy … Um sem memória, mas um Malfoy…”



-Quem é ele?

-Como assim quem é ele?

-Ginny, embora só te conheça á quê? Quatro, cinco dias, dá para perceber que tu não consegues esconder nada… de ninguém …. Portanto não vale a pena tentares … Quem é ele?

-Ok, ok, não tenho outra hipótese não é mesmo?



O loiro sorriu e acenou negativamente.



-É o Harry – Murmurou, olhando para os joelhos, muito corada.

-O Potter? O tal que é meu maior inimigo?



Ela apenas acenou, sem levantar os olhos.



-E parece que ele não corresponde, não é mesmo?

-É …. E o absurdo da situação é que eu cansei de saber isso…. Desde sempre, desde os meus 11 anos … Eu quase o esqueci, quase … Mas sabendo que ele toma parte activa na guerra deixa-me super aflita…



“OK, ok… Eu sei que nunca escrevi sobre isso …. Porque eu não queria guardar como recordação um pedaço de pergaminho que mostrasse o quanto eu ainda sou apaixonada pelo Harry Potter…. “





-Mas se ele não corresponde é porque não te merece.

-E o que é que te faz dizer isso?

-Eu só te conheço á cinco dias e mesmo assim posso afirmar com 99% de certeza que tu és uma boa pessoa….

-99%?

-É, o 1% que sobra é por conta da minha falta de memória. Mas voltando ao assunto principal, vê bem, eu, que segundo tu, era o teu maior inimigo, agora estou aqui a falar contigo como se fossemos bons amigos e tudo porque tu és uma boa pessoa, e disposta a esquecer o passado, me deste uma nova oportunidade. Ou seja, tudo isto para dizer que esse tal Harry é um grandessíssimo idiota.



Ginevra riu com o comentário do loiro, depois de tudo ele ainda conseguia anima-la.



“Quero acreditar nas palavras do Draco, quero convencer a mim mesma que o Harry não me merece …. Depois de tudo o que passei por ele, depois de tanto tempo desperdiçado eu estou, finalmente, disposta a esquecer o Harry, de uma vez e para sempre….”.



. . . . .



Era noite alta, todos dormiam, todos excepto Ginny. Ela tinha ficado aquela noite no hospital. Partilhava a cama com Mara que dormia de uma forma serena em seus braços.

De repente um grito cortou o silêncio do quarto.



-NÃO!!!!! – O grito foi alto, embora curto.



A ruiva saltou da cama e caminhou até á cama de Draco, que havia acabado de gritar.

Ele suava frio, os cabelos loiros estavam colados á sua testa e as suas bochechas.



-Draco, o que é que se passou? O que foi? Está tudo bem? – Perguntou em tom baixo, passando a mão suavemente na testa dele e nas bochechas, afastando as madeixas loiras.

-Está… tudo….ok…. Ginny – Disse com dificuldade, com a respiração ofegante, parecia que tinha corrido quilómetros.

-Foi só um pesadelo….Vai ficar tudo bem….



Ajudou-o a deitar-se, como se faz a uma criança, e ficou ali ao lado dele.



-Ginny, o que é que significa Crucius?

-É uma Maldição Imperdoável. As pessoas que a usam vão directamente para Azkaban, a prisão do mundo bruxo.

-Ela provoca dor, certo?

-Sim, uma dor insuportável, dizem….. Sonhaste com isso?

-Tenho a impressão que não foi só um sonho, eu acho que vivi isto….

-Não me admirava, os devoradores da morte têm prazer em torturar as suas vítimas… Dorme agora, já é tarde….

-Obrigado Ginny… Por tudo….

-Não tens de quê.





Ginny não voltou a adormecer, estava muito abalada para isso. Por pior que uma pessoa fosse, mesmo Draco Malfoy, não merecia ser submetida a tal coisa como uma Maldição Imperdoável. Foi com alívio que notou que o dia amanhecia, não queria adormecer e sonhar com Draco a ser torturado.



Ginny não foi a única que viu o sol nascer, Draco também não tornou a adormecer. Aquele sonho tinha sido tão real, aquela dor, tudo lhe pareça tão próximo. Talvez Ginny tivesse razão, talvez ele tivesse sido vítima dos devoradores da morte. Mas uma pergunta continuava a vir á sua cabeça, porquê? Porquê ele?





- - - - - Fim do 3º Capitulo - - - - -

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