Gone



Cartas Para Ninguém

Capitulo 11

Gone

Acordou com a pequena a mexer-se nos seus braços. O sol entrava fraco pelas frechas das cortinas que cobriam a janela. Fazia algum tempo que não dormia assim, uma noite seguida, sem pesadelos, sem interrupções.
Saiu dos seus devaneios ao sentir uns profundos olhos azuis pousados nela. Olhou para Mara e sorriu, como à muito não fazia.

-Baixinha, que tal descermos?

Pegou na loirinha e levantou-se sem quaisquer dificuldades. Foi uma surpresa, esperava uma forte dor de cabeça ou uma tontura mas nada disso aconteceu, ela levantou-se normalmente.

“É um bom sinal” – Pensou animada.

Saiu do quarto com a pequena ao colo, sem se dar ao trabalho de trocar de roupa. Usava uma das tradicionais camisolas Weasley, bem larga que pertencera ao seu irmão mais velho, Bill.

-Bom dia – Disse alegremente ao entrar na cozinha.

-Gininha, cá em baixo? Não seria melhor ficares deitada?
-Mãe, estou farta daquele quarto. E além do mais eu e a Mara estamos a morrer de fome, não é baixinha?

Molly sorriu deliciada, finalmente a sua filha estava de volta.

Quando Ginevra ia começar a comer ouviu-se um barulho de aparatação e de seguida o Sr. Weasley apareceu na cozinha com um ar preocupado.
Enquanto comia e dava de comer à loirinha observou os seus pais a falarem num tom baixo e preocupado, o que de alguma maneira a assustou.

Subiu as escadas com a pequena e entreteve-se a brincar com ela. Sabia que se se passasse algo a sua mãe lhe diria.
Cerca de uma hora depois Molly entrou no quarto com um semblante preocupado.

-O que foi mãe?
-Gininha, quero que arrumes algumas das tuas coisas. Roupas e outros objectos indispensáveis – Aproximou-se da ruiva e tomou-lhe Mara dos braços.
-Mas porquê?
-O teu pai não acha que a Toca seja suficientemente segura. Segundo o Ron a batalha final está iminente. O teu pai acha que devemos sair daqui.
-E para onde vamos?
-Grimmauld Place. Agora arruma as tuas coisas, eu vou levar a Mara ao hospital.
-Mas a Mara não pode vir connosco?
-Eu acho melhor não. Sabes como é o ambiente lá, não é coisa para crianças.
-Mas eu não queria que ela ficasse sozinha no hospital.
-Ela esteve lá este tempo todo Gin.
-Eu sei mas…. Agora é perigoso …. Será que ela não pode ficar? Pelo menos até isto tudo acabar?
-Eu não sei Gin …. Vamos estar ocupados de mais para tratar dela….
-Mãe por favor, eu responsabilizo-me totalmente por ela, a sério.
-Vou ver o que posso fazer. Entretanto arruma as tuas coisas.

Ginevra assim o fez, após ver a mãe sair do quarto com a loirinha nos braços começou a arrumar algumas das suas roupas e outros objectos essenciais. Numa pequena mala guardou ainda pergaminhos, tinteiros e penas. Ao revirar as gavetas em busca de algo que lhe pudesse fazer falta encontrou a pena de Fénix oferecida por Draco e a bola de cristal que servia de lar à pequena fada ruiva. Ficou a olhar para os objectos durante algum tempo até que os arrumou dentro da mala.


“Seems so long ago you walked away
left me alone
And I remember what you said to me,
you were acting so strange
And maybe I was too blind to see
that you needed a change”

Sentou-se por um momento na cama, pensando em Draco. Parecia que o vira pela última vez à muito tempo mas fazia exactamente uma semana naquele dia. Apesar da memórias ainda estarem bem vivas dentro dela tudo parecia distante….Como se tivesse acontecido à muito tempo atrás.

“If I could just find a way
to make it so that you were right here, right now”

Do que mais sentia saudades era da forma carinhosa como ele a tratava. Ele mimava-a como nenhum outro tinha feito até então. Ele fazia com que ela se sentisse especial, única. Tinha saudades dessa sensação, sensação que só ele causava.

“I've been sitting here
can't get you off my mind

I drove myself insane, wishing I could touch your face
But the truth remains, you're Gone”

Era tão difícil viver sem ele. Já estava tão habituada a estar com ele, a falar com ele e acima de tudo senti-lo. Os dias passavam tão devagar sem ele, parecia que tinha voltado ao mês de Novembro, ao início da guerra, quando não tinha nada que fazer.

“Time is passing so slowly now, guess that's my life without you
And maybe I could change my everyday, but baby I don't want to

So I'll just hang around and find some things to do
To take my mind off missing you”


E então, por um momento, ela pensou no que ele estaria a sentir. Será que ele ainda pensava nela? Será que ele a odiava? Ou será que o único sentimento que ela poderia receber dele seria a indiferença?

“What will I do if I can't be with you
Tell me where will I turn to, baby who will I be
Now that we are apart, am I still in your heart?
Baby why don't you see that I need you here with me

Gone - Justin Timberlake”


Os seus pensamentos foram interrompidos por uma batida na porta.

-Sim?
-Gin, já estás pronta?
-Só um minuto pai.

Acabou de recolher os pergaminhos espalhados pela secretária e pegando na restante bagagem desceu as escadas atrás do pai.

-Como é que vamos?
-Flu. Mas ainda falta a tua mãe.

Minutos depois Molly saiu da lareira com Mara ao colo. Passou a pequena para os braços da ruiva e encarou-a seriamente.

-Lembra-te do que prometeste Gininha. Ela agora é tua total responsabilidade.
-Não te preocupes mãe.
-Vamos – Chamou o Senhor Weasley – Molly vai primeiro.

A Sra. Weasley entrou na lareira com as poucas malas que levariam consigo.

- Grimmauld Place nº 12.

Depois de a Sra. Weasley desaparecer nas chamas Ginny entrou na lareira com Mara e disse o seu destino. Sentiu tudo a rodar e apertou a loirinha contra o seu peito. A casa continuava tão sombria quanto se lembrava. Acabou por ficar no mesmo quarto que ficara no início do seu quarto ano.


Fazia uma semana, uma semana que ela estava ali, naquela casa horrível, com apenas Mara para a entreter. Fazia uma semana que não sabia noticias nenhumas da guerra, os seus pais e Ron recusavam-se a dizer qualquer coisa relativa a esse assunto.

Desceu as escadas, com a Mara ao colo, em direcção à grande cozinha. Foi com surpresa que encontrou não só os seus pais, como Harry, Ron, Hermione e uma série de outros aurores e membros da Ordem.

-Que faz esta gente toda aqui? – Perguntou em tom baixo à sua mãe.

Estava um silêncio pesado na cozinha e a tensão era obvia. Molly pensou um pouco antes de responder.

-Estão à espera.
-À espera? À espera de quê?
-Da batalha final.

Ginevra engoliu em seco e logo percebeu o porquê de tanta tensão. Viu Ron dirigir-se a ela e entregou a Mara à sua mãe.

-Então maninha já te sentes melhor?

Ela acenou afirmativamente e sentiu o irmão a abraça-la de seguida.

-Ron, promete que tens cuidado, ok?
-Eu prometo Gin – Disse com a voz tremida.
-E promete que quando tudo isto acabar vais ter coragem de pedir a Mione em casamento – O ruivo riu levemente e depois acenou em concordância.
-Óptimo.

Foi abraçada por Hermione e depois pelos gémeos. Após todos se terem afastado para falar com o Sr. e a Sra. Weasley Harry aproximou-se da ruiva.

-Gin, será que eu podia falar contigo? A sós?
-Claro.

Caminhou para fora da cozinha parando um pouco mais à frente no corredor, encostada à parede.

-Bem Gin…. Eu tinha algo para te dizer – Começou visivelmente nervoso.

Era estranho ver o rapaz assim, normalmente ele era confiante e raramente vacilava, mas agora parecia estar um tanto ou quanto nervoso.

-Sim?
-Sabes, hoje vai ser a batalha final…. Não sei se começa daqui a algumas horas ou alguns minutos… Temos estado à espera do sinal de Dumbledore …. E sinceramente eu não sei o que esperar daqui para a frente…. Se as coisas não correrem bem……
-Não digas isso Harry… Vai tudo correr bem….
-Mas se não correr há uma coisa que eu quero que saibas…..

Ela olhou para ele em dúvida, não estava a entender até onde é que ele queria chegar.

-O que eu quero dizer é que tu és especial para mim…..

Aproximou-se dela e começou a brincar com uma madeixa ruiva.

-Especial? – Perguntou confusa.
-É, especial…. Promete que não vais esquecer isso.
-…. Eu…. eu prometo…. – Respondeu sem saber o que mais dizer.
-Não sabes o quanto isso é importante para mim….– Disse ainda envolvendo a madeixa ruiva nas pontas dos dedos.

Os ses olhos fixavam os dele, como se tentando perceber mais além. No segundo seguinte sentiu os lábios dele nos seus, muito ao de leve. Era um beijo casto, um mero roçar de lábios.
Foi tudo muito rápido, sentiu os lábios dele nos seus, depois ele afastaram deu-lhe um pequeno beijo na testa e de seguida chamaram-no.

-Harry, está na hora!

Ele afastou-se dela murmurando um “Fica bem” e entrou na cozinha.

Ginevra ficou durante uns segundos encostada à parede tentando processar tudo o que tinha acabado de acontecer. Depois correu para a cozinha para dar um último adeus aos seus irmãos mas apenas encontrou a sua mãe e Mara.

A face da Sra. Weasley estava vermelha e marcada pelas lágrimas. Ginny pegou na Mara e abraçou a mãe.

-Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem….

- - - - - -

Estava sentada à secretária. Não estava com sono, estava demasiado preocupada para dormir. Todas as pessoas com quem realmente se preocupava, excepto a sua mãe e Mara, estavam na guerra. Para não falar em Draco, que ela evitava pensar, mas que poderia estar em qualquer lugar.


“Grimmauld Place, 17 de Abril

Estou muito preocupada. È o segundo dia sem noticias deles. Desde que partiram que o meu coração está apertado, como à muito tempo não estava. Trata-se de toda a minha família. Eu não sei o que faria se acontecesse algo com algum deles. São demasiado importantes para mim para eu poder sequer pensar nessa hipótese.”


Ouviu um grito que a fez saltar da cadeira. Verificou se a Mara ainda dormia e saiu do quarto descendo as escadas com o máximo de cuidado possível, tentando descobrir de onde viera o som.
Caminhou até á cozinha e não suprimiu um grito de surpresa ao ver a sua mãe rodeada de todos os seus irmãos. Finalmente estava tudo acabado.
As roupas deles estavam sujas, rasgadas e até manchadas pelo sangue, e apesar de parecerem cansados estavam incrivelmente felizes.
Correu até ao seu pai e abraçou-o com uma força impressionante. Agora poderiam voltar novamente a casa e continuar a sua vida normalmente. Abraçou todos os seus irmãos deixando Ron para o fim.

-Não te esqueças da promessa que fizeste! Por falar nisso, onde é que ela está?
-Foi ver os pais, depois de toda esta confusão acho que era tudo o que ela precisava.
-E o Harry?
-Está no St. Mungus.
-Mas ele está bem? – Perguntou preocupada.
-Está sim. Mas deves imaginar, não foi fácil para ninguém, muito menos para ele. Mas agora tudo acabou, ele está apenas a descansar. Mas porquê o súbito interesse?
-Nada, só queria saber.

. . . . .

“Toca, 20 de Abril

A guerra acabou e os ânimos estão mais exaltados do que nunca. As pessoas não se cansam de festejar e a situação não é para menos. Voltamos para a Toca naquele mesmo dia, e foi um alívio sair daquela casa.
A Mara voltou ao hospital agora que está tudo no lugar e sem ela os meus dias voltaram a ser vazios.
Penso bastantes vezes naquilo que vou fazer a seguir, agora que a guerra acabou. E ao pensar nisso penso involuntariamente em Draco, e se estará tudo bem com ele. Apesar de tudo eu fico preocupada só de pensar que ele pode estar ferido.

Apesar da guerra ter acabado os aurores têm tido muito trabalho, muitos dos devoradores da morte escaparam durante a batalha e agora eles têm de se esforçar para os apanharem. Nem é preciso dizer qual é o destino deles…. Azkaban na certa, muitos deles com direito a beijo do Dementor ….”


-Gininha, desce para o almoço!

A ruiva pousou a pena e desceu as escadas, dirigindo-se à cozinha. Para além de Ron, sentados à mesa estavam Harry e Hermione. Ainda não os tinha visto desde que tudo acabara. Abraçou a rapariga e hesitou um pouco antes de abraçar Harry, mas acabou por faze-lo.

-Gin, depois tenho uma coisa para te contar…. – Disse Hermione com um sorriso de orelha a orelha.
-Deixa-me adivinha…. O Ron finalmente acordou para a vida e pediu-te em casamento. Acertei? – Perguntou com o ar mais inocente que conseguiu.
-Como é que tu sabias?
-Eu tenho as minhas fontes…. Mas não te preocupes, eu vou querer saber os pormenores….

. . . . .

Ginevra estava sentada no sofá da sala, lendo um livro qualquer quando ouviu alguém a aparatar na cozinha.

-Boa noite maninha.
-Boa noite Ron. Porquê o sorriso? O dia de trabalho correu assim tão bem ou tem alguma coisa a ver com a Mione?
-Foi o dia de trabalho.
-Foi assim tão bom?
-Óptimo.
-Porquê?
-Não imaginas quem é nós apanhamos, foi directinho para Azkaban.
-Quem?
-O Malfoy.


- - - - - Fim do 11º Capitulo - - - - -

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