Capítulo 4: Não tema a morte



Harry suspirou, olhando pro céu de vidro do Cloister e vendo o céu rosado sobre ele, ficando mais claro enquanto ele olhava. Hermione ainda dormia, aninhada bem perto dele com a cabeça em seu ombro e um braço por cima de seu peito. Ele a abraçava suavemente, sem querer acordá-la do que parecia ser um sono bem profundo e bem vindo. Ele olhou o amanhecer avançando, desejando poder interromper o nascer do sol apenas com sua força de vontade. Ele adiava a chegada da manhã e suas promessas de exames, cutucões e investigações e tantos feitiços que ele nunca mais tiraria o cheio de enxofre de seu cabelo.


Hermione se mexeu, fazendo pequenos barulhos de despertar que o deixavam todo aquecido por dentro. Ela levantou a cabeça e olhou para rosto dele por baixo de sonolentas pálpebras. –Ah, é você – ela sussurrou, um sorriso aparecendo em seu rosto.


-É, sou eu.


Ela olhou em seus olhos, seus dedos desenhando pequenos círculos no peito dele. –É maravilhoso acordar a seu lado.


Olhou-a nos olhos enquanto ela se inclinava sobre ele, que passava a mão pelas costas dela. – Se divertiu ontem à noite? –perguntou, um sorriso maroto nos roso.


Ela riu. –Meus elogios para o chefe – de repente, ele sentiu os dedos dela escorregando por baixo dos lençóis e o envolvendo...Ele lutou para manter uma expressão calma com a mão dela numa posição que podia alterar todo seu futuro reprodutivo. Não era fácil.


- Hum... – ele disse, picando inocentemente. –Posso te ajudar com alguma coisa?


-Com certeza parece quem sim – murmurou, rolando pra cima dele e selando seus lábios nos dele. Cercado pela cortina escura do cabelo dela, não podia ver nada, só podia sentir os lábios e o calor de sua pele contra a dele. Ele a envolveu com seus braços e rolou os dois numa mistura de pernas e lençóis até que tivessem trocado de lugar. Ele fez um caminho de beijos por seu pescoço e na parte de cima de seu peito. –Hum... Harry – ela sussurrou, seus dedos enlaçados no cabelo dele.


-Às vezes acho que estou escandalosamente apaixonado por você – ele murmurou contra a pele do pescoço dela.


Ela puxou o rosto dele contra o seu de novo. –Aposto... Que diz isso... a todas – falou entre os beijou.


-Não, só pra você – ele disse. Os dois estavam começando a ofegar. As mãos dela foram pras costas dele enquanto ele se posicionava sobre ela, que enroscava uma perna no quadril dele...


Bem, eu te diria mais, mas não seria educado.




Hermione desceu as escadas do fundo até a cozinha, colocando os brincos enquanto descia. –Bom dia – disse pra Laura e Justino; Jorge estava no fogão. Napoleon estava sentado à esquerda de Laura, enfiando aveia na boca de mau humor. Sirius e Lupin não estavam à vista, mas os três agentes da divisão de Remo estavam sentados à mesa também. Cho não pudera ficar, Hermione imaginava que ela tivesse voltado a se reunir com seu time.


-Bem, olha quem está só sorrisos esta manhã! – Justino brincou. –Parece que alguém teve uma noite prazerosa. – Hermione corou, mas não negou. –E onde está o Sr. Garanhão?


Ela sentou à mesa, dando um tapa no ombro de Justino. –Está no chuveiro, vai descer daqui a pouco.


Laura lhe passou um prato de torradas. –Quando vocês têm que sair?


Hermione ficou séria, pegando uma faca e a geléia, fazendo careta pro creme de vegetais que Laura tentava empurrar na direção dela. –Logo depois do café


-Quanto tempo isso tudo vai demorar?


-Queria saber. Talvez um dia, talvez uma semana. – ela olhou pra Lupin.


-Esse não é tipo de coisa que ocorre todo mês – ele disse. –Não há o que se poderia chamar de procedimento operacional padrão.


-Vai ficar lá com ele?


-O que, está brincando comigo? Claro que vou! – Hermione disse. Napoleon levantou abruptamente e jogou sua tigela na pia e depois saiu da cozinha. Hermione o olhou saindo, sentindo um aperto, mas mais ninguém pareceu notar a agitação dele.


Jorge virou do fogão e colocou um prato de panquecas. –Queria poder ir também, sabe. Pra dar apoio moral.


-Vai estar com a gente em espírito – Hermione disse, se servindo de suco.


-Então o que vão fazer com ele?


Hermione suspirou. –Bem, imagino que vai haver um exame médico. Depois vão tentar quebrar o feitiço da memória. Podem tentar hipnotizá-lo e tentar chegar à verdade desse jeito. Vão fazer muitos testes e perguntar muitas coisas. Podem até usar feitiços da verdade. Vão fazer o que for preciso pra descobrir o que aconteceu com ele.


-Parece adorável – Justino resmungou.


Eles ouviram passos na escada e Harry entrou, cabelos molhados, colocando uma camisa cinza de gola alta por cima da camisa branca. –Bom dia a todos – disse, levantando a cabeça em cumprimento. Hermione sorriu pra ele, maravilhada novamente só de vê-lo. Ele se inclinou sobre ela e a beijou, sentando a seu lado. Ela puxou a cadeira dela um pouco mais pra perto da dele, sua mera presença a atraindo como um ímã. Harry colocou algumas panquecas em seu prato e pegou uma tigela com ovos fritos. –Nossa, estou faminto.


-Hum... Aposto que alguém teve um ótimo exercício hoje – Laura disse distraída, piscando pra Hermione.


-Não posso confirmar ou negar essa teoria – Harry disse, sorrindo maroto. Sirius sorriu, balançando a cabeça.


Justino olhou pra Harry por um momento e depois deu um largo sorriso e bateu palmas como uma líder de torcida. –Yay! – ele gritou. –Harry está em casa! Feliz dia do Harry!


Jorge arqueou uma sobrancelha, rindo da alegria exagerada de Justino.-Sabe, às vezes acho que você apenas se aproveita de sua viadagem.


Justino deu de ombros. –Não descarte a alternativa até ter tentando, garoto Jorge.


-Em seus sonhos, princesa encantada.


-Ah, voltem pra seus canis, vocês dois – Laura brigou com eles. –Parecem dois rabugentos num salão de beleza.


-Querida, lembra de quando estávamos falando sobre voltar a morar em Londres? Vamos falar sobre isso de novo. – Harry disse pra Hermione, piscando.


-Não podem voltar pra Londres, quem me forneceria subsidio infinito pra eu dar minhas respostas sagazes?


-Ah, Justino. Você poderia dar respostas sagazes para o sofá da sala. – Hermione disse. Ela colocou a mão no peito e revirou os olhos na direção do céu, numa imitação assustadoramente igual de Justino. –Querida, temos que discutir esse forro. Quantas vezes tenho de dizer que verde-mar não é a sua cor? Amigos não deixam amigos usar fibra sintética estampada, sabe. Quer dizer, de verdade... É tão Margaret Thatcher – quando ela terminou todos à mesa seguravam a barriga de tanto rir.


Hermione sorriu pra seus amigos, se sentindo total e completamente em paz aqui nessa casa e nessa cozinha e nesse oásis de normalidade que ela sabia que logo seria desfeito pela rude intromissão da realidade, uma realidade que já estava presente na forma das pessoas não convidas à mesa. Harry estava sentando a seu lado, comendo e conversando e completamente real, e por mais que ela tentasse, não conseguia parar de sorrir.


Mas isso não durou. O café da manhã logo foi consumido e era hora de todos voltarem a suas vidas profissionais. Depois de limparem tudo, Laura buscou sua capa e pasta, parando pra dar um abraço em Harry e sussurrar palavras de encorajamento no ouvido de Hermione antes de ir trabalhar. Justino estava calado, diferente do costume, enquanto dava tchau a eles e Jorge desapareceu em sua sala de trabalho sem dizer uma palavra, deixando apenas um vestíbulo cheio de espiões e um vice-chanceler muito desconfortável.


Harry foi quem finalmente falou. –Bem, vocês querem que eu estique meus punhos pra colocar as algemas? Podem colocar fita adesiva na minha boca se quiserem, fiz a barba hoje de manhã.


Lupin sorriu. –Hã, não é necessário. Só vamos te levar até o quartel general. Eles vão colocar as algemas em você.


-Certo então. Vamos. Estou pronto – Hermione segurou sua mão enquanto passavam pela porta da frente e continuou segurando-a com força enquanto aparatavam do jardim da frente, se perguntando que tipo de recepção teriam na DI, um lugar que ela começava a pensar como sua segunda casa.




Duas horas depois, alguém bateu à porta do escritório novo de Hermione. Agora que se aproximava do fim do período de treinamento (faria os exames finais no meio de março, em menos de seis semanas) ganhou uma sala própria onde desempenharia sua função na divisão de Isobel, A Vigilância e Captação de Informação.


Ao chegar no quartel general, Harry foi acompanhado por Argo, que estava esperando por eles no ponto de segurança, que felizmente não estava vigiada pelos guardas troncudos. Por falta de coisa melhor pra fazer, ela foi pra sua nova sala onde sentou na sua cadeira de couro e ficou olhando pras paredes brancas, pensando na falta de interferências.


Até agora, e a batida na porta. –Entre – ela disse. A porta abriu e Napoleon entrou, seguindo por um homem moreno com vestimenta médica.


Hermione sentou direito, seu coração dando um pulo ao ver esse visitante. Até mesmo Napoleon, que estava tão reto quanto o cabelo do príncipe Phillip, olhava pra ele admirado.


Esse era o chefe da sala médica da DI, Dr. Sukesh Subramaniam, que todos concordavam ser o organismo vivo mais lindo do planeta, talvez da galáxia. Nenhuma mulher, homem, criança, cachorro ou criatura mágica com sentimentos conseguia suportar sua presença sem se sentir ao mesmo um frio na barriga. Ele era alto e forte e com a quantidade perfeita de músculos esculpidos no corpo, que ele mostrava em seus treinos diários no ginásio. Sua pele era marrom canela sem defeitos, seus olhos como piscinas de chocolate derretido. Hermione suspirou ao vê-lo. Ela amava seu Harry com todo seu coração, mas esse homem faria até Madre Teresa reconsiderar seu estilo de vida. Já vira homens bonitos em sua vida. Sorry era bonito, de um jeito que lembrava uma estatua de mármore loira, Sirius tinha uma aparência desleixada e escura, e é claro Harry com seu charme de nerd adulto... Mas Sukesh transcendia a simples beleza e alcançava algo que parecia território super-humano ou alguma espécie de anjo mandado para terra apenas pra fazer os mortais se sentirem inadequados.


E agora ele estava sorrindo pra ela com seus dentes perfeitamente brancos, o que só piorava a situação. –Olá, Hermione – ele disse, o sotaque indiano curvando suas palavras em pequenas miniaturas de música. –Que maravilha ter Harry de volta conosco.


-Sim, é mesmo – respondeu, apertando a mão de Sukesh. –Sente-se – ele o fez. Napoleon continuou de pé, junto a porta. –Me diga o que descobriu.


Sukesh abriu seu caderno. –Bem, Harry não parece ter sido machucado de forma alguma. Ele não está mal-nutrido ou desidratado, seu peso não aumentou ou diminuiu. Onde quer que estivesse, posso dizer que tomaram conta dele direito.


-Ele poderia estar em algum tipo de estase?


-Não. Suas unhas cresceram e foram cortadas. Sua pele mostra evidências de barbear recente e regular. Seu ritmo circadiano está em sincronia com o padrão esperado desde seu último exame físico e seu cabelo está menos de um centímetro mais longo. Seus sistemas não mostram nenhum sinal de suspensão da vida, como uma desaceleração endócrina ou lerdeza neural. Ele parece estar em sua excelente saúde de sempre.


Hermione balançou a cabeça. –Tinha a esperança que você encontrasse alguma coisa incomum só pra nos dar alguma pista.


-Sei o que quer dizer. Nesse ponto, acho que ele estava como prisioneiro em algum lugar e vigiado.


-Mais alguma evidência que apóie isso?


-Ele está um pouco pálido. Isso pode ser normal pra essa época do ano. Com mais tempo eu poderia analisar seu trato digestivo e tentar descobrir que tipo de comida andou ingerindo. Tenho certeza que a diretora Pfaffenroth vai querer que eu faça isso.


Hermione suspirou. –Vamos torcer que nos exames mágicos apareça algo que ajude mais. Obrigada, Sukesh.




Hermione estava numa pequena sala de observação, olhando para uma sala de testes onde Harry era submetido a uma rodada completa de exames diagnósticos mágicos. Napoleon, da mesma forma que durante o dia todo, estava de pé protetoramente no canto observando os procedimentos.


Ela se apoiou contra o vidro, a ansiedade levando a uma fadiga prematura em todo seu corpo, e ficou olhando enquanto Harry, sentado em um banco, usava sua varinha pra realizar uma série de feitiços difíceis que necessitavam de muita precisão. O vidro especial não permitia que ele a visse, mas ele provavelmente sabia que ela estava ali mesmo assim.


Lupin entrou na sala de observação por uma pequena porta. –Como está indo? – Hermione perguntou.


-Até agora ele está perfeitamente normal.


-Já tentaram quebrar o feitiço da memória?


-Não, ainda não. Queremos ter certeza que ele está inteiro, por assim dizer, antes de tentarmos feitiços de reversão mais pesados. Vamos levá-lo pra a câmara de isolamento logo. Vai demorar algumas horas. Por que não vai comer alguma coisa? Deve estar com fome.


-Não, na verdade não. Obrigada, Remo. Me mantenha informada.


Ele deu um tapinha no ombro dela e saiu da sala. Hermione ficou olhando enquanto Harry era levado embora, provavelmente para a câmara de isolamento mágico que Remo mencionou.


Ela esfregou uma mão nos olhos e virou pra sair, mas quando seus olhos pousaram em Napoleon, ela parou.


Ele estava olhando pra ela com a expressão mais estranha no rosto; era quase como se ela pudesse ver o coração dele através de suas íris azuis. Ela murchou ao vê-lo. Se ela alguma vez se perguntara se ele sentia alguma coisa por ela, percebeu que não precisava mais se perguntar. Estava escrito no rosto dele.


Ele piscou, percebendo que ele a pegara num momento desprotegido e desviou o olhar. Limpou a garganta e mudou o peso nos pés, olhando pra todo canto menos pra ela. Ela apenas ficou olhando enquanto ele lutava consigo mesmo e finalmente virou pra ela novamente, todos fingimentos esquecidos e a emoção nua bem clara na expressão dele. –Não posso evitar – ele disse baixo.


-Lamento.


-Sei que lamenta. Você tem um coração muito bom pra desejar o sofrimento de alguém, mesmo o meu.


-Especialmente o seu.


Ele riu pelo nariz. –Não quis dizer isso. Pode sinceramente fica de pé aí, me olhar nos olhos e dizer que se não fosse por ele, seria eu? – Hermione desviou o olhar. –Achei que não.


-Napoleon, eu...


-Não. Pare. Não é sua culpa. Você não tem culpa nenhuma. É toda minha. Não tinha intenção. Não queria. Nunca... – ele parou e desviou o olhar, mordendo o lábio inferior. –Sou seu amigo. É tudo o que vou tentar ser.


Ela conseguiu dar um pequeno sorriso. –Te vejo lá em cima?


-Acho... vou pro ginásio um pouco. Mande sua bolha se precisar de alguma coisa.


Hermione concordou e virou pra sair e então hesitou. Recuou de volta pro lado dele e ficou na ponta dos pés pra lhe dar um beijo na bochecha. Ela o sentiu respirar fundo e contrair o rosto pro toque dela. Ela recuou e esperou, mas ele não falou nada, mantendo o rosto virado. Ela virou e saiu da sala, desejando que ele soubesse o quanto de fato ela lamentava.




Hermione caminhava de um lado para o outro no solário, uma sala longa e cheia de raios de sol, em um dos lados do quartel general, aonde os agentes iam pra se acalmar s ler um livro por meia hora. Podia pegar bebidas e lanches e sentar em uma cadeira fofa e esquecer do alto stress de seu trabalho, pelo menos por um tempo.


Hoje, no entanto, ela não estava achando o lugar de tranqüilidade muito relaxante. Em algum lugar desse prédio Harry estava numa sala isolada, relembrando seus passos, tendo sua mente investigada com feitiços e sua memória atacada com encantos. Ela sabia que Lupin e Sukesh se certificariam que ele não se machucasse, mas provavelmente não era uma experiência prazerosa.


O sol estava se pondo nesse dia interminável, um dia que começara tão bem. Ela sorriu ao lembrar de como foi estar com ele na noite anterior e nessa manhã... Como seus toques eram familiares, e ao mesmo tempo estranhos e excitantes. Eles sempre tiveram uma vida sexual saudável, desinibida e entusiasmada, mas a longa ausência dele parecia ter conjurado um tipo de alquimia sobre eles. Mesmo que ele não lembrasse de ter sumido, a empatia física pareceu mais profunda e mais significante. Talvez fosse apenas a percepção dela de um evento muito esperado, mas achava que não era só isso. Foi como se os corpos deles falassem um com o outro num nível primitivo, biológico.


A porta do solário se abriu, interrompendo seus pensamentos, e Remo entrou. –Como ele está? – ela perguntou sem delongas.


-Acho que terminamos de testá-lo por hoje. Ele está exausto.


-O que descobriram?


-Infelizmente, não muito. Tentamos muitos feitiços de reversão e o bloqueio de sua memória está intacto. Fora isso ele parece bem, fisicamente e magicamente.


Ela se aproximou e lhe deu seu olhar mais intimidador. –Ouça, Remo, estou cansada de esperar em uma sala até que alguém venha trazer notícias dele pra mim. Quero vê-lo.


-Como eu disse, já terminamos de examiná-lo por hoje. Pode ir vê-lo. Está num quarto temporário.


Hermione passou por ele apressada e chamou por sua bolha pra guiá-la até ele, deixando Remo pra trás sem dar nenhum adeus.




Os guardas a deixaram passar, como com certeza receberam ordens, e ela abriu a porta para o quarto temporário. Esses quartos eram usados geralmente por agentes visitantes que não queriam achar ficar em locais públicos, ou agentes de guarda que queriam tirar algumas horas de sono. Tinham móveis confortáveis e eram completos. Harry fora instalado ali pra esperar o novo dia de exames.


Ela o encontrou sentado na mesa da cozinha, um copo intocado de leite à sua frente, com as mãos na cabeça e os cotovelos apoiados na mesa. Ela só podia ver a sua nuca, mas podia dizer que ele estava cansado apenas pelos ombros caídos e pelo jeito que se apoiava nas mãos.


Ela parou atrás dele e deixou seus dedos percorrerem sobre seus ombros enquanto passava pra seu lado. Ele virou a cabeça pra cima pra olhar pra ela e a expressão em seu rosto a deixou sem fôlego... Assustado e confuso, uma expressão que ele só permitiria que ela visse.


Ela passou seus braços pelos ombros dele e ele se apoiou agradecido contra ela, pressionado o rosto contra seu peito, seus braços a abraçando pelos quadris. Ela o abraçou com força, inclinando a bochecha sobre a cabeça dele e acariciando devagar seu cabelo com uma mão. Ela podia senti-lo tremer, se apoiando nela como uma criança assustada.


-Shh – ela disse, seus lábios se movendo contra o cabelo dele. –Tudo vai ficar bem.


-Por favor, não me deixe – ele sussurrou contra a camisa dela. Hermione franziu a testa, se perguntando como ele acharia que ela o deixaria. Deus sabe a que tipo de testes e feitiços ele foi submetido hoje, pensou. Também estaria fora de mim.


-Ah, querido – ela disse, o abraçando mais forte. –Nunca vou te deixar.


-Desculpe se pareço carente, mas...


-Mas o que? – ela perguntou quando ele não completou.


Ele virou a cabeça novamente pra olhá-la nos olhos. –Eu só não tenho certeza de nada no momento.


Ela pressionou os lábios contra a testa dele. –Tenha certeza de mim. Eu te amo.


Ele a abraçou de novo. –Eu sei.


-Venha, precisa dormir um pouco – ela recuou e segurou a mão dele. Ele a deixou guiá-lo até o quarto e sentá-lo na cama. Ela se curvou e puxou os sapatos dele, sem se importar com o resto das roupas. Com um suspiro profundo de fadiga, ele se esticou de lado. Hermione deitou na cama ao lado dele, abrindo os braços pra puxá-lo mais pra perto dela. Ela podia sentir a tensão saindo dos músculos dele enquanto relaxava, o corpo dele se modelando contra o dela, apoiando a cabeça em seu ombro. Em alguns minutos, ele dormia profundamente.


Hermione ficou acordada por um tempo, o abraçando e ouvindo a respiração ritmada dele. Ela se maravilhou com a facilidade com que conseguiu dar conforto a ele mesmo quando ela própria se sentia ansiosa. Classificou isso como um sinal da saúde do relacionamento deles. Havia uma igualdade de forças que encontravam um no outro, um toma lá dá cá de apoio emocional. Hoje, era a vez dela dar. Logo ela precisaria o mesmo dele, que não hesitaria, como ela não hesitara nessa noite.


Ela começou a dormir, relativamente contente apesar da incerteza que mais uma vez os cercava. Afinal, eles estavam a salvo, cercados de amigos, a cama era bem confortável, e ela estava deitada com os braços em volta do homem que amava, logo depois de seu retorno após uma longa ausência. O que era uma pequena amnésia diante de um quadro como esse?




Quando Hermione acordou, havia alguma coisa tocando seu rosto. Levou um segundo para perceber que era Harry. Ele estava beijando-a, suas mãos se movendo possessivamente sobre seu corpo. –Bom dia – ela sussurrou, os braços dela passando em volta dele. –Esse é o lugar adequado pra esse tipo de coisa?


-Acho que qualquer lugar serve – ele disse, sorrindo contra os lábios dela.


-Harry, não acho que consigo entrar no clima quando há a possibilidade de Argo e Isobel estarem nos observando agora.


Ele recuou. –Ugh. Que balde de água fria – um segundo de silêncio, e então ele deu de ombros. –Tudo bem, posso viver com isso – ele disse, voltando a dar atenção pro rosto e pescoço dela.


Rindo, ela o empurrou e levantou, esfregando os olhos. –Sai de cima de mim, seu tarado bastardo.


-Ahem. Meus pais eram casados, devo lembrar. – ele olhou pra ela, piscando os olhos e fazendo pose enquanto se inclinava contra as cobertas amontoadas. –Ah, vem cá. Como pode resistir a esse ótimo exemplar de masculinidade diante de você?


Ela olhou em volta com entusiasmo. –Sukesh? Onde?


O queixo de Harry caiu e ele pulou da cama, segurando-a pela cintura e dando um sorriso de orelha a orelha. –Ohh, vou ter que tirar todos os pensamentos desse bobo que examina e cutuca de sua cabeça ou morrer tentando.


Ela o beijou com firmeza. –Vai ter que ficar pra depois – ela olhou pra ele, feliz. –Você certamente está mais energético do que ontem a noite.


-É incrível o que uma boa noite de sono nos braços de uma bela mulher pode fazer pra mudar a visão de uma pessoa da vida.


-Lamento ser estraga-prazeres, mas vai ter mais diversão e brincadeiras hoje.


Ele suspirou. –Eu sei. Esse é meu jeito de vibrar de antecipação.


-Se ajudar a descobrirmos...


-Sim, sim. O grande mistério de minha existência. – ele virou e foi pra cozinha. –Poderia viver minha vida com menos mistério agora.


-Você e eu.


Ele olhou pra ela. –Teve mais mistérios do que esperava nesse relacionamento, não foi? – ele balançou a cabeça, colocando um copo sujo na pia. –Droga, não queria isso pra você. Você devia ter ficado com o chato do Rufus ou Horácio ou até Geraldo se ele existisse.


Ela parou ao lado dele, franzindo a testa. –Harry, eu não os amava. Sei que quer me proteger, mas gostaria que eu estivesse num relacionamento sem amor?


-Acho que não. Eu só... Rufus não sumiria por dois meses, nem te assustaria com poderes estranhos, ou sairia em caça de bandidos que poderiam te fazer uma viúva. Rufus não te tentaria a entrar numa linha de trabalho que pode te levar a morte. – ele estava entrando num desespero protetor, que acontecia às vezes. –Hermione, você devia apenas...


-Apenas o que? Te deixar? Fugir?


-Bem, talvez fosse melhor pra você no fim das contas.


-Ah, você sabe que não quer dizer isso. Já falamos sobre isso mil vezes. O que eu devia fazer? Devia não te amar? É culpa sua! Passamos quase todos os dias acordando juntos durante quinze anos e Deus sabe que você poderia me ter feito te odiar, mas ao invés disso você me fez te amar.


Ele se deixou cair numa cadeira e ficou olhando pra mesa. –Vale a pena?


-O que? – ela perguntou confusa.


-Vale a pena toda ansiedade? Eu posso desaparecer de novo, sabe. Ou posso ser morto por Allegra. Ou posso morrer numa missão, ou por milhares de outras calamidades.


-Sei disso tudo.


-Não suporto a idéia que eu posso te causar uma dor imensa. te causei uma dor imensa. Como você agüenta?


Ela sentou de frente pra ele, sorrindo. Enfim, uma pergunta que ela podia responder. –Por você, Harry. Olhe para si. Essa cicatriz na sua testa e essa linha que aparece entre suas sobrancelhas quando está com raiva e o jeito que suas orelhas ficam vermelhas quando está constrangido. Agüento isso porque um dia com você vale mais a pena do que minha vida inteira com qualquer outra pessoa. Entendeu? Não me importo com o risco. Sei que ele existe, eu o aceitei. Se tivesse que viver minha vida longe de você, bem... Não seria a vida de jeito nenhum. Satisfeito?


Harry parecia estar prestes a chorar. –Não sei o que fiz pra merecer você.


Ela sorriu pra ele segurou sua mão sobre a mesa. –Não é nada o que você fez, querido. Não pode evitar, é apenas quem você é. Mas sabe, toda essa coisa de salvar o mundo provavelmente não incomodou. – ele sorriu de volta, e estava tudo bem. Por enquanto.




Para Hermione, foi mais um dia andando de um lado para o outro e sentindo o stress formando rugas prematuras em sua testa. Eles o colocaram naquelas amarras cruéis novamente. Ah, sim, eles eram amigos e aliados, mas ela não tinha ilusão alguma sobre os objetivos deles. O desaparecimento de Harry tinha graves implicações para segurança da Federação e fariam o que fosse necessário pra descobrir a verdade. As gentilezas eram somente pragmáticas e a preocupação sincera com o bem-estar de Harry perdia de longe da necessidade que tinham de proteger o mundo bruxo das ameaças crescentes que enfrentava.


Passou as mãos pelo rosto e suspirou. Tenho que fazer alguma coisa ou vou ficar louca, ela pensou.


-Hei, Hermione – veio uma voz familiar. Ela virou e viu Nix Nickleby perto da porta do solário. Nix era o vice do setor de Treinamento até os machucados de Lefty feitos por Allegra. Ele ainda era o vice, mas tinha assumido todo o treinamento físico dos novos agentes. Ele ensinara em todas aulas de combate de Hermione. Nix era um lutador muito habilidoso, apesar de não parecer. Era um bruxo de tamanho médio, tinha cabelos claros e cheios, e usava óculos de cdf.


Ela conseguiu devolver o sorriso. –Oi, Nix.


-Como está Harry?


Ela riu pelo nariz. –Ah, eu seria a última pessoa a saber. – ele balançou a cabeça em simpatia. Hermione o olhou, tendo uma ótima idéia sobre o que precisava. Ela andou direto até ele, segurou seu braço e o puxou pra fora da sala.


-Hum... Está atrasada para alguma coisa?


-Venha – ela disse. –Hora de um treino.




Sukesh deixou Harry sentar, guardando seus instrumentos. –Estou bem?


-Até agora. Não gosto disso, Harry. Eles ficam te cutucando e em breve algo vai ceder. Não quero ter que tentar fazer um feitiço pra você voltar de um estado vegetativo.


-Ah, você se preocupa demais – Harry disse, mas estava esfregando as têmporas como se elas doessem. –Não vão me machucar.


-Acredite no que quiser. – Sukesh se inclinou pra frente, com um olhar intenso. –Mas eles vão te machucar se precisarem e você sabe disso.


-Aprecio sua preocupação, Sukesh, mas eles não podem me machucar. – ele levantou e seus lábios se curvaram num pequeno sorriso frio. –Não podem... E não se atrevem.


Sukesh suspirou. –Harry, às vezes tenho medo de você.


-Ás vezes, eu também – pegou sua camisa e a abotoou. –Vou ver Hermione antes da próxima rodada.


Ele estava quase saindo do quarto quando Sukesh falou novamente. –Harry? – ele virou. Sukesh hesitou, como se estivesse incerto se o que pretendia dizer era adequado. –Sei que não é muito moderno, mas... Tome conta dela, certo? Ela passou por muita coisa.


-É o que pretendo fazer – ele saiu, as passadas largas e seguras.


Depois de uma viagem sem sucesso até a sala dela, a bolha de Harry o guiou até o ginásio. Ao invés de entrar, ele foi para a sala de observação, presumindo que ela provavelmente não queria ser interrompida.


Enquanto estava de frente pro vidro e olhando pra baixo pro ginásio, seu coração apertou no peito e seu queixo ficou tenso. Abaixo dele, Nix e Hermione lutavam. Ele não podia acreditar como ela se mexia rápido, quanto seus movimentos eram seguros e como seus golpes batiam forte em seu oponente.


-Muito boa, não é? – ele virou. Napoleon estava sentado no canto, sem ser notado até agora. Ele parecia ter saído de um exercício, uma toalha pendurada no pescoço. Levantou e parou ao lado de Harry.


-O que sabe sobre isso? – Harry falou ríspido, voltando a olhar através do vidro.


-Estamos um pouco irritados, não é? Quem você acha que vem supervisionando o treinamento dela enquanto você estava por aí brincando de homem invisível? Ela e eu nos encontramos todos os dias. – ele se mexeu desconfortável. –Quero dizer, no ginásio, nós... hã...


-Ah, eu sei o que você quer dizer - Harry falou, irritado pela mera presença do homem.


Napoleon olhou pra ele. –Patrão... O que foi? Está chorando?


-Não! – Harry exclamou, limpando os olhos. –Eu só... está empoeirado aqui.


-Claro. Empoeirado.


Harry olhou novamente pra sua noive, lutando contra Nix lá embaixo. Ele podia ouvir os gemidos e a respiração dela lá. –O que fiz com ela? – sussurrou.


-Como assim?


-Olhe pra ela! – exclamou. –Essa mulher não gostava de matar nem um inseto! A solução para tudo era ir pra biblioteca!


-Ah, ainda é, acredite.


-Ela não é violenta.


-Talvez não, mas isso não tem a ver com violência. Isso tem a ver com confiança e com a habilidade de se defender. Posso ler sua mente, patrão, porque já pensei as mesmas coisas. Você não a forçou nesse emprego. O Baralho a escolheu, se lembra? E ela poderia ter dito não. Posso te dizer uma coisa?


-Tem algum jeito de te interromper?


-Acho que ela sentia falta. Ela costumava combater o mal a seu lado, certo? Quando vocês eram crianças? E depois tudo parou e você entrou aqui. Acho que ela queria ajudar. Ela é uma corajosa Grifinória, patrão. Quer lutar contra as forças das trevas também. Você não é o único com poder por aqui. Ela é uma bruxa impressionantemente capaz. É a melhor aluna de Nix. Toda a dedicação que ela coloca nas pesquisas acadêmicas, coloca nisso também. Olhe pra ela lá embaixo. Nix mal consegue segurá-la. Ela me bate regularmente, isso com certeza.


Harry balançou a cabeça. Era quase inacreditável. Era difícil conciliar as imagens de sua Hermione estudiosa, cdf com a mulher à sua frente. –É só estranho pra mim.


-Vai se acostumar. Ela é mesma pessoa. Não particularmente gosta dessa coisa. Ela aprender porque precisa. Mas ela ainda prefere fazer uma pesquisa na biblioteca ou compilar arquivos de observação para Isobel.


Harry sorriu. –Isso é reconfortante. – limpou a garganta. –Bem, eles podem me deixar voltar pro trabalho em alguns dias.


-Não brinca!


-Sem brincadeira. Então eu preciso de um dossiê completo do que aconteceu desde que sumi.


-Tudo certo, patrão– ele virou pra sair.


-Espere um segundo, Jones.


Napoleon virou e esperou. –Sim?


-Não me chame de "patrão", certo? Meu nome é Harry – Napoleon sorriu, fazendo uma pequena continência e saiu da sala. Harry ficou olhando a cena lá embaixo enquanto Hermione e Nix pareciam terminar a luta, apertando as mãos antes de pegar as tolhas. Ele saiu da sala de observação e entrou no ginásio, chegando atrás de Hermione antes que ela virasse em direção à porta.


-Harry! Você está bem?


Ele deu um sorriso sarcástico. –Parece que essa é a primeira pergunta que todos me fazem quando me vêem esses dias.


-Posso ter minha resposta, por favor?


-Estou bem. Tirando um pequeno intervalo da Inquisição espanhola.- ele esticou os braços e abraçou, feliz de tê-la em seus braços de novo. Ela tinha cheiro de xampu e de suor. –Você melhorou. Muito.


-Bom, eu tinha muita tensão se acumulando - ela disse. –Bater em instrutores de combate que nem sabem disso era uma ótima maneira de liberar a tensão.


-Entendo. Depois que Allegra nos traiu, minhas habilidades em combate passaram por um drástico período de refinamento. – ele colocou o braço em volta do ombro dela enquanto ela colocava o dela na cintura dele; os dois saíram juntos para o corredor.


-Ainda magoa, não é?


Ele suspirou. –Não como costumava. Saber que tipo de pessoa ela era na verdade ajudou a aliviar a dor.


-Acho que ela te amava.


-Você também acha que Barry Manilow é um bom cantor.


-Fale sério.


-Allegra nunca me amou. Ela me usou pra alcançar seus objetivos.


-Isso não está em questão. Acho que ela começou te usando e acabou te amando.


-O que te faz pensar isso?


-Ela não pode te odiar tanto quanto te odeia sem ter te amado pelo menos um pouco.


Ele pareceu pensar nisso. –Bem, se é assim que funciona, então tenho certeza que espero que você nunca comece a me odiar.


-Então é melhor parar de roubar meu sorvete.




Argo estava sentada na cabeceira da mesa de reuniões, remexendo em seus papéis de uma forma aparentemente aleatória. Hermione a observava, um nó de ansiedade se formando em seu estômago de ansiedade.


Fazia três dias desde o retorno de Harry, e ele passara esse tempo todo aqui no quartel general sendo examinado. Essa reunião fora convocada pela diretora para que ela pudesse ouvir os relatórios finais dos investigadores, e depois disso determinar o destino de Harry. Hermione mal podia medir a ironia inerente à possibilidade dela estar começando sua carreira na DI enquanto a de Harry poderia estar terminando.


Sentados ao redor da mesa estavam Lupin, Sukesh, Sirius, dois dos médicos de Sukesh, Isobel Hyde-White, Napoleon, Henry Ubingado e outros bruxos que estavam ajudando a realizar os testes. Harry estava sentado à direita dela, segurando sua mão sob a mesa.


-Estamos prontos para começar? – Argo disse. –Lupin?


Remo suspirou e abriu uma pasta de pergaminhos, outros agentes fazendo o mesmo.- Você queria um relatório final, então vou te dar tudo o que temos.


-Que é o que?


-Vou dar os resultados dos exames físicos primeiro, depois os resultados dos mágicos. Sukesh?


-Harry não foi machucado. – Sukesh disse. –Tomaram conta dele muito bem, mas ele não permaneceu em nenhum tipo de estase. Baseado na tonalidade da pele, no meu exame de seu trato digestivo e outras evidências descritas em meu relatório, acredito que foi deixado em algum prédio fechado e observado de perto. Examinei-o com grande detalhe e não encontrei nenhuma evidência física de sua localização nesses meses. Sua perda de memória aparentemente não tem nenhuma base física. Não encontrei nenhuma evidencia de traumas cranianos, lesões cerebrais ou disfunção neurológica. Concluo que sua amnésia tem origem mágica.


Argo balançou a cabeça, aceitando a análise de Sukesh. –E os testes mágicos


Herny assumiu o relatório nesse pronto. –Todas habilidades mágicas de Harry parecem estar intactas e inalteradas. Quanto ao bloqueio de sua memória, tentamos tudo o que pudemos pensar e algumas coisas que inventamos no caminho e sua amnésia permanece inalterada. Não podemos discernir a causa ou determinar a cura.


Argo comprimiu os lábios. –Acham que análises mais profundas dariam resultados mais conclusivos?


-Não.


-Determinaram se o Major Potter apresenta alguma ameaça a nós?


-Até onde sabemos, não. Usamos uma ampla variedade de feitiços diagnósticos, amuletos e poções e não conseguimos identificar nenhum traço de ameaça nele.


Argo suspirou. –Agentes, isso é altamente insatisfatório. Pedi algumas respostas de vocês e me retornam com isso.


-Em minha opinião, não conseguiremos mais respostas sem as lembranças de Harry.


Argo dirigiu o olhar ao objeto dessa discussão. –Harry. Sei que passou por muita coisa. Por favor, me diga que tem algo a acrescentar a essa impressionante quantidade de desinformação.


-Eu desaparatei de um beco. Cheguei no jardim dois meses depois, e isso Argo, é tudo que posso te dizer.


Ela olhou em volta da mesa. –E vocês têm certeza que tentaram tudo?


-Pergunte à bibliotecária quantos livros obscuros nós pesquisamos, Argo. Olhe as nossas anotações. No fim, só restava inutilidades trouxas como a brincadeira do copo e escrita do além. A única coisa que resta é consultar uma bola oito mágica, que só dirá "Obscuro, consulte novamente mais tarde".


Um longo silêncio caiu sobre a mesa. Argo olhou para os relatórios a sua frente. Finalmente virou para Harry. –Como se sente?


Ele hesitou um momento, pego de surpresa pela pergunta. –Me sinto bem.


Argo levantou. –Então volte ao trabalho. Já teve férias longas o suficiente. – deu largos passos até sair da sala, deixando os agentes olhando de um para o outro.


Hermione virou para Harry. Um vagaroso sorriso se espalhou no rosto dele, ao perceber que fora liberado pra voltar a sua vida. Hermione sorriu de volta e o abraçou. Num instante, todos estava fora de seus lugares e apertando sua mão. –Bem-vindo de volta, Harry – Lupin disse.


-Obrigado – ele ficou sério. –Mas isso não pode ser varrido pra debaixo do tapete. Ainda precisamos descobrir onde eu estava.


-Vou deixar alguns agentes investigando - Napoleon disso, rabiscando notas em seu caderno.


-Ah, coloque Fourth Chism nisso – Lupin disse.


-Nossa, isso é bom. E coloque aquela nova da VCI. Jane Alguma-Coisa


-Isso não é sua cara, Jones – Harry disse. –Você geralmente sabe os nomes de todos os novos agentes, especialmente das mulheres.


Napoleon olhou confuso pra ele. –Não, esse é o sobrenome dela de verdade. Alguma-Coisa.


Depois de um segundo de silêncio, Harry começou a rir. Todos apenas ficaram olhando pra ele, dando sorrisos fascinados enquanto ele segurava a barriga e liberava toda tensão para o teto em altas risadas.




Harry estava sentado em sua mesa, satisfeito por não estar uma bagunça total. Napoleon estava sentado à sua frente, anotações em mãos. –Pronto?


-Pode começar.


Harry fazia algumas anotações enquanto Napoleon resumia os eventos dos últimos dois meses. Insurreições das trevas, anéis mágicos roubados, agentes duplos. –Spartan McNally finalmente terminou a tradução dos Grandes Textos de Malthus.


-Já não era sem tempo.


-É, coloquei um arquivista no caso. Temos que ter nossa própria cópia.


-Bom.


-A gangue carthage se mudou para São Petersburgo


-Eles devem ter ações em empresas de mudanças. É o que, a décima vez esse ano?


-Ah, e a caça-vampiros deu uma passada. Disse que estava de férias e fez uma visita.


Harry sorriu. –Lamento não tê-la visto.


-Ela ficou chateada de saber que você estava sumido. – Napoleon balançou a cabeça.-O que temos que fazer pra ter uma caça-vampiros no hemisfério oriental? Banir o alho e começar festas com sangue durante a noite, em parques isolados?


-O que ela queria?


-Só uma visita social. Deixou isso. – jogou um envelope creme por cima da mesa de Harry.


-Isso é o que eu acho que é?


-É. Eles finalmente vão se casar.


-Bem, coloquem essa no livro dos recordes. Uma caça-vampiros casando com um vampiro.


-Vampiro redimido.


-É, que seja. Já tinha ouvido falar de caça-vampiros terem fetiches por vampiros, mas ela namorou não com um, mas com dois.


-Estou surpreso que tenham demorado tanto. Ela tem o que? Vinte e oito anos? Meio velha pra uma caça-vampiros.


-Bem, os vampiros daqui estão ficando um pouco saidinhos sem um caça-vampiros por esses lados. Talvez possamos convencê-los a vir pra lua de mel em Stonehenge. Já o conheceu?


-Não. Lupin já. Na América do Sul dez anos atrás.


-Não brinca.


-Antes dele se redimir. Lupin disse que ele era muito poderoso. E sarcástico.


-Ele é introspectivo e típico criatura da noite como os primeiros?


-Lupin não falou muito sobre ele, só que é fácil de vê-lo à noite... O cara tem cabelo loiro platinado. Não é muito discreto, se quer saber minha opinião.


-Um pequeno sacrifício da discrição pelo bem do estilo.


-Bem, vamos responder o mais rápido possível que sim. Continuando com os relatórios.


-Certo. Galino está no Sítio Dois pra treinamento disfarçado. Volta em três semanas.


-Certo.


-Decidimos tirar o prédio de treinamento externo de Bath.


-Certo.


-Fizemos uma busca na casa de segurança de Allegra em Sheffild algumas semanas atrás. Completamente incendiada.


-Certo.


-Estou apaixonado por Hermione.


Harry parou no meio de suas anotações e devagar levantou os olhos para Napoleon. Seu vice estava olhando pra ele inalterado como se o desafiasse a discordar da afirmação. –Mesmo?


-Hã... Sim.


Harry balançou a cabeça que sim devagar, soltando a pena e enlaçando os dedos sob o queixo. –Por que raios está me contando isso?


-Não quero ser traiçoeiro.


Harry levantou as sobrancelhas. –Isso seria uma mudança ótima.


Napoleon suspirou, soltando sua pena e se inclinando pra frente. –Ouça, Harry. Sei que estraguei as coisas pra você no passado. Era jovem e estúpido e achei que tinha algo pra provar pro mundo. Eu era um maldito idiota e tenho certeza que tornei sua vida infeliz. Não posso mudar isso agora. Mas quando fui escolhido pelo Baralho, sabia que tinha uma segunda chance. Tenho sido um bom assistente pra você e fiz um bom trabalho em sua ausência. Sei que me odeia, mas não ligo. Não vou te decepcionar. – Harry não disse nada. Napoleon o olhou por um momento e depois se recostou na cadeira como se o discurso o tivesse deixado exausto. –Eu te contei da... Outra coisa... porque não quero mentir pra você. Não sou estúpido, certo? Sei que ela te ama e só a você. Tentei estar presente pra ela e estaria mentindo se dissesse que não esperava por mais, mas sei que é impossível. Não estou dando em cima dela, sabe? Então pode ir adiante e me bater agora, eu mereço. – continuou sentado.


-Harry apenas o olhou calmo. –Não vou te bater.


-Não?


-Você de fato fez um bom trabalho enquanto estava ausente. E... – limpou a garganta. –Sei que foi um bom amigo para Hermione enquanto eu estava longe, e por isso sempre vou ser grato a você. – ele sorriu. –Se você a ama, então... Não posso dizer que tem mau gosto. Não estou preocupado. Posso não confiar em você, mas confio nela. Certo? – Napoleon balançou a cabeça que sim. –Mas se eu te pegar tentando qualquer coisa, eu vou te transformar em pó. Entendeu?


-Entendi. – Napoleon disse sorrindo. Abriu suas anotações novamente. Harry pegou sua pena, rindo. –Qual a graça?


Harry olhou pra ele. –Sabe de uma coisa, Napoleon? Nunca pensei que eu e você teríamos alguma coisa em comum. Acho que me enganei.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.