Tem dias que a noite é foda



 “Nós éramos sem começo, sem meio, sem fim, sem solução, sem motivo.”


 


 


— Belo corpo, Hensen.


Era possível ver o rosto de susto e incredulidade, misturado com “eu vou te matar”, tudo ao mesmo tempo no rosto de Lia quando Luan disse essas palavras, mas ele não ficara tempo o suficiente para ouvir com nitidez os xingos dela, até mesmo porque as vozes dos Beatles abafaram tudo enquanto ele caminhava em direção ao próprio quarto, ainda risonho, o que a deixara com muito mais raiva ainda.


Adentrou seu quarto que ainda continuava uma bagunça, e continuaria assim pelo resto do fim de semana pelo jeito, e puxou a gravata do pescoço enquanto se largava no sofá, puxando de debaixo de si uma camiseta e um par de meia que jogara ali na noite passada. Se recostou no sofá, e cruzou uma das pernas sobre o joelho para tirar o sapato social enquanto seus pensamentos voavam, dispersos. Era estranho a maneira como estava se sentindo, e como se sentira quando parou à porta do quarto de Lia e a viu ali, à vontade, seminua, o corpo delicado, magro e ao mesmo tempo cheio de curvas; como em dois anos morando juntos, ele nunca a olhara daquele jeito? Como nunca observara como ela tinha um corpo de fazer qualquer marmanjo babar e enlouquecer? É claro que ele sabia que tinha muitos marmanjos naquele prédio que ficavam babando nela quando ela insistia em levar o lixo lá em baixo usando aquelas calças de ginastica que marcavam o corpo dela e chamava a atenção de qualquer um, e claro que ele não gostava nenhum pouco disso, mas sempre pensara que esse sentimento fosse apenas um instinto protetor, afinal de contas, ela não fora sempre como uma irmã para ele? Mas você jamais olharia daquele jeito pra sua irmã.


Sacudiu a cabeça diante de tais pensamentos e se levantou, depois de retirar os sapatos e as meias e seguiu até seu guarda roupa, enquanto abria os botões da camisa, para tirá-la em seguida. Jogou-a sobre a cama e parou em frente ao guarda-roupa, pensando em colocar uma calça jeans e uma camiseta, num estilo bem ele mesmo, nada de camisa social por cima da calça, hoje ele iria à vontade, não para impressionar garotas, ele queria apenas beber, conversar, rir com os amigos e esquecer a imagem de Lia seminua que insistia em aparecer na sua mente a todo instante, mas será que conseguiria esquecer tendo ela ao seu lado a noite inteira?


Seguiu para o banheiro e antes de entrar, parou à porta do quarto dela, vendo-a toda distraída enquanto fazia chapinha nos cabelos, riu consigo mesmo e seguiu para seu banho, melhor esfriar o corpo e a cabeça, e esquecer tudo aquilo.


Quase cinquenta minutos depois eles chegavam a um bar na Vila Olímpia, um barzinho badalado que já estava lotado, com uma música alta ecoando dos altos falantes, deixando todos super a vontade. Ele estacionou o carro próximo ao bar e desceu do carro, indo até o outro lado e abrindo a porta para ela, como um bom cavalheiro que ele era, o que ela adorava, alias.


Ela estava linda, usava um vestido vermelho e branco, que apesar de parecer um pouco solto no corpo, também mostrava que ela tinha um corpo curvilíneo, os cabelos estavam lisos e soltos, o rosto bem maquiado a deixava mais madura e os lábios estavam vermelhos, o que a deixava linda. Ela tinha pulseiras e colares combinando com a bolsinha de alcinha caída no ombro, e o sapato de salto a deixava na mesma altura que ele e lhe dava um ar de ‘mulherão’, o que fez todos os amigos de Luan olharem para ela quando eles se aproximaram das mesas que tinham sido juntadas para caber todo mundo.


— Ô até que enfim heim, achei que tivesse morrido no caminho. – Disse um dos amigos de Luan, aos risos, causando mais risos nos outros. As mesas estavam cheias, quatro homens e três mulheres, todos sentados em volta das mesas, conversavam, riam e bebiam descontraídos. Luan puxou uma cadeira para Lia e sentou-se em outra ao lado, enquanto alguns amigos seus se erguiam sobre a mesa para tocar a mão de Luan em um cumprimento. O garçom se aproximou e ele pediu duas cervejas para ele e Lia, que sorria, animada, para todo mundo.


— Mas pelo menos voltou muito bem acompanhado. – Disse outro amigo de Luan e Lia sorriu, com aquele jeito dela, todo solto, nunca tímida ou envergonhada, naquele momento Luan desejou que Lia fosse tímida, assim ela não daria bola, nem atenção para seus amigos. Se surpreendeu consigo mesmo e sorriu ao amigo, tentando afastar tais pensamentos.


— Pow Santana, você nunca falou que tinha uma namorada tão linda. – Algumas meninas riram e alguns outros caras concordaram, rindo do descaramento do amigo que dissera aquilo, e Lia riu, a vontade, pronta para responder que não eram namorados, o que Luan adiantou-se rapidamente, não queria nenhum marmanjo dando em cima dela, não naquela noite.


— Melhor tirar os olhos então, Cabral, ela não é pro seu bico. – Todo mundo gargalhou, enquanto Luan, risonho, começou a apresentar as pessoas na mesa pra Lia. – Esse é o Carlos, mas como ele me chama de Santana, eu chamo ele de Cabral. Essa é a Lia.


Cabral sorriu e Lia sorriu de volta, enquanto tentava entender o que estava acontecendo; por que Luan não negara que eles eram namorados?


Além do Cabral, tinha o Frank, que fora o que dissera que o Luan voltou muito bem acompanhado, era um rapaz muito simpático, loiro, baixo e miudinho, mas parecia ser o palhaço depois do Cabral; Rafael, um rapaz alto, cabelos pretos, espetados para cima iguais do Luan, tinha os olhos verdes e uma barba rala com um cavanhaque, ele era, sem sombra de dúvidas, o mais bonito de todos os amigos do Luan; ainda usava a roupa do trabalho, o terno estava pendurado no encosto da cadeira e ele usava uma blusa social de mangas curtas, rosa clara, que era um pouco apertada, mostrando que ele era forte, o que também dava para notar pelos músculos nos braços; e o último amigo de Luan era o Caio, um jovem bonito também, cabelos pretos, enrolados, olhos castanhos, um pouco mais baixo que Luan e também bastante simpático. E as meninas eram duas morenas e uma ruiva, ou um ruivo falso, e essa se chamava Carol, magrinha, meio tímida, mas simpática. As outras duas morenas, uma se chamava Patrícia, bem extrovertida ou parecia já um pouco bêbada porque ria bastante de tudo e a outra se chamava Jéssica, era muito bonita, se vestia muito bem, era educada e foi bastante simpática também com Lia; apesar da Carol não ser tão bonita, as outras duas eram muito bonitas, simpáticas e se vestiam muito bem, e aquilo fez Lia pensar se Luan já saíra com alguma delas, se já, ele nunca mencionara para ela antes.


A noite foi fluindo e as conversas também, todo mundo era simpático e divertido, os homens mais do que as meninas, mas Lia se dera bastante bem com Patrícia, talvez fosse pelo jeito bêbada dela que dizia muita coisa engraçada e já ficava chamando Lia de amiga, como se elas se conhecessem a vida toda.


— Amiga, você precisa trabalhar lá na empresa com a gente, você ia se divertir muuuito.


— Eu pensei que vocês trabalhavam lá, mas parece que me enganei. – Lia respondeu aos risos e olhou para Luan, que deu de ombros, rindo enquanto Cabral respondia.


— Trabalhar? Isso é pros fracos, a gente faz é muita zoeira mesmo. – Todo mundo gargalhou.


— Bom, tem vezes que somos obrigados a trabalhar, mas ainda assim, o pessoal zoa muito. – Disse Caio.


— Isso quando não resolve todo mundo fazer o cafezinho da tarde, e o que deveria ser cinco minutos, vira quinze.


— Meia hora, você quer dizer né, Rafa? – Todo mundo riu de Jéssica, enquanto concordavam com a cabeça, Luan apenas observava os amigos e ria junto com eles, porque sabia que nem era mentira tudo aquilo, aquele pessoal quando se juntava, só saia bobeira e trabalhar que era bom...


— Okay, vocês me convenceram, quando é que eu começo? – Todo mundo riu, e Lia piscou para Luan, virando um gole de sua bebida, agora ela bebia uma caipirinha, na verdade, a segunda caipirinha.


— Amanhã, se quiser, estamos mesmo precisando de uma auxiliar lá.– Frank parecia menos bêbado que todo o resto, não que todo mundo, de fato, estivessem bêbados, mas estavam já bem alegrinhos, animados, sabe como é, depois de várias bebidas, uma hora ela começa a fazer efeito.


— E o que essa auxiliar tem que fazer exatamente?


— Você, benzinho? Nada, só conversar, rir e iluminar o ambiente com esse rostinho lindo! – Lia gargalhou e todo mundo riu, enquanto Luan dava uma boa olhada para Cabral.


— Eu disse pra você tirar os olhos, Cabral. – Luan disse risonho, e todo mundo gargalhou junto.


— Ela não é sua namorada mesmo, é? É muito bonita e legal pra você, Santana. – Lia riu e virou um gole de sua caipirinha, olhando para Luan, agora ela queria ver, o que ele iria dizer?


— Mas o Luan é linndoo! – Disse Patricia, toda animada. – Ah, olha só pra eles, acho que formam um lindo casal!


Lia riu e viu que Luan também estava rindo, ele olhou para ela e deu de ombros, sem dizer nada. Aquilo era bem estranho, será que ele queria deixar claro que não era para ela se envolver com nenhum amigo seu, e por isso estava dizendo que eram namorados? Qual é, se ele podia sair e ficar com as garotas, por que ela não podia ficar com algum cara? Só porque eram amigos dele?


— Na verdade, não somos namorados. – Ela disse, dando de ombros e vendo Luan erguer uma das sobrancelhas enquanto a olhava, sem dizer nada.


— Nãooooo? Jura? – Patricia pareceu ser a única decepcionada com isso, percebeu Luan e para não precisar dizer nada, ele tomou um gole de sua bebida, vendo que Rafael e Caio não tiravam os olhos de Lia. Ele não devia ter levado ela naquele Happy Hour, quer dizer, ele não tinha pensado no quanto Lia era bonita e iria chamar a atenção de seus amigos, não que ele estivesse com ciúmes ou coisa assim, era só que, ele conhecia aqueles caras, eram galinhas demais para Lia, ela merecia muito mais.


Lia deu um sorrisinho, sem jeito e tomou o resto de sua caipirinha, pedindo agora uma taça de vinho ao garçom que passava para receber mais pedidos.


— Melhor não misturar muito as bebidas. – Luan lhe disse baixinho, ao ouvido, e ela sorriu de volta. Luan... Protetor, como sempre.


— Eu estou bem, relaxa. – Ela sorriu, docemente.


— Ahhh, mas olha só pra vocês dois, parecem tão íntimos, se não são namorados, eu acho que estão quase. Vocês estão ficando há quanto tempo? – Lia sorriu à Patricia e olhou para Luan, ai Deus, aquela conversa estava ficando esquisita.


— Nãoooo. Nós somos amigos, só amigos. – Ótimo, agora que os amigos de Luan iriam dar em cima dela, de vez. Pensou, ele, desanimado.


— Mas moramos juntos há dois anos. – Disse Luan, numa tentativa de mostrar para seus amigos que, mesmo que não namorasse Lia, ela não era para eles.


— Hãn? Agora eu fiquei confusa. – Todo mundo riu do jeito de Patrícia, e Lia deu de ombros.


— Relaxa amiga, é uma longa história. – Lia tomou um gole de sua bebida, antes de se levantar e dizer que iria ao toalete, no que Patricia também se levantou dizendo que iria acompanha-la e saiu cambaleante atrás de Lia.


Luan observou Lia caminhando pelo bar e o modo como vários homens olhavam-na quando ela passava, quando voltou os olhos para a mesa, percebeu que Rafael e Caio seguiram os quadris de Lia, como ele fizera.


Mas que droga, por que estava sentindo-se daquele jeito, afinal de contas? Será que era por tê-la visto seminua à tarde? Será que estava sentindo ciúmes? Não, não, com certeza era só porque seus amigos eram galinhas demais, ele conhecia aqueles caras, na verdade, ele era homem e sabia como homem era, ele tinha que proteger a Lia desses idiotas, era isso, só isso, não tinha nada além disso.


— Ela é uma garota e tanto, Santana. – Cabral falou baixo, apenas para Luan, que sorriu e assentiu com a cabeça, voltando a atenção as conversas da mesa.


— Vocês viram o jogo de quarta? – Perguntou Frank e os homens começaram a falar de futebol, o que agradou muito Luan, assim não precisava ficar pensando bobeiras.


Lia voltou um tempo depois com Patricia, e elas se juntaram a conversa. A noite estava muito agradável, o movimento do bar só aumentava conforme as horas iam passando, a música agitada fez várias pessoas, já bêbadas, se levantarem e irem para o meio do bar, onde tinha um espaço sem mesas, e começarem a dançar fazendo uma “pista de dança”, causando mais bagunça e animação ao ambiente.


Lia já tomara três caipirinhas, duas taças de vinho, duas cervejas, três saquês e agora estava tomando Whisky com red bull junto com Luan, seus olhos já estavam bem mais brilhantes do que o normal e seu sorriso, sempre solto, agora estava escancarado. Ria de tudo e com todo mundo, fosse lá qual fosse a piada e Luan percebeu que, se não ficasse de olho nela, alguém a levaria fácil, fácil para qualquer lugar.


— Você tinha que ver como ele era, parecia um nerd, com óculos e cheio de espinhas. – Ela ria e ele fez uma careta, estava contando como eles haviam se conhecido, e ela sempre insistia em dizer que ele tinha espinhas e parecia nerd, o que nem era bem assim.


— O Luan, nerd? – Todo mundo riu da pergunta de Rafael e Luan riu junto, negando com cabeça.


— Eu não, até parece, ela que gosta de exagerar só pra não dizer que me achou lindo. – Todo mundo riu e Lia gargalhou junto.


— Brincadeira, ele era lindo mesmo, tinha uma barbinha igual do Salsicha. – Todo mundo riu e ele fez uma careta, olhando para ela e erguendo as sobrancelhas, no que ela gargalhou ainda mais e passou os braços envolta do pescoço dele, dando um beijo em seu rosto. – Brincadeirinha, você era lindo com aquela barbinha de “olha, mamãe, estou crescendo! ”


Luan ergueu as sobrancelhas, olhando-a, tentando fazer cara de sério, mas não conseguiu e riu junto.


— Eu vou te mostrar o que estava crescendo naquela época. – Todo mundo gargalhou, enquanto uns falavam “ôoopa”, e Cabral soltou um “Ae moleque”, no que Lia gargalhou, dizendo:


— Uiiii, ta ficando atrevido esse Luan Santana. – Ele riu e sacudiu a cabeça, virando um gole de Whisky com red bull, era melhor ele parar de beber, estava começando a ficar bêbado e como Lia já estava pra lá de bêbada, era ele quem ia ter dirigir na hora de irem embora.


Aquela noite estava maravilhosa e Lia se sentia livre, leve e solta. Fazia muito tempo que não se sentia assim, e estar assim era ótimo, se sentia mais confiante e linda do que nunca. Podia ver que os amigos de Luan não paravam de olhá-la e podia perceber os olhos de Luan, como um leão defendendo a sua comida, e sentiu vontade de gargalhar com esse pensamento, Lia não era e estava longe de ser qualquer coisa de Luan, muito menos sua comida. Diante de tal pensamento perverso, ela gargalhou e deu um gritinho quando Patricia, há essa altura já muito mais bêbada do que era possível, gritou, toda animada.


— AHHH ADORO ESSA MUSICA! – Lia deu um pulo da cadeira quando Patricia se levantou e saiu correndo para a “pista de dança”, puxando Lia pelas mãos. Realmente, ela também adorava aquela música, por isso deixou-se levar pelo ritmo sedutor da música, tentando sensualizar junto com Patricia, enquanto riam e dançavam, tudo ao mesmo tempo.


Luan riu quando viu Lia dançando na pista de dança e riu mais ainda quando viu ela correr até ele e puxá-lo pelas mãos.


— Vemmmm Luan, dança comigo. – Ele gargalhou, jamais poderia dançar aquela música com ela, era dançante demais, mas mesmo assim deixou-se levar enquanto todo mundo da mesa também seguia para lá, dançando, rindo e se divertindo.


Luan percebeu que Caio agora beijava Carol sem se preocupar com nada mais, e sorriu consigo mesmo, happy hours sempre davam nisso; Voltou sua atenção a Lia que agora dançava animada na sua frente, o vestido balançando conforme ela dançava, rebolando levemente no ritmo da música que tinha um som animado e uma melodia sensual.


Ele viu que ela se virou de costas para ele, dançando e rebolando e ele ficou meio segundo hipnotizado olhando para o corpo de Lia, os quadris mexendo, o vestido balançando e erguendo-se um pouco, deixando à mostra um pouco mais das coxas, grossas. Meu Deus, que corpo! Aquilo o estava deixando louco, se ela continuasse daquele jeito mais cinco minutos ele não responderia por seus atos.


Passou as mãos envolta da cintura dela, mas apenas ficou com as mãos ali, sem segurá-la, só sentindo o corpo dela se movendo entre suas mãos e viu ela virar o rosto para ele e sorrir, com cumplicidade, como se ela gostasse daquilo, o que a fez dançar e rebolar ainda mais. Se ela estava tentando provoca-lo, parabéns, porque ela estava conseguindo isso com êxito.


Se aproximou um pouco mais dela e passou a ponta do nariz nos cabelos sedosos e cheirosos, Deus, o que ele estava fazendo? Sentiu o corpo dela deslizar em suas mãos enquanto ela se virava e envolvia as mãos entorno de seu pescoço, ainda dançando e rebolando, fazendo-o descer os olhos para o decote do vestido dela que ele notara, agora, que era maior do que deveria. Agora que ela estava mais próxima, a visão daquele decote era bastante privilegiada e ele lembrou-se imediatamente dela com as mãos sobre os seios tentando tampá-los, o que o fez ficar ainda mais com vontade de vê-la nua.


Subiu os olhos e a viu sorrindo, enquanto cantava de um jeito todo sedutor, mas que porra de música, ela tinha mesmo que tocar bem naquele momento?


Ela aproximou os lábios do rosto dele, tocando-os suavemente, enquanto deslizava-os por sobre a pele dele até o ouvido, onde, num sussurro, ela começou a cantar, provocantemente.


“Shh... don’t tell you mother.


Não conte à sua mãe


 


Ele sentiu o corpo todo se arrepiar, enquanto ela se afastava para olhá-lo e continuar cantando com uma voz sedutora, como a própria cantora na música.


 


Got my mind on your body,


Estou com minha mente no seu corpo


and you body on my mind...


e seu corpo em minha mente.


 


Ótimo, se ela queria terminar de provoca-lo, aquela era com certeza a hora certa, e bêbada ou não, ela não apenas sabia disso, como sabia como fazer isso.


Ele a viu se aproximar ainda mais dele e sentiu suas próprias mãos agora apertando a cintura dela com mais força do que imaginava; os lábios dela estavam agora muito mais próximos dos dele quando ela passou a língua suavemente sobre eles, antes de continuar cantando a música.


 


Got a taste for the cherry,


Quero provar deste fruto,


I just need to take a bite.


eu só preciso dar uma mordida.


 


Luan sentiu-se puxando o corpo dela contra o dele, fazendo-os ficarem com os corpos colados, enquanto perdia totalmente o controle, já não conseguia pensar em nada, onde estava, com quem estava, se ela era sua melhor amiga e muito menos se ele iria se arrepender disso depois, tudo que ele conseguia pensar era no corpo dela seminu e agora ali, dançando sensualmente para ele, sua boca cantando de modo sedutor e agora muito próximo dos lábios dele, tudo que ele pensava era que queria muito beijá-la, ali, naquele momento, nem um segundo a mais.


Passou uma das mãos pelo rosto dela e seguiu até os cabelos, os segurando pela nuca, antes de fechar os olhos e puxá-la mais para ele, aproximando os lábios deles cada vez mais.


Não importava mais nada no mundo, apenas que ele estava prestes a beijá-la.


 


— MEU DEUSSS... Eu disse que vocês eram um casal. – Alguma coisa muito errada tinha acontecido ali, e Luan notou isso quando ouviu a gargalhada de Lia e se viu abrindo os olhos para ver que Patricia agora abraçava os dois, toda empolgada por ter destruído o momento que, no íntimo de Luan, ele desejava mais do que tudo. – Eu sabiiiaaaa! Vocês são lindos juntos, eu disse amiga, eu disse que vocês dois TEM que ficar juntos!!


Lia riu alto e Luan sentiu o corpo dela se afastando do seu e deixou que ela se afastasse, não tinha mais porque ele ficar ali, não depois daquilo. Resmungou um “já volto”, que Lia provavelmente nem notou, e seguiu em direção ao banheiro.


Era melhor lavar o rosto, afastar aquelas sensações, aquela bebedeira que quase o fizera cometer um erro que se arrependeria muito no outro dia.


Que droga, por que ele se deixara levar tão fácil? Ele não podia fazer aquilo, não com Lia, quer dizer, eles eram melhores amigos, moravam juntos há dois anos e nunca nada como aquilo acontecera, e aquela nem era a primeira vez que eles ficavam bêbados juntos, então por que aquilo estava acontecendo agora? Por que aquele desejo e aquele pensamento maluco que não saia de sua mente? Aquela imagem dela seminua que ele passara a noite inteira tentando apagar da mente, mas que continuava ali, provocando-o e fazendo-o quase cometer uma idiotice.


— Que isso, Luan, controle-se, ta ficando maluco?


Luan disse a si mesmo, em frente ao espelho no banheiro masculino, e encheu as mãos embaixo d´agua para lavar o rosto. Precisava afastar o efeito da bebida, precisava ficar são, se Lia já perdera o controle, ele não podia se dar ao luxo de também perder, ou os dois acabariam acordando no outro dia, nus e com mais do que uma ressaca.


Voltou ao bar e viu Lia dançando toda animada enquanto Rafael a cercava. Ótimo, pensou Luan, agora ia ver outro tentar o que ele não conseguiu minutos atrás. Se aproximou para deixar claro que ele ainda estava ali e ela ainda não estava soltinha, livre, leve e solta, por mais que estivesse mais leve e solta do que deveria. Deu um aceno de cabeça pra Rafael que acenou de volta, enquanto Luan ficava ali, sem dançar, apenas envolta de Lia que sorriu toda animada quando o viu, o puxando, pela mão, para mais perto dela.


— Eu adoreiiii esse bar, vamos voltar aqui mais vezes? – Ela disse, empolgada e risonha e Luan sorriu, acenando com a cabeça.


Nunca mais ele a levaria ali, não com seus amigos carniceiros juntos.


Antes que pudesse responder, viu Lia se desequilibrar e a segurou pela cintura, mantendo-a próxima a ele, enquanto ela gargalhava e ele sorria, negando levemente com a cabeça.


— Acho que está na hora de irmos embora, madame.


— Ahhhhhhhhhhh, nãaaooo! – ele riu com a expressão de desapontamento dela, parecia uma criança num corpo de mulher... e que corpo!


— Ahh, sim. – Ela riu e se segurou no braço dele enquanto se viravam e voltavam para a mesa. Lia sentou-se e pegou um copo de caipirinha, que ela deixara ali e que àquela altura já estava quente, e virou um grande gole.


— Nós vamos embora. – Luan disse a Cabral e Jéssica que tinham voltado para a mesa, antes de virar o resto do seu Whisky com red bull.


— Pow cara, já? – Luan assentiu e apontou Lia com a cabeça.


— Parece que alguém bebeu além da conta hoje.


— Quemm?? Eu? Eu não, eu tô ótima! – Luan riu e disse para si mesmo: “Com certeza, está.”


— Falow cara. – Cabral e Jéssica acenaram, e Luan, ajudando Lia a se levantar, se dirigiu até o caixa onde pagaram suas bebidas e depois seguiram para o carro.


O caminho de volta demorou um pouco mais do que o de ida, como Luan tinha bebido um pouco, o que nem deveria ter feito, dirigiu mais devagar e cauteloso do que de costume, mas como já era mais de uma da manhã, as ruas estavam vazias e não tinha tanto perigo.


Quando estacionou no prédio, Lia saiu cambaleando do carro, a bolsinha segura em uma das mãos, enquanto a outra ela se apoiava no carro para não cair. Luan saiu do carro e deu a volta para ajudar Lia a caminhar até as escadas, onde ela subiu cambaleante, segurando firmemente no corrimão enquanto Luan a ajudava a subir.


Droga, não devia ter deixado ela beber tanto assim.


— Essa escada é em caracol? Porque parece que eu estou rodando. – Luan revirou os olhos e pegou Lia no colo, terminando de subir os três andares com ela em seus braços.


Quando chegou em seu apartamento, sentia-se arfante, Lia era magrinha, mas depois de três lances de escadas com ela em seus braços, ela parecia pesar cem quilos.


Desajeitadamente enfiou uma das mãos no bolso para pegar a chave do apartamento e o abriu, entrando cambaleando com Lia em seu colo, e fechando a porta com um chute, enquanto seguia com a loira direto para o quarto dela.


— Uhul, lar, doce lar. Eu adoro esse apartamento! – Ele a colocou sobre a cama e ela tombou para trás, rindo em seguida. Ele abaixou-se e segurou um dos pés dela, abrindo o fecho da sandália, enquanto ela se erguia e ficava sentada na cama, o olhando.


— A senhorita bebeu mais do que devia, heim? – Ela riu e ficou o olhando. Ele terminara de abrir o fecho da sandália e a tirava do pé de Lia.


— Por que você não tem uma namorada, Luan? – Ele ergueu os olhos para olhá-la, ela não estava mais risonha ou achando tudo engraçado, o olhava, séria.


— Você sabe... – ele disse, soltando o pé dela, agora sem a sandália, para segurar o outro pé e abrir o fecho. – Ainda não encontrei a garota certa.


Ela ficou olhando para ele enquanto ele terminava de tirar sua sandália, para coloca-la, em seguida, em baixo da cama e se levantar, deixando-a sentada na cama agora com os pés descalços.


— Talvez ela esteja bem debaixo do seu nariz e você que não viu ainda. – Ela disse, naturalmente, deixando Luan parado, a olhando. O que ela estava querendo dizer com isso? Não teve tempo de pensar pois ela se levantava e se virava, de costas para ele, segurando os cabelos no alto e olhando-o por cima dos ombros.


— Abre pra mim?


Luan ficou ali, parado, olhando-a pelo que pareceu uma eternidade, então segurou o zíper do vestido dela e começar a desce-lo devagar. Conforme o zíper ia descendo, o tecido ia se abrindo, deixando à mostra o corpo dela seminu. Que droga, o que ele estava fazendo?


Puxou o zíper até o final e ficou ali, parado, olhando para as costas dela, hipnotizado, olhando a pele branca e macia dela, que lhe fazia sentir ímpetos de tocá-la.


Percebeu que ela puxou o vestido pelos ombros, fazendo-o deslizar pelo corpo e cair ao chão, o que fez o coração de Luan acelerar no peito. Engoliu em seco e viu ela se virar para olhá-lo; estava agora seminua na sua frente, com uma calcinha preta e um sutiã tomara que caia, também preto. Luan respirou fundo e desceu os olhos pelo corpo dela, engolindo em seco. Deus, como ela era maravilhosa! Como era gostosa e como ele queria agarrar ela ali, agora!


Desviou os olhos e deu alguns passos para trás, tentando afastar aqueles pensamentos da cabeça.


— Quer alguma coisa pra beber? Uma aspirina, talvez, você com certeza vai precisar amanhã. – Ele desviou os olhos do corpo dela e se virou, caminhando até a porta do quarto.


— Quero uma tequila! – Ela disse, risonha, e ele virou o rosto para vê-la cair sobre a cama, o que a fez rir mais ainda.


— Com certeza. – Luan disse mais para si mesmo do que para ela enquanto seguia até a cozinha.


Talvez tudo que eles precisassem era mesmo deitar e dormir, no outro dia ela nem se lembraria de nada do que quase acontecera, e ele esqueceria tudo que sentira, quando estivesse em sã consciência tudo aquilo passaria, era só coisas da sua cabeça misturadas com bebida e o resultado era aquilo: uma quase loucura e pensamentos mais loucos ainda.


Abriu a geladeira e pegou a garrafa de Coca-Cola, servindo um copo e pegando uma aspirina na caixinha de remédios no armário, era melhor ela tomar uma aspirina hoje ou amanhã acordaria acabada.


Voltou para o quarto e quando se aproximou da cama, parou, surpreso.


Ela estava deitada na cama, apenas de calcinha e sutiã, por cima do edredom, dormindo.


Riu consigo mesmo e ficou ali, olhando-a. Bêbados! Como conseguiam dormir tão rápido?


Engoliu o comprimido de aspirina e virou um grande gole de Coca, e ficou ali, olhando-a por mais alguns minutos, pensativo.


Ela era linda, até mesmo dormindo. O que acontecera nesses dois anos que ele nunca notara isso? Ou ela havia ficado mais linda e mais gostosa nos últimos tempos? Ele não conseguia se lembrar porque sequer se lembrava de algum dia ter olhado para ela de outra maneira senão como amigos, quase como irmãos, e agora ali estava ele, olhando para ela como nunca olhara antes, como um homem olharia para uma mulher. Definitivamente, estava pirando.


Colocou o copo de Coca sobre a mesinha de cabeceira e se aproximou da cama. Delicadamente, segurou a cabeça dela e ergueu-a devagar, para passar um dos braços por baixo de modo que ele pudesse pega-la no colo, olhou para o rosto dela com medo de tê-la acordado, mas percebeu que ela sequer se mexeu, o sono de bêbados costumava ser bem profundo.


Ergueu-a no colo e desajeitadamente puxou o edredom para baixo com uma das mãos, para em seguida coloca-la de volta na cama, dessa vez sobre os lençóis, e então ficou ali, parado, olhando para ela e perdido em pensamentos.


Ele dormiria e amanhã nem se lembraria, essa era a solução de tudo.


Puxou o edredom para cima e a cobriu, sorrindo consigo mesmo ao olhar para o rosto angelical que dormia tranquilamente; aproximou seu rosto do dela e beijou, suavemente, a testa de Lia, antes de dizer num sussurro:


— Boa noite, bela adormecida.


Se afastou da cama decidido, no outro dia ela não se lembraria de nada e ele... Ele só precisaria esquecer.


Se conseguisse.


 


 

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