POR QUÊ, BIANCA?




Harry estava olhando para ela, amarrada, deitada sobre os escombros. Ela já voltara a sua aparência normal, linda com sua face larga e morena, herdada dos avós peruanos, seus cabelos negros e cheios e seus grandes olhos negros como os de seu pai, o belga Daniel D'Anime. Ele olhava a bela escocesa que fora sua noiva por cinco anos perplexo, nunca imaginaria que justamente ela se tornaria uma praticante das artes negras.
‒ Bianca, por quê? O que te levou a isso?
‒ Eu prometo te contar, contanto que você não leve isso como argumento para o meu julgamento... Eu quero ser condenada. É o que eu mereço depois de te sido tão fraca. Você não precisa usar veritasserum em mim... mas vou entregar uma confissão diferente daquela que farei a você. Peço que aceite e entenda ‒ ela levantou os olhos para ele suplicante ‒ não foi culpa sua.
‒ Eu prometo que vou ouvir sua confissão. Mas tenho que entender porque você fez isso.
‒ Harry... eu tenho uma dívida com o Camaleão.
‒ Eu calculei. Parece que ele só consegue seguidores sob pressão. Você já viu o rosto dele?
‒ Nunca o rosto real. Ele é capaz de fazer transfiguração total.
Harry começou naquele momento a considerar realmente o Camaleão um inimigo perigoso. Ele só conhecia duas pessoas capazes de transfiguração total, e só vira um apenas executá-la, e este era Mr Sandman. O outro era Alvo Dumbledore, levando-se em consideração o poder de ambos, era de se preocupar se o Camaleão tinha esse poder. Até então tivera esperança que ele apenas usasse poção polissuco. Harry a encarou de novo.
‒ Porque você contraiu uma dívida com ele?
‒ Há oito anos, quando eu ainda estava em High Hill, um general trouxa procurou meu pai... ele era americano, conhecia um bruxo não muito ético que indicou meu pai... esse general era louco por miniaturas, particularmente miniaturas de guerra. Ele queria dois exércitos de miniaturas, que lutassem entre si incessantemente. Que tivessem a capacidade bélica de um pequeno exército. Ele era um fanático por guerra.
‒ Nota-se.
‒ Meu pai não queria fazer os brinquedos... existe a lei, não podemos dar brinquedos bruxos a um trouxa. Mas o general ofereceu muito dinheiro... uma quantidade incalculável. Acho que se minha mãe ainda estivesse casada com meu pai, talvez ele não tivesse aceito, ele mudou muito depois que eles se separaram, enfim, se na época eu soubesse de alguma coisa... eu teria conseguido evitar tudo, meu pai nunca me negou nada, você sabe.
‒ Sim, eu sei. O que aconteceu depois?
‒ O trouxa morreu antes de um dos exércitos ficar pronto, acidente de avião, meu pai lamentou-se que não pudesse ter entregue os brinquedos, mas depois concluiu que fora o melhor, imagine se os brinquedos parassem na mão de trouxas depois dele morto. Meu pai decidiu destruir o pequeno exército, mas você sabe o que ele pensa em relação aos brinquedos.
‒ Ele não teve coragem de destruí-los...
‒ Exatamente, ele trabalhara muito bem, eram perfeitos. Ele decidiu guardá-los na sua coleção pessoal, mas antes fez um feitiço para impedir que eles usassem seu potencial letal.
‒ E como eles se tornaram assassinos?
‒ Ikeda ‒ ela disse com raiva ‒ eu nunca gostei dele... eu não gostava da forma como ele me olhava. Eu achava que ele era mau, eu sabia que ele tinha inveja de meu pai, mas meu pai confiava nele. Ikeda descobriu a coleção particular de meu pai na fábrica. E roubou o exército. Ele viu que havia algum feitiço que impedia que eles tivessem força total. Ele conseguiu tirar esse feitiço, e começou a usar os brinquedos para matar trouxas. Assassinatos sob encomenda. Pense: que policial trouxa acreditaria que um homem foi morto por um pequeno soldadinho de chumbo?
‒ E como você descobriu tudo?
‒ Meu pai me contou sobre os brinquedos assim que eu fui trabalhar com ele. Eu suspeitei de Ikeda na hora. Depois de três anos, consegui achar as provas, e te contei.
‒ Então, eu o prendi.
‒ Ele tentou acusar meu pai, lembra? Mas não havia provas que ele havia feito os bonecos. Ikeda foi para a prisão de Fuji, e eu fiquei tranqüila. Mas eu não sabia que havia uma prova de que meu pai fizera os brinquedos.
‒ Que prova?
‒ Um boneco, apenas um, chegara a ser assinado "D'Anime ‒ Japão", esse boneco fora citado por Ikeda, mas nunca foi encontrado. Eu não sabia, mas Ikeda tinha alugado esse boneco ao Camaleão. Ele quem tirou Ikeda da cadeia, achando que ele criara os brinquedos. Ikeda não hesitou um minuto em aceitar um feitiço contritus com ele, mas quando o Camaleão descobriu que não fora ele que fizera os bonecos, ficou furioso.
‒ E como você entrou nesta história?
‒ O camaleão começou a mandar corujas para meu pai. Ele ficou nervoso. Eu ainda não tinha terminado nosso noivado, pensei em te pedir ajuda, mas lembrei que você descobriria sobre os brinquedos e meu pai acabaria preso. Então eu fui atrás do Camaleão e pedi que ele parasse de mandar as cartas. Ele me impôs uma condição para esquecer meu pai e destruir o boneco.
‒ Ele fez um feitiço contritus com você também.
‒ Exatamente. E toda vez que eu estou na presença dele, faço exatamente o que ele quer. E ele me usava para fazer contatos, até que mandou que eu matasse um trouxa.
‒ Você matou?
‒ Não, você impediu, aquele seria meu primeiro assassinato. Eu achei que o Camaleão fosse me matar por isso, mas ele apenas mandou que eu fizesse outro serviço. E eu vim para Hogsmeade, matar Sirius.
‒ Bianca, você percebe que você pode ser inocentada? Você não chegou a fazer nada, feitiço contritus é uma grande atenuante em casos de magia negra... você não matou ninguém.
‒ Harry, eu vou dizer que fiz tudo de livre e espontânea vontade.
‒ Você não pode fazer isso, Bianca!
‒ Você acha que eu vou deixar meu pai ser preso?
‒ Mas ele é culpado, ele fez brinquedos assassinos!
‒ Não entende? Ele não teve a intenção! E além do mais, eu posso usar outros argumentos, não vou ser condenada a prisão perpétua.
‒ Bianca, você não pode fazer isso!
‒ Harry ‒ ela olhou nos olhos dele ‒ se meu pai for preso, eu juro que eu me mato.
Harry olhou o rosto decidido de Bianca Fall. Ele a conhecia o suficiente para saber que ela dizia a verdade, também conhecia o pai dela, ele jamais faria brinquedos com a intenção de matar pessoas. Mas não podia deixar que Bianca fosse presa, ela seria julgada pelos crimes pela comunidade internacional e fatalmente, seria mandada para Azkaban. Ele tinha que dar um jeito.
‒ Bianca, você tem o direito de dizer o que quiser, é sua vida... mas eu vou defendê-la no conselho, vou fazer de tudo para que você seja inocentada.
‒ Eu não sou inocente, Harry. Eu sou culpada de ter permitido que o Camaleão me envolvesse. Deixe-me ir para a prisão... é melhor que ver meu pai condenado por algo que não fez por mal, além do mais, eu sou culpada de uma coisa... você não se perguntou ainda como peguei a aparência de Willy? Quando vocês estavam em Las Vegas, o Camaleão pessoalmente conseguiu roubar dela uma escova de cabelo para que eu usasse sua aparência quando quisesse... ele me entregou alguns fios de cabelo dela. Quando estava vindo disfarçada para cá, no metrô mundial, eu a vi, eu sabia que cedo ou tarde, ela viria para Hogsmeade. Fiquei em Londres dois dias, sempre bem visível, então, aparatei para cá hoje pela manhã, eu queria que ela fosse acusada por matar Sirius.
‒ Bianca...
‒ Isso não foi por ordem do Camaleão... eu quis fazer isso, Harry. Eu quis.
Bianca começou a chorar e Harry engoliu em seco. Naquele momento não havia mais defesa possível para ela.


Os outros Aurores chegaram logo, ele a entregou para eles e ficou observando enquanto ela era levada para o Ministério da Magia, onde aguardaria seu julgamento, dali a uma semana no conselho internacional dos Aurores. Ele se ofereceu para fazer a defesa, o que Avatar Fernandez prontamente aceitou, mesmo achando que ela não tinha condição alguma de ser defendida. Acabou de assinar os papéis de acusação e finalmente, foi até a casa de Sirius e Sheeba. Eram já quase seis da tarde, ele não dormia há mais de vinte horas, estava exausto, deprimido... mas queria ver Willy.
Ela estava esperando-o lá, e mesmo que ele estivesse exausto ele não pode deixar de sorrir quando viu o rosto dela olhando para ele sorridente.
‒ Como você soube que não era eu, Harry?
‒ Vai parecer ridículo, mas você tem um jeito diferente de respirar, principalmente quando está nervosa, e ela não sabia imitar isso... e você nunca tentaria me impedir de seguir em frente numa missão... o fato de eu ter ajudado você a arrumar suas coisas quando saímos da casa de sua avó e ter visto que você não tinha nenhuma veste preta também ajudou um pouco, claro.
‒ Kakaka. Harry, você não muda.
‒ Acho que não. Mas se eu continuar aqui, você vai me ver desabar sem nenhuma dignidade sobre esse tapete. Deixe-me dormir, e depois nós conversamos.

Sheeba arrumou para ele uma cama enorme, no quarto mais quieto da casa, também fez com que as crianças ficassem bem longe da porta. Ele estava exausto, mas ao bater na cama e olhar pela janela o por de sol, não pôde deixar de ter pena de Bianca, que destruíra seu próprio futuro, e principalmente da família dela, que eram pessoas boas e dignas. Pensou no que diriam Beth e Nara Zeth Fall, a mãe e a avó de Willy, e pensou em Bernardo, aos quinze anos, para quem a irmã era uma espécie de exemplo a ser seguido e finalmente em Daniel D'Anime, que podia ter evitado tudo isso com um simples "não". Era melhor não pensar nisso. Ele pegou a varinha na mesa de cabeceira e com um gesto simples, fechou as cortinas, o quarto ficou na penumbra. Ele virou de lado e adormeceu quase imediatamente.
Acordou sem saber quantas horas depois, provavelmente no meio da madrugada, com uma sede abrasadora. Virou-se para levantar e viu uma garrafa de água sobre sua mesa de cabeceira. Quase imediatamente, deu-se conta da presença de Willy, adormecida ao seu lado. Ele sentou na cama e bebeu um pouco de água. Era engraçado como Willy em poucos dias descobrira coisas sobre ele, como o fato de sempre acordar com sede durante a noite. Olhou-a, o rosto tranqüilo e em paz, e sorriu. Era com ela que queria estar, era para ela que ele voltaria todas as noites. Angus Stoneheart tinha razão. Bastava deixar o mundo do lado de fora. Satisfeita sua sede, ele deitou-se aconchegando o corpo ao de Willy, que mexeu-se no sono e suspirou. Ele sorriu e imediatamente, adormeceu de novo.

‒ Será que doze horas de sono te recuperaram, Harry Potter? ‒ ele acordou com a voz dela sussurando ao seu ouvido e riu.
‒ Você sabe o que é aparatar toda a extensão do Oceando Atlântico? ‒ ele disse de olhos fechados
‒ Cinco mil, duzentos e cinqüenta quilômetros?
‒ Você sabe a distância exata? ‒ ele disse arregalando os olhos
‒ Não sei, chutei, kakaka!
‒ E eu caí nessa... a história de minha vida, cair em piadas de minha própria mulher...
‒ Repete isso.
‒ Que eu caio em piadas?
‒ Não, que eu sou sua mulher.
‒ Não vou repetir o que você já sabe... quer casar comigo de novo, Wilhemina Fischer Potter?
‒ Fischer Potter ficou horrível.
‒ Então, use só o Potter
‒ Acho que vou usar só o Fischer...
‒ Ora, cale a boca e me beije, sua implicante...

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