Capítulo 5: Quase Tudo Bem



5 semanas depois...




Justino entrou na sala, vindo da sala de estudo, resmungando baixo, e foi até a cadeira onde se sentara na noite anterior. Uma pilha de papéis e correios-coruja estava na beira da mesa ao lado da cadeira; entre esses papéis estava um comunicado de seu ajudante que ele precisava muito. Começou a procurar na pilha quando um "shh" baixinho o fez parar.


Harry estava sentado na poltrona perto da janela com as pernas esticadas. Hermione estava esparramada ao lado dele, dormindo profundamente. Ela claramente estava estudando e cochilou, sua cabeça repousava na barriga dele e um braço envolvia languidamente sua cintura. Harry lia, segurando o livro com uma mão enquanto a outra estava em volta dos ombros dela.


-Desculpe – Justino disse, se aproximando na ponta dos pés. Ele sorriu pra seu amigo. –Que bom que ela está descansando.


Harry concordou balançando a cabeça. –Acho bom mesmo.


-Quando serão os exames?


-Semana que vem – ele suspirou. –Queria poder falar com ela sobre eles. Alertá-la.


-Tão ruim assim, é? – Justino sentou numa cadeira próxima.


-Tão ruim assim – ficou observando enquanto Harry olhava para a parte de cima da cabeça de Hermione, sua expressão suavizando. Os dedos acariciavam por si só os cabelos dela enquanto cochilava, a respiração vagarosa e regular.


Justino sorriu. –Vocês não cansam disso?


Harry olhou pra ele.


-Cansar de quê?


Justino gesticulou na direção deles. –Sabe, essa coisa de amor.


Ele riu. –Bem... Até agora não. – ele franziu a testa. –Nunca amou ninguém?


-Não. Acho que só cheguei perto.


-E quanto a David?


-Ah, a grande paixão de minha vida. É, foi intenso. Mas precisava de tanto esforço.


-Todos relacionamentos precisam de esforços, Justino. – falavam sussurrando para não acordar Hermione.


-Talvez, mas acho que não ao ponto de precisar gastar três horas só pra conseguir a alegria de uma noite.


-Hum. Isso realmente parece demais.


-Havia muito drama, mas pouco companheirismo. Sem nenhuma ligação emocional de verdade. Não como vocês têm. – ele se inclinou pra frente enquanto Harry passava os dedos sob os óculos, esfregando o nariz. Notou pela primeira vez círculos escuros sob os olhos do amigo. –Parece cansado.


-Ela não tem dormido bem ultimamente. Vira de um lado pro outro. Então, eu também não tenho dormido muito bem. E estou preocupado com os testes dela. Os exames finais da DI... Bem, eles tão intencionalmente brutais. É mais uma experiência de total destruição corporal do que um teste e ainda tenho pesadelos com o meu de vez em quando. Quero que ela tenha sucesso e se saia bem e tenha essa nova carreira, mas a vozinha do Homem Protetor em minha cabeça quer mantê-la longe disso.


-Ah, nós usamos muitas máscaras. Homem Protetor, Carregador de Muitas Sacolas de Compras. Parceiro de Apoio, Aquele que Trás o Carro da Garagem, Amante Garanhão...


Harry sorriu. –Essa é mais sua máscara do que o minha, Grande J.


-Não foi isso que eu ouvi. E quando digo "ouvi" quero dizer literalmente.


Harry limpou a garganta e mudou de assunto. –Bem, toda essa coisa de amor é uma grande experiência psicológica, se quer saber o que penso.


-Eu sei. Às vezes se torna um festival de tentativa e erro, até que você acha que já sabe tudo...


-É.


-E então é como alguém falasse "te enganei!" – Harry riu. Justino se apoiou de volta em sua cadeira, inclinando a cabeça pro rosto de Hermione. –Bem, se eu fosse você, Allegra teria me tirado da busca por mulheres pra sempre.


-J, quando você esteve em busca de mulheres?


-Sabe o que quero dizer.


Harry suspirou. –Bem, ela quase fez isso. Levou um tempo até que eu conseguisse ter algum tipo de relacionamento adulto. Fico feliz que tenha começado com Gina. Uma amiga, alguém com quem eu podia conversar e ficar confortável. Então... Ronin.


-É. Como foi isso?


-Não conheceu Ronin?


-Não – Justino se inclinou pra frente, intensamente interessado.


Harry se mexeu um pouco, ajeitando Hermione mais seguramente contra si. –Ela tinha um jeito de me fascinar. Seus olhos eram bem grandes e de um castanho tão escuro que eram quase pretos, com cílios grossos. Dava pra se perder neles. A primeira vez que a vi foi como se tivesse sido atingido por um martelo. Ela me disse mais tarde que na hora que entrei na loja, foi como se ela tivesse acertado a mira em mim como um míssil de calor e foi assim que me senti.


-Puro desejo, né? Posso respeitar isso.


-Não, não era isso. Isso era mais com Allegra. Ronin era... Apaixonada. Muito artística. Aberta com seus sentimentos. Tudo que eu não sou. Ela também era muito misteriosa, intocável. Sempre um enigma, que era fascinante, ao menos por um tempo. Mas não ia durar, e acho que nós dois sabíamos disso desde o início. Sabia que nunca conseguiria imaginar uma vida com ela, e ela era inteligente o suficiente pra saber que meu coração pertencia a outra, mesmo que eu ainda não soubesse disso. – ele tirou uma mecha de cabelo da testa de Hermione.


-Sério, Harry. Foi... Quer dizer isso... – ele disse, gesticulando pra Hermione – foi realmente muita surpresa?


Ele olhou Justino nos olhos. –Foi uma grande surpresa.


-Não vejo como isso é possível.


Ele abaixou os olhos. –Aquele primeiro momento foi... Devastador. No sentido de que toda sua vida está em destroços e você vai ter que reconstruí-la. – hesitou e depois olhou pra Justino, que não se atrevera a dar uma palavra pra não perturbar esse feitiço revelatório que Harry parecia ter colocado em si mesmo. –A primeira vez que a beijei, senti milhões de coisas, todas misturadas. Mas sabe qual coisa eu mais sentia? Terror. A vontade quase irresistível de afastá-la, sair correndo e nunca mais voltar. – Justino franziu a testa e Harry respondeu sua pergunta antes que pudesse fazê-la. - Quer saber por que? Vou te dizer. Porque sabia que se cruzasse essa linha, seria o fim pra mim. Sabia que se me deixasse amá-la, a amaria total e completamente. Com ela envolvida, não haveria meio do caminho, teria que me dar por completo sem reservar nada. Teria que amá-la tanto que estaria a sua mercê. Ela poderia me destruir com um olhar, uma palavra, ou acabar comigo num único momento. Ninguém nunca teve esse tipo de poder sobre mim, e a idéia me assustava.


-Pelo que parece, não o suficiente.


Harry olhou pra ele e sorriu, parecendo voltar de onde quer que tenha ido. –Acho que minha veia por um romance meloso foi mais forte que minha covardia.


-Ah, pff. Você não tem nada de covarde em seu corpo.


Antes que Harry pudesse responder, Hermione se mexeu e levantou a cabeça, piscando. –Ah... Eu dormi?


Harry riu e passou a mão por seus cabelos. –Sim, dormiu.


Ela apertou os olhos, olhando pra ele. –Estavam falando de mim? Acho que ouvi meu nome.


Os dois homens trocaram um olhar conspirador. –Não, querida. Não estávamos. – Harry disse, beijando sua testa.




Hermione estava nervosa. Muito nervosa. A ansiedade se espalhava por sua barriga como uma horda de pequenos insetos gelados e raspava suas garras por dentro de seu crânio.


A seu lado, sua amiga e colega de classe Shay Daley batia o pé rapidamente sobre o piso do auditório da DI. De seu outro lado, Lloyd Llewelleyn parecia uma massa de músculos tensos.


Os trainnes estavam nas primeiras fileiras, de frente pro pódio, esperando saber de seus testes finais, que começariam num futuro próximo, não sabiam exatamente quando. Todos ouviram boatos e rumores de como seria, mas ninguém sabia ao certo. Hermione teve que se segurar pra não se irritar com Harry por ele se recusar a discutir o assunto, mas sabia que ele estava proibido de falar.


Ela se perguntou quantos testes escritos fariam, ou quantos testes de combate. Aplicação de feitiços? Feitiços de defesa? Exame físico mano-a-mano? Ninguém sabia.


Argo entrou e foi até a mesa sobre o palco e limpou a garganta. –Bom dia, trainees. Parabéns por terem completado com sucesso seu curso de treinamento. Agora vem a parte difícil: passar nos exames. – fez uma pequena pausa pra dar um efeito. –Historicamente, 40 dos trainees não atravessam esse ponto. – um murmúrio se espalhou pela platéia e Hermione sentiu se estômago apertar mais um pouco. –Não estou dizer que 40 não passam. Estou dizendo que 40 dos alunos não conseguem terminar os exames. Dos 60 que terminam, um terço não é aprovado – Hermione começou a se perguntar se realmente ia vomitar ou se era apenas sua imaginação.


Argo começou a andar devagar de um lado para o outro na frente deles, as mãos atrás das costas. –Os exames começarão amanhã. E continuarão por cinco dias. – Parou e deixou essa informação tomar lugar na cabeça dos trainees, sentados e completamente em silêncio. –Não irão para casa durante esses dias. Não vão parar. Terão um tempo para descansar em pequenos intervalos. Irão passar por essa experiência individualmente, não como uma turma. Durante os testes, não falarão com ninguém, além de quem esteja aplicando a prova, e vão experimentar sua própria bateria de testes, feita para suas habilidades e aprovada por nós. Não terão conhecimento prévio do que virá ou que matéria cobrirá. Os testes variam de puramente acadêmico até a prática até o intensivamente físico e tudo que estiver dentro disso. Sem campos de proteção. Sem aliviar golpes. Sem segundas tentativas. Sem misericórdia. – ela parou de andar e olhou pra eles. –Acredito quando digo que isso provavelmente vai ser a experiência mais exaustiva de suas vidas, e é feita pra isso mesmo. A vida como agente às vezes é tão ruim assim, e temos que saber que vocês podem suportar. Caso se tornem agentes, queremos que tenha uma vida longa e produtiva. A melhor maneira de fazer isso é eliminar aqueles com menor chance de sobrevivência no campo. Pode soar desumano, mas é na verdade pra própria proteção de vocês.


Ela deu a volta na mesa e sentou, pegando uma folha de papel diante dela enquanto os trainees. –Quando terminamos essa reunião vão ter até o meio dia de hoje pra se preparar e aprontar os materiais. Ao meio dia vão se apresentar aqui para os exames. Vão receber uma lista do que trazer, mas deixe eu dar uma dica sobre as coisas importantes. Tragam algumas mudas de roupa. Recomendo roupas confortáveis que permitam movimento fácil. As roupas de treinamento são boas. Tragam somente o essencial em termos de higiene pessoal... Escova de dentes por exemplo. Vão ter um lugar pra guardar suas coisas e diremos quando podem voltar lá. – ela colocou de volta o pedaço de papel.


-Sei que parece intimidante, senhoras e senhores. Gostaria de poder assegurar vocês que vai ficar tudo bem, mas francamente se não puderem suportar a situação durante os testes, nós não queremos você como agente, é simples assim. Todos vocês se provaram nas aulas. Agora é hora de ver se podem fazer isso quando não é de faz de conta. – ela sorriu pra eles. –Dispensados.




Harry entrou no Cloister onde Hermione jogava coisas em sua mochila. Ela nem virou quando ele entrou. –Está com raiva de mim? – ele perguntou.


-Estou tentando muito não ficar. Quer ajudar? Suma daqui.


Ele suspirou. –Estava proibido de falar sobre os exames com qualquer trainee e você sabe muito bem disso.


-Claro. Com certeza. – ela estava enfiando as coisas na mochila provavelmente com mais força do que o necessário.


-Não pode esperar que eu quebre todas as regras apenas por você.


-Apenas por mim? Claro que não. Sou só a mulher que você vive dizendo que ama, por que eu mereceria qualquer tipo de consideração?


-Ah, espera aí – ele disse, raiva aparecendo em sua voz. –Seria incrivelmente injusto e um grande conflito de interesses te dar qualquer vantagem especial. Honestamente, é criancice achar que eu faria isso.


Ela encolheu os ombros. –Eu sei. –virou e o encarou. –Mas... É muito pior do que imaginei que seria e estou realmente com medo – ela hesitou. –Harry, eu apenas pensava em você como a única pessoa em quem realmente posso confiar, e a única pessoa que nunca me machucaria... Ou deixaria qualquer pessoa me machucar. Mas você nem me alertou.


-Não sou seu pai, Hermione. Não sou seu anjo da guarda ou seu protetor ou seu maldito professor do jardim da infância – ele se aproximou. –Eu te amo. Por isso vou me casar com você. É minha melhor amiga e respeito você. Se quer essa carreira, se aceitou ser escolhida, então tem que fazer isso sozinha. Por mais que me machuque te ver lutando ou com dor, não há nada que possa fazer sobre isso. Não só porque eles me colocariam na corte marcial, mas também porque você não precisa de ajuda. Recuso ser condescendente com você, me tornando uma muleta pra você se apoiar. Vai fazer isso sozinha, porque você é capaz. – ele suspirou. –Não posso te ajudar.


Ela suspirou e o olhou nos olhos. –Sabe, queria ser tão forte quanto você acredita que sou.


-Você é – esticou os braços e a puxou mais pra perto, pressionando os lábios no topo de sua cabeça. Ela colocou os braços ao redor da cintura dele e a raiva dela desapareceu, sabendo que ele estava certo. –Melhor se apressar. Tem que se apresentar ao meio dia.


Ela inclinou a cabeça e sorriu pra ele. –Vem comigo?


Ele balançou a cabeça que não. –Não. Não é permitido. Mas vai se sair bem, e vou te ver quando terminar.


Ela expirou por entre os dentes. –Cinco dias sem os carinhos de Harry. Vai ser muito divertido.


Ele riu. –Acredite, vai ser a última coisa em sua mente. Mas aqui, leve isso com você. – ele segurou o rosto dela entre as mãos e a beijou, um de seus beijos profundos e demorados que a faziam sentir como se estivesse flutuando. Ele recuou um pouco e beijou a ponta do nariz, depois a testa. Deu um passo pra trás e passou o polegar por sua bochecha, sorrindo. –Boa sorte – ele virou e saiu, deixando-a lá parada como se tivesse esquecido o que fazia.


-Minha nossa – Hermione suspirou fraca.




A turma estava nos vestiários, as mochilas sobre os ombros, de frente para Argo e Lefty. Trocavam de pé pelo nervosismo e olhavam em volta ansiosas como se esperassem ser atacados a qualquer momento.


-Todos coloquem suas coisas num armário – Lefty disse. – Vão receber oportunidades periódicas pra voltar até elas. Eu levaria uma garrafa de água se fosse vocês.


A classe dispersou por um momento pelo vestiário, onde se ouvia o barulho dos armários de metal, que desapareceu quando eles voltaram à forma. Lefty deu um passo a frente com sua perna de aço, se apoiando na bengala com a mão boa. –Certo, classe. Viemos de um longo caminho juntos, e estou orgulhoso de todos vocês. Agora é hora de mostrar o que aprenderam. – ele ficou em posição de sentido. –Bolhas! – a bolha de cada trainee apareceu diante deles com o pequeno "pop" que sempre anunciava sua chegada. –Suas bolhas os levarão até seu primeiro teste. Boa sorte e espero vê-los daqui alguns dias.




Um tempo indeterminado depois...




Hermione cambaleou pelo corredor, sua bolha tomando cuidado pra não ficar muito a frente dela. Não tinha certeza de que direção estava indo e não se importava muito.


Pra seu imenso alívio, a bolha a guiou até o vestiário. Ela afundou no banco duro na frente de seu armário e o abriu, em busca de roupas limpas. As que ela usava estavam sujas e suadas. Seu último exame fora um teste escrito sobre técnicas de vigilância e foi difícil se concentrar com sua exaustão cegante e com o cheiro de sua roupa... O teste anterior fora um percurso de cordas a céu aberto.


Ela quase gritou de alegria quando viu que no interior do armário havia uma bandeja com uma maçã, uma barra de cereal e um copo de suco. Ela já fazia os exames há um tempo que parecia anos e rapidamente aprendera o procedimento. Eles te davam o tanto de água quisesse, mas comida só quando queriam e nunca era o suficiente. Uma fome cortante logo se tornava uma companheira familiar, assim como a exaustão. Ela teve permissão pra dormir um total de dez horas em cochilos de duas num colchonete duro. Não sabia quantos dias tinham se passado desde o início. O tempo perdera todo o significado. Todos seus testes eram realizados ou do lado de dentro ou durante a noite e a desorientação distraia. Ela tinha a sensação que talvez estivesse perto do fim ou pelo menos rezava que sim. Não sabia quanto mais podia agüentar.


Avançou na comida como um lobo... Não havia como saber quando a bolha traria uma voz ordenando que fosse pra próxima rodada... E rapidamente se limpou com um pano molhado. Olhou pra seu rosto no espelho, uma estranha lhe olhando de volta. Círculos escuros sob seus olhos e várias equimoses e lacerações marcavam sua pele. Não tinha sido machucada com seriedade o bastante pra requerer assistência médica em nenhum de seus testes, pelo que se sentia com sorte, mas não havia nenhuma parte de seu corpo que não estivesse dolorida.


A descrição de Argo dos testes fora no mínimo caridosa. Hermione tinha decidido dias atrás que estava em algum tipo de inferno feito por ela própria. Cada exame era mais difícil que o anterior e cada um parecia mirar em uma área que conhecia menos ou experiência. Suas melhores matérias não foram representadas em suas avaliações. Era como se tivessem colocado um cano em seu cérebro e a obrigassem fazer as coisas que menos queria.


Não tinha visto nenhum de seus companheiros desde que se apresentara para os testes. Se Argo estivesse certa, muitos deles já tinham tomado banho e ido pra casa. Uma grande parte dela os invejava. Ela imaginou por um momento ficar deitada no grande sofá macio da sala de estar diante da lareira acesa, aninhada na segurança e amor dos braços de Harry. Harry. Fechou os olhos quando duas lagrimas escorreram por suas bochechas. Na atual circunstância o pensamento nele era tão maravilhoso e remoto que doía. Levou toda sua força de vontade pra não gritar "Eu desisto!" e correr pra fora do quartel general e nunca mais voltar, correr pra casa pras pessoas que a amavam sem se importar se ela era uma agente ou uma garçonete ou catadora de lixo.


Ela suspirou e levantou, cavando fundo atrás de alguma fonte de força que estava quase vazia. Posso fazer isso, pensou. Se eu puder fazer isso, posso fazer qualquer coisa.


-Granger – veio a voz da bolha. Nesses dias, tinha se tornado a voz da Morte, a voz do implacável. Eles, a voz dos examinadores e dos tormentadores. –Hora de ir.


Ela aquiesceu e seguiu a bolha pra fora do vestiário, segurando a garrafa de água como um talismã. Ela estava descendo um corredor que não parecia familiar. Ela não tinha nenhuma idéia de onde estava no quartel general, perdera totalmente o sentido de localização... Os corredores e espaço da DI que mudavam constantemente não ajudavam a situação. Não demorou muito até que a bolha parasse e piscasse pra desligar, indicando que ela estava lá, sem importar onde "lá" era. Parecia um lugar amplo, mas estava totalmente escuro.


As luzes se acenderam, fazendo-a apertar os olhos. Ela viu que estava de pé no meio do ginásio. O local familiar era um pouco assegurador, mas só Merlin sabia o que lhe esperava ali. Ela virou e deu um pulo quando viu a pessoa que estava atrás dela.


Era Harry. Todo seu corpo gritou de alegria ao vê-lo. –Harry! O que está fazendo aqui? Veio me dar um incentivo? Estou precisando.


Ela abriu os braços para envolvê-lo, mas ele deu um passo pra trás e ofereceu a mão. Ela parou bruscamente, franzindo a testa confusa, seu cérebro cansado incapaz de achar uma razão do porque o homem que regularmente a via nua a cumprimentar com um aperto de mão. Por falta de algo melhor pra fazer, ela esticou a própria mão e apertou a dele. –Dra. Granger – ele disse numa voz estranhamente formal. –Parabéns por ter chegado até aqui. Meu nome é Major Potter. Seja bem vinda a seu último teste.


Hermione recuou um pouco, estreitando os olhos, seu alívio por estar quase terminando encoberto pela confusão do comportamento de Harry. –Hã – ela começou, seu tom incerto. –Qual o teste?


-Eu. Eu sou o teste.


-Não entendo – ela não estava no clima pra charadas parecidas com a da esfinge.


Harry estava de pé com as mãos nas costas e seus olhos fixos nos dela, sua voz e seu jeito muito distantes e formais. –É muito simples. Nós lutamos. Eu venço, você reprova. Você vence, você passa.


Ela ficou de pé por um momento, de queixo caído. –Ah...


-Este teste durará exatamente uma hora. Se ao fim desse tempo eu estiver de pé, você repetirá e não poderá refazer o treinamento. É isso. Deixe-me no chão e você passa. Perca, e nunca voltará. – ele começou a andar num pequeno circulo em volta dela. –Que não haja nenhum mal entendido. Eu não te conheço. Não sou seu professor nem seu amigo. Não me importo se você passar e não me importo nenhum pouco com você. Farei tudo o que eu puder para deixar sua tarefa o mais difícil possível. Não espere nenhuma misericórdia, porque não terá nenhuma de seu inimigo.


Hermione ficou estremecida por suas palavras, mas fazia um pouco de sentido. –Certo, mas... Prometa que não usará nenhum poder Mage.


-Não prometerei nada desse tipo. Você não sabe que tipo de habilidades seu oponente terá. Pode se encontrar em muita desvantagem. Eles não vão se importar e nem eu. – ele olhou pra cima para a câmara de observação. –Feitiços de proteção desfeitos – ordenou.


Hermione suspirou. Estavam treinando sem os feitiços de proteção nas aulas de Nix de combate físico há vários meses, mas isso, pra todas intenções e propósitos, uma luta até a morte. –Isso vai doer, não é?


Ela achou que o viu fazer uma pequena careta, mas então a mesma expressão desligada tomou conta de seu rosto novamente. –Estamos testando sua habilidade de se defender em situações de grande estresse. A dor é parte do processo. Se puder fazer isso com sucesso aqui, então suas chances de ser morta no campo são reduzidas e é isso que nos importa. Você vai ter que me machucar. Eu vou ter que te machucar. Nada que a enfermaria não conserte em dois minutos.


Ela concordou. Era a mesma história do treino de combate. Ela perdera as contas de olhos roxos, torções, equimoses, e até mesmo ossos quebrados que conseguira nos treinamentos... Mas com as maravilhas da medicina bruxa, elas sempre saia do treinamento tão saudável quanto na hora que chegara. –Sabe que não posso te vencer. Você é maior, mais forte e tem mais treinamento. Isso não é justo.


-Isso não é pra ser justo. Se fosse pra ser justo, jogaríamos uma moeda pra escolher o vencedor. – ele suspirou. –E sobre me vencer, claro que não vai. Não enquanto acreditar que não pode. – deu alguns passos na direção dela. –Acha que a vitória em uma luta como essa tem a ver com massa muscular? Pense de novo. Você não luta aqui – ele disse, dando um murro na palma de sua mão. –Você luta aqui –pressionou o dedo em sua testa. –Agora vamos começar antes que eu me perca totalmente nesse discurso "Yoda".


Esse pequeno pedaço de Harry a fez se sentir melhor. –Certo. Vamos lá.




Os espectadores na sala olhavam em silêncio enquanto uma batalha furiosa se desenrolava lá embaixo. –Uau – Remo disse baixo. –Ela realmente está indo com tudo.


-E precisa – Argo disse. –Ela sabe o que estamos testando aqui. Não é sua habilidade de dar ganchos é sua habilidade de desligar suas emoções em situações criticas. – Todos fizeram uma careta quando Hermione foi derrubada no chão.


Henry suspirou. –Isso está matando ele.


-Ele é um profissional.


-Ele também é um ser humano, sendo forçado a bater em sua futura mulher.


-E ela está respondendo à altura - Napoleon murmurou. Hermione pulou de pé novamente e avançou nele, jogando os pés numa rápida sucessão contra seu estômago e depois em seu queixo. Ele voou pra trás e caiu no chão, rolando pra trás e ficando de pé. Escorria sangue do lábio superior de Hermione, seu rosto paralisado numa expressão séria. Eles viram os olhos dela se desviarem um segundo pro grande relógio que marcava o tempo restante... Vinte e cinco minutos. Provavelmente parecia uma eternidade do lugar onde estava. Harry a atacou antes que ela pudesse pegar sua varinha, não que isso fosse ajudá-la muito. Ela tentara alguns feitiços no inicio da luta, mas as habilidades Mage dele de bloquear ou desarmar a maioria dos feitiços diminuía muito sua eficácia.


-Ele disse a ela que esse era seu último exame? – Lefty perguntou.


-Sim.


-Então ela acha que está quase acabando?


Napoleon franziu a testa. –O que falta?


-Argo suspirou. Só o teste psicológico. – Ela olhou pra Lefty. –Ainda não sei se aprovo o seu cenário.


-Confie em mim, é apropriado.


-Está tudo no lugar?


-Pronto e esperando.


Um silêncio caiu, pontuado pelos resmungos e gritos do ginásio sob eles. Faltando cinco minutos, Harry não mostrava sinal algum de estar cansando, mas Hermione parecia estar se segurando de pé por pura teimosia. Os dois suavam, mas nenhum deles parecia pronto a desistir. Um corte sobre o olho esquerdo dela sangrava sobre o rosto, e um dos olhos de Harry já estava inchando.


Os dois ficaram se encarando por um momento, se movimentando sobre o peito do pé e se olhando sérios. Harry avançou e jogou um punho contra ela. Hermione desviou, segurou o braço dele e deu joelhadas em rápida sucessão contra o rim dele. Ele escapou, torcendo o braço dela atrás de suas costas e a jogou por cima de seus quadris. Ela levantou e todos a viram ranger os dentes. Ela plantou o pé na parte de baixo da perna dele, enganchou seu outro pé em volta do tornozelo e se jogou no chão, empurrando o pé que segurava a perna dele em direção ao chão.


Todos franziram o rosto quando ouviram o osso quebrar. Harry segurou um grito atrás dos dentes cerrados e apoiou as costas no chão quando Hermione se desenganchou dele e se afastou. Ele se apoiou nos cotoveles, seu rosto branco e molhado. –Ah... maldição dos infernos – ele disse pelos dentes cerrados.


Hermione não disse nada. Caiu no chão e puxou os joelhos contra o peito. Ficou sentada em silêncio, o queixo sobre os joelhos, enquanto o tempo restante passava. Harry afundou novamente no chão, com cuidado pra não mexer a perna.


Os cinco minutos restantes do teste passaram numa lerdeza torturante. Hermione envolveu os braços ao redor das pernas e olhou pra ele, sem ligar para o sangue escorrendo nos olhos. Harry ficou deitado quieto com os olhos fechados com força, respirando devagar e regularmente. Depois de um tempo passado, estendeu cegamente a mão na direção dela. Hermione hesitou, mas depois se esticou e segurou seus dedos. Ficaram sentados desse jeito até que o tempo acabou e a buzina soou muito alto no ginásio vazio.




Napoleon abriu a porta para o quarto temporário e guiou Hermione lá pra dentro. Ela se arrastava atrás dele, tão exausta que ela sentia como se seu cérebro flutuasse em algum lugar acima de sua cabeça. –Senta aí, amor.


Ela se arrastou até o sofá e se jogou, a maciez dele parecendo os braços do paraíso. Ela colocou as mãos sobre o rosto. –Ele vai ficar bem?


-Claro. Eu o vi antes de ir buscar você. Já consertaram a perna dele, só vai ter que ir com calma um dia mais ou menos. – ele sentou na beira do sofá. –Onde aprendeu aquele golpe? Nunca o vi antes.


Ela lhe deu um fraco sorriso. –Inventei


Ele assoviou. –Uau. Assustador.


Um suspiro longo e trêmulo saiu de seu peito. –Não acredito que o machuquei.


-Parte do teste. Ele faria a mesma coisa se tivesse a mesma chance.


-Acabou de verdade? – ele fez que sim. –Eu passei?


Napoleon sorriu e deu tapinhas em sua perna. –Apenas relaxe. Alguém vai vir falar com você em breve. A pior parte passou. Está fora de suas mãos.


-Graças a Deus.


Ele levantou pra sair, mas Hermione o segurou. –Se você vir Harry, diga a ele... – ela ia falar "diga a ele que lamento", mas isso não parecia muito sincero. Ela fizera o que era necessário dela. Ela não gostou do que isso envolveu, mas não estava exatamente lamentando. –Só diga que eu o amo.


Ele apertou sua mão. –Farei isso.


Ela olhou a porta se fechar atrás dele e se deitou novamente nas almofadas, a tensão e a fadiga saindo de seu corpo. O barulho da perna de Harry se quebrando passava várias e várias vezes em sua cabeça até que ela achou que ia enlouquecer. O grito de dor dele e como ela sentiu isso sob seu pé... Ela tremeu e levantou, balançando a cabeça como se esperasse se livrar dessa lembrança para sempre.


Vasculhou a despensa em busca de um chá e encontrou, sem muita surpresa, um grande suprimento de seu tipo favorito. Colocou na água quente e foi pro quarto tomar um banho.


Já tinha soltado o cabelo do rabo-de-cavalo quando uma grande bolha prateada apareceu diante de seus olhos. Ficou tensa na mesma hora, porque essa era a bolha da DI. A bolha que fazia anúncios, que dava alertas... A voz remota do próprio prédio.


Por uma fração de segundo esperou que fosse somente um anuncio ou alguém recebendo um recado, sabendo que não teria essa sorte, e realmente não teve.


-ALERTA. CÓDIGO VERDDE. ALERTA DE INTRUSO. TODOS AGENTES PARA POSIÇÃO DE SEGURANÇA. ISSO NÃO É UM TREINAMENTO. ALERTA DE INTRUSO. ALERTA. CÓDIGO VERDE. – isso não era bom. Um código verde era uma invasão em massa. Sentiu um ataque de pânico momentâneo, por estar sozinha em seu quarto temporário apenas com a idéia acadêmica do que fazer nesse tipo de crise... Mas não se deu ao luxo de ficar parada.


Pegou sua varinha, colocando-a no coldre enquanto corria pra fora do quarto. –Nossa, isso ganha o prêmio de Pior Hora de todos os tempos. –Bolha! – sua própria bolha apareceu, conseguindo parecer ansiosa. –Estação 13 – ela rosnou. Essa era sua estação designada em caso de emergência.


-ATENÇÃO. ISSO NÃO É UM TREINAMENTO. CÓDIGO VERDE. ALERTA DE INTRUSOS. AGENTES PARA POSIÇÃO DE SEGURANÇA. MODO DE SEGURANÇA INICIADO.


Ela passou por figuras sombrias pelos corredores, se apressando pra todos lados. As luzes foram diminuídas e todas portas seladas automaticamente pelo modo de segurança. Podia ouvir, em algum lugar distante, o barulho de luta. Azaraçõe sendo lançadas e gritos... Parou bruscamente e inclinou a cabeça, ouvindo. De repente, uma figura em vestes negras passou por ela. Hermione observou enquanto se afastava; não era um de seus colegas. Bruxos da DI não costumavam usar vestes com capuz e que iam até o chão para trabalhar. Ela olhou pra trás em direção à confusão que a interrompera. Vinha da direita e teve a impressão de ouvir vozes familiares.


De repente o corredor mudou e ela estava muito mais próxima da briga. As luzes vindas das varinhas ricocheteavam nas paredes produziam grandes sombras. Depois de um momento de hesitação correu na direção do som, ignorando suas ordens atuais de ir para a Estação 13 em caso de emergência.


Ela deu a volta em uma esquina que finalizava um grande corredor e sem aviso entrou no lugar aberto cheio de caos. Parecia o centro de treinamento, mas não tinha certeza. Num flash, viu tudo. Dezenas de agentes, seus uniformes negros todos bagunçados, estavam ajoelhados subjugados no chão, em um canto e vigiados por uma figura ameaçadora. Vestes negras passavam aqui e ali lutando contra agentes que ainda estavam de pé. Um homem alto estava mais à frente, dando ordens.


Enquanto olhava, mais bruxos do Círculo (pois não podiam ser outra coisa) arrastavam agentes que lutavam dos corredores. Sua mente disparou. Como se infiltraram tão rápido? Deviam ter alguém lá dentro. Conseguiram bolhas para ajudá-los a localizar pessoas chave.


O prédio tremeu como se tivesse acontecido uma explosão e todas tochas se apagaram. As chamas de emergência ganharam vida perto do teto. Muito surpresa pra se mexer, Hermione foi pega por trás e rudemente jogada pelo cômodo. Ela se sentiu bater contra os agentes reunidos como uma bola de boliche que bate contra os pinos e antes de poder se recompor estava sendo forçada sobre os joelhos e algemada. Levantou os olhos a tempo de ver uma mulher em vestes negras avançar e jogar alguma coisa aos pés do líder... Um suspiro de surpresa se espalhou quando viram o corpo sangrento de Argo. –A líder deles – a mulher disse.


O homem alto se virou pro grupo de bruxos e ela viu com um horror crescente que era Lúcio Malfoy. Imediatamente sua mente se encheu de ódio ao perceber que Draco devia tê-lo colocado lá dentro. Maldito Malfoy, eu devia saber, pensou. Ele nos enganou com aquele grande espetáculo sobre recuperação.


Hermione olhou em volta para o semi-círculo de agentes, todos desarmados e muitos seriamente machucados. Conseguiu ver rapidamente os cabelos espetados de Napoleon do outro lado do grupo... Ele a olhava intensamente. –Onde está Potter? – Malfoy perguntou a um bruxo a seu lado.


-Desaparecido. Mas achamos o lobisomem. Ele morreu bem.


Hermione engasgou com um soluço ao pensar em Lupin, seu querido amigo e mentor, tão sinistramente executado. Ela podia ver uma sensação familiar nos rostos dos agentes perto dela. Desviou os olhos enquanto o olhar de Malfoy passava, sem querer ser reconhecida. Se eles encontrassem Harry poderiam usá-la contra ele.


Malfoy encarou o grupo. –Quem é o oficial superior aqui? – Hermione olhou em volta. Não viu nenhum chefe das divisões presentes. Provavelmente foram os primeiros caçados... Sua mente se afastou da idéia de Harry sendo perseguido e morto. Pense, Hermione, disse a si mesma... Mas parecia completamente sem saída. Estavam em menor número a pelo menos três pra um. Pânico se espalhava e impregnava nos cantos de sua mente, mas ela estava no modo de reação. Aconteceu tão rápido, como isso era possível?


-Acho que sou eu, cara – disse Napoleon.


-E seu nome, senhor?


-Não precisa saber. Sou tenente e vice chefe da CIOS.


Os lábios de Malfoy formaram um sorriso irônico. –Então. Você é o braço direito do ilustre sr. Potter, não é? Que ótimo. – ele avançou e puxou Napoleon de pé. –Onde poderemos encontrar seu chefe? Ele nos despistou muito eficientemente.


-O que te faz achar que eu sei?


-Você sabe de algo.


-Desculpe, cara. Vai ter que me matar.


Malfoy deu os ombros. –Certo – então, casualmente como se estivesse esmagando uma mosca, ele puxou uma espada e decepou a cabeça de Napoleon. Ela rolou pelo chão e seu corpo despencou, sangue escorrendo pelo pescoço.


Hermione fechou os olhos com força e apertou os lábios com força pra bloquear o grito que emergiu de sua garganta como um ser vivo. Ah, Deus, Napoleon. Ah não, não, não, seu cérebro repetia.


-Lúcio! – uma voz chamou do outro lado da sala. Todos viraram a tempo de ver um grupo de bruxos do círculo entrando... Arrastando Harry entre eles. Os outros começaram a bater palmas e dar parabéns. Harry parecia furioso e um pouco constrangido. Sua expressão ficou mais tensa quando a viu de joelhos no chão.


-Ah, Potter. Que bom te ver aqui.


-O prazer é todo seu, Lúcio.


-Fico feliz em te informar que tenho toda intenção de te matar, entretanto, tenho que matar alguns de seus agentes primeiro, pra você poder assistir. O problema que enfrento agora é como escolher quais? – virou e olhou para o grupo, andando diante deles como um sargento de treinamento. Hermione olhou para o chão quando ele passou, rezando que ele... Mas ele parou logo depois de passar e voltou. Ajoelhou-se no chão diante dela e puxou sua cabeça pra cima. Pequenos risos viram de sua garganta. -Cada vez melhor – ele a puxou pra que ficasse de pé. –Srta. Granger, estamos honrados de ter em nosso meio alguém com a tríplice coroa de Hogwarts. Ouso dizer que é uma trainee aqui, estou certo? – olhou pra Harry. –Quanta dor te daria, Potter, me ver torturar esta mulher? Ou talvez eu devesse brincar com ela primeiro. Como isso seria, hã? – Harry estava sem fala. –Intrigante. Não, espere. Entediante. Eu tenho uma idéia melhor.


Ele virou Hermione para que ficasse de frente para os agentes. –Alguns desses agentes vão morrer, srta. Granger.


-Dra. Granger – ela rosnou.


-Muito bem. Alguns vão morrer, Dra. Granger. Quantos, eu acho, vai depender de você. Sua lendária inteligência vai determinar seus destinos – virou para seus bruxos. –Que tal um pequeno desafio, camaradas? – eles aplaudiram. –Então vamos ver se sua reputação representa a realidade de fato – ele deu um passo para trás, deixando-a sozinha no meio da sala. Graças a Deus ela não podia ver o rosto de Harry. Isso seria distração demais. –Vou fazer uma pergunta qualquer. Se responder corretamente, um agente poderá viver e vir conosco como prisioneiro. Se responder incorretamente, um morrerá. De acordo?


Ela aquiesceu, apesar de duvidar que Lúcio fosse de fato seguir essas regras ridículas... Entretanto, ele tinha um estranho senso de honra com esse tipo de coisa. Ser um prisioneiro do Círculo certamente não seria nenhum piquenique, mas era melhor do que estar morto. E mesmo assim, ela tinha outras idéias.


-Podemos começar então? Certo. Primeira pergunta: qual a cor de minha cueca?


O sangue de Hermione esfriou. Como ela poderia saber? –Branca?


-Errado. São pretas. Achei que pudesse prever isso. – ele avançou e antes mesmo que pudesse ver o que estava fazendo, outra cabeça rolava pelo chão. Ela fechou os olhos e tentou não ficar olhando. –Segunda pergunta. Esse amigo, aqui. Qual o nome dele?


-Nigel.


-Errado. É Roland. – outra cabeça rolando. Ele apenas iria continuar a fazer perguntas que ela não poderia saber a resposta. Nunca devia ter concordado com isso, pensou... Não que tivesse muitas outras opções. –Terceira pergunta. Quantos garotos havia no meu dormitório em Hogwarts?


-Quatro. – O pânico estava achando um lugar confortável em seu estômago. Ela estava matando agentes a cada pergunta errada.


-Desculpe, três. – Chop.


-Pergunta número...


-Posso fazer uma pergunta? – ela interrogou.


Lúcio parou, surpreso. –Acho que posso permitir isso. – ele se aproximou. –E qual é?


Ela sorriu pra ele e levantou as mãos diante dela, livre das algemas que ela acabara de tirar. –Pode voar? – o queixo dele caiu, mas antes que pudesse reagir, ela tinha a varinha apontada pra ele. –Vingardium Leviosa! –gritou, e nada aconteceu.


Lúcio ficou parado lá, sorrindo. Hermione, completamente chocada, tentou novamente e teve um resultado similar.


-Muito bom, Dra. Granger – ele disse. Mas não era sua voz. Essa voz era de... Uma mulher americana.


Lúcio de repente derreteu como se fosse feito de cera. Os olhos de Hermione saltaram das órbitas quando toda sala derreteu. Os agentes, o sangue, os bruxos do círculo... Em segundos tudo desapareceu.


Hermione ficou olhando pra Argo, muito viva e bem, em pé ali onde logo antes Lúcio estava. Ela ficou de queixo caído olhando o centro de treinamento, parecendo muito normal e nem um pouco sob ataque. –Ah, maldição – ela respirou. –Foi um teste, então?


O alívio da irrealidade de tudo aquilo foi o suficiente para deixá-la de cabeça leve. Sentiu mãos fortes guiando-a até um banco e depois a voz de Harry a seu lado, seus braços em volta dela enquanto se sentava ao seu lado. –O último teste. De verdade, dessa vez.


Ela olhou pra ele, abençoadamente inteiro e depois pra Napoleon, completo com a cabeça. Ela esticou o braço e segurou sua mão. –Ah, graças a Deus. –disse.


Lupin se abaixou diante dela. –Cada agente novo deve passar pelo que chamamos "teste psicológico" no qual os fazemos enfrentar seu pior medo e depois... bem, vemos o que eles fazem. No seu caso, te forçamos a enfrentar uma situação onde não sabia as respostas quando era muito importante. – ele sorriu pra ela. –Como nos saímos em descobrir seu medo?


Ela deu uma risada aliviada. –Ah, na mosca.


-Bem, devo dizer que você não poderia ter se saído melhor. Manteve a cabeça no lugar numa situação horrivelmente estressante e conseguiu fazer uma surpresa que ninguém previu. Como conseguiu uma varinha aqui dentro?


-Bem, no evento de um código verde, todos agentes devem colocar suas varinhas num coldre escondido. Procedimento de Operação Padrão, seção 3.4, parágrafo 2. - Ela levantou um pouco a camisa para que pudessem ver o fino suporte de nylon debaixo de sua roupa. –E.. Bem, uma chave-mestra é algo que a gente não deve esquecer em casa, certo? – ela apontou pro pequeno espaço em sua varinha onde podia colocar uma pequena chave mestra. –Eu consegui colocar Lúcio na minha frente, bem como a maioria de seus bruxos, porque eles queriam ver minha expressão. Então abri a fechadura da algema. Fácil.


Os outros se olhavam impressionados. –Eu diria que ela passou. – Argo disse.


-Ah, sim. Fogos de artifício estão estourando por todos lados. – Napoleon completou.


Argo ficou em frente a ela. –Por favor, levante, Dra. Granger. – ela assim o fez. –Hermione Granger, é meu prazer te informar que passou em todos exames finais e satisfez todos requisitos pra ser admitida na Divisão. Assim eu te concedo a patente de Tenente nas Forças Executoras da Federação, imediatamente efetiva e te confiro o status agente em tempo integral da Divisão de Inteligência. Bem vinda ao time – apertou a mão de Hermione. –Claro, a cerimônia oficial de formatura será semana que vem, mas é uma oficial a partir de agora. Parabéns.


Hermione sorriu. –Obrigada Argo – ela balançava sua mão pra cima e pra baixo com vigor. –Muito obrigada!


-Por nada – Argo sorriu de volta, se divertindo, e puxou a mão com certa dificuldade. Ela virou e saiu do recinto, deixando os outros para celebrar.




Harry parou o carro de Hermione e desligou a chave. Pegou a mochila dela do banco de trás e deu a volta no lado do passageiro onde Hermione estava sentada e dormindo. Ele se inclinou e passou um braço em volta da cintura dela. –Vem cá, amor, estamos em casa. – sonolenta, ela saiu do carro, se apoiando contra ele.


-Tão cansada...


-Pode andar?


-Ah, claro...


Ele olhou pra ela, se arrastando e com a maior parte do peso apoiada no braço dele. –Bem, você não vai. –murmurou. Jogou a mochila por cima do ombro, se curvou e a carregou. Ela relaxou imediatamente contra o ombro dele, os dois braços em volta do pescoço dele.


Justino abriu a porta enquanto Harry se aproximava. Todos estavam reunidos no vestíbulo... Eles deviam estar esperando, Harry pensou. –Bem? Como foi? – Justino sussurrou.


-Minha nossa – Laura disse, avançando e colocando uma mão sobre o ombro de Hermione. –Ela está parecendo um inferno.


-Bem, ela passou por um inferno. Mas ela passou, sem problema. Só vou levá-la lá pra cima – ele tirou a mochila do ombro e Jorge a pegou, levou-a até a base das escadas. Antes de chegar até o primeiro degrau, levitou um pouco do chão e saiu flutuando suavemente, levando uma Hermione exausta em seus braços. Laura seguia de uma forma mais convencional.


Jorge entregou a mochila dela pra Justino. –Aqui, desfaça essa mala e coloque as roupas na máquina.


-O que você vai fazer?


-O que sempre faço. Cozinhar um grande jantar pra quando ela acordar.




Harry deitou Hermione na cama e tirou seus sapatos enquanto Laura pegava uma camisola do armário. Hermione estava mole como uma boneca de pano enquanto Harry a sentava e tirava suas roupas sujas e suadas. Laura colocou a camisola por cima de sua cabeça e puxou as cobertas pra cima dela. –Ela vai se sentir nojenta quando acordar – ela comentou. –Acha que devemos fazê-la tomar um banho?


Ele balançou a cabeça. –Pelo que me lembro dessa experiência, devemos deixá-la dormir por um tempo muito longo.


Laura olhou pra ele do outro lado da cama. –Ela fez isso por você, não foi?


Ele fez que sim, prendendo as cobertas em volta dela. Ela imediatamente se curvou ao redor do travesseiro e virou de lado. Harry tirou uma mecha de cabelo da testa dela e sentou ao lado dela na cama. –Sim, ela fez sim, só que não sabia porque eu estava tão cansado e abatido. Abençoada seja, não fez nenhuma pergunta. Me colocou na cama e puxou minhas cobertas e quando acordei ela estava lá com um chá e comida e suas palavras gentis e seu rosto doce... – ele divagou, com um suspiro. –Por Deus, acho que estava cego, surdo e colossalmente estúpido.


Laura sorriu. –Nós humanos somos um bando de babacas. Queremos o que não podemos ter, sentimos falta do que está bem embaixo no nosso nariz e compramos sapato plataforma por impulso, mesmo sabendo que nunca vamos usá-lo mais de uma vez.


Harry concordou, sorrindo e depois olhou pro rosto de Laura. –Acho que nunca te agradeci, Laura... Por ter sido amiga dela durante... Bem, você sabe.


-Não é necessário. Não fiz por você, sabe. Na verdade, muitos dias eu te amaldiçoei por ver o que isso estava fazendo com ela todo dia. Ela é minha amiga, provavelmente a melhor que já tive. Ela me viu em noites de depressão suficiente quando sinto saudades de Sorry, só estava equilibrando um pouco a balança.


Harry levantou. –Bem, é melhor deixá-la dormir. – ele se inclinou e deu um beijo na bochecha de Hermione pra depois seguir Laura pra fora do quarto, fechando a porta atrás dele.


-Então... Ela se saiu bem nos testes? – Laura perguntou enquanto desciam as escadas.


Harry sorriu. –Ela foi esplendida. Ainda não sabe disso, mas vai se formar como primeira da turma.


-Olha só você. Tão orgulhoso.


Ele corou um pouco. –Acho que estou.


Eles desceram as escadas e então começaram o procedimento de irritar Jorge no fogão, provando a comida e brincando com os ingredientes. Os quatro (presentes e acordados) moradores da casa finalmente se reuniram pra fazer uma refeição improvisada, que consistia de pão caseiro feito por Jorge e vários tipos de recheio para sanduíches.


Durante a noite, cada um foi pra seu lado. Harry queria adiantar um trabalho que vinha negligenciando, mas não conseguia concentrar. Finalmente desistiu e subiu as escadas até o Cloister, onde a encontrou dormindo profundamente de lado, na mesma posição que a deixara.


Harry tirou os sapatos e deitou atrás dela por cima das cobertas. Passou o braço por ela e a puxou mais pra perto, agradecendo silenciosamente ela ter saído dos exames ilesa. Ficou deitado e sentiu o peito dela se expandir sob seu braço enquanto ela respirava profunda e regularmente até que também caiu no sono.




A primeira vez que Hermione acordou, não foi por opção. Ao invés disso, foi tirada de um sono profundo por rápidos movimentos atrás dela.


Sentou, olhando a sua volta, desorientada. Harry estava deitado atrás dela com um braço sobre sua cintura, mas não dormia pacificamente. Ele se revirava e contorcia, a cabeça indo de um lado para o outro. Murmurava alguma coisa que ela não conseguia entender.


-Harry – sussurrou, balançando seus ombros. –Querido, acorde. Harry!


Ele não respondeu, mas seus movimentos ficaram mais agitados. –Hun... mmff – não conseguia entender. –Termina... – ela se inclinou mais perto, tentando escutar o que ele dizia. –Nunca termina. – ele murmurou. –Termina... mmph... Nunca termina... nunca termina! – ele gritou de repente, impulsionando o corpo quase até sentar. Hermione deu um pulo pra trás, assustada. Ele não acordou, voltou a deitar e parecia relaxar num sono mais tranqüilo.


Hermione respirou aliviada e intrigada. Harry geralmente dormia quieto e raramente tinha pesadelos barulhentos... E o que ele disse parecia meio assustador. Dava-lhe arrepios, pra falar a verdade. Ela esperou, mas ele não se mexeu de novo. Ela sentiu o sono tomando conta de si novamente e então se forçou a relaxar e se encaixar entre os travesseiros e cobertas. Se aninhou mais perto de Harry, se sentindo protetora de repente, e passaram vários minutos antes que conseguisse dormir novamente.

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