O magnífico Castlerouge




Música tema: madrugada fria


Na madrugada do dia 21 para o dia 22, Alvo não conseguiu dormir direito. Na maior parte do tempo ficou olhando pelo vidro da janela de seu quarto para o céu acima do largo Grimmauld 12, encarando a escuridão da noite entremeada por árvores e luminárias altas do mundo trouxa. As nuvens acinzentadas vadeavam lentamente pelo firmamento... Alguns pássaros passavam rapidamente para um lado e para o outro. Piados de corujas eram ouvidos indistintamente...


...Mas nada de Lude voltar.


Na solidão de sua madrugada, Alvo deitou-se na cama e ficou encarando o quadro do seu quarto.


— Senhor Fineus?


Obviamente o quadro continuou lugubremente vazio e em silêncio. Claro que a pintura de um renomado diretor de Hogwarts não iria querer bater um papo com um pirralho de onze anos que estava se sentindo solitário.


O garoto foi dormir por volta das duas horas da manhã, com uma vela acesa à balançar para o vento que escapava da fresta da sua janela, num bruxulear que fazia sombras esquisitas de enormes serpentes pelos detalhes serpentinos dos móveis...


...Uma enorme serpente se arrastava pelo soslaio de madeira decrepita, passeando por um corredor sujo de uma casa que parecia estar condenada. Suas escamas esverdeadas em um corpo em movimento sinuoso foram reveladas ao brilho da fresta de uma porta, na qual ela entrava sem cerimônias. Alvo observava tudo escondido em um outro quarto, esgueirando por uma fresta mínima presente atrás de um quadro. Assim que a cobra desapareceu no outro cômodo, o garoto foi até o corredor e colocou os olhos na fresta da porta.


No quarto, uma jovem garota de longos cabelos negros à recebia sentada em um sofá rasgado. A serpente se aninhou na cocha da de Deborah Waldorf, e esta acariciava a serpente enquanto lia um livro grosso e esquisito sob a luz de uma lareira alegremente crepitante.


Mas Alvo notou que havia ainda outra pessoa na companhia de Deborah. Era Drielson Derwent, o pai de Nelson. O homem pálido e pomposo estava observando a noite pela janela turva de poeira. De repente falou:


— E o garoto?


Deborah ficou calada por um tempo, até resolver responder.


— Tudo está indo bem. Logo ele vai ser melhor amigo do seu filho.


— Então ele é um de nós. — Drielson se aproximou de Deborah.


— Logo será.


Alvo não aguentou aquilo. Abriu a porta, surpreendendo a Waldorf e o Derwent.


— Eu serei o que? — o menino perguntou.


Drielson e Deborah riram.


— Um bruxo das trevas poderoso.


— Não! — Alvo se afastou desesperado.


Drielson e Deborah riam malignamente. E a cobra elevou a cabeça e disse naquela linguagem sussurrada e silveante, a qual, estranhamente, Alvo entendia:


“Sssonsserino... Sssonsserino...”


O garoto de repente sentiu uma pressão forte na cabeça, e a dor lancinante tomou forma de raio. Uma sensação de falta de ar opressiva invadiu o menininho...


— SONSERINOZINHO! Acooorda... — Tiago gritou.


Alvo soltou um grito quando notou que Tiago estava sentado em sua cabeça. Tiago pulou da cama rapidamente quando ouviu os passos de sua mãe se aproximando.


— AL! — Gina entrou de supetão no quarto, encontrando Tiago inocentemente sentado na escrivaninha do irmão, enquanto o próprio Alvo estava sentado em sua cama, com o cabelo cuinha todo na cara, massageando a cabeça com uma expressão irritada. — O que houve? O que você fez, Tiago? — a mulher disparou semicerrando os olhos pro filho mais velho.


— Eu? — o garoto fez uma cara cínica de inocência, enquanto largava o livro “Contos de Beedle, o Bardo” — Foi o Al que teve um pesadelo...


Gina chegou perto de Alvo e sentou-se ao lado do filho.


— De novo? Pensei que tinham acabado desde que você entrou em Hogwarts... — a mulher abraçou o filho.


— É... — Alvo olhou para Tiago — também pensei que ia acabar quando eu entrasse em Hogwarts...


Tiago abriu um sorriso pelas costas da mãe. A mulher deu um beijinho no filho e saiu do quarto, dizendo que logo-logo o café ia ficar pronto. E quando Tiago perguntou do pai, a mulher prometeu que ele chegaria a tempo para hoje à tarde.


Alvo literalmente ficou vigiando os ponteiros do relógio, até eles formarem o ângulo mais desejado pelo garoto. Eram três e meia quando Harry chegou do Ministério da Magia e não demorou muito para a família Potter se reunir em torno da lareira e cada um jogar o pó-de-flu e ser engolido pelas chamas verdes altas e dançarinas, exclamando “Lumier” antes disso.
Quando o menininho de cabelo cuinha espalhado na cara e olhos verdes nistagmáticos conseguiu colocar os pés no chão, após girar e entortar em um festival de luz até a lareira certa, viu-se em um grande galpão escuro e empoeirado. Estava cheio de caixotes para lá e para acolá, a maioria cobertos por panos velhos e fantasmagóricos. O lugar era um convite para o silêncio e à solidão, porém várias e várias pessoas surgiam de outros fornos abandonados, do qual os Potter também saíram.


As pessoas estavam bem arrumadas e traziam crianças em suas mãos, como que aquele galpão tivesse algum tipo de notabilidade ou poesia na sua coleção de teias de aranhas. No entanto, não demorou muito para Alvo notar que todos entravam na carroceria de um caminhão enorme e condenado à sua própria sorte de ferrugem e sujeira. Elas iam atravessando em montes à escuridão do cargueiro, e era um absurdo tanta gente caber ali, portanto se tratava, com toda a certeza, da porta para o famoso Lumier.


Harry olhou para o relógio de pulso que havia ganhado de aniversário de Gina, tentando identificar entre as pessoas que surgiam pelos fornos do galpão, pistas dos outros. Logo avistou Rony, trazendo Rosa e Huguinho, que logo se juntou à Lily. Rony, Harry e Gina conversavam sobre algum tipo de alvoroço no Ministério da Magia, motivo pelo qual Hermione não poderia vir, mas eles pararam de falar assim que notaram que Alvo, Rosa e Tiago estavam quietos demais. E então seguiram em um silêncio até o fundo do caminhão.


Huguinho e Lily foram os primeiros a entrar, acompanhados de Harry e Gina. Rosa, Tiago e Alvo ficaram para trás, observando aquele escuro vago espaço, com um mínimo brilhinho no fundo. Tio Rony esperou o tal brilho desaparecer subitamente e reaparecer, para caminhar com as crianças no breu que era aquela carroceria.


Alvo não conseguia ver nada. Sentiu-se como na noite em que se perdera nas lonas do circo Juperus. Um certo pânico o tomou conta quando sentiu-se ser guiado apenas pela mão do tio Rony. Quando eles andaram mais um pouco, sentiram bater no fundo do caminhão e notaram que estavam em frente ao brilhinho. Era um pequeno abajur em cima de um criado mudo.


— Todo mundo pega no abajur e me aguardem. — disse o tio Rony. E todos colocaram a mão em cima do chapéu iluminado do abajur. Alvo sentiu um calorzinho emanar daquele eletrodoméstico. Era gostoso — todo mundo? — tio Rony esperou o sim de todo mundo para preparar a mão para puxar uma cordinha debaixo do chapéu.


Porém, no último segundo antes do tio puxar, Alvo sentiu sua mão subitamente descolar do abajur. Uma espécie de vento havia o empurrado. E logo em seguida, viu-se no completo escuro. A luz do abajur estava desligada, mas voltou a ligar assim que a mão do tio Rony abandonou a corda. Após alguns segundos de silêncio, o garoto se tocou.


Eles estava só, na carroceria do caminhão. Os outros tinham sumido!


Outra pessoa entrou no caminhão logo em seguida e assustou-se ao notar que Alvo estava ali. O garoto sentiu uma vontade de gritar desesperado, mas uma voz de menina com tédio e irritação estranhamente familiar disse:


— Sériozão que você largou o abajur?


Alvo ficou calado.


— Deixa. — a menina tomou a mão do garoto com brutalidade e o fez tocar no chapéu do abajur. A mão dela também ficou encostada, vermelha pela luz que a atravessava, mas a menina entrelaçou o dedinho no de Alvo e contou até três, puxando a cordinha.


Alvo se sentiu repuxado pelo dedinho da menina, como se tivesse acabado de ser sugado por um rodamoinho de uma pia que acabara de ser destampada. Ele de repente viu-se em um lugar cinzento em eterna rotação. O garoto girava no vácuo, grudado magneticamente ao dedinho branco da desconhecida. Eles giraram cada vez mais rápido, rápido, rápido...


Então subitamente tudo parou de girar. Alvo estava no chão, a menina havia largado o seu dedo. O garoto sentiu vontade de vomitar, mas não o fez. Com a ajuda da garota, se levantou um pouco custosamente. E depois de se situar, reconheceu de quem se tratava.


Óculos pretos de armação grossa, maiores do que o rosto fino e branquelo feito um fantasma. O cabelo da menina tinha um penteado curto e curvado para trás, o cabelo preto e liso lembrando estranhamente uma bola de futebol americano. A garota da mesma idade que Alvo estava vestindo roupas leves e uma calça jeans, um colar de uma pedra amarelada pendendo longe demais do pescoço fino e longo.


— Ei! — a menina exclamou. — Você é o Alvo Potter da Sonserina!


— E você é a Beatriz Bathory, da corvinal. Da aula de teatro... — o garotinho deu um meio sorriso.


— Uh, verdade. Amei quando você colocou o pé para o Escórpio cair. — ela deu um sorriso esquisito — mas ó, você fez uma burrada não pegando no abajur com a sua família. Agora estão separados. Não se preocupa. Te dou uma mão.


Aí que Alvo lembrou-se de olhar ao redor. E seu queixo caiu.


“Lumier” vinha do francês “luz”, segundo sua prima Rosa. E era exatamente como se descreveria aquele lugar. Era um local lotadíssimo de gente falando uma língua que lembrava um pouco o fraco sotaque da tia Fleur; as lojas brilhando todos os tipos de joias que o garoto poderia imaginar. As próprias fachadas das lojas eram douradas e prateadas e o chão era ladrilhado de pedrinhas luminescentes. Alvo e Beatriz foram caminhando na rua longa, desviando das pessoas, enquanto o garoto babava para os quadros multicoloridos que os artistas pintavam ao vivo.


— Ô, olha pro caminho, pateta — Beatriz puxou o garoto para o lado, impedindo-o de se acidentar em uma obra de um trasgo lendo “o profeta diário” que estava um pouco mais para cá da calçada. — parece até que nunca veio aqui.


— Eu nunca vim — sorriu-se amuado o garoto. — como eu encontro os meus pais?


— Seguinte. O abajur vai levando as pessoas pra uma determinada área desse bairro. Sabe que estamos em Paris, não é? Para não lotar, ele fica trocando de posição de teleporte. Então não tem como saber para que lado os seus parentes vieram parar. Cê sabe ao menos pra que eles vieram? Preparar alguma pintura?


— A gente veio visitar o...


— Castlerouge. — interrompeu Beatriz. — que óbvio. Você tem muita sorte. Eu to indo para lá também, ver meu pai. O museu fica bem no centro do bairro.


Beatriz guiava um Alvo curioso entre as ruas e ruelas douradas. Aquele lugar era uma espécie de centro da artearia mágica, uma espécie de beco diagonal de pinturas, joias, artesanato com vasos, plantas e metais preciosos em todos os tipos de objetos. Punhais, espadas de ouro, chakrans de prata com detalhes de diamantes, colares de esmeraldas na vitrine de joalherias caras e finíssimas...


Mas, de repente, Alvo estacou no meio da rua. Beatriz soltou logo um alto “QUIÉ?”. Alvo apontou para um baixinho observando os anéis em uma vitrine. Era o professor Ravus.


— Ah — Beatriz disse, como quem faz por menos — O Vice-diretor Ravus. Não sabia que ele já trabalhou no Castlerouge? Ele vem aqui muito.


— Sério?! — Alvo exclamou.


— Você não sabe de nada, credo! É bem óbvio. O Castlerouge é comandado por Duendes. O Ravus é um bruxo mestiço. Ele foi Curador do Museu uma época, antes de virar professor. Agora o Curador é o meu pai.


— Seu pai é amigo do Ravus?


— Sim, claro, são bem próximos. Ravus não deixa ninguém da escola saber, mas ele é meu padrinho.


Alvo de repente achou que deveria ter tirado a sorte grande. Com Beatriz ali, ele poderia perguntar tudo sobre Ravus, antes de entrar no Museu e caçar o local da reunião secreta de Ravus com Vogelweide, que aconteceria as cinco horas em algum canto do Castlerouge.


— E se você não sabe, seu tio, Gui, trabalha aqui também.


— Desde quando? — Alvo boquiabriu-se. Até onde sabia, tio Gui trabalhava no Egito, vasculhando pirâmides.


— Deixa eu ver, hã, desde... sempre! Não conhece sua própria família?


Alvo achou aquilo melhor ainda. Dominique deveria saber do trabalho de Ravus. E talvez toda aquela história do roubo tivesse algo a ver com o museu. Precisava contar para Rosa!


— Por que você ta fazendo essa cara risonha de doente mental? Vamo andando que o museu ta ali na frente!


Alvo então virou a cabeça para onde a menina estava apontando e avistou... Sua boca abriu-se de leve...


Música tema: O magnífico Castlerouge


Era um lugar simplesmente impossível de existir no meio de uma cidade trouxa mais visitada da França. O Castlerouge se impôs na frente do garoto, como um monumento ratificador de sua inferioridade ao seu milênio de existência.


               


Música tema: Misterioso Redbrick


Alvo nunca tinha visto uma construção tão majestosa no mundo mágico, desde o Castelo de Hogwarts. De cara havia a escadaria brilhosa como ouro, curva como serpentes... serpentes douradas a rastejar lentamente até o patamar mais alto. Sim, pois haviam três patamares com uma longa caminhada se estendendo entre eles. O piso igualmente iluminado com ladrilhos dourados... Até chegar finalmente na entrada daquele mausoléu.


Essa foi a primeira coisa que Alvo pensou quando avistou aqueles tijolos vermelhos caprichosamente encaixados, formando uma pirâmide fenomenalmente alta. As paredes lisas pirâmide eram sete. Uma pirâmide construída na base de um heptágono gigante.


Uma porta Triangular, como uma fenda, se levantava na altura de uns três dragões empilhados e havia letras nas bordas daquela fenda enorme na face dianteira da heptapirâmide. Eram hieróglifos rúnicos que Alvo sentia que deviam transmitir alguma mensagem muito importante, a qual se perderia para sempre por sua falta de conhecimento. De repente ele sentiu raiva de si mesmo por ter dormido nas aulas de História da Magia. Ele estava frente a frente com um monumento provavelmente milenar, que subia até o horizonte azul-acizentado cheio de nuvens, que acimava algum lugar inabitado da França.


Ao lado da porta de entrada do Castlerouge, haviam duas estátuas douradas de serpentes najas colossais. Os olhos eram de rubis vermelhos e as asas formavam um círculo solar, como o do Colosso de Rhodes, monumento trouxa infinitamente inferior à beleza das serpentes guardiãs.


Dezenas de pessoas seguiam enfileiradas para entrar na fenda triangular. Crianças, adultos, mães, filhos... todos sendo revistados por alguém muito pequeno para se enxergar daquela distância.


— É esquisito, não é? – de repente Beatriz Bathory disse, contemplando a fachada do local – mas ao mesmo tempo lindo. Espera pra ver como é lá dentro. – a menina deu uma piscadela de dentro daquelas grossas lentes dos óculos desproporcionais ao seu rostinho fino e branquelo.


Alvo e Beatriz se uniram à multidão e logo estavam na fila. O garotinho estava tão ansioso que não percebeu que tentou entrar sem antes ser revistado pelo duende.


O menino se assustou quando sentiu uma mão unhenta empurrá-lo pela barriga, impedindo-o de seguir. O duende tinha os olhos negros brilhosos em uma cara enrugada. Não chegava a bater no queixo do garotinho. As feições levemente irritadas encararam Alvo por um segundo... O duende mal-encarado estendeu as mãos com seus finos e longos dedos.


Beatriz tomou a frente, dizendo:


— Beatriz Bathory e Alvo Potter - e lhe entregou a sua própria varinha, lançando um olhar significativo para Alvo, que fez “Ah, claroSó um segundo”.


O garoto retirou a varinha do bolso e entregou para o duende, sentindo-se um tanto órfão. O duende, por sua vez entregou ela para alguém entocado além de um buraco na parede do corredor.


— Eu não sabia que tínhamos que entregar as varinhas – Alvo dizia, enquanto seguia um corredor escuro com raros archotes, sufocantemente idêntico à uma cripta de pirâmide. As pessoas seguiam quase cegas, descendo por uma escada faraônica. O fundo do corredor prometia uma luz forte. Não estavam muito longe, mas era uma caminhada impressionante.


— É uma praxe daqui entregar as armas bruxas.- a voz de Beatriz surgiu do lado de Alvo - Os duendes mandam nas redondezas. Aqui não é visivelmente protegido, como Gringotes, por isso eles gostam de privar os bruxos de toda magia em seu território, como um tipo de aviso e também uma vingança, porque os bruxos não permitem o uso de varinhas por duendes, por causa da revolta do século 18, aquela que terminou com a queimada de Urgue, o líder dos Duendes na época. Então aqui dentro ninguém usa varinhas, nem bruxos, nem duendes. Só um imbecil tentaria invadir o Castlerouge. Está cheio de criptas secretas e selos antigos demais para se quebrar. Pelo menos é isso que meu pai diz.


— Seu pai trabalha com o que mesmo?


— Geómago. - a menina disse displicentemente. Porém, quando notou a cara de besta de Alvo, explicou impaciente - Ele procura gemas mágicas, especificamente, para a exposição no segundo corredor da rotunda, o que se expõe talismãs e gemas.


“Hmm” fez o garoto, notando que eles já iam chegar na luz do fim do corredor. Alvo abriu bastante os olhos para ver não importa o que. Ele sentia que ia ser surpreendido.


E não deu outra.


 


O garoto foi descendo uma robusta escadaria de mármore egípcio que se alargava para a enorme rotunda bem na sua frente. Os pilares perfeitamente espaçados delimitavam o antro com uma abóboda que refletia o céu lá fora, assim como o Grande Salão de Hogwarts, porém com uma diferença: não era perfeitamente transparente. A imagem celeste passava por uma espécie de caleidoscópio, fazendo a luz refletir em várias direções da sala.


Música tema: Esplendor Milenar


Além disso, o céu não era exatamente verde-azulado cheio de nuvens, dando pistas do clima frio daquela região da França. Ele era um céu azul turquesa, com pouquíssimas ou nenhuma nuvem. Alvo conseguia ouvir o som do vento quente do deserto instigar contra a abóboda-caleidoscópio, bem como o sol estalar nas paredes, apesar do calor não ser tão insuportável quanto deveria se imaginar com um sol desse calibre. O sol brilhava gigante, cortado por nuvens de areia peregrinas. Se ele não tivesse olhado para o céu lá fora, iria teimar até não querer mais que estava no meio do deserto do Saara. 


Bem no centro da abóboda, como que flutuando no nada, estava um colossal esqueleto de dragão-do-deserto, uma espécie já extinta do mundo da magia atualmente. Ele era, no mínimo, vinte vezes o tamanho do garoto. De repente o bicho deu um rosnado ensurdecedor para os visitantes do museu. O dragão de ossos acabara de ganhar vida! Alvo caiu no chão de susto, se arrastando para longe do monstro terrivelmente feroz. Beatriz, por outro lado, deu uma gargalhada digna de uma pessoa com graves retardados. Quando Alvo já havia se recomposto, notando que não corria risco, um tanto irritado admirou o bicho bater as asas de marfim e pousar em cima de um obelisco que ficava exatamente no meio do círculo da rotunda. Alvo notou que reproduzia uma sombra, marcando no chão o horário que tinha símbolos esquisitos no lugar dos números. Era um relógio solar magnífico.


O dragão continuou a soltar os rosnados dracônicos, mas sem nada fazer além disso. Era uma cena impressionante de se presenciar.


— É o satã-dos-ossos, um dragão egípcio que já foi extinto. Está encantado para repetir suas ações quando era vivo, como uma pintura. Mas foi treinado para não atacar sem permissão. – a menina explicou entusiasmada. – e olha ali – ela apontou para as paredes cilíndricas da rotunda, cobertas por retângulos avermelhados grudados por uma massa dourada. – é o mesmo tijolo vermelho de lá da frente. Por isso chamam aqui de Redbrick também, ou Pedra-de-sangue. Castlerouge significa Castelo escarlate. E as letras são runas egípcias antigas. Todas são feitiços hostis contra invasores. Como eu disse, só um louco invadiria esse local para tentar roubar. Nem sonho que feitiços estão escritos ali.


— Bruxedos — o garoto disse distraído, olhando para as paredes. Alvo tremeu ao encarar um enorme olho desenhado na parede. Ele se movia, acompanhando os transeuntes, movimentando-se em pausas, dando uma estranha sensação de que uma mão invisível apagava e redesenhava a pupila para focá-las nas pessoas que estavam ali.


— Hã? – a menina fez. – como assim “bruxedos”?


Mas só quando Alvo levou um tapa no pé-do-ouvido que escutou o que a menina disse.


— É que você tinha dito feitiço... – o garoto começou, massageando a orelha vermelha do tapa – mas são bruxedos. É uma espécie de maldição que eles faziam contra invasores das tumbas... – ele falou nem se tocando que estava sendo ridiculamente nerd. E continuou: - se o que o seu pai disse é verdade, além de bruxedos, devem haver pragas por aqui. Artes negras dos egípcios.


— Como você sabe disso? – a menina não conseguiu esconder o tom de impressionada. E isso despertou Alvo para si mesmo. De repente ele sentiu-se orgulhoso.


— Professor Vogelweide explicou isso na primeira aula, quando falou dos egípcios e Artes negras.


— Eca, você gosta de Defesa contra as artes das trevas? – a menina fez uma careta de quem havia acabado de provar chuchu com limão. – Vogelweide é um pé no saco. E quem gosta disso é meio... suspeito. – a menina sorriu para Alvo, cruzando os braços.


— Eu tenho que estudar, se não a Sonserina perde pontos. – Alvo disse um tanto exasperado – não que eu goste das Artes das trevas ou queira ser um bruxo do mal, só por que eu sou da Sonserina. Mas é que o Vogelweide só pergunta pra mim. Se eu não responder certo, os meus colegas de casa me matam!


— Eita, eu só tava brincando. – ela continuou andando, como quem nem tinha prestado atenção. Foi seguindo para uma das portas altas entre as colunas da rotunda. – não te chamei de Você-sabe-quem só por que sabe algumas coisas de artes das trevas. E não tem nada de errado em gostar. Eu, por exemplo, amo História da Magia e já estudo Runas antigas antes mesmo de pegar a matéria. As pessoas me acham esquisita por isso.


Alvo olhou Beatriz dos pés a cabeça e pensou “definitivamente não é só por isso que acham você esquisita”.


— Enfim, pessoas são idiotas. – a menina concluiu. – vamos procurar os seus pais.


Os dois garotinhos atravessaram a porta que tinha a inscrição de alguma palavra desconhecida. Eles se viram em um novo corredor circular. As paredes de lá eram vidros que expunham como vitrines as relíquias do museu em criptas . O teto era como o da rotunda, porém um pouco mais baixo.


Enquanto caminhavam pelo corredor, junto com os curiosos visitantes, a menina ia explicando cada obra, falando de data e fatos. Era impressionante como Beatriz sabia de tudo aquilo. Mas não era tão estranho, pois ela era filha do curador do museu.


— Esse aqui é a mão de Kaerus, o gigante que destruiu a cidade de Jafor, na arábia... Olha só, o fóssil do colosso de Marmintes... Essa aqui é o última Urso-coruja. Empalhada, mas parece de verdade, não é? Até se move, mas deve estar dormindo. A espada de Midas... Esse aqui é o exercito de Circe...


Em uma das criptas delimitadas por um vidro, havia um prato enorme, que deveria ser um espelho da antiguidade. Ele era esquisito: assim que ele passou pela sua frente, viu de relance seu reflexo esquisito.


Música tema: o espelho de Tebas


Era um adulto, com uma barba robusta e castanha-arruivada, apesar dele ser jovem. Os cabelos eram lustrosos e amarrados para trás. Usava um terno verde que combinavam com a cor dos olhos; estes ficavam atrás de óculos redondos, muito parecidos com o pai de Alvo. Era um rapaz muito bonito e tinha um jeito elegante e enigmático... Segurava uma varinha longa de madeira desconhecida, porém lustrosa. No seu corpo, várias pequenas esferas a tomava. Na mesma mão um anel dourado, onde duas cobras ligadas pela cauda abriam a boca para segurar uma pedra cinzenta formada por duas pirâmides ligadas.


O rapaz passou alguns segundos olhando para Alvo, depois sumiu de uma forma tão de repente... mais rápido que o piscar de olho. E lá estava Alvo novamente: mirrado, baixinho, o cabelo castanho-claro cuinha e os olhos verdes intrigados para o prato.


 - É o Espelho da Sibila de Tebas. – Beatriz disse displicentemente - Ele mostra o seu passado, o presente ou o futuro. E só mostra uma vez, depois é só um espelho normal. O que você viu?


— Me vi bebê – mentiu o garoto. Um pensamento agora martelava forte e insistente em sua cabeça: que anel era aquele? E a varinha? Não era a sua varinha atual...


Beatriz e Alvo atravessaram mais uma porta, ganhando acesso a um corredor circular mais amplo. Era como se a rotunda fosse um antro concêntrico para os corredores em círculo, que aumentavam cada vez que se afastava do centro. O outro corredor continha mais jóias e pedras do que outra coisa. Colares de imperatrizes bruxas do passado, estatuetas de pessoas de mundos perdidos, as quais se moviam para cumprimentar os garotos que passavam pelo vidro. Rochas enormes reluzentes, meteoritos praticamente intactos... E uma sala estranhamente vazia. Alvo ficou procurando alguma coisa dentro dela, mas apenas verificou que ela estava cheia dos símbolos que estavam na parede da rotunda, além do circulo esquisito que já havia visto em algum local.... Parecia completamente lotada de bruxedos e maldições protetoras, o estranho era ela estar absolutamente vazia...


— Estranho, né? – Beatriz disse, notando para o local que Alvo estava olhando – vazia. Antigamente ficava o sarcófago do Bruxo-faraó Magir-sabat, a peça mais preciosa daqui. Agora vazia e o sarcófago foi mudado para uma cripta mais profunda... Meu pai não me disse por que fizeram isso...


Alvo deu os ombros, desinteressado no enigma da cripta vazia. Porém, quando estava seguindo o corredor, avistou de longe as duas pessoas que queria mais ver ali, mais até que seus pais. O menino imediatamente correu para a porta que dava acesso ao arco maior de todos, o qual, no fim, as pessoas subiam escadas para uma área nova da pirâmide. E antes de Beatriz falar alguma coisa, ele disse:


— Acho que já seu onde meus pais estão!


A menina ficou parada perplexa, enquanto Alvo já estava longe, olhando para trás para ver se não estava sendo seguido. Na distração, bateu de encontro com alguém e foi para o chão como uma banana fora do prazo que se espatifa no chão e vira pudim.


— Alvo?


O garoto recuperou-se e notou que havia dado de encontro com sua prima Rosa.


— Rosa? Onde vocês estavam?


— Onde você estava! - a menina abraçou o primo, preocupada - Ficamos te procurando por todo o Lumier, só depois a mamãe resolveu vir aqui. A gente se dividiu pra te encontrar... Seu pai até ameaçou pegar seu localizador no Ministério da Magia...


— Ainda bem que encontrei você! Ravus e Vogelweide estão subindo o primeiro lance da pirâmide.


— Sério? Ótimo!


— Hã?


— Já são quase três. Eles devem estar indo para o local de reunião.


Alvo e Rosa disparavam pelos corredores cheios de estátuas Indianas de deidades esquisitas. Vogelweide conversava com Ravus a uma distância segura para não notar os garotos se escondendo atrás de uma figura de uma mulher com dezenas de braços que os movia como serpentes medonhas.


Os primos, seguindo os professores, foram subindo cada vez mais, e os corredores circulares iam se tornando únicos e cada vez mais curtos. E não era apenas isso que mudava. A natureza da coleção do museu ia se tornando muito mais macabra, e os corredores, mais vazios e sepulcrais.


Máscaras negras dentro de uma cripta chamaram a atenção de Alvo, que as observou horrorizado separado pela vitrine. Ele sentia que algum poder maligno emanava daquelas máscaras negras simplórias. Com um arrepio na espinha ele seguiu. Havia outra vitrine vazia, onde deveria estar a Espada de Godrico Grifindor...


Alvo e Rosa observaram Vogelweide e Ravus dobrarem um corredor que mais parecia um cemitério de tão vazio e silencioso. Da porta triangular que os professores atravessaram emanava uma escuridão azulada. Os garotos entraram acompanhando o silêncio sepulcral.


Os garotos adentraram cautelosamente...


O local era impactantemente escurecido, mas os primos conseguiram avistar os professores caminhavam acompanhados de um duende desconhecido por Alvo, que havia surgido sabe-se lá de onde. Talvez já estivesse ali, esperando a reunião. Os três no centro de uma tapeçaria azul que pairava sem chão, ladeada por colunas altas que corriam em direção ao espaço sideral...


Eles estavam em uma planetário, uma projeção falsa de um ambiente espacial, como se estivessem no meio do vazio estelar. Algo como o feitiço ilusório que havia criado um ambiente aquático no show do Juperos.


Astros de todas as qualidades revolucionavam para o além em cima da cabeça dos garotos, que observavam tudo encantados, porém escondidos e seguros de trás de colunas vagamente iluminadas pelas estrelas e cometas peregrinos. No fim do corredor havia um sarcófago flutuando sob a luz focada do sol... Mas os três dobraram entre uma das colunas antes de chegarem no fim.


Alvo e Rosa prenderam a respiração, pois sentiam que até ela mudava de alguma forma o clima do local, denunciando-os. Eles caminharam rapidamente, migrando para outra coluna, uma mais profunda... o grupo esquisito parou na frente de uma tenda vermelha pequena, como um tabernáculo mínimo. E foi Ravus que tomou a frente, levantando a mão para os céus, como se estivesse fazendo uma prece.


“ESH, ELOAH!!”


Ravus gritou. De repente os astros começaram a mudar de posição. Os planetas ao redor do sol começaram a se mover mais rápidos na trama espacial, e as luzes loucas dispararam no firmamento, girando, girando...


Um círculo apareceu no tecido do tabernáculo, um círculo vermelho, cheio de desenhos e símbolos estranhos. Alvo havia se lembrado! Tinha certeza. Ele já tinha visto isso....


Na noite em que o circo Juperus foi atacado!


A voz do mago branco havia evocado um circulo parecido na lona do circo e de lá havia saído um monstro de fogo!


Alvo puxou o braço de Rose, fazendo ela se abaixar. A menina reclamou em silêncio, entortando a sobrancelha, sem entender... mas Alvo estava sentado de costas para a coluna, olhando horrorizado para a tenda... E se saísse um monstro dali? E estavam sem varinhas!


O garoto já estava preparado para dar no pé, porém observou que algo diferente na taverna apareceu. Uma luz emanou da porta, para onde os três, um a um: Ravus, Vogelweide e o duende, caminharam. A luz começou então a enfraquecer....


Porém, Alvo sabia que era aquela a única chance. Tinha CERTEZA que Ravus era o mago branco, a pessoa que enfrentou seu pai e quase o matou. Aquele que roubou o circo, aquele que era responsável por todos os problemas que o mundo da magia estava enfrentando agora...


Ele nem pensou tanto. Correu desesperado, uma Rosa perplexa atrás dele. Antes da luz se apagar completamente da tenda, milésimos de segundos antes...o garoto se jogou.


Música tema: O último andar


Após algum segundo de tontura, o garoto notou que estava em um outro corredor escuro e longo, onde muitos vasos de bronze de boca alongada ladeavam as paredes de pedra rústica. No fundo do corredor uma pedra se movia, fechando uma porta de pedra... os pés dos professores e do anão sumiram quando a porta se fechou em um pesado estrondo. Rosa não estava ali...


O problema é que Alvo não estava só.


Ela tinha olhos amendoados e um rosto belo, com um sorriso enigmático. Os cabelos avermelhados descansavam em seu dorso de leão. Por que, sim, era um ser com cabeça de mulher e corpo de uma leoa enorme. Ela estava sentada na frente da porta. Ela, há poucos segundos havia olhado para trás, mas agora seus olhos belos focavam o garotinho de onze anos de idade, que imediatamente olhou para trás. Uma parede de pedra completamente virgem o encarou de volta. Alvo engoliu a seco quando a esfinge do corredor levantou-se e começou a caminhar de um lado para o outro.


— O seu caminho até aqui foi bem-sucedido, mas em mim ele encontra o último obstáculo – disse ela com uma voz melodiosa e bela. Ainda sorria, aqueles lábios vermelhos em uma linha irônica. – Você tem uma escolha. Responda o meu enigma e eu o deixo passar. Nada diga, e pode destrancar a sala, se for fiel à causa.


Porém não havia saída! Alvo não sabia como destrancar a sala. Mas ele não poderia dizer isso para a esfinge, pois a guardiã o mataria se ela desconfiasse que ele era um intruso. Alvo engoliu a seco, pálido e hipotenso de medo. Ele, no entanto, conseguiu formar com dificuldade as seguintes palavras:


— Se-se e-eu escolher re-responder... E erra-rrar?


A esfinge abriu o sorriso, mostrando dentes de navalha terríveis.


— Serei obrigada a lhe devorar.


Alvo se tremeu dos pés à cabeça. Achava que ia desmaiar ali mesmo. Talvez tivesse um ataque e morresse ali mesmo. Ele estava sem saída. Se tentasse falar alguma senha para sair dali e errasse, ia ser atacado. Se tentasse responder e errasse... Ia ser devorado!


 Ele ficou em silêncio, observando a esfinge e depois olhando para saída. O medo tomava conta de seu coração, imaginando o monstro o estraçalhando com aquelas poderosas garras ou os mortíferos caninos... De repente, ouviu a voz de Desmond Padaleck em sua cabeça:


“Você é bom, Potter. Tenho que admitir isso.”


Alvo era bom. Ele tinha que parar de achar que era um medíocre, só por que seu irmão mais velho era invejoso. Ele era bom em Quadribol, foi elogiado em poções pelo professor Slugorn, nunca mais tinha perdido uma pergunta do Volgeweide em Defesa contra as artes das trevas. Ele era filho de Harry Potter! Todos os problemas que ele vinha enfrentando era pela falta de confiança e ele não ia morrer em um sepulcro esquisito por causa do Tiago, Escórpio, ou mais nenhum idiota que queria que ele fosse alguém que ele não é. Momentaneamente inspirado, o garoto disse para a esfinge, topetudo:


— Quero responder o enigma!


— Certo – a esfinge sorriu com os lábios fechados, sentindo-se divertida. Ela sentou-se como fazem os gatos, cruzando as poderosas patas. Começou a entoar, enquanto Alvo ouvia com uma atenção clínica:


“Filha do vento, da água, irmã da terra, mãe do fogo. Posso ser uma parte, posso ser o todo. Viajo no firmamento, eu sou a forma dos mundos. Do meu fim veio o início de todos, e a mim formará este tudo. Quem sou?”


E então o mundo caiu. A verdade mais verdadeira veio como um trovão no peito do garotinho. Não tinha entendido uma palavra se quer de tudo o que a esfinge tinha dito.


— Eu...


A esfinge arreganhou os dentes, ansiosa para provar a carne de Alvo Severo Potter.


 

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Comentários (2)

  • Luiza Snape

    Por Merlim Att.  

    2016-04-19
  • lufana

    Super Demais! Como vc termina o capítulo assim?! Vou ficar na agonia até o próximo cap. kkkkkk

    2016-04-18
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