Além da realidade



Capítulo dez
- Além da realidade -

Harry bateu à porta do escritório. A porta se abriu magicamente. Alvo Dumbledore parecia estar exatamente à sua espera. Estava de pé, encostado à escrivaninha, examinando um curioso objeto de prata em suas mãos.
- Boa noite, Harry - disse o diretor sem erguer a cabeça. - Sente-se, por favor.
Harry obedeceu. Olhou à volta do escritório. Fawkes, a fênix, se encontrava em seu poleiro, adormecida. O Chapéu Seletor em cima de uma prateleira ao lado da magnífica espada inrustada em rubis de Godric Gryffindor.
- Harry, primeiro quero deixar bem claro que o que tenho a lhe dizer é muito importante. E espero que você seja paciente e compreensivo.
O garoto balançou a cabeça afirmativamente.
Dumbledore pôs o objeto de prata na mesinha e sentou-se frente ao garoto, em sua confortável cadeira.
- Quero conversar com você sobre os acontecimentos do ano letivo anterior - explicou Dumbledore. - Pouco antes de Sirius atravessar o Véu da Morte.
Harry olhou para o diretor com um palpite: será que Dumbledore estava prestes a dizer que tudo não passava de uma brincadeira? Que Sirius voltaria em breve daquele arco?
- Um dia antes do trágico acidente, eu, cansado das reclamações de Sirius de que não estava sendo útil à Ordem da Fênix, dei um trabalho a ele muito importante - disse Dumbledore, juntando as pontas dos dedos. - Pedi a ele que saísse da Ordem. Pedi a ele que concluísse uma missão...
- Que tipo de missão, senhor? - quis saber Harry. - Algo que envolva Voldemort?
- Algo que envolva a destruição de Voldemort, para ser correto - disse Dumbledore.
- Quê? - exclamou Harry. - O senhor sabe como destuí-lo?
- Eu não... mas receio dizer que talvez uma pessoa soubesse...
Harry arregalou os olhos para o diretor.
- Sirius?
- Exato.
- Mas como...?
- Como eu disse, dei a missão a Sirius para que descobrisse, questionando um certo alguém, como uma pessoa imortal igual a Lord Voldemort poderia ser destruída. No entanto, quando Sirius voltou da missão, não conseguimos conversar; assim que soube que você corria grave perigo, ele se dirigiu imediatamente ao Ministério da Magia, para salvá-lo.
"Infelizmente, ele perdeu a batalha e atravessou o Véu da Morte. E assim foi-se uma grande chance que tínhamos em mãos para acabar com o reinado de Voldemort".
- Mas senhor... do jeito que o senhor disse, dá a entender que Sirius foi pedir ajuda a alguém que soubesse de algo, algo que pudesse acabar com Voldemort, certo?
- Certo - afirmou Dumbledore.
- Mas Sirius morreu e levou a informação com ele, certo?
- Suponho que sim...
- Então, se o senhor fosse até essa pessoa e pedisse para que ela... - começou Harry, mas Dumbledore o interrompeu.
- É claro que eu pensei isso na hora, Harry - disse o diretor. - Mas alguém do lado de Voldemort descobriu que ele sabia como derrotar o lorde. Então, é claro, mandaram matar o homem. No dia seguinte, quando fui à sua casa, ele estava morto...
- Mas então... - falou Harry desesperado por ter colocado tudo a perder acreditando naquela visão. - Então isso quer dizer que não podemos vencer Voldemort...?
Dumbledore estudou Harry muito atentamente por debaixo dos oclinhos de meia-lua, antes de dizer:
- É de seu conhecimento, Harry, que os mortos jamais voltam à vida por magia...
Harry assentiu.
- Contudo (e o estômago de Harry deu um solavanco), há certas maneiras de entrar em contato com estes espíritos que já não habitam o nosso mundo.
- Quer dizer que podemos... - o coração de Harry batia acelerado agora, parecia querer pular para fora da boca. - Que podemos falar com o Sirius? Perguntar a ele se sabe algo sobre Voldemort?
Dumbledore fitou Harry muito sério.
- Eu quero que fique claro, Harry, de que manter contato com os mortos é algo muito complexo e extremamente perigoso - explicou Dumbledore. - E que, se o conseguirmos, terá que ser uma conversa objetiva, afinal, precisamos saber como combater Voldemort, e as ligações entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos vivem em contínuas interrupções e desalinhamentos, e pode haver um desequilíbrio vital. Lembre-se disso. Precisamos perguntar a ele assim que conseguirmos localizá-lo, porque há muitas probabilidades de perdermos o contato.
Harry levantou-se de um salto. Tornaria a falar com Sirius Black, seu padrinho...
- Mas como faremos isso, senhor? - perguntou Harry, tentando se acalmar, lembrando que o diretor mal explicara a ele como o fariam.
- É o seguinte: pegue sua capa de viagem, Harry, porque vamos viajar, e para bem longe...

Harry mal conseguia se aguentar de tanta excitação. Correu ao dormitório e apanhou a capa. Surgiu um enorme desejo de ir acordar Hermione, mas não queria preocupá-la. Achava que a idéia de tentar conversar com um morto não agradaria muito a namorada. E, além disso, já passava da meia-noite.
Harry saiu do dormitório, correndo, refazendo o caminho de volta ao escritório, mas...
- Potter!
Era Severo Snape. Ele surgiu das sombras pelo corredor.
Harry parou, ofeante.
- O que é que faz correndo pelos corredores a essa hora? - o professor se aproximou do garoto, seus cabelos oleosos sacudindo para os lados.
- Estou indo ver o professor Dumbledore - respondeu.
- Creio que o diretor não tenha o mínimo desejo de ser incomodado a esta hora, Potter - disse Snape, malicioso. - Acho que terei de tirar cinquenta pontos da Grifinória por ter resolvido mudar o padrão de seu horário de sono...
Harry abriu a boca para protestar, mas as estátuas que guardavam o escritório de Dumbledore saltaram para os lados neste mesmo momento, revelando o próprio, que veio a passos largos até os dois.
- Tudo bem, Severo, ele vai conosco - avisou Dumbledore.
- Ele vai? - perguntaram Harry e Snape simultâneamente, ambos apontando um para o outro.
Dumbledore apenas ergueu as mãos, oferecendo-as uma para cada um. Snape segurou a direita. Harry, embora não sabendo porque o fazia, segurou a esquerda. Snape, sem olhar para o garoto, estendeu sua outra mão a ele. Dumbledore acenou para que ele a segurasse. Harry segurou com profundo nojo a mão desocupada de Snape.
Qualquer um que aparecesse no corredor, agora, e visse os três de mãos dadas fechando um círculo, provavelemnte pensaria que eles iriam dançar ciranda. Dumbledore segurava a de Harry, Harry a de Snape, Snape a de Dumbledore.
- Ok, prontos? - murmurou Dumbledore. - Fewkis-Fânix-Levis-Jaipo.
- Que foi que... - foi o que o garoto conseguiu dizer, antes de dar um salto e tentar soltar as mãos de Dumbledore e Snape, pois acabara de surgir, no meio dos três, um círculo de fogo, que girava como um anel flamejante. Harry percebeu que suas mãos se recusavam a soltar a mão enrugada de Dumbledore e a mão gélida de Snape; pareciam estar coladas...
Mas Harry já não tinha mais a atenção voltada às mãos, porque, dentro do círculo de fogo, um buraco negro se formou, e parecia estar sugando cada partícula de Harry para dentro. Suas mãos formigavam por segurarem-na por tanto tempo. Tudo ia ficando escuro...
Mergulhando num mar de escuridão, o garoto sentiu um frio de lascar varrer seus ossos, sua alma... mas, repentinamente o frio foi substituido por um calor indescritível, que o aqueceu magnificamente, enquanto o mar de escuridão ia se dispersando para dar lugar a um mar de chamas quentes que faziam seus olhos arder... Parou...
Harry caiu de joelhos no chão duro de pedra, finalmente sentindo a liberdade de suas mãos.
O garoto sentiu que precisava encher seus pulmões de algo que não o queimasse ou o congelasse por dentro. Deixou o ar fresco adentrar suas narinas. Era tão bom respirar o ar da manhã... Peraí... manhã?
Harry ergueu a cabeça e soltou uma exclamação. O sol banhava em sua cabeça. Ele piscou quando contemplou a claridade. Mas que é que estava acontecendo? Não era para ser de noite? Será que viajara por tanto tempo com Dumbledore e Snape? Ou será que simplesmente o sol resolveu nascer mais cedo? Harry olhou à volta. Estava em uma cidadezinha muito calma, em que os transeuntes (que a Harry lembravam bastante Cho Chang, pelo seus rostos redondos, pálidos, e seus olhos ligeiramente puxados) seguiam sua rotina matinal. Olhou para as lojas e, em todas que haviam aqui e ali, continham símbolos estranhos nas placas comerciais; rabiscos que, para ele, eram indecifráveis.
Não estou no Japão - disse Harry a si mesmo, tentando se convencer de que tudo aquilo não passava de um sonho esquisito - É melhor eu me beliscar antes que possa achar que fiquei maluco...
- Harry - falou Dumbledore, enérgico -, seja muito bem-vindo ao antigo Japão.
Tarde demais, pensou Harry, fiquei maluco de vez...
- Senhoroquefazemosnojapão? - atropelou Harry. - Quero dizer... o que fazemos no Japão... senhor? É aqui que entraremos em contato com Sirius?
- Fale baixo, Potter - murmurou Snape sirritado.
Harry não sabia o porquê da irritação de Snape. Os transeuntes falavam uma língua totalmente diferente a deles, e não iriam sacar uma palavra do que dizia. Dumbledore apenas fez sinal para o seguirem.
Havia um templo feito totalmente de pedra e que, pensou Harry, daria um belo de um cartão-postal.
- Harry, o motivo de fazermos esta breve, porém longa viagem ao Japão - disse Dumbledore - , é que aqui, exatamente neste templo que estamos prestes a entrar, vive um xangô muito respeitado, que por acaso o conheci quando jovem (e pode ter certeza de que foi há muito tempo), e creio que ele poderá nos ajudar em nosso problema com relação a Sirius.
- O que é um "xangô"? - perguntou Harry, confuso.
Desta vez Snape foi quem respondeu sua pergunta, de mau gosto.
- Xangô é o bruxo de origem japonesa que lida com a bruxaria espiritualista, Potter - disse o bruxo. - Os xangôs são capazes de estabelecer conexões entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos.
Dumbledore se dirigiu a um bruxo careca que guardava a entrada para o templo. Harry observou como os dois interagiam amigávelmente. O bruxo careca abriu o portão e Harry, Snape e Dumbledore entraram.
- O senhor também fala japonês? - perguntou Harry impressionado com o cultismo de Dumbledore.
- Somente o básico - desconsiderou-o o diretor. - Não tudo... não sei, por exemplo, perguntar: "aonde fica o banheiro?". A primeira vez que tentei fazer essa pergunta, fui banido do Japão...
- Porque? O que eles entenderam o senhor dizer?
- Pensaram que eu havia dito a eles para enfiarem a lança de Shan-Gay, Deus sabe-se lá onde... - respondeu Dumbledore, parecendo recordar uma situação muito desagradável. - Por sorte depois perceberam que tudo não passou de um mal-entendido.
Harry riu, imaginando a situação.
Passaram pelo portão e deram de cara com um aposento muito amplo e ligeiramente escuro, iluminado somente por tochas gigantescas nos quatro cantos. No centro havia uma pequena mesa quadrada em que havia um homem sentado, refletindo.
Quando o homem avistou os três visitantes, levantou-se da cadeira. Parecia ser muito velho, mas suas barbas e cabelos, quase tão longos quanto os de Dumbledore, não transpareciam isso, pois não eram brancos.
Dumbledore começou a falar japonês com o homem, antes de apertarem-se as mãos. Para o alívio de Harry, eles começaram a falar inglês.
- Oh, de boa saúde, meu bom e velho amigo Alvo-Sam.
- Sim, e você também, espero - desejou-o Dumbledore. - Quero que conheça o garoto da qual lhe falei, Harry Potter. E meu grande amigo, Severo Snape. Harry, este é Oliver Anderson, o grande mestre xangô da qual lhe falei.
Pela primeira vez, e o garoto agradeceu muito por isso, ele não apertou a mão de alguém que logo de cara apontaria excitado para sua cicatriz. O homem registrou Harry muito rapidamente, de cima a baixo.
- Então, Alvo-Sam? este é o garoto?
- Sim, é ele - respondeu Dumbledore.
Dumbledore, Snape e Harry acompanharam Anderson até a mesinha do centro. Haviam alguns objetos sobre ela: um copo com água e outro vazio de ponta cabeça, um livro, uma varinha enorme (a maior que Harry já vira até então), alguns manuscritos imperiais, uma cruz de ouro vergada com um círculo no topo e três velas roxas, curiosamente grudadas umas nas outras.
O mestre convidou os três a se sentarem. O próprio sentou na quarta e última cadeira.
- Então, o nome do homem é Sirius Black? - perguntou Anderson.
- É.
- Atravessou um Véu da Morte em Londres, no Ministério da Magia?
- Exato - afirmou Dumbledore mais uma vez.
- Vamos começar, então - disse o senhor Anderson. - Quem vai tentar fazer o contato?
Dumbledore acenou para Harry. O garoto confirmou, suando frio. Na verdade estava meio nervoso. Sim, era excitante saber que poderia falar com Sirius outra vez, mas como seria falar com um morto?

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Por favor, comentem, se não não faz sentido continuar... parece que ninguém gosta da minha fic... buaaaaa.

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