Capítulo 9: Quero ficar sedado



-Ei todo mundo! Jantar!


Hermione podia ouvir a voz surpreendentemente alta de Terk vinda do hall do segundo andar. Secou o cabelo rapidamente com uma toalha e passou um pente neles. A água caía das pontas sobre seus ombros em seu roupão predileto. Colocou uma camisa de gola alta e calças jeans e entrou no quarto. Harry estava sentado na cadeira de balanço com um livro. Olhou pra ele por um momento, tentando adivinhar seu estado mental apenas por sua expressão, mas não teve muito sucesso. Ele parecia normal. Desde que viera pra casa do quartel general, estava quieto, mas normal. Ela pretendia fazer alguns feitiços tranqüilizantes que Sukesh passara pra ela, mas não pareciam necessários. –Ouviu Terk? – ela perguntou.


-Ouvi, só estava esperando por você. – ele levantou e saíram do quarto juntos. Hermione sorriu pra Harry enquanto ele segurava sua mão, entrelaçando os dedos nos dela. O peso que estava sobre seus ombros parecia um pouco menos opressivo... Não importava o que acontecesse, fosse horrível ou trágico, tudo sempre parecia um pouco melhor quando segurava a mão de Harry.


Bem na hora que eles chegaram ao vestíbulo, a porta abriu e Justino entrou, todo sorriso. –Pessoal! – ele chamou. –Venham todos aqui! – eles pararam perto da porta da sala de estudos. –Jorge e Terk vieram da cozinha, Tax das escadas de trás e Laura de dentro da sala de estudos.


-Que foi, J? – Jorge perguntou.


-Tem uma pessoa que quero que conheçam – disse ofegante. Colocou a cabeça pra fora da porta. –Entre! – ele sussurrou.


Um homem entrou na casa, passando pela porta, olhando em volta pra todos com um sorriso cauteloso. Tinha uns 30 anos, altura média, corpo forte e cabelos pretos curtos e calorosos olhos castanhos. Era bonito, de um jeito meio delicado, com alguma coisa diferente em sua boca. Deu a todos um sorriso incerto.


-Pessoal – Justino disse. –Este é Stephen Eastman.


-Ah, o cara novo! – Jorge disse, sorrindo e indo na direção dele pra apertar sua mão. –Sou Jorge Weasley.


-Ah, Jorge! Ouvi tanto sobre você. Prazer em te conhecer. – A voz de Stephen tinha um leve sotaque escocês.


-Essa é Laura Chant – Jorge disse enquanto Stephen apertava a mão de Laura.


Stephen continuou pela fila de amigos que esperavam. –Sou Harry Potter e esta é Hermione Granger – Stephen apertou a mão de Harry com um sorriso amigável. – E esta é Lil – Harry disse, apontando pra cachorra que abanava o rabo, animada por conhecer alguém novo. Stephen abaixou pra acariciar sua cabeça peluda e assim conquistando ela pra sempre.


-Ele não é lindo? – Justino disse, sorrindo ao fundo.


-Cuidado, Jutino – Stephen disse, apertando a mão de Hermione e sorrindo ao ver a animação típica de Justino. –Vai deslocar alguma coisa.


Todos riram. Harry balançou a cabeça que sim. –Gostei dele.




Stephen era um consultor em uma firma de direito bruxo renomada de Oxford, mas quando perguntado, disse que não conhecia Daniel Stanfordshire. Justino claramente gostava dele, e o sentimento parecia mútuo. Durante o jantar, a conversa passou de eventos atuais, para literatura, por música bruxa e política bruxa. Stephen até ganhou o favoritismo de Jorge, ao se oferecer para limpar os pratos, enquanto ganhava Harry ao não se mostrar fascinado por sua fama, como novos conhecidos geralmente se revelavam.


Depois do jantar, todos foram para a sala adjacente, sentados em grupos para bater papo e beber café. Jorge trouxe um prato de biscoitos que logo desapareceu.


-E lá estávamos em Bora Bora – Terk dizia –sem roupa nenhuma além da que estavam em nossas mochilas, no meio da tempestade tropical Rebecca numa cabine de bambu, com o céu desabando. Napoleon não podia achar nenhuma alternativa mágica pois sua varinha estava na mala, que por sua vez estava a caminho de Pequim. E então o teto de bambu cedeu. – um coro de gemidos. –E lá estávamos, numa plataforma de concreto no meio da lagoa, ensopados e cobertos de galhos e terra. Eu só olhei pra ele e disse "acho que vamos precisar de umas férias de nossa lua-de-mel". – todos riram. –Estava tentando levar tudo numa boa, mas ele ficou pirado. Pegou um pedaço grande bambu do teto e começou a ir embora. "pra onde você vai", eu perguntei. Ele disse "Vou ter uma conversinha com nosso gerente". Perguntei pra que o bambu e ele disse "sempre digo que você chega mais longe com uma boa conversa e um bastão do que apenas com uma boa conversa".- mais risos.


Harry colocou a mão na testa, fazendo uma pequena careta. –Você está bem? – Hermione perguntou baixo, colocando uma mão no braço dele.


-Estou bem. Um pouco de dor de cabeça. Vou tomar alguma coisa pra resolver. – ele levantou e saiu da sala. Lil (como começaram a chamá-la) correu atrás dele, provavelmente na esperança de ganhar um petisco enquanto ele estava na cozinha. Hermione não estava surpresa dele estar com dor de cabeça, com toda atividade que acontecia lá dentro.


-Então, Hermione – Terk disse. –Um passarinho me contou que você é muito boa no swing.


Hermione corou. –Acho que sim. Harry e eu realmente gostamos de dançar.


-Eu adoraria aprender.


-É bem simples, você só tem que...


As palavras de Hermione foram interrompidas pelo barulho da porta da frente batendo. –Amigos! – veio uma animada voz feminina.


-Cho chegou! – Justino gritou, levantando na hora que Cho entrou na sala, sorrindo e tirando a jaqueta. Seus cabelos compridos estavam desarrumados, provavelmente pela viagem do campo de treinamento de quadribol em sua moto até em casa.


-Oi, todo mundo – ela disse. –Há quanto tempo! –avançou para abraçar Hermione e Laura e dar beijos nas bochechar dos rapazes. –Nossa, vocês alugaram meu quarto? – ela disse, apontando com a cabeça para os estranhos na sala.


Uma rápida apresentação se seguiu enquanto Cho conhecia Terk, Tax e Stephen. –Onde está Potter? – ela perguntou.


-Tomando um remédio pra dor de cabeça.


-Ah – Cho disse, balançando a cabeça que sim. Hermione a manteve informada da condição de Harry via coruja.


Harry voltou da cozinha, sorrindo. –Bem vinda ao lar, Chang! – ele a abraçou enquanto Lil pulava tentando chamar a atenção dela.


-Ei, Potter – ela disse, abraçando-o de volta. Hermione não tinha idéia quando os dois tinham pegado o hábito de se chamar pelo sobrenome, eram os únicos da casa que faziam isso. Ela podia admitir pra si mesma que era bom ouvir a antes ousada Cho se referir a ele de uma forma tão de camaradas. Ela sorriu pra si mesma, pensando que não havia nada como o amor para trazer a tona a criança de dois anos interior de uma pessoa. Não é seu, é meu. –É bom estar de volta, especialmente hoje – Cho dizia, com um olhar significativo para os outros habitantes da casa.


-Claro! – Jorge disse. –Noite de jogo.


-Você é minha – Harry disse, apontando para Cho e olhando pra ela com um olhar mortal.


-Então venha pegar.


-Você sabe que não é assim. Nessa casa, jogamos conforme as regras.




Hermione olhou em volta da mesa, analisando a expressão de cada um. Laura não estava prestando atenção. Jorge olhava intensamente. Justino parecia animado, mas isso poderia ser um blefe. Cho olhava atenta para longe. A expressão de Harry era ilegível.


Ela reuniu sua coragem. –Cubro sua aposta e aumento três. – ela disse, jogando três galeões na pilha.


-Eu cubro – Jorge disse, colocando suas moedas.


-Droga. Estou fora – Justino disse, jogando suas cartas na mesa.


-Rico demais pra mim –Cho concordou, fazendo o mesmo.


A vez de Harry. Ele calmamente contemplou suas cartas por um momento. –Cubro seus três e aumento vinte. – um sussurro se espalhou entre os jogadores e a platéia.


Jorge assoviou. –A morte chegou para o arcebispo – ele disse balançando a cabeça, desapontado enquanto largava suas cartas.


Hermione olhou pro outro lado da mesa, para Harry, agora seu único oponente, tentando deduzir alguma coisa do rosto dele. Todos sabiam que Harry não dizia nada e que seus blefes geralmente eram bons... Mas ele estava tão contido. Não estava nem suando. Ele apenas olhou calmamente para ela. –Tem algum poder Mage que não me contou que te permite ficar completamente sem expressão? – ela perguntou.


-Vai te custar vinte galeões pra descobrir.


Ela olhou nos olhos deles por alguns segundos mais, depois jogou as próprias cartas com desgosto. –Fora. – ela disse.


-Há! – Harry exclamou, dando um sorriso pela primeira vez desde que as cartas foram distribuídas, enquanto puxava as moedas pra seu lado da mesa.


-O que você tinha?


-O que você tinha?


Ela virou as cartas dela pra cima. –Quatro noves. – Harry deu um risinho e mostrou suas cartas. Hermione deu um pulo. –Você blefou pra mim com um par de cincos?


Ele deu de ombros. –Não se irrite, foi você quem caiu.


-Oh, você vai ficar tãaao na mão hoje.


Ele riu. –Ótimo. Vai me dar a chance de colocar minha correspondência em dia. – ela jogou as cartas nele, sem conseguir mais fingir que estava com raiva e também começando a rir. Não era como se tivesse muita coisa em jogo, ela e Harry tinham uma conta conjunta. Ela podia sair amanha e comprar um vestido novo com o que ele ganhou se assim quisesse.


-Mais uma mão? – Jorge disse, misturando as cartas.


-Estou cansada – Laura disse. –E quebrada. Harry sempre ganha, mesmo.


-Nem sempre.


-Bem, quase sempre. Do mesmo jeito que o príncipe Charles quase sempre usa terno. – ela levantou. –Voto pra nos reunirmos para o tradicional pudim pós-pôquer. Presumindo que Jorge tenha feito, quer dizer.


-Se eu fiz pudim, ela pergunta – Jorge falou. –O céu é azul? Snape armazena olhos de salamandra? Harry é um grande ladrãozinho no pôquer?


-Cuidado, Weasley. Eu posso fritar suas sobrancelhas com os raios de meus olhos.


-Estou tremendo. Venha, filho de Jor-El, você vai ajudar com o café. Ajoelhe-se perante Zod. – Harry seguiu Jorge para fora da sala, se curvando sarcasticamente atrás dele enquanto os outros voltavam para sala.


Hermione sentou em sua cadeira preferida. –Ah, quem é uma boa garota – ela disse, alisando Lil atrás das orelhas. –Aqui está minha garota – Terk sentou perto enquanto Lil abanava o rabo, entusiasmada por causa de toda essa atenção.


-Ela é um filhotinho tão doce – Terk disse. –Não é de ficar latindo nem destrói nada.


-É, ela é uma boa garota. Nós a amamos.


Stephen parou pra alisar Lil. –Também tenho um cachorro. A gente devia colocar os dois juntos qualquer hora.


-Ah, a srta. Lil adoraria um amigo – Hermione disse. –Qual a raça do seu cachorro?


-É uma sheltie. Tem três anos.


-Sheties são tão bonitos. De que cor?


-Cinza e branco.


-Você com certeza tem que trazer ela. – Hermione disse. –Lil precisa de uma companhia canina. Não tem nenhum cachorro aqui por perto pra ela poder brincar.


-Há quanto tempo você tem Lil? – Terk perguntou.


-Cerca de um mês. Ganhei de presente de Harry.


-Ahhh, que fofo.


-Ele tem seus momentos.


-Muito momento, se posso dizer. Queria ter um homem que me enchesse tanto de afeto quanto ele te enche.


-Quando ele não está me dando uma lavada no pôquer, quer dizer. – ela olhou pra Terk, aproveitando a oportunidade. –Então, não está namorando ninguém no momento?


-Não. Estava saindo com um agente da DATA... é o Departamento de Álcool, Tabaco e armas – explicou ao ver o olhar confuso de Hermione. –Mas não deu certo. Ele era controlador demais. Quando terminei com ele, me fez o discurso completo do "você não pode terminar comigo, vou te matar". – ela disse isso com uma casualidade tão grande que Hermione ficou chocada, mas tentou não demonstrar em sua expressão. –Só que esse tipo de coisa não funciona comigo, não quando nós dois sabemos que eu podia derrotá-lo. Deixei que ele tivesse certeza que se tentasse alguma coisa, ia arrancar os ovos dele e fazê-lo comer. E então deixaria Tax ter um round com ele, e ele traria sua faixa preta e seu treinamento nos fuzileiros. Isso o calou rapidinho.


Hermione suspirou. –Namorei um homem que não era nada bom pra mim.


-Outro controlador?


-Nem tanto isso. Ele apenas precisava se sentir o Homem o tempo todo. Precisava de minha completa e total devoção, o que lamentavelmente eu lhe dei por um tempo. E ah, minha nossa, como ele odiava Harry.


-Mesmo?


-Ele não suportava o fato da gente dividir apartamento, e o fato de Harry me tratar melhor do que Abel me tratava. Abel era um escritor bem famoso e as pessoas geralmente se jogavam a seus pés em adoração, mas Harry nunca fez isso.


-Ei, ele tem os próprios motivos pra ser adorado. As pessoas também caem a seus pés.


-Acho que sim. Acho que Abel se sentia ameaçado. E devia. Ele pode ter sentido que eu amava Harry, parecia que a maioria dos meus namorados sentia, e as namoradas de Harry também.


-E você o amava na época?


Hermione olhou pra Terk, sorrindo. –Sempre o amei.


Ela poderia ter dito mais. Poderia ter contado a Terk sua longa história com Harry e sobre a noite que finalmente ficaram juntos, sem conseguir conter mais a paixão que sentiam um pelo outro, um dia que foi ao mesmo tempo maravilhoso e terrível. Ela poderia ter recontado como Harry a pedira em casamento, e mostrara o anel de noivado. Ela talvez poderia ter contado sobre Rony e todas as maneiras que sua morte os afetara individualmente e afetara o relacionamento deles.


Mas ela não disse nada disso, porque na hora que abriu a boca pra falar, veio um grande barulho de coisas quebrando da direção do hall de entrada, depois do qual estava a cozinha. Todos pararam o que estavam fazendo ou dizendo e levantaram os olhos. Hermione levantou, uma sensação ruim subindo à garganta. Por Deus, o que foi agora?


-Jorge – Justino chamou. –Você está bem?


Uma longa pausa. –Hã... Pessoal, acho melhor vocês virem aqui. – foi a resposta de Jorge, que parecia abalado e assustado.


Todos correram da sala para o hall principal. Hermione deslizou para parar quando se aproximaram da cozinha. Os outros pararam atrás dela. Ninguém falou por um longo momento. –Ah Deus – ela sussurrou.


No chão, aos pés de Harry estava uma bandeja prateada e uma dúzia de xícaras quebradas, imersas em poças de café derramado. Jorge estava na porta da cozinha, seu rosto pálido e com medo, o pudim estragado no chão aos seus pés, onde ele largara.


Harry estava no meio do chão, virado de costas pra eles. Tremia todo, os braços erguidos e as mãos abertas perto do rosto. A cabeça revirava sobre o pescoço, gemidos silenciosos vindos dele.


Ele virou e ficou de frente pra eles. Hermione engasgou surpresa ao ver o rosto dele. Estava se contorcendo numa série de caretas assustadoras, totalmente branco com manchas escuras nas bochechas. Seus dentes estavam cerrados e seus olhos arregalados e olhando firme. –Está... Está... – ele gaguejou. –Está vindo – finalmente conseguiu dizer. –Ele... está vindo... agora.


-Pode impedir? – Hermione perguntou baixo, tentando manter sua voz mais calma possível.


A cabeça de Harry virou, um grito estrangulado saindo de seus lábios. –Não posso – gemeu.


Hermione suspirou. –Bolha. Napoleon. – depois de uma pequena hesitação, a bolha de Hermione apareceu no ar na frente dela.


-Sim? – veio a voz de Napoleon.


-Hermione falando. Código Roman, nível três.


-Onde está? – perguntou imediatamente. Sem questionamentos, sem esclarecimentos. Isso era claramente algo pra que tinham se preparado.


-Em casa. Traga uma equipe, agora.


-Estamos a caminho. – a bolha sumiu.


-Vai levar uns minutos pra chegarem aqui – ela sussurrou. –Todo mundo, recue devagar.


-O que fazemos se ele surtar de vez? – Terk perguntou em voz baixa.


Hermione pausou rapidamente. –A gente torce pra ele não decidir matar a gente.


Jorge se afastou da porta da cozinha, passando por Harry, perto da parede do hall e se juntou ao grupo disperso. Todo mundo recuava em direção à sala de estudo, exceto Hermione que ficou no lugar, olhando ele. –Harry? Pode me ouvir?


Ele olhava para as próprias mãos diante dele, as duas tremendo violentamente, seus olhos pulando das órbitas. –Eu o sinto – murmurou. –ele é forte.


-Tente mantê-lo longe. Olhe pra mim. – a voz dela trazia um pequeno tom de ordem. Harry levantou os olhos e encontrou os dela. –Apenas olhe nos meus olhos. Agüente firme. Eles estão vindo.


-Não... Posso.


-Agüente, Harry. Estamos todos aqui. Não quer nos machucar – ele balançou a cabeça com força, gotas de suor voando de seu cabelo. –Olhe pra mim – ele concordou com a cabeça, sua respiração cortando pra entrar e sair do peito. Por uma eternidade eles ficaram desse jeito. O corpo todo de Harry tremia cada vez mais, a cada segundo. Sua cabeça ia de um lado para o outro, os olhos revirando nas órbitas de modo que apenas a parte branca era visível. –Harry! – Hermione comandou. –Olhe pra mim! Olhe pra mim, droga!


Ele não podia ou não ia olhar, não adiantava mais ela mandar. As mãos dele levantaram pra puxar o próprio cabelo, dando gritos estrangulados de dar frio na espinha. De repente, ele levantou a cabeça e olhou em volta pra eles. –Corra –conseguiu dizer, num tom rouco.


Seus braços ficaram esticados de cada lado de seu corpo e sua cabeça se inclinou pra trás, de modo que ficou olhando sem vida para o teto. Um grito inumano rasgou sua garganta e o chão sob os pés deles tremeu e mexeu. O vidro do jardim de inverno ali perto quebrou e os mosaicos nas janelas e portas explodiram com um som surdo. Todos se protegeram quando ele gritou para o teto do vestíbulo. –Todo mundo pra sala de estudos – Hermione gritou. Ela ficou no lugar olhando pra ele, ciente de que ninguém se movia.


Harry ficou em silêncio e seus braços amoleceram. Ele levantou a cabeça devagar e deu um sorriso pra eles. Hermione sentiu um frio subindo sua espinha... Teve certeza mais uma vez que quem quer que estivesse na frente deles, não era Harry, pelo menos não o Harry que ela conhecia e amava. Ela quase podia reconhecer este homem dos rápidos encontros que tivera com ele. Lembrava das palavras cruéis que ele dissera a ela no ginásio, sua fúria cega com o assassino do jardim de infância. Pequenos flashes dessa pessoa que residia dentro dele e quem agora, pelo que parecia, tinha tomado controle. –Harry? – Laura chamou, hesitante.


Ele virou pra ela. –Eu não sou Harry! – gritou. Laura recuou.


-Quem é você? – Hermione sussurrou, se aproximando.


Ele apenas olhou em volta, encurvado e ainda tremendo. –Não devíamos fazer alguma coisa? – Terk murmurou.


-Como o que? Não podemos controlá-lo. Ele poderia fritar todos nós apenas com o pensamento. – ela suspirou. –Esperava poder mantê-lo calmo até a equipe chegar aqui.


-E o que eles farão?


-Não sei. Falar com ele, talvez. Incapacitá-lo de alguma maneira. Não podem forçar um Mage a fazer nada que não queira.


-Podemos estuporá-lo.


Hermione balançou a cabeça que não. –Não. Harry pode rebater um estuporamento, principalmente no estado que está, de sangue quente.


-O que aconteceu com ele? Meu Deus, ele parece um louco – Jorge perguntou.


-Não é ele, Jorge.


Harry deu um risinho, se endireitando e flexionando os membros. –Você sempre acha que sabe todas respostas, não é, Hermione? – ele levantou e foi na direção deles. Todos recuaram enquanto ele se aproximava. Seus olhos estavam mortos, brilhando com magia. –Você ama estar certa – seus lábios se curvaram num sorriso de escárnio. –Sabia que eu e Rony costumávamos fazer piadas de você? O tempo todo. Mesmo depois da coisa com o trasgo. Você nunca descobriu. – Hermione balançou a cabeça que não. –Ah é. Ele achava que você era uma grande piada. Não foi idéia dele vocês dois namorarem, foi minha. Queria ver o que ia acontecer. Queria ver quanto tempo ele poderia te agüentar. Foi mais tempo do que eu esperava, no fim das contas. Ele disse que estava esperando você dar pra ele antes de te chutar.


-Isso não é verdade – ela disse, seu estômago revirando.


-Como sabe o que é verdade? – ele riu. –Você nunca soube de meu trabalho. Não queria saber, não é mesmo? Não pode me dizer que não suspeitava, dividia um apartamento comigo! Só que era mais fácil se fazer de besta do que se perguntar por que eu não te contava. – Não ouça o que ele está dizendo, Hermione dizia a si mesma. Ele mente. Vai misturar as verdades para me atacar. Não escute. Não é verdade. Mas pode ser só um pouco verdade, a mente dela sussurrou.


-Harry, talvez a gente deva... – Laura começou.


Ele virou pra ela. –Cala boca, Chant. Posso sentir seus pensamentos – Laura fechou a boca de uma vez. –Não o ama mais, não é? – ele sorriu, sua expressão lembrando a de uma máscara de borracha. –Como se sente, tendo perdido dez anos de sua vida com um homem que não fica nem no mesmo país que você? – Laura recuou um passo, ficando pálida.


Harry não tinha terminado. –E você – ele disse, virando pra Justino. –Tem tanta autodepreciação dentro de você que posso praticamente sentir o gosto. – De repente, a voz de Harry mudou, e até sua expressão pareceu mudar pra lembrar outra pessoa. –Saia desta casa, seu viado nojento. – ele disse num tom baixo. Justino cambaleou nas pernas.


-Pai? – sussurrou.


Harry continuou, numa voz que não era sua. –Não posso acreditar que criei um anormal – Justino não disse nada, mas o rosto de Stephen estava vermelho de raiva. Ele avançou, passando por Justino.


-Por que não cala sua boca, quem quer que você seja – ele começou. Harry apenas olhou pra ele casualmente, e ele foi atingindo por um punho invisível, com força bastante para derrubá-lo no chão. Justino correu pra seu lado.


-Seu filho da puta – sibilou para Harry.


Harry sorriu. –Ah sim. Isso aí. Me diga a verdade. Não vai doer... Muito. – ele andou, passando por ele, resmungando alguma coisa incoerente e entrou na sala de estudos. Eles seguiram, mantendo uma discreta distância. O vento uivava na sala, entrando pelas janelas quebradas, as cortinas balançando em seus prendedores.


Hermione fez sinal para que eles ficassem para trás enquanto ela avançava. –Harry, quero que se acalme. Respire devagar. Tente se concentrar. É mais forte que ele. Assuma o controle.


Ele estava de costas pra eles, a cabeça baixa. O som de risos alcançou o ouvido de todos. Ele virou, seu rosto vivo com malícia. –Não quer se meter comigo – ele disse, um sorriso sem alegria nenhuma nos lábios. Deu um passo na direção dela. –Não tente lidar comigo. Sei o que você quer.


-Eu só quero que fique calmo pra que a gente possa te ajudar.


-Ah SIM! – ele gritou para o teto. –Todo mundo sempre quer me ajudar! Me ajudar a ir pra cova mais cedo! E talvez fosse um alívio! – olhou além deles. –Ah, sim aqui vem eles!


Hermione virou e viu Napoleon e Remo entrarem, acompanhados por três outros agentes. –Ele endoidou – ela disse baixo. –Não é ele mesmo.


-Ah, eu não sou? – Harry disse. –Claro que não sou! Como poderia? Não existe um verdadeiro Harry Potter! Ele é uma imagem, uma coisa que vocês todos criaram de seus medos e de seus desesperos! – os músculos de seu rosto se contraíram enquanto ele andava com passos curtos pela sala.


Hermione olhou atentamente para o rosto dele. –Onde você está, Harry? – ela inclinou a cabeça e olhou pra ele. –Está aí dentro, em algum lugar, olhando?


Ele recuou. –Você acha que estou louco.


-E não está? – Hermione olhou pra trás e viu Sirius entrar, ofegante. –Todo mundo fique pra trás – ela ordenou para os agentes.


-Hermione, se afaste. Está em perigo. Seria a primeira pessoa que ele atacaria – Napoleon disse, sussurrando pra ela.


-Eu posso ajudá-lo – respondeu, virando de novo pra Harry. Ele andava de um lado para o outro, puxando suas roupas e os cabelos. –Harry, pode me ouvir? – ela disse, levantando a mão.


Harry parou e flexionou os braços, fechando os punhos. –Não tem idéia de quanto poder tem nesse corpo – ele disse, a voz séria. –Posso sentir correndo dentro de mim – ele fechou os olhos e respirou fundo. –Estou mais vivo do que qualquer um de você jamais vai estar.


Napoleon estava se aproximando devagar. –Patrão, sou eu, Napoleon.


-Ah, sim. Harry te conhece, e eu também. – deu um sorriso cínico. –Quer transar com ela, não é? Até que ela implore por mais. Você quer isso, mesmo agora você quer. Posso sentir saindo de você como um cheiro qualquer. – com um casual estalar de dedos, Napoleon voou pelo ar e bateu na parede oposta, escorregando até o chão. Harry virou pra Hermione. –E você quer também.


-Não. Isso não é verdade – ela disse, sem conseguir evitar um pequeno tremor na voz, seus olhos virando rapidamente pra onde Napoleon se levantava do chão.


-Você o quer. Quer que ele te monte até que não consiga respirar, até que seus joelhos estremeçam. Pobre Harry.


-Não! – Hermione gritou para essa pessoa odiosa, essa pessoa que ela mataria com as próprias mãos se ele estivesse fora do corpo de Harry. –Eu amo Harry!


-Você apenas acha que ama. Você na verdade ama o poder dele, a fama, o status. Isso é tudo o que você quer. E ele sabe disso. Lá no fundo, ele sabe. Por que você acha que ele vai pra cama com qualquer mulher que mostre interesse? Porque ele pode sentir que você não o ama de verdade.


-Já basta – disse Sirus, a voz cheia de raiva, marchando pra parar ao lado de Hermione. Ela se sentia muito cansada pra rebater as palavras. Ela sabia que o que esse homem dizia não era verdade... Mas podia ser verdade, e isso era suficiente. –Seu mentiroso nojento – Sirius rebateu.


-Ah, o grande Vice Chanceler... Ou eu deveria dizer, Chanceler? – Sirius empalideceu. –Ninguém sabe com certeza, não é? Eles sabem como você matou os pais dele? Harry sabe, é claro. Ele sabe que você foi responsável. Você não sabe o quanto ele te odeia por baixo deste sorriso que ele usa como uma máscara. –Harry sorriu, um brilho malévolo emanando dele. –Harry não passa de uma máscara, quando você chega ao x da questão. Uma superfície, uma fachada que todos vocês o ajudaram a construir. Não podem imaginar o que está sob esta máscara.


Hermione avançou, determinada a alcançá-lo. –Harry, escute o que você está dizer. Olhe pra gente.


-Cale a boca.


-Tente se lembrar de você, Harry. – Remo disse, avançando pra ficar com o pequeno grupo enquanto Harry andava de um lado para o outro no meio da sala. –Este não é você.


-Volte pra mim – Hermione disse, sua voz tremendo, esticando a mãos na direção dele. Ele estava de costas e olhava para o teto. –Volte.


-Eu disse pra calar a boca – ele gritou de repente. Diante dos olhos horrorizados de todos, ele virou e acertou um soco no rosto de Hermione, com força. Napoleon ia avançar, mas Sirius o segurou.


Hermione recuou alguns passos, depois desequilibrou e caiu de joelhos sobre o tapete. Ela olhou pra ele, uma mão sobre o rosto que já inchava. –Harry... – ela sussurrou e não podia continuar.


Ele abaixou os olhos até ela, seu peito subindo e descendo pesado e uma expressão feia no rosto. Ninguém se mexia, até parecia que ninguém respirava. Enquanto olhavam Harry, algo começou a acontecer. Seu rosto se contorceu numa careta horrível e suas mãos levantaram, fechando e abrindo os punhos. –Urgh... ohh... ahhh... – gemidos e grunhidos saíam de trás de seus dentes cerrados e todo seu corpo começou a tremer. Ele virava a cabeça de um lado para o outro, gritando de dor e de esforço, com se uma batalha acontecesse dentro de seu corpo. –Cai... FORA! – ele finalmente gritou.


Harry abriu os olhos e olhou pra Hermione, ainda caída no chão e o olhando de volta. Ele tremia, estava pálido e sua mandíbula estava fechada com tanta força que os músculos se destacavam... Mas era Harry. –Ah Deus... – ele conseguiu dizer. –Hermione... – ela não podia se mover, se sentia paralisada. A expressão dele de repente se contorceu um lamento e ele puxou os cabelos. –O que eu... ah, Deus... – sussurrou, depois virou pra encarar os agentes.


Esticou os braços, seus olhos fechados com força e sua respiração entrando e saindo cortando do peito. –Vamos rápido – ele disse. –Me levem daqui antes que ele volte. Não posso controlá-lo por muito tempo. – ninguém se mexeu. Ele abriu os olhos e encarou as expressões chocadas. –Me levem antes que eu machuque outra pessoa. AGORA! – gritou.


Remo acenou com a cabeça para os agentes e eles se apressaram, trazendo correntes e algemas. Colocaram nos pulso de Harry e uma luz laranja passou por todo seu corpo. Parecia que tinham restringido para que não fizesse magia. –Levem-no para o Confinamento. – Remo disse. –Napoleon, vá com eles. Vou pra lá em breve. – levaram Harry pra fora da sala, sua cabeça curvada e seus ombros ainda tremendo.


Hermione apenas lançava um olhar vazio na direção dele, todo o lado de seu rosto pulsando. Ela podia ouvir Laura correndo da sala, dizendo alguma coisa sobre uma compressa. Os outros ficaram por perto, sem saber o que fazer.


Ela viu um par de sapatos em sua linha de visão... Sirius. Ele agachou no chão ao lado dela, seu rosto com a mesma quantidade de choque e horror que ela sabia que estava no próprio rosto. Ela o olhou nos olhos e ele colocou uma mão sobre seu ombro. Todo seu autocontrole se foi e seus nervos estilhaçaram. Hermione se dissolveu em lágrimas. Sirius colocou os braços em volta dela e ela chorou contra seu peito, sentada ali no chão da sala de estudos destruída e com o vento da noite fria soprando.




Napoleon estava lá pra encontrá-la quando ela chegou no Confinamento. –Como você está? Conseguiu dormir? – ele perguntou, avançando para abraçá-la.


-Nem pisquei– ela disse, esfregando os olhos. –Ficava revendo o rosto dele... Você sabe...


-Eu sei. Fiquei pensando nisso também – ele a guiou passando pelo portão de segurança até a instalação. –Nada do que ele disse é verdade, você sabe disso, não é?


-Sei sim.


-Não parece muito convencida.


-Bem... Ele foi esperto. Disse mentiras terríveis que tinham apenas um grão de verdade envolvido. Só o suficiente pra te fazer imaginar coisas.


-Hittler disse que quanto maior a mentira, mais as pessoas acreditarão nela.


-Acho que ele estava certo. – ela ficou em silêncio por um momento enquanto andavam pelos corredores estéreis do Confinamento, e então por corredores menos estéreis pra depois passar por corredores de pedra. –Nunca estive neste ponto Confinamento.


Napoleon suspirou. –Tiveram que levá-lo para as instalações de segurança máxima.


Hermione parou. –O quê?


-Ele estava.. Bem... Ele estava jogando magias tão fortes que um quarto normal não poderia conter. Vários atendentes que foram atingidos estão aqui. Ele se libertou do campo de restrição e depois da cela à prova de magia padrão.


-Ah – Hermione sussurrou, voltando a andar no corredor úmido. Napoleon a guiou até uma pesada porta de madeira com maçanetas de ferro. Dentro dela estava um laboratório surpreendentemente moderno. Espalhados pelo laboratório, uns sentados outros de pé, estavam Remo, Sirius, Argo, Sukesh, Johns Bierderman e Henry Ubingado. Sukesh e Johns olhavam através de uma grande janela que estava do outro lado do cômodo.


-Hermione – Sirius disse, vindo para cumprimentá-la. –Como está?


-Como esperado. Como ele está?


-Veja você mesma – os lábios de Sirius estavam tão apertados juntos que desapareciam formando apenas uma linha. Ele a levou até a janela, que dava para uma pequena câmara de pesado mármore branco.


No centro da câmara estava uma pesada cadeira de contenção de madeira. Harry estava amarrado a ela. Ele estava preso à cadeira por pesados aros de ferro passando pelo peito, braços, pulsos, coxas e tornozelos. Uma faixa de couro prendia sua cabeça à cadeira, em volta da testa. Seus dedos estavam apertados em punhos e seus olhos fechados com força. Ele tremia violentamente, sua respiração rápida e superficial escapando entre os dentes cerrados. De vez em quando um grito estrangulado escapava de seus lábios. Hermione mordeu o lábio e se conteve. –Isso é... Isso é...


-É Harry – Sukesh disse. –A outra personalidade ficou tão forte que isso é tudo que ele pode fazer pra mantê-la afastada. Tentar ficar no controle toma toda sua concentração. Nós o contemos porque ele não pode controlar-se o tempo todo e quando ele começa a perder, se debate tanto que ficamos com medo dele se machucar.


Johns falou. –A outra personalidade está ganhando terreno a cada instante, e cada vez que surge é mais instável.


-Quem é? Quem está dentro dele? – Sukesh e Johns trocaram um olhar. –Ah, qual é! Ele está possuído? O que está acontecendo com ele?


Johns levantou e pegou sua prancheta. –Fiz alguns testes com a outra personalidade enquanto ele estava sedado. Esses feitiços psicoavaliadores , quando feitos por alguém experiente revela muita coisa sobre a pessoa testada.


-Johns, não me importa com essa psicolorota. Existe ou não outra personalidade dentro de Harry?


-Sim, com certeza.


-Então quem é? – Johns hesitou. –Ah, pelo amor de Cristo, me diga logo quem é!


Johns olhou diretamente pra ela. –É Harry. A outra personalidade é Harry.


A palavras ficaram no ar por um momento, enquanto Hermione apenas olhava pra Johns como se ele estivesse maluco. –O que? Não. Não é possível. Aquela... Coisa... Não é Harry.


-Lamento que seja.


-Não acredito.


-Hermione, sente. – Johns a guiou até uma cadeira e também sentou, de frente pra ela. –Tenho cem por cento de certeza. Sukesh concorda comigo. – Hermione olhou pra Sukesh que apenas balançou a cabeça que sim. –A outra personalidade é Harry. Sua aura, suas reações psicotrópicas a estímulos neutros, seu coeficiente de inteligência, seus Escore de Carga Mágica, tudo idêntico. É ele. Mas você está certa., não é o Harry que conhecemos.


Sukesh entrou na conversa. –Entenda, Hermione, a outra personalidade pode ser Harry, mas ele é perigosamente insano. Delirante, paranóico e até homicida.


-Não, ouça, você me perdeu de novo. Ele não parecia um lunático irracional. Ele era racional, ele estava lúcido... Apenas um canalha completo.


-Nós não entendemos direito também. Sem mais estudos da outra personalidade... Estamos chamando-o de Harry2, só por conveniência... É difícil fazer um diagnóstico completo. Não nos atrevemos a deixar Harry2 consciente quando ele toma o controle do corpo de Harry.


-Mas... Ele disse que não era Harry.


-Ele provavelmente não sabe quem é. Seu sentido de autoconhecimento é no máximo iniciante. A ligação de Harry2 com a realidade é muito tênue.


Hermione balançou a cabeça que sim, concordando. –O que causou isso?


-Isso é quase impossível de determinar. Mas tem umas coisas que notamos. Parece que Harry2 tem o Toque da Sabedoria. É ele quem tem os poderes Mage ampliados.


-Mas nós vimos o próprio Harry usando estes poderes.


-Mas no princípio foi uma surpresa, quase um ato inconsciente. Notamos que Harry2 vem vagarosamente se infiltrando na consciência de Harry há algum tempo. O ataque a Napoleon na sua formatura, o incidente no jardim-de-infância. Colhemos depoimentos dos amigos que dividem a casa de comportamentos estranhos. Achamos que Harry2 vem fazendo incursões à mente de Harry já faz tempo, quase como estivesse preso atrás de uma parede e que a cavasse constantemente.


-E quanto mais ele prova da vida, mais forte ele fica – Remo disse. –Depois de um tempo, ele conseguiu tomar controle total.


-E parece que funcionou como uma via de mão-dupla. – Johns continuou. –Da mesma forma que Harry2 usava ocasionalmente a mente e corpo de Harry, Harry também de vez em quando teve acesso aos poderes Mage e ao Toque da Sabedoria de Harry2.


Hermione esfregou o queixo. –Então, se postularmos que Harry foi forçado a usar seus poderes Mage enquanto estava desaparecido...


-Isso leva à conclusão que o que quer que tenha acontecido enquanto ele estava longe, causou esta cisma, porque o uso destes poderes Mage mais fortes estão contidos apenas em uma personalidade. Acho que aconteceu alguma coisa enquanto estava longe que fez com que sua personalidade se partisse. Quem disser o que aconteceu exatamente, vai estar apenas dando um chute.


Ela concordou. –Então o que fazemos? – trocaram outro olhar. –Vamos lá, e agora? Como podemos ajudá-lo?


Remo sentou ao lado de Hermione e segurou sua mão. -Não tem nada que possamos fazer.


Ela apenas o olhou por um momento. –Como é?


-Essa condição é irreversível.


-Não aceito isso.


-Hermione, me escute. – Sukesh disse. –Harry2 é muito forte, e está ficando mais forte. Não sei quanto tempo mais Harry pode agüentar. Este não é um caso de dupla personalidade. Harry se lembra o que Harry2 fez e vice-versa. Têm acesso à memória, conhecimentos e habilidades um do outro. Eles estão separados, mas são um só. Não podemos eliminar Harry2. Não sem destruir parte, ou mais provavelmente, tudo de Harry.


Ela olhou pras expressões de pena deles. –O que está me dizendo, Sukesh?


-Estou dizendo que daqui um tempo Harry2 vai tomar controle completo. Quando isso acontecer, a personalidade de Harry vai começar a desintegrar. Sem ele, seu corpo não pode sustentar a vida. Ele vai morrer de choque neural. Vai ser demais pra ele.


Hermione sentiu o corpo todo esfriar. Sua mente ainda insistia que isso não era verdade, que havia meio pra parar isso. –Por que agora? Quer dizer, ele estava bem e então...


-Ele não estava bem – Sukesh disse. –Ele estava ficando cada vez pior, faz algumas semanas, você sabe disso. Não pude fazer um diagnóstico antes porque não havia indícios suficientes de Harry2 pra eu detectar.


Hermione levantou e voltou pra janela. Ela olhou pra ele, sentado lá e desligado de tudo além de sua própria luta contra si mesmo. Ela se abraçou, tremores passando por seu corpo. –Harry – ela sussurrou. Sentiu Sukesh se aproximar e colocar um braço ao seu redor.


-Eu lamento, Hermione.


-Eu também.




Terk estava ajoelhada no chão, cuidadosamente pegando grandes pedaços de vidro e jogando numa caixa que Tax segurava pra ela. Ela usava pesadas luvas para proteger as mãos e estava ajoelhada sobre um tapete para proteger os joelhos. Ela jogou outro pedaço na caixa, ouvindo o barulho dele quebrando.


-Hermione foi para o Confinamento?


-Hoje de manhã.


Ele olhou em sua volta. Estavam sozinhos. Justino e Laura estavam no trabalho e Jorge estava lá fora em sua estação de trabalho.-Eu sei o que está pensando. – ele disse.


-E está pensando a mesma coisa.


-Não é de nossa conta.


-Podemos ajudá-lo, Tax.


-Não sabemos se podemos.


-Ah, sei sim. E sei onde ficamos. Sem fazer nada. Mas é isso que sempre fazemos, não é mesmo? – ela jogou outro pedaço na caixa, com muita vontade.


Tax suspirou. –Podemos entrar em contato, se você quiser.


Ela levantou os olhos pra ele. –Tenha certeza que quero! – ela pulou de pé. –Vamos lá!


-Se acalme. Alguns segundo a mais não farão diferença.


-Talvez faça – ela puxou as luvas. –Onde?


-No meu quarto. A luz é melhor. – eles subiram para o quarto de Tax. Ele puxou um criado-mudo quadrado para o centro do quarto enquanto Terk pegava duas cadeiras e sua maleta. Da maleta, ela tirou várias folhas de papéis e uma elegante caneta. Ela colocou o papel e caneta na mesa e sentou de frente para seu irmão.


-Quer escrever? – ela perguntou a ele.


-Não, vá em frente. Nunca sei o que dizer.


Terk pegou a caneta e a posicionou sobre o papel. –Hainsleys chamando – ela escreveu, as letras saindo da caneta, apesar dela não ter tinta.


Ficaram olhando o papel. Depois de alguns segundos, duas palavras apareceram nele, palavras que nenhuma caneta ou mão tinha escrito. –North aqui – elas diziam, as palavras formadas numa caligrafia florida e redonda.


Terk escreveu de novo. –Você vem monitorando?


A resposta mais uma vez apareceu. –É claro.


-Pedimos permissão para interferir.


Houve uma pausa mais longa dessa vez. –Negada.


Terk resmungou um pouco e escreveu depressa. –Essas ordens vêm do Guardião?


-Sabe que falo pelo Guardião em todas as coisas, Terk.


-Gostaria de falar com o Guardião – Tax lhe lançou um olhar de alerta. Ninguém pedia pra falar com o Guardião.


-Muito engraçado.


Ela suspirou. –O Guardião pode ajudar Harry?


-Não é de nossa conta.


-O inferno que não é. O estado dele não é culpa de vocês?


-Resposta incerta, pergunte novamente depois. – Esse era o senso de humor peculiar de North. Terk não achou graça.


-Precisamos fazer alguma coisa.


-Não importa o que eu ou você achamos.


-O Guardião ao menos sabe o que está acontecendo aqui embaixo?


-O Guardião sabe de tudo.


-Então não entendo como podem ficar sem fazer nada.


-Entenderá logo. Já receberam suas ordens.


-Nossas ordens foram muito vagas. Não estamos acostumados a agir com tão pouca informação.


-Terk, sei que está frustrada. Apenas aguarde. Logo terão um papel a cumprir. Não depende de você salvá-lo. – A palavra você foi enfatizada.


-Então depende de outra pessoa... – ela hesitou e depois estalou os dedos. –Hermione. Depende dela, não é?


-Eu não disse isso.


-Não precisou dizer. Podemos oferecer ajuda a ela se precisar?


Outra pausa. –Você pode usar seu bom senso. – Essa era a maneira de North dizer pra eles se adiantarem e ajudá-la se pudessem. –North desligando.


Terk largou a caneta e olhou as palavras que tinham escrito desaparecendo. Depois de alguns segundo, todas tinham sumido. Ela sorriu pra Tax.


-Se sente melhor?


-Sim. Agora tudo o que precisamos fazer é esperar por ela.




Hermione ficou sentada se apoiando contra o vidro, olhando Harry. Ela estava sentada ali há horas e suas duas pernas estavam dormentes. Ela nem deu atenção a isso. Harry tinha desmaiado um tempo atrás e agora estava sentado mole na cadeira de contenção, seguro na posição pelas amarras que limitavam seus movimentos.


Ela sentiu alguém batendo em seu ombro e levantou os olhos. Napoleon estava de pé ao lado dela, segurando uma xícara de alguma coisa fumegando. Ela aceitou agradecida. –Obrigada.


-Como ele está? – ele perguntou, sentando ao lado dela.


-Na mesma – ela olhou em volta no laboratório. Sukesh e Johns estavam debruçados sobre livros. Remo, Argo e Henry tinham voltado ao trabalho. Sirius dormia num sofá contra a parede. Hermione meio desejava poder dormir também. –Tem que existir um jeito de ajudá-lo, Napoleon.


-Sukesh e Johns estão fazendo tudo que podem.


-Eu sei. Só não tenho certeza se vai ser suficiente. – na câmara, Harry se mexeu de leve. Hermione se esticou um pouco. A cabeça dele ia de um lado para o outro devagar. Ela reconhecia o movimento, era um pesadelo.


-Uhn.. Nunca termina... – ele murmurou.


Hermione se encolheu. –O mesmo pesadelo – ela disse. –Nunca termina.


-Guardião... mmf... urgh... – ele disse.


Ela o observou enquanto ele gritava sob o domínio do pesadelo, desejando que ela pudesse abraçá-lo como geralmente fazia. –O Guardião – ela murmurou. Ficou observando por mais um tempo e de repente se levantou, cambaleando sobre as pernas instáveis. –Sukesh! Sirius! – ela disse alto. Sirius se lançou do sofá, acordando assustado e desorientado. Sukesh e Johns levantaram e se aproximaram da janela. Hermione colocou as duas mãos sobre o vidro.


-O que foi? – Sukesh perguntou. –Viu alguma coisa?


-Não. Ouvi alguma coisa. Ele fica repetindo esse "guardião". Sabe o que eu acho? Acho que o Guardião é a chave pra todo este mistério.


-Mas o Guardião é só um mito. – Sirius disse gentil, esfregando os olhos.


-Talvez. Talvez não. – ela deu as costas pro vidro, sua expressão firme e decidida. –Eu vou descobrir.


-Hermione... Está se apoiando em fios. –Napoelon disse.


Ela virou pra ele, com raiva. –Bem, qualquer fio é melhor do que ficar aqui sem fazer nada enquanto ele morre! – ela olhou pra Sukesh e Johns. –Vocês disseram que não há cura?


-Isso mesmo.


-Bem, lembrem disso, porque eu vou arranjar uma.

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