CORRIDA NO ESCURO



 "Harry,
 Eu não estou te abandonando. Eu ainda te amo, mas não posso viver vendo em seu seus pensamentos que você se preocupa mais comigo que com sua missão. Eu vou me afastar de você, e não queira saber onde estarei. Eu também preciso me resolver, preciso saber o que eu quero.
 Se ainda assim você me quiser, me encontre daqui a dez dias, em Hogwarts. E prometo que nunca mais te deixarei.
 Com amor,
           Willy"

 "Porquê? Porque Willy foi embora?" Ele pensava, revoltado. Havia tentado dormir, mas não conseguia, imaginando para onde ela fora, e porque fora deixando para trás só um bilhete... que motivos ela teria para deixá-lo desta forma? Isso não era justo.  Era nestas horas que ele sentia mais falta do professor Dumbledore... ele costumava receber uma coruja por mês do professor, que nunca dizia onde estava, mas sempre parecia estar se divertindo muito... parecia que para Alvo não havia mais com o que se preocupar, ou antes, que agora não era mais problema dele... realmente ele já tinha feito muito.
 Hoje ele não sabia o que faria, era só esperar o que Sandman mandaria ele fazer... estranho, nunca desde que o conhecera, ele havia gritado com ele como na noite anterior, Mr Sandman era normalmente calmo e controlado, dificilmente ele o via perder a paciência com alguma coisa, e ele nunca o havia chamado pelo nome, como na noite anterior... e era engraçado, no momento da bronca, Harry teve a sensação que já o conhecia há muito tempo, antes mesmo da escola de Aurores.
 Fechou os olhos e tentou pensar em alguma coisa, para passar o tempo, um desânimo enorme tomava conta dele, e ele estava realmente em dúvida se ia ou não encontrar Willy dali a dez dias.  Não era momento de agir... deveria esperar, apenas esperar.
 Demorou dois longos dias até que a coruja de Mr Sandman entrasse pela janela, com novas instruções.
 "Olá, Vassoura.
 Estive reunido com Avatar, ele está na América.  Dentro de uma semana haverá uma reunião, e todos os Aurores em atividade estarão nela. Até lá, você vai mudar de parceiro. Stoneheart achou novamente a pista do camaleão, vocês dois vão atrás dele esta noite. Encontre-o no endereço abaixo, ele dará as instruções. E use algum disfarce.
 Até a reunião,
           M.S."  
Uma hora antes do combinado, Harry se olhava no espelho. Era preciso fazer sua primeira transfiguração pessoal extensa desde que se tornara um auror. Ele ficou se olhando e imaginando que aparência disfarçaria sua figura, avaliou as possibilidades... rapidamente então, decidiu, e em alguns minutos, estava perfeitamente disfarçado. Apontou para os óculos então e disse:
 ‒ Lusco fulgor ‒ embora ainda estivessem lá, os óculos haviam desaparecido. Ele se encarou no espelho, vendo as feições de um homem mais velho, com um estranho cabelo louro escorrido numa franja pela testa e olhos azuis límpidos. Dificilmente alguém o reconheceria com aquela aparência. A cicatriz, impossível de ser retirada sem dor, ficara oculta sob a franja, agora ele transfigurara suas roupas e usava uma jaqueta de couro e camisa verde escura, com calças jeans. Nenhum vestígio de aparência bruxa. Saiu do quarto do hotel e rumou para o lugar combinado, usando a motocachorro. Saltou e deixou-a na rua... não era preciso se preocupar afinal com ladrões... quem tentasse roubar a moto, que agüentasse as conseqüências.
 Ele havia combinado com Stoneheart a roupa que usariam, para que não se perdessem. Stoneheart estava do mesmíssimo tamanho, mas ruivo e com o cabelo longo preso num rabo de cavalo, usando um casaco camuflado cinza e calças negras. Não foi tão difícil localizá-lo, mesmo ele estando completamente diferente. O lugar onde estavam, perto do porto de Nova Iorque, era realmente barra pesada.
‒ Oi Joe ‒ disse Harry para Stoneheart
‒ Oi Jack. ‒ Era ele mesmo... usava o nome falso combinado.
‒ Porque aqui? ‒ Harry perguntou em Alemão, era o combinado. Ambos falavam Alemão muito bem, depois da temporada na escola de Aurores
‒ Porque eu o achei... ele está aqui muito perto.
‒ Aqui?
‒ Sim. Descobri porque afinal ele mata trouxas. Ele está fazendo dinheiro.
‒ Como assim?
‒ Seja lá quem ele é, ele quer fazer algo grande... ele ou eles, cada vez tenho mais dúvidas. Ele tem uma conta, há um cofre anônimo num Gringotes do Canadá que é supostamente movimentado à distância. Por isso odeio duendes, eles fazem negócios com qualquer um.
‒ E como ele movimenta a conta?
‒ Ele usa cada vez um portador diferente... não dá para desconfiar?
‒ Ele vai sempre com uma aparência diferente, então. E como você arrancou essa informação dos duendes?
‒ Não foi fácil... eu tive que usar meu conhecimento, todos os argumentos disponíveis e meu tamanho. ‒ Stoneheart quase riu.‒ e descobri que cada vez que ele matava um trouxa, o usuário secreto trocava grande quantidade de dólares por galeões... ele já tem uma fortuna de quase 200 mil, em apenas cinco anos. Também, já matou gente no mundo todo. E cobra caro... a morte sempre parece acidental, os trouxas sequer desconfiam de assassinato.
‒ E o que o porto tem a ver com isso?
‒ Lucino Consenza, um mafioso. Ele encomendou um crime ao camaleão, e vai pagar um adiantamento no cais 4, esta noite.
‒ Como você descobriu?
‒ Amigos na polícia trouxa, eles estão atrás do Consenza, e eu do Camaleão. Une-se o útil ao agradável... vamos.

 O cais quatro tinha um grande armazém, que pertencia a Lucino Consenza. Ele chegou num grande carro preto. Harry e Stoneheart puderam ver tudo de onde estavam, ocultos por capas de invisibilidade. Stoneheart abriu um grande portão com um feitiço, para que os policiais trouxas pudessem entrar por ali, mas ele não dera o horário certo a eles, queria pegar o camaleão sem interferência da polícia dos trouxas.
 Consenza olhava o relógio impaciente, praguejando com os seus capangas. Subitamente, no silêncio do cais começou a ecoar o som de passos. Uma pessoa vinha andando na direção do mafioso, vinha sozinha e sua figura estava oculta por um sobretudo preto e um chapéu. Stoneheart disse:
‒ Quando ele chegar próximo ao mafioso...
‒ Ok ‒ sussurou Harry.
 O vulto parou em frente a Consenza. Stoneheart disse:
‒ Agora!
 Os mafiosos não entenderam nada. O vulto começou a correr  e Harry gritou palavras mágicas desacordando todos os mafiosos antes que estes pudessem atirar, Stoneheart havia saído correndo atrás do camaleão, que por algum motivo, não desaparatara. Harry acabou de conjurar cordas nos homens e saiu atrás deles. Teve uma idéia, e correu para a moto, que ficara do lado de fora do portão que Stoneheart deixara aberto, apenas  alguns  metros atrás dele. Em segundos estava atrás dos dois, ainda sem entender porque o camaleão não conseguia desaparatar. Numa manobra no mínimo arriscada, ele saltou da moto sobre o corpo do homem . Os dois rolaram e Stoneheart agarrou a figura no chão, erguendo-a . Era um homem baixo e magro. Stoneheart olhou para ele e disse:
‒ Esse sujeito é trouxa!
‒ Eu não fiz nada... um homem... ele me disse uma coisa e eu não lembro de mais nada... ele disse que ia me dar mil dólares para eu apanhar uma coisa... não lembro o que.
‒ Ele deve ter feito algum feitiço neste sujeito, para ele não ter idéia do dinheiro que havia na maleta. Ele deve ter desconfiado de alguma coisa
‒ Então... ‒ disse Stoneheart ‒ não podemos deixá-lo esperando, não é mesmo Joe?
‒ Claro, Jack ‒ disse Harry. Sabia o que eles iriam fazer.
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 Todo Auror tem um pequeno kit de sobrevivência, que inclui o manual de perguntas e respostas, algumas poções, contra venenos, frasco de veritasserum e ... um pequeno frasco de poção polissuco. Harry insistiu com Stoneheart para ir atrás do Camaleão pessoalmente, embora ele tivesse dito que isso era uma temeridade, mas não havia tempo e Stoneheart acabou cedendo. Harry trocou de lugar com o trouxa e foi encontrar com o bruxo, num café à beira do cais. Stoneheart iria sob uma capa de invisibilidade, dando-lhe cobertura. Deixaram o homem desacordado e inconsciente sob a capa de Harry, mas antes, através de um feitiço um pouco complexo, haviam feito ele projetar numa parede a imagem de seu contato, era um homem gordo e baixo, que já estava no café quando eles entraram.
‒ Então? Trouxe a maleta? ‒ O homem perguntou a Harry um segundo antes de ser posto inconsciente por Stoneheart.

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 ‒ Enervate! ‒ Stoneheart trouxe o bruxo de volta à consciência quando ele já estava amarrado com fortes cordas conjuradas. ‒ Beba isso ‒ ele empurrou um gole de veritasserum goela abaixo do bruxo ‒ nem pense em cuspir... eu não costumo ser tão ético quanto meus superiores, e estamos bem longe deles.
 Estavam num pequeno apartamento, os outros Aurores chegariam a qualquer minuto. Era onde Stoneheart ficava quando estava em Nova Iorque, um apartamento minúsculo perto do metrô em Manhattan.
‒ Você é o camaleão?
‒ Não.
‒ Você trabalha para o Camaleão?
‒ Trabalho.
‒ Há quanto tempo?
‒ Desde que fugi da prisão, há um ano.
‒ Diga seu nome.
‒ Nagashi Ikeda ‒ Harry então deu um salto. Era o bruxo dos brinquedos assassinos!
‒ Porque você trabalha para o Camaleão?
‒ Tenho uma dívida .
‒ Que tipo de dívida?
‒ Feitiço contritus...
Stoneheart e Harry se olharam. O feitiço contritus era uma maldição antiquíssima em que o endividado se tornava quase um escravo do feiticeiro que o proferia, estava banido há mais de cem anos. Harry perguntou:
‒ Para fazer esse feitiço, ele precisava ter feito algo por você... qual o favor que ele fez para conjurar a maldição?
‒ Ele me ajudou a sair da cadeia.
‒ Quem é o Camaleão?
‒ Não sei. Ele aparece para nós cada vez com uma aparência diferente...
‒ Nós?
‒ Eu e a garota.
‒ Que garota?
‒ Não sei.  Eu sei que há uma garota, mas ela e eu sempre nos encontramos com a aparência de outra pessoa. Nós dois usamos poção polissuco. Ele sabe como nós somos, mas nós não sabemos como ele é.
‒ E onde ele está? E a garota?
‒ Não sei onde ele está... a garota foi fazer um serviço para ele.
‒ Que tipo de serviço?
‒ Uma morte.
‒ Quem ela vai matar?
‒ Alguém em Hogsmeade.
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‒ POTTER, NÃO SEJA LOUCO!
‒ Eu não estou sendo louco... pense. Ele mandou a garota para Hogsmeade, fazer um "serviço". Ele tem mandado os signos sinistros. Sirius recebeu um. Ele quer matar meu padrinho. A garota foi para lá...  
‒ Você não tem autorização. E pode não chegar a tempo.
‒ Eu vou desaparatar.
‒ O QUÊ? Você é louco? Como pretende desaparatar da América para Inglaterra? Não é tão simples assim.
‒ Eu vou de moto. Eu já desaparatei com ela outras vezes. Parece que ela ajuda.
‒ Não posso permitir isso.
‒ Impeça-me
‒ Você vai morrer. Ninguém desaparata para outro continente sem anos de treinamento. Você sabe a extensão do Atlântico?
‒ É maior que a distância daqui a Nevada?
‒ E eu que sei?
‒ Então, não me impeça, adeus, Stoneheart...
Harry subiu na moto e pôs o capacete. Antes de dar a partida, ainda disse:
‒ Lembranças a Mr Sandman.
Correu velozmente em direção do cais de Nova Iorque. O vento batia em seu corpo, ele apertava os dedos em volta dos pegadores do guidon da moto, o cais foi se aproximando e adiante, imenso, negro e ameaçador, o Atlântico em toda sua extensão. Deu uma última olhada na estátua da liberdade, e acelerou, pensando firmemente em seu objetivo: Hogsmeade, Inglaterra.
Quando atingiu o fim do cais, sentiu uma luz envolvê-lo.

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