Capítulo 3: Livros dos Dias



30 de janeiro de 2008




Quando aconteceu, aconteceu rápido.


Hermione estava sentada à mesa da cozinha debulhando ervilhas numa grande tigela. A atividade a colocara num estado de calma bem Zen pela simplicidade repetitiva. Não era preciso pensar, nem invocar emoções. Passou a mão pela crescente pilha de ervilhas frescas e pegou outra mão cheia das vagens. –Ai – ela disse, largando as vagens para massagear uma dor repentina no ombro.


Jorge virou da pia –Que foi?


-Só estou um pouco dolorida.


-Exercício muito pesado hoje?


-Por que hoje seria diferente? – ela resmungou voltando pras ervilhas.


-Ah, você sabe que ama isso. Sabe o que eu acho? Está se jogando no treino físico pra que na hora que souber quem está mexendo com seu homem, possa dar umas boas porradas na pessoa.


Hermione sorriu –Bem, então deve ser isso. – ela esfregou as mãos.-Laura está em casa?


-Está no escritório. Justino está lá em cima. Ficou acordado a noite toda no grande avistamento de bruxos que aconteceu no Surrey. Eles levaram dezenas de bruxos que sabem fazer feitiços da memória e ainda estão arrumando a confusão. – isso dava conta de todos moradores da casa, já que Cho estava viajando em jogos promocionais fora de temporada com os Minotauros.


Ela debulhou ervilhas em silêncio por um tempo, ouvindo os sons familiares de seu lar. O banco de balanço da varanda rangendo enquanto balançava suavemente em suas cordas. O vento soprando pelas grades de metal do gazebo. Os galhos secos das árvores raspando juntos com centenas de outros pequenos barulhos parecidos com a hora do jantar num restaurante chinês.


A porta da frente abriu e depois fechou de novo.


Ela parou, franzindo a testa. Jorge parou de mexer e olhou por cima do ombro. –Quem será? – perguntou.


Hermione deu de ombros. –Gina vem pro jantar?


-Não que eu saiba.


Ela levantou e foi para o corredor, se perguntando quem poderia ter entrado sem bater. Jorge vinha logo atrás dela. Ela parou tão de repente que ele quase se esbarrou.


Hermione olhava pra entrada, a boca aberta e todas sensações indo embora de suas pernas.


Harry estava parado na entrada, olhando o correio coruja.


-Ah meu Deus – ela sussurrou. Piscou e olhou novamente; ele ainda estava ali. Esfregou os olhos e olhou novamente; ele ainda estava ali. Beliscou o braço forte o suficiente pra lágrimas aparecerem em seus olhos, ele ainda estava ali, resmungando para si mesmo enquanto passava os envelopes. –Jorge, você o vê? – conseguiu perguntar.


-Eu o vejo – ele disse, a voz rouca.


Harry parecia não ter percebido os dois olhando pra ele. Virou pra escada principal –Cheguei!- gritou. Hermione estava literalmente congelada no lugar. Ela ouviu um barulho de surpresa vindo do escritório e uma cadeira sendo arrastada e depois passos apressados. Laura apareceu na porta, de olhos arregalados. –Ei, Chant – Harry disse. –Hermione ainda está com raiva de mim? Devo ir preparado? – Laura não disse nada, apenas ficou olhando pra ele. –Você está bem? Parece que viu um fantasma!


Laura, sem dizer nada, levantou a mão tremendo e apontou por cima do ombro dele pra cozinha. Harry virou e viu Hermione e Jorge na entrada. Ele deu alguns passos na direção deles e Hermione viu que carregava um buquê de flores. São pra mim, pensou. Ele a encarou e sorriu.


A visão deste sorriso, a imagem que assombrou seus sonhos por semanas, quebrou sua paralisia. Ela não disse nada; não conseguiria juntar as palavras coerentemente nem que sua vida dependesse disso. Apenas correu pelo vestíbulo e pulou em cima dele, enlaçando suas pernas a seu redor e se pendurando como um afogado se pendura numa linha de vida. Ele cambaleou um passo pra trás, mas conseguiu manter o equilíbrio; as rosas caíram de sua mão no chão polido do vestíbulo. Ela fechou os olhos, seus braços num aperto mortal em volta do pescoço dele como se temesse que Harry simplesmente voasse pra longe novamente. Parece Harry, pensou. Tem o cheio de Harry.


-Ah nossa... Certo... Querida... O oxigênio está virando um problema – ele disse.


Jorge se adiantou até eles. –Por Deus, Harry! Onde raios você esteve?


Harry franziu a testa. -No trabalho? – ele disse devagar, no mesmo tom que você usaria pra alguém que ganhou menos sanduíches num piquenique. –Sabe, o lugar que eu vou a maioria dos dias?


Jorge olhou surpreso para o amigo. Hermione escorregou para o chão e olhou para ele, sua mente tentando sair da dormência da incompreensão. Ainda não estava muito convencida que não estava vendo coisas. Laura deu alguns passos trêmulos para frente. –Ah Deus – ela disse. –Ele não tem idéia.


Antes que qualquer um pudesse reagir a essa afirmação, a porta da frente se abriu pro lado de dentro e pessoas começaram a jorrar do lado de fora. Laura pulou contra a parede pra dar passagem. Argo Pfaffenroth estava na frente. –Ele está aqui – ela disse, apontando para Harry. –Leve-o sob custódia.


Harry virou, uma expressão alarmada passando por seu rosto. –Argo, mas que diabos? Não acho que tenha feito nada na última hora que merece uma prisão!


Sua expressão continuou neutra. –Harry, eu lamento. – fez um gesto para dois bruxos atrás dela, que se adiantaram e seguraram Harry pelos braços.


Hermione, um pouco de sua mente retornando em reação a esse novo ataque a seu amado, se colocou na frente deles, encarando Argo com os braços abertos. –Não, pare com isso! Ele não sabe o que aconteceu!


-Não importa – Argo disse. –Por favor, saia da frente, Hermione.


-Que inferno é isso? – Harry exclamou, ignorado pelas duas.


-Não vou sair da frente! Não vai levá-lo embora de novo! Vai ter que passar por mim primeiro!


Ao ouvir isso, Napoleon, que ela nem tinha visto, se adiantou e com um movimento só a pegou pela cintura e tirou do chão. Ela bateu nele com as mãos fechadas, todos treinamentos de combate corpo a corpo deixando sua mente bruscamente na hora que ela podia usá-los. –Largue ela, Jones! – Harry trovejou, tentando passar pelos dois bruxos que seguravam seus braços. –Se eu tiver que obrigar você a largar, vai doer muito mais, prometo!


-Certo, chefe. Vai entender depois. – ele a carregou até uma saleta, chutando e protestando o tempo todo. Vários bruxos os seguiram enquanto outros entraram no escritório segurando talismãs e maletas e instrumentos e vários textos.


Harry olhou direto para Argo, suas feições contorcidas de raiva. –É melhor que alguém me diga que porra está acontecendo aqui! – ele gritou, o sangue correndo para seu rosto.


Ao ouvir isso, Lupin saiu da multidão e parou na frente dele. –Harry, me ouça. Vou explicar tudo, mas primeiro temos que te examinar, ter certeza que não é uma ameaça.


-Por que eu seria uma ameaça? O que aconteceu com Hermione? Por que estão todos me olhando desse jeito? – sua voz subiu uma oitava, suas perguntas apressadas e meio em pânico.


-Apenas se acalme. Tudo será esclarecido.


-Me acalmar? Quer que me acalme? Entro na minha casa e minha noiva pula em mim como se nunca mais fosse me ver de novo e vocês entram aqui e agem como se eu fosse seu pior inimigo! – lutou contra os bruxos que o seguravam, seus olhos arregalados e raivosos.


-Harry, por favor, apenas confie em mim. Vou explicar tudo.


Harry olhou pra ele por um momento e então relaxou um pouco. –Certo, Remo. Porque confio em você. Mas é melhor que eu tenha algumas respostas e bem rápido.




Napoleon colocou Hermione no chão no meio da sala e fechou as portas francesas que davam para o vestíbulo atrás dele. Dois bruxos estavam na frente delas de braços cruzados.


Ela avançou nele e o agarrou pela frente do casaco, puxando-o na direção dela. –Se você não me deixar ir pra lá, não me responsabilizo pelo que possa fazer!


-Lamento, amor. Queria poder, mas não posso.


-Por que? – sibilou pra ele. –Pelo amor de Deus, é o meu Harry ali, ele estava sumido por dois meses e ele volta por segundos e vocês o arrastam embora! Eu mal toquei nele! – ela recuou e claramente se recompôs. –Ouça. Pelo que ele disse... Não sabe o que aconteceu com ele. Ainda acha que é o dia que desapareceu. Deve estar tão confuso...


-Eu entendo, mas...


-Não há como você entender! – gritou pra ele. –Ninguém entende como tem sido, me ouviu? Não durmo faz dois meses! Sem conseguir pensar em mais nada ou deixar isso pra lá por mais de cinco segundos! Cada minuto de cada dia me preocupando com ele e me perguntando se ainda o veria!


-Ei – ele disse, levantando as mãos em súplica. –Apenas se acalme, certo? Vamos diminuir essa cafeína.


Era a hora errada de uma aproximação leviana. O rosto de Hermione estava vermelho de raiva. Ela avançou e bateu nele, com força. Não foi um tapa da mulher furiosa que ela estava, mas um soco vindo da cintura da agente inteligente que ela logo seria. A cabeça de Napoleon foi para trás, mas ele não se moveu. Hermione recuou, as mãos no rosto e seu peito ofegando e puxando grandes quantidades de ar. Laura se adiantou e colocou as mãos nos ombros de Hermione, guiando-a até o sofá.


-Sente – ordenou. Hermione obedeceu.


-Laura... Acho que vou desmaiar...


-Abaixe a cabeça – Laura disse, lançando um olhar duro pra Napoleon. –Respire devagar, querida. Está hiperventilando...


-Por que ela não pode vê-lo? – Jorge perguntou, indo até Napoleon, que ele não conhecia.


Napoleon observou Hermione, sentada com a cabeça abaixada entre os joelhos enquanto Laura massageava seu pescoço. –É muito perigoso – respondeu. –Não sabemos onde ele esteve ou o que foi feito a ele. Ele pode ser uma ameaça. Ele tem que ficar retido até que o examinemos.


-Ele não é uma ameaça, ele entrou carregando rosas! – Justino disse, exasperado.


-Só porque ele não acha que é perigoso não quer dizer que ele não seja – Napoleon disse, seu tom azedo. –Quando alguém como Harry some por dois meses e depois repentinamente reaparece, bem... Temos que ter muito cuidado.


-Como chegaram aqui tão rápido? – Laura disse.


Napoleon se remexeu e pareceu um pouco tímido. –Desde que ele desapareceu colocamos feitiços em volta da casa que nos alertariam caso ele voltasse.


-Seria bom se a gente soubesse disso! – Jorge gritou.


-Vocês não se importem que ele seja perigoso – Hermione disse num tom linear, sentando direito novamente, um pouco mais calma. –Só querem saber se ele entregou alguma coisa.


-É uma preocupação que temos, sim.


-E desde quando você toma parte no Estabelecimento, Napoleon? – ela disse. –Sua lealdade devia estar com Harry.


-E está. Mas primeiro e mais importante sou um agente da DI, Hermione. E você também devia ser. Sei quanto você ama esse homem, mas quando aceitou o treinamento você concordou colocar seus sentimentos pessoais abaixo de assuntos de negócios e segurança da DI. Nem sempre é fácil, mas é necessário. Você sabe tanto quanto eu que não podemos deixar que ele fique andando por aí sem observação antes que a gente tenha idéia de onde ele esteve e o que ele passou. Você também sabe, tanto quanto eu, que ele pode ser muito perigoso se tiver sido afetado de alguma maneira ou se não for ele mesmo.


Hermione murchou. –Sim, sei disso. Mas não me faz odiar isso menos.




Harry estava sentado numa cadeira com retenções de correntes nos pulsos e tornozelos. –Isso é necessário? – Lupin perguntou baixo.


-Queria que não fosse – respondeu Henry Ubigando, de pé atrás da cadeira de Harry e observando os procedimentos.


-Adoraria saber o que exatamente vocês têm medo que eu faça – Harry disse.


Argo puxou um banco e sentou na frente dele enquanto dois bruxos fixavam um tipo de medalhões dentados de cobre em suas têmporas. –Harry, quero que olhe pra mim e ouça apenas minha voz. – Ele concordou. –Certo. Agora. Que dia é hoje?


-25 de novembro.


Ela trocou olhares com Remo. Todos pararam de respirar, observando o rosto de Harry. –Harry, estamos quase em fevereiro. Você sumiu por dois meses.


Durante um excruciante momento, Harry apenas olhou pra ele. Piscou e deu um sorriso que dizia "certo, piada quase que engraçada". –Ha ha ha. Certo.


-Você saiu da DI nessa noite. Não voltou pra casa.


-Não, acho que não. – ele estava começando a franzir as sobrancelhas.


Argo esticou a mão e um bruxo lhe passou um jornal. Ela desdobrou e o segurou aberto. –Harry, este é o Profeta Diário de hoje. Vê a data? 30 de janeiro de 2008. – Harry olhou o jornal, o rosto neutro. –Me ouça. Saiu da DI às seis da tarde no dia 25 de novembro. Às nove e meia, Hermione entrou em contato com Napoleon porque você não tinha chegado em casa. Ele me notificou. Começamos a busca. Descobrimos que você foi visto em na rua Tottenham Court comprando flores, e depois disso simplesmente desapareceu.


Harry balançava a cabeça de um lado para o outro. –Não. Isto não está certo. Não. Acabei de comprar as flores.


Remo se inclinou pra ele e colocou uma mão sobre seu ombro. –Harry, está desaparecido há dois meses. Nós ficamos procurando várias e várias vezes.


Harry olhou nos olhos de Remo, ofegando. –Ah não. Não.


-Estávamos tão preocupados com você – Lupin disse, mantendo o tom de voz confortador.


Harry baixou os olhos pro chão, olhando de um lado para o outro enquanto sua mente processava as palavras. –Ah meu Deus – ele disse, a voz rouca. –Não pode ser verdade.


-E não lembra de nada? – Argo perguntou.


Ela balançou a cabeça. –Não. Deixei a DI por volta das seis. Estava ansioso pra chegar em casa. Fui comprar flores pra Hermione e aparatei de Londres até nosso jardim da frente. Andei até a porta... Bem, já sabem o resto. – levantou a cabeça de vez. –Hermione!


Remo balançou a cabeça que sim. –Sim, foi muito difícil pra ela, Harry.


Ele começou a lutar contra seus prendedores. –Me solte dessas coisas, tenho que ir vê-la.


-Não, ainda não. –Argo disse. –Temos que te checar primeiro. Onde quer que estivesse, alguém não quer que lembre.


Ele inclinou a cabeça e deu um olhar firme na direção dela. –Não me faça quebrar nada pra sair daqui, Argo. Sabe que eu posso.


-Harry, apenas fique aí. Deixe a gente fazer alguns testes preliminares e pode ir vê-la. Certo?


Relutante, Harry relaxou. Argo balançou a cabeça para os bruxos que estavam em volta da cadeira e eles começaram a balançar as varinhas enquanto murmuravam feitiços. A porta da frente foi aberta, e alguns momentos depois Sirius entrou na sala. Deu um sorriso aliviado quando viu Harry e depois se apressou até seu lado e se agachou perto da cadeira. –Harry, graças a Deus – disse, segurando sua mão.


Harry olhou o rosto de seu padrinho. –Sirius, é verdade? – sussurrou.


-Sim, é verdade – respondeu. –É dia 30 de janeiro. Dois meses desde que vimos você – Harry apertou tanto a mão dele que provavelmente doeu, mas ele não deu nenhuma indicação disso.


Harry engoliu seco e ele mordeu o lábio inferior, seus olhos marejando. –Ela está bem?


Sirius suspirou. –Não vou mentir pra você, Harry. Ela passou por um inferno. Quando você desapareceu... Bem, foi terrível pra ela. Imagine se fosse você e ela tivesse sumido sem deixar rastros. – Harry concordou. –Mas ela nunca desistiu da esperança que você estava bem e que voltaria. Nunca desistiu da busca, mesmo quando muito de nós começavam a pensar que era inútil. – olhou os olhos de Harry. –E realmente não lembra de nada?


-Não – Harry respondeu, sua voz parecendo mais jovem pelo choque. Olhou nos olhos de Sirius. –Parece que estou enlouquecendo, Sirius. Não sei o que pensar.


-Não consigo imaginar o que você deve estar sentindo.


-Sinto como se isso fosse um pesadelo. Tem que ser. A qualquer minuto vou acordar e estarei grato que não é real e vou virar e abraçá-la e voltar a dormir e dessa vez vou sonhar com fofos coelhinhos brancos ou qualquer outra coisa, qualquer coisa menos isso.




Napoleon observava Hermione com um olhar triste, ela sentada no sofá e com as mãos na cabeça, o braço de Laura ao redor de seu ombro. Ele odiava o que estava fazendo e odiava a si mesmo por estar fazendo isso... Apesar de uma pequena, minúscula, parte egoísta dele procrastinar o retorno de Harry e estar feliz por mantê-la longe dele por um pouco mais, mesmo causando tanto sofrimento a ela.


Alguém bateu na porta atrás dele. Hermione levantou os olhos, esperançosa, mas era apenas Remo. Ele entrou e puxou um banco pra frente dela. Todos se aproximaram pra ouvir.


-Ele está bem – Remo disse. Hermione sorriu aliviada e segurou a mão dele.


-O que aconteceu?


-Não sabemos ainda. Mas perguntamos a idade dele ao Oráculo e... – ele parou.


-O que disse?


-Disse que ele tem vinte e sete anos e seis meses – Hermione balançou a cabeça, concordando.


-O que isso significa? – Laura perguntou.


-Significa que ele não pulou no tempo por esses dois meses – Hermione disse. -O oráculo não mede a idade por uma diferença matemática entre a data de hoje e a data de seu nascimento, mas sim pela medida exata do quanto você viveu fisicamente. Se Harry tivesse pulado esses dois meses, seria dois meses mais novo do que deveria. Ele não é.


-O que significa que ele estava vivo em algum lugar esse tempo. – Remo disse -Ele apenas não consegue lembrar. Sua memória foi habilmente bloqueada.


-E quando terminaram com ele, mandaram de volta sem pistas... Vestiram a mesma roupa e lhe deram um buquê de rosas – Hermione bateu em seu joelho com os punhos. –Isso é diabólico – voltou a olhar pra Lupin. –E não há nenhum sinal de onde ele possa ter estado?


-Ainda não. Vamos ter que tentar quebrar o feitiço da memória, mas não aqui. Queremos levá-lo de volta para o quartel general para isso.


Hermione passou as mãos pelo rosto. –Posso vê-lo? – perguntou de novo, parecendo não ter muita esperança.


Lupin pensou por um momento. –Sim. Venha comigo. – ele levantou esticando a mão. Hermione, que não esperava uma resposta positiva, demorou um momento para reagir. Ela pulou, ignorando a mão oferecida e passou rápido por Napoleon e pelos dois agentes que estavam na porta. Remo a seguiu, se apressando para acompanhá-la.


Hermione respirou fundo e entrou na sala de estudos. Abriu a boca, entretanto as palavras pararam em sua garganta quando o viu novamente. Ela não tinha percebido ainda, mas uma parte insistente de sua mente ainda tinha certeza que não era real e que ela entraria ali e tudo seria um boato.


Harry estava de pé junto a uma cadeira de contenção na qual ele evidentemente sentara, massageando os pulsos enquanto bruxos puxavam pequenos talismãs cobre de suas têmporas. –Alguma coisa interessante aí? – perguntou a Henry Ubingado, meio brincando, meio sério.


-Nada que ajude – Henry disse. –É um feitiço poderoso, esse que está te fazendo esquecer. – ele sorriu, a sobrancelha inexistente arqueada. –Consegui descobriu alguns pensamentos muito interessantes e secretos envolvendo a professora Trelawney e uma grande jarra de pudim...


-Hahaha. Isso é jeito de falar com seu oficial superior? – Harry brincou de volta. Ninguém realmente a notou parada ali. Harry virou para os outros agentes na sala. –Certo. Satisfeitos que não sou uma bomba relógio? Preciso vê-la. E não me diga que tem mais um teste porque eu...


-Harry – ela falou, a voz soando como se viesse de muito longe pra ela mesma.


Todos na sala pararam o que faziam. Harry virou devagar para encará-la.


Henry de repente ficou bastante interessado em sua pasta. –Hã... Eu tenho que ir... Agora mesmo... Verificar uma coisa. – ele disse, se apressando pela porta desviando os olhos. Hermione mal o notou saindo, nem a enxurrada de agentes que descobriram que tinham assuntos urgentes em outro lugar e saíram da sala em massa. Tudo que ela via era Harry, do outro lado da sala parecendo um garotinho perdido se perguntando onde ele ia achar a plataforma 9 ½ .


Ela viu em seus olhos que ele sabia o que aconteceu, e por trás deles um lamento terrível pela dor que ele sabia que ela devia ter experimentado. Parecia exausto e muito confuso. Enquanto esses pensamentos passavam por sua cabeça num flash, ele sorriu pra ela, a vida voltando pra seus olhos pela primeira vez. Ao ver isso, o campo de força que ela erguera ao redor de suas emoções desmoronou e ela começou a chorar, dando soluços que rasgavam sua garganta como seres vivos.


Ela avançou cambaleando e o encontrou no meio da sala já que ele se apressara na direção dela, as mãos dela se esticando às cegas na direção dele e de repente ela estava em seus braços e seus pés deixaram o chão quando ele a carregou. Ela passou os braços em volta dele, as lágrimas escorrendo livremente por seu rosto. Por um longo momento, ela apenas o segurou o mais apertado que podia, seus olhos fechados com força lutando contra a possibilidade ainda muito real de ser algum tipo de miragem que desapareceria se realmente acreditasse. Ela podia sentir os ossos de seus ombros sob suas mãos, o pulso em seu pescoço e textura de seu cabelo contra sua face. Se tudo mais fosse verdade, ele parecia real. Ele parecia Harry, desde a cicatriz na parte de cima de suas costas, um brinde da coisa de Allegra, que ela podia sentir sob a camisa dele. Os braços dele em volta dela pareciam tão fortes quanto sempre foram e ela podia sentir o sabão de sua camisa misturado com cheiro vagamente doce de sua pele. Ela colocou o rosto no ombro dele, seu corpo relaxando gradualmente do estado tenso que se encontrara nos dois últimos meses. Ele estava vivo, não era um truque. O alívio era forte o bastante pra fazê-la sentir de cabeça leve. Ele a colocou no chão, mantendo seus braços apertados em volta de sua cintura enquanto ela escorregou as mãos em volta de seu pescoço e puxou o rosto dele em direção ao seu. Os soluços engasgaram em sua garganta quando se beijaram freneticamente; ela podia sentir que a urgência dele se igualava a dela. Ela passou os dedos pelos cabelos dele, sentindo sua respiração quente em seu rosto. Ele a puxou pra seus braços novamente; ela se segurou nele com força, as lágrimas dela molhando o ombro dele. Eles apenas ficaram assim pelo que pareceu uma eternidade, sem dizer nada.


Finalmente ele a colocou no chão e sorriu para ela, esticando os dedos para secar as lágrimas em sua bochecha. As mãos delas vagavam incessantemente pelo rosto e ombros dele, se assegurando de sua solidez. –Você é mesmo real –murmurou. Ele concordou. Um sorriso se abriu no rosto dela, se sentindo estranho no rosto pela falta de costume. Ela colocou uma mão na bochecha dele e olhou em seus olhos. –Pensei que nunca mais te veria.


Ele levantou as mãos e segurou as dela, colocando-as contra o peito. –Me desculpe – ele sussurrou.


-Pelo quê?


Ele olhou de queixo caído pra ela, sem acreditar. –Bem... Sei o que passaria se tivesse sido eu...


-Sim, foi um inferno. Mas não importa agora. Você não fez isso, Harry. Só estou delirantemente feliz de te ver que acho que perdoaria quem te tirou de mim – ela relaxou nos braços dele novamente, passando os seus pela cintura dele. Ele repousou o rosto contra o cabelo dela, uma mão segurando sua nuca. –Você não lembra de nada. – ela falou. Não foi uma pergunta.


-Não, nada. Minha mente insiste que te vi hoje de manhã. – ele suspirou. –Metade de mim ainda acha que isso não pode ser real.


-Acredite em mim, foi real. Vivi cada minuto disso. – ela hesitou. –Quase fiquei louca, Harry. Me preocupando e sentindo sua falta.


-Você parece muito mais estável do que eu estaria se fosse eu.


Ela sorriu para ele, seu coração inchando com o rosto querido e familiar dele. –É incrível como a mente reúne recursos quando é necessário.


De repente, os olhos dele se arregalaram e ele respirou horrorizado. –Perdi o natal, não foi? – perguntou.


Ela balançou a cabeça que sim. –Sim. Vou te contar como foi, mas não agora. – ela suspirou. –Agora, temos que descobrir o que aconteceu com você.


Ele olhou sério pra ela. –Não tenho que te dizer que... Bem, a amplitude das implicações vai de puramente perturbador até realmente terrível.


-Eu sei. Vamos trabalhar nisso. – Ela se inclinou para frente e o beijou de novo, um beijo devagar e persistente que ela queria que contivesse toda felicidade que sentia nesse momento... Sem falar uma pequena promessa do que estava guardado pra depois. – senti falta desse rosto – ela sussurrou. –Senti falta de te beijar. – ele sorriu, levantando uma mão dela até seu rosto pra pressionar a palma contra os lábios. Ela passou um dedo pelo rosto dele. –Te amo tanto, Harry. – ele piscou algumas vezes, seus olhos ficando enevoados. Hermione abaixou os olhos pras mãos juntas deles. –Não sabe quantas vezes desejei te dizer isso quando saiu naquela manhã, no lugar de tudo que disse.


-Foi uma briga estúpida. Você não estava se referindo a minha mãe.


-Claro que não! Só quis dizer que você é homem e não entendia!


-Você estava certa, não entedia. Pensei nisso o dia todo.


Ela olhou tímida para ele. –Bem... Você também estava certo. Acabei brigando feio com minha mãe em Londres. Mesmo assim, foi uma briga idiota.


-Não vai ser nossa última, aposto.


-Nesse momento, não imagino brigar com você de novo.


Ele riu. –As famosas últimas palavras. – levantou a mão e torceu uma mecha do cabelo dela no dedo, sua expressão distante.


-Tem uma multidão aí fora esperando pra ver você.


-Eles podem esperar. Vamos correr lá pra cima e dar uns amassos no quarto de leitura lá em cima.


-Hum... Alguém está sendo um garoto levado – ela disse, rindo. Era tão bom rir com ele que ela achava que podia quebrar a lei da gravidade e apenas sair flutuando. –E por mais tentador que isso pareça, acho que nos procurariam logo.


-Ah, certo. – ele disse, relutante, como se estivesse concordando em aparar toda grama com as unhas. –Vamos.


Ela riu pra ele e andaram em direção da porta fechada, segurando as mãos com força. Hermione respirou fundo e abriu as portas.


Por um segundo, a cena no vestíbulo ficou congelada em seus olhos. Laura e Gina estavam lado a lado no segundo degrau da escada principal. Gina parecia ansiosa e estava com as mãos na frente do corpo, como se não soubesse o que fazer com elas. Justino e Jorge estavam próximos, a aura de "Devemos Cuidar das Garotas" em volta deles. Sirius e Remo estavam perto do jardim de inverno, com as cabeças próximas no meio de uma conversa. Argo estava sentada ereta numa cadeira de costas alta contra a parede e vários agentes se espalhavam aqui e ali em pequenos grupos. Quando a porta se abriu, todos viraram pra olhar, deixando suas frases inacabadas e seus movimentos incompletos.


Ninguém parecia saber como reagir. Finalmente, Gina quebrou a paralisia pulando de pé e se apressando pelo vestíbulo. Jogou os braços em volta do pescoço de Harry e o abraçou. Depois de um momento de surpresa, ele retribuiu o abraço, sorrindo. –Oi, Gin – disse.


Ela recuou e sorriu pra ela. –Ah, Harry... Graças a Deus, você está de volta – ela ficou na ponta dos pés e beijou sua bochecha. Como se o beijo fosse o disparo que iniciou os 100metros rasos, Harry de repente foi cercado por amigos ansiosos por cumprimentá-lo. Hermione se afastou para dar espaço para o ataque, passando as mãos pelo rosto e de repente se sentindo mais cansada que achava possível estar e ainda permanecer consciente. Harry foi abraçado por Laura, depois Justino e Jorge de vez, os dois dando tapinhas em suas costas e fazendo brincadeiras para cobrir o alívio que sentiam. Sirius o cumprimentou propriamente e a maioria dos agentes queria apertar sua mão.


Depois de alguns barulhentos e confusos minutos, Hermione conseguiu retomar seu lugar ao lado dele, segurando o braço dele no seu. Ela não conseguia evitar de se sentir possessiva, e saber que em algum ponto ela teria que o deixar sair de suas vistas novamente produzia uma nuvem negra sobre ela. Em sua mente, sabia que ele estaria protegido no futuro imediato e que as probabilidades dele sumir novamente eram pequenas, mas suas emoções se recusavam a ouvir a razão.


Argo estava bem pra trás quando o comitê de boas vindas conclui sua tarefa, mas logo ela veio pra frente. Hermione segurou o braço de Harry com mais força, um desconforto subindo em sua garganta. Ela já sabia o que estava por vir, e pela expressão teimosa no rosto de Harry e a de resignação no de Argo, eles também.


-Harry – Argo disse baixo. –Sabe o que vem depois.


Hermione deu um passo pra frente. –Por favor, Argo. Não nessa noite.


-O que está acontecendo? – Laura perguntou, uma expressão confusa.


Hermione suspirou. –O procedimento diz que Harry deve ser levado imediatamente até que sua memória seja restabelecida ou até que descubramos o que aconteceu com ele.


-Isso é ridículo! – Laura exclamou. –Não faz sentido...


-Suponha que alguém vá pro Zaire – Hermione disse, interrompendo. –E quando volta pode estar ou não estar carregando o vírus Ebola. Você não ia querer uma quarentena pra ele até ter certeza?


-Não é a mesma coisa...


-Infelizmente é a mesa coisa – Argo disse. –E esses dois sabem disso. Um bruxo que sumiu dois meses é perigoso. Um Mage que sumiu dois meses é infinitamente mais.


Hermione respirou fundo. –Argo, por favor. Por favor, deixe que eu fique com ele hoje. Só essa noite. Eu mesma o levo amanhã de manhã para o quartel general. Ele está longe há tanto tempo, não pode trancá-lo em uma cela por enquanto. Deixe que nós... Que eu... Tenha um tempo com ele antes. Se precisar, deixe alguns agentes aqui. Mas não o leve tão logo, estou te implorando.


Argo não disse nada por um momento. Ela olhou pra Henry. –O que acha?


Henry deu de ombros. –É um risco.


-Um risco pequeno – Lupin disse. –Essa casa está cheia de bruxos e protegida por feitiços. Ficarei aqui de bom grado.


-Eu também – Sirius se intrometeu.


Argo olhou pro rosto deles e suspirou. –Certo. Mas é melhor trazê-lo amanhã logo cedo. Lupin, escolha alguns agentes para ficar. Hum, Jones... Você fica também. – Ela olhou do rosto de Napoleon para o de Harry, sorrindo ao ver as expressões de horror quase idênticas que os dois tinham ao pensar nisso. –Divirtam-se. – ela começou a andar em direção à porta, depois parou. Sem olhar em volta ou dizer uma única palavra, ela repentinamente virou e foi até Harry, deu um abraço rápido nele, e recuou de repente como antes. –É bom te ver, Harry – ela disse baixo depois virou e saiu pelo vestíbulo, seguida pela maioria dos bruxos que trouxera consigo.


A porta se fechou atrás deles e por um momento ninguém se mexeu ou disse uma palavra. De repente, Justino chamou atenção e imitou uma saudação exagerada para porta. –Bom trabalho, 007! – ele disse com uma voz militar. –Agora me traga um Stoli e Tonica, e não esqueça da sombrinha de enfeite!


Depois de um silêncio surpreso todos começaram a rir. O som disso, muitas risadas que ecoavam no teto de 6metros de altura, pareciam limpar a casa da melancolia que caíra sobre ela e sobre aqueles que respiravam dentro de suas paredes.




Sem que Hermione soubesse, enquanto ela e Harry estavam se reunindo no escritório, Laura mandara corujas para o que parecia ser todos os bruxos do mundo que falavam inglês. Enquanto todos se recuperavam dos risos depois da imitação de Justino de "dead-on M", os primeiros representantes chegaram, Cordelia e as crianças que cumprimentaram animadas o tio Harry e não tentaram esconder a irritação com a falta de presentes depois da viagem que ele pareceu surpreso em saber que estava fazendo. Cordelia chorava sem parar, alarmando Charlotte que não conseguia entender porque a mamãe estava chorando e rindo ao mesmo tempo.


O que começou como uma marola, virou uma onda e depois um tsunami. Cho veio correndo para casa da sua turnê promocional. Weasleys chegavam às pencas, a chegada de Molly iniciando outra rodada de choro. Os pais de Hermione apareceram e o pai dela arrastou Harry para um canto e o censurou por abandonar sua preciosa filha. Draco apareceu e depois de cumprimentar Harry com a reserva cordial que caracterizava o relacionamento deles imediatamente iniciou uma discussão calorosa com Napoleon, com quem tinha uma certa rixa.


Professora McGonagall. Neville e Amélia. A maioria da DI. Metade da turma de formando deles. Logo a casa estava cheia, quase transbordando e um tipo de celebração se espalhara. Cedo na noite, Jorge sumiu na cozinha, arrastando os três agentes de Lupin da DI como escravos, e petiscos e bebidas começaram a aparecer. Logo Justino estava ao piano, tocando musicas famosas, um grande jogo de esconde-esconde tinha começado pela casa envolvendo as doze crianças presentes e havia até mesmo um pequeno jogo de quadribol no quintal... Permitido pelo tempo relativamente frio e úmido do fim de janeiro. Cada porta da casa labirinto estava aberta, transformando-a num espaço compartilhado.


-Como se sente? – Laura perguntou, sentando ao lado de Hermione em um dos divãs da galeria leste. Da posição onde estavam podiam ver Harry na sala conversando com Neville.


-Acho que vou desmaiar.


-Vá em frente. Eu só vou te segurar e mexer sua boca enquanto Justino faz vozes engraçadas.


Hermione sorriu. –É muito estranho. É uma liberação total e ilimitada. O mais perto que consigo comparar foi quando estava me preparando pra defender meu doutorado. Passei uma semana inteira até o minuto da defesa trabalhando nisso, sem dormir, comer ou beber. O mais estranho é que não me sentia cansada, com fome ou com sede. Nem percebi que estava afetada. Era como se o estresse deixasse meu corpo impenetrável às necessidades. No minuto que minha defesa acabou, foi como se não conseguisse deixar meus olhos abertos tempo suficiente pra sair pelo corredor. É quase como isso. Fiquei tão acostumada com o estresse que estava adaptada. É um choque descomprimir tão de repente. Está me deixando um pouco tonta.


-Mas não se sente feliz?


Hermione olhou pra ela, chocada. –O que, está brincando? Nunca estive tão feliz. Descreveria animadamente cada detalhe de minha felicidade até deixar você enjoada se não estivesse tão cansada.


-Por que não tira um cochilo?


-Está brincando, certo?


-Não. Todo mundo aqui quer um pouco dele agora. Não prefere estar bem e descansada pra mais tarde, quando tiver ele só pra você? – Laura deu um sorriso pra ela, com um brilho malicioso nos olhos.


Hermione riu. –Se eu não tivesse dormido a vida todo ainda assim estaria acordada pra aquilo.




Harry caminhava pelos corredores do primeiro andar, procurando Hermione. A maioria dos visitantes tinham ido embora com abraços e declarações de alívio com seu reaparecimento. Essas boas vindas ainda lhe pareciam estanha, já que sua mente teimosamente insistia que tinha visto Sirius no dia anterior, e Cordelia e as crianças no último fim de semana.


-Nossa – Joge disse, pegando alguns copos da borda de uma mesa. –Eu certamente não planejava fazer isso hoje. Pensei em escrever algumas cartas e talvez ler um livro. Bem feito pra mim por ter planejado fazer alguma coisa relaxante. – ele sorriu enquanto passava. –É bom te ter de volta, Harry.


-Obrigado, Jorge. Queria poder dizer que é bom estar de volta, mas...


-Não parece que você foi. Deve ser esquisito.


-É uma boa palavra pra isso. – Jorge lhe deu um tapinha no ombro e continuou em direção a sala de estudos.


Harry continuou até a sala de visitas. Em vota dele, havia sinais dos meses que perdera. Um pedaço da decoração de natal sobre a lareira. O casaco pesado de inverno de Justino nas costas de uma cadeira. A parede norte do escritório, que eles tinham começado a lixar antes dele sumir, agora estava completamente repintada.


Um pequeno movimento no canto lhe chamou atenção. Hermione estava deitada de lado em um dos grandes sofás da sala, dormindo. Ele se agachou ao lado dela, ficando quieto para não acordá-la. Ela parecia tão em paz e tão relaxada, duas coisas que ninguém precisava dizer a ele que ela não estivera durante esses meses. O anel de noivado brilhava em sua mão esquerda, que estava presa em sua mão direita, as duas sob o rosto. Ele esticou a mão e tocou o cabelo dela, se perguntando pela milésima vez como ele conseguira ficar tão perto dela todos esses anos, sem suspeitar da profundidade do amor que sentia por ela. Inclinou-se e deu um beijo suave em seus lábio. –Hei – sussurrou, tocando o rosto dela com as pontas dos dedos. –Todo esse drama de retorno está te entediando? – perguntou em tom de brincadeira.


Ela se mexeu e seus cílios piscaram enquanto ela abria os olhos. Seus lábios se curvaram em um sorriso quando ela o viu se inclinando na direção dela. –Hmmm – ela murmurou. –Parece que eu não estava sonhando. – ela passou a mão por trás do pescoço dele e o puxou para um beijo mais longo. Ela suspirou. –Todo mundo já foi?


-Menos Remo, Sirius e Napoleon, junto com alguns agentes que ficaram de babá.


-Bom – ela sentou e gesticulou pra que ele sentasse no sofá com ela. Ele se esticou no sofá com a cabeça no colo dela, deixando seus olhos fecharem. Ela colocou a mão sobre o peito dele e começou a passar os dedos por seus cabelos devagar. Essa era uma das posições favoritas deles quando estavam relaxando em casa (apesar de que quando era a vez de Hermione ficar deitada ela geralmente acabava dormindo); a familiaridade era reconfortante; por alguns minutos, nenhum dos dois falou. Harry esticou o braço e passou a mão pelo antebraço dela que estava sobre seu peito.


-Você parece diferente – ele disse baixo.


-Como?


-Não sei.


-Bem, esse é o tipo de experiência que te muda um pouco.


-Lamento – ele disse de novo.


-Não tem nada do que se desculpar. A única coisa que desejei era te ter de voltar, o que quer que tenha acontecido.


Ele não disse nada por alguns minutos. –Estou com medo – finalmente sussurrou.


-Eu sei.


-É como se eu estivesse correndo de algo que não posso ver o que é. Não posso virar e lutar e nem mesmo posso ouvir seus passos.


-Não está sozinho – ela disse, alisando sua testa. –Sei que ainda sente como se estivesse, mas não está. Nunca está sozinho, sempre terá a mim, todos os dias de nossas vidas. Vamos superar isso.


Ele olhou pra ela. –Você é a pessoa mais maravilhosa que conheci. Sabia disso?


Ela sorria. –Fique com isso em mente.




Hermione saiu do banheiro, levantando a mão pra colocar uma mecha atrás da orelha. Ela estava nervosa, e isso dava vontade de rir de si mesma. Estou nervosa por dormir com meu próprio noivo, pensou. Isso era bobo ou o que? Mas tinha passado tanto tempo, era quase como se fosse a primeira vez de novo... Não que tenha existido desconforto da primeira vez, ela estava viajando demais na paixão pra isso.


Harry estava sentando no peitoril da janela, totalmente vestido, com os joelhos puxados contra o peito enquanto olhava o quintal. Ela passou pelo quarto e sentou na borda da almofada, de frente pra ele. –O que está pensando? – ele virou a cabeça pra encará-la e ela viu que o rosto dele estava molhado. Ela se inclinou pra frente, preocupada. –Harry... Por que está chorando?


-Era pra ser nosso primeiro natal juntos...


-Não vamos pensar sobre isso. Está no passado...


-Tinha uma coisa pra você.


Ela sorriu. –Eu sei. Sirius me deu. É lindo, obrigada.


-Não, não o colar. Outra coisa. – ele esticou a mão pra baixo e pegou uma pequena caixa que ela não vira ao lado dele. –Estava guardando pra te dar quando estivéssemos sozinhos. Escondi atrás de minhas capas reservas no closet. – Ele segurou a caixa entre eles.


-Devo abrir?


Ele fez que não com a cabeça. –Não, precisa de uma explicação. – ele abriu a tampa da caixa e Hermione se inclinou pra frente pra olhar. Estava cheia de... Bem, parecia tralhas ou lixo. Ela franziu a testa e já ia perguntar quando ele levantou o dedo e impediu a questão. Ele enfiou a mão e puxou um papel. –Esse é o número de inscrição do primeiro concurso que entramos. Casal número 23. – ele colocou de volta na caixa e puxou outra coisa. –Essa é uma vela do bolo que você fez no meu 23° aniversário. Aqui tem um pouco do confete de nossa formatura. Essa é a fita do seu diploma de doutorado. Eu... hã... peguei. – olhou pra ela. Hermione estava sem palavras. –Eu poderia continuar, mas ficaríamos aqui a noite toda. Não tenho idéia do porque guardei essas coisas, mas aqui estão. Talvez porque nunca tive histórias de família ou nenhuma lembrança do passado que quisesse preservar tanto quanto nós, mesmo antes de saber que existia um nós. – ele fechou a caixa e esticou pra ela. Hermione a recebeu com as mãos tremendo. –Queria que ficasse com isso. Considere como evidência de minha limitada habilidade precognitiva.


Ela passou os dedos pela caixa, deixando fechada, para que não se perdesse completamente na vontade de ver todo conteúdo. –Você sabia? – sussurrou.


-Sabia o que?


-Você sabia, do mesmo jeito que sabia que todos os outros não eram pra mim... Você sabia que seria você no fim das contas?


Ele balançou a cabeça que não. –Nunca me considerei merecedor de tanto, Hermione. De minha fama, de minhas habilidades no quadribol, ou de meus amigos e sua lealdade... Certamente nem de seu amor.


Ela sorriu e ficou de pé. –Também tenho uma coisa pra você. – Ela foi até seu bureau e abriu a gaveta de cima, puxando três pesados volumes de capa de couro. Voltou até a janela e os colocou no colo dele, uma mão repousando protetoramente sobre o topo da pilha. –No dia que você desapareceu comecei a fazer um diário, coisa que nunca consegui fazer fielmente. Todo dia eu escrevia o que estava acontecendo com a gente, na casa e no mundo. Era pra você, pra você saber o que tinha acontecido enquanto estava longe, e assim continuou... Mas no fim era mais que isso. Era um lugar onde eu podia despejar meu coração, uma platéia pra todos meu medo e minhas dúvidas e minha tristeza e tudo o que estava acontecendo em minha vida e que você não estava aqui pra ver. – ela os segurou pra ele, que os aceitou, imediatamente os segurando com força contra o peito. –Aqui. Leia e entenda.


Ele os colocou dela e tirou a caixa do caminho, se aproximando dela sobre a almofada. –Depois.


Hermione sorriu e então se inclinou pra frente e o beijou. Ela o beijou da forma que desejava antes, no escritório e no vestíbulo, do jeito que não deveria ser testemunhado por outros, não importando quanto fossem queridos. As mãos deles foram até o próprio rosto e ele tirou os óculos, colocando-os na almofada. As mãos dela estavam em seus botões, depois escorrendo por seu peito e então jogaram a camisa dele no chão. A camisola de Hermione logo se juntou a camisa sobre o tapete e ela estava nos braços dele, da forma que sentiu falta por meses, sua pele contra a dele, com as batidas do coração dele batendo contra o peito dela. Ela sentiu a cama sob si, sem recordar como tinham chegado ali e tudo o que havia no mundo era ele... E sua própria felicidade.

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