capítulo 8 – Kriptonita



A pergunta dela ficou no ar por um longo momento enquanto os outros bruxos trocavam olhares desconfortáveis. Finalmente, Remo se inclinou pra frente, entrelaçando os dedos sobre a mesa. –Certo, vou tentar explicar. – se remexeu em seu assento. –Não existe nenhuma lenda escrita, nenhum poema épico, nenhum mito popular que mencione o Guardião, no entanto lembro de sempre ter ouvido o nome, como se simplesmente estivesse no ar. – Sirius balançou a cabeça, concordando. –Ninguém nunca sentou comigo e me disse quem... Ou o quê... Era o guardião. Suponho que acabei tendo idéias sobre isso, apenas pelo contexto ou pela forma que as pessoas sussurravam sobre isso. Eu digo "isso" porque não sei se é uma pessoa, ou mesmo uma forma de vida.


Ele levantou e estalou os dedos, algo que tinha o hábito de fazer quando estava constrangido. –Pelo que me parece, o Guardião é um tipo de figura protetora, algo diferente de nós. – balançou as mãos no ar, procurando as palavras. –Nós, bruxos e bruxas da terra somos meros vasos para mágica que usamos, mas o Guardião é do mesmo lugar de onde vem a magia.


Hermione franziu a testa. –O que quer dizer?


Ele se inclinou na direção dela. –Nunca se perguntou de onde a magia vem?


-Acho que apenas... Pensei que viesse de nós.


-Talvez, mas me faz teorizar. Não acho que a magia possa ter origem humana ou todos poderiam usá-la. Tem algo em relação a você e eu e todos nessa mesa que é diferente. Fomos tocados por um poder relativamente raro entre os humanos. Talvez algo que não venha de nós. Tudo que é distante e estranho sobre magia... Bem, o Guardião faz parte. Não estou contando isso muito bem.


Sirius o interrompeu. –Os trouxas contam histórias sobre anjos da guarda – ele disse. –Essa é a imagem que eu sempre tive.


Hermione deu um risinho. –Tipo uma pessoa brilhante flutuando acima de você e que te impede de tropeçar em árvores e que faz que lembre de reabastecer o carro?


-Nada tão mundano. Não pra nos guardar, mais pra... Não sei. Pra nos observar.


Remo estalou os dedos. –Sim. Nos observar.


Hermione olhou na direção de Lefty. –Tem alguma coisa a acrescentar?


Ele limpou a garganta. –Eu concordo com o que Sirius e Remo disseram, mas vou acrescentar isso: qualquer impressão que eu tenha do Guardião, acho que ele vem de um lugar onde não existe bom ou ruim, onde tudo é igual. Sinto uma malícia vinda dele, da mesma forma que benevolência.


-E Harry está sonhando com esta... Entidade. – Hermione disse, balançando a cabeça.


-Isso faz certo sentido – Remo disse. –Disse mais cedo que nós somos meros vasos para magia...


-Menos Harry – ela completou pra ele. Ninguém disse nada, não era necessário. Hermione passou as mãos pelo rosto. –Meu Deus, por que eu não podia me apaixonar por alguém normal?


Sirius riu. –Vai procurar para sempre antes de encontrar alguém que se encaixe nessa descrição.


Ela esfregou os dedos pelas têmporas. –Por que nunca ouvi falar nada dessa lenda do Guardião? Acho que ninguém de minha idade sabe sobre isso.


-Existe uma razão pra isso. – Sirius disse. –Quando Tom Riddle se tornou Lorde Voldemort e começou sua ascensão ao poder, rumores se espalharam... Nenhum relatório se quer saber, apenas rumores... Que ele dizia que o Guardião o apoiava, e que estava ficando mais poderoso por causa dele. Ninguém nunca o ouviu dizer isso, mas os rumores persistiam. Transformou-se meio que um tabu falar do Guardião, quase como falar o nome de Voldemort. Acho que as lendas se dissiparam depois disso.


-Acha que Guardião favoreceu mesmo Voldemort?


-Não temos como saber, não é? Mas honestamente, não acho que uma figura como o Guardião saia selecionando e escolhendo bruxos para colocar em posições de poder. Muito Maquiavélico. – Sirius virou pra Remo. –Aluado, se lembra daquele feitiço que Pedro tinha?


Remo balançava a cabeça que sim. –Pedro Pettigrew tinha um feitiço, na época em que estávamos na escola, que ele dizia ter sido passado pelas gerações de sua família. Tinha um símbolo que ninguém conhecia só que... Bem, quando eu me formei e fui trabalhar pela Europa, vi aquele símbolo cravado nas paredes de uma caverna junto com alguns feitiços primitivos escritos em latim. Aguçou minha curiosidade, então fui procurar mais sobre ele. O símbolo, que era mais ou menos assim – ele disse, pegando uma pena e pergaminho e desenhando – Nunca está traduzido, mas sempre está associado com feitiços de poder e mistério. Acho que as pessoas usavam este símbolo pra representar o Guardião, cujo nome não se atreviam a evocar. – ele virou o pergaminho para Hermione.


O símbolo era um triângulo isóscelescom a base na horizontal. Era dividido por uma linha vertical que começava no ápice e passava um pouco da linha da base. No ápice do triângulo havia um círculo. Sobre o círculo estavam três linhas curtas, como raios, a linha central na vertical e mais duas a flanqueado, com pequenas inclinações, apontando pra outras direções.


Hermione ficou olhando para o símbolo, transfixada. Não significava nada pra ela, mas ao mesmo tempo significava. Parecia se comunicar com ela num nível primitivo. Parecia poderoso. Ela se encontrou aceitando a interpretação de Remo completamente. –Sim, é isso – ela sussurrou.


-O quê? – Lefty disse, se inclinando pra frente. –Você reconhece?


-Não. Sim. Eu não sei. Sinto como se já tivesse sonhado com isso.


-Meu bom Deus, todo mundo tem sonhos proféticos agora? – Sirius disse.


-Bem, o símbolo pode ter algum significado, mas na verdade não nos ajuda, não é mesmo? – Hermione disse, afastando o papel.


-Digo pra gente apenas esperar pra ver – Remo disse.


-Já cansei de esperar pra ver – Hermione replicou. –Sinto como se devesse fazer alguma coisa.


-Não tem muito que possa fazer. – Sirius disse, esticando o braço pra segurar a mão dela. –Apenas fique perto dele e tome cuidado.




Harry abotoou sua camisa, seus pés pendendo pela borda da mesa de exame. Napoleon estava sentado com as pernas cruzadas, numa cadeira próxima, olhando-o. Sukesh estava tomando notas na ficha médica de Potter, Major Harry T. que crescia rapidamente. –Bem – o médico-chefe começou –Você conseguiu me assustar, Harry. Seus poderes Mage chegaram num nível de força em que você provavelmente poderia desintegrar nós dois apenas com um pensamento.


-Não me tente.


-Não é saudável. Nenhuma pessoa deveria controlar esse tipo de poder.


-Eu não pedi por isso, Sukesh! Uma maldição é isso o que é. Eu tento não deixar que isso me atinja, e apenas ser um bruxo e levar uma vida normal. – ele bateu o punho contra a mesa. –Todo dia acordo e sei que não posso ter essas coisas. Não posso dar à mulher que amo um casamento normal ou uma vida pacifica.


-Se ela quisesse essas coisas não estaria com você – Napoleon disse.


Harry virou pra ele. –Vá se lascar, Jones! Que diabos você sabe sobre isso? Sempre está fazendo esses pequenos comentários sobre Hermione como se fosse o melhor amigo dela, quando na verdade eu bem sei que está tentando levar ela pra cama pelas minhas costas!


Napoleon ficou de pé num pulo, seu rosto vermelho. –Não precisa jogar na cara!


-Harry, apenas se acalme...


-E você não me diga pra me acalmar! – gritou pra Sukesh. –Você com seus exames intermináveis e seus diagnósticos presunçosos e você provavelmente só está me usando como um assunto interessante para sua próxima publicação! – Sukesh levantou as duas mãos como um gesto de paz. –Aposto que está tentando me envenenar. Todos por aqui só querem se ver livres de mim! Sem mais Harry pra nos fazer ficar mal, sem Harry pra nos roubar nossos holofotes!


-Patrão! – Napoleon falou os olhos arregalados de choque.


Ele pegou sua jaqueta e passou apressado pela porta. –Não se aproxime de mim, nenhum de vocês dois bastardos. – bateu a porta atrás dele, deixando Sukesh e Napoleon se entreolhando sem saber o que fazer.


-Certo, este era o gêmeo do mal, não é? – Napoleon disse.


Sukesh balançava a cabeça. –Nunca ouvi Harry dizer palavras ríspidas a ninguém... Bem, talvez uma exceção pra você, Jones, mas nada tão extremo quanto isso.


-O que deu nele? Parecia um psicopata!


-Está alterado – ele viu a expressão confusa de Napoleon. –Desculpe, termo técnico. Está experimentando mudanças de personalidade. Está aumentando gradualmente nas últimas semanas. Notei os efeitos, mas não falei com ele porque não quero agravar sua condição, deixando ele chateado.


-Então seu brilhante tratamento é não fazer nada e deixá-lo ir embora. Entendo, tudo faz completo sentido agora – o sarcasmo era marcante em suas palavras.


Sukesh escrevia como um louco em seu caderno. –Se eu o mantiver aqui, apenas vai ficar mais agitado e não terei parâmetros precisos de seu comportamento. Hermione me dirá o que ele faz e o trará de volta se manifestar qualquer sintoma mais. Posso sempre ficar de olho nele daqui, com meu vidro de aparatação.


-Poderia estar colocando Hermione em perigo, sabe. Se ele... Ficar alterado, o que quer que seja, pode...


-Hermione pode se cuidar. Além disso, Harry nunca a machucaria.


-Ao menos o Harry que nós conhecemos – Napoleon resmungou.




Hermione não conseguia se concentrar. Sua mente ficava voltando pro funeral da avó e o que tinha acontecido lá. Sentia-se culpada por não ter prestado completa atenção, e também com raiva de Harry por ter distraído-a num momento tão importante. Ele apenas não queria que o funeral fosse arruinado pela tempestade, ela pensou.


Estava sentada em sua mesa, tentando trabalhar num relatório de vigilância, mas não estava tendo muito sucesso. Passara a manhã lá embaixo, na Pesquisa tentando encontrar informações sobre o Guardião. A Bibliotecária não pôde (ou mais possivelmente não quis) dizer nada de concreto e não encontrou nada em nenhum dos livros que procurara, nem mesmo sobre o símbolo que Remo lhe mostrara. Isobel teve a mesma reação de Sirius e dos outros... Lembrava-se vagamente de ter ouvido histórias sobre o Guardião, mas não sabia nada de específico.


Hermione se remexeu em seu assento, se sentindo dolorida essa manhã. Harry fora estranhamente entusiasmado na cama com ela na noite anterior. Não que ele não fosse sempre entusiasmado, mas quando faziam amor nunca ele tinha sido tão... Bem, selvagem. Ela achava que fosse uma reação ao dia ter uma proximidade com a morte, mas não tinha mais tanta certeza. Na hora, foi excitante e ela respondeu à altura... Apenas terminou com a leve excitação que conteve o dia inteiro.


Por mais que o comportamento de Harry tivesse deixado-a confusa, assustada e preocupada, uma parte nada insignificante dela tentava ignorar tinha se animado com isso. Vê-lo tão poderoso e selvagem a deixara, admitia relutante a si mesma, excitada. Ela achava natural, afinal, se você prestasse atenção naqueles programas sobre a natureza na BBC3 as fêmeas de todas as espécies eram programadas para favorecer os machos mais fortes. Mesmo assim, parecia profundamente errado se sentir assanhada na hora que estava de pé ao lado do caixão de sua amada avó.


Ela suspirou e pegou uma das fotos emolduradas de sua mesa, dela própria e seus pais junto com a avó na Ilha do Branco, durante as férias uns anos antes. –Ah, Nana – ela sussurrou, tocando a imagem sob o vidro. –Por que tinha que partir agora? – suspirou, seu lamento subindo até a garganta e fechando-a. –Não me verá andando até o altar... – não podia continuar. As lágrimas escorriam de seus olhos e por suas bochechas.


De repente, colocou a foto de volta na mesa e levantou apressada pra sair da sala e procurar por Harry. Precisava de um ombro pra chorar. Já tinha chorado em seus braços a maior parte da noite em que soubera da morte da avó, mas as lágrimas costumavam aparecer quando achava que tinham acabado pra sempre.




Napoleon encontrou Terk no pequeno espaço de trabalho que ela e Tax ocupavam. –Hei – ela disse, sorrindo enquanto ele entrava. –O que há? E que expressão é essa em seu rosto, é mesmo de seriedade? Quase não reconheci.


Ele não entrou na brincadeira. –Terk, coisas estranhas estão acontecendo no círculo K.


-Ah, a clássica referência a Bill & Ted. Escolha excelente.


-Pareceu apropriado.


-Que coisas estranhas? Harry de novo?


-Você soube o que ele fez no funeral da avó dela?


Terk ficou séria. –Soube. Você viu?


-Não, não estava lá. Hermione me contou. Ficou bem aterrorizada.


-Você não ficaria?


-Acho que sim.


Ela guardou a arma que limpava e sentou na ponta da mesa, de frente pra ele. –Antes de vir pra cá, ouvi dizer que o relacionamento deles era só... Bem, só de aparência.


Napoleon franziu a testa. –Quem te disse isso?


-Ah, apenas rumores. Sabe como é. Quem quer que tenha começado isso, está enganado. Eles realmente se amam muito.


Ele balançou a cabeça que sim. –É.


-Bem, estou com ciúmes.


-Eu também.


-Por motivos bem diferentes. – ela disse com um sorrindo, dando um murro no ombro dele. –Você a quer pra você.


Ele balançou a cabeça que não. –Estou começando a ter duvidas sobre isso.


Terk novamente ficou séria. –Certamente que não.


-Ah, não me entenda mal. Ainda tenho sentimentos muito fortes por ela, só que estou começando a perceber por que.


Ela inclinou a cabeça. –Por quê, então?


Napoleon olhou pra ela. –Porque ela me lembra você.




Hermione encontrou Harry no ginásio menor, uma sala de pedra, entulhada, cheia de equipamentos. Ele estava num canto com um pesado saco de pancadas, atacando. Vestia short e camiseta, com o suor brilhando em seus ombros. Olhou pra ela quando entrou. –Oi – ele disse.


Ela sentou num banco perto, os ombros caídos. Ficou olhando as próprias mãos, feliz por ele estar ocupado, assim poderia falar sem ter que olhar pra ninguém. Ver a pena nos olhos dele só faria que ela chorasse mais. –Continue batendo, só preciso falar um pouco com você. – ele parou e balançou a cabeça que sim, depois voltou pro saco de pancadas. –Não consigo parar de pensar em Nana. Ela era tão vibrante, tão viva... Mais viva do que a maioria das pessoas com metade de sua idade. Não é justo. Ela estava tão empolgada com o casamento... Tinha mandado fazer um vestido novo. – ela limpou os olhos com uma mão. –Ia lustrar seu sapato Lindy pra poder ter sua vez com você na pista de dança, durante a recepção... Ela te amava, Harry, como um neto. – ela suspirou, a respiração tremida e hesitante. –Ela costumava me pintar. Me fazia sentar num banco e me pintava em seu solário. Era péssima pintora, simplesmente terrível, mas amava tanto pintar. Fazia-me sentir tão linda, como uma modelo – Hermione sorriu, perdida em suas memórias. –Quando ia pra lá durante os verões, ela...


Harry se afastou do saco e a encarou, interrompendo suas memórias. Passou as mãos enroladas com ataduras pelos cabelos ainda molhados. –Deus, não consegue ficar quieta por um minuto? – ele exclamou.


Hermione ficou sentada olhando pra ele, de queixo caído, tão completamente chocada que sentia como se estivesse num universo alternativo.


-Não consigo mais ouvir isso! – ele continuou. Seu rosto estava sinistro, estranho. –Por que não me procura quando tiver um problema de verdade, como, sei lá, nunca ter tido avós! Ou ter trazido um assassinato horrível pra seus próprios pais! – ele gritou. –Apenas feche a porra de sua boca sobre sua avó idiota! Deus! Eu pareço ser seu confessor pessoal? Lamentar, lamentar, lamentar, é só isso que sabe fazer! – Hermione não podia se mexer. Sentia como se fosse vomitar. Ele mudou a voz para uma cruel, imitando a dela. –Ah, Harry, você não me contou sobre seu emprego! Ah, Harry, você trabalha demais! Ah, Harry minha unha quebrou! – ele de repente se inclinou pra perto dela. Hermione recuou, chocada demais pra reagir. –Pra todo lugar que olho, você está me sufocando! Bem, não sou sua maldita figura paternal! Não sou seu maldito CACHORRINHO! – ao dizer a última palavra, ele virou e socou o saco de pancadas, com força. Estorou no meio e os pequenos tecidos do enchimento explodiram por todo lado. Ele virou com uma malícia brilhando nos olhos.


Hermione cambaleou de pé e recuou pra longe dele, seu queixo tremendo. Virou e saiu correndo o mais rápido que podia, os soluços cortando sua garganta.


Harry levantou e ficou olhando-a partir, seu coração batendo forte e a mente confusa e girando com pensamentos e impulsos conflitantes.


Ele ficou lá porque não sabia quanto tempo até que esse turbilhão vermelho clareasse de sua visão. Olhou a sua volta, confuso, ouvindo o eco das palavras que acabara de dizer em seus ouvidos e em sua mente. Seu queixo caiu e ele deu alguns passos para trás. –Ah meu Deus – falou rouco. Queria correr atrás dela, mas suas pernas pareciam paralisadas e dormentes.


-Meu Deus – ele repetiu. Caiu de joelhos no monte de enchimento e colocou os braços sobre o rosto, horrorizado consigo mesmo e com a memória da expressão no rosto dela caindo em sua mente como uma avalanche.


Seus ombros arquearam e ele chorou, o enchimento do saco de pancadas destruído grudando na umidade de seu rosto.




Harry subia correndo as escadas principais, sempre pulando um degrau. –Hermione! – gritou. Correu pelo hall do segundo andar em direção às escadas do Cloister. Laura apareceu sob o arco, uma expressão ilegível no rosto. Levantou a mão e o parou.


-Ela não quer te ver, Harry. Não quer falar com você ou ouvir ou ver você de maneira nenhuma.


Ele a segurou pelos braços. –Laura, por favor. Tenho que vê-la. Você não entende...


-Entendo que você disse algumas pra ela que não sei se eu um dia perdoarei, muito menos ela. – ela suspirou e sua expressão de raiva suavizou. –Harry, o que tem de errado com você? Até ontem não acreditava que diria nada que a magoasse tanto.


Ele abaixou a cabeça. –Eu sei. Não posso explicar... Apenas, por favor, me deixa falar com ela.


-Não posso fazer isso. Ela não quer te ver, e provavelmente não vai querer por um tempo.


Ele soltou os braços dela e olhou na direção do arco. –Penso no que disse e quero arrancar minha língua. Não sei como pude dizer aquelas coisas pra ela. É como... Se alguém estivesse falando através de mim.


-Harry, isso é muito estranho.


-Eu sei. Mas isso fica pra depois. Agora só tenho que vê-la. – olhou nos grandes olhos castanhos de Laura. –Não posso enfrentar isso sem ela.


Laura olhou pra ele por um longo tempo, depois deu um passo pro lado, suspirando.


-Obrigado – ele disse, passando por ela e subindo as escadas.


Ele hesitou antes de entrar, se perguntando o que poderia dizer. Reunindo sua coragem, abriu a porta. O Cloister estava pouco iluminado, a pouca luz do pôr-do-sol coloria as paredes de lilás e laranja.


Ele fechou a porta atrás de si devagar. Viu Hermione sentada perto da janela do outro lado do quarto, em sua cadeira de balanço favorita, virada pro outro lado da porta e olhando para o jardim do lado. Ele ficou parado por um momento, completamente perdido no que fazer.


-Saia – ela disse, sua voz direta e fria.


Ele deu um passo pra frente. –Querida...


-Não me chame assim – ela respondeu ríspida. –Apenas saia. Por favor... Me dê um tempo.


Ele pensou em ir até ela, mas se perguntou se não ia só piorar a situação. Melhor dar a ela um pouco de espaço. Sem dizer nada, ele virou e saiu, fechando a porta atrás de si.




Hermione emergiu do Cloister se sentindo esgotada e emocionalmente frágil. Ficava ouvindo aquelas palavras horríveis. Elas por si só já eram bem ruins, mas ouvir essas coisas na voz doce de Harry, uma voz que geralmente trazia palavras de amor e apoio a seus ouvidos, machucava dez vezes mais.


Em seu coração, sabia que ele não quis dizer aquilo. Sabia que algo estava acontecendo com ele, alguma coisa que o estava fazendo agir de forma estranha... Mesmo que ele não admitisse. Mesmo assim, uma parte dela se perguntava se as coisas que ele disse eram o que ele realmente pensava e que nunca diria se estivesse normal. A idéia era assustadora.


Ela desceu, ouvindo a musica no piano. Seguiu o som até a sala onde encontrou Harry ao piano. Ele estava tocando "The cantique de Jean Racine" por Gabriel Faure, uma peça tocantemente linda para coral e que de alguma forma ele deixava à altura no piano. Ele sabia que era a peça musical preferida dela. Ela ficou quieta de pé enquanto ele tocou uma vez e depois começou de novo. A melodia crescia e aumentava sob os dedos dele, os crescendos aumentando para inundar a sala.


Ela ficou alguns metros atrás dele, olhando por muito tempo seus dedos longos e elegantes dançarem sobre as teclas do piano. Não havia partitura na frente dele, e que ela soubesse a Cantique nunca fora transportada para um solo de piano... Ele que estava fazendo isso. Hermione afundou na cadeira mais próxima, se sentindo desequilibrar sobre os pés.


Ele tocou até o fim e depois parou, ainda inclinado sobre as teclas com as mãos no joelho. Hermione podia dizer pelos ombros caídos o quanto ele estava se sentindo mal... E ela de repente teve certeza que ele estava tocando essa peça várias e várias vezes desde que ela o enxotara do Cloister, mesmo sabendo que ela não poderia escutá-lo lá de cima.


Ele virou no banco do piano e olhou pra ela, que podia ver o medo e desespero nos olhos dele. Ele desviou os olhos. –Me dess... Me desss... Me d... – a voz dele falhou e ficou presa na palavra que ele provavelmente mais queria que saísse.


-Eu sei – ela sussurrou.


Harry esfregou os olhos com as costas das mãos e lentamente levantou os olhos até os dela, como se tivesse medo do que veria neles. Quando os olhares finalmente se encontraram e ele viu o perdão dela, o rosto dele se contorceu e ele pulou de pé. Apressou-se até ela e caiu de joelhos diante de sua cadeira, deixando a cabeça se apoiar no seu colo. Ela alisou seus cabelos e murmurou palavras de conforto enquanto ele pressionava o rosto contra a barriga dela e colocava seus braços em volta de sua cintura. –Shh. Está tudo bem – ela sussurrou.


Ele levantou cabeça e a olhou nos olhos, as bochechas dele molhadas com as lágrimas. –Por favor, me ajude Hermione. Me ajude. – ele disse, relaxando contra o corpo dela.


Ela o segurou mais forte. –Eu vou ajudar. Tudo vai ficar bem.


-Tem alguma coisa acontecendo comigo – ele disse, a voz abafada contra o jeans dela. Ela suspirou, aliviada que ele estivesse admitindo. –Eu... Senti chegando. Senti dentro de mim. É tão forte e me assusta. Me fez machucar Napoleon, e o bruxo no jardim-de-infância, e eu achei que podia controlar, porque de certa forma queria machucar os dois. – olhou novamente pra ela. –Mas então me fez te machucar. Aquelas coisas terríveis que te disse...


-É. Elas foram bem terríveis.


-Mas não era eu! – ela não disse nada, sem querer falar das próprias dúvidas em relação a isso. –Não achei que podia existir alguma coisa que pudesse me fazer te machucar. – ele suspirou e se afastou dela pra levantar e olhou pra ela. –Está ficando mais forte. –disse baixo. –A cada dia fica mais forte.


Ela olhou pra ele de queixo caído. –E não disse nada sobre isso... O que quer que isso seja? Nos deixou achando que era apenas stress, ou os poderes Mage ou Deus sabe o que mais?


-Queria acreditar que era essas coisas também! Não sei o que está acontecendo comigo e estou com medo de me dominar e destruir tudo o que sou! – ele ajoelhou na frente dela de novo, segurando suas mãos. –Eu espero ser um bom homem, Hermione.


-Você é, claro que é.


-O que quer que esteja me fazendo agir estranho, é mais poderoso que eu. Achei que podia controlar. Achei que podia lutar. Não sei se posso. E não poderia suportar se me transformasse em alguém que eu odiaria, alguém que você odiaria.


Ela se inclinou pra frente até a testa dela tocou a dele. –Tem uma coisa que preciso te dizer. Não disse antes porque não queria te perturbar, mas... – ela suspirou. –É sobre seus sonhos. Seus pesadelos.




Hermione e Napoleon estavam de pé na sala de observação, olhando através do vidro de sentido único para a sala de tratamento. Harry estava reclinado em uma macia cadeira de couro, seus olhos fechados. Sentado na frente dele em um banco estava Johns Biederman, o psiquiatra da DI. Sukesh estava perto. Johns balançava a varinha de um lado para o outro diante das pálpebras fechadas de Harry até que ficou satisfeito que ele estava completamente hipnotizado. Uma pena estava posicionada sobre um caderno para anotar cada palavra de Harry.


-Harry, pode me ouvir? – Johns perguntou.


-Sim – Harry respondeu. Era sua voz normal, só mais devagar e um pouco mais profunda.


-Está se sentindo completamente relaxado?


-Sim.


-Vou te fazer algumas perguntas, e deve me responder a verdade. Entendeu?


-Sim.


-Certo. Quero que pense agora numa lembrança feliz. Alguma coisa, qualquer memória que te faça sentir aquecido e contente. Tem alguma? – Harry fez que sim. –Me diga onde está.


-Em casa. No quintal. Plantando novas flores e limpando para festa. Festa grande... Muitos amigos. Lavando as janelas. Quente, suando. Hermione está no canteiro de flores. Sentada no chão... Um grande chapéu. Cavando a terra. Todos estão rindo e sorrindo. Dia perfeito. A alça da camiseta dela caíra pelo ombro. – as mãos dele se mexiam no ar, delineando o espaço que via em sua mente. –Eu podia ver a alça do sutiã dela. A pele branca em volta. Queria ir até lá e beijar. Ela levantou os olhos e me viu olhando pra ela... E piscou pra mim. – ele sorriu.


Napoleon olhou pra ela. –Lembra disso?


-Lembro desse dia, mas não lembro o que está descrevendo – o coração dela apertou, ouvindo-o falar sobre isso. Apenas um pequeno momento, daqueles que a vida é repleta. Ela podia pensar em dezenas de momentos como esse. Johns continuou.


-Sabe por que está aqui?


-Coisas ruins.


-Que coisas?


-Coisas em minha cabeça.


-Por que são ruins?


-Me fazem fazer coisas. Dizer coisas. Bati em Napoleon.


-Lamenta por isso?


-Não. Não gosto dele. – Hermione viu Napoleon fazer uma careta e abaixar a cabeça ao ouvir isso.


-Por que não gosta dele?


-Ele quer o que é meu. Quer meu trabalho. Diz que não quer, mas quer. Ele quer minha esposa.


-Não é casado, Harry.


-De certa forma, eu sou. Por dentro.


-Como assim?


-Dentro de minha cabeça.


-Que outras coisas ruins você fez?


-Bati no homem que machucou as crianças. Não lamento. Ele mereceu.


-Então por que foi ruim?


-Porque... Não fui eu. Não parecia eu. Não queria fazer aquilo.


-Então por que fez?


-Tinha que fazer. Não podia parar.


-O que mais?


Harry parou um momento. –Disse coisas más para Hermione. Eu a fiz chorar.


-Lamenta por isso?


-Sim. Não tinha intenção. Não queria magoá-la, nunca.


-Por que não?


-Eu a amo. Não agüento vê-la mal. Nunca agüentei.


-Queria dizer aquilo que disse?


-Não.


-Quando disse aquelas coisas e fez aquelas coisas ruins, como se sentiu?


-Senti como... Outra pessoa tivesse feito aquilo. Não eu. Eu não podia controlar. Passou partindo.


-Partindo o que?


-Minha mente. Partiu meu cérebro.


-Se sentiu outra pessoa?


-Não. Não sei. Talvez. Difícil dizer.


Johns pensou por um momento. –Certo, Harry. Agora quero que pense em seus sonhos. Pode me falar sobre eles?


Harry começou a respirar mais rápido. –Estou lá. Não estou lá. O Guardião está comigo. O Guardião sempre está comigo. O Guardião nunca está comigo. O Guardião não pode me ajudar. – essas palavras saíram rápidas, confusas. –Não posso pensar. Não posso ver. Não posso me mexer. Nunca termina.


-O que nunca termina, Harry?


-Nunca termina. O Guardião não pode impedir.


Johns desistiu disso, ao ver a agitação de Harry. –Quero que relembre o dia que desapareceu. Consegue lembrar alguma coisa do tempo que estava longe?


A cabeça de Harry revirou de um lado para o outro. –Eu... Eu... – de repente as costas dele arquearam como um arco e ele gritou para o teto. Todo pularam. Sukesh avançou. –Nunca termina! – Harry gritou. –Nunca termina! – os gritos dele continuaram, agitados e torturados. Hermione se doía toda de ouvi-los.


Sukesh e Johns tentavam contê-lo enquanto se mexia na poltrona. Hermione correu da sala de observação até a sala de testes, mas uma das enfermeiras de Sukesh a impediu de ir até Harry. –Harry! – ela gritou.


Harry de repente se encolheu, seus braços dobrados nos cotovelos e bem apertados, os músculos dos braços e do peito contraídos. Uma onda de luz de magia dourada explodiu de seu corpo, derrubando Sukesh e Johns. Hermione sentiu quando passou por ela, como uma onda de pressão. Harry jogou a cabeça pra trás, os tendões de seu pescoço pulando, parecendo cordas, e raios de luz verde saíram de seus olhos. As luzes do teto explodiram em faíscas e um buraco apareceu pelo teto até a sala que estava acima deles.


Sukesh pulou de pé, a varinha na mão. –Estupefaça! – gritou. A azaração acertou Harry no peito e ele caiu mole na cadeira. Hermione correu e colocou as mãos no rosto dele.


-Mas que merda – Napoleon disse, entrando na sala.


-Que diabos aconteceu? – Hermione exclamou.


Johns ajeitou os óculos sobre o nariz. –Bem. Não tenho certeza se sei.


Sukesh balançava a cabeça. –Isso está ficando sério.


-Ficando sério? – Hermione gritou, seu rosto ficando vermelho. –Você o viu? Ele estava espalhando magia como um cachorro secando a água do corpo! Parecia uma coisa tirada de "O Exorcista"!


-Bem, ele não está possuído – Johns disse. –Mas vejo sinais de uma personalidade rompida. Tem alguma coisa muito errado dentro da cabeça dele.


-Pelo amor de Deus, será que nenhum de você pode me dizer o que tem de errado com ele? – Hermione perguntou, a frustração deixando a voz aguda.


Johns e Sukesh trocaram um olhar. –Odeio ficar dizendo isso toda hora, mas precisamos de mais informações. – Sukesh respondeu. –Ele vai recobrar a consciência logo. Vou tirá-lo de atividade agora mesmo. Amanha de manhã, traga-o de volta e vou interná-lo por vários dias para terapias de regressão e testes psicológicos. A hipnose parecia estar levando a algumas informações. – Johns balançou a cabeça, concordando.


-Certo – Hermione disse. –Mas agora, vou levá-lo pra casa.




-Então... Você não é gay, é isso que está me dizendo?


Jorge suspirou, colocando um copo de cidra na frente de Terk na mesa e sentando ao lado dela. –De quantas maneiras diferentes você quer que eu diga isso?


-Desculpe.


-Eu pareço gay? – Jorge perguntou, franzindo a testa.


-Não, de maneira nenhuma. Bem, tirando a coisa de cozinhar.


-Só porque eu ando com Justino, não quer dizer que faço parte do time dele. Dividimos apartamento desde que ele se formou em Hogwarts. Sabe como ele me chama às vezes?


-Como?


-De seu companheiro hetero. – eles riram. –Mesmo assim, se ser gay é a pior coisa que as pessoas acham de mim, acho que não posso reclamar.


-Então, ouvi dizer que é um membro do Clube de Gêmeos. Seu irmão é idêntico ou vocês são bivitelinos?


-Extremamente idêntico. Fred mora na Rússia, com nosso irmão mais velho, Carlinhos.


-E são os garotos mais novos?


Jorge hesitou. –Agora somos.


Terk piscou, lembrando de Laura ter contado sobre o garoto caçula dos Weasley. –Ah, me desculpe.


-Tudo bem.


-Sente falta de seu gêmeo?


-Claro. Éramos inseparáveis quando éramos mais novos. Você e Tax sempre foram próximos?


-Sim e não. Enquanto crescíamos, vivemos nossas batalhas. Somos bivitelinos, é claro, então somos tão parecidos quanto um irmão e uma irmã comuns. Por que Fred se mudou?


Jorge bateu os dedos em sua caneca. –Abrimos um negocio assim que saímos da escola. Gemialidades Weasley. Harry nos deu um dinheiro para começarmos. Infelizmente, por melhor que a gente achasse que nossas brincadeiras fossem, éramos igualmente inaptos para administrar um negócio. Queria contratar alguém que realmente soubesse o que estava fazendo para controlar o dinheiro, mas Fred se matinha firme na idéia que tínhamos que fazer isso sozinhos, então assim foi. Ou seja, falimos em menos de um ano. Encontrei um emprego logo depois e queria tocar a vida, mas Fred ficou bem pior. Ele se sentia... Não sei, desiludido. Quando Carlinhos se ofereceu pra levá-lo pra Rússia e conseguir um lugar pra ele, domando dragões, ele aceitou rapidamente. Conseguimos evitar um grande desapego dramático. Mandamos corujas várias vezes por semana.


-Isso é bom. Não sei o que faria se Tax e eu nos separássemos. Ele é meu melhor amigo.


-E Napoleon? Provavelmente uma longa história.


Ela corou um pouco. –Nos conhecemos. Nos casamos. Nos divorciamos.


-Acho que não é tão longa assim. – ele levantou e levou a caneca até a pia. –Quer me ajudar a colocar a mesa?


-Claro – Terk levantou e pegou os pratos da mão de Jorge. Começou a preparar os setes lugares em volta da grande mesa redonda da cozinha. –Harry e Hermione ainda estão lá em cima?


-Não os ouvi descendo. Hermione queria aplicar alguns feitiços tranqüilizantes nele.


-Você acha que ele está bem?


Jorge hesitou. –Não, acho que ele não está.


-Admito que não entendo toda essa magia, mas sei que ele está com problemas pra dormir e com umas mudanças de humor estranhas.


-É, estou tentando ficar longe dessa história. Não é que eu não me preocupe, mas sei que Hermione gosta de resolver as coisas sozinha. Ela me contou sobre esses pesadelos que ele vem tendo. Ele fala dormindo e chama pelo Guardião.


Ela virou e pegou os talheres. –Quem é esse?


-Aparentemente uma antiga lenda bruxa. Nunca ouvi falar, mas meu pai conhecia. Não conheço muito o conceito. Quer dizer a todos que o jantar está pronto?


-Claro – Terk saiu da cozinha e subiu rapidamente. Hesitou no hall e depois virou, indo pro quarto de Tax. Encontrou-o lá, polindo as botas.


-Hora do jantar? – ele perguntou. Terk não disse nada, apenas ficou em pé com os braços cruzados sobre o peito, pensando. Tax olhou pra ela, franzindo a testa. –O que foi?


-Harry está sonhando com Guardião.


Tax parou de polir as botas e as colocou no chão. –Mesmo.


-É.


-E?


-Bem, a gente não devia dizer alguma coisa?


-Como o quê?


-Nós podemos ajudar!


-Não é nosso papel. Não podemos sair dizendo ao Guardião o que deve fazer. Somos como pequenos grãos de areia.


Terk suspirou e sentou na borda da cama. –É, grãos – ela olhou pra seu irmão. –Acha que ele sabe o que está acontecendo com Harry?


-Tenho certeza que sim. Provavelmente está nos olhando neste momento.


-Quero fazer alguma coisa pra ajudar.


-Eu sei. Mas temos que seguir ordens, sabe disso.


Terk concordou. –Certo, mas não vou ficar sentada sem fazer nada se a coisa ficar ruim pra Harry. Não quando alguma coisa pode ser feita.


-O Guardião tomará a atitude apropriada.


-E se a atitude apropriada for deixar Harry morrer?


-O que te faz pensar que ele pode morrer?


-Ah, qual é! Você viu os sintomas! O tempo perdido, a amnésia... Acho que ele viu algo que não devia ter visto.


Tax suspirou. –Malditos Eternos que nunca consideram as conseqüências. Eles não entendem que os humanos são um tanto frágeis.


-Vai destruí-lo. O Guardião pode não conseguir ajudar.


-Então nem nós poderemos. – eles se entreolharam, preocupados. –Mesmo que ele morra.

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