Ensaio de casamento



Quando acordou na manhã seguinte, Ron já não estava lá, o que ela achou estranho já que ele sempre demorava 5 horas para sair da cama. Ficou ali pensando no que aconteceu na noite passada e em tudo que Ron havia lhe dito. Sentiu uma euforia crescer no peito, uma ansiedade que ela não sabia do que. Esticou o braço e agarrou o travesseiro de Ron, como se fosse o próprio garoto, e ficou ali sentindo aquele cheiro de Ron que ela tanto gostava. Não soube dizer o porquê, mas sorriu. Um sorriso grande, exagerado. Rolou na cama para pegar o relógio de Ron sobre a escrivaninha. Eram 9 da manhã. Ela se levantou, lamentando ter que largar o travesseiro, e foi se trocar.

Desceu as escadas estranhando o silencio na casa e procurando algum sinal de vida. Ao sair, pode ver quase todos os Weasley brincando na praia. Gina, Harry, Fred e Jorge, Gui, e até mesmo Percy, arriscavam um jogo de futebol improvisado junto com os filhos. E la está Ron, parado entre dois pares de tênis que serviam provisoriamente como gol. 
Hermione se aproximou de Angelina e Alicia que estavam sentadas ali com seus filhos menores, olhando os respectivos maridos se divertirem mais do que as próprias crianças que mal conseguiam pegar na bola.
Hermione olhou para Ron que lhe deu um sorriso e se sentou ao lado delas pegando o pequeno Fred II que esticava os bracinhos para ela.

– Você leva jeito com criança, Hermione. Ele não anda muito sociável ultimamente. – disse Alicia se referindo ao pequeno Fred.
– Ele me parece uma criança muito calma. Não é, anjinho? – disse fazendo cosquinhas na barriga do garotinho que ria.

–GINA-EU-VOU-TE-MATAR. – berrou Ron, arrancando a atenção de Hermione. Ele tinha mais uma vez as duas mãos sobre o nariz e estava mais vermelho do que os próprios cabelos.

Hermione devolveu o pequeno Fred a Alicia e se levantou, indo em direção a Ron.

– O que houve? – ela perguntou, tentando não rir e tirando a mão dele da frente do rosto para ver o novo estrago.

– Acho que vou embora desse casamento em um caixão. – ele disse sério, mas em tom divertido. Ela riu.

– É melhor ir cuidar disso antes de irmos ensaiar. – berrou Gina para Ron que já começava a se afastar e entrar na casa junto com Hermione.

– Ensaio? – perguntou Hermione, ajudando ele a subir as escadas já que os olhos dele lacrimejavam tanto que mal enxergava.

Os dois entraram no quarto e Ron se jogou na cama, fazendo mais drama do que o necessário para o machucado.

– Eu vou matar essa garota. Por favor, não me deixe ver Gina nos próximos 10 anos, ou eu vou matar ela. – disse Ron sem responder a pergunta anterior de Hermione. Ela riu da birra do garoto. – Hey, onde você vai? Eu estou machucado Hermione. – disse ele ao ve-la andar em direção a porta.

– Vou pegar gelo pra isso aí. – disse ela apontando para o machucado.

Não demorou muito até que ela voltasse com duas pedras de gelo embrulhadas em um pequeno paninho. 

– Onde dói? – perguntou se sentando ao lado dele na cama.

– Ah, eu já não tenho mais um nariz, mas a boca está um pouco dolorida. Acho que mordi o lábio.

Hermione colocou o gelo no local que Ron indicara.

– O que aconteceu? – perguntou ela.
– Me distrai.
– Típico de Ronald. E posso saber o que te distraiu? – perguntou achando graça nas caretas que ele fazia quando o gelo lhe tocava.
– Eu tava olhando pra você.

Ela parou por alguns segundos mais logo voltou ao normal, tentando parecer o mais natural possível.

– Ah, ótimo. Quer dizer que mais uma vez a culpa é minha?
– É. Sabe, você deveria ter nascido feia, assim seria mais seguro. Estou começando a achar que é perigoso ficar perto de você.
– Bom, então acho que vou ter que me afastar de você. – ela disse em um tom meio provocativo. Ron riu.
– Não, eu gosto de viver perigosamente.

Ela não segurou a gargalhada. Afastou o gelo do e passou o dedo sobre o machucado no canto dos lábios de Ron, fazendo-o fechar os olhos. Ficou ali olhando para ele, de olhos fechados, pensando em tudo que ela gostaria de fazer. Pensando no quanto seria bom poder ficar com Ron, como ela sentia vontade de ficar. Ele abriu os olhos e sorrio.

– Tá doendo? – perguntou.
– Um pouco. – sussurrou ele em resposta. – Acho que esse troço não ajuda muito.

Hermione riu. Debruçou-se sobre o corpo de Ron estirado na cama e selou carinhosamente seus labios em um selinho um tanto demorado. Logo se afastou olhando para ele agora sem intenção de fugir.

– Mamãe sempre me dizia que um beijinho sara. – ela disse.
– Obrigado, sra. Granger. – ele disse sorrindo e fazendo-a rir.

Ron foi um pouco para o lado na cama e bateu a palma da mão no espaço desocupado para que Hermione se deitasseao seu lado. Já não se sentia mais tão travada com a presença de Ron como sentia dias atrás. Até se arriscava dizer que se sentia muito confortável, obrigada.

Ficaram em silencio por um tempo. Ron desejando que Hermione dissesse algo em resposta ao que ele havia dito na noite anterior, ela ensaiando mentalmente algumas frases sem realmente conseguir formar nenhuma. Por fim, ela somente se aproximou dele e o abraçou, afundando o rosto na dobra do pescoço de Ron, sentindo seu cheiro favorito. E assim ficaram.






O Hematoma causado por Gina não foi o suficiente para que Ron conseguisse se libertar do ensaio de dança daquela tarde, e sua raiva só era amenizada quando Hermione lhe acariciava suavemente o lábio ferido.

No horário marcado, seguiram de carro para o vilarejo de Hyson. Durante vários minutos, só o que podiam ver do lado de fora das janelas do carro preto eram árvores, e as vezes um pedaço de praia e lindos campos floridos. Hermione se encantava com a paisagem, assim como Gina que olhava tudo com muito entusiasmo. Ron entrelaçou a mão na de Hermione que sorriu e deitou a cabeça no ombro do garoto. Apesar de Harry parecer mais concentrado na estrada, não deixava de bajular Gina.


Era um vilarejo pequeno. A rua principal era a Dover Street onde estavam concentradas todas as principais lojas, academias e restaurantes do local. Não era uma rua muito grande e tinha o tradicional estilo rustico típico da Inglaterra. 

Pararam de frente para um estabelecimento esquisito que conseguia ser mais torto do que A Toca, embora não fosse tão alto. No letreiro já um tanto gasto, ainda podia se ler em letras medievais e coloração verde-esmeralda “Salão de Danças S.Trelawney”. Ron olhou o local com apreensão, mas não tanto quanto Harry. Seu melhor amigo sempre fora desengonçado com os pés e não tinha a menor ideia de dança. 

Subiram as escadas em caracol até o segundo andar daquilo que parecia ser uma casa e Gina deu uma leve batida na porta. Logo em seguida, como se já estivesse segurando a maçaneta do outro lado da porta, uma senhora de meia idade e cabelos totalmente armados apareceu. Tinha os olhos claros escondidos por detrás das lentes de um óculos fundo de garrafa. Usava um vestido que mais parecia um amontoado de retalho e diversas cores que não conversavam entre si. Dos braços pendiam tantas pulseiras que ficava difícil encontrar um pedaço de pele entre elas.

– Olá queridos, sou Sibila Trelawney. Muito bem entre, mas deixem os sapatos na porta, no carpete. – Eles se entreolharam, mas obedeceram tirando os sapatos e seguindo a senhora. – Bom, chegou a hora da verdade. O momento mais importante em um casamento é a primeira valsa de casados. Não fiquem nervosos, dançar é como caminhar. Tem que sentir o compasso da musica deixar se dominar para que seu corpo fale por você. Dançar é como andar de bicicleta, é como amar... Pode passar anos, mas nunca se esquece totalmente. Bom, agora eu preciso que os noivos deem um passo a frente. – Gina se adiantou puxando Harry consigo, já que esse parecia pregado no lugar. – Coloquem-se em posição enquanto coloco a musica, Okay?


– Que posição você prefere? – sussurrou Harry para Gina em tom de malicia, levando um tapa no braço em seguida.

– Ela se refere a dança, Harry. Vamos, me de sua mão e ponha a outra na minha cintura. – Gina fazia os movimentos ordenados por Sibila mas Harry não ajudava muito, era uma negação.

– Muito bem queridos, vamos fazer um exercício. Fechem os olhos. Não se esqueçam de manter a distancia entre os corpos, isso é muito importante, pois cada um deve respeitar o espaço do outro. Finjam que estão em um quadrado. A dança consiste em quatro passos e é necessário movimentos leves e graciosos. – ela se colocou atrás de Harry e colocou suas mãos na cintura do garoto para tentar guia-lo, Harry levara um susto tão grande que pisou fortemente nos pés de Gina. – Não, não, não. Comecemos de novo. Um, dois, três, quatro... Assim queridos.

– Pobre Harry, deve estar sofrendo a beça. De todas essas coisas de casamento, a dança é o que mais aterroriza ele. – Comentou Ron com Hermione. Eles haviam ficado parados logo atrás, um ao lado do outro apenas olhando a trágica dança de Harry. Ron desviou os olhos de Harry para olhar Hermione, segurou sua mão fazendo-a desencostar da parede. – Quer dançar?

– Claro. – assentiu sorrindo. 

A suposta “distancia entre corpos” e o “respeitar o espaço do outro” era algo que não funcionava para Ron, que já havia puxado Hermione pela cintura quebrando qualquer distancia. Hermione passou o dedo no lábio e no nariz machucado de Ron. Ele adorava aquilo. 

– Ainda dói?

– Não mais. Mas para garantir que a dor não volte, acho que você deveria me dar outra dose do seu remédio milagroso. – Ela sorriu e deu um beijo no canto da boca de Ron que riu desgostoso. – Vou aceitar isso por hora, acho que já até posso dançar melhor. Falando nisso, você dança bem. Queria saber como vocês mulheres nascem sabendo fazer tudo.


– Pratica. Quando somos crianças, queremos ser tudo: dançarina, atriz, cantora. – ela riu lembrando-se da própria infância. – Então, nós acabamos aprendendo. Não somos preguiçosas feito vocês, já pensamos em que profissão seguir desde os três anos.

Hermione deitou a cabeça no ombro esquerdo de Ron. Ambos olhavam e riam do casal desajeitado Ele até se arriscou em uma pirueta mas sua bunda foi de encontro ao chão.

– É um caso perdido, Sr. Potter, soube assim que vi suas pernas... Deus, como são finas. – disse Trelawney, virando-se para olhar Gina com um olhar triste como se Gina acabasse de se tornar viúva. – É uma pena, fazem um casal tão bonito. Um casal sem um baile é como... É como... Oh, eu mal consigo descrever. Está destinada ao sofrimento, querida.

Harry se levantou com a ajuda de Gina e fazia caretas para Sibila quando esta se virou, murmurando palavras como “velha” e “múmias”. Embora Gina risse, tentou dar um pequeno sermão no noivo.
A aula durou por volta de uma hora e meia, mas de certo modo valeu a pena. Ao termino, Harry já parecia bem melhor e até arriscou uma nova pirueta sem cair. Gina estava muito contente com o resultado e propôs que jantassem em um restaurante próximo dali. Ron, que nunca dispensava uma boa comida, pensou em aceitar, mas foi impedido por Hermione que o puxava pelo braço. Ela sussurrou um “Não fique chateado” e lhe deu um beijo na bochecha.


– Fiquem vocês. – disse ela voltando-se para Gina. – Não me sinto muito bem, então acho melhor que Ron e eu voltemos para casa. Aproveitem a noite vocês dois porque daqui dois dias, já serão casados. Não se preocupem conosco, nós podemos ir caminhando.

Hermione não admitiu nenhum protesto vindo de Gina ou Harry e logo estavam Ron e ela caminhando de volta para casa.

– Ou você é uma pessoa muito boa e quer o bem de um casal apaixonado prestes a se casar, ou você não tem piedade nenhuma no coração em me fazer andar faminto por mais de 40 minutos. – disse Ron fazendo cara de sofrimento. – tem noção da distancia que estamos de casa?

– Sem dramas Ron, eu não vou beijar você dessa vez. Acredito que suas pernas estejam em ótimas condições para uma caminhada. – ela segurou a mão dele, começando a arrasta-lo. – Vem, vamos. Podemos caminhar na praia, o sol já está se pondo... E, podemos aproveitar pra pensar um pouco em nós.

Ron parou de supetão, porem ela prosseguiu, mas uns três passos antes de reparar que ele parara de andar. Virou-se para olha-lo e ele a encarava com a sobrancelha arqueada. 

– O que foi? – perguntou já começando a se preocupar.

– Nada. – disse abrindo um enorme sorriso e indo em direção a ela. Abraçou-a pela cintura de uma forma um tanto possessiva e seguiram pela praia. A verdade é que gostara da forma como ela dissera “Pensar em nós”, mas achou melhor deixar Hermione agir espontaneamente, sem que ele tivesse que dizer algo. Os dois caminharam lentamente para que o percurso não fosse tão cansativo e pudesse curtir a companhia. Hermione levava as sandálias presas entre os dedos da mão deixando que seus pés sentisse toda textura da areia. O céu alaranjado começava a mesclar com o azul marinho e a lua começava a exigir do sol o seu espaço.


Demoraram cerca de quarenta minutos para chegarem na casa, o dobro de tempo que levavam em uma viagem de carro. Quando chegaram ao jardim, Ron pegou Hermione pela cintura e prendeu-a entre a pequena cerca de proteção e começava a lhe dar um beijo quando um barulho os interrompeu.

– O que foi isso? – Perguntou Hermione parecendo assustada.

– Não sei, veio detras dos arbustos. – Ron começou a se aproximar dos arbustos que separavam a terra do jardim das areias da praia cautelosamente, Hermione o acompanhou. Depararam-se com Dominique sentada totalmente encolhida, com as mãos abraçadas aos joelhos como se fosse um tatu-bola, Hermione logo percebeu que ela chorava. Ron estava prestes a se agachar para perguntar a sobrinha o que houve quando Hermione pois a mão em seu ombro pedindo que ele deixasse aquilo com ela. Ele assentiu e foi em direção ao interior da casa, era assunto de garotas.
Hermione se aproximou de Dominique e se sentou ao seu lado.

– Nick? O que houve querida? Por que você está assim?
– Eu sou tão burra. – disse a garota desabando em lagrimas. – C-como eu p-pude acreditar? Vick sempre me disse, mas eu... Eu...
– É por um garoto? – Hermione lhe acariciou os cabelos ruivos, sabía reconhecer a dor de um coração partido. Dominique levantou a cabeça e assentiu. – Sinto muito, Nick. Apaixonar-se é complicado e sei que nada do que eu te disser agora, te fara se sentir melhor. Mas você não é burra, anjo. Quer me contar o que aconteceu?


– Mike, ele me deixou. Ele era o meu namorado no colégio. – disse fungando o nariz. – Mas me disse que conheceu outra garota esse verão e que... Ele disse que está com ela, nesta carta. – ela entregou a carta consideravelmente amarrotada nas mãos de Hermione. – Vick sempre me disse que ele iria brincar comigo, mas...

– A paixão nos céga as vezes. Voce gostava do rapaz e é comum não darmos ouvido a quem nos quer bem nessas horas. Eu realmente sinto muito, mas saiba que você é uma garota linda, inteligente e graciosa. Ele é o único estupido nisso.

– Mas isso doi tanto.

– Eu sei. Há alguns anos um garoto me fez sofrer também. – disse Hermione abraçando Dominique com mais força como se pedisse apoio pra que ela também não se derramasse em lagrimas. Ela nunca falava sobre isso, exceto com Ron. – Vitor, era o nome dele. Ele trabalha com seu tio e eu e nós namoramos por quatro anos, desde a faculdade. Eu deixei tudo o que pude por ele, e considerando o fato de que eu não tinha muita coisa... a mínima desistência de algo, causava um estrago enorme. Mas o pior de tudo foi que eu não dei ouvidos ao que seu tio sempre me dizia. Vitor devia ter uma mulher em cada rua, mas ele era perfeito aos meus olhos. Ron sempre foi o meu melhor amigo, mas eu estava tão cega que aos poucos eu fui me afastando dele... Achava que ele estava com dor de cotovelo por eu ter alguém e ele não. Me senti uma estupida quando eu soube de tudo, assim como você se sente agora. 

– Sinto muito.


– Eu também. Mas é com as más experiências que aprendemos não? Você ainda tem uma vida inteira pela frente e eu não posso prometer que nunca mais voltará a sofrer. Mas isso irá passar e você dará conta de quão linda você é em todos os sentidos. Foi o que seu tio me disse quando terminei com Vitor.

– Obrigada. – Dominique enxugava as lagrimas. – Bom, acho melhor eu ir falar com a Vick e pedir perdão. E também agradecer por ela ter me avisado mesmo que eu não tenha dado ouvidos.

Hermione se levantou e estendeu a mão para que Dominique a segurasse e se levantasse também. Juntas, as duas entraram na casa e mais uma vez se abraçaram.

– Obrigada mesmo, de verdade. – agradeceu Dominique mais uma vez, antes de se afastar.

Hermione sentiu a garganta fazer um nó. Respirou fundo tentando se controlar. Por mais que Vitor fosse insignificante para ela agora, tudo que ele havia feito ainda tinha muito significado e ver Dominique naquele estado, a fez se lembrar dela mesmo a alguns anos atras. Subiu as escadas lentamente tentando dar tempo para se recompor e abriu a porta do quarto em silencio. Entrou em silencio para caso de Ron já estar dormindo mas ele não estava.


Estava estirando na cama com os braços atrás da cabeça servindo como travesseiro, olhando para o teto. Ao ouvir o barulho da porta, ajeito-se na cama ficando sentado olhando Hermione com um olhar serio, mas ao mesmo tempo triste, e aquilo foi o empurrão que ela precisava pras lagrimas começarem a cair. Ron abriu os braços, ainda sentado na cama e ela caminhou até ele para abraça-lo.

Ele não precisou ouvir a conversa pra saber o motivo daquilo e ele odiava. Odiava ter sempre que ver Hermione se desmanchando por Vitor. Odiava o fato de Vitor ter tudo que ele queria ter, e nem sabia aproveitar. Às vezes até odiava Hermione por ter sido tão ingênua. Odiava aquele búlgaro nojento. Mas mesmo com tanto ódio e achando tudo aquilo tão injusto, ele continuava ali.

– Até quando você vai chorar por ele, Hermione? – perguntou meio tristonho.

Ela se afastou para olha-lo.

– Não estou chorando por ele. – se defendeu.

– Ah não? E é por que então? – perguntou se sentindo um pouco alterado. Não queria brigar com ela, não enquanto ela estava tão triste. Mas ele se sentia triste também. Triste por ela nunca parecer olhar pra ele, triste por se sentir como se fosse apenas uma fonte de consolo. E aguentar tudo aquilo por seis anos, às vezes o deixava descontrolado.


– Vitor não significa nada pra mim agora Ronald. – disse se afastando do abraço.

Ele cobriu o rosto com as mãos, respirando fundo como se quisesse se controlar. Logo depois voltou a encara-la.

– Fala a verdade Mione, você senti falta dele? Queria que as coisas entre vocês dois tivesse sido diferentes?

– Isso é ridículo, como eu iria sentir falta dele?

– Eu não sei Hermione. É exatamente por isso que eu estou te perguntando. – disse se levantando da cama e indo em direção a janela. Ele realmente tentava fazer força para se controlar, mas aquilo parecia mais difícil do que sempre fora. Ela o beijava, dizia que iria pensar neles dois e continuava a chorar por Vitor?

– Qual é o seu problema?

– Qual é o SEU problema, Hermione? – ele disse já mandando a paciência pro inferno. Olhando para ele, Hermione pode ver as pontas de suas orelhas começarem a ficar vermelha e aquilo não era um bom sinal. 

– Por que você está todo nervosinho?

– Sabe quantos anos eu sou obrigado a ver você se esguelar por causa dele? ...

– Obrigado? Eu não me lembro de ter te pedido nada Ronald, você estava lá porque quis...

– OTIMO! Ingratidão da sua parte era tudo que eu precisava ouvir. – disse ele agora não só com as orelhas vermelhas mas sim o rosto inteiro.


– Eu não estou sendo ingrata, Ronald. É você que parece que resolveu jogar na minha cara que eu sou um peso pra você.

– Você não é um peso para mim Hermione. Não ponha palavras na minha boca, eu não disse isso.

– MAS É ISSO QUE PARECE. – ela estava sentindo tanta raiva de Ron no momento que estava prestes a bater nele com o primeiro objeto que suas mãos conseguissem alcançar.

– Se é isso que está parecendo pra você, é porque você é mais cega do que eu imaginava. 

Ele começou a caminhar em direção a porta, mas Hermione entrou na frente bloqueando a passagem para que ele não saísse.

– Você não vai sair daqui. – ela disse pausadamente como quem se segura pra não encher o outro de tabefes. – Não até me explicar o porquê de estar falando comigo assim.

Ele parou diante dela vendo o olhar de raiva que ela lhe lançava. Fechou os olhos e abaixou a cabeça, respirando fundo como se estivesse se preparando para algo muito difícil. Finalmente tornou a erguer a cabeça e abriu os olhos novamente.

– Eu amo você, Hermione. – disse em um tom mais baixo do que usava anteriormente. – Eu sempre amei você, desde a primeira vez. Só que tudo que parecia importar pra você era ele, tudo era sempre ele. Eu tive que deixar o que EU SENTIA de lado por culpa dele. Eu simplesmente não acho justo que agora que tudo parecia melhor pra nós dois, ele volte a assombrar você de novo. Como você quer que eu me sinta? Quer que eu console voce como se tudo isso fosse indiferente pra mim? Quer que eu finja não sentir nada por mais seis anos até que voce resolva acordar?


Hermione não sabia dizer quanto tempo durou o seu choque. Minutos? Horas? Dias? Que seja ela poderia até arriscar semanas. Por mais que muitas pessoas insistissem em dizer que Ron e ela pareciam mais um casal de namorados do que melhores amigos, nunca passou por sua cabeça que os sentimentos do amigo fossem realmente além da amizade.

Sentiu-se a pior criatura no mundo. Parando para pensar melhor, Ron estava sempre ali não importasse o animo que ela estava no momento, sempre tinha um sorriso de Ron pra fazer tudo passar. Quantas vezes ela esteve ali para ele? Ela podia contar nos dedos. Não é por que não quisesse estar ao lado de Ron quando ele precisasse, mas ela passou tanto tempo sendo egoísta e pensando somente no consolo dela, que nunca parou para pensar se ele não precisava disso também.

– Eu não queria brigar com você, mas essa situação me deixa um pouco nervoso e... – mas foi impedido de continuar quando Hermione se jogou em seus braços lhe dando um beijo que era capaz de lhe sugar os órgãos. Ele segurou sua cintura erguendo-a um pouco do chão. Foi um beijo lento. O melhor deles até agora, na opinião de Hermione. Na opinião de Ron, todos eles haviam sido totalmente incríveis. Hermione cravou as mãos entre os cabelos de Ron e acariciava lentamente, o que fez o corpo de Ron estremecer. Ela pode sentir a respiração de Ron ficar mais forte cada dez que ela lhe mordia os lábios de forma provocativa. Além de melhor, aquele devia ter sido o mais longo dos beijos que já trocara e ambos gostariam de prolonga-lo mais, mas isso já estava se tornando impossível. Ron apenas separou os lábios dos dela para poder respirar um pouco, mais manteve suas testas coladas. Hermione respirava ofegante e mantinha os olhos fechados e as mãos ainda entrelaçadas ao pescoço de Ron.

– Eu não me importo com ele. – disse se referindo a Vitor. Abriu os olhos para encara-lo para que ele soubesse que o que ela dizia, era mesmo verdade. – Acho que nunca me importei... Não como me importo com você.

Ron não dizia nada, continuava a olha-la como se estivesse esperando o momento em que os olhos dela dedurassem algum indicio de mentira. Para o alivio dele, ele via apenas verdade.

– Eu fico triste por saber o quanto tempo da minha vida eu perdi, de quantas coisas eu me afastei... E por nada. – ela continuou, mas agora sem a tristeza de antes. – Me desculpe por nunca perguntar sobre como você se sentia. Eu...

– Tudo bem, Mione. – ele disse lhe acariciando a bochecha e dando o primeiro sorriso sincero desde que ela entrara no quarto.

– Acho que você também tem poderes milagrosos. – disse sorrindo para ele de volta. – Quando você está perto, nada parece ruim.

Aquilo havia elevado o ego dele ao extremo. Ele se viu dando um sorriso tão largo que os cantos dos lábios quase rasgaram. Segurou o rosto dela com as duas mãos lhe dando vários beijos, fazendo-a rir.

– Vem, vamos deitar. – disse ela segurando-o pela mão e o levando em direção a cama.
– Mas já quer abusar de mim? – perguntou divertido.
– Não seja bobo, Ronald. – disse fingindo aborrecimento, sem muito sucesso. – Hoje não.

Ron se deitou primeiro no lado que normalmente ocupava na cama e logo depois Hermione deitou-se ao lado. Passou uma das mãos pela cintura de Ron e deitou a cabeça sobre o peito dele. Ela não havia dito nada a ele sobre os sentimentos dela em relação aos dele, mas para ele, suas atitudes valiam por hora. Ficaram ali por um tempo, com Ron afagando os cabelos de Hermione. Ele não soube dizer o motivo na hora, mas Hermione começou a rir.

– O que foi? – perguntou ele.
– Eu estava me pensando... Lembra-se da primeira noite que dividimos a cama n’A Toca? – ela disse se lembrando da cena quando acordara. Ele assentiu com a cabeça sorrindo. – Naquela manhã, eu não estava dormindo. Eu me aproximei propositalmente de voce.

– Quer dizer que você queria mesmo dormir grudada em mim? – disse caçoando dela fazendo-a corar.

– Eu... Não sei o que eu estava fazendo na verdade. – riu. – De qualquer jeito, você acabou me pegando no flagra.

– Saco, eu devia ter fingido que estava dormindo. – disse fazendo um bico fingindo tristeza. Hermione sorriu dando-lhe um selinho. – Isso quer dizer que você foi quem violou a zona de divisão. Invadiu o meu espação.

– Ah não senhor, foi você quem jogou essas pernas enormes pra cima de mim.
– Mas você não parecia querer reclamar.
– Cala a boca Ron.

Ele se ajeitou na cama ficando de lado, de frente para ela, e puxando-a para mais perto até o ponto que seus narizes se encostaram.

– Eu sempre quis ficar assim. – sussurrou ele, fazendo-a olha-lo com ternura.
– Você é lindo. – ela disse com o dedo indicador passeando sobre o rosto dele como se contasse as sardas. 
Ron sorriu fechando os olhos, apenas sentindo a caricia em seu rosto. Deu um beijo na testa de Hermione e sussurrou:
– Boa noite, Mione.
– Boa noite, Ronnie. – ela disse o chamando pelo apelido que normalmente sua mãe lhe chamava, mas ele não se importou, na verdade até começou a considerar a ideia de dizer para que os outros o chamassem assim a parte de agora.

Quando acordou cedo naquela manhã, Ron ficou feliz ao ver que Hermione ainda dormia aninhada em seus braços, tão encolhida como um filhotinho quando sente frio. Ela não fugira durante a noite, nem pegou o primeiro voo para NY, nem nenhuma dessas possibilidades ridículas que se passaram por sua cabeça no momento em que suas emoções estavam à flor da pele. Ela estava ali.

Ele apertou o braço em torno da cintura dela como se quisesse traze-la pra mais próximo, mas aquilo era fisicamente impossível. Ele cheirou-lhe os cabelos quando ela deitou a cabeça em seu peito, e deu um beijo neles. Tinha um cheiro tão doce. Era como chocolate, mel e mais todas aquelas guloseimas adocicadas e com cheiros maravilhosos que ele conseguia lembrar.

Hermione começou a se mover, já incomodada com a luz do sol que entrava pela curtina aberta da janela, e Ron até pensou em fecha-las para que ela continuasse a dormir tranquila, mas não levantaria dali por nada no mundo. Por fim, parecendo vencida, ela esfregou os olhos e tentou abri-los lentamente, olhando para cima e encontrando o olhar sorridente de Ron.

– Estou começando a ficar preocupada com você. Você anda acordando primeiro do que eu. – disse ela lhe dando um sorriso sonolento. – Bom dia.

– Eu tenho muita coisa para olhar, não posso perder tanto tempo dormindo. – ele lhe deu um beijo na ponta do nariz. – Bom dia, coisa linda.

Ela soltou uma risada gostosa e debruçou sobre o corpo de Ron, distribuindo beijos pelo rosto do garoto. Ele sorria. Segurou o rosto dela lhe dando um selinho demorado. Sua estomago roncou audivelmente, fazendo Hermione rir.

– Agora não companheiro. – disse como se estivesse falando com seu estomago.

Hermione penteou os fios de cabelo ruivo de Ron com os dedos para tentar abaixa-los, mas ainda o achando incrivelmente bonito mesmo de cabelos amassados e em pé. 

– Vamos comer um pouco, eu também estou com fome. 

Ron soltou um resmungo fazendo cara feia quando ela fez menção de se levantar.

– Só mais unzinho. – disse puxando-a de volta lhe selando mais uma vez os lábios.
– Vamos logo Ron, ou vamos fica aqui o dia inteiro. – disse sorrindo.
– Ótimo. Essa é a intenção.

Ela apenas balançou a cabeça sorrindo em descrença e se levantou, puxando-o pelos braços com dificuldades, pois ele pesava o corpo para poder continuar deitado.

– Anda preguiçoso, voltamos para cá depois. – disse em tom de chantagem.

Funcionou. Ron se levantou rapidamente agarrando-a pela cintura em um abraço tão forte que a tirou do chão. Caminhou abraçado a ela em direção a porta e quando a abriu, de deparou com uma mala jogada ali em frente.

– Mas o que é...
Antes que pudesse terminar a pergunta, Gina apareceu com uma quantidade de roupas entre os braços, maior do que sua capacidade para segura-las. Entrou no quarto dos dois e jogou ali na cama todas as roupas que eram suas.


– Eu posso saber que merda é essa agora Gina? – perguntou ficando nervoso só de olhar para a irmã.

– Vamos trocar de quarto... – disse ela sem encara-lo, já saindo do quarto um tanto apressada.

– Vamos quem?

– Eu e você, a Hermione fica. – ela respondeu antes mesmo que ele lhe perguntasse.
– O QUE? NEM PENSAR. – ele disse entrando de volta no quarto e tacando todas as roupas de Gina no chão.

– Sim senhor Ronald, estamos na véspera do casamento e se você não sabe, a tradição diz que os noivos não podem passar a noite anterior ao casamento juntos. – disse voltando a jogar as roupas na cama. – Eu durmo com Hermione, você dorme com o Harry.

– Você está se ouvindo Gina? – perguntou incrédulo. Harry apareceu na porta com mais uma mala nas mãos e Ron virou-se bruscamente para ele. – Você concorda com essa palhaçada toda?

Harry fez uma cara de quem não concordava, mas tão pouco tinha coragem o suficiente para dizer isso a Gina em voz alta.

– Por Deus Ronald, é só uma noite. Você não irá morrer se ficar uma noite se se divertir com a Hermione. – disse Gina pegando a mala na mão de Harry que permanecia mudo.

– Harry. – disse Ron olhando para o melhor amigo com um olhar de suplica. – Eu nunca achei que lhe diria isso, mas leva Gina daqui e se tranca com ela no seu quarto. Faça o que quiser com ela, mas tire da minha frente.

– Sinto muito amigo. – foi só o que disse Harry. Dizer algo que contrariasse uma mulher gravida um dia antes de seu casamento, era arriscar a vida.

– Ótimo, pode ficar Gina. Mas a Hermione vai comigo.
– Vou? – perguntou ela.
– Vai. Harry pode dormir na sala.
– O que? Eu não vou dormir na sala. – disse Harry se impondo pela primeira vez.
– Então controle a sua mulher.
– Ron, é a tradição. – disse Gina
– Dane-se a tradição. Voces ja dormiram juntos por dez anos... Voce não voltará a ser pura em uma noite.

Enquanto eles discutiam, Hermione havia entrado no banheiro para se vestir. Para ser sincera ela também não estava gostando nada daquela troca exigida por Gina. Dormir sendo abraçada por Ron havia sido a experiência mais tranquilizante e confortável.

Ao sair do banheiro vestindo um short curto e uma camiseta listrada, viu que os garotos já haviam saído e apenas Gina estava ali, sentada na cama observando três vestidos tentando escolher qual vestir.

– Ah! Hermione, não tinha te visto. Muito obrigado por ontem, Harry e eu nos divertimos muito. A verdade é que nem tínhamos a intenção de sairmos só os dois sozinhos, se não fosse por você teríamos perdido a oportunidade. Espero que o chato do meu irmão não tenha enchido você com isso. – Gina falava muito depressa como de habitual.

– Tudo bem Gina. Foi bom para nós dois também, tínhamos coisas a conversar. Fico feliz por terem se divertido. – olhou para os vestidos que Gina ainda analisava. – Quer ajuda? Pra que são?

– Ah eu quero sim. Preciso de um para a sessão de fotos que farão de Harry e eu antes do casamento. Estou nervosa, muito nervosa. Gosto do vermelho, mas acho muito chamativo, e o preto é muito “luto” para um casamento... O azul... Ah eu não gosto de azul. – Gina ia apontando cada vestido e Hermione os analisava em silencio.Hermione caminhou até a mala de Gina jogada no chão, e pedindo licença abriu-a. Foi despejando na cama centenas de peças de roupas até encontrar o que queria.

– Branco floral. – disse erguendo o vestido. – Com os cabelos presos pela metade, você ficará linda. Poderiam tirar algumas fotos em preto e branco, ficaria fantástico em contraste com o visual rustico desse lugar. 

– Você é um gênio. Obrigada, obrigada. – Gina apertou Hermione em um abraço, dando um beijo em cada bochecha da garota, depois correu para a porta. – Vou contar a Harry e pedir a Fleur que me ajude com um penteado, ela é ótima pra isso. Até mais tarde.

Gina saiu tão apressada que Hermione mal conseguiu sussurrar um “Até logo” em resposta. Suspirou pensando no que a esperava naquele dia e pior ainda, aquela noite. Por mais que Gina também fosse ruiva, dormir ao lado dela não era como dormir ao lado de Ron. Sorriu ao lembrar-se da noite anterior, mas especificamente no momento em que Ron disse que a amava. Se sentiu tão eufórica aquele momento, e ainda se sentia. Ele a amava, e ela adorava saber disso.

Seguindo os passos de Gina, saiu do quarto mas antes de começar a descer as escadas para a cozinha onde todos já tomavam o café da manhã, desvio seu caminho até o quarto onde Dominique e Victorie dormiam e entrou. Ambas as garotas estavam estiradas cada qual em sua cama, mas estavam acordadas. Ao ver Hermione, as duas sorriram e pediu para que ela entrasse e fechasse a porta. Hermione sentou-se a beira da cama de Victorie fixando sua atenção em Dominique. A jovem tinha os olhos um pouco inchados e o cesto de lixo ao seu lado estava lotado de lenços molhados de lagrimas.

– Está tudo bem por aqui? – perguntou Hermione. Sabia que era uma pergunta um tanto boba, já que sabia que Dominique ainda se sentia muito ferida, mas sabia que ela sairia daquela... Por experiência própria. Dominique sorriu mostrando grande força de vontade e Victorie se pôs a seu lado em posição de apoio.

– Sim, estou bem melhor. Obrigada por ontem, me ajudou muito. – Dominique estendeu uma das mãos segurando a de Hermione. Suas mãos tremiam em um sinal de incerteza e Hermione a apertou para encoraja-la mais. – Vick e eu conversamos bastante ontem a noite e... Sei que terei que vê-lo todos os dias quando as aulas voltar, tenho um pouco de medo quanto a isso.

– Mas sabe que pode contar com a ajuda de todos que te querem bem. – disse Hermione dando uma piscadela para Victorie que sorriu de volta. Para Hermione, era inevitável não ver em Dominique a sua versão mais jovem, mas quem estava ao seu lado era Ron. Ele sempre esteve lá para tudo, mesmo que ela fosse mal humorada e chata com ele. – Está um lindo dia hoje, poderíamos ir até a praia, caso a tia de vocês tão tenha planos para hoje.

– Podemos fazer o que quisermos. Tio Harry convenceu a tia Gina que essa coisa de “atividades em casais” era uma perda de tempo e que eles deviam relaxar. – disse Victorie com seus olhos azuis cintilando. – Vamos Nick, será ótimo um dia na praia. Tomaremos sol e banho de mar, você se sentirá melhor.

Marcaram de ir a praia dentro de vinte minutos e Hermione as deixou a sós. Aproveitou para procurar Ron a quem não via desde a invasão de Gina em seu quarto, mas não encontrou-o em lugar algum. Saiu para os jardins a procura e apenas avistou a senhora Weasley e seus pequenos netos. O pequeno Fred II estava sentado na grama brincando com o seu trenzinho, Julie se lambuzava com uma laranja enquanto Roxanne admirava os trevos de três folhas. Sra. Weasley levantou a cabeça e acenou para Hermione, pedindo para que ela se aproximasse.

– Bom dia querida. – cumprimentou a senhora com um copo de limonada nas mãos.

– Bom dia, sra. Weasley. A senhora por acaso não viu Ron? – perguntou. Mas a mulher não teve tempo de responder, pois Ron já surgia por trás dela, abraçando-a pela cintura e dando um beijo no ombro descoberto. Virou-se para ele sorrindo. – Estava te procurando. Nós vamos a praia, você topa?

– Claro, mas... Quem está dentro desse “vamos” ? Pensei que finalmente eu teria um dia só com você... Você prometeu que voltaríamos para o quarto depois do café. AU! – gritou quando Hermione lhe deu um tapa ardido no braço para que ele não dissesse aquelas coisas na frente de sua mãe e sobrinhos.

– Você vem? Anda, é só um pouquinho. – disse tentando fazer uma cara convincente. –Podemos andar um pouco todos juntos. Dominique e Victorie já estão se arrumando. Será rápido.

– Está bem, encrenca. Vou chamar os garotos. Já que você não quer me dar exclusividade, eu é que não vou ficar ouvindo papo de mulher sozinho. – deu um selinho curto em Hermione (curto demais na opinião da garota) e um beijo na bochecha de Molly. – Volto em um minuto.

Meia hora mais tarde, e todos exceto os noivos, Norallie, Molly e Arthur, já estavam na praia. Fleur se banhava com protetor solar enquanto Alicia e Angelina se bronzeavam no sol. Fred e Jorge levavam Roxanne e Fred II em seu primeiro banho de mar. Gui, Carlinhos, Draco, Neville e Ron brincavam com as outras crianças no mar. Hermione estava deitada de bruços e conversava alegremente com Audrey e Pansy que estava sentada em uma espreguiçadeira logo ao lado. Luna bocejava em uma cadeira próxima. Todos pareciam se divertir naquele ambiente tranquilo e agradável. Essa parte da praia não era muito cheia, o que parecia ter sido um lugar reservado apenas para eles.

As mulheres ficaram ali comentando sobre o dia do casamento e como seria o vestido de Gina, e Ron não podia evitar desviar seu olhar em direção ao corpo de Hermione deitado na areia. Não podia negar, morria de desejo por ela e deu graças a Deus por estar cercado por sua família naquele momento. Hermione era linda, mas pouco deixava seu corpo em evidencia, suas roupas formais de advogada sempre cobriam as belas curvas da moça. Um jato d’agua jogado em seu rosto foi o que fez voltar a si. Voltou-se para olhar Draco e Neville que davam sorrisinhos debochados para ele, e iniciaram uma guerra d’agua onde Gui e Carlinhos logo trataram de se juntar.

Hermione algumas vezes focava os olhos em Ron e sorria. Ele podia ser infantil na grande maioria das vezes, mas isso era o que ela mais gostava nele. Ajeitou-se em cima da toalha, agora para tomar sol na parte da frente do corpo, pôs os óculos de sol e fechou os olhos disfrutando daquela paz que não sentia a muito tempo.
Para seu azar, todos haviam ficado em um silencio cumplice quando Ron saiu do mar gelado indo em direção a ela. Debruçou o corpo gelado sobre o dela fazendo-a estremecer quando as gotas de agua fria entraram em contato com a pele quente de sol. Hermione tentou sair debaixo de Ron, mas ele a prendeu colocando um braço a cada lado de seu corpo.

– Eu vou matar você, Ronald. Você está gelado, e está me molhando. – fez força contra o peito do garoto para tira-lo de cima, e com um pouco mais de força conseguiu tombar o corpo de Ron para o lado e pôs-se de pé.

Ron a olhou com um olhar travesso fazendo-a rir e quando este se pôs de pé, Hermione começou a correr. Ron apenas caminhou em passos largos atrás dela não sentindo dificuldades nenhuma para alcança-la, como naqueles filmes de terror em que o assassino mesmo caminhando, consegue alcançar facilmente a mocinha que corre histérica. Porem nesse caso, Hermione não gritava e sim gargalhava, e gargalhava tanto que suas forçar pra continuar a corrida já estavam se esgotando. Vendo que a garota começava a dar sinais de cansaço, Ron acelerou os paços e a puxou pela cintura fazendo-a tropeçar e cair novamente na areia, ainda rindo. Mas uma vez ele se atirou sobre ela segurando com mais força.

– Solta Ron, estão todos olhando pra gente. – disse ainda rindo e tentando recuperar o folego. – Você parece uma criança.

– Eu pareço uma criança? Quem saiu correndo feito louca só porque estava sendo molhada por umas gotinhas de agua? – ele acariciou sua bochecha com o polegar aliviando um pouco o peso sobre a garota para dar a ela uma facilidade maior para respirar. – Você fica linda nesse biquíni, devia usa-lo mais vezes.

– Ron... – foi o que ela conseguiu sussurrar antes que Ron pressionasse os lábios contra os delas, tirando dela qualquer possibilidade de querer se afastar dele. Deixou-se levar pelo momento, ignorando totalmente os olhares dos outros. Havia descoberto as maravilhas e a necessidade que tinha dos beijos de Ron e queria que os lábios dele nunca mais se desgrudassem dos seus.

– Eu te amo. – disse Ron roçando o nariz no dela em um daqueles “beijinhos de esquimó”. Ele sabia que era cedo demais para que ela dissesse o mesmo e tão pouco cobrava isso dela. Por mais que seus sentimentos por ela tivessem sido alimentados por seis anos, a pequena inclinação que ela tinha por ele havia sido descoberta apenas há alguns dias. Mas ficou feliz ao vê-la sorrindo diante do que dissera. Ela pôs as mãos sobre o rosto dele e o recompensou com mais um beijo.

Ao longe, os assovios dos irmãos Weasley fez o casal se separar tomando consciência de onde estavam.

– É melhor a gente se levantar enquanto ainda temos forçar pra isso, ou vou acabar fazendo algo que quero a muito tempo, e o local não é apropriado – sussurrou um tanto malicioso. Segurou o queixo dela passando os lábios sobre o dela, mas sem beija-la, fazendo Hermione soltar um suspiro mais alto.

Durante todo aquele dia, Hermione permaneceu completamente dispersa. Sua mente insana insistia em fantasiar o que Ron faria quando estavam na praia, caso estivessem sozinhos. Por mais que sacudisse a cabeça para afastar os pensamentos, não podia evitar sentir as sensações que aquilo lhe causava. Ela brincava distraidamente com Roxanne, mas seus olhos insistiam em parar em Ron que conversava descontraído com seus irmãos. Queria se levantar dali e bater nele por dizer aquelas coisas para ela e faze-la pensar coisas que não devia. “Ou devia?” pensou ela, se censurando depois. Tiveram que dizer duas vezes que o almoço estava pronto pra que ela ouvisse. Todos a notaram calada naquela tarde e Ron a olhava de esguelha como se quisesse saber se ela havia captado sua mensagem. Ele poderia ficar tranquilo pois ela havia entendido perfeitamente.

Ao terminar de comer, Hermione foi em direção ao quarto onde se se se encostou à janela que lhe dava uma vista privilegiada de Pembroke. Desejou saber qual seria o desfecho dessa viagem embora ela tivesse a certeza de que apenas não sabia por complicações e dificuldades que ela mesma empunha. Outra em seu lugar não pensaria duas vezes em começar uma relação com Ron, mas ela insistia naquele medo bobo de perder a amizade dele caso isso não viesse a dar certo.

Ele era a única figura constante em sua vida, os outros apenas passavam e iam embora sem deixar nada significante para trás mas ela saberia o estrago que faria se Ron fosse embora também. Ouviu a porta bater e se sobressaltou. Pensava ser Gina, mas ao virar-se lá estava Ron. Tinha as mãos nos bolsos da calça e um sorriso galanteador no rosto. Posicionou-se ao lado dela e Hermione esperou que ele dissesse algo, mas ele apenas ficou em silencio, e quando falou, não disse o que ela esperava.

– Se não tiver ninguém melhor do que eu com quem você queira passar a tarde... – disse em seu familiar tom dramático. – Eu gostaria de te levar a um lugar.

Ele não permitiu resposta, apenas ofereço-lhe a mão para que ela segurasse e a guiou para fora do quarto sem dizer mais nada. Ron caminhou com ela pela praia ainda em silencio, ignorando todos as perguntas de “Para onde está me levando” que ela insistia fazer a cada segundo. Chegaram até próximo as pedras onde parecia acabar a praia, mas antes que Hermione tornasse a perguntar o que fariam ali, Ron desviou o caminho adentrando entre as arvores e rochas que ali haviam chegando ao que parecia ser o outro lado da praia. O lugar era totalmente vazio, nenhuma alma, viva ou penada. Ron parou abruptamente

– Esse é o lugar que eu mais gosto aqui. Eu nem sei se mais alguém vem aqui. É um lugar bom para fugir da minha família quando eles resolvem pegar no meu pé, o que você deve ter reparado ser o que eles mais gostam de fazer. 

O lugar era todo plano e o chão, ao contrario do outro lado das rochas, era todo gramado, uma grama baixa e bem cuidada como se fosse diariamente aparada por um jardineiro. Era todo cercado por grandes rochas e árvores e logo enfrente havia uma espécie de “mini caverna” por onde as aguas do mar que penetravam os espaçamentos entre rochas entravam e desaguavam em um pequeno lago.

– É... Incrível. – disse sem saber muito o que dizer. Era simplesmente lindo e o barulho das aguas escorregando pelas rochas e batendo de encontro as aguas cristalinas no lago era tão aconchegante...

– Eu sabia que iria gostar. Devo vir aqui desde que era um garoto, sempre que tirávamos um tempo de férias para vir a Pembroke. Mas eu nunca quis contar a ninguém sobre o lugar. – disse virando para olha-la com um sorriso de criança que acabara de ser presenteada com um pirulito antes do jantar.

– E porque me trouxe? – perguntou sabendo que a resposta era um pouco obvia. Ela estava gostando daquela coisa de se fazer de boba pra fazer Ron lhe dizer o que ela queria ouvir.

– Queria poder ficar com você, em um lugar onde Gina não nos achasse por um tempo. – ele riu do próprio comentário, sendo acompanhado pela gargalhada de Hermione. Mas logo se tornou um pouco mais sério. – O que eu disse hoje na praia, não foi impensado ou momentâneo. Eu nunca olhei pra você como melhor amiga, e olha que eu tentei. Eu sou apaixonado por você e as vezes eu me pergunto se isso é bom ou ruim...

– Bom... – ela falou rapidamente, o interrompendo. Logo prosseguiu. – Desde que chegamos aqui, eu olhei pra você com outros olhos e eu confesso que isso me assusta um pouco. Eu me sinto perdida, mas sem vontade nenhuma de querer me encontrar, entende?

– Perfeitamente. – disse de maneira terna olhando-a com aqueles lindos olhos azuis que sorriam para ela. Foi aí que ela se convencera: Era apaixonada por Ron. Havia se apaixonado em cinco dias... Ou talvez fosse a vida inteira, pensou lembrando-se das palavras de Gina sobre Harry “Acredito que eu já amava Harry antes... tive certeza quando o vi pela primeira vez”. – Não vou te fazer mal, Mione. A única coisa que eu quero é que você seja feliz, mas eu não nego que gostaria muito mais se pudesse ser comigo.

Ela percebeu que o olhava com um olhar tonto, porque ele começou a rir. Segurou a mão dela fazendo com que ela o acompanhasse até o lago onde se sentaram a beira. Deixaram apenas que os pés fossem banhados pelas pequeninas ondulações da agua que invadiam a margem.

– Dormir abraçada a você na noite passada... – começou Hermione. – Foi a melhor experiência que eu tive, mesmo que tecnicamente não tenha acontecido nada. Quando eu já começava a me conformar que não teria alguém tão cedo para me abraçar durante a noite... Você aparece, e vira tudo de cabeça para baixo.
Ele lhe deu um beijo na bochecha e a acolheu em um abraço. Passaram boa parte da tarde ali, longe do resto do mundo apenas se conhecendo como algo além de amigos. Ela pensava saber tudo sobre seu melhor amigo, mas sentia que estava redescobrindo tudo de novo com uma perspectiva totalmente diferente. Todo em Ron tinha agora um significado diferente do que tinha antes. Um sorriso de Ron não era mais “só um sorriso”, nem um abraço era “só mais um abraço” e cada beijo, mesmo que curto, trazia uma sensação nova e mais intensa.
 

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Comentários (1)

  • Mariana Berlese Rodrigues

    SIMPLISMENTE P-E-R-F-E-I-T-O ESSE CAP. A-M-E-I *.*#MORRI A-M-E-I <3 <3 <3 MUITOOOOOOOOOO LINDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA *.*CHOREI E RI MUITO AQUI :)

    2013-02-11
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