As Aulas



A monitora chefe distribuiu os horários de aulas, e a primeira seria transfiguração com a turma da Sonserina. Sheeba ainda não se sentia identificada com suas companheiras de quarto: a menina magrela que usava óculos e era muito chata se chamava Sibila Trelawney, além dela haviam Lucia Schmidt, uma menina loura de olhos verdes e ar inteligente porém esnobe, Anabela Phelpes a menina mais bonita da turma, de cabelos castanhos e olhos azuis, Helen Melbourne, uma morena e Marianne Emmereth, uma menina branca e aguada. O resto da turma então ela nem chegara a olhar direito, distraída que estivera na cerimônia de seleção, o único que ela percebera fora  Henry Valmont, um menino louro de olhos azuis muito bonito, mas não pela beleza, e sim porque ele parecia realmente ansioso para chamar a atenção.
    Quando entrou na sala de aula teve a desagradável visão do garoto de cabelo ensebado, que conversava com um menino de cabelos louros e outros igualmente desagradáveis. Ela passou direto por eles e sentou-se no fim da sala.
-    Se vocês querem saber... – começou o garoto louro – eu não acredito nesta coisa de dons, principalmente os premonitórios, isso é invenção para poder sujar a escola com trouxas – os outros riram e olharam para Sheeba, que permaneceu calada.
-    Mas existem pessoas que não pensam assim – continuou Snape – dizem que dão bolsas a trouxas porque acham que eles podem prever o futuro.
    Sheeba olhou o grupo, composto por seis garotos e uma menina. Haviam ainda outros sonserinos de ar desagradável na sala e ela pôde ver Atlantis, o menino cujo padrinho a ajudara, olhando para eles com descontentamento. Os Corvinais por sua vez fizeram-se de cegos... afinal ela não parecia tão disposta a integrar-se com eles.  A professora entrou  na sala, era a mesma que os recepcionara na noite anterior.
    - Bom dia, alunos – ela sentou-se, fez a chamada, então levantou os olhos para a turma, olhando para cada um deles por um instante. Então começou, a voz enérgica: - Muito bem... esta é sua primeira aula do curso de transformação, e devo alertá-los que embora esta seja minha especialidade, é a primeira vez que leciono transfiguração, até o ano passado esta matéria era ministrada por nosso agora diretor, Alvo Dumbledore, mas alguns fatos o obrigaram a lecionar Defesa contra as Artes das Trevas, e eu saí da cadeira de feitiços para esta... mas não pensem vocês que por causa disso exigirei menos de mim ou de vocês. – ela deu uma pausa e voltou a olhar para a turma – nas primeiras aulas não é anormal não conseguirmos resultados positivos, porém, eu cobrarei perseverança na busca de êxito, não tolerarei acomodação e insegurança – ela deu um olhar quase feroz para a turma e passou a lição teórica. Finalmente, na segunda parte da aula, distribuiu borrachas comuns a todos e mostrou uma pequena pedra cinzenta de granito. Deveriam transformar a borracha em pedra. Ela explicou o que deviam fazer e eles passaram à prática.
    Sheeba encarou a borracha, duvidando que conseguisse transformá-la em pedra. Concentrou-se conforme a professora mandara e começou a tentar, mas só uma coisa vinha ao seu pensamento: com aquelas luvas ela não era nada. Ela sentia a varinha entre os dedos, mas não conseguia controlar seus pensamentos, e eles diziam que ela não conseguiria. O tempo da aula se escoou rapidamente, e ela viu a professora elogiando Severo Snape, o único da turma que conseguira transfigurar totalmente a borracha em pedra, o que era raríssimo na primeira aula. Alguns tinham conseguido mudar a cor da borracha, outros o formato, e a de alguns mudara de consistência e textura. Mas a de Sheeba continuava inapelavelmente igual. Mesmo com as palavras animadoras da professora Minerva: “Com um pouco mais de esforço você vai conseguir!”, ela não se sentiu capaz.
    Quando ia saindo para o refeitório, viu o professor Dumbledore, que a esperava. Ela olhou para ele e disse:
-    Professor... eu acho... que não estou indo muito bem – a dificuldade com que disse isso surpreendeu ela mesma. – Em vez de fazer uma cara séria como ela esperava, o professor deu um sorriso e disse:
-    Não se preocupe com isso. Nem sempre as coisas são como esperamos, ainda mais quando esperamos muito por elas, como você esperou para entrar em Hogwarts... você pode ter se decepcionado um pouco, mas mesmo sem saber ver o futuro, eu acho que você ainda vai gostar muito daqui. Hogwarts vai cuidar de você – o Professor saiu e ela não teve nada para dizer... desejou muito que Hogwarts cuidasse dela. Foi andando para o salão, sentindo-se um pouco melhor.
    Na mesa da Grifnória ela podia ver os quatro garotos rindo e Lilian perto deles, mas apenas observando-os. Sheeba estava sentada na beiradinha da mesa e Lilian acenou para ela, que devolveu o aceno animada, Lilian veio até ela e disse:
-    Vamos ter aula de astromancia, feitiços  e Vôo juntas, você viu?
-    Vi, é muito bom, né?
-    Será que eu posso ficar um pouco aqui? Eu já acabei de comer.
-    Tudo bem, a gente pode conversar – Sheeba abriu um grande sorriso e as duas conversaram animadamente enquanto ela comia, ao fim do almoço se despediram e cada uma foi para sua aula. Era estranho, mas as duas sentiam-se mais a vontade juntas que com suas companheiras de casa, porque ambas eram as únicas em suas turmas que vinham de famílias totalmente trouxas.
    O sentimento de frustração seguiu-a por toda aquela semana... nada do que fazia parecia dar certo para ela, tirando a aula de astromancia, em que sua memória boa a ajudou um pouco, ela não conseguiu êxito em nada naquela semana. Na aula de vôo aconteceu algo realmente terrível. A então jovem professora de vôo Madame Hooch, uma jogadora de quadribol recém retirada do mundo do esporte, explicou a eles o que deveriam fazer. Sheeba lutava contra a incredulidade de que conseguiria voar numa vassoura, o que ninguém, nem mesmo Dumbledore houvera dito que era necessário fazer... e ela tinha pânico de altura. Estava dando graças a Deus que não conseguira sair ainda do chão, os outros alunos estavam dando pequenos vôos curtos, mas ela ainda não conseguira sair do chão, dava pulinhos no lugar. Lilian, que já dava vôos curtos também, gritava incentivando-a, mas ela continuava saindo pouquíssimo do chão, e pensava: “trouxa, trouxa, eu estou bancando a trouxa”.  Repentinamente, os quatro garotos inseparáveis da Grifnória notaram sua performance e Sirius disse:
-    Vejam aquilo... uma vassoura saltitante. – O rosto de Sheeba ficou vermelho quando os outros garotos e a turma toda deram uma gargalhada alta. Madame Hooch aproximou-se e disse a ela que ela tinha que se concentrar, a raiva que ela sentia era tanta que ela disse, dando um impulso mais forte:
-    O problema é que essa dro... – a vassoura disparou para o alto, mais rápido que qualquer outra e logo ela não tinha controle e estava gritando desesperada. Ouvia os gritos de pânico dos outros lá embaixo, e repentinamente pensou: “estou realmente perdida... vou voar até essa coisa cansar... aí eu caio” – ela fechou os olhos, não querendo pensar no que podia vir depois. Foi quando alguém a pegou pela cintura e desviou-a dizendo:
-    Calma, vamos para o chão. – Em poucos segundos ela estava pousando com pequenos quiques no chão, quando sentiu os pés firmes sobre a terra teve ganas de abaixar-se e beijar o chão e virou-se para agradecer ao menino que a salvara. Era o pequeno Thiago Potter, que sorria metade de satisfação por tê-la salvo, metade porque realmente o vôo desengonçado dela na vassoura fora muito engraçado.
-    Eu acho que devo minha vida a você....
-    Ah, que é isso...
-    Sheeba, você está legal? – Lilian se aproximou dela e olhou-a com atenção.
-    Eu estou ótima... mas acho que detesto vassouras.
-    As vassouras também devem detestar você – disse Sirius debochado. –Também, só você é idiota o bastante para andar com luvas o tempo todo, isso tira o tato. Como pretende guiar uma vassoura com mãos enluvadas?...E além de tudo são luvas horríveis! Você tem alguma doença de pele? – Sirius havia acabado de cruzar a fronteira entre o que Sheeba considerava irritante e atingira o nível do insuportável.
-    Não, seu boçal! Se eu pudesse escolher, também não usaria estas luvas estúpidas – ela disse e saiu, sentindo as lágrimas de frustração formarem-se ao redor de seus olhos pretos. Não ouviu a bronca que Lilian deu em Sirius, queria apenas sumir dali, sumir da face da terra, estava odiando profundamente o fato de ser bruxa.  Lilian alcançou-a no saguão da escola.
-    Sheeba...
-    Me deixe, Lilian... eu vou falar pro professor Dumbledore que ele cometeu um erro... eu não sou bruxa, sou uma idiota, até agora a única coisa que fiz aqui foi papel de boba.
    Nesse momento, os alunos da Sonserina descendo da aula de defesa contra artes das trevas... o pequeno Malfoy, ao ver Lilian e Sheeba juntas e esta chorando, não perdeu a oportunidade de dizer:
-    Vejam só, se não é a sangue ruim da Corvinal de papo com a sangue ruim da Grifnória... elas estão se unindo... veja meu futuro, senhorita Amapoulos...  – Lilian encarou o garoto com fúria. Ninguém podia suspeitar que havia uma espécie de leão adormecido naquela menina. Seus olhos verdes o encararam friamente e ela disse:
-    Você tem medo, Malfoy... medo que sangues ruins como eu e Sheeba sejamos melhores alunos que você e essa sua turminha... vocês parecem um bando de urubus. Sim, Sheeba vê o futuro, e ela viu o seu e me contou que você não vai ser nada, mesmo sendo um “puro sangue”. E ela viu o de todos vocês... – Lilian assumiu um ar fatal e os garotos titubearam um segundo, então, Severo Snape os puxou e eles saíram em direção ao salão principal. Ela voltou seus olhos para Sheeba e sorriu:
-    Sheeba, se você não fosse bruxa de verdade, não teria nem saído do chão com a vassoura... sabe, eu acho que foi bom eu descobrir em cima da hora que eu era uma bruxa... se eu soubesse antes talvez eu ficasse esperando muito... não foi isso que aconteceu com você?
    Sheeba a encarou em dúvida, então enxugou as lágrimas nos olhos e disse:
-    É mesmo... eu fiz minha primeira “bruxaria” e nem notei... foi meio ridículo, né?
-    Bem... foi engraçado... e quando aquele menino, Thiago, te apanhou... foi legal.
-    Ele é legal... e deve saber voar, porque me apanhou.
-    É, ele deve ser legal.
    Naquela noite, depois do jantar, Sheeba se despediu de Lilian e foi para a sala comunal da Corvinal. Tinha um livro de feitiços na mão e estava decidida a começar a se aplicar. Então, quando passou em frente ao retrato de Rowena Ravenclaw, esta a chamou, para sua surpresa. Ela sabia que era comum ali os retratos se mexerem e falarem... mas ela pouco tinha visto o retrato da fundadora se mexer e não o tinha visto falar ainda. Sheeba parou e ficou encarando o retrato, que disse:
-    Sentindo-se perdida, Sheeba?
-    Um pouco...
-    Não se preocupe... não desista. Está em você, é só querer
-    O quê?
-    Seus outros talentos...não basta apenas ter o Toque, entende? É preciso querer mais. É preciso que você busque mais. Você quer?
-    Se quero? Claro que quero, e muito.
-    Então prepare-se. Seja grande... não deixe que os outros te diminuam. Eu estou aqui há muito tempo... eu vejo rostos como o seu passarem todos os dias, mas de cada dez que eu paro, nem dois aproveitam realmente o que eu digo... eles esquecem.
-    Eu não vou esquecer, prometo.
-    Eu vou querer ver – a fundadora sorriu, exibindo os dentes brancos. Devia ter sido realmente muito bonita.
-    Eu não vou esquecer.
    E ela realmente não esqueceu.

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