Brave New World



Hagrid insistiu em acompanhá-lo até Gringotts e pareceu genuinamente triste com a sua reacção. Deu-lhe a chave do seu cofre e deixou-o ir com um Goblin de nome Griphook, mas não antes de Harry reparar que ele fez um levantamento em nome de Hogwarts. Os Goblins eram os responsáveis pelo dinheiro dos feiticeiros e Griphook rapidamente esclareceu Harry sobre o valor das diferentes moedas, assim que ele olhou para a quantidade de ouro que os seus lhe tinham deixado.


Estar sozinho sabia-lhe bem. As pessoas reparavam menos na sua presença sem o gigante ao lado, e com a cicatriz oculta debaixo do cabelo ninguém pareceu reconhecê-lo. Além disso, estava habituado a andar sozinho de um lado para o outro, incluindo quando fazia as compras da casa para os Dursley e não era como se os seus tios se preocupassem ou ele quisesse a atenção deles. Admitiu para si próprio, enquanto caminhava, que culpara Hagrid por o ter deixado com os seus tios e fora isso que o levara a afastar-se.


A Diagon-Alley era uma rua torta, cheia de pequenas lojas. Harry caminhava com a boca meio-entreaberta, e um pequeno sorriso nos cantos do lábio. Entrou na Madam Malkin’s para comprar o seu uniforme para Hogwarts, onde se cruzou com um rapaz, praticamente da sua altura, de cabelos loiros e olhos azuis acinzentados. Madame Malkin colocou-os lado a lado, enquanto lhes retirava as medidas.


 - Também, vais para Hogwarts? – Perguntou o rapaz, casualmente.


 - Yup…- Harry acenou, sem saber o que dizer.


 - Em que Casa é que achas que vais ficar?


 - Aaa…Casa? – Harry sentia-se confuso.


 - Slytherin, Gryffindor, Ravenclaw e Hufflepuff. São as 4 Casas de Hogwarts, e os alunos estão distribuídos por elas. Quando entras, és seleccionado para uma, de acordo com as tuas aptidões. Já deves ter ouvido falar, não? – O rapaz falava naturalmente, mas lançou-lhe um olhar avaliador na última pergunta. 


- Na realidade, não sei. – Harry encolheu os ombros. – Não sei nada sobre magia.
- És filho de Muggles? – O loiro perguntou, sem se preocupar em camuflar o tom de desprezo.


- Muggles? – Harry franziu as sobrancelhas.


- Pessoas sem magia. – Explicou, bruscamente. 


- Ah. Os meus pais eram feiticeiros, mas morreram, cresci com os meus tios que sim...são muggles, e nunca me contaram nada sobre isto, e acho que sabiam. – Harry afirmou, deixando transparecer por segundos o seu ressentimento. 


 - Então, e estás sozinho? - O loiro perguntou, num tom mais amigável. Não era uma questão de educação para aquele rapaz, era uma questão de genes.  


- O Hagrid trouxe-me, mas eu disse-lhe que continuava sozinho. A presença dele estava…aaa…a sufocar-me um bocado. – Harry optou por dizer, sem vontade de dar pormenores.


- Ah. Pois…o espaço de qualquer sala fica pequeno na presença dele. – O rapaz disse, em jeito de piada.


Harry não conseguiu evitar rir-se. Madame Malkin já tinha tirado as medidas deles e foram juntos até ao balcão para pagarem os respectivos uniformes. Draco estendeu bastante mais moedas do que as que eram necessárias e disse a Madam Malkin para ficar com o troco.


- Queres companhia para o resto das compras? – O rapaz perguntou. – Eu, também, tenho que fazer as minhas, e assim talvez chegues a Hogwarts menos ignorante.


- Obrigado. Isso seria fixe. – Harry sorriu. 


O loiro era, claramente, rico, arrogante e um tanto preconceituoso. Mas Harry gostava dele, não parecia ser bronco como Dudley e os rufias da sua escola, mas alguém com quem sentia que conseguia conviver facilmente. 


- A minha mãe está mesmo aqui ao lado, a comprar ingredientes para poções. – O rapaz afirmou. – Deixa-me só avisá-la. Draco Malfoy, já agora.


- Harry Potter. – Harry correspondeu ao aperto de mão.


Draco ficou perplexo por meio segundo, depois semicerrou os olhos e lançou-lhe um sorriso sarcástico.  


- Acabei de descobrir que o herói do mundo mágico sabe menos de magia do que eu, que irónico! Até já, Potter. – E saiu, com uma gargalhada sonora.


Harry riu-se. Odiara quando as pessoas do Caldeirão Escoante o ficaram a olhar fixamente, balbuciaram o nome dele e insistiram em apertar a sua mão por um feito que ele não se lembrava de ter realizado. Não esperava a reacção de Malfoy, mas era com esta naturalidade que Harry queria que as pessoas agissem na sua presença. 


Draco e Harry caminharam juntos pelas ruas da Diagon-Alley, comprando todos os objectos da sua lista da escola. Na livraria, Harry comprou uns quantos livros que não estavam na lista. Não gostava de se sentir ignorante.


Draco falava-lhe muito sobre este "novo mundo", principalmente sobre Hogwarts. Falava com orgulho de Slytherin, e com desprezo de Hufflepuff, e um certo ódio de Gryffindor. Falou-lhe do Quidditch, e perderam horas na loja de Desportos Mágicos a admirar a nova Nimbus 2000. Harry perdia-se em alguns termos, mas Draco ficou entusiasmado quando ouviu falar de Boxe e Artes Marciais. Harry até lhe mostrou alguns golpes básicos que o loiro tentou imitar.


A loja de varinhas foi a última paragem. Ollivander assustou-os um bocado a ambos, quando lhes soube dizer as varinhas dos pais. Até Harry, acostumado à sua memória fotográfica, ficou surpreendido.


- Harry Potter...podemos esperar grandes coisas de si, terríveis, sim, mas grandes…– Draco tentou imitar o tom austero de Ollivander, quando Harry recebera uma varinha de núcleo gémeo à de Voldemort. E depois acrescentou, no mesmo tom. – Mas é melhor aprender alguma coisa sobre magia, porque isso de ter crescido com os seus tios muggles não entra na cabeça de ninguém.


Harry deu um murro amigável no ombro de Draco, seguido de um “Cala a boca, Malfoy.”. Narcisa Malfoy esperava por eles na Gelataria, e ofereceu um gelado a Harry, que o devorou. Percebeu que era a primeira coisa que comia no dia inteiro, e estava esfomeado.


Narcisa era um pouco afectada, e muito formal, mas era simpática, e ensinou a Harry um ou dois feitiços básicos, que Harry achou muito úteis.


Quando passaram novamente pelo caldeirão escoante, Harry viu Hagrid bêbado, a falar com Tom, o Barman, num tom ruidoso sobre Dragões. Malfoy mandou uma piada sobre até os grandes estômagos não conseguirem dirigir bem o álcool, e foi repreendido por Narcisa. Mas Harry reparou que ela tinha um pequeno sorriso no canto do lábio.


Depois, de mais umas quantas semanas em Privet Drive, nas quais Harry folheou os livros da escola, aprendeu muito sobre magia no curto espaço de tempo. Mas os tios confiscaram a varinha, e só a devolveram no dia da partida. 


Kings Cross era uma estação muggle, onde obviamente não existia uma plataforma 9 e 3/4, portanto Harry sentia-se confuso e perdido. Até que ouviu uma família de ruivos a falar sobre Hogwarts e seguiu-os. Tentou ver se encontrava Draco no comboio, mas, aparentemente, o loiro ainda não havia chegado e Harry escolheu sentar-se sozinho num compartimento.


 - Ah. Olá, Potter. – Draco espreitou naquele compartimento minutos depois. – Este é o Blaise Zabini. Blaise, este é o Harry Potter.


O rapaz alto, de pele morena, cabelos negros e olhos escuros estendeu mão a Harry. Uns minutos de conversa, e Harry percebeu que Blaise era preconceituoso com o sangue, tal como Draco, e, também, queria ir para os Slytherin. A sua mãe era uma das mulheres mais ricas da Europa, e Zabini gostava de tocar guitarra. A conversa prosseguia animada, quando uma cabeça ruiva espreitou no compartimento. 


- Olá, eu sou…- O rapaz começou.


- Um Weasley. Cabelos ruivos, sardas, manto em segunda mão, já se sabe. – Afirmou Draco, de um jeito arrogante. Os olhos do ruivo faiscaram de raiva, mas Draco continuo a falar. – Draco Malfoy. Blaise Zabini. Harry Potter.


- Harry Potter? O Harry Potter? – O Weasley abriu a boca de espanto.
Harry acenou, secamente, e reparou no sorriso malicioso que crescia nos lábios de Draco.


- Ele não dá autógrafos. – Draco afirmou, com um ligeiro levantar de sobrolho.


 O Weasley corou até à raiz dos cabelos, depois, olhou fixamente para Harry.


- O que estás aqui a fazer, Harry? Eles só querem ser Slytherin, e tornar-se tão malévolos quanto o resto das serpentes. Eles são filhos de Devorador da Morte. Os pais deles serviam aquele que matou os teus pais, sabes? Os teus pais não haviam de querer que te desses com eles se estivessem vivos, os teus pais eram Gryffindor e sempre lutaram contra o Quem-Nós-Sabemos. Tu mereces melhor, Harry. Melhor do que esses dois.


Blaise e Draco ficaram subitamente sérios, Harry olhou para a expressão cheia de raiva do Weasley, que estava vermelho e apontava para os seus dois amigos com o dedo da mão esquerda. Harry sorriu, ligeiramente, e respondeu com toda a calma:


- E o melhor seria tu estares aqui em vez deles, portanto? Eu sei escolher os meus amigos, obrigado. – Harry perguntou, com frieza e sarcasmo. Weasley baixou a mão, e passou de um vermelho enraivecido, para um cor-de-rosa embaraçado. E Harry acrescentou. – E nunca mais te atrevas a falar dos meus pais como se os conhecesses. É Potter para ti, Weasley.


Weasley ficou sem fala, olhou para Harry como se não acreditasse no que via, "Mm...mas..." foi tudo o que conseguiu gaguejar. 


- Desaparece, Weasley. – Zabini sibilou


Weasley saiu, arrastando uma pesada mala ao longo do corredor. Um silêncio estranho pairava no compartimento.


- Potter, tu sabes que o que o Weasley disse é verdade, não sabes? Quer dizer...a parte sobre os nossos pais terem sido Devoradores da Morte? – Draco clareou a sua garganta antes de falar.


- Sei, Malfoy.– Harry respondeu, vagamente. Ele lera nomes de alguns apoiantes, e de suspeitos de apoiantes, num livro que reflectia sobre a "Era de Voldemort". 


Os outros dois ficaram a olhar para ele, nenhum deles se atreveria a reagir, sem que ele desenvolvesse mais. 


- Os vossos pais podiam ser Devoradores da Morte, mas não o são agora. E Voldemort, ainda que possa estar vivo e enfraquecido algures, não é uma preocupação minha de momento. – Harry encolheu os ombros. – E, acima de tudo, vocês não são os vossos pais. E detestei que o Weasley achasse que tem algum direito de me dizer o que fazer, só queria mesmo que ele se calasse.


Harry não confiava nos pais dos seus novos amigos, mas não achava que dois miúdos da sua idade pudessem fazer-lhe mal. Gostava da companhia deles e isso, para já, era suficiente.


- Ah. Potter, com essa paciência para o Weasley, eu acho que tu vais para os Slytherin. – Draco afirmou, alegremente. Era fugir ao assunto principal, mas os três sabiam ser necessário. 


Harry não conseguiu evitar sorrir, mas, no fundo, estava a tentar convencer-se que os seus pais não se importariam que ele fosse um Slytherin e não se importariam com os seus novos amigos.


O carrinho dos doces apareceu mais tarde. Blaise e Draco explicaram a Harry tudo o que havia para saber sobre os diferentes doces mágicos, e fizeram as suas recomendações. Harry passou uma boa parte da viagem a empanturrar sapos de chocolate, sendo que o primeiro cromo que lhe saiu foi o de Dumbledore, e feijões de todos os sabores. 
Mais para o final da viagem, mudaram-se para os uniformes da escola. Harry começou a ficar ansioso, novamente, à medida que Hogwarts ficava mais próximo. 

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