A Loba e o Caçador



O jantar decorrera naquele irritante ar de polidez e silêncio.
Anna estava sentada bem no meio, em frente a Draco, na imensa (e desnecessária) mesa de madeira de lei talhada.
Lucius aproximara-se com Narcisa, ela acomodara-se numa ponta, e ele na outra.
_Podem servir-nos. - ordenara o louro, e os empregados apressaram-se em trazer os pratos de porcelana chinesa e os alimentos de finesse.
Anna segurara os talheres de prata, os lábios semi-crispados, cortando a lagosta devagar.
Aqueles olhos cinzentos a estavam deixando desconfortável.
Abandonou o prato com o suficiente para que não passasse por deseducada, bebericara o suco de limão de sua taça com cuidado.
_És muda prima? -perguntara um jovem Dracus de dezessete anos, olhando-a com um meio sorriso. Parecia, ainda que contrariando a mãe, satisfeito com sua companhia.
Ela corou.
_Não...só não via ainda momento oportuno para falar... - respondera, polida, em tom doce.
Intimamente a frágil, e aparentemente indefesa jovem só esperava que o tempo corresse o quanto pudesse, e que lhe fosse educado deixar a mesa.
Uma taça erguera-se, e ele não desviava o olhar.
Nem por um segundo.
Sua esposa começara a notar.
Lançava maldições de morte com os olhos á jovem, como se fosse sua, e apenas sua inegável culpa, o comportamente cínico do esposo.
_Pai, posso levar lady Anna para conhecer Hogwarts esse fim de semana? - perguntara o louro mais jovem, com aquele sorriso tipico Malfoy.
_Não vejo mal algum meu filho. Será de bom grado que a lady já comece a se integrar a nova escola, para o fim do ano letivo. -respondera o patriarca, em seu tom firme e macio.
Não houve objeção de Narcissa, que apenas sorriu forçadamente e deixou a mesa, indo á cozinha com o pretexto de consultar a cozinheira sobre o almoço do dia seguinte.
Draco erguera-se e oferecera o braço a prima, pondo-se a caminhar ao lado dela, enquanto tagarelava sobre ser o apanhador da Sonserina, ser um monitor da casa e ser o mais popular entre os jovens de Hogwarts.
Tudo que ela ja sabia de cor desde que seu pai falecera.
Anna atinha-se a acenar positivamente com a cabeça e sorrir de vez em quando, como que incentivando-o a falar.
Começava a ter sono, o dia havia sido longo e sinceramente, tedioso.
_Então, srta Anna, pelo que parece serás nossa hóspede. Isso soa como uma boa coisa, afinal, sempre nos demos bem quando em Hogwarts.... - ele sorrira de forma esnobe, a tipica forma dos Malfoy sorrirem.
_Oh, creio que sim, sr Draco. Agradeço sua boa vontade em adaptar-me a nova morada. - ela conteve um bocejo que viera com toda a pompa e cortesia.
_Draco... já é tarde... deixe a srta Anna descansar um pouco...amanhã, domingo, terão de regressar á Hogwarts. - era o patriarca Malfoy. Lucius estava nos jardins. Draco não hesitara antes de obedecer as ordens e retornar a sala de estar, decerto para ter com a mãe antes de adormecer. - Sua estadia aqui está sendo agradavel.
Aquela frase a deixou um pouco aflita, depois do que ouvira.
Estaria ele sendo sarcástico? Provavelmente. Entretanto, era necessário ser educada e polidamente sorrira, em agradecimento.
_Obrigada sir Malfoy, eu tenho me sentido bem esse fim de tarde e começo de noite. Foi um magnifico jantar. - Anna tinha a voz mais baixa, por cansaço e por um fio de medo que percorria sua coluna toda vez que mirava o dono daqueles penetrantes olhos azuis.
Lucius sorrira de esguelha, apoiando-se na bengala sonserina e encarara-a por breves instantes.
_Diga-me, o que fazia na Russia nos últimos dois anos?
_Eu estudava na Haus Luft em Durmstrang, e depois do falecimento da minha avó materna, fui trazida á Inglaterra. - ela respondera, desviando o olhar.
_ E o que acha daqui? Prefere a Inglaterra, ou a Rússia?
_ A Inglaterra é mais agradavel, mas na Russia estava mais adaptada, sir.
_Bem... imagino que esteja cansada da viagem... porém...- um sorriso faceiro bailara em seus labios finos - Seria possivel acompanhar-me num curto passeio pela propriedade? Não teremos tempo para isso depois que voltar á escola.
_Não vejo mal algum, monsenhor. - e aceitara o braço do lord. Caminhavam lentamente por entre o gramado bem aparado e as flores da extensa propriedade.
Chegaram a uma espécie de clareira com piso de pedra, cujo centro resplandecia numa rosa de pedrinhas coloridas, como um vitral.
Ela sorrira espontâneamente.
_Flores de alecrim!!! - exclamara, correndo até elas, tocando-as com leveza quase infantil. Sua delicada face pálida estava iluminada. O brilho da lua caia-lhe muito bem.
_Gostas dessas flores? - lord Malfoy aproximara-se, apanhando uma espiga do alto e entregara-a na mão perolada da jovem. - Um presente á encantadora Lady.
_Obrigada. - ela respondera, corando violentamente, e fizera uma breve vênia, como mandava a etiqueta.
Lucius tocara seu rosto, seus olhos encontraram-se de imediato, atraídos uns pelos outros, no choque entre os azuis cinza e os castanhos vívidos.
Sentira a pele macia e fina sob seus dedos.
Nenhum dos dois era capaz de hesitar. Havia uma certeza implícita e secreta, um desejo proibido.
Os lábios carnudos dela eram corados, chamativos, desejaveis.
Os dele entreabriram-se quase num apelo silêncioso por ceder.
Aproximara-se um pouco mais, ainda segurando-lhe a face acetinada.
Ela ofegou quase imperceptivelmente, as pernas estavam bambas.
Mais próximo, mais próximos!
Seus olhos não ousavam deixar os dela, assim como os rostos quase se tocavam, numa proximidade lenta quase que proposital, uma tentativa tola de alcançar a lucidez.
Anna semicerrou as pestanhas densas e curvadas, cortinas negras de boneca.
Podia sentir o hálito morno dele aquecendo sua boca.
Poucos milimetros os separavam do toque definitivo.
Lucius descera uma mão pelo braço semidesnudo dela, e avançara, puxando-a para mais junto de si.
Já respiravam o mesmo ar.
A eletricidade de suas peles travava uma prazerosa batalha, enquanto cada poro era eriçado.
As pequenas mãos pousaram-se no peito dele, enquanto a respiração tornava-se oscilante, mesmo que suavemente.
O coraçãozinho da jovem loba tiquetaqueava, mais rápido,mais aflito, mais impaciente a cada segundo.
Ele recostara os lábios finos e rosados sobre os dela, sorvendo do sabor encantado da senhorita tão esplêndida a sua frente.
Anna Sophie começava a perder a consciência de onde estava, fechara os olhos, retribuindo o ósculo com doçura e suavidade.
Então empurrara-o, desviando o olhar.
_ O que houve, milady? Não vos agradou o beijo? - perguntara Lucius com seu sarcasmo habitual.
_ Sois esposo de minha prima sir. Não serei sua fonte de divertimento. - ela respondera segura, firmemente, embora por dentro sentisse-se como uma frágil pétala.
Ele a rodeara como um lobo faminto.
_Veremos...- sussurrara em seu ouvido, antes de se afastar. - Voltemos á Mansão. Já é hora de repousar.
A jovem Black sentira o sangue ferver.
Como ele podia ser tão cínico, desprezível e egocentrico???
Saiu a passos rápidos, ignorando a etiqueta e deixando-o para trás, refugiaria-se enfim em seu quarto, que ficava logo após a escadaria.
_Shhh... mais cuidado...podes quebrar os saltos dessa forma...- Malfoy segurara seu braço, logo no primeiro degrau da escada.
_ Estou adaptada aos meus saltos, senhor. Boa noite. - respondera, soltando-se do lord, fitando-o com os olhos de Sirius.
Lucius deixara a mão cair no mesmo instante, deixando-a ir para seu recinto particular.
Anna apressara-se mais assim que atingira o corredor, e trancara-se.
O que havia significado aquilo?
O que seu pai diria??? E como ela, Anna Sophia Black, com toda a decência e boa educação que recebera de seus pais, havia se permitido gostar do toque daquele senhor?
Atirara-se na cama, tentando afastar as sensações que ainda percorriam sua coluna e o formigamento nos lábios.
Ele era tão egocentrico, maldoso, terrível..... e lindo, polido, com lábios...
Anna Sophie, pare já com isso!!! - repreendera-se no segundo seguinte. - Faça jus ao seu nome, honre a memória de seu pai!!! Não pode se permitir envolvimento com um comensal!!! E além disso, ele é marido de sua prima, e inimigo de seus pais.
Cobrira o rosto com uma almofada de cetim verde, tentando afastar todo e qualquer pensamento referente a ele.
Ohh.. o que não daria para ter sido mandada a casa de Remus!!!
Ele era como um pai, a havia ajudado a vida toda.... era tão injusto ter de ficar naquela residência desconhecida, e ainda mais agora, com os avanços do mr Malfoy.
Batidas no vidro despertaram-lhe atenção.
Era Coco, sua corujinha da neve, com algo preso ao pézinho.
Abrira de leve a janela, deixando-a empoleirar-se ao canto e dera-lhe o que comer e beber, enquanto lia o pergaminho pardo.
" Querida Anna


Escrevo para saber como está sendo sua adaptação a família Malfoy e para deixar claro que cuidarei de vós, seja qual situação for. Afinal, amigos são para isso, e seus pais eram muito queridos para mim.
Como amanhã regressas á Hogwarts, mais a noitinha, serei breve, uma vez que estou sem tempo, devido aos afazeres cotidianos.
Já providenciei seus livros e o uniforme da sua casa, a Grifinória, como já fostes selecionada no quinto ano.
Fique tranquila, assim que chegar estará bem acomodada.
PS: Harry e a sra Weasley estão ansiosos por vê-la, assim como todos os outros.
Desejo-lhe uma boa noite, e espero que Malfoy esteja agindo decentemente com você ( para o próprio bem dele ).
Um abraço carinhoso, Remus Lupin."


Ela começara o rascunho de uma, e rira-se sozinha ao ver sua pequena Coco sonolenta, ajeitando-se no poleiro.
_Tudo bem meu amorzinho... amanhã respondo pessoalmente ao Remus... durma direitinho...-sussurrara, afagando a cabecinha da correspondente, deixando-a descansar.
Despira em seguida seu vestido bordeaux e descalçara os sapatos.
Os cabelos, deixara-os soltos, caindo em cachos desfeitos e largos de tom escuro, contrastando com sua pele ainda mais leite á luz da lamparina, e com a camisola de seda vermelha e rendas negras.
Deitara-se na cama, ficando mais relaxada, e cobrira-se bem, estava uma noite razoavelmente fria.
Adormecera quase de imediato, anuviada em seus pensamentos sobre Hogwarts e o novo dia de aulas.

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