Capítulo 7: Aparece o homem do



Hermione ficou atenta, observando de perto enquanto Remo e Malcolm levantavam Harry até uma maca trazida por dois medibruxos que saíram pra trazer a van. Uma pessoa inconsciente não podia aparatar, então teriam que usar um meio de transporte mais convencional. Colocaram a maca lá dentro e Hermione subiu atrás deles, sentando ao lado de Harry.


Ela folgou o colarinho dele e tirou seu pulso enquanto um dos medibruxos auscultava seu coração. –Pulso normal – ela disse. O medibruxo abriu uma das pálpebras de Harry e direcionou a luz de uma lanterna em seu olho. Hermione colocou a mão sobre a testa dele e tentou diminuir a própria pulsação.


-O que aconteceu? – o medibruxo perguntou.


-Eu não sei. Ele parecia desligado, e então teve um ataque de raiva. E depois desmaiou.


-Ele tem algum histórico de problemas neurológicos? Epilepsia, alguma coisa assim?


-Não, nada.


-Ele bateu a cabeça recentemente?


-Não que eu saiba.


-Tem se comportado de forma estranha?


Ela quase disse não, mas então teve que reconsiderar. –Um pouco, sim. Ele vem tendo pesadelos, e está um tanto irritado e de pavio curto.


O medibruxo balançou a varinha em volta de Harry, procurando por azarações ou feitiços. Hermione percebeu que estavam longe da escola, mas a van estava estabilizada magicamente, de modo que ela quase não sentia os movimentos.


-Não pode acordá-lo?


-Não quero que acorde antes de chegarmos à DI– ele respondeu. –Lá veremos. Ele não parece doente, a pressão está normal... É muito estranho. – Hermione apertou a mão amolecida de Harry nas suas, olhando pra seu rosto. –Apenas tente relaxar – o medibruxo disse baixo. –Logo chegaremos lá.


Remo se inclinou mais pra perto, olhando pra ela. Hermione nem tinha notado que ele subira na van atrás dela. –O que pode causar esses sintomas?


-Não tenho certeza – o medibruxo falou. –Várias coisas.


Remo olhou pra Hermione. –Está pensando o que eu estou pensando?


Ela suspirou. –Ah, tem que ter alguma conexão com o desaparecimento dele.


-Se não tiver, seria uma irônica coincidência.


Hermione não respondeu. Escorregou do banco pregado na parede da van e se abaixou no chão ao lado da cabeça de Harry. –Por favor, acorde, Harry. – sussurrou. Lágrimas escorreram livremente de seus olhos por suas bochechas enquanto levantava a mão dele até os lábios. –Deus, e se ele nunca acordar? –disse com a voz rouca.


-Ele vai acordar – Remo disse com confiança.


Hermione não disse nada, apenas se ajoelhou no chão da van segurando a mão de Harry e gentilmente alisando sua testa fria e úmida. O resto da viagem passou num silêncio interminável, o medibruxo verificando os sinais vitais de Harry constantemente.




Hermione e Remo estavam sentados na área de espera, perto da ala de Sukesh no quartel general da DI, sérios e em silêncio. Finalmente, depois de um tempo, Remo falou baixo. –Você alguma vez o viu agindo daquela forma?


-Não, nunca. – ela sussurrou. –Bem... Não sem Draco Malfoy por perto.


-E essa foi a segunda vez. Ele tentou atacar Napoleon na festa de formatura também.


Hermione não tinha esquecido disso. –E se ele teve algum tipo de seqüela? – ela virou com um olhar assustado para seu antigo professor, esperando que ele tivesse todas as respostas como sempre tivera. –Remo, não posso perdê-lo. Não de novo. Vou enlouquecer.


Ele segurou sua mão. –Eu sei.


Ela estudou o rosto dele por um momento, sua curiosidade aguçada pela sinceridade deste bruxo, como se ele soubesse como ela se sentia. –Remo... Já houve alguém especial? Pra você? – ele hesitou e Hermione de repente se sentiu constrangida. –Desculpe se foi pessoal demais...


-Não, tudo bem. Não me importo. – ele apertou a mão dela. –Já amei uma pessoa, uma vez. Não pudemos ficar juntos e acabou mal. – deu um suspiro. –Acho que nunca tive muito sucesso com relacionamentos. A coisa do lobisomem parece atrapalhar um pouco.


-Mas não devia. É uma parte pequena de você.


-Não é tão pequena quanto você pensa.


-Não deveria te definir. Acho você maravilhoso.


Ele sorriu e corou. –Bem, obrigado. Não tenha muita pena de mim, Hermione. Só porque não tive A Grande Paixão que você teve a sorte de encontrar não significa que sou infeliz. Tenho muitos amigos e gosto de minha solidão. Tenho você e Harry e Sirius e Cordélia... Os filhos deles são como meus. Não preciso de uma companheira. – Hermione sorriu em resposta, sem comentar do tom desejoso na voz dele no final. –Mas estou feliz por você e Harry. Me dá muita satisfação ver vocês dois juntos. – ele balançou a cabeça, sem palavras por um momento. –Ele tem sorte de ter você durante... O que quer que isso seja.


Hermione suspirou, um suspiro profundo e barulhento que pareceu vir do fundo da alma. –Ele me teria aqui de qualquer forma, mesmo que fossemos apenas amigos.


A porta da enfermaria abriu e Sukesh apareceu. Hermione pulou de pé, puxando Remo junto, já que não tinha largado da mão dele. –Sukesh, ele está...


Ele a interrompeu com um sorriso. –Veja você mesma –deu um passo para o lado, revelando Harry que vinha da sala de exame atrás dele, enfiando a camisa na calça e parecendo constrangido.


-Harry! – Hermione exclamou, correndo para abraçá-lo. –Está bem?


-Estou bem – Harry respondeu, abraçando-a com força.


-Ele está bem? – ela perguntou a Sukesh, sem confiar no julgamento de Harry.


-De algum modo sinto como se tivesse vivido isso antes, mas não consigo encontrar nada de errado com ele. Certamente nada que causaria ataques de violência e um desmaio repentino.


Hermione recuou, olhando preocupada para Harry. –Se lembra do que aconteceu?


Harry limpou a garganta e fez que sim, sua expressão confusa. –Sim. Só não lembro porque. Estava olhando pra ele... E de repente havia apenas uma fúria cega. Não podia segurar. Não conseguia me controlar. –olhou pra ela. –Foi horrível, como se eu fosse outra pessoa. – virou pra Sukesh. –Por favor, diga que eu não o machuquei.


-Não machucou. Ele está bem, terá uma longa e saudável vida na cadeia.


Ele suspirou aliviado. –Lamento se te assustei – disse, esticando a mão para segurar a de Hermione. –Me sinto normal agora.


Hermione deu um suspiro frustrado e abriu os braços. –Então é isso? Ele de repente fica desequilibrado, sem razão nenhuma, até logo e passar bem?


Sukesh fez que não. –Não, não é isso. Harry, vou te colocar sob restrições médicas imediatamente.


-Mas Sukesh.. – Harry começou a protestar, mas Sukesh levantou o dedo para interrompê-lo.


-Sem discussões. Não vou te suspender. Pode continuar trabalhando, mas está preso a uma mesa até que a gente descubra o que há com você. Não tente escapar dessa, Harry. Você atacou um homem indefeso.


-Um homem que acabara de matar quatro pessoas, duas delas crianças! – Harry exclamou, ficando vermelho.


-Não é desculpa e você sabe disso. Não vamos esquecer que também atacou seu próprio vice. Agora, sei que não gosta muito do Jones, mas começar a dar socos nele sem motivo nenhum? Não é sua cara. Estou preocupado, Harry, mas não quero que se preocupe com isso. É muito possível que seu comportamento seja apenas por stress. Certamente posso entender sua raiva de um homem que machucaria crianças indefesas e sei que está sob muita pressão ultimamente com a morte de Galino e a investigação de seu desaparecimento. Mesmo assim, tenho autoridade médica pra te deixar de molho e vou usá-la.


-Isto está ligado ao desaparecimento dele – Hermione disse. –Tenho certeza disso. – Sukesh pode dizer que foi tudo stress, ele não estava lá... Ele não viu os olhos de Harry antes de tudo acontecer.


Sukesh levantou as mãos. –Não há motivos concretos para chegar a esta conclusão, por mais tentadora que seja. Na verdade, se os fatos estivessem ligados, esperaria que ele mostrasse os sintomas muito mais cedo que isso. Acho que está relacionado ao stress, e talvez a um trauma residual. Vamos fazer mais uns exames.


Harry concordou com a cabeça. –O que Argo disse?


-Ela está aceitando minha decisão nesta situação, mas insiste que a gente descubra a natureza dos problemas que está tendo. – ele segurou uma prancheta com um pergaminho. –Aqui, preciso que assine este termo de poder e designe alguém para tomar decisões médicas por você no caso de ficar incapacitado. Com a natureza imprevisível destes ataques, precisamos cobrir todas possibilidades.


Harry segurou a pena que lhe era oferecida e começou a escrever sem hesitar. –Hermione terá a autoridade para tomar decisões por mim se eu não puder.


Ela colocou a mão sobre o braço dele. –Harry. Não acha melhor designar Sirius ou...


-Em alguns meses você terá essa autoridade automaticamente, que diferença faria? Confio minha vida a você. – fez sua assinatura ilegível como sempre, na qual só se podiam ler as letras H e P.


-Certo. – Sukesh disse. Ele pegou a prancheta de Harry e deu um tapinha em seu ombro, dando um sorriso encorajador. –Tente relaxar. Vá pra casa hoje. Fale sobre o bufê e faça algo divertido. Não pense sobre isso. – ele virou e voltou para ala médica.


Lupin se aproximou. –Bem, isso foi surpreendentemente desinformador.


-Ele está fazendo o que pode – Harry murmurou, passando a mão pelos cabelos.


A porta do corredor se abriu e Napoleon entrou, seguido pelos irmãos Hainsley. –Tudo certo, Harry? – perguntou, se aproximando com uma expressão preocupada.


Harry fez que sim. –Por enquanto. Mas estou preso à mesa por enquanto, Jones. Vou precisar de sua ajuda com o resto das coisas.


-Claro, patrão. Tudo que puder fazer.


Harry virou para Terk. –Obrigado por vir, Terk. Lamento que sua aula teve que ser interrompida.


-Quer que a gente fique mais um pouco? – ela perguntou. –Não temos que voltar até a próxima semana. Podemos marcar outra aula. Seria uma ótima folga do dia-a-dia da Agência.


Ele pensou por um momento e então balançou a cabeça que sim. –É, pode ser. Vocês têm um lugar para ficar?


Ela e Tax trocaram um olhar. –Não, ainda não. Pensamos em encontrar um hotel.


-Bem, vocês podem ficar aqui nos alojamentos temporários se quiserem, mas não recomendo. São bem-vindos a ficarem em nossa casa. Tem espaço suficiente e a comida é ótima. Nosso amigo Jorge faz comida suficiente para um exército de qualquer forma.


Novamente, uma troca de olhares. Hermione tinha a sensação que Terk e seu irmão estavam usando algum tipo de telepatia pra se comunicar. –Parece ótimo, Harry, obrigada. Mas não queremos incomodar. Tem certeza que tem lugar?


-Ah, absoluta. Dezesseis quartos, na verdade.


Os Hainsley ficaram surpresos com essa informação. –Bem, tudo certo então. - Terk disse com um sorriso. –Temos um acordo. Só vamos juntar nosso equipamento e pegar nossas malas...


-Vamos pra casa agora – Hermione disse firme, impedindo as objeções de Harry – mas levem o tempo que quiserem. Napoleon, você pode levá-los lá pra casa quando estiverem prontos?


Napoleon, que estava mais pra trás e sem dizer muito, concordou. –Claro.


-Certo, vemos você em casa, então. – ela e Harry saíram do cômodo juntos, falando baixo um com o outro. As três pessoas que sobraram trocaram olhares desconfortáveis.


-Posso te ajudar a arrumar as coisas? – Napoleon perguntou, mantendo o tom neutro.


-Tudo bem, a gente se vira aqui. – Terk respondeu.


Ninguém se mexeu. –Você parece bem – Napoleon finalmente disse. –Muito bem.


-Obrigada... Você também. – ela balançou a cabeça. –Devo dizer, nunca achei que seria respeitável. Quando soube que você era um agente de verdade não acreditei, tinha que ver com meus próprios olhos.


-Ah, então por isso veio até aqui? Pra ver como eu estava? E ei, se eu era tão desrepeitável por que se casou comigo?


Ela arqueou a sobrancelha. –Isso era parte do charme.


Ele suspirou. –Acho que não tenho forças pra um round com você no momento, T. foi um longo dia. Primeiro a coisa no jardim de infância e agora Harry tomando o expresso da meia noite pra Doidópolis...


-Então, há quanto tempo está apaixonado pela esposa de seu chefe?


-Ela não é esposa dele. – Napoleon disse, rápido demais, antes de perceber que ela o enganara. Ele suspirou e encolheu os ombros. –Ah, droga. Como sabia?


Ela riu. –Você não é Sir Laurence Olivier, Leo. Não pode me enganar. Conheço este olhar de cachorrinho de longe.


-Bem, ponto pra você, então.


-Só acho engraçado você decidir se apaixonar pela mulher que está inevitavelmente comprometida com o bruxo mais famoso do planeta, que por acaso também é bonito pra caramba...


-Hei! Eu agradeço se não esfregar na minha cara! Não foi minha idéia, sabe. Essas coisas apenas acontecem.


-Ela olha pra você com desdém?


-Não! Somos... Amigos.


-Ah, mas você guarda um desejo secreto que os sentimentos dela sejam tão profundos quanto os seus e mesmo assim ela não possa admitir por medo de magoar seu noivo, a quem ela não ama tão intensamente quanto você... – Tax estava rindo silenciosamente enquanto Terk falava.


-Certo, meu crânio é completamente transparente ou você acrescentou leitura de mente a seus muitos talentos?


Terk riu. –Vou te deixar se perguntando sobre isso. – ela lhe deu um tapinha no ombro enquanto saíam.




- Aqui está seu quarto, Terk. – Hermione disse, abrindo a porta de um dos quartos no segundo andar. Era um de seus preferidos, ensolarado e alegre com uma grande janela que dava para o jardim da frente e decorado em estilo californiano, com móveis de bambu, estampas leves e muitas plantas.


-Ah, é lindo! – Terk falou, colocando sua mochila de viagem numa cadeira. –Vocês poderiam abrir uma pousada.


Hermione deu um sorriso discreto, ainda preocupada com o incidente envolvendo Harry. –Eu adoro este quarto. – abriu a porta que dava pro banheiro interligado. –Coloquei seu irmão no quarto seguinte. Dividem este banheiro.


-Claro, qualquer coisa serve. Tax não é exigente com as acomodações. Era fuzileiro naval, está acostumado a condições adversas. – Hermione ia sair, mas hesitou. Terk sorriu pra ela e colocou as mãos na cintura. –Quer me perguntar sobre Leo, não é?


Hermione franziu a testa. –Leo?


-Sim. Esse é o nome dele, sabe. Leon Theseus Jones. Ele não gostava do Leon então colocou um "Napo" na frente. Ele odeia qualquer coisa normal.


-Sim, isso eu notei – Hermione riu. –Você deve ter ótimas histórias sobre ele.


-Nenhuma que ele gostaria que eu lhe contasse, tenho certeza. Não que eu vá deixar isto me impedir. –ficou olhando Hermione enquanto guardava roupas numa das gavetas. –Você sabe, não é? Que ele, hã...


-Sei sim. Descobri há um tempo.


-Isso te incomoda? Ele pode ser muito persistente.


-Não, na verdade não. Devo dizer que ele tem sido um perfeito cavalheiro com isso. Não deve ser fácil pra ele, me ver com Harry todos os dias da semana.


-Ah, diabos, ele ama isso. Adora bancar o mártir de longo sofrimento. Fez isso comigo durante meses antes de eu finalmente sair com ele.


Hermione sentou em uma das cadeiras e se inclinou pra frente, ansiosa pra ouvir estes flashs do passado de Napoleon. –Você se apaixonou imediatamente?


-Está brincando? Levou uma eternidade. Achei ele todo desajeitado da primeira vez que saímos. Ele estava praticamente caindo, tentando me impressionar.


-Você sabia que ele era um bruxo?


-Ah, não. Mas não me surpreendeu. Os espiões entre os trouxas amam circular rumores sobre pessoas mágicas. Eu me senti meio vingada por ter conhecido um pessoalmente. Não levou muito tempo pra descobrir sobre a natureza de Leo. Não é muito bom com segredos, como deve ter notado. Ele deve ser um recordista em notificações sobre magia perto de trouxas. – Hermione riu. –De qualquer modo, foi me conquistando aos poucos. Antes que eu percebesse, estava apaixonada por ele.


-Ainda está?


Terk expirou entre os dentes. –Bem, se eu estivesse era de se esperar que ainda estivéssemos casados, não é? – O tom em sua voz impediu Hermione de perguntar sobre o rompimento deles, apesar de desesperadamente querer saber.


-Bem –disse enquanto levantava. –Vou ver se seu irmão está bem. Me diga se precisar de alguma cosa.


Hermione foi até o quarto seguinte, com uma decoração em verde escuro com detalhes dourados. Tax abria sua mala e tirava algumas roupas. –Tudo certo, Tax?


Ele fez que sim. –Sem problema. – Hermione ficou um pouco surpresa, estas eram as primeiras palavras que ouvia dele.


-Bem... Vamos jantar daqui a mais ou menos uma hora.


-Certo.


Hermione sorriu e recuou, fechando a porta atrás de si e subiu as escadas até o Cloister. Harry estava sentado em uma das poltronas fofas, esparramado com a capa sobre o ombro. –Oi – ele disse numa voz baixa.


-Oi –ela respondeu ríspida. Sua raiva voltou ao vê-lo. Ele não disse quase nada no caminho até em casa, apesar das tentativas nada sutis dela de fazê-lo falar. Era frustrante querer ajudá-lo e ter tão pouco para trabalhar. Ela andou sem destino por um momento, as mãos nos quadris e então parou no meio do quarto e o encarou. –Vai me dizer o que está acontecendo?


-Não posso. Nem eu sei.


-Não me venha com essa besteira. Harry!


-Que besteira? É a verdade!


-Você começa a ter ataques de raiva depois da menor provocação e não pode me dizer nada sobre o que está acontecendo nessa sua cabeça?


Harry levantou e jogou a capa no assento da janela. –Bem, você é A Grande Gênia, por que você não diz a mim? Está sempre tão malditamente ansiosa pra me dizer sobre o trabalho interno de minha alma, então vamos lá!


Ela se aproximou. –Não venha com sarcasmo pra cima de mim! Estou tentando te ajudar!


-Não preciso de ajuda!


-Não, só precisa reduzir algumas pessoas a pedacinhos...


-Não foi isso que aconteceu! – ele gritou.


-Como pode saber disso? Você não se viu, Harry! Estava assustador! Você me assustou! Pelo amor de Deus, o que está acontecendo com você? Você mudou!


-Claro que mudei! – ele gritou, virando para encará-la. –Perdi dois meses de minha vida! Não sei onde estava, o que fizeram comigo. Acordo toda manhã confuso e assustado e não sei PORQUE! – ao dizer a última palavra, ele pegou um copo que estava no criado mudo e o jogou contra a parede oposta onde explodiu em mil pedacinhos. O barulho fez que os dois ficassem olhando onde alguns pedacinhos tinham se prendido na parede.


Hermione se jogou num banco e apoiou a cabeça nas mãos. –Ah, Harry... Não podemos deixar que isso fique entre nós.


-Nada pode ficar entre nós. – respondeu. A segurança nas palavras dele a confortaram, mesmo que ela não pudesse dizer isso no momento.


-Não tenho tanta certeza. Somos humanos e por mais que a gente se ame... Bem, qualquer amor é frágil. Tantas coisas podem perturbá-lo.


Harry se ajoelhou em frente a ela e colocou as mãos sobre seus joelhos. –Eu achava isso também, mas não precisa ser assim. Você me ensinou isso. O que sinto por você não é frágil. O que sinto por você corre por todo meu corpo e me ancora ao mundo. O que quer que isso seja, é a rocha a que estou preso pra passar por tudo.


Ela deu um pequeno sorriso. –Nossa, não é muito você ser tão poético.


-Tenho meus momentos de eloqüência. – ele a puxou do banco até o chão. Ela se encolheu no abraço dele e colocou os braço a seu redor, querendo acreditar como de costume. -Sei que está frustrada. Também estou. Não sei porque reagi daquele jeito. Talvez Sukesh esteja certo e seja apenas stress, ansiedade com... Bem, com as coisas. Mas você é tudo que tenho, Hermione. Fico perdido sem você.


Ela fungou. –Desculpe ter parecido tão pessimista. Geralmente você que tem dúvidas.


-Nunca duvidei do que sinto por você. Às vezes só me pergunto... Se eu mereço.




Hermione ajudou Laura a colocar a mesa, cantarolando. –Então, convidados para o jantar, hein? – Laura perguntou. –Um par estranho. Quem são?


-Terk e Tax Hainsley. Trouxas, agentes da CIA. Amigos de Harry.


-Casados?


-Irmãos.


-Ah – Laura disse, um pequeno sorriso no rosto.


Hermione arqueou uma sobrancelha. –O que está se passando nesta sua cabeça maquiavélica.


-Bem.. O homem. Tax, não? Ele é bem sexy.


-Você acha?


-Aham. Amo esses bad boys.


-E eu me pergunto o que Sorry está fazendo agora?


Laura deu de ombros. –Eu seria a última a saber. – A voz dela saiu meio aguda ao dizer isso. Hermione abriu a boca para perguntar, mas achou melhor não.


Terk entrou na cozinha refrescada, vestida com uma calça jeans e um suéter, os cabelos soltos e caindo sobre os ombros. –Posso ajudar? – perguntou.


-Não, tudo certo. Quer uma bebida?


Terk viu o bar no canto. –Permita-me. –foi até lá e ficou de costas pras duas e elas ficaram olhando enquanto colocava bebidas, misturava, balançava, colocava mais... Finalmente virou, de algum modo segurando quatro copos nas mãos. Entregou um pra Hermione, um pra Laura e outro pra Jorge.


Hermione tomou um gole da mistura. –Minha nossa – disse.


Jorge suspirou. –Esta é a melhor coisa que já coloquei na boca e isso inclui Cornélia Prinzmetle.


-O que é isso? – Laura perguntou, esvaziando o copo.


-Cuidado – Terk disse sorrindo. –É bem forte.


-Não parece forte.


-Ah, esta é a beleza da coisa. Nós espiões somos muito sorrateiros.


Harry entrou junto com Tax, abotoando sua camisa limpa. Foi até onde Hermione estava e a abraçou por trás, inclinando a cabeça pra lhe dar um beijo no pescoço. Hermione podia sentir o perfume do sabão que tinha usado no banho. –O que estamos fazendo? Bebendo até perder a consciência? – perguntou.


-Só esperando jantar.


-É, Jorge, vamos comer! Estou faminta! – Laura disse.


-Onde está Justino?


-Estou bem aqui – Justino disse, mostrando a cabeça atrás do jornal que lia.


-Bem, então, o jantar está servido.


O jantar foi alegre. Os pratos de Jorge estavam, como sempre, deliciosos e a presença dos trouxas à mesa induziu os cinco bruxos a levitarem mais coisas pelo cômodo do que geralmente faziam. Terk e Tax cooperavam ficando maravilhados com a faca de Jorge cortando sozinha e Laura servindo a limonada sem as mãos.


Depois do jantar eles sentaram ao redor da mesa com café e creme tártaro e bateram papo por um tempo. Justino pediu licença, dizendo que o trabalho o chamava. Harry também deixou a mesa cedo, depois de ter ficado mais calado que de costume durante o jantar.


-Está tudo bem? – Hermione perguntou em voz baixa enquanto ele passava.


Ele fez que sim. –Apenas cansado. – e desapareceu subindo as escadas.


Jorge levantou. –Bem, hora de limpar –sacudiu a varinha para mesa e os pratos se levantaram da mesa, marchando obedientes até a pia onde começaram a se limpar. Terk balançou a cabeça.


-Vocês têm tudo tão fácil, não tem idéia.


-É, é bom ter magia – Laura disse. –Na verdade não há desvantagem... Bem, tirando a parte de ter um mal sempre por perto.


-Então Laura – Tax disse, tirando os guardanapos da mesa. Laura ficou atenta imediatamente. –Hermione disse que você trabalha para o Ministério.


-Trabalho para meu Ministério, da Nova Zelândia. Sou uma representante.


-Parece... interessante.


-Você quer dizer chato – todos riram.


-Foi você que disse, não eu.


-É bem chatinho na verdade. Mas paga as contas no fim do mês.


Pela porta veio o som do piano da sala da frente. Era "Canon em ré maior" de Pachelbel, uma das conhecidas entre alunos de piano.


Hermione riu. –Isso é novo. Justino geralmente só toca músicas de shows.


-É – Laura resmungou. –Se eu ouvir "get happy" mais uma vez...


A conversa foi interrompida quando as notas simples da música de Pachelbel ficaram mais elaboradas, espaçadas e rápidas. Era como se Justino estivesse improvisando sobre a melodia base e parecia bem inspirado. As notas atravessavam a casa, cada vez mais altas, altos arpeggios sob cordas familiares.


-Quem está tocando? – todos viraram surpresos ao ver Justino perto da escada, que ele evidentemente acabara de descer. O queixo de Hermione caiu ao perceber quem deveria estar tocando.


Ela se apressou saindo da cozinha passando pelo jardim de inverno e entrou na sala, os outros seguindo de perto. Entraram de vez na sala, olhando impressionados.


Lá no piano estava Harry, suas vestes espalhadas a sua volta e se acumulando no chão, a cabeça baixa enquanto tocava o piano. Seus dedos viajavam sobre o teclado e seus pés trabalhavam os pedais enquanto sua cabeça balançava no ritmo da música.


Ele parou no meio de uma nota e deu meia volta sobre o banco, seus olhos arregalados e o rosto pálido. –Ah meu Deus – Hermione sussurrou.


-Nossa, ele é bom – Terk disse.


-Sim – Hermione disse. –Só que ele não toca piano.


-Eu diria que toca sim. Muito bem, pra falar a verdade.


-Não, não toco. Quer dizer, não sei tocar. – Harry disse levantando e olhando pra seus dedos como se os tivessem traído. –Nunca toquei em um em toda minha vida. Não sou alguém "musical".


-Não consegue nem cantar "Parabéns" – Justino sussurrou, como se fosse um grande escândalo.


-Eu só... Passei pela frente do piano e... – Harry suspirou. –Achei que podia tocá-lo. Então toquei.


Hermione avançou e segurou o braço dele. –Está se sentindo bem?


Ele fez que sim. –Tudo bem.


Laura limpou a garganta. –Vamos todos sentar, certo? –foram para outra sala e sentaram. Terk e Tax ficaram perto da porta, interessados, mas evidentemente se sentindo meio marginalizados neste mundo de bruxos. –Então... Você apenas achou que poderia tocar?


Harry, que se recusou a sentar e ficou andando de um lado para outro, deu de ombros. –Não é bem que eu achei que podia, apenas me ocorreu que podia. Como se eu sempre soubesse tocar e apenas tivesse me esquecido até agora.


-Mas você sabe porque. – Hermione disse.


Harry olhou de vez pra ela. –O que te faz pensar isso?


-Porque não está me perguntando.


Ele finalmente sentou ao lado dela. –Certo, minha teoria é a seguinte. Quando soube do fator Mage pela Sociedade, eles me emprestaram alguns textos... Vários deles eram muito antigos. Li cada um de cabo a rabo. O mais informativo foi o Livro Toltec sobre Mage. Acho que os toltecs devem ter feitos sérios estudos sobre os poderes mágicos e observado alguns mages vivos através dos séculos.


-Achei que você fosse o primeiro.


-Sou o primeiro que eles sabem. Deve ter havido outros. Dá pra inferir, pelo jeito que escreveram, apesar de não falarem diretamente. Parece haver alguma superstição com a coisa. – ele respirou fundo. –De qualquer modo, os toltecs falam sobre os poderes dos mages, como outros fazem, mas lembro que discutiam muito o que chamavam de "toque da sabedoria".


-Toque da sabedoria? – Jorge perguntou. –Parece safado.


-Na verdade não. É difícil distinguir entre lenda e observação, mas pelo que pude entender, na época significava que o Mage, com prática suficiente, poderia tocar um objeto e saber perfeitamente como funcionava. Falavam sobre ver os segredos de alguma cosia... Quase como se lesse a mente da coisa. A língua era difícil e cheia de metáforas, mas acho que o queriam dizer era... Algo como isso que fiz. Encostei no piano e sabia como tocá-lo mas não sei como sabia.


-Pegou na arma e sabia como atirar – Hermione disse.


-Lembrei disso também.


-Mas Harry, você disse que um Mage poderia aprender qualquer coisa com a prática.


-Sim. Esse é o ponto chave. A prática. Não deveria poder usar o toque da sabedoria neste ponto de meu desenvolvimento. Não pratiquei.


-Não que você lembre, pelo menos. –Justino disse. Todos se olharam, a significância das palavras não passou despercebida.




Hermione estava deitada na cama olhando para o teto de vidro do Cloister. Harry dormia a seu lado, virado de lado de costas pra ela. Ele escapou das reclamações dela de que não notificou ninguém sobre o incidente com o piano, dizendo que estava cansado demais pra lidar com outra inquisição de Sukesh e Argo. Podia esperar até amanhã. Ela desistiu, mas sua mente girava e não a deixava dormir.


Harry rolou pra o outro lado, e se aninhou nas cobertas. Ela virou a cabeça sobre o travesseiro, olhando o rosto dele. Ficava diferente sem os óculos... Mais jovem, mais vulnerável. Seus brilhantes olhos verdes eram uma característica tão dominante em seu rosto que quando estavam fechados, ele não parecia muito ser quem era.


Ele se mexeu, movendo-se desconfortável sob as cobertas. Hermione ficou tensa; era assim que agia antes dos pesadelos. Ela esticou a mão para pegar o caderno no criado-mudo, onde guardava para poder anotar qualquer coisa que ele dissesse. Ele virou a cabeça de um lado a outro, fazendo alguns barulhos de inquietação.


Em horas como essa, Hermione sempre tinha que se segurar para não o confortar. No meio do pesadelo, as palavras dele poderiam trazer alguma pista, mesmo que o que ela mais quisesse fosse abraçá-lo e confortá-lo até que o pesadelo passasse.


-...Nunca termina... – ele resmungou. Hermione suspirou. Essa era velha. -...Nunca termina!... – ele disse, com um pouco mais de força que antes.


Ela estava se conformando que teria mais umas cinqüenta repetições dessa frase (era assim que geralmente acontecia) quando Harry mudou pra algo novo.


-...Guardião... – ele sussurrou. Hermione se inclinou mais pra perto, aguçando os ouvidos. Isso era algo novo. –ondeis guardião... Nunca termina... – quem era esse guardião? Intrigada, escreveu o que ele disse em seu caderno. -...sempre existiu... nunca termina... sempre um guardião – ele murmurou. –Humm... eterno... ajuda! –gritou de repente, fazendo-a pular. –Ajuda! –gritou de novo, se debatendo sob as cobertas... –Hmmm...Mione... hummmm – ele parou.


Hermione não podia mais suportar. Esticou os braços e o puxou mais pra perto. –Shhh, estou aqui –sussurrou. –Volte a dormir – ele se aninhou contra ela e começou a dormir mais tranqüilo. Hermione os abraçou e voltou a olhar o teto, pensamentos preocupantes impedindo que seu sono chegasse.




Remo Lupin misturava o creme a seu café, mexendo o pequeno e ineficiente misturador de plástico em sua xícara com mau humor. A besta de cerâmica fora um presente de Charlotte, um produto de suas aulas de arte na escola primária. Era pra ter forma de um lobo, o rabo curvado formando a asa. A xícara se apoiava em garras que emergiam de sua curva inferior, e o focinho do lobo apontava para cima, saindo da borda superior. Estava pintado com listas azuis e amarelas berrantes; a frase na argila "Beije o Lobinho" estava gravada e contornada com uma tinta brilhante que mudava de cor. Era um considerável objeto de arte, levando em conta que fora produzido por uma criança de cinco anos... mas também, Charlotte sempre fora inteligente demais.


Sirius ficara quase envergonhado quando Charlotte orgulhosamente presenteou seu tio Remo com esta oferta solene, mas Remo gostou. Ele achava que refletia um nível de aceitação com sua natureza dupla o fato dele beber nessa xícara todo dia. Não tinha segredos com ninguém aqui, e não queria ter.


Olhou em volta da "sala de baixo"como era chamada pelos agentes. Era um tipo de salão pras horas de folga e lugar pra se reunir com os colegas. Havia um numero considerável de agentes aqui, já que acabara de passar do meio dia. Ele viu Hermione sentada numa mesa e fazendo algumas anotações em seu caderno e periodicamente consultando uma pilha de papel a sua frente. Ele pensou um momento em se juntar a ela, mas achou melhor não... Ela parecia ocupada e ele já ia ter que ir.


A bolha prateada da DI apareceu flutuando perto do teto, fazendo todos agentes presentes pararem o que faziam pra ouvir o que falaria. –Tenente Granger, telefone na linha 2. Tenente Granger, linha 2. – desapareceu depois de dar sua mensagem. Deve ser Smitty falando, Remo pensou. Ela sempre usa as patentes pra falar com as pessoas.


Hermione levantou e foi até a estação de comunicação. A DI estava ligada com a rede de telefonia local. Como os agentes freqüentemente tinham que fazer contatos com autoridades trouxas e com seus auxiliares não bruxos, fazia sentido. Sem falar que havia mais bruxos com telefones em casa esses dias.


Ele bebericou seu café enquanto olhava Hermione pegar o telefone e falar. Ela não disse nada por um longo tempo enquanto ouvia a pessoa falar do outro lado da linha. Remo a observava cada vez mais preocupado quando a cor foi deixando seu rosto.


Ela colocou a mão sobre os olhos e ele viu o queixo dela começar a tremer. Colocou o café sobre a mesa e a observou com mais cuidado; ninguém mais pareceu notar que havia algo errado.


Hermione desligou o telefone, as mãos tremendo visivelmente, e se inclinou sobre a mesa por um momento, respirando pesado. Remo levantou e foi até o lado dela. –Hermione? – ela olhou pra ele, seu rosto pálido e os olhos arregalados como se não tivesse muita certeza de quem ele era. –Está bem?


Ela passou rápido por ele, já ofegando, e foi em direção à parede, com as mãos afastadas do corpo. Ela escorregou apoiada na parede até ficar agaixada, inclinando a cabeça sobre o peito. Remo se ajoelhou na frente dela, alarmado. Outros bruxos e bruxas se reuniram em volta pra olhar com expressões preocupadas. –Hermione, o que foi? – ele podia ver as lágrimas escorrendo pelas bochechas dela agora; ela pressionou as mãos no rosto e balançou a cabeça que não, uma vez.


-O que está acontecendo? – Napoleon veio até eles, forçando pra passar.


Remo deu a ele um rápido olhar. –Procure Harry. – Napoleon não se mexeu. –Agora! – Napoleon virou e correu do salão. Remo podia ouvi-lo chamando sua bolha. –Hermione, me diga o que está acontecendo. – falou, colocando as mãos nos ombros dela. Ela agora tinha colocado a cabeça entre os joelhos e soluçava um pouco.


Ele não conseguia fazê-la dizer nada. Remo estava lá do lado dela, mandando os curiosos irem embora, até que ouviu passos se aproximando do salão de baixo. Harry entrou correndo com Napoleon logo atrás. Correu até onde Hermione ainda estava contra a parede. Remo levantou para dar espaço pra ele. –Obrigado, Remo. – Harry disse, se ajoelhando ao lado dela. Ele colocou as mãos nos ombros dela. Ela levantou a cabeça e ao ver que era ele, se jogou em sua direção, os braços indo em volta de seu pescoço. Harry e abraçou, balançando-a de trás pra frente com uma expressão preocupada e intrigada. –Amor, o que foi? – perguntou.


Hermione falou perto do ouvido de Harry, mas ele não conseguiu ouvir. Suas palavras estavam mascaradas por soluços e a altura da voz quase não era audível. Depois de um tempo, Harry fechou os olhos e Remo viu o queixo dele apertar. –Ah, não – Harry sussurrou.


-Harry... O que foi? – Napoleon perguntou.


Harry olhou pra eles. –A avó dela morreu. – ele virou pra Hermione, que ainda chorava baixo contra seu ombro. –Vamos, vamos. Levante comigo. – ele levantou, puxando-a consigo. Olhou pra Napoleon. –Vou levá-la pra casa. Você diz a Argo?


-Claro – Napoleon disse, concordando.


Harry a levou pra fora do salão devagar, mantendo os braços fortes em volta dela. Hermione se apoiava quase completamente nele, seus passos cambaleantes enquanto saíam.


-Ela devia ser muito próxima da avó – Remo disse.


-Ah sim. Passava quase todos verões com ela quando era criança. Muito próximas. – Napoleon suspirou. –Coitada.




Harry parou o carro no jardim e olhou pro lado do passageiro. Hermione estava sentada apoiada contra a porta, a mão no queixo, um olhar vazio na direção da janela. Seu rosto estava marcado pelas lágrimas. Ele deu a volta pra abrir a porta dela, mas ela já estava descendo. Parecia cansada e triste. –Lamento, querida –disse, segurando o rosto dela com uma das mãos.


Ela deu um fraco sorriso. –Obrigada. – Ele a abraçou com força por um momento e manteve o braço em volta do ombro dela enquanto andavam até a porta da frente.


Laura esperava por eles enquanto entravam; Harry tinha entrado em contato pra avisar o que acontecera. Ela abraçou Hermione, murmurando algumas palavras de conforto em seu ouvido. –Aqui, separei uma mala pra você. Achei que você ia querer ir pra casa de seus pais.


-Obrigada, Laura. Sim, vou pra lá agora... assim que... – ela parou, distraída.


-Preparei uma mala pra você também, Harry – Laura disse, apontando para o chão do corredor, onde estavam as malas que tinha preparado.


Sem precisar que pedisse, Justino pegou as duas malas e foi pra fora colocar no carro de Harry. Harry olhou pra Laura, grato que ela tivesse cuidado disso. –Muito obrigado, Laura. – olhou pra Hermione. –Quer relaxar um pouco? Comer alguma coisa?


Ela balançou a cabeça que não, passando os braços pela barriga. –Não, podemos ir logo, por favor?


-Claro – Harry deu um sorriso pros amigos. –A gente manda uma coruja falando sobre o funeral. Obrigado.




Justino olhava fixamente para o chão, o braço de Laura enlaçado por seu cotovelo direito. As pessoas reunidas estavam agrupadas em volta do caixão que estava posicionado sobre a cova que esperava. O pastor falava e falava, conduzindo o funeral que parecia interminável. O vento estava aumentando, e nuvens negras pairavam no céu e se aproximavam com o passar de cada minuto. A previsão do tempo dizia que ia haver tempestades hoje, mas pareciam estar chegando mais rápido que o previsto.


Do outro lado, estavam os pais de Hermione, de mãos dadas. A mãe dela segurava um lenço negro sobre a boca. À esquerda de Justino estavam Harry e Hermione. Harry estava mais próximo dele, seu braço firme em volta da cintura de Hermione. Ela se apoiava quase completamente contra ele e passava a mãos periodicamente nos olhos.


O retumbar de um trovão soou a oeste e o vento uivou novamente, enrolando o casaco de Justino por suas pernas. Ele viu Harry dar um olhar de dúvida em direção à tempestade que se aproximava. As pessoas reunidas começaram a se mexer desconfortáveis. Um relâmpago cortou o céu. Até agora ninguém tinha ido embora, mas a tempestade se aproximava rapidamente e logo teriam que correr pra procurar abrigo e então a pobre avó de Hermione teria que se virar sozinha.


Hermione começou a soluçar de novo. Harry a abraçou, tentando confortá-la enquanto ficava de olho nos céus. Depois de um momento, ele gentilmente se separou dela e recuou pra trás de onde estavam. Hermione praticamente não notou. Justino, percebendo a situação, colocou os braços em volta do ombro dela. Ele virou e olhou confuso pra Harry.


Harry olhava para as nuvens da tempestade, uma expressão estranha em seus olhos. Parecia distante, um estranho. Ele se inclinou para frente e sussurrou no ouvindo de Justino. –Coloque um FCB.


-Por que? – Justino sibilou em resposta.


-Apenas faça o que digo. Não vou deixar uma tempestade ridícula estragar isso pra ela. – Justino olhou pras nuvens pesadas. Estavam agora sobre eles, negras e ameaçadoras. Raios apareciam em sua superfície e o vento castigava o morro no topo da colina do cemitério.


Justino deu de ombros. Um FCB era um Feitiço de Cobertura para Bruxos, um tipo de campo para mascarar e evitar que trouxas vissem um bruxo fazendo magia. Era uma inovação recente do departamento de Justino e provara ser um grande sucesso. Pegou a varinha no bolso do casaco, tirando o braço do de Laura enquanto fazia isso. Segurou a varinha sem obstruções e sussurrou o feitiço. Linhas de névoa luminosa verde emanaram da ponta de sua varinha e envolveram um grupo de convidados, separando em pequenos pulsos de magia que entravam nos olhos dos trouxas. Eles não veriam.


Justino observou Harry se separar do grupo mais perto do caixão, de frente para o pastor que não ligou nem um pouco pra ele. Uma pequena sensação de nervoso se formou em seu estômago, pois não tinha idéia do que Harry pretendia. O que ele podia fazer? Jogar alguns feitiços de guarda-chuva para que não ficassem molhados?


Enquanto olhava, Harry deixou as mãos abaixadas do lado, as palmas pra frente e um pouco afastadas ao corpo. Ele abaixou a cabeça e olhou para tempestade que se aproximava com uma intensidade aterrorizante, seus olhos visíveis por cima da borda dos óculos. Enquanto Justino olhava, alguma coisa começou a acontecer. O vento começou a soprar mais forte, mas vinha de outra direção, vinha detrás de Harry... ou mais precisamente, vinha de Harry. Seu cabelo voava ao redor de sua cabeça e seu sobretudo roçavam em suas pernas. Os dois ventos opostos colidiram e pairaram sobre os presentes. Os trouxas ignoravam, enquanto os bruxos assistiam a Harry. Hermione, ao lado de Justino, estava tensa como uma estátua enquanto o olhava. Seu lenço molhado caiu de seus dedos, esquecido, e foi levado pelo vento violento. Justino podia sentir os ombros dela tremendo sob seu braço e sua respiração cortando pra entrar e sair dos pulmões. –O que está havendo? – ele perguntou perto do ouvido dela. Ela apenas balançou a cabeça que não, sem dizer nada. –Acho que.. Apenas tente agir naturalmente. Eles não estão vendo. – Hermione fez que sim e virou a cabeça de volta para o caixão, mas continuava olhando de vez em quando para Harry. Justino apenas o observava de canto de olho.


Pequenas ondas de eletricidade passavam pelos dedos de Harry, pelo seu rosto, por seus olhos. –Minha nossa – Justino sussurrou. Harry jogou os braços para o ar formando um largo V e raios saíram de suas mãos, indo pra cima, na direção do céu negro. O vento viajava pra frente, partido do lugar que ele estava e gritava para o céu, separando as nuvens da tempestade. O rosto de Harry estava selvagem, iluminado por baixo, seus olhos brilhando com poder exterior que nenhum bruxo deveria controlar.


As nuvens evaporaram e sumiram no céu, dispersas pelo vento que Harry conjurara do nada. O céu se iluminou e o queixo de Justino caiu quando a tempestade voltou pra onde veio, e os relâmpagos viravam luzes inofensivas. Quando o pastor concluiu a cerimônia, o sol apareceu no céu. Harry vagarosamente abaixou os braço, seus olhos ainda fixos lá em cima. Voltou pra perto da cova e se reuniu a Hermione, que parecia ter voltado a prestar atenção no funeral. Os convidados começavam a ir embora. A família se aproximava enquanto o caixão era abaixado no chão.


Hermione deu a volta para abraçar seus pais e todos deram uma pequena distância da cova. –Harry? – Justino falou. – ele virou e Justino quase caiu pra trás. Os olhos de Harry ainda reluziam com a eletricidade, suas íris verdes brilhando e piscado. Hermione se aproximou, as sobrancelhas franzidas e com passos decididos.


-Harry Potter, me explique o que acabou de acontecer. – ela disse. Harry vagarosamente virou a cabeça pra olhá-la. –Harry? – ela repetiu, incerta.


Na mesma hora, Harry encolheu os ombros e colocou uma mão na testa. Seus olhos se fecharam e ele cambaleou. Justino esticou o braço para equilibrá-lo. –Opa – Harry disse, abrindo os braços e se equilibrando. Quando levantou a cabeça novamente,parecia ter voltado a si. –O que foi isso?


Hermione segurou seu braço com força. –Essa foi uma passagem só de ida pro laboratório de Sukesh, senhor.


-Mas... o...


-Pode esperar. Nana está morta, vai entender. Você não está e espero que continue assim.




-Deixa eu entender isso direito – disse Sirius. –Ele repeliu uma tempestade inteira?


-Sim – Hermione respondeu. Ela tentava fazer as coisas pararem de girar em sua mente. A imagem estava gravada em sua cabeça, a visão dele com os braços pra cima, reconfigurando o tempo apenas com sua força de vontade e parecendo... Bem, parecendo um Mage. Era assustador.


Eles estavam sentados em uma das salas do consultório de Sukesh. Sirius estava do lado dela e Lefty do outro. Remo estava de frente pra eles, tomando nota.-Ele parecia estar mentalmente afetado? – Lefty perguntou.


-Não sei. Ele parecia diferente. E quando terminou parecia confuso.


-E isso logo depois dele mostrar sinais do toque da sabedoria. – Lefty ficou muito interessado ao saber sobre isso. Como um membro da Sociedade, passou boa parte da vida estudando o assunto.


A porta abriu e Sukesh entrou, parecendo impressionado. –Bem – ele disse, sentando. –Vocês estava certo, Lefty.


-Certo sobre o que? – Hermione disse, olhando pra Lefty.


Ele virou pra ela. –Depois que você descreveu o comportamento dele, fiquei com uma suspeita. Disse pra Sukesh o que procurar em seu exame.


-Suspeita de que?


-Que seus poderes Mage foram afetados. – Sukesh disse. –Eles estão muito ampliados desde a última vez que testamos, que foi antes de seu desaparecimento. Diria que estão no mínimo cinqüenta vezes mais fortes que antes.


-Como se ele os estivesse usando muito – Sirius disse, sua expressão pensativa.


Lefty concordou. –O toque da sabedoria chega ao Mage com prática e estudo. A extraordinária exibição de controle do clima que ele deu hoje é uma coisa que somente um Mage com completo controle de seus poderes poderia fazer.


-Então... A teoria é que enquanto ele estava sumido, foi forçado a usar seus poderes Mage, muito mais do que em sua vida normal. – Hermione mordeu o lábio. –Isso faz sentido.


Remo concordou. –Me ocorreu que ele pudesse ter sido um alvo por causa do fator Mage. Se alguém quisesse testá-lo, ou desenvolvê-lo, teria um motivo para capturá-lo.


-Mas quem? – Hermione perguntou. –Quem poderia ter feito isso? Quem poderia fazê-lo esquecer tão completamente? – ninguém respondeu, não era necessário. Não precisava dizer que não tinham idéia. Hermione respirou fundo. –Tem mais uma coisa que devo dizer. – todos olharam pra ela. –Os pesadelos dele mudaram.


-Como?


-Das últimas vezes que ele teve pesadelos, disse outra coisa. Ainda fala a parte do "nunca termina" mas ultimamente tem mencionado alguém, ou alguma coisa, chamado de Guardião. Não sei a que se refere... – ela parou no meio da frase e olhou em volta para os bruxos mais velhos. Quando ela disse a palavra "Guardião" todos se remexeram e se entreolharam. –O que? Significa alguma coisa pra vocês?


-Bem... Hã.. – Sirius começou. Olhou pra Remo, que apenas deu de ombros. –Acho que não.


-Sirius! Não venha com essa, vi como vocês reagiram! Significa alguma coisa. Quem é esse Guardião?


-Justamente isso – Lefty disse. –Não é ninguém.


-Hã?


-O guardião é apenas um mito. Como... Ah, o papai Noel ou bicho-papão. Mais pro lado do bicho-papão na verdade.


Hermione olhou para o rosto de cada um deles. –Acho melhor vocês me contarem sobre este mito.

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