Retratos...



Dezembro de 1993



O inverno chegou e com ele muito frio, era hábito dos alunos da casa Sonserina tomarem chocolate quente no salão comunal que era incrivelmente gelado no inverno, as lareiras não eram apagadas em nenhum horário e feitiços foram aplicados pelo diretor da casa para deixar o clima mais ameno.

Nesse primeiro final de semana os alunos do terceiro ano iriam a aldeia de Hogsmeade. O Salão principal estava apinhado de alunos ansiosos com seu primeiro passeio, Daphne era uma desses.

—Você quer algo da Dedos de Mel, Asth? - Por algum motivo Daphne tinha se aproximado mais da irmã nos últimos dias.

—Não, obrigada Daphne - Astória não conseguia acreditar na bondade de sua irmã.

A loira deu de ombros e retomou a conversa com Parkinson e Bulstrode. Depois de seu primeiro dia de aula os alunos de sua casa começaram a ignorar a presença de Astória e sua amiga Anne, de alguma forma seu pai ficou sabendo do ocorrido e lhe mandou algumas cartas desde então, o conteúdo era sempre o mesmo, queria saber como estava, que podia lhe confiar tudo o que sentia e pensava, e que se necessário apelar para Snape. As respostas de Astória também sempre continham as mesmas observações, estava muito bem, assim com esse distanciamento era melhor, e que não era necessário apelar a ninguém.

Os alunos mais velhos foram a aldeia, os alunos do primeiro e segundo ano tinham o dia de folga, a morena decidiu andar pela escola, sua amiga Anne queria dormir, a última aula de sexta foi Astronomia, na torre mais alta do castelo a meia noite. A garota estava exausta.

Astória vagou pelos corredores do primeiro e segundo andar, chegou próxima do que imaginou ser a entrada da casa Grifinoria, por entre um quadro de uma mulher gorda. Nisso tinha que admitir que sua casa tinha pelo menos uma entrada mais honrosa, uma parede enorme do que parecia ser uma gruta de pedras verdes, abaixo do seu beiral se pronuncia a palavra chave e se atravessa a parede para o grande e luxuoso salão comunal. Desviou um pouco o caminho, foi a biblioteca, muitos alunos colocavam em dia seus deveres, os dela estavam atrasados mas planejava fazer a noite ou até na manhã de domingo. Passou por várias estantes de diversas sessões, poções, adivinhação, comportamento trouxa...

Acabou por voltar as masmorras, indo em direção a entrada do salão, percebeu que havia um corredor estreito por trás de uma estátua de Merlin, se esgueirou por ela e acendendo sua varinha, caminhou pelo corredor, havia uma porta a sua direita, a empurrou e facilmente encontrou uma sala abandonada, haviam carteiras e uma grande mesa, frascos e livros, parecia um laboratório alquimista, em algum momento no tempo, Hogwarts deve ter ensinado essa matéria, saiu da sala e continuou se afundando pelo corredor, havia mais uma sala a sua esquerda, essa tinha tapeçarias empoeiradas com os brasões das casas, sentiu seu nariz coçar e decidiu voltar a espreitar pelo corredor, ao final dele uma porta de madeira em um estilo medieval chamou sua atenção, ela estava trancada.

—Alohomora - o trinco mal se mexeu, a garota respirou fundo, nunca tinha tentado sozinha mas era chegada a hora - Bombarda! - um estrondo ecoou pelo corredor, ela olhou assustada por onde veio, mas o silêncio pairou pelo mesmo.

Voltou sua atenção para a porta ela estava aberta, dentro continha uma confortável sala de estar, a decoração lembrava a do salão comunal, um confortável sofá de couro castanho em frente a uma grande lareira. Com um movimento da varinha Astória retirou o pó do ambiente, Gerard o mordomo de sua família lhe ensinou esse truque, seu pai não gostava da idéia de ter elfos domésticos por isso tinham um mordomo, na verdade ele era mais como um tio dado a proximidade com as meninas.

Tinham livros sobre a mesa de centro, um deles era Padrão de feitiços, era um volume mais avançado, sexto volume. Abriu ele e viu com uma letra bem cursiva o nome escrito, Narcisa Black. Aquele livro era da mãe do Draco, olhou mais a volta, aquela sala tinha alguns porta retratos espalhados pelo cômodo, pensou que ali talvez fosse parte da sala comunal, mas em um porta retrato acima da lareira viu, três jovens sorriam, ao reconhecer eles deixou o livro cair, não era possível. Lúcio Malfoy tinha o cabelo ja comprido, abraçava de forma animada uma moça a quem reconheceu pela semelhança consigo, sua mãe tinha os cabelos soltos, um ondulado perfeito, ela sorria no abraço do loiro enquanto puxava uma loira, a quem imaginou ser Narcisa, os três pareciam muito próximos. Olhando bem, não era como o sorriso na foto que viu dias antes, tinha algo a mais nesse retrato, talvez o brilho nos olhos.

Ouviu ruídos pelo corredor, precisava entender o que aquela foto significava, foi até a porta para ver de onde vinha o barulho, lá no fundo podia ver vultos passando no corredor principal, eram os alunos voltando do vilarejo, pensou em contar o que descobriu a sua irmã, mas qual era a chance de conseguir falar com ela a sós, e o melhor, dela aceitar entrar por um corredor praticamente interditado só para ver fotos antigas.

Esperou atrás da estátua até ter certeza de que o mesmo estava vazio, saiu de forma silenciosa, mas seu cardigã enrroscou em um dedo da estátua.

— ótimo, como isso foi acontecer - esbravejou em voz alta.

— Precisa de ajuda Asth? - apesar do susto, a morena não se surpreendeu ao ver Blásio se aproximar.

— sinceramente não sei como essas coisas acontecem - falou indicando a blusa presa, o moreno riu e com certo jeito conseguiu desenroscar seu cardigã.

— pronto, está livre! - brincou

— obrigada, como foi em Hogsmeade? - perguntou indiferente, ambos tomaram o rumo do salão comunal.

— foi tranquilo até, comprei alguns doces - disse procurando algo em seus bolsos - toma, quem sabe te faz rir um pouco...

— obrigada, rir não tem sido um problema - Astória abriu o bombom, os dois seguiram para o salão comunal juntos.

— Não tem sido fácil ultimamente eu imagino, com todos tomando partido do Draco, sobre traição do sangue... - a garota na verdade sentia que não fazia muita diferença a forma como os outros a tratavam, mas era admirável a preocupação de Zabini.

— Eu não me importo, de verdade, faz falta ter mais contato com os outros alunos mas se eles preferem encarar tudo por um terceiro ponto de vista, não vale a pena ter eles por perto certo?

— Por que raios você veio para a Sonserina? - questionou o moreno rindo, os dois entravam pelo portal para o salão.

— Não sei ao certo, tenho tentado entender também mas acho que é a minha vontade de fazer os outros enxergarem por outra perspectiva - eram poucos os alunos no salão, Draco estava em pé de costas para a entrada, mas percebeu quando Daphne e Pansy se entre olharam, ele virou para acompanhar e seu maxilar trincou - talvez seja a minha mania de acreditar que posso mudar o imutável.

A garota terminou o pensamento, olhou para Blásio, sorriu e seguiu para o dormitório. O garoto se virou e deu de cara com um loiro furioso, teve que virar os olhos, lá vinha algumas horas de discussões sem fundamentos pensou...

— O que aconteceu Zabini? - aquela pergunta lhe soou estranha

— Nada de mais, encontrei a Astória no corredor - lembrou da cena com ela enganxada na estátua e teve que rir.

— O que é engraçado?

— a blusa dela ficou presa na estátua de Merlin, ajudei ela a se soltar e viemos embora - explicou cessando o riso

— E falaram sobre o que? - claro a curiosidade era maior pensou.

— Sobre você que não foi! - Por essa Draco não esperava, se espantou com a afirmação, fora pego de surpresa - aliás, ela estava falando como tem sido melhor para ela toda essa "falta de atenção" dentro da casa - enfatizou o falta de atenção com gestos de aspas com os dedos.

— Sei... - ficou pensativo o loiro - de qualquer forma, aonde você vai passar o Natal, já se decidiu? - mudança de assunto, isso não era comum.

— Acho que vou passar aqui mesmo, lá em casa o clima está meio tenso - o moreno colocou as mãos em seus bolsos, usava jeans, suéter e um gorro todos em tons escuros.

— Lá em casa não está muito diferente, por isso pensei em você ir pra casa comigo no feriado - era estranho para Draco fazer esse tipo de convite, mas pensava que com alguém em casa seria mais fácil aliviar a tensão e não seria tão cobrado por seu pai.

Os dois se encaminharam para os sofás, haviam menos alunos agora, Crabbe e Goyle ainda se acabavam nos doces que tinham comprado, Pansy se sentou ao lado de Draco, tentava segurar em sua mão, mas mesmo de luva o garoto fugia a cada sinal de proximidade, ele vestia sobre tudo e um gorro estilo russo, inteiro em preto como Blásio.

— meus pais estão preocupados com a baixa procura por compra de imóveis - comentou Blásio - muitos querem vender mas poucos querem comprar...

— deve ser a época do ano, ou talvez a região em que estão trabalhando - tentou conforta-lo

— Não, o problema são os boatos sobre você-sabe-quem, muitas famílias estão deixando esse lado do país, com a fama do Potter estar aqui em Hogwarts e tudo que já aconteceu... - explicava o moreno se consolando com mais um bombom.

— Potter, Potter, Potter... tudo sempre acaba sendo culpa dele - Draco se sentia inflamado de raiva só em pensar, em casa a primeira coisa que lhe era perguntado por seu pai era o que Harry Potter havia feito, quando ele entrou para o time de quadribol logo no primeiro ano seu pai o fez convencer o time da Sonserina a lhe aceitar, mesmo que fosse preciso dar presentes, e foi, Nimbus 2001 para todo o time.

— Draco, o que acha de irmos a biblioteca? - perguntou Pansy alisando o cabelo do loiro.

— já acabei minhas lições hoje cedo Pansy, obrigado! - dispensou ele

— Não estava pensando em acabar as lições - falou manhosa, Blásio quase se engasgou com essa afirmação, Draco a olhou confuso - calma meninos - riu - Eu só queria conversar com você, e aproveitar para te distrair dessa tenção toda...

A garota voltou a alisar o cabelo do loiro, ele por sua vez olhou com confusão para o amigo que lhe deu de ombros.

— Esta bem - decidiu - vamos dar uma volta...

Pansy parecia ter ganhado na loteria, levantou aos pulos, Draco não parecia tão contente mas se levantou aceitou o braço da morena e saíram pelos corredores. Blásio ria sozinho pensando nos dois.

Horas mais tarde, no dormitório feminino Astória sonhava. Estava nos jardins do castelo a beira do Lago Negro, se sentia triste e não entendia bem o porquê. Viu pelo reflexo do lago um garoto loiro, ele se aproximou tocando em seu ombro.

— Draco? - perguntou ela, por algum motivo o rapaz ficou furioso.

— Esse é o motivo então? - ela ficou confusa, sentia vontade de chorar - É por causa dele tudo isso? Se você me ama tem que lutar por isso!

— Eu não entendo, o que está acontecendo! - ela tentou segurar em seus braços, mas ele se desfez do gesto.

— Não encosta em mim, você é uma traidora! - ele cuspia ao falar - você é sua família traem seu sangue...

Astória se rompeu em lágrimas, voltou a olhar para o lago, mas seu rosto não era bem como se lembrava, tinha algo diferente, parecia mais velha...

— Katherine... - ouviu a voz do loiro as suas costas novamente, virou ainda se levantando - se você não pode ficar comigo, - o semblante do jovem que ela julgou ser Draco mudou, ele agora estava mais velho, cabelos longos - não pode ficar com ele também!

Sentiu uma pressão sobre os dois ombros, ele lhe empurrou para o lago, a água gelada circulou todo seu corpo, sentiu o ar lhe faltar, e o frio do lago lhe engolir, quanto mais nadava buscando a superfície mais afundava...

Acordou em um rompante tentando encher os pulmões.

—Asth? Você está bem? - Anne tentava abrir os olhos.

— Agora estou... - respondeu ofegante, mas era provável que a amiga nem tivesse escutado sua resposta.

Astória ficou acordada olhando para o teto, aquela imagem de Lúcio a empurrando para dentro do lago passava em sua mente no modo de repetição.

Todas resonavam no quarto, decidiu sair, obviamente não poderia ir muito longe, os dementadores ainda cercavam o castelo. Vestiu seu blusão de moletom, prendeu o cabelo em um rabo e saiu com todo cuidado do quarto, ouvia cochichos no salão, e o estalar da madeira nas lareiras.

Havia um casal trocando beijos no grande sofá em frente a janela do lago. Alguns amigos conversavam em poltronas do outro lado do ambiente, e quando se virou para sentar no sofá a sua esquerda (o mesmo do primeiro dia) ele já estava ocupado, havia alguém sentado nele usando a capa do uniforme vestindo também o capuz, o que impedia ela de ver quem era.

Sentou em silêncio, encarou o fogo e sentiu, como se fizesse anos que não sentia, seu peito aquecer, um conforto lhe tomou conta.

— Sem sono de novo Greengrass - a voz dele lhe fizera acordar dos poucos minutos de calor que sentia, lhe encarou com espanto - É proibido sair do dormitório após o toque de recolher

Ele tirou o capuz e ficou encarando ela, um sorriso lhe tomou a face, ele com certeza era bipolar pensou ela.

— Sério? - ela resolveu entrar na brincadeira - melhor alguém avisar eles... - indicou o casal e os amigos, Draco riu.

— o que te fez perder o sono? - fingiu interesse.

Astória meditou em uma boa resposta, mas nada parecia coerente.

— acreditaria se eu dissesse que foi o seu pai? - a cara de confusão dele a fez rir, ela balançou a cabeça - esquece Malfoy.

— não, agora eu fiquei curioso - ele virou seu corpo ficando de frente a ela.

— você não acreditaria se eu falasse - ela balançou a cabeça novamente, ele arqueou a sobrancelha em desafio, ela então respirou fundo e indicou a saída do salão comunal.

A princípio ele lhe olhou com descrença, mas vestiu o capuz novamente e a seguiu pela passagem, a luz da varinha dela iluminava o corredor, a noite a corrente de ar era maior nas masmorras, tinha que segurar sua capa. Ao chegarem na frente da estátua de Merlin observou ela se apertar para entrar por trás da mesma. A seguiu, retirou seu capuz ou ver o corredor, silencioso.

— lumus - sua varinha acendeu e várias tochas pelo corredor acenderam junto, assustando os dois.

— o que você fez? - perguntou a menina, ele indicou que não sabia.

As paredes eram como toda masmorra, de pedra, mas agora ela enxergava que o corredor era coberto por um tapete verde, por isso não fazia eco seus passos, haviam ornamentos nas paredes, provavelmente feitos de ouro, serpentes e espadas, Astória indicou a última porta. A mesma estava apenas encostada, uma vez que havia arrombado ela mais cedo. Abriu a porta e a lareira se acendeu sozinha, Draco vasculhou o ambiente encantado com o que via, ela se dirigiu ao porta retrato sobre a lareira e lá estavam eles, os três sorriam para ela, sentiu quando a respiração dele se aproximou e falhou ou ver a foto, ele pegou o porta retrato da sua mão e sentou no sofá atrás de si.

— Esses são meus pais... - afirmou ainda confuso - porque o meu pai está abraçando essa mulher? - ele focou mais a sua atenção a moça de cabelos castanhos ondulados - ela parece você... - olhou para Astória e então percebeu - É a sua mãe?

— Sim...

— Mas ela era da Corvinal...

— Sim...

— Eles foram namorados?

— É o que parece...

— Mas o seu pai... e o meu pai, eles eram amigos... - um nó se formou em sua cabeça.

— Pelo que o meu pai já tinha me falado, ele se tornou amigo do seu pai quando aconteceu o torneio tribruxo, eles se conheceram em Durmstrang - explicava Astória enquanto se sentava junto dele no sofá.

— O que não entendo, é que eles sempre falam que se apaixonaram a primeira vista - o loiro parecia decepicionado - eles se casaram pouco depois de se formarem aqui...

— Meus pais também casaram pouco depois de se formarem, mas foi um casamento arranjado... - ele a olhou curioso - meu pai nunca falou muito, mas eles eram primos de quarto grau, eram muito amigos, e preferiram se casar do que arriscar casar com alguém estranho - explicou ela o fazendo aparentemente entender o sentido daquele acordo.

O garoto voltou a olhar a foto, percebeu olhando bem para a sua mãe que havia algo a mais naquele sorriso, quase podia ver certa angústia na forma como ela olhava o casal ao seu lado e se virava para a frente sorrindo, havia um grito reprimido ali.

Os dois conversaram por mais um tempo, ainda sobre seus pais, quando Astória começou a querer cochilar se deram conta da necessidade em voltar para o dormitório, inda era madrugada e estava tudo silencioso, atravessaram a parede sem dificuldades, lá no hall da Sonserina a garota pensou em se despedir, talvez um "até logo" mas quase que imediatamente ouviu novamente pela milionésima vez em seu pensamento a frase "escuta Greengrass, eu não sou seu amigo". Olhando por cima do ombro o viu ir direto para as escadas do dormitório masculino, era isso então, realmente não eram amigos e estavam longe de ser, essa noite fora apenas uma exceção.

—boa noite Asth - ela congelou no lugar, olhou com espanto para ele, o mesmo riu.

— boa noite - respondeu de forma simples, preferia não arriscar, ele acenou desaparecendo pelo corredor, ela fizera o mesmo, se encaminhou para o dormitório. Se sentia mais tranquila, de alguma forma sabia que não teria pesadelos, pelo menos por essa noite.



N/A: Misericórdiaaaaaaa esse capítulo deu trabalho... Mas estou muito feliz com o resultado!
Gente esse capítulo foi feito com muito carinho, e muita pesquisa! Agora só Merlin sabe quando vai sair o próximo rsrs
Bjus e comentem!
Essa fic também está sendo publicada no site Nyah!

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