De Mentirinha



O tom de rosa saudável que normalmente cobria o rosto de Ron desaparecera no mesmo instante em que viu o que a amiga trazia nas mãos. Branco feito giz engoliu seco e estendeu suas mãos tremulas para Hermione. Mal teve tempo de pegar sua mala no chão ou ao menos dizer alguma coisa. Hermione o encarava com um misto de curiosidade e ira. O ruivo apanhou a carta e leu duas vezes que foram suficientes para deixá-lo, se é que isso fosse possível, ainda mais pálido.

Oh meu senhor, ele iria matar Gina. Estava decidido, ao invés de um casamento, seria celebrado um funeral. O pior de tudo é que ele já devia ter imaginado que nem 5.000 km de distancia eram o suficiente para que sua família parasse de se intrometer em sua vida. Agora era tarde. Não sabia o que fazer e muito menos o que dizer, e Hermione ansiava por uma resposta. Porque tudo de ruim acontecia com ele? Ele nunca se metia na vida de ninguém...

– E então? – disse Hermione ao ver que ele não se manifestara.

– Sinto muito, não sei o que dizer. – respondeu de cabeça baixa.

– Ron, eu não acredito que estava me usando dessa maneira. – começou Hermione levantando-se do sofá. Fazia seis anos que conhecia Ron e nunca o vira assim tão envergonhado. Ela não pretendia deixá-lo assim, e ante a sua raiva começou a prevalecer à preocupação de amiga. – De alguma forma você tem que concertar por que...


– Não se preocupe, eu vou concertar prometo. – disse ainda sem olhá-la e com a carta nas mãos, dirigiu-se até o telefone. Retirou-o do gancho e discou um numero rapidamente. – Harry?! Pode por favor, chamar a intrometida da minha irmã?

– Ron eu não acho que... – Hermione aproximou-se dele com um braço estendido que logo veio apoiar-se no ombro do rapaz. O olhar de Ron agora dava medo, transbordava raiva, e logo após algum tempo este se pôs a gritar.

– GINA! Porque diabo fez isso agora? Você quer acabar com a minha vida? Deixar-me sem amigos? – Ron estava realmente enfurecido, saíra de seu juízo assim ouviu a voz da irmã mais nova do outro lado do telefone.

Hermione fez sinal de negativo com a cabeça e com uma das mãos pegou o telefone deixando Ron com uma cara de confusão e surpresa. Ela apenas o olhou e fez sinal com as mãos para que este fosse sentar no sofá e a deixasse falar. Ela não sabia exatamente o que estava acontecendo e como principal vítima, acreditava que tinha direito a uma explicação antes de toda essa briga familiar por telefone. Foi a primeira vez que sua mente agradeceu por não ter uma família.

– Gina? Olá, sou Hermione. Escuta seu irmão não está em perfeito juízo agora, perdoe-o pelo tom e as palavras por ele utilizadas. Agora acredito que seja melhor não conversarem, talvez mais tarde Ronald volte a te ligar, quando estiver mais calmo. – Hermione pausou um instante que Ron imaginou ser devido a Gina estar respondendo-lhe alguma coisa e logo voltou a falar. – Tudo bem, desculpe-me mais uma vez. Tchau!

E desligou.


Ron permanecia sentado esperando que ela se sentasse também, mas antes de se sentar, Hermione caminhou até a cozinha e segundos depois retornou a sala com um copo de água nas mãos. Por hora aquilo deveria ajudar a acalmar Ron. Sentou-se na poltrona de frente para ele e suspirou.

– Agora me diga, por favor, o que significa essa carta. – Ela exigiu.

– Me desculpe Mione, eu... – Ron deixou o copo sobre a mesa e apoiou os braços na perna.

– Pare de se desculpar e diga de uma vez. – interrompeu Hermione. Ela nunca foi conhecida por sua paciência. Poderia até mesmo se passar por irritante para quem não a conhecesse muito bem.

– Tudo bem, vou começar do início. – disse Ron depois de tomar ar.

– Boa idéia. – Hermione cruzou as pernas de uma maneira profissional que contrastava com sua calça e camiseta esportiva. Seu tom de voz era pura ironia.

– A carta é da minha mãe... Minha irmã vai se casar este verão, eu sou o único padrinho e membro da família que ainda não tem um par formal. Em Londres conheci uma garota, Lilá, durante a minha ultima visita para o casamento do meu irmão Jorge. Lilá e eu acabamos ficando juntos, mas eu estava bêbado, mal sabia meu próprio nome e muito menos o que eu fazia. O caso é que agora Lilá acredita que tem poder sobre mim, ela me persegui, e como eu preciso de uma acompanhante e Gina não suportaria que eu fosse com ela, ela disse a todos que eu irei contigo. – Explicou com o tom mais monótono que encontrou.

– E onde entra a parte em que você e eu seremos os próximos a nos casar?


– Aí é onde entra minha mãe... E Gina de novo. – Ron suspirou. – Cometi o erro de falar sobre você nas varias conversas com Gina. Mas eu juro que não fiz com má intenção, você é minha melhor amiga e minha companheira de apartamento, seu nome saia naturalmente nas conversas mais casuais. O caso é que minha mãe não consegue compreender como podemos morar juntos sem nunca ter tido nada um com outro, e como ela já estava enlouquecendo Gina com a história da Lilá, Gina acabou dizendo a ela que somos namorados.

– Não acredito. – Hermione levou uma das mãos à testa massageando-a levemente.

– Sua irmã tem complexo de “Santa Casamenteira”?

– É. – Ron riu. – Me desculpe ter te metido nesse rolo Mione.

Hermione suspirou e voltou a olhá-lo agora com um olhar terno.

– Sabe, você fica muito mais bonito e agradável quando não esta dando ataques de histerismo como fez agora pouco no telefone. – Ela sorriu. – Está tudo bem, Ron. Não precisa se desculpar.

– Sério, às vezes eu odeio minha família. – disse se levantado e fazendo Hermione olhá-lo apreensiva quando viu este caminhar novamente até o telefone. – Tanta tensão me deixou com fome. Vou pedir uma pizza, você quer?

– Ronald! Esse não é um tipo de comida saudável. Podemos fazer uma salada e... – mas se calou ao ver que ele já nem prestava a atenção e já fazia seu pedido. – Tudo bem, mas sem cebola.

– Pronto. – disse Ron após alguns minutos desligando o telefone. Afrouxou a gravada, passou a mão pelo cabelo e caminhou até a porta onde sua maleta ainda se encontrava jogada e em seguida foi em direção ao quarto do quarto murmurando apenas que trocaria de roupa e já voltava


– Ok. – sorriu Hermione. Das muitas vezes em que aos olhos de Hermione, Ron parecia apenas um garotinho, ela só fazia sorrir. Brigavam muito, é verdade, mas nunca era grave o suficiente para destruir o que tinham. Eram os amigos perfeitos.

Meia hora mais tarde, os dois se encontravam sentados no sofá, assistindo ao “The late night” com David Letterman, comendo a pizza de queijo e peperonni que havia sido escolhida por Ron. Riram das ultimas piadas do comediante e desfrutavam dessa adorável noite de sexta-feira. A tensão gerada com a chegada do envelope azul parecia ter ficado para trás, mas Ron às vezes deixa seus pensamentos retornarem ao assunto. Agora teria que dizer a sua mãe que tudo não passou de um mal entendido, e automaticamente esta ultima o obrigaria a levar Lilá como sua oficial acompanhante. Teria que agüentá-la por uma semana, a ela e aos deboches de seus irmãos mais velhos.

O programa acabou, mas Ron nem se deu conta. Hermione se levantou com a caixa de pizza em uma mão e a garrafa de vinho já vazia na outra. Disse algo a Ron, mas este parecia nem escutar. Hermione então foi em direção a cozinha e ele permaneceu sentado no sofá com as mãos apoiadas nos joelhos e os olhos fechados. Não queria ir ao casamento com Lilá por nada neste mundo, mas também não podia falhar com Gina e seu melhor amigo. Quando Hermione voltou da cozinha e viu que Ron ainda estava na mesma posição que o deixara disse:

– Ron?! Ron... Ronald?! – chamou-o sacudindo

– Que? O que houve? – disse abrindo os olhos e olhando-a confuso.

– Eu é que pergunto. O que foi? Está se sentindo bem? Eu estava falando com você e você parecia estar longe. – sentou-se novamente no sofá ao lado do amigo. – Me diz o que houve Ron.

– Não foi nada Mione. Estava pensando que vou ter que agüentar Lilá durante toda a semana de casamento. Mas o que você dizia?

– Essa Lilá deve ser mesmo um tormento. – indagou.

– Bastante. Mas anda, o que queria me dizer?

Hermione fechou os olhos e deitou a cabeça no encosto do sofá. Estava certa de que em algum momento iria se arrepender do que estava prestes a dizer, mas antes de qualquer coisa, Ron era seu melhor amigo e não gostava de vê-lo assim tão perturbado. Sabia o quão importante era o casamento da irmã para ele, e uma semana não seria tão ruim assim. Hermione suspirou, abriu os olhos e fitou Ron.

– Não vai ter que suportar Lilá por tanto tempo.
– Ah vou sim. Harry e Gina tiveram a brilhante idéia de programar atividades em casais. – disse imitando a voz da irmã. – Vamos ter que passar o tempo todo juntos.
– Não. Digo que não terá que suportá-la por que eu serei sua acompanhante.
– O-o que? Faria mesmo isso por mim? – seus olhos agora brilharam em alivio e gratidão
– Somos melhores amigos não? Acho que podemos fingir que somos algo mais durante uma semana. Será como tirar umas férias. Mas teremos que impor regras. – Advertiu fazendo Ron bufar, mas ainda agradecido pela ajuda da amiga.
– Obrigado, obrigado, obrigado. – disse abraçando-a e enchendo-a de beijos na bochecha. – Você é ótima Mione.
– Esta bem, está bem. Para... Ron, sai. Ron, para. – pedia ela tentando manter a voz firme, mas rindo feito uma criança.

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Comentários (1)

  • Mariana Berlese Rodrigues

    SIMPLISMENTE P-E-R-F-E-I-T-O ESSE CAP. A-M-E-I *.*#MORRI A-M-E-I <3 <3 <3 MUITOOOOOOOOOO LINDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA *.*CHOREI E RI MUITO AQUI :)

    2013-02-11
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