Dois ruivos é demais!



 


Depois de longa ausência, agora tenho pressa de contar essa história. Não vou esperar por comentários, mas se chegarem, serão muito bem-vindos!


 


 


 


Para ouvir antes, durante ou depois da leitura do capítulo:


Wishes


(Beach House)


http://bit.ly/2wXFFnU


“Há tantos diálogos 
Diálogo com o ser amado 
o semelhante 
o diferente 
o indiferente 
o oposto 
o adversário 
o surdo-mudo 
o possesso 
o irracional 
o vegetal 
o mineral 
o inominado


Diálogo consigo mesmo 
com a noite 
os astros 
os mortos 
as ideias 
o sonho 
o passado 
o mais que futuro


Escolhe teu diálogo 

tua melhor palavra 
ou 
teu melhor silêncio. 
Mesmo no silêncio e com o silêncio 
Dialogamos”.


 
(Carlos Drummond de Andrade)




 


A visita à Irlanda durou apenas um dia. De volta a Londres, Hermione tinha a difícil missão de encontrar Ron. O rapaz, que vivia mudando de endereço, provavelmente não estaria n’A Toca. Harry, com certeza, conhecia o paradeiro dele. Mas como convencê-lo a levá-la até o ruivo?


Chegou à casa dos Potter sem avisar. Precisava aproveitar a tarde de domingo já que, no dia seguinte, estaria muito cedo no Ministério. Gina a recebeu com entusiasmo e logo contou que Harry participava de um treinamento e só chegaria em dois dias. “Você sabe do seu irmão? Preciso falar com ele urgentemente”, Hermione arriscou.


- Não posso te dizer onde ele está. Meu digníssimo marido me fez prometer que não ia te contar. Ele não queria me dizer, mas, como sou muito observadora, acabei descobrindo que aquele auror norte-americano era, na verdade, Ron. Não faz essa cara! Harry falou que você já sabia disso. Desde quando estudavam juntos, em Hogwarts, escondem segredos de mim! – a ruiva cruzou os braços e encarou Hermione.


- Gina! Fui tão enganada como você! Eu também descobri sozinha que Ron estava usando a poção polissuco – a garota ficou momentaneamente triste. - É uma situação tão constrangedora. Temos que nos encontrar sempre por pouco tempo, em lugares escondidos, morrendo de medo de sermos descobertos.


- Por que isso, Hermione? Harry falou que vocês correm perigos, disse que Ron vem sendo vigiado e perseguido, mas não me contou o porquê – Gina se compadeceu da amiga.


- Eu não sei. Ron e o chefe dele acham que alguém quer ver eu e seu irmão distantes um do outro. Se descobriram a razão disso, não me contaram – ela abaixou o tom de voz.


- Tudo isso é muito estranho mesmo. Carlinhos falou que Ron ficou tão entusiasmado quando reencontrou você na Romênia. Meu irmão te ama tanto. Sempre te amou. E sei que você também é apaixonada por ele. Não é justo que tudo seja tão difícil para vocês – Gina abraçou a amiga, que já estava com os olhos marejados.


- Acho que você pode me ajudar. Fiz uma descoberta importante. Algo que Ron precisa saber com urgência, que provavelmente vai ser importante para as investigações. Por favor. Me leva até ele – Hermione falou enquanto enxugava as lágrimas.


- Harry me passou o novo endereço do meu irmão para um caso de vida e morte. Se esse é um assunto urgente e importante...Vamos! Eu te levo até Ron – a jovem sra. Potter era sempre decidida e proativa.


A ruiva seguiu a sugestão de Harry e as duas se locomoveram por meio de curtas viagens em diferentes transportes, do trem à desaparatação, sem esquecer do Nôitibus Andante. Chegaram ao prédio moderno, de quatro andares, localizado num bairro misto, que reunia residências trouxas e bruxas.


 


 


 


* * * * * * * * * * *


 


 


 


Se pudesse resumir o namoro dos dois, a jovem bruxa escolheria a palavra “tempestuoso”. Agora, distante do ruivo teimoso, imaturo, ciumento, lindo e apaixonante, Hermione morria de saudades do tempo de namorados, dos beijos, das declarações de amor, das reconciliações.


Os oito meses que haviam namorado tinham sido os mais maravilhosos e mais difíceis da vida de Hermione. Por que tudo entre eles precisava ser complicado assim? Sempre se perguntava isso, mas, ao mesmo tempo, reconhecia que grande parte da culpa das brigas e desentendimentos era dela mesma. Nunca estivera tão impaciente como agora.


Qualquer palavra a mais ou a menos, uma desatenção, demora em responder a alguma carta e por vezes até a opinião discordante sobre o mais simples assunto já a levavam a brigar com o rapaz. Sabia que estava sendo exigente demais, fazia propósitos de melhorar, mas não conseguia ser diferente.


A princípio sentira uma grande angústia, como se namorar Ron fosse a decisão errada a tomar. Quando finalmente teve coragem de dizer sim, intercalou momentos de alegria e inexplicável tristeza.


Desentendimentos e brigas constantes davam certeza a Hermione de que deveriam desmanchar o namoro. Ao mesmo tempo, pensar nisso fazia com que sentisse uma dor infinita. As recorrentes desavenças venceram o medo.


O dia de São Valentim, data na qual os namorados celebram o amor, marcou a primeira grande ruptura de Ron e Hermione. A iniciativa foi da menina, que alegou não suportar mais as constantes discussões que tinha com Ron.


Ron tinha bebido um pouco além da conta ao participar do happy hour para comemorar a promoção de Percy no Ministério da Magia. O rapaz sempre tivera dificuldade com o terceiro dos seus irmãos e, nos últimos meses, os dois haviam se aproximado. “Foi culpa do Jorge. Ele ficou me empurrando várias bebidas e acabei, sem perceber, misturando cerveja amanteigada e uísque de fogo”, ele justificou ao ver a namorada amarrar a cara durante o jantar, que tinha tudo para ser um momento romântico.


- Nem chegue perto da champanhe que pedi para nós dois. Na verdade, gostaria que fosse embora daqui. Não aguento ver você falando com a voz embolada e me olhando com essa cara de bêbado – a menina estava decepcionada, triste e com raiva do ruivo.


Havia reservado lugar num restaurante trouxa muito refinado, que preparara um jantar especial para os namorados. Como era difícil conseguir uma mesa no local, Hermione providenciou tudo com um mês de antecedência. Agora Ron a fazia passar uma vergonha daquelas!


- Mione, eu sou o seu NAMORADO, o amor da sua vida! Como você pode querer ficar longe de mim no dia de São Valentim?! – Ron quase gritava chamando a atenção das mesas ao lado.


A bruxa disse para o ruivo ir embora porque, a partir daquele momento, não era mais o namorado dela. Ron ajoelhou-se, em alta voz suplicou para a menina o desculpar. “QUE CULPA TENHO EU SE O IDIOTA DO MEU IRMÃO DECIDIU COMEMORAR A PROMOÇÃO LOGO HOJE?”, ele agora gritava.


Hermione tomou a única decisão sensata. Suspendeu a comida, pagou a champanhe e saiu do restaurante. Ron continuava lá, segurando o maitre pelo braço e reclamando da sorte.


O ruivo, porém, não aceitou bem o término do relacionamento. Procurou por ela várias vezes, prometeu que tentaria ser uma pessoa melhor. “Não suporto ficar longe de você, Mione. Por favor, me dá uma chance. Eu não troquei a comemoração com Percy pelo jantar como você. Eu sempre tive um relacionamento péssimo com meu irmão, você sabe, achei que era uma oportunidade de me aproximar mais dele. Foi uma grande idiotice da minha parte ter aceitado beber”. Hermione ainda lembrava-se do rapaz dizendo essas palavras durante uma inesperada visita à sua casa.


Sofria por estar distante de Ron, mas tinha a impressão que sua dor ainda era maior quando estavam juntos. Precisava compartilhar o que sentia com alguém, caso contrário, enlouqueceria. Mas com quem poderia se abrir desse jeito?


A sua mãe não entenderia. Ela gostava muito de Ron e vivia elogiando o ruivo. “Sei que ele é temperamental, mas você não fica atrás. Podia ser um pouco menos exigente e mais paciente, minha filha”, a sra. Granger aconselhara.


Gina era a última pessoa com que pensava em se abrir. Afinal, antes de ser sua amiga, era irmã de Ron e, mesmo se brigavam muito, eles tinham grande amor um pelo outro. As circunstâncias, porém, acabaram favorecendo aquela conversa.


As duas dividiam o mesmo quarto em Hogwarts. Hermione sempre chorava escondido da ruiva, mas naquele dia as lágrimas não esperaram que se refugiasse por trás da cortina da cama de dossel.


- Você recebeu alguma notícia triste? – Gina perguntou.


- Não, nada de mais. Não se preocupe – ainda com a carta de Ron aberta na mão, ela tentou disfarçar.


- O que meu irmão falou para você dessa vez? – a esperta bruxa tinha reconhecido a letra do rapaz.


- Ron está querendo reatar o namoro. Mas não vai dar certo, Gina, ele não vai mudar e... – Hermione estava sendo repetitiva.


- Tudo bem. Não precisa chorar, basta explicar isso para ele – a ruiva pareceu tão fria que isso a assustou.


- Gina, você não entendeu. Eu não queria terminar com ele – Hermione tentava segurar as lágrimas.


- Se não queria, por que terminou? - Gina foi novamente assertiva.


- Ele é imaturo demais. E isso me deixa muito impaciente. Ron chegou bêbado ao restaurante para comemorar o dia de São Valentim, parecendo não se importar com o fato de eu ter reservado mesa para nós dois num dos mais românticos restaurantes trouxas de Londres – Hermione tentava expressar toda a sua decepção.


- Eu já sei toda essa história. Ele foi com Jorge à taberna comemorar a promoção do Percy e misturou bebidas. Acho que agiu muito mal. Mas você conhece Ron há tanto tempo... Ele sempre foi cabeça-dura e age sem pensar muitas vezes, mas tem um coração gigante. Meu irmão está sofrendo muito com as constantes brigas de vocês. Se realmente não gosta dele, tome uma decisão definitiva – Gina a surpreendeu.


 


 


 


* * * * * * * * * *


 


 


 


A ruiva se impacientou depois de apertar a campainha sem resposta. “Sou eu, Gina. Abre a porta logo”, ela falou alto.


- Está sozinha? Você sabe que não deve vir aqui – o rapaz gira a chave, mas não deixa a porta abrir completamente, já que a mantém presa com a corrente. Pela fresta, Ron olha de um jeito severo para a irmã. 


- Eu não estou sozinha. Tem outra pessoa aqui comigo. Agora pode abrir a porta, por favor? – Gina já estava ficando irritada com a demora. 


- Quem está com você?! – ele olha assustado para Hermione, que aparece por detrás da irmã. – Esperem um pouco que preciso ajeitar minimamente a sala. 


- HEI! Não precisa disso! – Gina agora bufava. 


- É rápido. Esperem um pouco só – a voz do rapaz já se distanciara. 


Meio minuto depois Ron retorna e abre finalmente a porta por completo. Quando Hermione entra na sala, ainda observa dois livros pesados flutuando até uma estante. “Então agora Ron gosta de ler”, sorriu com essa constatação. 


A sala era pequena, clara e tinha poucos objetos. Além da estante de livros, apenas a mesinha de centro redonda com seis grandes futons verdes musgos espalhadas ao redor e uma mesa de jantar de madeira com duas cadeiras de modelos diferentes decoravam o local. 


- Tudo bem com você? – Ron beijou a testa da irmã e, em seguida, saudou a ex-namorada com um rápido abraço. – Não esperava a sua visita, Mione. Algum problema? 


Hermione manteve a fisionomia fechada ao responder: “Não exatamente. Mas preciso te passar uma informação”. O rapaz apontou para os futons que flutuavam ao redor da mesa. “Sentem-se, por favor”, convidou.


- Ron, eu vou preparar alguma coisa para a gente comer – Gina disse se encaminhando para a cozinha. 


- Não se preocupe com isso. Prefiro que fique aqui – ele tentou dissuadi-la, mas Gina não escutou o irmão. 


- Que bagunça, Ron! Você não tem vergonha? – a voz estridente vinda da cozinha invadiu a sala. 


- Eu disse para você não ir até a cozinha, Gina! – o ruivo falou alto e, ao dirigir-se a Hermione, abrandou a voz. – Sente-se, por favor. Desculpe por não poder oferecer mais conforto.


-Está ótimo, Ron. Essas almofadas são bem confortáveis – ela respondeu já sentada. 


- E então? Qual o motivo dessa inesperada visita? – a luz que entrava pela janela tornava as sardas do rapaz mais nítidas e os olhos dele mais azuis. 


- Eu vim contar algo que pode ajudar na sua investigação – Hermione o olhava de um jeito inquieto.


- O que aconteceu, Mione? – os olhos de Ron escureceram, denunciando preocupação.


A garota não fez rodeios. Contou tudo que tinha descoberto sobre Mary Elizabeth Thompson, sem esquecer qualquer detalhe. O ruivo, que permaneceu o tempo todo em silêncio, mordeu os lábios e deu um suspiro. Ela tinha a impressão de que o ex-namorado sabia muito mais do que falara. “Tome cuidado. Não fique sozinha com essa mulher”, Ron pediu.


- Tudo bem. Vou ficar atenta – a menina não era indiferente a voz suave com que ele fazia tais recomendações.


- Caso Mary Elizabeth tenha qualquer atitude suspeita, avise imediatamente ao Harry. Eu viajo no próximo sábado para a Romênia. Como você sabe, ainda não me desliguei totalmente do Departamento de Aurores de lá – a voz do ruivo era suave e segura. 


- Por que não me falou antes? – o tom de voz dela agora era estridente. 


- Mas nem eu sabia disso, Hermione. O meu chefe me chamou, precisa de mim... – Ron a olhava fixamente, talvez tentando entender os sentimentos da jovem. 


- E você nem ia me avisar? – ela estava decepcionada. 


- Claro que eu ia te avisar – o bruxo foi incisivo. 


- Eu não consigo entender porque você não rompe esse vínculo com a Romênia e começa a trabalhar na Inglaterra. Garanto que teria uma vaga para você no Departamento de Aurores daqui – há muito tempo Hermione já pensava nisso. 


- Isso é uma questão um pouco complexa, Hermione... Não posso te explicar numa conversa que precisa ser rápida – Ron suavizou a voz. – E o Robert Veronese? Ele voltou a te procurar? 


- Não, por enquanto não. Sabe que você tinha razão sobre a visita dele ao Ministério? De fato, Robert foi até lá pela primeira vez sem agendar. Ele tinha sido procurado pelo chefe do Departamento de Jogos e Esportes Mágicos para prestar uma consultoria e decidiu ir pessoalmente saber do que se tratava – Hermione percebeu que não poderia esconder aquela informação de Ron.


 - Mione, se ele fizer um novo contato, dê uma desculpa qualquer, mas não se encontre de novo com esse bruxo – ele agora parecia tenso. 


- Está com ciúme de Bob? Sabe que ele me falou que não se interessou de verdade por nenhuma das bruxas que namorou depois que nós terminamos? – Hermione o provocou. 


- Não vai cair na lábia dele, Mione! E não estou falando isso por ciúme. Pode ser também ciúme, mas não é só ciúme. Eu não confio nesse Veronese, acho que você corre perigo com ele, estou sendo muito sincero – Ron franziu as sobrancelhas. 


- Não precisa se preocupar. Nunca fui apaixonada por ele. Nem pelo Mark. Muito menos pelo Krum. Apenas uma pessoa me interessa. Mas tudo indica, infelizmente, que meu sentimento não é correspondido – ela mostrou-se bem desanimada. 


- Quem disse que o silenciamos não existe? – o rapaz tinha um olhar claro e decidido.


A garota se perdeu naquele olhar por alguns segundos. Ainda guardava muitas perguntas, mas não sabia por qual começar. “Com licença, trouxe um lanchinho especial para nós”, Gina entrou carregando uma bandeja com sucos de abóbora e sanduíches. “Não sei vocês, mas eu estou morrendo de fome”.


Hermione não sentia qualquer fome e se limitou a beber o suco. Observava com atenção os dois irmãos, que devoravam felizes os sanduíches.  “Ron, acho que você esquece que é bruxo e pode usar a varinha para ajudar na organização. A sua cozinha estava uma bagunça”, Gina falou com censura. “Minha casa pode não ser arrumada, mas aqui não falta comida”, Ron respondeu. Os dois ruivos sorriram. Para os Weasley, acostumados a se reunir ao redor da mesa, a refeição era um momento de alegria e partilha.


 


 


* * * * * * * * * * * * *


 


Que briga, hein?! Bem característica desses dois adoráveis e explosivos bruxos. Ainda bem que, no presente, temos perspectivas melhores. Ponto para Ron, que teve coragem de perguntar: “quem disse que o que silenciamos não existe?”; Weasley é nosso rei! <3


 


 

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