O CONSELHO



 No mesmo dia, Harry recebeu uma coruja de Mr Sandman.
 "Olá, Vassoura.
 Estou em Londres, que tal? Você não é o único a conseguir desaparatar de um continente para o outro, espertinho. Eu deveria realmente te suspender por isso, se você não tivesse conseguido pegar a cúmplice do Camaleão, salvar a vida de seu padrinho e ainda por cima sair desta inteiro... bem, acho que você fez bastante. Parabéns.
 Mas ele ainda está solto por aí, não é mesmo?  Esse trabalho aparentemente está longe do fim, mas vamos deixar isso para depois da sua lua-de-mel.
 Vou te pedir apenas uma coisa: antes de se casar, você vai precisar comparecer ao conselho, nesta Quarta feira, às 18:30. Eu sei que você se propôs a defender a moça, mas duvido que ela escape desta, ainda mais com o novo representante da promotoria americana, que tem fama de ser terrível. Eu imagino que você tenha um bom motivo para defender esta menina, porque se não me falha a memória, não achei nada no depoimento dela que pudesse sugerir inocência. Você está me escondendo algo, Vassoura?
 Bem, nos vemos no conselho. Não se preocupe, lá você não vai precisar cantar... você vai me reconhecer logo.
 Até lá,
           M.S."


 Harry leu e releu a carta antes de entregá-la a Willy, para que lesse também. Ela então olhou-o aterrorizada, porque viu em seus pensamentos porque Bianca Fall assumiria os crimes.
‒ Harry... ela vai ser condenada...
‒ Entende porque preciso defendê-la, Willy? Você faria a mesma coisa por seu pai... mas o problema de Bianca foi que convivendo com o Camaleão ela acabou perdendo a inocência muito depressa. Ela queria te incriminar... antes de entrar nisso, Bianca nunca faria mal a ninguém.
‒ Harry... ela vai para Azkaban?
‒ Eu espero... atualmente Azkaban é melhor que a prisão americana, para onde provavelmente vão querer mandá-la. É para isso que vou defendê-la... não quero que ela acabe em Oz.

 O conselho mundial de Aurores havia sido convocado desde antes da prisão de Ikeda e Bianca. O presidente era Avatar Fernandez, o Auror espanhol que fora radicado na Inglaterra até assumir a direção da escola Européia de Aurores, na Alemanha, que por ano formava apenas nove Aurores, oriundos das nove escolas do continente europeu. Harry fora o primeiro colocado em sua turma, e pela primeira vez, apenas um mês depois de formado, se apresentaria ao conselho. Ele soube que o representante americano também era um estreante, e que fora escolhido por unanimidade  para cuidar da acusação representando o conselho Americano.
 O conselho estava reunido no pavilhão negro, um subterrâneo localizado bem no centro da França. Harry foi um dos primeiros a chegar. Angus Stoneheart acenou para que ele sentasse ao seu lado. Era bom , naquele ambiente sentiria-se mais "pássaro novo" que nunca.
‒ Então, você conseguiu aparatar com aquela moto maluca ‒ apesar da costumeira cara séria, Stoneheart tinha um tom divertido na voz.
‒ Sim... ainda bem que cheguei a tempo.
‒ Sandman diz que você esconde algum segredo.
‒ Não. Conheço a família de Bianca Fall. Ela foi minha noiva... vou tentar conseguir a pena mínima para ela.
‒ Empreitada difícil. É uma pena... linda moça.
 Em alguns minutos o salão fervilhava de Aurores que entravam em suas vestes negras por todos os lados. Repentinamente, um homem de quase três metros de altura, extremamente branco, de cabelo preto grande e espetado e com um par de olhos negros e profundos, usando uma capa negra um bocado esquisita sentou-se bem ao lado de Harry e disse:
‒ Muito prazer... ‒ estendeu uma mão magra e branca para ele ‒ Eu sou Lorde Morpheus...
‒ Ah, olá, Mr Sandman...
‒ Então, o que você tem para me contar?
‒ Na verdade, nada.
‒ Seja lá o que for, saiba que eu vou descobrir... cedo ou tarde.
 Avatar Fernandez finalmente entrou no salão e assumiu a presidência. Ele era um bruxo de pouco mais de 1,60, mas que andava tão empertigado, com sua cabeça que lembrava a face de um leão, de cabelos grisalhos cheios como uma juba que contratavam com a pele morena herdada dos ancestrais mouros, que parecia pelo menos cinco a dez centímetros maior.
 Mr Sandman apareceu como por encanto do lado dele, enquanto que do outro lado, Olho Tonto Moody balançava a cabeça censurando o extravagante Auror. O primeiro a ser julgado foi Takeshi Ikeda. A acusação foi feita por um auror Japonês, o mesmo que cuidara do caso dos brinquedos assassinos, e ele pediu a reintegração de Ikeda à prisão de Monte Fuji, mesmo que os outros crimes tivessem sido cometidos em território americano, porque ele fora condenado à prisão perpétua lá primeiro. A defesa ainda tentou argumentar com atenuantes... mas não era muito fácil defender um bruxo já condenado à uma pena de prisão perpétua, que fugira, mesmo que todos os crimes posteriores tivessem sido cometidos sob feitiço contritus.  Em cerca de dez minutos, Ikeda foi levado pelos Aurores de segurança, que substituiam agora os dementadores.
 Então, o julgamento mais esperado do dia começou. Bianca foi trazida algemada, sustentando a bela cabeça morena com um ar digno, que foi interpretado por muitos como simples arrogância e empáfia...  usava uma veste negra rústica, que em nada diminuía sua beleza, Harry olhou-a sentindo-se ainda penalizado, tentado a expor todos os argumentos para deixá-la livre. Ela o olhou de longe, um brilho febril apareceu nos seus olhos negros.
 Avatar Fernandez proferiu brevemente as acusações: Magia Negra, agressão a uma auror, uso indevido de poção polissuco, aliança com criaturas proibidas (vampiros) e finalmente, tentativa de assassinato. Ele deu a palavra ao promotor americano e Harry pela primeira vez viu de quem se tratava, tendo um choque.
 Era Troy Adams. Ele levantou-se de forma rápida e enérgica, dando um significativo olhar de desprezo para Bianca antes de começar as acusações. Harry perguntou baixo a Stoneheart:
‒ Desde quando esse sujeito se tornou um Auror?
‒ Desde o mesmo tempo que você. O curso Americano forma em apenas três anos, ele o freqüentou enquanto jogava Quadribol, tendo aulas extras nos períodos de férias. Ele também fez o curso de luta de Alex Zandor, e se retirou do Quadribol este ano, no auge da temporada.
 Harry voltou os olhos para o americano, que começou a falar num tom frio e calculado, os olhos cor de mel cintilando de fúria contida, enquanto ia falando de Bianca.
‒ Esta moça... linda por sinal, esconde dento de si um demônio... imaginem que ela foi capaz de assinar a confissão de seus crimes friamente. Imaginem o quão traiçoeira seria se não houvesse sido pega, e aqui abro um parêntese para parabenizar meu nobre colega responsável pela captura ‒ ele deu um sorriso em direção a Harry, que o encarou sério, ele podia ver a nota da ironia na voz de Adams, não era um elogio... era uma provocação ‒ Imaginem quantos jovens este lindo rosto arrastaria para a morte se tivesse tido oportunidade... temos provas, temos a confissão... quem precisa de testemunhas? A única testemunha relevante de seus crimes é por ironia meu nobre colega que se propôs a defendê-la ‒ e ele soltou novamente o mesmo sorriso cínico de antes e Harry compreendeu porque ele e Draco Malfoy afinal haviam se dado tão bem ‒ Não preciso de mais argumentos para pedir a pena máxima, a ser cumprida na prisão Americana de Oz, sem direito à liberdade condicional. ‒ Troy sentou em seu lugar, e Harry pode observar que ele conquistara a simpatia da maior parte da audiência. Harry passou a mão pela testa involuntariamente, descobrindo a cicatriz, um segundo antes de levantar-se.
‒ Bem... eu sou obrigado a discordar de meu nobre colega... embora Bianca Fall seja realmente uma linda jovem, ela nada tem de mau ou demoníaco. Eu fui seu noivo por cinco anos, como devem saber os presentes... e conheço-a mais que qualquer outro neste ambiente ‒ Harry deu um sorriso simpático ‒ tanto, eu garanto, quanto qualquer um de vocês gostaria de conhecer ‒ um burburinho percorreu a audiência. Harry olhou para Troy Adams, que o encarava sério de seu lugar. Voltou-se novamente para a audiência e continuou:
 ‒ Embora tenha supostamente cometido um crime em território americano, ela foi presa na Europa, e como cidadã da comunidade mágica européia, tem direito a ficar numa prisão onde o acesso de seus parentes seja mais fácil. Ela confessou seus crimes... e o nobre colega da acusação não proferiu uma linha sobre a nota em sua confissão em que ela se diz totalmente arrependida. Eu não posso alegar inocência... mas sei que Bianca Fall tem direitos irrevogáveis. E eu tenho provas disto.
 Harry tirou da manga a carta que guardara. Exibiu uma fotografia que saíra no dia seguinte da tentativa de assassinato do costureiro trouxa, e chamou um grande perito em feitiços, que não era outro senão o velho professor Flitchwick, para depor. Com habilidade, Harry conseguiu fazer o professor dizer que mesmo que o costureiro não tivesse sido derrubado, pela trajetória do raio, não seria atingido pelo feitiço. Mas um murmúrio percorreu a platéia. Seguiu-se um debate entre Troy e Flitchwick sobre o feitiço avada kedavra, e sobre como ela poderia ter errado sem querer, mas Flitcwick foi categórico ao dizer que daquele ângulo, daquela distância, ela dificilmente teria errado, a não ser que tivesse a intenção de errar. Harry então, passou para seu encerramento
‒ Como podem ver, o suposto crime em território americano não aconteceu, pelo menos não da forma que foi falado. E a acusação de tentativa de assassinato da minha pessoa naquele dia também é falsa. Bianca foi minha noiva... ela sabe que tenho uma veste protetora e que depois que fizeram um vodu para mim, fato que algumas pessoas souberam e devem se recordar ‒ disse isso dando um olhar hostil e significativo para Troy ‒ eu nunca saio de casa sem vesti-la, ela também tinha conhecimento que eu caí em uma ocasião em um abismo de mais de dois mil metros vestido com a mesma roupa e que portanto, cair de trinta andares com a mesma não me faria mal algum... portanto, diante da falta de provas sobre crimes cometidos em território americano, e fazendo valer os direitos irrevogáveis desta cidadã européia, peço como acordo que ela cumpra a pena mínima, no presídio de Azkaban, com direito a visitas periódicas de seus familiares. E que possa pleitear breve a liberdade condicional.
 O juri do conselho se reuniu por uma hora antes de decidir absolver Bianca pelas tentativas de assassinato do trouxa e de Harry e condená-la por uso indevido de poção polissuco e tentativa de assassinato de Sirius Black. Avatar Fernandez então proferiu a sentença:
 ‒ Por ter sido absolvida pelos crimes cometidos em território Americano, eu determino que a acusada permaneça por quinze anos, que é a pena intermediária deste delito, reclusa na prisão de Azkaban, com direito a visitas mensais, mas sem direito à liberdade condicional ou redução da pena.
 Harry observou Bianca ser levada pelos guardas Aurores, com um certo alívio, era engraçado ter lutado para mandá-la para Azkaban, mas sabia que Luc era muito melhor para prisioneiros como ela que as terríveis criaturas aterrorizantes que guardavam a prisão de Oz. Não conseguira a pena mínima, nem o direito a condicional, mas ela pelo menos um dia teria a liberdade...talvez, quando o Camaleão fosse pego, ela fosse inocentada.
 Ele encarou Troy Adams, que devolveu o olhar com a mesma raiva contida de antes... embora Harry tivesse encarado aquilo como um empate, sabia que o americano achava-se na verdade derrotado. Não era bom ter um auror como desafeto, e ele resolveu apertar a mão dele:
‒ Bons argumentos, Adams.
‒ Boa defesa, Potter. Belos argumentos pessoais. Você deve conhecê-la bem...
‒ Menos que eu conheço minha esposa... agora, com licença, preciso voltar a Hogwarts. Vou me casar, desta vez "de verdade"... eu o convidaria, mas a lista já está completa.
 Harry afastou-se sentindo o olhar raivoso do americano cravar-se em suas costas...foi andando até Stoneheart. O conselho se dispersava, Mr Sandman já sumira num volteio de capa, como era seu estilo.
‒ Acho que você se saiu bem... já não podemos chamá-lo de pássaro novo, em breve teremos mais uma águia. Potter, essa garota também estava sob feitiço contritus, não estava?
‒ Porque você está me perguntando isso?
‒ Porque você não a defenderia se não acreditasse que pelo menos em parte ela era inocente.
‒ Não vamos mais falar sobre isso. Você vai ao meu casamento?
‒ Lógico. Não é todo dia que um parceiro se casa.
 Harry voltou-se para ver com surpresa que o carrancudo escocês estava sorrindo. Ele sorriu de volta. Realmente, agora eram parceiros.

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