Seeker



Seeker


 


O correio chegava ao pequeno-almoço. Draco recebia sempre o Profeta Diário, e nessa manhã havia uma notícia sobre o assalto a Gringotts. Alguém entrara no Cofre 713, mas nada havia sido roubado, porque o cofre fora esvaziado nesse mesmo dia.


- Quando fui a Gringotts com o Hagrid, ele foi buscar alguma coisa a esse cofre. – Harry sussurrou, para que só Malfoy e Daphne pudessem ouvir. – Disse que pertencia a Hogwarts.


Draco ergueu o sobrolho. Mas Daphne murmurou ainda mais baixo: “Temos que ir ver o corredor do Terceiro andar”.


- Só um Feiticeiro extremamente poderoso poderia ter entrado em Gringotts. – Draco afirmou. – O que será que estava à procura?


Nenhum deles tinha resposta. Nesse momento, uma coruja cinzenta aterrou em frente de Harry, e estendeu-lhe a pata. Harry abriu a carta: “Por falar em Hagrid…” suspirou, ao observar os gatafunhos desordenados e reconhecer o nome assinado. Draco arrancou-lhe a carta da mão, e pôs-se a lê-la imitando a voz de Hagrid.


“Querido Harry,


Sei que tens as tardes de sexta-feira livres. Não queres vir tomar um chá comigo por volta das três? Gostaria de saber tudo sobre a tua primeira semana. E eu não me preocupe com o facto de seres um Slytherin. Podes usar esta coruja para me mandar uma resposta.”


- A sério? – Harry perguntou, sarcástico. – Ele deve achar que só porque foi ele a dizer-me que eu era feiticeiro, eu o vejo como um amigo, ou assim.


- Algo me diz que não vais tomar chá com o gigante. – Daphne sorriu.


- Não, não vou. Não lhe estou agradecido por me ter deixado em casa dos meus tios, quando tinha apenas um ano. E poderia ter sido qualquer um a trazer-me para Hogwarts. Não lhe vou dizer nada, espero que ele perceba o meu silêncio.


- Ah. Mas ele não se importa que tu sejas um Slytherin, Potter. – Draco continuou a picá-lo.


- Sim, porque a opinião dele preocupa-me tanto. – Harry comentou, sarcástico.


Foram para Defesa Contra as Artes das Trevas, disciplina pela qual Harry muito ansiara, mas que se revelara uma palhaçada. A sala cheirava intensamente a alho. O Professor Quirrell contava histórias muito controversas em que ninguém acreditava, até porque não era capaz de responder a perguntas simples sobre elas. “Mas qual o feitiço que usou para matar Zombies, Professor?” Harry atrevera-se a perguntar, quando Quirrell lhes contara a história do seu turbante: uma oferta de um Príncipe Africano, por Quirrell ter salvado uma aldeia de um ataque de Zombies. E o Professor ignorara a pergunta de Harry, mudando bruscamente de assunto.


- Como é que é possível o Quirrell ter sido um Ravenclaw, quando andava em Hogwarts? – Harry perguntara uma vez, a Draco, que encolhera os ombros e bocejara.


Raramente praticavam magia. E Harry ganhou o hábito de se sentar no fundo da sala, a ler o Guia Básico de Defesa, e a praticar feitiços debaixo da mesa.


Draco estava especialmente feliz nessa quinta-feira. Os Slytherin, depois de Defesa Contra as Artes das Trevas, teriam a sua primeira aula de Voo. E Malfoy falava com paixão sobre voar, descrevendo peripécias que realizara na vassoura, histórias que Blaise confirmara e juntos recordavam infinitas tardes de infância a jogarem Quidditch nos Jardins da Mansão Malfoy.


Harry que nunca tocara numa vassoura na vida, não tinha grandes expectativas para a aula, mas quando Daphne lhe descreveu como se sentia livre e infinita sempre que subia para uma vassoura, Harry teve que admitir para si mesmo que queria experimentar.


- Aposto que as histórias do Malfoy são só garganta. – Weasley falava alto para Thomas e Finnigan, enquanto Gryffindor e Slytherin se dirigiam para os campos da escola. – E é impossível o Potter saber voar. Ele cresceu com Muggles, e nunca tocou numa vassoura.


- Desta vez, o Potter vai engolir o orgulho. – Concordou Finnigan.


- Mesmo. – Weasley acenou. – Sempre convencido, a exibir aquela cicatriz dele. Aposto que foi outra pessoa que derrotou o Voldemort nessa noite, alguém mais poderoso que desapareceu antes que mais alguém chegasse, e o Voldemort só não matou o Potter antes porque viu logo que ele seria um Slytherin.


- Tenho quase a certeza que o Voldemort levou o Chapéu Seleccionador com ele nessa noite, Weasley. – Harry riu-se, sarcástico. – Até porque essa seria sem dúvida a grande preocupação do Senhor das Trevas.


Weasley ficou vermelho, mas não pôde responder, porque Madam Hooch chegara. Alinharam-se ao lado das vassouras dispostas no chão, e para raiva de Weasley, as vassouras de Harry e Malfoy subiram-lhes para a mão, assim que eles o ordenaram. Dístraido a mandar a Harry olhares furiosos, Weasley distraiu-se e levou com a sua vassoura no nariz para deleite de Malfoy.


- Que idiota. – Malfoy suspirou, alto.


Mas “Desastre” Longbottom conseguiu superar a idiotice de Weasley. Levantou voo antes de Madam Hooch apitar. Perdeu o controlo da vassoura, e estatelou-se contra o chão, quebrando o pulso.


- Se alguém se atrever a levantar voo, enquanto eu levo o Longbottom à ala hospitalar, vai para fora de Hogwarts antes de poder dizer “Olá. Quidditch”.- Madam Hooch agarrou em Neville e levou-o para dentro do castelo.


- Devíamos chamar-lhe “Doente” em vez de “Desastre” pelo tempo que passa na Ala Hospital. – Sugeriu Daphne com um ar soturno.


Draco baixou-se para apanhar uma bola transparente, que ficara na relva, onde Neville caíra: “Olha um Lembrador.” Draco atirou a esfera ao ar “Não sabia que o Desastre tinha um”.


- Alguém lhe deve ter oferecido. – Harry sorriu. – Para se lembrar de não perder mais pontos antes que os Gryffindor cheguem aos pontos negativos.


Os Slytherin riram-se, maldosamente. Weasley deu um passo na direcção de Malfoy, tentando parecer ameaçador. “Devolve isso, Malfoy” Disse.


- Mas não é teu, Weasley. – Draco sorriu, maldosamente, pegando na sua vassoura. – Talvez o deixe algures por aqui, para o Longbottom o procurar.


Harry agarrou no braço do loiro e sussurrou-lhe ao ouvido "Sabes tão bem como eu que isto não compensa os problemas que vamos arranjar com Madam Hooch". Draco acenou, e atirou o Lembrador ao ar, soltando uma gargalhada seca. 
- As tuas histórias sobre voar eram só garganta, não eram, Malfoy? - Weasley riu-se, estúpidamente - Aposto que te estás a acovardar.


- Estamos só a decidir um pormenor. - Draco ripostou - Anda daí, Potter. 


Harry não sabia qual era a ideia de Malfoy, mas encolheu os ombros e pegou na vassoura. Sabia que Draco não tivera escolha perante as palavras de Weasley, o que o deixava a si sem escolha. Era tudo uma questão de lealdade e de reputação. Empurrou os pés contra o chão, e sentiu-se deslocar. Sentia o ar contra a sua cara, a velocidade, o zumbido nos ouvidos e o corpo perfeitamente equilibrado na vassoura, e compreendeu num misto de orgulho e espanto que sabia voar.


- Apanha, Potter. – Draco passou-lhe o Lembrador. Harry lançou um sorriso para o ar, de quem sabia o que Malfoy queria. Mandou o Lembrador ao ar algumas vezes, e enviou-o de volta para Draco. Draco gritou "Estás com medo, Weasley?"


E Weasley agarrou na vassoura, e subiu. Harry e Draco passavam o Lembrador um para o outro, com Weasley a voar em círculos. Até que Weasley voou subitamente na direcção de Draco, quando o loiro teve que tirar ambas as mãos da vassoura, uma para tapar a luz do sol, e a outra para agarrar o lembrador. Antes de Draco agarrar o Lembrador, Weasley puxou-lhe o cabo da vassoura, o loiro caiu.


O Lembrador e Malfoy precipitavam-se para o chão, quando Harry se lançou num mergulho de quase 90 graus. Agarrou Malfoy pela cintura, e obrigou-se a continuar a descer até que conseguiu agarrar o Lembrador, a menos de um metro do chão. Draco respirou de alívio, quando Harry conseguiu aterrar.


- Ena...Harry...uau...obrigado... – Agradeceu, sincero.


Ronald Weasley aterrou atrás deles, com cara de poucos amigos.


- És um idiota, Weasley. – Harry disse, desembainhando a sua varinha e apontando-a ao ruivo. – Sabes que ele podia ter morrido por tua causa, não sabes?


Draco pestanejou ao sentir raiva na voz de Harry.


- Vocês é que roubaram o Lembrador. – Weasley gritou de volta. 


- O Lembrador nem é teu. – Harry disse, com frieza e desdém. 


Havia medo no olhar de Weasley, enquanto o Slytherin avançava para ele. Harry sentia o seu coração a palpitar. Era como se o medo da queda ainda não o tivesse abandonado.


- Potter, guarda essa varinha, imediatamente. – Disse uma voz gelada atrás deles. Era Snape, e os seus olhos faiscavam de ira. – Vocês os três, sigam-me.


Os Slytherin que tinham corrido na direcção de Harry e Malfoy para os felicitar, congelaram com a presença de Snape, e ninguém tinha coragem de dizer o que quer que fosse.


 Os três foram levados para o Gabinete de Snape, nas masmorras. “Será pedir muito a três alunos do primeiro ano que mantenham os pés no chão, enquanto a Professora vai à Ala Hospitalar?” Snape começou. “A vossa irresponsabilidade é algo imensurável Ainda mais, quando Madam Hooch ameaçou expulsar quem levantasse voo, não é verdade? - Expliquem-se.”


Weasley não hesitou em contar o que acontecera com o Lembrador de Neville. Snape ouviu atentamente, e impediu Malfoy de interromper. 


- E tu, Malfoy, caíste da vassoura, juntamente com o Lembrador? – Snape perguntou, por fim, revelando-lhes que tinha visto o mergulho de Harry.   


- Não, senhor. Eu não caí. O Weasley puxou o cabo da minha vassoura, quando eu não me estava a segurar, e perdi o equilíbrio. – Malfoy afirmou, lançando a Weasley um olhar venenoso.


Houve um momento de silêncio em que Snape fulminou Weasley com o olhar, e Harry viu o Gryffindor olhar para o chão e engolir o seco. Harry ia jurar que Weasley estava quase a chorar. Depois o Mestre de Poções, disse numa voz gelada:


- Espero que tenhas consciência da gravidade do que fizeste hoje, Weasley. Eu vou notificar a Professora McGonagall sobre o ocorrido. Podes sair.


Snape olhou para os dois Slytherin à sua frente. Ambos silenciosos. Potter olhava mais para a mesa, do que para ele. Draco estava assustado, mas ansioso por falar. Ele tinha sempre justificações para os acontecimentos.


- O Weasley chamou-me de covarde. Se ele não me tivesse chamado de covarde, eu teria parado, como o Harry me disse.- Draco não aguentou o silêncio - Não nos pode expulsar, professor. 


Snape pestanejou, surpreendido pelo facto do Potter ter tentado parar Malfoy.


- Isso é uma fraca desculpa, Malfoy. Vocês não são mais inteligentes do que isto? Cederam à provocação do Weasley? Tu poderias ter morrido naquela queda, Malfoy. - Snape sibilou, friamente - Ah. E eu expulso-vos, se assim me aprouver.


Estavam ambos calados. Potter fintava-o fixamente, agora, absorvendo as suas palavras. Conseguia ver que o rapaz o respeitava, e isso incomodava-o.


- De qualquer maneira, a probabilidade de serem expulsos pela vossa desobediência era remota, considerando a quantidade de coisas que acontecem nesta escola.– Snape disse na sua voz murmurada. – A vossa atitude foi decepcionante...e mereciam ser castigados. Mas vou considerar que a queda de Mr. Malfoy foi susto suficiente para ambos.


Harry e Draco suspiraram de alívio. 


- Potter, foi a tua primeira vez numa vassoura? – Snape perguntou, de seguida. O rapaz herdara o maldito talento do pai dele.


- Sim, senhor. – Harry respondeu, com alguma hesitação. Achando que Snape lhe ia pregar um sermão sobre a irresponsabilidade de ter voado na ausência de Madam Hooch.


- Aparece no Campo às nove da manhã. Eu quero que o Flint te teste como seeker. Os Slytherin precisam de alguém que ocupe a posição, uma vez que o nosso seeker saiu o ano passado, e não há aparentemente ninguém que consiga substituí-lo.  – Snape disse, surpreendendo ambos os alunos à sua frente.


- Eu pensava que os primeiro-anos não podiam jogar Quidditch, senhor. – Malfoy constatou.


- E não podem, Malfoy. Mas há luz da necessidade de um novo seeker, e do óbvio talento do Potter, creio que consigo convencer o Director a abrir uma excepção. – Snape respondeu. – Sábado, às nove, Potter. Podem sair.


Harry Potter apareceu no Campo de Quidditch às nove. Flint adorou vê-lo voar. Na realidade, toda a equipa delirou. Dizia que a Taça era garantidamente deles, se ele entrasse para a Equipa. E Dumbledore concordou em abrir uma excepção.


- Não acredito! – Blaise e o resto dos Slytherin souberam de tudo Sábado à tarde. – Tu deves ser o jogador mais jovem em…


- Um século. – Sorriu Draco. – Ouvi o Flint dizê-lo. 



Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.