O Trasgo no Banheiro



A expressão surpresa de Draco ao ver que Rony e Harry não haviam sido expulsos no dia seguinte ao incidente do cão de três cabeças foi impagável, e o ruivo fazia questão de jogar olhares debochados o tempo inteiro para ele de sua mesa, provocando ainda mais. Com certeza esperava espalhar a notícia que provocou a expulsão do famoso Harry Potter e seu amigo, mas aconteceu o contrário. Apesar de querer muito dar o troco no Sonserino por tê-los traído, devia agradecê-lo pela aventura. É claro que correram um risco muito grande que poderia ter terminado em tragédia, mas a verdade é que tinha gostado de toda aquela adrenalina; todo aquele perigo e a sensação que seria pego a qualquer momento tinham despertado nele uma sensação absurdamente boa, e ansiava por mais.



Além da sensação de dever cumprido por ter saído ileso do acontecimento da noite anterior, estava feliz com o fato de que finalmente Hermione Granger havia desistido deles dois. Desde o início da manhã, a menina sequer olhava para eles e não se intrometia em suas conversas. Achou que depois de tudo ela ia querer saber sobre o cão ou o alçapão que ele estava em cima e viria com uma dissertação sobre as possibilidades. Porém por mais que Rony e Harry não falassem de outra coisa naquela manhã, ela não entrava no assunto, continuava absorta na leitura de um livro, alheia à presença deles; ou pelo menos fingia. Bem, sendo verdade ou não, estava sendo ótimo se ver livre das intromissões da garota.



O fato de ter um cão de três cabeças enorme fazendo a segurança de um alçapão dentro da escola  intrigava Rony. Não era normal no mundo bruxo usar esses tipos de animais mágicos para guardarem algo em locais com grande concentração de pessoas por conta do risco de acidentes; animais são imprevisíveis. O banco gringotes, dizia Gui, usava desses animais ferozes em locais que o dono do cofre exigia uma segurança além da oferecida, mas não era comum nem mesmo lá. Os garotos especulavam o que poderia estar sendo guardado com tanto cuidado, e não conseguiam pensar em nada além do tal pacote que Hagrid tirou do banco no dia que levou Harry para comprar seu material para a escola. Segundo ele, tratava-se de um pacotinho muito pequeno, com cerca de cinco ou seis centímetros, e aparentemente inofensivo; mas que no dia que foi tirado de lá, o mesmo cofre em que estava momentos antes foi arrombado. Era só juntar os pontos: O cofre fora esvaziado por Rubeo Hagrid, que era morador de Hogwarts. E Hogwarts era o lugar mais seguro do mundo bruxo. Não restava dúvidas que era isso, porém, não tinha como saber do que se tratava, somente imaginavam ser algo muito valioso, ou potencialmente perigoso.



Os meninos pararam suas teorias no momento em que as corujas invadiram o salão principal. Rony não esperava receber nada pois Errol havia partido no dia anterior, e sua velha coruja não aguentava fazer viagens por dias seguidos, então não deu muita importância. Porém o murmúrio de vários outros estudantes chamaram sua atenção, e ele viu seis corujas de igreja enormes trazendo um pacotão comprido pelo ar. Os animais se aproximaram justamente deles, atraindo olhares de todos, e deixaram o pacote em cima da mesa, e em seguida, largaram uma carta na frente de Harry. O garoto abriu e não conseguiu esconder sua excitação, e entregou a carta para Rony ler.



 “NÃO ABRA O PACOTE À MESA.



Ele contem a sua nova Nimbus 2000, mas não quero que todo o mundo saiba que você ganhou uma vassoura ou todos vão querer uma.Olívio Wood vai espera-lo hoje à noite às sete horas no campo de Quadribol para a sua primeira sessão de treinamento.



 Professora Minerva McGonagall”.



Harry sorria, extasiado, tateando o pacote, tentando reconhecer o seu conteúdo. Uma Nimbus 2000... jamais em sua vida pensou que conheceria alguém que possuísse uma vassoura como aquela. Era a vassoura mais nova no mercado, e somente jogadores profissionais tinham uma. Já tinha visto em vitrines e numa foto no Profeta Diário, onde um famoso jogador do time da Irlanda fazia manobras de um lado à outro da foto, sorridente, e Rony por um momento se viu voando em uma daquelas. Agora seu melhor amigo tinha uma, de verdade. Era surreal. O máximo que já teve nas mãos foi uma Creansweep que Carlinhos ganhou quando entrou para o time. Seus pais se endividaram para comprar uma vassoura duas gerações atrás da mais nova, mas que também era muito boa. Aquela sensação de inferioridade voltou a incomodar, mas Rony não ia pensar nisso agora; precisava ficar feliz por Harry.



— Uma Nimbus 2000! — falou baixinho, forçando o tom de felicidade.



— Eu vi uma na vitrine quando fui ao Beco Diagonal, mas nunca imaginei que ganharia uma... — seus olhos brilhavam, encantado. — Vamos para o dormitório, quero abrir antes que comece a aula!



Os dois levantaram depressa e correram para fora do salão aos tropeços. Porém ao passar pela porta de entrada, trombaram com Draco e seus amigos. Antes que Harry pudesse se defender, Draco tirou o pacote das mãos de Harry, apalpando-o.



— É uma vassoura — falou, atirando-o de volta a Harry, claramente incomodado com o fato do garoto ter uma e ele não— Você vai se ferrar desta vez, Potter, alunos do primeiro ano não podem ter vassouras.



Rony estava esperando um momento para descontar a cilada em que ele meteu os dois na noite anterior, e não pôde resistir em usar Harry para isso.



— Não é uma vassoura velha qualquer, é uma Nimbus 2000.  — A boca de Draco escancarou-se, e Harry o repreendeu com os olhos por ter contado, mas Rony não ligou. Queria fazer inveja em Draco — Que foi que você disse que tem em casa? uma Comet 260? — riu e cutucou Harry — A Comet enche os olhos, mas não tem a mesma classe da Nimbus.



— Que é que você entende disso Weasley? — Draco retrucou, maldoso— Você não poderia comprar nem a metade do cabo. Vai ver você e seus irmãos têm que economizar para comprar palha por palha.



Sentiu suas orelhas esquentarem e na mesma hora fechou os punhos, mas antes que pudesse responder, o professor Flitwick apareceu ao lado de Draco.



— Não estão brigando, meninos, espero — falou em tom de aviso.



Sorrindo com ar vitorioso, o Sonserino virou-se para o professor.



— Potter recebeu uma vassoura. — denunciou — Ele é do primeiro ano.



O professor virou-se para Harry, com o cenho franzido. Em seguida, abriu um enorme sorriso.



— Ah sim, eu estou sabendo. A Professora Minerva me falou das circunstâncias especiais, Potter. E qual é o modelo?



— Uma Nimbus 2000, professor — falou um pouco mais alto do que o necessário, e Draco comprimiu os lábio com tanta força que chegaram a perder a cor— E, para falar a verdade, foi graças ao Draco aqui que ganhei a vassoura — acrescentou.



O professor ficou confuso, e Draco rosnou audivelmente. Os meninos correram para as escadas, rindo abertamente da raiva do loiro. A dívida estava paga, vê-lo morrer de inveja era ainda melhor que colocá-lo em um encontro com um cão de três cabeças.



— Sabe, foi realmente por causa do Malfoy. — Harry falou entre risos, quando chegaram ao alto da escadaria de mármore. — Se ele não tivesse roubado o Lembrol do Neville eu não estaria no time.



— Então suponho que você ache que ganhou um prêmio por desobedecer ao regulamento?



Os garotos olharam para trás, assustados. Subindo, decidida, e com as feições endurecidas, estava Hermione. Rony rosnou, impaciente, pronto para lhe dar um fora, mas dessa vez foi Harry que falou primeiro.



— Pensei que você não estava falando com a gente — suspirou, revirando os olhos.



Ela gaguejou, e antes que tentasse argumentar, Rony antecipou:



— E, continue a não falar — e balançou a mão, como quem espanta um mosquito — está nos fazendo muito bem.



Seu rosto enrubesceu, mas ela não demonstrou fraqueza e se afastou de nariz empinado.



— Se você soubesse o quanto detesto essa garota... — falou à Harry, que riu — Agora perdemos muito tempo, melhor deixar a vassoura no quarto e irmos para a aula.



Rony e Harry sequer prestaram atenção ao que o professor falava tamanha era a ansiedade de ver a Nimbus 2000 que esperava por eles no quarto. Ao final do dia, jantaram às pressas e voltaram correndo para o dormitório, rasgando o embrulho sem dó e revelando finalmente seu conteúdo.



A vassoura era linda, muito mais do que as que viu em exposição ou pelas fotos do jornal. O cabo era de mogno, reluzente, e tinha escrito Nimbus 2000 à ouro perto do punho. Uma maravilha, um verdadeiro sonho. Tentava com todas as forças não sentir inveja de Harry, mas estava difícil. Admitir era duro, mas Harry era tudo que ele queria ser. Balançou a cabeça, afastando esses pensamentos, e começou a dissertar sobre a diferença entre as marcas de vassouras, evitando assim que sua mente o sabotasse novamente.



— Quando você vai treinar? — perguntou depois de um tempo.



Harry olhou para o relógio, tomando um susto.



— Vai começar em dez minutos! Olívio quer me treinar sozinho pois não conheço bem o jogo. — Ele passou a mão na vassoura, correndo para a porta — A gente se vê mais tarde!



Ainda estava cedo para dormir e não tinha mais deveres a fazer, então desceu para o salão comunal, e o lugar estava cheio. Fred e Jorge mexiam em uma caixa de madeira em um canto com Lino Jordan. Avistou também seus companheiros de quarto rindo alto numa poltrona mais ao centro da sala, e num sofá próximo a eles, algumas garotas que também eram do primeiro ano. No fundo, em uma poltrona no canto próximo a lareira, Hermione lia um livro. Essa menina passava o tempo inteiro sozinha, não era normal. Também pudera, era chata e mandona. Talvez se não fosse tão metida teria amigos, talvez ele mesmo poderia ser seu amigo. Ela levantou o rosto e seus olhares se encontraram por um momento, mas logo os dois trataram de desviar.



— Ei, Rony. Venha aqui! — Fred chamou



Rony se aproximou de Fred, Jorge e Lino Jordan. A caixa que eles mexiam anteriormente trepidava sem parar, além de fazer sons estranhos. Na hora teve um mau pressentimento.



— O que é isso? — perguntou cauteloso.



— Isso é o terror das mulheres, veja só.



Fred abriu a caixa, dela saiu uma tarântula enorme, do tamanho de um cão vira-lata. Suas patas eram compridas e peludas, seus vários olhos cintilaram todos ao mesmo tempo assim que avistavam Rony. O garoto soltou um guincho como um gato que recebe um jato de água fria, batendo com as costas na parede. Sentia suas pernas trêmulas e seu estômago embrulhando. Fred, Lino e Jorge caíram na gargalhada.



— Não só das mulheres, Fred. — Jorge zombou



— Eu disse que ele ia se assustar! — Fred falou.



— N-não teve graça! — Rony bradou, ainda incapaz de se mexer. — Vocês são cruéis!



— Já está mais do que na hora de você perder esse medo. Vamos, venha! – Jorge puxou Rony pelo braço.



— Não!



— Não seja mulherzinha! – Fred bradou, segurando seu outro braço – Chegue perto, ela não vai morder.



— Me larguem!



Rony se debateu com violência, mas seus irmãos seguravam firme e, tomando impulso, o atiraram contra a caixa que Lino mantinha aberta, e a tarântula pôs as patas peludas para cima. Não tinha jeito, Rony iria colidir com a aranha. Fechou os olhos, sentindo seu coração pular para a garganta e o corpo inteiro arrepiar. Era o fim.



Porém algo estranho aconteceu. Ao invés de colidir com a caixa, foi atirado para o outro lado violentamente, e quando levantou a cabeça entendeu o que houve. Hermione Granger estava parada pouco atrás dos gêmeos, com a varinha em punho apontada para a direção da caixa e com a cara emburrada.



— Será que vocês não percebem que essa não é a melhor maneira de ajudá-lo a superar o medo? — ela falou de nariz empinado — Jogá-lo em cima da aranha vai acabar piorando.



Os três terceiranistas olharam confusos para Hermione, em seguida para Rony, e de volta para ela. Então desataram a rir.



— Veja só, seu irmãozinho tem uma namorada! — Lino falou, cutucando Fred.



O garoto ficou vermelho na mesma hora.



— Quem diria que Roniquinho passaria a nossa frente. — disse Jorge piscando os olhos repetidamente.



— Mas é a cara dele mesmo, brava que nem a mamãe. — Fred riu.



— Calem a boca! – Rony gritou – Ela não é minha namorada. – e virou-se para Hermione – E para de se meter nos meus assuntos, eu não preciso da sua ajuda!



Ela suspirou, sem se mostrar abalada, como se já esperasse essa reação da parte dele.



— Ótimo então. – ela virou as costas – divirta-se com a aranha. – e foi pisando firme para o dormitório.



— Isso não é jeito de tratar uma garota. – Fred balançou a cabeça,



— Cale a boca, isso foi culpa sua! – Rony bradou, saindo as pressas para o dormitório. Não ia correr o risco de seus irmãos o atirarem para o monstro de novo, e também, pela primeira vez sentiu-se mal por destratar Hermione. Realmente não tinha pedido ajuda a ela, mas ela estava tentando salvá-lo. Não foi justo, porém não ia se desculpar; isso a afastaria ainda mais dele, e era melhor assim.



Pelo menos era assim que preferia pensar.



Dois meses haviam passado em Hogwarts, e nesse tempo Hermione Granger realmente nunca mais dirigiu a palavra a Rony. Ela não demonstrou na hora, mas o lance da aranha a havia magoado, e embora tenha prometido não pensar nisso, não conseguiu acabar com o incômodo que sentia. Harry também notou o distanciamento da menina e o questionou, mas não quis contar sobre o acontecido para o garoto. Não era fácil admitir que estava errado.



Nesses meses que seguiram aprenderam algumas magias bem interessantes, já conseguiam transfigurar objetos de tamanho médio e recebiam pilhas de deveres que nunca acabavam. As aulas de poções ficaram muito piores, pois a implicância de Snape com Harry parecia aumentar cada dia mais, e agora resvalava em Rony, que se saísse da linha era igualmente maltratado pelo professor. As discussões com Malfoy e sua turma ficaram mais frequentes, e sempre que podiam provocar uns aos outros, provocavam.



Sempre que dava Rony acompanhava Harry aos treinos de quadribol, que eram três vezes por semana. Não tinha como negar o talento nato que o moreno tinha. Ele era rápido e preciso, e mesmo usando óculos não deixava escapar nada de suas vistas, e conseguia encontrar o pomo com facilidade. De fato um dos melhores que já viu, perdendo talvez para seu irmão, Carlinhos, que só não se tornou profissional porque preferia trabalhar com dragões. A melhor parte de acompanhar os treinos era o final, pois Harry sempre deixava-o dar voltas pelo campo em sua Nimbus 2000.



Finalmente o Dia das Bruxas havia chegado. Era de longe o melhor dia de festas em Hogwarts. Não era preciso ser um gênio para saber que o dia das bruxas no mundo bruxo era o dia mais importante e que a escola faria algo especial, e logo que acordou já pôde sentir um gostinho do que estava por vir, pois o castelo cheirava deliciosamente a abóboras assadas, antecipando em suas mentes – e estômagos – o banquete que seria servido a noite.



Parecendo estar em clima de festas, a primeira aula do dia, de feitiços, logo de início se mostrou potencialmente divertida. O professor Flitwick decidiu que eles já estavam prontos para avançar mais um passo, e que nessa aula aprenderiam a fazer objetos voarem, coisa que estavam morrendo de vontade desde que fez o sapo de Neville voar pela janela. O professor anunciou que a turma seria dividida em pares, mas quando se aproximou de Harry foi impedido pelo professor. Ele achava que os alunos estavam presos demais a seus amigos mais próximos, e que ele mesmo dividiria a turma. E para seu desespero, sua dupla foi Hermione Granger. Não queria ficar com ela primeiro porque sempre acabavam brigando, segundo porque seria a primeira vez que falaria com ela depois do episódio da aranha. E ela também não gostou da escolha, e insistiu ao professor que a mudasse de dupla, ou que a deixasse trabalhar sozinha, mas este foi irredutível.



A contra gosto, sentaram-se lado a lado sem olhar um para o outro, e o professor iniciou a aula. Ele explicou alegremente do que se tratava o feitiço, como pronunciar e o floreio certo da varinha. Advertiu que uma simples troca de letra na hora de falar poderia provocar um grande acidente, e que deveriam ter cuidado. Para demonstrar, ele fez levitar a cadeira que Simas Finnigan estava sentado, com ele em cima. Todos ficaram impressionados e excitados para fazer igual, porém o professor os freou, dizendo que começariam levitando uma pena, que era mais fácil. Cada dupla recebeu uma para treinar.



O professor Flitwick pôs a pena entre Rony e Hermione. O garoto ficou parado, esperando ela começar. A morena também ficou parada, esperando que Rony começasse. Depois de uns segundos, ela bufou impaciente.



—Vai demorar? Não temos todo o tempo do mundo.



Rony emburrou a cara. Continuava com a arrogância de sempre, a metida. Queria responder, mas respirou fundo, se contendo. Ela estava com raiva dele, não podia esperar cortesia.



— Mulheres primeiro. — Falou entre os dentes.



Ela revirou os olhos, aborrecida.



— Não seja besta!



Preferiu não discutir para não piorar a situação. Se iam trabalhar juntos, melhor que evitassem conflitos. Empunhou a varinha, pigarreou e começou:



Vingardium lenviosa — ordenou, sacudindo os braços como se desenhasse círculos no ar.



A pena não se mexeu. Tentou mais uma vez, e de novo, mas nada acontecia. Na quarta vez, parecendo não aguentar mais, Hermione segurou seu braço, assumindo a postura de sabe-tudo.



— Você está dizendo o feitiço errado — Corrigiu, cansada — É ving-gar-dium levi-o-sa; é bem pronunciado e longo. E o movimento está errado também, é gira e sacode, e não chacoalhar de qualquer maneira.



— Faz você então, que é tão sabe tudo — retrucou Rony.



Hermione sorriu de lado, enrolou as mangas das vestes, sacudiu e girou a varinha, e bateu de leve na pena, dizendo:



— Vingardium leviosa.



A pena se ergueu da mesa de uma vez e planou a mais de um metro acima da cabeça deles.



— Ah, muito bem! — exclamou o professor Flitwich, batendo palmas, correndo para o lado da garota, que mantinha o objeto no ar. — Pessoal, olhe aqui, a Hermione Granger conseguiu!



Ela sorriu vitoriosa e Rony cruzou os braços.



— Agora você viu como se faz, se imitar direitinho como eu fiz você...



— Pare de tentar me ensinar, não quero sua ajuda. — Rony a cortou bruscamente. Como se já não bastasse ficar à sombra de Harry, tinha que parecer um idiota na frente dela também.



Aquela aula, que seria uma das mais legais, se tornou um verdadeiro desastre. Rony tentou fazer de todas as maneiras o feitiço de forma correta, mas não conseguiu. Hermione realmente parou de ajuda-lo e no lugar, ensinou a outros alunos que sentavam próximos, e estes faziam progressos. O máximo que conseguiu já quase no final da aula foi fazer com que levantasse alguns centímetros. Quando o sinal tocou, saiu antes de todos, pisando grosso, bufando. Harry teve que correr para alcança-lo.



— Ei, o que houve? — ele perguntou.



— O que poderia ser? Hermione é claro. Sempre dando uma de sabe tudo.



— Ela é meio intrometida, mas você exagera um pouco quando se trata dela, não acha?



— Eu não exagero, eu falo a verdade! Essa garota acha que é a melhor em tudo. Você não viu? – e imitando a voz da Hermione – “É Vingardium leviosa”.



Harry riu da imitação de Rony.



— Pensando bem não vejo ninguém conversar com ela... – observou.



— E tem como manter uma conversa civilizada com uma garota como ela? Não admira que ninguém a suporte — bradou enraivecido — Francamente, ela é um pesadelo.



Harry foi jogado em cima de Rony ao receber um encontrão, e Rony viu quando Hermione passou com o rosto contorcido e soltando um soluço. Ela estava chorando. O ruivo ficou desconsertado. Não queria que ela chorasse, não era sua intenção. Quer dizer, eles trocavam farpas desde o primeiro dia de aula, isso não deveria ofendê-la, ou deveria? Não planejou soar tão rude, era só mais um comentário dos tantos que já tinha feito.



— Acho que ela ouviu o que você disse. — o tom de Harry era quase de repreensão, e Rony pigarreou.



Não ia dar o braço à torcer assim tão fácil.



— E daí? — Falou, e sua voz saiu um pouco mais aguda que o normal — Ela já deve ter reparado que não tem amigos.



Harry balançou a cabeça em desistência, e os dois seguiram em silêncio o resto do caminho. Talvez seu amigo tivesse razão, estava sendo um pouco excessivo com ela. Quem sabe devesse se retratar? Não era do seu feitio se humilhar, não quando não estava totalmente errado, e ela realmente se metia em coisas que não lhe dizia respeito e isso o irritava, mas ia tentar se redimir. Tentaria fazer alguma coisa boa para ela que limpasse sua barra, como quando brigava com Gina, e ele, para se desculpar, lia uma história para ela dormir. Na próxima aula pensaria em alguma coisa.



Mas Hermione não apareceu na aula seguinte, e nem em lugar nenhum. Achou melhor não perguntar por ela pois não queria que achassem que se importava, ele não se importava. Só queria limpar sua barra, só isso.



No fim do dia todos estavam animados com a festa de dia das bruxas, e Rony e Harry desceram para ir ao salão principal onde seriam feitas as festividades. Provavelmente encontraria Hermione por lá e talvez pudesse se redimir de sua grosseria, mas não precisou nem chegar ao seu destino para saber que ela não estaria por lá. Andando bem à sua frente estavam Parvati Patil e Lilá Brown, duas alunas que dividiam o dormitório com Hermione, e Parvati contava que a garota estava chorando no banheiro feminino, e que pediu que a deixassem em paz. Rony sentiu o olhar acusador de Harry em cima de si, mas nem olhou de volta; não queria demonstrar o remorso que estava sentindo.



O salão principal estava decorado à caráter. Mil morcegos vivos esvoaçavam nas paredes e no teto e outros mil mergulhavam sobre as mesas em nuvens negras e baixas, fazendo dançarem as velas dentro das abóboras. A comida apareceu de repente nos pratos de ouro, como acontecera no banquete de abertura das aulas, mas dessa vez com muito mais opções. Rony até tinha esquecido de Hermione e estava curtindo o banquete quando de repente, correndo feito louco, com o rosto pálido e esboçando profundo pavor, o Professor Quirrel apareceu. Ele parou próximo à cadeira do Professor Dumbledore, e ofegante, falou alto:



— Trasgo... Nas masmorras... Achei que devia lhe dizer. — Em seguida desabou no chão, desmaiado.



Todos gritaram desesperados ao mesmo tempo. Trasgos eram criaturas mágicas extremamente ferozes e selvagens. Não tinham muita inteligência, então atacavam por qualquer motivo, e tinham uma força excepcional. Parar um trasgo era necessário vários bruxos experientes, pois eram fortes contra magia. Ter um desses dentro do castelo era muito perigoso.



Foi preciso explodirem várias bombinhas da ponta da varinha do Professor Dumbledore para as pessoas fazerem silêncio.



— Monitores — disse ele com voz grave e o semblante sério —, levem os alunos de suas casas de volta aos dormitórios, imediatamente!



Percy rapidamente se prontificou.



— Me acompanhem! Fiquem juntos, alunos do primeiro ano! Não precisam ter medo do trasgo se seguirem as minhas ordens! Agora fiquem bem atrás de mim. Abram caminho para os alunos do primeiro ano passarem! Com licença, sou o monitor!



— Como é que um trasgo entrou aqui? — perguntou Harry enquanto subiam a escadaria.



— Não me pergunte, eles são muito burros — respondeu Rony — Vai ver o Pirraça deixou ele entrar para pregar uma peça no Dia das Bruxas.



Estavam quase na metade do caminho quando Harry o parou.



— Acabei de me lembrar da Hermione. — Falou assustado.



— O que tem ela?



— Ela não sabe que tem um trasgo aqui.



Rony mordeu o lábio. Depois do jantar e da confusão tinha esquecido de Hermione. Ela estava por aí no castelo, triste, alheia ao que estava acontecendo. E tudo por culpa sua.



— Está bem — Falou, decidido. — Mas é melhor Percy não ver a gente.



Abaixando-se, eles se misturaram a alguns alunos da Lufa-Lufa que iam na direção contrária e entraram por uma passagem que tinham descoberto uma semana antes, que os levou para um lado mais deserto do castelo, e que daria acesso ao corredor do banheiro das meninas. Andaram apressados, procurando não fazer barulho, e estavam quase virando uma esquina quando ouviram passos bem próximos. Temendo se tratar de Percy, Rony puxou Harry para trás de um grifo de pedra que estava logo à frente. No entanto, não se tratava de Percy mas sim do professor Snape. Os dois se encolheram o máximo que puderam para que ele não os visse. Entre Snape e seu irmão, era melhor serem pegos pelo seu irmão, pois no máximo ouviriam um sermão ao invés da detenção severa que o mestre das poções daria. Mas o professor não passou recibo nos dois, continuou andando apressado e sumiu no final do corredor.



— Que é que ele está fazendo? — cochichou Harry — Por que não está lá embaixo com os outros professores?



— Não me pergunte.



Rony sabia da cisma de Harry com Snape e no momento em que viu o professor soube que Harry ia querer segui-lo, e não o culpava, o professor era realmente suspeito. Saindo à sua frente, Harry esgueirou-se pelo corredor e Rony seguiu-o o mais silenciosamente possível. Estavam quase na metade do caminho quando Rony sentiu seu estômago embrulhar. O ar foi tomado por um cheiro forte de meias velhas e esgoto que ficava cada vez mais forte. Não é possível que o banheiro das meninas cheirasse tão mal assim, nem o dos meninos chegava a tanto.



— Ele está indo para o terceiro andar — Harry ainda falava do professor, mas aquele odor o impedia de prestar atenção.



— Você não está sentindo um cheiro?



Só então parece que seu amigo entendeu, pois franziu o nariz na hora que inspirou o ar. E no mesmo instante, puderam ouvir um grunhido feroz e passadas pesadas. Os dois viraram-se para a direção do barulho e, no final do corredor, à esquerda, alguma coisa enorme vinha na direção contrária. Os garotos se aproximaram para tentar ver o que era e, quando o autor do barulho passou contra a luz da janela, tiveram uma visão horrenda.



Lá estava o Trasgo. Era ainda maior do que Hagrid, tinha braços e pernas muito compridas, a pele era cinzenta e cheia de calombos. O corpo era enorme e contrastava com uma cabeça minúscula em cima dos ombros. Ele arrastava um bastão de madeira do tamanho de um tronco de árvore com a mesma facilidade que Rony carregaria uma vassoura.



O Trasgo andou corredor adentro observando tudo com curiosidade, e de repente parou em frente à uma porta. Balançou as orelhas enormes grunhindo baixinho, como se tivesse dificuldade de decidir o que fazer. Depois de alguns momentos, entrou devagar.



— A chave está na porta — Harry apontou o pequeno ponto de metal que cintilava na fechadura — Podíamos trancá-lo lá.



— Boa ideia! — concordou Rony, nervoso.



Eles se esgueiraram até a porta aberta, as mãos trêmulas, rezando para o trasgo não mudar de ideia e voltar. Harry pediu a Rony que esperasse e se aproximou da porta. Num único salto, puxou a porta e trancou-a depressa.



— Pronto! — Falou ofegante, com as mãos nos joelhos.



Mais aliviados por ter prendido a fera, correram pelo corredor de volta ao local de onde partiram. Agora seria mais seguro procurar pela... Seu coração parou por um segundo e sua boca secou na mesma hora em que um grito alto ecoou pelo andar inteiro. O local onde o trasgo entrou não era uma sala qualquer.



— Ah, não — exclamou Rony, tremendo.



— Vem do banheiro das meninas. — Harry estava pálido.



— Hermione! — gritaram os dois juntos.



Correram desembestados de volta pelo corredor, trombando um no outro e tropeçando nos próprios pés. Harry ainda tinha a chave nas mãos e com muita dificuldade conseguiu abrir, escancarando a porta.



E lá estava Hermione, encolhida na parede ao fundo, com a boca escancarada, o rosto pálido e tremendo dos pés à cabeça. O trasgo urrava e avançava na direção da garota. Rony ficou petrificado. Ele estava muito próximo e um único golpe a mataria na hora, não teriam tempo de impedir. Mas Harry não pensou assim, e, corajoso, avançou.



— Distraia ele! — Berrou desesperado a Rony, agarrando uma torneira, atirando-a com toda a força contra a parede.



O trasgo parou subitamente, balançando as orelhas e virando devagar, tentando processar o barulho diferente no local. Quando finalmente virou-se, pousou os olhinhos malvados em Harry e urrou, mudando o foco, partindo na direção de Harry. Rony finalmente se movimentou, seguindo o exemplo do amigo, correndo para o lado oposto do banheiro. Sua mão alcançou um pedaço de cano de metal, e atirou contra o monstro, berrando:



— Oi cabeça de ervilha!



O cano mesmo o Trasgo nem sentiu, mas ouviu muito bem seu grito, e parou de correr na direção de Harry, virando-se com os olhinhos cerrados para si, soltando mais um urro alto. Nesse meio tempo, Harry deu a volta pela criatura, encontrando Hermione. Ele puxou a garota e começou a gritar com ela para que corresse, mas esta parecia petrificada de pavor e não se movia do lugar. O trasgo parou de olhar para Rony e voltou a mirar Hermione e Harry. Antes que avançasse, Rony berrou novamente e o monstro levantou a cabecinha pra cima, urrando enfurecido; estavam confundindo-o tantos gritos. Por fim, ele decidiu tomar a primeira decisão inteligente da noite: Correr para quem estava mais perto, e no caso, era Rony.



O trasgo correu com o bastão erguido. O garoto recuou apressado, mas já não tinha para onde fugir. Só restou a Rony se encolher, fechando os olhos, torcendo para que não morresse com a pancada. Porém a porretada não aconteceu, no lugar, o monstro deu um novo urro ensurdecedor. Quando abriu os olhos, viu Harry pendurado no pescoço do Trasgo, e sua varinha enfiada narina enorme que ele tinha.



A criatura estava mais enfurecida do que nunca, agitando o bastão para todos os lados. Harry gritava tentando não cair, enquanto o trasgo tentava acertá-lo a qualquer custo. Se o garoto fosse pego era o fim, e do jeito que o monstro se mexia, não aguentaria muito tempo. Não podia ficar parado, tinha que fazer alguma coisa, tinha que tirar aquele bastão das mãos dele, mas como?



Foi então que teve a ideia. Nunca tinha feito aquilo com perfeição antes, mas teria que tentar, era a única chance que tinham. Empunhou sua varinha com as mãos trêmulas, e por um momento seu olhar se encontrou com o de Hermione, e ele sorriu. Apontou a varinha para o bastão do trasgo, girou e sacudiu, gritando:



 Vingardium leviosa!



Na mesma hora o objeto subiu, e subiu, e continuou subindo. O Trasgo não entendeu o que aconteceu, olhando para todos os lados, confuso, à procura do bastão. Ele conseguiu, dominou o feitiço! O problema é que o bastão não era leve como uma pena, e então seu braço começou a tremer até se tornar insustentável continuar. Quando o feitiço quebrou, o bastão caiu de uma só vez bem em cima da cabecinha de seu dono. A criatura cambaleou e em seguida caiu, e o impacto tremeu o chão inteiro.



Rony continuava parado com a varinha no ar, espantado como que fizera. Ele derrotou o trasgo, ele usou magia perfeitamente e conseguiu nocautear uma criatura mágica que grandes bruxos tinham trabalho para conseguir, mesmo sendo tão jovem.



Então um murmúrio seguido de passos apressados chamou a atenção dos três. Com certeza todo o barulho que fizeram atraiu os outros professores, que vieram na intenção de prender o Trasgo. Correndo, a professora Minerva, o professor Quirrel e o zelador Filch entraram no banheiro. Ao ver a situação que encontravam-se, a professora pôs a mão no peito, e seu rosto empalideceu. Quirrel se aproximou do trasgo, que fungou de repente, fazendo o professor recuar depressa, caindo sentado em um vaso sanitário. O zelador debruçou-se sobre o trasgo, verificando se a criatura estava mesmo desacordada. A Professora Minerva já tinha se recomposto, e virou-se para Rony e Harry com os olhos semicerrados, esbanjando profundo desgosto. Certamente sairiam do banheiro direto para casa.



— O que é que vocês estavam pensando? — perguntou a professora, entre os dentes. Harry olhou desesperado para Rony, mas ele também não sabia o que dizer, ainda não tinha conseguido nem abaixar o braço depois do feitiço. — Vocês tiveram sorte de não serem mortos. Por que é que não estão no dormitório?



Os meninos puseram-se a balbuciar palavras desconexas, desculpas absurdas, contradizendo um ao outro o tempo todo. A professora estava pronta para começar a bronca quando foi interrompida.



— Por favor, Professora Minerva, eles vieram me procurar.



— Senhorita Granger!



Hermione conseguira finalmente falar e colocou-se à frente dos meninos.



— Saí procurando o trasgo porque achei que podia enfrenta-lo sozinha. Sabe, já li tudo sobre trasgos.



Rony deixou a varinha cair, espantado. Ela mantinha a cabeça erguida, embora estivesse com o rosto rubro. Se alguém contasse, jamais acreditaria que viu Hermione Granger mentir para um professor, ainda mais olhando em seus olhos.



— Se eles não tivessem me encontrado eu estaria morta agora. Harry enfiou a varinha na narina do trasgo e Rony derrubou ele com o próprio bastão. Não tiveram tempo de chamar ninguém. O trasgo ia acabar comigo quando eles chegaram.



Harry e Rony concordaram, tentando parecer que conheciam a história.



— Bem... Nesse caso... — disse a Professora Minerva encarando os três —, senhorita Granger, como pôde pensar em enfrentar um trasgo montanhês sozinha?



Hermione baixou a cabeça. Rony estava petrificado, ela era a última pessoa do mundo que desobedeceria ao regulamento, e ali estava fingindo que desobedecera só para que não fossem punidos. Depois de tudo que falou a ela, de tê-la humilhado, ainda assim ela os estava defendendo. Se já estava se sentindo culpado por tudo que causou, agora estava mais ainda.



— Hermione Granger, Grifinória vai perder cinco pontos por isso — disse a Professora Minerva. — Estou muito desapontada. Se não estiver machucada é melhor ir embora para a torre de Grifinória. Os alunos estão acabando de festejar o Dia das Bruxas em suas casas.



Hermione não falou mais nada e saiu porta a fora, então a Professora Minerva virou-se para Rony e Harry, com o semblante um pouco mais brando.



— Bem, eu continuo achando que vocês tiveram sorte, não há muitos alunos do primeiro ano que pudessem enfrentar um trasgo montanhês adulto. Cada um de vocês ganha cinco pontos para Grifinória. O Professor Dumbledore será informado. Podem ir.



Os garotos passaram o quase caminho inteiro sem dizer uma única palavra. Ainda estavam aturdidos demais com tudo que aconteceu.



— Devíamos ter ganhado mais de dez pontos — comentou depois de um tempo. — vencemos um Trasgo, né?



— Cinco, você quer dizer, depois de descontar os pontos que Hermione perdeu. — Harry observou.



— Foi legal ela ter nos tirado do aperto — Rony admitiu a Harry, só pra provar que não implicava mais com a garota. — Mas não se esqueça que salvamos a vida dela.



— Talvez ela não precisasse ser salva se não tivéssemos trancado a coisa com ela — lembrou Harry.



Rony grunhiu baixinho. Harry estava certo, se tivessem prestado atenção e que cômodo o Trasgo estava entrando, não teriam fechado a porta. Mas não, não era isso. Se ele não tivesse a insultado desde o início ela não estaria no banheiro. Hermione era chata e metida a sabe tudo, mas isso não lhe dava o direito de tratá-la mal. E no fim das contas, ela nem era tão ruim assim.



— Focinho de porco — Eles disseram para o retrato da mulher gorda, entrando no salão comunal.



Todos os alunos estavam reunidos na sala. Estava tocando uma música alta e animada, e todos comiam felizes, alheios ao que estava acontecendo lá fora. Ao entrarem, encontraram Hermione parada ao lado da entrada, esperando-os. Eles pararam de frente para a menina, mas não tiveram coragem de se encarar, constrangidos.



— Obrigado! — Disseram juntos, e correram para apanhar os pratos.



Naquela noite, Hermione juntou-se a Rony e Harry no jantar. Ela era realmente inteligente, e falava com felicidade sobre todas as coisas do mundo bruxo que aprendia lendo nos livros, já que assim como Harry, fora criada em um lar trouxa. Em um dado momento, elogiou Rony pelo feitiço perfeito, dizendo que ela mesma ainda não tinha tentado usar em grandes objetos.



Um assunto entrou em outro, que emendou em outro, e quando se deram conta, a hora já tinha passado e já não tinha mais quase ninguém no salão. Os meninos anunciaram que subiriam, e Hermione falou que ficaria mais um pouco para terminar a leitura de um livro. Rony pediu que Harry subisse na frente. Não explicou ao amigo, mas sua consciência ainda dizia que precisava se desculpar depois de tudo o que falou para ela mais cedo. Após essa noite, já não a via da mesma forma, e não queria que tivesse ressentimentos. Ele aproximou-se da garota, sem jeito.



— Her... Granger. — Rony murmurou — Bem é que... Eu queria dizer que...



Ela abaixou o livro devagar, ostentando um meio sorriso. Certamente já tinha entendido o que ele queria, mas não fez questão nenhuma de ajuda-lo, encarando-o com uma expressão quase divertida. Por fim, Rony respirou fundo e soltou de uma vez:



— Eu nunca achei que você fosse um pesadelo. Na hora que disse isso estava com raiva e falei da boca pra fora, mas não penso assim. — ele coçou a cabeça, não era fácil falar essas coisas — Eu achava você irritante e tudo mais, porém depois de hoje não acho tanto... Quero dizer, não é verdade que não gosto de você, eu só ficava bravo com as coisas que você fazia e... Não, digo, Você é legal.



Realmente, palavras não eram o seu forte. Hermione franziu o cenho, decidindo se aquilo era uma ofensa, um elogio ou um pedido de desculpas. Por fim, abriu o livro de novo, colocando-o na frente do rosto, sem dizer uma só palavra.



Rony não entendeu o que aquilo queria dizer e decidiu não perguntar, até porque se tentasse falar mais alguma coisa sairia ainda pior que da primeira vez. Já tinha virado as costas para subir para seu dormitório quando ouviu:



— Mione.



— O que? — perguntou virando-se subitamente.



— Pode me chamar de Mione, é como meus amigos me chamam. — Falou detrás do livro.



Ele precisou de alguns segundos para processar o que ela quis dizer, mas por fim, entendeu: ela tinha lhe perdoado.



— Ah... Claro... — ele coçou a nuca. — boa noite, Mione.



E daquele momento em diante, Hermione Granger, ou melhor, Mione, tornou-se amiga de Rony e Harry. Há coisas que não se pode fazer junto sem acabar gostando um do outro, e derrubar um trasgo montanhês de quase quatro metros de altura é uma dessas coisas.


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