Fuga



A Fuga


Era o dia do seu Aniversário. Harry vestira a t-shirt dos Tornados que os seus amigos lhe haviam oferecido no Natal do Ano Anterior. E a Casa encheu-se de corujas de corujas com presentes e cartões. Até Hagrid, Guarda dos Campos de Hogwarts, lhe enviou um livro.


Hagrid adorava Harry, e estava-lhe extremamente agradecido por Harry ter provado a sua inocência no ano anterior, mas a verdade é que o Slytherin dispensava um livro que lhe tentava morder, e ele tivera que deixar amarrado debaixo da cama.


 Sirius Black, apareceu no noticiário muggle, um alerta para a população ligar para uma linha caso o avistassem. Conseguira fugir da prisão e era extremamente perigoso. O Tio Vernon prontamente criticou o aspecto de vagabundo.


- Eles não tomam banho na prisão? – Harry perguntou, de sobrancelhas franzidas. As prisões inglesas tinham condições de higiene.


- Não tomam se não quiserem. – O Tio Vernon respondeu. – Quando é que irão perceber que a única maneira de lidar com esta gente é enforcando-os? Nem sequer nos dizem de onde fugiu o Maníaco.


Harry sabia de uma prisão em Inglaterra, onde a higiene pouco ou nada importava para os prisioneiros, porque os prisioneiros tinham tendência para enlouquecer, lentamente. Uma prisão que jamais seria mencionada no noticiário muggle. Black fugira de Azkaban, e era um feiticeiro. Mas obviamente que não iria partilhar a informação com os tios.


- Petúnia, tenho de sair dentro de dez minutos para ir buscar a Marge. – O Tio Vernon disse, quando o telejornal acabou. – Ah! E rapaz, temos de esclarecer umas coisas antes de a ir buscar.


- Deixe-me adivinhar, a tia Marge não sabe nada sobre Hogwarts? Não se preocupe não estou a pensar informá-la. – Harry cortou.


- Óptimo. Eu não quero quaisquer demonstrações da tua anormalidade debaixo do meu tecto. Vais-te comportar, e falar civilizadamente quando te dirigires à Marge. Entendido?


- Espero que ele seja igualmente civilizada. – Harry cortou. Depois retirou um papel do bolso.


Os Terceiros Anos poderiam ir a Hogsmeade, uma vila completamente mágica junto de Hogwarts, se os Encarregados de Educação autorizassem. Harry meditara sobre como convenceria o Tio Vernon a assinar o papel, e percebeu que a vinda da Tia Marge representava uma oportunidade única.


- O que é isso, rapaz? – O tio Vernon franziu as sobrancelhas.


- Não tem mais nada a dizer-me sobre a Tia Marge? – Harry perguntou, inocentemente.


- Ah! Claro, nós dissemos-lhe que frequentavas o Centro de São Brutos para rapazes impossíveis de serem reabilitados. E vais manter essa história, ou estás em muitos maus lençóis.


- Pode assinar este papel? – Harry perguntou ao tio, quando este se preparava para ir buscar a Tia Marge. – São coisas da minha escola…


- E porque haveria eu de me preocupar com isso?


- Porque com o iniciativo certo, eu posso lembrar-me melhor de como devo comportar-me à frente da Tia Marge. Como é que se chamava a escola mesmo?


- São Brutus para rapazes impossíveis de serem reabilitados. – Os olhinhos do Tio Vernon cintilaram de raiva – Eu assino, se, quando a Marge for embora, tudo tiver corrido bem.


Harry não tinha escolha senão aceitar.


A coruja de Blas foi a última a sair. Harry agradeceu-lhe o bilhete para o concerto dos Wizard of Winter, e pediu-lhe para avisar o pessoal para não enviar corujas durante a próxima semana. Os Wizard of Winter iam tocar na Diagon-Alley na última semana de férias. Eles eram a banda preferida de Daphne, e os Slytherin estavam a planear ir ao concerto. Blas que lamentava ainda estar na Hungria, resolvera dar o bilhete a Harry, sabendo que o amigo não teria oportunidade de o arranjar com antecedência.


Escondeu todos os postais debaixo da cama, juntamente com os livros da escola que conseguira tirar da despensa. Achou que para um rapaz que andava em São Brutus, deveria ter um ar de um delinquente. Pôs a cabelo para a frente, o que ocultava ainda mais a cicatriz, e quase os olhos. Despiu a t-shirt dos Tornados, e trocou-a por uma camisola só de alças, justa e branca.


A Tia Marge era a irmã do Tio Vernon. Era uma criadora de buldogues e vivia numa quinta. Não visitava Privet Drives mais vezes, porque lhe era impossível ficar longe dos cãezinhos. Um facto que Harry não lamentava.


Tocaram à campainha. Harry desceu as escadas para abrir a porta.


Ela era muito parecida com o Tio Vernon. Harry via claramente o início de um bigode, sempre que olhava para a cara flácida e um pouco arroxeada. Mandou uma mala enorme contra o estômago de Harry, e deu a Dudley um abraço. O primo era pago para suportar aqueles abraços. Debaixo do braço que não abraçou Dudley, estava Ripper, um dos seus buldogues e aparentemente um que adoecia se ficasse longe de Marge.


- Então – A Tia Marge olhou para Harry – Ainda por aqui?


- Sim. – Harry respondeu seco.


- Não gosto do teu tom, rapaz. – A Tia Marge olhou-o com um sorriso cínico. – Deverias estar agradecido ao teu tio e à tua tia por te terem acolhido. Ias directo para um orfanato, se te tivessem deixado à minha porta.


- Sim, - Disse Harry, sem sequer olhar para ela. Esforçava-se para agir como um rapaz problemático. A Tia Marge adorava que ele fosse problemático, de qualquer maneira, adorava qualquer oportunidade que servisse para o criticar.


- Qual a escola para onde o mandaste, Vernon? – Marge perguntou.


- São Brutus. – Disse o Tio Vernon, orgulhosamente. – Um instituto de primeira para casos desesperados.


- Eles usam a bengala lá em São Brutos, rapaz? – Perguntou-lhe Marge.


- Montes de vezes. – Harry respondeu.


- Ainda bem. – Aprovou Marge – É óbvio que te faz falta.


Harry não disse nada. Passava muitos dias sem dizer nada. A Tia Marge, ao contrário dos Dursley, adorava mantê-lo por perto, para poder desdenha-lo, criticá-lo e compará-lo com Dudley. E dar presentes caros a Dudley e ignorá-lo, sempre à espera que Harry dissesse alguma coisa em protesto, o que não acontecia. Harry não se importava com os presentes, nem com a opinião da Tia Marge sobre ele, o que não suportava era os comentários sobre as razões que faziam de Harry um rapazinho tão desagradável. Era tudo sobre os seus pais.


O terceiro jantar lá em casa, foi o inicio.


- É uma das regras-base da criação. – Falava Marge – Se a cadela tem defeito, o cachorro vai, de certeza, …


O copo da Tia Marge explodiu-lhe na mão. Harry tremia de raiva. Começou a rever mentalmente feitiços, e poções, e levantou-se da mesa, passando a sobremesa. Encostou-se à parede fria do pátio e obrigou-se a relaxar.


Mas o último jantar da Tia Marge…Nem todos os pensamentos sobre Hogwarts, e Hogsmeade, e os livros de feitiços conseguiram conter a raiva de Harry.


Os seus pais haviam morrido para o protegerem do feiticeiro mais perigoso que o mundo alguma vez conhecera. E a Tia Marge chamava a feiticeiros talentosos e corajosos como os seus pais de “ovelha ranhosa, que envergonhava a família da Tia Petúnia” e ao seu pai “um inútil”, e que se tinham “matado de bêbados no carro”.


E foi, então, que Marge se calou subitamente. Tinha começado a inchar. Parecia um balão monstruoso. Os dedos lembravam salame. Os botões do casaco saltavam. Começou a subir na direcção do tecto. Ripper ladrava. O Tio Vernon e a Tia Petúnia gritavam.


O Tio Vernon tentou agarrá-la, já no pátio, e Ripper agarrou a perna do Tio Vernon. Harry escapuliu-se antes que alguém reparasse nele.


A porta da despensa abriu-se quando ele se aproximou. Em poucos segundos, tinha carregado os livros e os presentes de aniversário que estavam debaixo da cama, e tinha a sua varinha no bolso. Agarrou na mala e na vassoura e preparou-se para sair.


O Tio Vernon bloqueou a porta de entrada, tinha as calças rasgadas e a perna ensanguentada.


- PÕE-NA BEM. – Gritou.


Harry tirou a varinha e apontou-a ao tio. Uma raiva fria percorria o seu corpo.


- Ela mereceu. Saia da frente. – Harry sibilou.


O Tio Vernon recuou assustado. “Vou-me embora. Estou farto” Harry disse.


Caminhou ao longo de quarteirões. A noite estava fresca e agradável. Estava irritado. Perdera o controlo.


O mais certo era ser expulso de Hogwarts. Fizera duas demonstrações de magia em menos de uma semana. Ambas contra uma muggle que nada sabia do mundo mágico. Era uma quebra de leis importantes na Feitiçaria. Lembrava-se da Carta do Ministério da Magia, depois de ter feito um pequeno encantamento, e do discurso de Snape, depois de ele e Malfoy terem enfeitiçado um carro. A certeza de que iria ser expulso aumentava a cada segundo. Atacar a própria Tia parecia passar os limites do que Snape considerava perdoável a uma larga margem.


Perguntava-se se seria preso ou apenas deixado à margem do mundo da feitiçaria. Lembrou-se do rosto de Sirius Black, havia loucura nos seus olhos e todos sibilavam coisas horríveis sobre os guardas de Azkaban, Harry temeu ser preso.


Estava sozinho no meio de uma rua muggle, sem saber que explicação poderia dar para ter uma mala cheia de livros de magia e uma vassoura. E não fazia ideia para onde ir, nem como ir para onde quer que fosse. Encostou-se a uma parede fria.


Foi quando se começou a sentir observado.


Harry ergueu a varinha com o Lumus. Viu uma enorme silhueta a espreitar nos arbustos, fazia lembrar um cão. Recuou e tropeçou na mala, caiu. O cão desapareceu, e um enorme autocarro roxo surgiu no seu lugar.


Era o Autocarro Cavaleiro, para Feiticeiros em Apuros. Equipado com camas no lugar de acentos, e viajava a uma velocidade alucinante, já que os muggles não o viam nem o ouviam.


Stan Shunpike ajudava com as bagagens, e Ern era o condutor. Harry pagou por uma cama, e por um chocolate quente, e disse que se chamava Hunter Greengrass e queria ir para Londres. Dissera o primeiro nome que lhe ocorrera, porque não queria a atenção de ser Harry Potter, nem que o Ministério da Magia o localizasse facilmente. Daphne iria matá-lo, quando soubesse que ele usara o nome do seu irmão gémeo, que morrera num acidente.


Stan lia o Profeta Diário, e Sirius Black vinha na primeira página. Ele era um feiticeiro, tal como Harry suspeitara. E matara treze pessoas com uma maldição.


- Coisa assustadora, né? – Stan perguntou. Ele reparara que Harry estava a ler a notícia.


Harry acenou.


- À frente das testemunhas e em plena luz do dia. Grande trabalheira que ele criou. – Stan disse. – Um grande apoiante do Quem-Nós-Sabemos.


- Uh? – Harry queria que Stan continuasse a falar. – Não sabia.


- Todos os outros apoiantes foram presos. Mas o Black achou que ele estava no comando com o afastamento do Quem-Nós-Sabemos. Atacou uma rua cheia de muggles, matou um feiticeiro e doze muggles. E ficou ali a rir-se. Ele é doido, não é, Ern?


- Se não era doido, quando entrou em Azkaban. É doido, agora, de certeza. Ninguém sai lúcido de Azkaban. – Ern afirmou, sombriamente.


- Mas agora ‘tá cá fora. Assustador, hein? Nunca tinha havido uma fuga de Azkaban. Como terá conseguido? – Stan continuou.


Os feiticeiros começaram a descer um por um. Harry deitou-se na sua cama. E pôs a caixa de música que Daphne Greengrass lhe oferecera no seu primeiro natal em Hogwarts a tocar no modo individual, que só ele conseguia ouvir. A animada Crazy Love Potion, dos Wings 9 encheu os seus ouvidos.


Ele seria facilmente reconhecido na Diagon-Alley. E o Ministério facilmente o encontraria. O ideal seria fugir com Daph e Pesadelo, mas Daphne estava na Croácia ou na Grécia e ele não tinha uma coruja.


- Pra onde, Hunter? – Perguntou Stan.


- Mansão Malfoy. – Harry respondeu. Viu Stan franzir o sobrolho, mas não comentou nada.


Era a sua melhor opção. Teria de admitir que perdera o controlo, e conseguia imaginar a desilusão dos dois adultos, o que o deixava bastante envergonhado. Mas não conseguia pensar em mais nada. A Mansão Malfoy era o mais parecido que tinha com um lar, a seguir a Hogwarts.


Chovia, quando chegou. O autocarro deixou-o para lá dos jardins, o que o obrigou a andar pelos enormes terrenos da Mansão, até alcançar a porta de entrada. Um elfo abriu-a.


- Harry Potter. – Berniey sorriu. – Entre, entre, senhor.


O elfo agarrou a sua mala. Uma figura feminina surgiu no corredor.


- Disseste Harry Potter? – Perguntou. Os seus olhos encontraram Harry, e correu para ele, abraçando-o. – Oh. Harry. Estava tão preocupada! O que te passou pela cabeça para fugires dos teus tios a meio da noite?


Havia mais alívio e preocupação na sua voz, do que qualquer repreensão. Harry abraçou-a de volta, sentindo-se verdadeiramente seguro naquele momento.


- Desculpe incomodar, Miss Malfoy…- Harry começou.


- Incomodar? Tu nunca incomodas, querido. Tens aqui um quarto para o usares, quando quiseres. Tenho a certeza que o Berniey já levou as tuas coisas para lá. Anda daí…


- Harry. Vieste. – Draco apareceu do outro lado, e abraçou-o. Ele estava divertido– Insuflaste a tua tia?


- Ainda bem que vieste para aqui, Harry. – Lucius Malfoy apareceu no corredor. – Estás bem?


Harry acenou: “Eu…Eu perdi o controlo, Mr. Malfoy. Ela estava a ofender os meus pais…e no momento seguinte, eu…”. Os olhos de Harry encheram-se de lágrimas de raiva e vergonha.


- Todos sabemos como esses muggles com quem tu vives são insuportáveis. – Lucius constatou, compreensivo.


- Eu acho que vou ser expulso. – Harry baixou a cabeça. – Eu não devia perder o controlo.


- Isso é um facto. – Disse uma voz atrás de Harry. A porta abrira-se, novamente. Snape entrara e com ele viera o Ministro da Magia, Cornelius Fudge. – Eu disse-lhe que se quisesse encontrar o Potter, deveria esperar aqui e não na Diagon-Alley, Senhor Ministro.


- Harry, eu sou Cornelius Fudge, Ministro da Magia. – Fudge apertou-lhe a mão.


- A sala está vazia, senhor Ministro. – Narcisa Malfoy indicou.


Fudge levou Harry para a sala. Lucius Malfoy e Severus Snape entraram atrás.


- Acho que vais gostar de saber, Harry, que o esquadrão de Departamento de Acidentes Mágicos já resolveu a situação em Privet Drive. A memória da tua tia foi alterada, e não se lembra de nada. Os teus tios aceitaram-te de volta no próximo verão, se passares o natal e a páscoa em Hogwarts.


- Eu não quero voltar a Privet Drive, senhor ministro. – Harry replicou.


- Ora, ora…eles são a tua família. Tenho a certeza de que gostam todos uns dos outros, no fundo. – Fudge tentou sorrir.


- Tenho a certeza de que no próximo Verão se pode resolver isso. – Snape constatou seco.


- Portanto, só falta decidir onde vais passar as próximas duas semanas…- Fudge começou.


- Aqui. – Lucius Malfoy afirmou. – Como me parece óbvio.


- Quer dizer que não vou ser expulso? – Harry perguntou, surpreendido.


- Foi um acidente. – Fudge sorriu. – Conseguimos ultrapassar acidentes.


Mas Harry tinha-se virado para Snape. Mesmo que o Ministério da Magia considerasse que ele poderia ficar, o Chefe de Slytherin continuava a ter poder de o expulsar, se assim o entendesse.


- Falamos sobre o teu comportamento na escola, Potter. – Snape afirmou.


- Sim, senhor. – Harry acenou. – Veio até aqui só para me dizer isso, senhor Ministro?


Pelo canto do olho, viu Snape a esboçar um sorriso.


- Sim, dado…aaa…uh, o clima actual, achei, hum, melhor ter a certeza de que estavas bem. – Fudge afirmou.


Mas Harry soube imediatamente que algo de estranho se passava. Snape trouxera em pessoa o Ministro à Mansão Malfoy. Harry saia impune de ter quebrado as regras. E não era normal o Ministro andar tão preocupado com a sua pessoa. 

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N/A: Muito parecido com a história original, sei. :( Mas espero que gostem. O Harry tinha de insuflar a tia Marge, não sobrevivia se esse episódio não existisse.

Gi Magno: Obrigada. Adoro o seu apoio. Espero que goste da fic, então. E vá comentando. É sempre motivador =) 

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Comentários (1)

  • Guilherme L.

    Nossa,você atualizou tão rápido que eu nem consegui comentar no cap 1 kkkk,ficou bastante bom,não importa que as vezes se pareça com a história normal,certas coisas não podem ser mudadas mesmo!

    2013-03-30
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