Escapadela Nocturna



A sua relação com Snape não melhorara desde a primeira aula. O professor tornara-o seeker de Slytherin, mas fizera-o meramente pela Equipa, e deixava isso claro a cada aula. Ele era mais humilhado e injustiçado do que os Gryffindor.


As suas poções eram constantemente criticadas. Se uma pergunta lhe era feita, não era sobre nada que ele pudesse ter aprendido antes da aula. Nem mesmo Hermione Granger levantava o braço nas perguntas dirigidas a Harry. E ele levantar o braço, quando Snape fazia uma pergunta para a turma, era inútil, porque seria ignorado. Aprendera a gostar do silêncio, e da solidão. Solidão porque precisava de se concentrar, se queria sobreviver a Snape.


As palavras de Snape no final da sua detenção ainda ecoavam na sua mente por mais desagradável que isto seja para nós dois. Era desagradável para Snape ser seu Chefe de Equipa, ser seu Professor. Harry não fazia ideia porquê, mas o que quer que fosse não havia nada que ele pudesse fazer para resolver.


- Potter, não aceito que destabilizes a minha aula. Acabaste de ganhar uma detenção sexta-feira às 19h. - Snape sentenciou, numa certa aula.


Draco, Zabini e Pansy tinham estado a conversar, animadamente, a aula toda. Pansy desmanchara-se a rir, com alguma coisa que os dois rapazes tinham dito, e entornara o conteúdo do seu caldeirão para cima de Zabini. Snape culpara Harry, que estava sentado sozinho, a duas filas de distância.


Harry olhara por meio segundo para os seus amigos, para se voltar a concentrar no coração de macaco-voador que estava a dissecar. Quando ouviu as palavras de Snape, fintou o Professor e limitou-se a acenar: "Sim, senhor", voltando a concentrar-se na sua poção.


- E mais cuidado da próxima vez, Parkinson. - Snape lançou a Pansy um olhar severo, fazendo-a engolir o seco.


Greengrass, sentada ao lado de Draco, parecia mais indignada do que o próprio Potter. Ele não lhe dera mais do que um brilho de raiva no olhar, quando ele esperara que ele alegasse inocência. Escolheu ignorar o aluno até ao final da aula.


- Porque é que não te defendeste, Harry? - Daphne perguntou, quando saíram de poções.


- Porque ele sabia o que estava a fazer. O Snape não estava à procura de justiça. - Harry disse, desinteressadamente.


- Devias confrontá-lo, exactamente, por isso. - Daphne disse.


- Há que saber escolher as batalhas. - Harry encolheu os ombros - Confrontá-lo seria inútil.


- O que planeias fazer, então? - Daphne insistiu.


- O que é que eu posso fazer, Daphne? - Harry suspirou - Nada.


Iria continuar a empenhar-se em Poções, independentemente da sua relação com Snape. Decidira que se podia concentrar noutros problemas:


1. Continuava a praticar numa vassoura da escola, e teria de encomendar uma vassoura nova, rapidamente.


2. O corredor do Terceiro Andar, e o Assalto a Gringotts continuavam a parecer relacionados.


- Temos que lá ir, esta noite. – Murmurou Harry, na aula de Encantamentos para Daphne, enquanto praticavam o Encantamento de Cortar.


- Eu falo com o Draco. – Ela acenou. Harry aprendera que Daphne estava sempre disponível para quebrar as regras. 


À noite, na sala comum, Harry, Daphne e Draco esperaram até todos se irem deitar, para irem visitar o corredor do Terceiro Andar do Lado Direito. Mas, Draco adormeceu no sofá, e quando Harry e Daphne o acordaram, ele murmurou para que fossem sem ele.


- És um covarde, Malfoy. – Harry picou o amigo.


- Tem juízo, Potter. – Draco bocejou. – Simplesmente, não passo as manhãs em transe como vocês os dois.


Harry e Daphne desistiram do moreno. Saíram da sala comum, e caminharam sorrateiramente pelos corredores de Hogwarts, evitando os Prefeitos que patrulhavam os corredores, e o Encarregado Filch e a sua gata Miss Norris.


- Não adoras a noite, Potter? – Daphne murmurou com um sorriso, enquanto caminhavam num corredor vazio. A única luz era a do luar, e tudo parecia solene e misterioso. Harry sorriu, e acenou em concordância, cheio de sinceridade.


Em breve, chegaram à porta trancada do terceiro andar. Harry destrancou a porta e entraram. Um cão de três cabeças dormitava, mas quando a porta se fechou com um estrondo, acordou, e começou a ladrar, enquanto fechava os maxilares e movia as patas na direcção de Harry e Daphne, que recuaram de imediato. Rapidamente, saíram e fecharam a porta atrás deles. Depois de alguns segundos para respirar e recuperarem o fôlego, sorriram um para o outro e disseram em coro: “Reparaste no Alçapão?”.


Riram-se, mas a felicidade durou pouco, porque ouviram a voz de Filch no fundo do corredor: “Ouviste barulho, Miss Norris? Eu ouvi barulho…”. O velho aproximava-se, e não havia outro sítio por onde pudessem passar.


- Achas que ele passa por esta porta? – Daphne apontou para a porta atrás deles.


- Não. Nós passamos? – Harry destrancou a porta, novamente. Daphne acenou, e ambos entraram.


Ficaram encostados à porta, enquanto a besta os tentava atacar, mas estava presa por poderosas correntes. Sentiam o ar a mover-se com a força do animal, e a baba salpicava-os. Mas o pânico perde-se com o tempo, mesmo nas situações mais aterrorizadores.


- Temos de descobrir o que está por debaixo do Alçapão. – Daphne sorriu, curiosa.


- Aposto que está relacionado com o Dumbledore. – Harry concordou. – Não estou a ver mais nenhum outro professor a poder ou ter necessidade de esconder alguma coisa na escola. O que sabemos sobre o Dumbledore?


- O que vem nos cromos dos Sapos de Chocolate? – Daphne encolheu os ombros, sarcástica. – Que é o Director de Hogwarts, é considerado um dos mais poderosos feiticeiros de sempre, em grande parte por ter derrotado o Gridenwald num duelo, e tal.


- E devido aos seus estudos de Alquimia com o Nicolas Flamel. – Harry acrescentou, lembrando-se do cromo que lhe saíra no comboio. - Quem é este Nicolas Flamel?


-Não sei, mas não custa investigarmos. – Daphne acenou. E depois acrescentou – E já agora, Potter, essa tua memória fotográfica consegue ser irritante.


- Vou aceitar a tua irritação como um elogio, Greengrass. – Harry sorriu.


- Achas que o Filch já foi embora? – Daphne perguntou. E Harry respondeu: “Quase de certeza”.


E já tinha ido. Saíram da porta e respiraram livremente, suspiraram de alívio. Caminharam para a sala comum, e não encontraram problemas. Repararam que Draco já tinha ido para o dormitório.


- Quem é que tem uma besta daquelas? – Daphne perguntou.


- O Hagrid. – Harry respondeu, sarcástico. Mas quer ele quer Daphne pensaram que, provavelmente, havia alguma verdade na afirmação.


- Dorme bem, Potter. – Disse Daphne. “Boa noite, Greengrass” Despediu-se Harry.


No dia seguinte ao pequeno-almoço, Harry e Daphne estavam mais sonolentos do que o costume. Daphne sussurrava as peripécias da noite passada, quando o mocho dos Malfoy aterrou subitamente em frente de Harry, com um embrulho que tinha uma carta pendurada.


 


 


 


Harry,


O Draco falou-nos da tua entrada para a equipa de Quidditch, e dos problemas que as vassouras da escola têm causado. Soubemos que ias encomendar uma, e tomámos a liberdade de escolher uma por ti. Considera-o uma prenda de Natal antecipada, e leva os Slytherin a vencer a Taça.


 


Felicitações,


Lucius e Narcisa Malfoy.


 


Harry abriu o embrulho, e o seu maxilar desceu. Os Malfoy tinham-lhe oferecido a última vassoura topo de gama que chegara ao mercado: a Nimbus 2000, mas Draco conseguiu ser o primeiro a falar.


- Não acredito que os meus pais não me contaram que te iam oferecer uma vassoura. – Ele sorriu. E abraçou Harry. – Agora, tens de ganhar, Potter.


- Uau. Vou já escrever a agradecer aos teus pais. Eles nem me conhecem…- Harry passou a mão pelos cabelos, sem saber como expressar o seu agradecimento.


- Conhecem-te pelas minhas cartas. – Draco pegou na vassoura. – Agradeces depois, agora vamos experimentá-la.


E Draco saiu do salão, com a Nimbus, a correr, com Harry atrás dele. Quando iam a caminho dos terrenos, cruzaram-se com Weasley e os seus dois comparsas.


- Aposto que é a nova vassoura do Potter. – Weasley disse. – Não perdes uma oportunidade de te exibir, não é, Potter?


Weasley tivera que limpar a sala de Troféus e perdera 30 pontos para os Gryffindor, depois do que acontecera na aula de voo. Somando isso à pobreza dos Weasley que Draco insistia em mencionar, Weasley era agora “Desgraçado” entre os Slytherin. Por outro lado, Finnigan era o “Incendiário” pelo incontável número de vezes que incendiara ou explodira com qualquer coisa ao agitar a sua varinha. E Thomas era o “Lacaio” de ambos.


- Não precisas de mostrar a tua inveja ao mundo, “Desgraçado” Weasley. Todos sabemos que os teus pais nunca vão sair da pobreza. – Draco disse.


- Ah. Mas talvez consigas cobrar cinco centímetros do cabo, se continuares a polir troféus com tanto empenho. – Harry continuou. E ambos os Slytherin se riram.


- Cala a boca, Potter. – Weasley gritou. – Tu não sabes nada do mundo mágico, não sabes nada da minha família. Porque é que não voltas para o pé dos muggles que te educaram e te reduzes à tua ignorância?


- Como se tu fosses menos ignorante do que eu...- Harry sibilou, friamente.


- Cala a boca, Potter. Um duelo hoje à meia-noite resolverá as coisas entre nós. – Weasley falava alto e agressivamente. – O meu segundo é o Thomas.


-Malfoy. – Harry respondeu sem hesitar. – Até logo, Desgraçado e Lacaio.
- Ele não tem hipótese nenhuma de te derrotar. - Malfoy sussurrou - Mas acho que não devíamos ir ao duelo. 


- O quê? Deixa lá, depois falamos melhor. - Harry disse, correndo para os campos, onde podiam voar.


Harry e Draco voaram antes das aulas começarem, e depois de elas acabarem.  Ao fim da tarde, passaram pela biblioteca para Harry requisitar Quidditch Através dos Tempos, que Draco insistia para que lesse. O livro revelou-se uma leitura agradável, ao longo das semanas seguintes.  


Depois, foram para a sala comum, onde contaram do Duelo a Daphne, que imediatamente disse que queria assistir. Harry encolheu os ombros e disse que não deveria haver problema.


 - Harry, eu ouvi falar de um duelo hoje à meia-noite...- Millie sentou-se ao seu lado no sofá.
- Como? - Harry levantou uma sobrancelha.  


- Ouvi o Weasley a falar com o Thomas e com o Finnigan. Eles não são exactamente discretos. - Millie suspirou - Mas o que interessa é que não devías ir... Derrotares o Weasley não compensa a quantidade de pontos que os Slytherin vão perder, se fores apanhado. 
- Pois não. - Harry piscou-lhe o olho - Mas, então, o importante é não ser apanhado.
- Harry...- Millie suspirou - Se vocês forem, eu mesma vos vou denunciar ao Snape. O Weasley pode sair magoado desse vosso duelo ilegal, e há uma grande probabilidade de serem apanhados. 


- Mas...- Harry ia protestar, mas Millie virou-lhe as costas.  


Harry foi ter com Draco e com Daphne. Draco sugeriu que denunciassem os Gryffindor a Snape, e fossem dormir. Daphne chamou-lhe covarde. Harry concordou com Daphne, mas contou-lhes o que Millie dissera, juntamente com a sua ameaça. 


-  O Snape mata-nos se nos metermos num duelo contra o Weasley, depois daquilo que aconteceu na aula de voo. - Draco suspirou


- Eu...Daphne, eu acho que devias falar com a Millie. - Harry suspirou.


- O quê? Porquê eu? - Daphne perguntou. 


- Porque és menina, então? - Harry replicou. 


- Ah. Mas o Draco conhece-a há mais tempo...- Daphne sibilou.


- Eu vou. Eu vou. - Draco suspirou.


Harry e Daphne não ouviram a conversa entre Draco e Millie, enquanto decidiam os feitiços que poderiam usar contra Weasley, mas a partir dessa noite aprenderam a não confiar nos poderes argumentativos de Draco, que ele regresssou a concordar com Millie - e acabou por denunciar os Gryffindors a Snape, colocando Weasley e Thomas em mais problemas.


Na noite de sexta-feira, depois de uma semana de noites mal dormidas, e de um intenso treino de Quidditch à chuva, Harry arrastou-se até ao Gabinete de Snape.


- Potter, podes sentar-te e escrever Sou um idiota arrogante até eu te mandar parar. - Snape disse, com um sorriso trocista.


Snape tinha frascos de poções em cima da sua secretária, que Harry imediatamente reconheceu como sendo a Poção Anti-Gripe, que tinham estado a preparar na última aula. Snape inspeccionava os frascos com atenção, por vezes, despejava umas gotas na sua pele e escrevinhava notas com um ar aborrecido.


Harry continuava a escrever Sou um idiota arrogante, mas prestava mais atenção aos ingredientes que estavam num armário da reserva pessoal de Snape do que propriamente ao que estava a fazer. Os Dursley encarregavam-no de todas as tarefas domésticas, e qualquer falha em limpezas, significava um castigo por parte da sua Tia Petúnia. O perfeccionismo tornara-se a sua sobrevivência e fizera-o lavar os caldeirões para Snape com tanto empenho, mas não poderia estar mais desinteressado nas frases.


Snape deixou a Poção de Harry para o fim.


- Podes sair, Potter. - Snape ordenou, por fim.


- Só um minuto, Professor.


Harry acrescentou uma vírgula e adicionou uma última frase. Entregou o pergaminho a Snape, saiu do gabinete em passos largos e correu para os dormitórios.


Sou um idiota arrogante, mas não destabilizei a Aula de Poções estava escrito no fim da folha de pergaminho. Snape fintou o pergaminho com um estranho brilho nos olhos. O rapaz estava a desafiá-lo, deliberadamente, a provocá-lo. 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.