Os Durley



Música tema: Os novos Marotos


No dia seguinte houve a primeira visita dos alunos à Hogsmeade. Todos que estavam acima do terceiro ano e com a permissão revisada por Ravus se reuniram e tomaram as carroças puxadas por ninguém, à caminho do único vilarejo inteiramente bruxo da Grã-Bretanha. Naturalmente o Vice-diretor não havia deixado Tiago Potter ir esse domingo, devido aos seus recém-cicatrizados ferimentos. E obviamente o maroto foi de qualquer jeito.


— Cara, é um insulto eu estar aqui — dizia Fred para os amigos, todos sorrateiramente num canto relativamente vazio da loja. O garoto de pele morena estava com a camisa branca padrão por cima da calça e a gravata bem afrouxada, meio desleixado. Parecia chateado — sendo o meu pai o dono de uma loja melhor e maior que está bem ali na frente!


— Mas se acha esse garoto... — Letícia riu-se, empurrando na cara do moreno um tablete de nugá capturado de uma vitrine. Ela estava com a camisa da banda clássica “As Esquisitonas”, por cima o sobretudo preto de Hogwarts.


Um Sonserino surgiu procurando numa prateleira dos fundos algum doce, mas Letícia mandou ele ciscar para outro lugar, fazendo uma cara feia e cruzando os braços deixando a mostra sua pulseira de espinhos.. O garoto saiu correndo assustado, enquanto Letícia segurava o riso.


— Ele está demorando muito...— um Caerulleu todo aprontadinho de aluno indagou, olhando por cima das cabeças dos alunos na loja — Será que aconteceu alguma coisa?


— Relaxa, Professor. — Letícia colocou os fones, marrenta — Tiago tá numa boa. Vaso ruim não quebra... AAA!


Letícia soltou um gritinho exageradamente fino e feminino ao sentir um ligeiro “CREU” na cintura. Depois deu um tapão no braço do garoto (“PALHAÇO”) que fez o menino interromper as risadas por alguns segundos e soltar um “Au, cacete!”.


— Nossa, esse gritinho foi demais, hein, Letty! — Fred caçoou.


— Cala a boca! — a menina corou.


— Tiago, você tá louco? Não pode chamar muito atenção. Lembra que você não deveria estar aqui! Se o Vice-diretor Ravus souber... — Caerulleu ralhou.


— Ai, Professorzinho... — Tiago puxou Caerulleu pela gravata vermelha e guiou os amigos para a saída dos fundos da Dedosmel.


Letícia Reznor foi ao Três Vassouras pegar cervejas amanteigadas; Fred abasteceu sua mochila de fundo mágico com todos os artigos mais novos que reuniu na loja de seu pai, a Geminialidades Weasley, enquanto Tiago e Caerulleu aguardavam atrás da Zonkos. Uma vez reunidos, os quatro amigos caminharam pela camada de neve. Estavam fora das ruas, pois não queriam ser vistos e também porque o lugar que gostavam de se reunir ficava totalmente fora da rota.


Sorrateiros, seguiram entre pinheiros salpicados pela neve, pularam a cerca, constatando que não tinham sido vistos por nenhum estudante intrometido, e então correram até uma casa enorme no topo de uma colina nevada. Era a Casa dos gritos que, segundo as lendas, a casa mais mal-assombrada da Grã-Bretanha.


Não se ouvia gritos por anos, porém o clima do local se mantinha assustador. A casa era decrépita por fora e quando os quatro passaram pela maçaneta mágica de Tiago, viram que, se é que isso era possível, era ainda mais acabada por dentro.


— Hominis revellium. — Caerulleu disse assim que chegou no hall, balançando a varinha em um vai e volta. E acrescentou para ninguém em especial: — limpo.


— Beleza — Letícia disse. Então todos subiram as escadas e alcançaram um quarto.


Caerulleu e Tiago ascenderam as luminárias. O local estava cheio de poeira, mofo, paredes esfoladas, moveis totalmente lascados. Uma cama com tela jazia quebrada no fundo do quarto. Os quatro sentaram no chão mesmo.


— Vamos ver — Tiago sorriu, esfregando as mãos enquanto Fred esvaziava a mochila.


Havia explosivos de todas cores e formas, bisbilhoscópios, doces desfalecentes, kits mata-aula, bombas de bosta, moedas gêmeas, mapas falsos e outros itens que decididamente causariam, no mínimo, a expulsão dos quatro garotos, caso Ravus encontrasse algum deles no perímetro do castelo.


— Ótimo, estava acabando o estoque de pó escurecedor instantâneo do Peru— Letícia disse, analisando uma bolinha de vidro cheia de uma fumaça preta. E guardando no armário relativamente intacto, onde mais coisas contrabandeadas descansavam. Era uma espécie de reservatório de coisas proibidas em Hogwarts.


— Caaara, eu to um lixo — o garoto levantou a camisa branca e mostrou as ataduras enroladas no abdome. E baixou a blusa, rindo e bagunçando o cabelo moreno, como de costume.


— Você ri, é, retardado? — Letícia deu um tapa nas costas do garoto — Quase que você morre. A gente ficou assustado, seu tosco!


— Calminha, Bombarda — Tiago deu uma piscadela.


— Por que você demorou pra aparecer na Dedosmel, Ouriço? — Letícia quis saber.


— Tava surrando o Cobrinha? — Fred sugeriu.


— Nem me lembra disso... — Tiago levantou-se e ficou dando voltas para bufar.


— Eu ainda não acredito que o seu irmão fez aquilo. — Caerulleu disse — Pode ser mentira do Desmond! Ele pode estar querendo colocar vocês um contra o...


— Não, Prof, aquela cobrinha falou mesmo. A Deby estava lendo todos os meus movimentos. Ela pegou o pomo antes do acidente... Tenho certeza que aquele pirralho falou tudo pro Capitão Pananaca!


— Socou muito a cara dele? — Fred quis saber.


— O covarde está se escondendo no salão comunal da Sonserina. Mas ele não me escapa. Ele pensa que só por que é meu irmão pode sair sacaneando? Ah, mas essa cobrinha vai me pagar.


— Cuidado, Tiago. Se você exagerar, o Al conta pra tia Gina. — Caerulleu disse sabiamente — E é só um pulo pro seu pai descobrir que você roubou o mapa do cofre dele.


— Tranquilo... Sei fazer de um jeito bem legal — Tiago mexeu nos cabelos, dando uma piscadela para o amigo, sorrindo maligno — Se lembra da vez que o Garyl pensou que podia com a gente? Nem lembro quantos pontos a Corvinal perdeu depois que a gente fez ele levar culpa do contrabandeio de bomba de bosta...


— Uns quarenta pontos. — Fred riu-se, saudoso — Ravus ficou irado... principalmente porque explodiu tudo na aula de Transfiguração.


— MEU DEUS, ESSE DIA FOI É-PI-CO — e Letícia soltou uma gargalhada.


— Se depender da Letty, o nome daqui vai mudar pra “Casa dos risos”. Ri alto pra caramba! — Caerulleu disse enquanto a menina fazia um gesto feio com a mão em resposta.


— O.K, galera, mas se lembram do porquê de nos reunirmos hoje, não lembram?


— Vingança — um brilhinho surgiu nos olhos de Tiago Sirius Potter, enquanto ele roçava a mão na varinha.


Letícia pulou para um armário, pegou um pergaminho de cinquenta centímetros de altura e o desenrolou no chão, entre os amigos.


— Então vamos começar a montar o plano...


...


A neve caia lá fora mais volumosa do que nunca. As corujas enfrentavam momentos difíceis para entregar suas correspondências, isso se conseguissem sair vivas do misterioso tostamento a qual estavam sendo submetidas. Talvez por isso a coruja-parda de Hogwarts que Alvo tinha enviado falando sobre suas suspeitas para com o professor Vogelweide para seu pai... nunca tivesse chegado. O garoto nem sequer cogitara a chance de mandar Lude, que dormia em segurança no corujal...


Apesar do frio de lascar ossos, o garotinho branquelo de olhos verdes e cabelo cuinha nem sequer sofria. Afinal, estava sempre na cadeira mais próxima à lareira do salão comunal da Sonserina, jogando xadrez com Nelson, enquanto eram observados por uma Dedâmia tiete, um Patrichio lerdo e uma Juliana absolutamente desinteressada, lendo seu livro intitulado “Feitiços básicos, um Manual de Richovsk Garilaka”. Mathew estava mais distante jogando snaps explosivos com seu primo Desmond.


O Capitão Padalecki definitivamente tinha feito alguma coisa, pois os garotos da Sonserina estavam nitidamente mais simpáticos com o Potter. O garoto até estava recebendo proteção das certeiras humilhações de Escórpio nas aulas de Defesa contra as Artes das Trevas. E Isobel tinha que passar por cima da moco ronga Phandora antes de tentar derrubar outro vaso no pé de Alvo.


Acontece que nada disso era muito importante. Faziam três semanas desde que Tiago havia descoberto a traição máxima do seu irmão. Desde então o garotinho se escondia no salão comunal da Sonserina, se escondendo sempre que avistava uma mera sombra do irmão.


Mas Alvo sabia que muito cedo teria que enfrentá-lo.


— Al, você já separou as coisas que vai levar, não é? — Rosa dizia na manhã de quinze de dezembro para um Alvo apreensivo.


— Tá escondido perto da armadura da porta do térreo — o garoto disse olhando para os lados. Naturalmente quase não havia ninguém na biblioteca, já que faltavam apenas algumas horas para que o trem chegasse.


No feriado de Natal os alunos pegavam o trem de volta para Londres e rumar para suas casas para ficar com suas famílias. Mas alguns preferiam passar a temporada em Hogwarts. Era imaginável quem ficaria.


Quando Alvo descia esquivo pelas escadarias da torre de ligação junto com uma Rosa irritada com a lentidão do primo, ambos viram uma Isobel solitariamente sentada na escada dupla na frente da porta do salão comunal. Estava olhando para o vazio, porém mostrou o dedo do meio assim que avistou Alvo. E logo levantou-se foi embora sabe-se lá para onde.


— Nossa, deve ser triste ficar no Natal sem os pais, não é? — Rosa comentava enquanto atravessavam a ponte de pedra. — talvez por isso ela seja assim. Orfãos podem ter muitos problemas...


— Ela foi adotada pela Integra Waldorf — Alvo disse olhando para trás — por que não passa com ela?


— Credo. Pelas coisas que a mamãe fala da chefa dos inomináveis, melhor ir para as montanhas do Tibet passar a ceia com o Yete. Ainda assim ele seria mais acolhedor e quente que a tal da Waldorf...


— Talvez ela conversasse com o Nelson e a Juliana. São primos dela.


— Juliana, pelo que você me disse, também é uma pedra de gelo. E Nelson é muito prepotente. Desculpe, Al, sei que meio que eles são seus “amigos de Casa”, mas é verdade... — rosa dizia distraidamente enquanto passavam pelos fundos gramados do castelo. Estava tudo coberto por gelo e a manhã parecia fosca no céu. Não havia quase ninguém saindo.


Rosa e Alvo saíram atravessaram a porta do Castelo com a gaiola de Lude e poucas malas em mãos, enquanto Ravus os acompanhava mais uns dois ou três alunos para a estação de Hogsmeade. Eles saíram cedo porque não queriam ser encontrados por Tiago. Algo um tanto inevitável, pois quando descessem em Londres, Alvo deveria estar ao lado de Tiago quando encontrasse os pais...


— Na verdade eles são legais comigo. — Alvo disse de repente, enquanto fingia olhar pela janela da cabine a neve cair. Estavam no trem, exatamente no último vagão, na última cabine cortinada, bem longe e isolados de Tiago — Nelson jogou xadrez comigo enquanto eu estava preso no salão comunal. E Mathew me protegia quando a Isobel tentava me derrubar escada a baixo nas aulas de feitiço...


— Alvo, eles...


— Eu sei que eles não devem ser meus amigos de verdade. — o garoto não olhava para a prima — eu sei que faz parte da missão de descobrir tudo sobre a Integra.... Mas é que... Eu... Eu me sinto meio só lá no salão sem vocês, então.... — Alvo se virou para a prima — pelo menos eu não fico sozinho.


E deu um sorrisinho meio envergonhado. A prima não sabia o que falar. Ela sabia que ainda era bastante sofrido ter ficado na Sonserina, mas também sabia que falar isso não era uma boa ideia. Então resolveu elogiar o garoto. Sabia que Al adorava elogios:


— Você está estudando bastante DCAT, poções e Transfiguração. — a garota pegou alguns livros da mala da poltrona a frente — está pensando em ser auror?


— Na verdade não sei o que quero ser... — Alvo pegou inconscientemente o livro de poções e procurou na borda “esse livro pertence ao príncipe mestiço”. Mas estava escrito “Rosa Weasley, 2017”...


— Poções, é? Deve ser influência dos Derwent — Rosa disse como se não fosse nada.


Alvo desviou o olhar rapidamente para fora do trem, notando que as pessoas começaram a subir. Rapidamente abaixou-se, com medo de ser visto pelo irmão. Não foi muito difícil sumir afundado na poltrona: era baixinho mesmo.


— Então... Que tal revisarmos o plano sobre o Castlerouge?


— Tem certeza que vamos espionar o Vogelweide de novo?


— Se descobrirmos alguma coisa, você se livra da responsabilidade de ter que falar com os sobrinhos da Integra. — Rosa sorriu.


— Ahã... — Alvo estava desanimado. Naturalmente porque tinha medo de se envolver com o professor albino. E também porque não sabia como seria a vida se escondendo de Tiago em Hogwarts, vivendo no salão comunal e não falando mais com os únicos amigos da Sonserina que ele tinha...


...


A viagem foi tensa. Isto porque Alvo conviveu com o pânico de Tiago surgir na cabine e lhe dar uma surra. O garoto ouviu o conselho de Rosa e pôs-se a observar a paisagem branca de neve que passava rapidamente pela janela da locomotiva. E alguns minutos antes de chegarem, Rosa e ele correram para frente da porta do trem, pois Alvo desejava ser o primeiro a sair.


— Sinceramente, Al, uma hora ou outra você vai ter que falar com o Tiago. E uma hora ou outra ele vai ter que te perdoar. — Rosa dizia enquanto o menino se escondia atrás de uma viga na plataforma Nove e três quartos, já pupulando de fumaça e gente saindo do trem.


— De jeito nenhum. Esse ano o Tiago estava muito bonzinho comigo, você sabe que ele era um inferno... — Al disse, ainda esgueirando a viga.


— É, mas ele mudou um pouco...


— Só porque ele tava se sentindo culpado porque vivia dizendo que eu ia pra Sonserina. Ele tava com pena de mim, agora a pena virou ódio! Eu to muito ferrado nesse feriado...


— Se acalma, não pode ser tão ruim assim. Você não viveu com o Tiago esses anos todos? Tem perícia em ser atormentado.


Alvo olhou desgostoso para a prima.


E nesse exato segundo alguém se aproximou dos garotinhos com varinha em punhos, dizendo:


— Levicorpus!


Alvo sentiu um puxão forte no tornozelo e no instante seguinte viu-se pendurado no ar em uma alavanca invisível de cabeça pra baixo.


— Olha aí o fujão...


Tiago riu do irmão naquela posição totalmente vulnerável. Mas Rosa gritou:


— Finite encantatem! — porém nada aconteceu. — TIAGO, PARA COM ISSO. Ele ta ficando roxo!


E de fato Alvo estava tendo todo seu sangue indo direto para a cabeça, que começava a ganhar um tom vermelho-rouge. O menininho se debatia sob o comando da varinha do irmão mais velho.


— Não se mete, Rosinha, se não te penduro aí também. — Tiago empurrou a ruiva e ficou face a face com um Alvo do avesso.


— Maninho, você sabia que logo a gente ia se ver. Eu já tava com saudades...


Alvo nada dizia, apenas tentava alcançar a varinha no bolso. E infelizmente o irmão notou isso, pois a pegou e a guardou atrás da calça.


— Seguinte: vamos impor algumas condições por aqui. — Tiago puxou o cabelo do irmão quando ele tentou virar a cara. — NUNCA MAIS PENSA, IMAGINA, SONHA, TEM SEQUER UMA IDEIAZINHA DE MEXER NAS MINHAS COISAS. E NUNCA MAIS SOBE NUMA VASSOURA ENQUANTO ESTIVER EM UM RAIO DE DEZ QUILOMETROS DE MIM, sua cobrinha nojenta.


— Inferno, Tiago, para com isso!


— Cala a boca, Rosa. Eu já disse que é pra você ficar calada, que droga! Ele merece isso. É uma cobrinha suja e traidora. Ele deu um fim no meu mapa e fez a Grifinória PERDER O JOGO! Você devia entender, é da minha casa. Nem deveria falar com esse nojo de garoto — Tiago deu um puxão mais forte no cabelo lisinho de Alvo. O garoto soltou um grito estridente.


— Ele vai DESMAIAR se ficar mais tempo de cabeça pra baixo! — Rosa tentou pegar a varinha de Tiago, mas ela era mais baixa que ele.


— Tô pouco me lixando pra isso.


— Se o seu pai chegar, ele vai querer saber porque o Alvo está desacordado, não acha? — a menina gaguejou.


— Eu digo que ele se enjoou na viagem.


— Eu vou-


— Quer enjoar na viagem também?


Rosa sacou a varinha rapidamente, mas Tiago respondeu ainda mais rápido com um expeliarmus incrivelmente bem executado. A varinha da ruiva voou para a mão livre do garoto e ele a escondeu também.


Os alunos que desciam do trem começaram a perceber o que acontecia ali perto da plataforma. Alvo Potter de cabeça pra baixo, Tiago e Rosa discutindo aos gritos.


— PARA COM ISSO TIAGO, VOCÊ JÁ PROVOU O QUE QUERIA PROVAR!


— Ainda falta uma coisinha — o Potter olhou ao redor e gostou da plateia. Ele apontou para o irmão roxo a varinha, fazendo um movimento de puxão com ela. Em seguida exclamou: — Liberecorpus!


Alvo imediatamente desvirou e caiu de cara no chão. Mas Tiago puxou o menino pelo braço e o colocou em pé, levando o garoto para a vista de todos os alunos. Iam atravessar a parede para a estação trouxa, mas pararam para ver...


Alvo só de cueca no meio da plataforma nove e três quartos... Lotada de gente!


Todos os garotos caíram em gargalhada. Muita gente de todas as casas estava ali rindo da situação ridícula que o garotinho se encontrava. Escórpio observava de longe, com uma expressão estranhamente séria. Ele fitava o Alvo Potter bem no fundo dos olhos. E talvez por essa única razão Alvo fez toda a força do mundo para não chorar.


— DEVOLVE AS VARINHAS — Rosa avançou em Tiago, que empurrou a garotinha no chão e jogou os pedaços de madeira e a calça em cima dela. Alvo estava parado sem poder fazer nada. Poderia ser um feitiço do corpo-preso, mas era apenas choque e vergonha.


— Por enquanto já chega. Papai e mamãe já devem estar lá fora. E eu quero sonhar que o Cobrinha ou você falaram alguma coisa... Vocês sabem que eu posso ser dez vezes pior que isso.


Dizendo isso, Tiago virou-se e foi embora. Rosa deu as calças para Alvo, que correu para trás do trem em silêncio e vestiu-se rapidamente. Ele voltou até o lado da prima tropeçando na linha ferroviária, para causar mais estardalhaços dos garotos que o observavam.


— Al, desculpa, eu tentei, mas o Tiago é muito bom em feitiços...


Alvo nada disse. Estava cabisbaixo, totalmente concentrado em colocar os soluços para mais dentro de si o possível. Totalmente empenhado em não deixar os olhos sequer marejarem. Não ali. Não na frente de todo mundo.


Os primos atravessaram a parede e logo encontraram seus pais. Tiago falava alguma coisa muito engraçada para o tio Rony, que soltava uma gargalhada genuína. Hermione abraçava o ruivo pai de Rosa. Harry estava ouvindo o filho, sorrindo radiante. Gina acabara de notar que Rosa e Alvo estavam ali.


— Harry, é o Al! — A mulher ruiva acenou. Alvo olhou para Rosa por um segundo. Os olhos verdes do garoto estavam vermelhos de tanta força que faziam para se conterem. Ele correu em direção a mãe, que o abraçou.


— E então, Al? Tudo bem? O primeiro trimestre foi legal?


Alvo ainda cabisbaixo, sem sequer olhar para a mãe disse:


— Quero ir pra casa logo. Agora, por favor...

...


Era dia 19 de dezembro. Qualquer pessoa, trouxa ou bruxo, estaria pensando apenas uma coisa: faltavam cinco dias para o Natal. Mas Alvo Severo Potter aguardava ansiosamente não por isso, mas pelo dia 22, quando iriam visitar o Catlerouge, e assim, talvez, por favor... todas as coisas seriam descobertas. Tudo valeria a pena. Todos, até o irmão, iriam lhe agradecer e entender as ações tomadas pelo garotinho.


Porém, por enquanto, o Largo Grimmauld 12 tinha se tornado um verdadeiro inferno e o coisa-ruim tinha nome e sobrenome: Tiago Potter.


Alvo estava em casa nas férias de Natal por apenas um dia, mas era o suficiente para o menino sentir a vingança de seu irmão mais velho por ter feito a Sonserina ganhar no quadribol e ter perdido o mapa do maroto para a Madame Brendan, a zeladora de Hogwarts.


Por culpa de Tiago, todo o material escolar do menino tinha sumido no primeiro dia. Então ele não podia fazer a montanha de exercício que Vogelweide, Ravus, Adhara, Neville e os outros professores tinham passado. Tiago seguia o garoto pela casa arruinando os momentos de paz de Alvo com perguntas inconvenientes sobre “como são os Sonserinos? Sai veneno dos dentes quando eles sorriem?” ou “como é ser um traidor sujo e mal caráter com onze anos de idade?”. Isso quando ele não ficava insinuando que o menino era adotado.


Mas isso não era tudo. O irmão mais velho gostava de trancar fadas mordentes no quarto de Alvo, fazendo o garoto acordar de madrugada aos gritos pelas mordidas realmente perigosas dos bichos. Mas o pior foi quando ele deixou uma caixinha de baixo da cama do garoto, da qual saíra um Ravus realmente irritado contando que Alvo havia sido expulso de Hogwarts. Obviamente era um bicho papão, que foi controlado por Gina, enquanto Alvo, limpava o rosto das lágrimas, já seguro na cozinha da casa, bem longe dali.


Ele não poderia dedurar o irmão, apesar de todas as barbaridades que ele andava fazendo, pois este tinha coisas piores para contar para os pais. Imagina se Harry e Gina, antigos jogadores da Grifinória, descobrissem o que o garotinho fez? Não queria nem pensar nisso...


No segundo dia das férias de Natal, Alvo já tinha aprendido que ficar em seu quarto trancado e sozinho, saindo apenas para comer e fazer outras coisas básicas (e trancando a porta antes de sair), se configurava uma boa estratégia para sobreviver àquela semana. O problema era que ele se sentia muito solitário. Lude, a coruja branquíssima que o garoto havia ganhado do tio Rúbeo, não interagia muito com o garoto. Ficava observando a noite pela janela, distante, como que sonhando com a liberdade... Ela tinha voltado à pouco com a carta de Rosa, confirmando que o tio Rony e a tia Hermione haviam concordado em visitar o Castlerouge no dia 22. Ainda faltava dois dias inteiros...


Ia acontecer dia 22 de dezembro, no solstício de inverno. Segundo Rosa, o dia em que o sol fica por menos tempo no céu. Nesse dia, Ravus e Vogelweide se encontrariam para decidir alguma coisa na “toca da esfinge”. Algo a ver com “ingredientes”. Se as ideias de Rosa estivessem certas, os roubos estariam ligados a algum tipo de ritual mágico poderoso, pois uma fênix e algum objeto super-protegido do departamento de mistérios eram coisas que só poderiam ser usadas para algo muito perigoso. Ravus já tinha falado sobre o roubo com Thatcher, isso muito antes das aulas começarem.


Segundo as pistas, o Vice-diretor estaria escondendo alguma coisa do Ministério da Magia... o que poderia ser muito bem as coisas que ele e seus cumplices estariam roubando... Crime pelo qual seu pai, Harry Potter, estava sendo acusado, perseguido pela indômita tia de Nelson, Juliana e mãe, para todos os efeitos, de Isobel. Integra Waldorf era um verdadeiro estorvo para os Potter. O garoto precisava dar um jeito nisso logo.


Alvo também sabia que os professores suspeitos se encontrariam por volta das cinco da tarde no Museu Castlerouge. Rosa já estava a par do plano. Tudo estava no seu devido lugar. Agora faltava esperar um pouco mais e, por Merlim, tudo estaria resolvido bem mais cedo do que pensavam. Seu pai seria inocentado, Tiago iria entender tudo, e Alvo poderia viver em sua casa, Sonserina, sem ser taxado como falso e mau-caráter. Até poderia ser amigo de quem ele quisesse, sem julgamentos ridículos.


Sem poder estudar nada, sair do quarto, brincar de alguma coisa, o garoto resolveu na noite do dia 20 de dezembro enviar uma carta para Nelson, pedindo uma cópia dos exercícios pelo menos do Vogelweide. Não queria perder mais pontos para Sonserina por ser burro. Lude foi embora, e com isso o garoto deixou sua única companhia sair pela madrugada a fora, com aquelas asas brancas batendo em direção ao céu nevado daquele bairro trouxa...


Na manhã do dia 21, Harry tomava café, enquanto Gina e Lily conversavam animadamente sobre o natal n’A Toca. Tiago parecia concentrado olhando para a janela aberta do segundo andar da cozinha. E foi de lá que duas corujas chegaram. Uma coruja-da-torre desconhecida pousou no espelho da cadeira de Harry, enquanto a familiar coruja parda de Tiago veio direto para o braço estendido do menino. Ambas esticaram as patas, mostrando um coldre com cartinhas. Alvo continuou olhando para a janela aberta, mas nada de Lude.


Tiago lia sua carta entre gargalhadas. Gina sabia que provavelmente eram seus amigos preparando alguma endiabrice, como de costume, por isso olhou desconfiada para o filho, que logo se recompôs e começou a comer a panqueca doce de uma maneira calma e educada demais, já guardando a carta no bolso.


Porém quando Harry começou a ler sua correspondência, espirrou um jato de café pelo nariz, que voou direto no cabelo na senhora Potter. Esta o olhou indignada. Harry começou a fungar e pôr a mão no nariz, enquanto Tiago tentava segurar a gargalhada, quase que enfiando uma mão inteira na boca. Já Lily já ria sem critério de falta, e Alvo olhava assustado para o pai.


— O que foi, Harry? — Gina limpava o cabelo ruivo com uma toalha enquanto fitava a carta do marido com uma expressão de curiosidade. Harry a entregou a carta, e assim que a mulher leu, fez uma cara de meio-riso: — Isso é verdade?


— É totalmente possível — Harry, já recomposto, dizia, enquanto limpava a mesa com a mesma toalhinha de Gina. — Mas fique calma, O.K, não vou pôr nossos filhos nessa situação...


— Por a gente onde? — Lily quis saber, curiosa.


— Mas claro que eles devem ir! São primos! — Gina ignorou a filha, parecendo chateada com o marido.


— Dezessete anos da minha vida eu passei naquela casa! Um inferno, acha que eu gostaria de ver meus filhos pisando ali? — Harry disse um tanto exaltado.


— Mas ele pediu pra ver os nossos filhos! Não é por que você foi maltratado que nossos filhos serão! Família é importante, Harry!


— Quem quer nos ver, pai? — até Tiago quis saber. Alvo nada disse, mas estava muito curioso.


— Já volto, filho — Gina disse — Preciso falar com o seu pai à sós — e lançou um olhar cheio de significados ocultos para o marido. Harry se levantou e ambos saíram da cozinha.


Tiago esperou alguns segundos para levantar e seguir os pais.


— Tiago, você vai espionar o papai de novo? — Lily questionou. Alvo levantou-se, preparado para seguir o irmão, mas levou um empurrão no peito pelo braço forte de Tiago. — fica aí, pirralho! Lily, vigia ele!


— Tiago! — a menininha chamou, mas o garoto já tinha corrido pelas escadas.


Alvo sabia que não era uma boa ideia seguir o irmão, então voltou-se a se sentar, porém sem ânimo algum para comer os ovos com bacon.


Depois de um tempinho, Tiago voltou correndo com a maçaneta mágica na mão, a qual escondeu rapidamente no bolso, mostrando o dedo do meio para Alvo. Não demorou muito para Harry e Gina voltarem para a cozinha. A mulher estava com um jeito plácido, enquanto Harry parecia nitidamente contrariado.


— Vamos hoje a tarde na casa do tio de vocês! — Gina informou para olhos filhos.


— Obaaaa! — Lily comemorou — Tio Jorge, tio Gui ou tio Percy?


— A gente vai dormir na vó? — quis saber Tiago, já animado.


— Não, filhos... — Harry disse — vamos visitar o tio Duda.


— Duda? — Tiago entortou as sobrancelhas — o trouxa?


Harry fez que sim, bebendo um gole do café.


— Que meleca! — Tiago bufou e cruzou os braços.


— É aniversário do seu primo Eduardo, Lily! Ele tem a mesma idade que você! — Gina disse animada.


— Legal! — a menininha sorriu.


— Fred e os primos vão? — Tiago quis saber.


— E a Rosa? — Alvo também perguntou, parecendo apreensivo.


— Não, não — Harry disse — isso seria abusar da sorte — e o pai dos garotos riu nervosamente.


— Por que isso agora? Nunca visitamos a parte trouxa da sua família, pai. — Tiago ponderou, astuto.


— Justamente por isso devemos aceitar esse pedido. É hora de pôr uma pedra no passado e esquecer as velhas diferenças — Gina falou isso olhando para o marido.


Harry Potter nada disse, mas viu-se que tudo o que ele queria era ficar o mais longe possível de Surrey, bairro de Little Whinging, onde todas as anormalidades e esquisitices tinham ido embora há exatos dezenove anos. E desde então nunca mais ouviu-se falar de dementadores, velhos com desiluminadores, gatos que se transformavam em mulheres, Noitebus, ou ainda vassouras para lá e para cá, muito menos crianças deixadas na soleira da porta da casa número 4.


Na tarde daquele mesmo dia, Alvo, Tiago e Lily foram preparados com muita pompa. Alvo teve seu cabelo partido e engomado e até Lily usava lacinhos. Tiago recusou-se a fazer qualquer coisa com suas rebeldes madeixas, e vestiu a camisa da banda “Le Papise” que tinha ganhado de Letty. Obviamente Gina obrigou o menino a tirar. Não queria nem pensar em ver o garoto com aquela camisa na qual tinha a estampa de uma boca lambendo uma varinha, ou qualquer coisa que remetesse o mundo mágico. Então o menino se contentou em vestir uma peça preta, cor do mal e das trevas. Harry sabia que a rebeldia de Tiago era o prelúdio do caos.


Os Potters foram de carro, como trouxas, e seguiram atravessando Londres, por lugares onde Alvo nunca sequer sonhou em passar. Harry dirigiu por no mínimo meia hora até entrarem em um bairro estranhamente “limpo e normal”. As casas perfeitamente idênticas, todas brancas com telhados curvinhos. Cercas baixas, gramado bem cortado, umas senhoras regando flores, outras sentadas na porta fofocando. O carro preto de Harry se tornou imediatamente assunto para estas.


A casa 4 era uma das primeiras e logo foi avistada. Tinha o jardim mais bonito de todos. Já se ouvia um som um pouco mais alto de risadas e músicas infantis vindo do fundo da casa. E vários carros de modelos modernos e caros já estavam estacionados na frente.


Harry desceu do carro seguido pela família. Gina foi na frente, seguida por Tiago, que carregava um presente, e Alvo e Lily. Mas a mãe dos garotos parou assim que notou que o marido estava feito uma estátua ainda ao lado da porta do carro, do outro lado da rua. O homem fitava a chaminé que pupulava fumaça do telhado. E também observava concentradamente as margaridas vivazes, logo abaixo de uma janela aberta.


Gina foi com o marido e lhe disse alguma coisa, então Harry limpou os olhos e seguiu corajosamente até a porta da casa a qual passou sua juventude inteira.


Um outro casal com filhinhos chegou e logo passou a frente dos Potter. A outra família tocou a campainha e foi atendida por um velho gordo de bigodão e cabelo brancos debaixo de uma boina, pouco pescoço entre a papada. Alvo imediatamente associou aquela imagem à uma lontra dos polos que resolvera viver em civilização, sabe-se lá por que.


O velho sorria e mandava entrar os convidados. E então olhou um pouco mais para a frente e viu os Potter ali parados.


Ele parecia que simplesmente não acreditava. Apertou os olhinhos de porquinho para a cara de Harry e então pareceu que tomou conta da verdade. Arregalou os olhos até onde era possível e sua mandíbula desceu até o peito, sem encontrar pescoço no caminho, numa face de surpresa inigualável. Permaneceu assim por alguns segundos até de repente dar meia volta e fechar a porta.


Alvo olhou para o pai com uma expressão de dúvida e notou que Harry queria rir, mas queria rir demais, porém estava fazendo uma força homérica para não cair na gargalhada ali mesmo. O pai então, tomado por algum tipo de coragem repentina, seguiu até a porta e tocou a campainha.


— “Quem é”? — ouviu-se uma voz amedrontada transpassando pela porta.


— É o Harry.


— “Que Harry?”.


— Harry Potter.


Silêncio por alguns segundo e...


— “Não conheço nenhum Harry. Chispe daqui


Tiago olhou indignado para o pai, e Harry colocou a mão na cabeça, como que decepcionado. Logo em seguida ouviu-se mais uma voz masculina vindo de trás da porta. Eles pareciam discutir. Alvo só pode ouvir o outro dizendo “Eu que chamei ele!”. E então a porta se abriu.


Um homem da idade de Harry, loiro de olhos azuis, alto e forte, apertado em uma camisa azul elétrico com uma camisa de time de futebol apareceu sorrindo. O velho estava atrás, numa distância segura.


— Harry, meu deus do céu! Primo olha como você está! Faz alguns anos — e Duda Dursley, inesperadamente abraçou o pai de Alvo, num amasso de quebrar as costelas. — e a sua esposa? Gina, não é? Tudo bom? — o homem cumprimentou Gina, que sorriu cordial para o trouxa. — Entrem, entrem!


Harry, Gina e os filhos entraram na sala cheia de balões e serpentinas espalhadas. Algumas crianças corriam para lá e para cá, fazendo algazarra, porém tio Válter continuava observando atrás do sofá, como um ratinho que espia pelo buraco do armário.


— E olha esses campeões! Quem é esse garotão forte? — Duda virou-se para o irmão de Alvo, coçando a cabeça do menino.


— Tiago Potter. — o garoto respondeu, fazendo careta ao coça-coça do tio.


— Eu sou Lilian! — a menininha se pôs para frente e apertou a mão de Duda, que parecia radiante com aquelas bochechas coradas em um sorriso entusiasmado, dando um abraço na irmã de Alvo.


— Minha nooossa, Harry, esse aqui é a sua cara quando era moleque. Mirradinho igual ao pai. Como é o seu nome, amigão?


— Alvo Severo... — disse timidamente.


— Ele tem o seu olho, Harry, só falta o óculos e... Ei, falando nisso.. você ainda tem aquilo, primo?


Harry sorriu e levantou a franja, mostrando a velha cicatriz de raio no meio da testa.


— Meu chapa, isso é tão esquisito. Depois de tantos anos...


— “Depois de tantos anos” o que você tem de chamar esse... esse.. — Tio Válter pareceu tomar coragem e, aramado de uma sombrinha, o velho se aproximou — e mais essa gente da laia dele! Que ideia é essa de chamar essa gente pra festa do meu netinho?


— Essa gente? —Tiago se encrespou, olhando feio para o tio de Harry.


— Eu disse que não ia ser fácil... — Harry sorriu nervosamente, olhando para Gina.


— Cala a boca, papai! — Duda olhou feio para tio Válter — vocês disseram que queriam todos na festa do Edu, contanto que fizessem a festa aqui. Ele é o meu primo Harry, essa é a família dele, a minha família!


— Não acredito que você vai deixar essa gentalha esquisita... Não, isso é inaceitável, essa pirralhada vai ser uma má influência para o meu netinho. Não, mas de jeito nenh-


— Pode engolir esse discurso que o meu filho vai conhecer os primos SIM! — trovejou Duda pra cima do pai, que ficou amuado um pouco.


Alvo estava se sentindo muito desconfortável sendo o centro de uma briga. Gina parecia estar preocupada com Tiago, que cada vez mais antipatizava com o velho Durlsey. Já Harry tinha uma expressão esquisita de quem havia comido algo que não caiu bem.


— Meu filho... — o velho começou, dessa vez mais plácido — depois de tudo o que essa gente fez você passar...Você não se lembra do que eles fizeram com você? Até cauda de porco...


Duda ficou vermelho, mas falou firme:


— O senhor, pai, junto com a mamãe e até eu, fizemos o Harry passar por muita coisa ruim. Eu sinto muita vergonha de lembrar como eu era. Graças a deus eu mudei, mas acho que o senhor não tem jeito, não é, pai?


—... A sua mãe, a sua mãe não vai gostar... — Válter choramingava baixinho.


— Mas eu não vou deixar meu filho ser assim. Vamos entrando, Harry, Gina. Vamos criançada. Tem um monte de jogos lá nos fundos. Bolo, petiscos, tudo muito bom! Venham!


Alvo seguia o homem pelo corredor. Notou que as orelhas do tio Duda eram bem esquisitas. Quis perguntar para o pai o que acontecera com ele, mas resolveu guardar isso para si. Diferente de Lilian, que falou:


— O que aconteceu com as orelhas dele, papai? Um diabrete puxou demais?


Tio Duda riu-se, daquele jeito brincalhão.


— Eu era boxeador! Ganhei algumas cicatrizes por isso. Mas já estou aposentado.


— Seu tio ganhou muitos troféus. Ele era como a mamãe antigamente, no quadribol — Harry informou. — um campeão. — e Harry deu tapinhas nas costas do outro.


Tiago parecia bastante entediado segurando a caixa de presente do primo, já Alvo estava apreensivo. Eles passaram por uma cozinha, quando avistaram uma velha realmente enorme em uma cadeira de rodas com um copo de vinho ocupando uma mão, enquanto a outra mantinha acariciava um buldogue preto. A gorda conversava com uma outra velha qualquer, mas parou imediatamente assim que avistou Alvo. Seu olhar de puro susto lentificado pelo álcool foi para Harry imediatamente.


— Du-dudoca, querido — gaguejou com aquela voz um tanto já embriagada. — você colocou alguma coisa mais forte no meu vinho? Eu acho que estou vendo aquele... aquele marginalzinho...


Duda olhou para Harry com um olhar de súplica. Harry sorriu de volta, indo falar com a velha tia Guida. Ele meio que sentia-se arrependido por ter transformado ela em um balão há muitos anos atrás. Ela havia adquirido um tipo de pânico à qualquer tipo de transporte aéreo, soube disso tempos depois.


— Sou eu, o Harry, tia Guida — o homem foi lá cumprimentar a velha totalmente incrédula — e esse é o meu filhinho do meio, o nome dele é Alvo. Qual o nome desse novo buldogue?


— Eustáquio — a velha bêbada respondeu, observando a roupa elegante do pai de Alvo — e não é que você deu em alguma coisa? Pensei que ia virar mendigo quando saiu da casa do meu irmão... Esse moleque também é você quando era pirralho. Será que é arrogante e mal-agradecido também?


Harry demonstrou um autocontrole fenomenal ao relevar a fala da já louca do álcool tia Guida.


A verdade é que ele sentia pena dela: anos se passaram e ela continuava na mesma... bêbada, vazia e amarga, com dezenas de cachorros para cuidar, bem como a vida dos outros, esquecendo da dela mesma.


Porém, Tiago não pareceu tão bem controlado:


— Que essa baleia velha e encalhada está falando do senhor, pai? — o garoto olhou feio pra mulher, que engasgou-se com o vinho e fitou Tiago com a cara feia. — e do meu irmão? Alvo é muito estudioso! E sabe de algumas coisas que só vai ver no sétimo ano! — Tiago disse, sem se tocar que havia brigado com Alvo. Este ficou totalmente vermelho — E O MEU PAI é um funcionário do alto escalão do Ministério da...


Duda foi mais rápido. Foi puxando Harry, Gina e os filhos rapidamente para os fundos da casa, impedindo que Tiago terminasse a frase.


Lá tudo estava enfeitado com bandeirinhas vermelhas e brancas. As mesas espalhadas estavam cheias de pais que conversavam entre si, enquanto as crianças corriam para lá e para cá. Pendurado numa árvore havia um cartaz enorme de um homem encapuzado de branco, com os nomes “Feliz aniversário, Eduardo” e abaixo “Assassin’s Creed”, um jogo de videogame que, ao que parecia, o aniversariante amava. Porém... Onde estava Eduardo Dursley?


— Onde está o meu filho? — quis saber Duda, olhando para as crianças.


Um rapaz loiro e gordo, da idade de Duda apareceu já segurando salgadinhos dizendo:


— Ele tá jogando videogame lá dentro. Tia já vai buscar ele.


Não demorou muito pra uma mulher de idade aparecer. Era magra, pescoço longo feito garça, e um olhar austero e a boca contraída para a pirralhada a correr pelo gramado. Tinha em mãos um bolo enorme com o mesmo homem do videogame desenhado. Atrás dela, um menininho loirinho, magrela, de óculos e olhos claros vidrados em um game portátil, rodeado de dois amigos que davam palpites para o joguinho.


— Olha o bolo do meu príncipe, Eduzinho!


A “vovó Petúnia” atravessava o jardim dos fundos quando avistou algo que a fez estacar. Não ouviu-se som algum, mas sua boca formou claramente o nome "Harry Potter!”. Harry parecia simplesmente desconfortável.


— Essa trouxa é a minha tia-avó? — Tiago entortou o nariz, apontando para a mulher. — parece uma girafa.


Aconteceu em partes. Primeiro ela ficou pálida. A cara completamente incrédula, os olhos esbugalhados, a boca tão aberta que daria para passar um trem por ela. Em seguida ela virou os olhos e deixou o bolo se espatifar no chão...


Assim como ela mesma.


Tia petúnia desmaiou ali mesmo, caindo dramáticamente por cima do bolo e tudo. “Mamãe!”, Duda gritou. E toda a parentada voou para cima da avó, abanando, oferecendo água, pedindo para que ela reaja. Mas nada fazia efeito. A velha estava mole feito um presunto. O cachorro Eustáquio lambia o bolo da cara dela, e o pandemônio já estava instalado, em meio à gritos de “Alguém liga pra emergência!”.


A festa acabou mais cedo do que Harry imaginava. Tia petúnia fora levada ao hospital. Parecia que teve algum tipo de acesso. Harry olhava irritado para uma Gina com feições culpadas. E na sala de espera do hospital trouxa, ao lado de Duda, Harry e Gina conversavam. Tio Válter estava dentro do quarto com a esposa, e alguns parentes se encontravam mais distante, olhando feio para Harry.


Alvo, Tiago, Lilian e Edu estavam no outro canto da sala de espera, sentados calados. Eduardo, Alvo notou, era um garoto extremamente viciado naquele jogo. Não olhou nenhum segundo para os primos. Quando Lilian se sentiu entediada demais, tomou iniciativa:


— Porque sua avó desmaiou?


— Ela não gosta do seu pai... — Eduardo Dursley respondeu sem olhar para a prima, enquanto jogava.


— Seus avós foram escrotos com o meu pai quando ele era criança. — Tiago falou — Ele que deveria odiar os dois.


Eduardo deu os ombros. Continuou a jogar.


— Então o que o seu pai quer com o meu? — Lilian insistiu.


— Semana passada eu fui passar um tempo nos Estados unidos, com a minha mãe. Ela surtou quando eu peguei o videogame que estava trancado no armário.


— Que é que tem isso? — Tiago quis saber.


— Eu explodi a tranca do armário quando eu toquei. — o garoto falou de uma forma assustadoramente natural. — acho que eu sou uma espécie de mutante do X-men. Vocês também são mutantes? Qual o poder de vocês?


Alvo olhou assustado para Tiago, que olhou para Lilian também. Eles ficaram em silêncio.


— Não é bem poderes... — Alvo falou pela primeira vez após o silêncio incomodo, se sentindo esquisito por explicar isso a um garoto que viveu sem conhecer bruxos, se referindo a eles como “mutantes”.


— Cala a boca, bebezão. Deixa o garoto falar como ele quiser — Tiago disse. — É isso aí. Somos como você.


— Sabia que vocês eram mutantes também. — Edu falou sem desgrudar o olho da tela — O pai me falou de uma escola onde a gente conhece melhor nossos poderes. É muito parecido com o Instituto Xavier, pelo que entendi. Ele falou que o pai de vocês vai me ajudar.


— Quantos anos você tem, Eduardo? — Lilian quis saber.


— Fiz 11 hoje.


— Acho que ele vai estudar com você, Lily... ano que vem — Tiago disse para a irmãzinha — E vocês dois tem que ir pra Grifinória, por favor. Já chega de cobras nojentas na família.


Alvo olhou para Tiago, irritado pela “indireta direta”. Eduardo pareceu não ligar. Estava concentrado no jogo. Lilian parecia curiosa:


— Que é isso? — quis saber.


— É um New 3DS XL.


A menina entortou as sobrancelhas quando viu a tela movendo, assim como as fotos do mundo mágico.


— Legal. — comentou.


— Quer tentar? — surpreendentemente Eduardo parou o jogo e ofereceu para a garotinha.


— Quero! — a menina pegou o tal 3DS e os priminhos começaram a conversar. Eduardo dava dicas para a garota. Tiago não parecia satisfeito.


— Vou dar uma volta por aqui — o irmão mais velho disse.


Alvo quis acompanhar o irmão, mas temia por algum atentado que com certeza sofreria nos corredores vazios do hospital trouxa. Então resolveu observar as coisas do lado dos primos mesmo, enquanto Tiago já se afastava.


Algumas pessoas com batas grandes brancas e aparelhos no pescoço andavam para lá e para cá. Deviam ser os médicos trouxas. Achou tudo muito interessante, mas já sentia falta de seu próprio mundo. Queria ir logo para o Castlerouge, investigar com sua prima Rosa. Isso aconteceria amanhã, e ele mal podia esperar...


Quando eles já estavam no largo Grimmauld, Lily perguntou para Tiago por onde ele estava quando Harry chamou todos para irem embora. Tiago apenas disse, cínico:


— Encontrei o chapéu do tio-avô Dursley. Acho que os médicos trouxas vão demorar pra dar um jeito nas pulgas de fenrir que o Fred me arrumou para ocasiões especiais, como aquela.


 

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Comentários (1)

  • Luiza Snape

    Caracaaaaaa, eu não acredito os Dursleys pagaram a lingua! AHAHHA O moleque é bruxo! 

    2015-12-05
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