A Torre do Suicídio



- Capítulo onze -
A torre do suicídio


O senhor Anderson acendeu as velas trigêmeas, que começaram a espiralar fumaças perfumadas de diversas diversas formas. Murmurou algo em japonês, dando uma batida com a varinha no copo virado para baixo. Fechou os olhos e começou a recitar mantras de sua língua oriental.
O bruxo parou de falar, mas não abriu os olhos. Deu mais duas batidas no copo virado e voltou a recitar mais uma vez. O copo tremeu levemente...
- Segure o copo, Potter - alertou Snpe, parecendo, pela primeira vez sério e desentediado.
Harry, tremendo de cima a baixo, pôs a mão no copo rapidamente. Chiados surgiram em sua cabeça quando o tocou, como se viessem de um auto-falante. O garoto deu um salto na cadeira e bateu com força no copo, fazendo este rolar pela mesa.
- Cuidado, Harry - Dumbledore aparou o copo com a varinha quando este estava a meio caminho de se espatifar no chão.
- Que aconteceu? - perguntou Anderson, abrindo os olhos. - Perdi a transmissão...
- Me desculpe, sr. Anderson, Potter tem um sério problema de concentração - falou Snape, friamente, lançando um olhar a Harry próximo ao que se sugeria um envenenamento. - Acho que os anos de escola não adiantaram nada. Continua um parasita...
- Ok, desculpe, eu... me assustei - disse Harry, nervoso, odiando Snape. - O que você esperava? Nunca tentei falar com ninguém do além antes...
- Acontece, Potter, que se você deixasse de ser tão obtuso perceberia que o que temos a tratar aqui é algo muito importante e exige a máxima concentração - ralhou Snape.
- Mas-eu-estou-me-concentrando - disse Harry entre dentes.
- Ok, Harry, Severo, já chega - disse Dumbledore, agora irritado. - Estão atrapalhando o senhor Anderson; deixem os desentendimentos para uma outra hora.
- Ok, desculpe - pediu Harry.
- Ora, é natural sentir medo - desconsiderou-o modestamente o senhor Anderson. - Você precisa centrar sua mente no objetivo principal desta conversa, afinal, deve ser importante, não?
Harry refletiu. Importante? Descobrir como mandar Lord Voldemort de volta às chamas do inferno? Se isso não fosse importante, nada mais seria...
- Ok - disse decidido e um pouco mais confiante. - Vamos lá.
Mais uma vez o senhor Anderson centralizou o copo na mesa, bateu com a varinha murmurando, fechou os olhos e recitou o mantra.
O copo tremeu e, dessa vez, Harry não precisou do comando de Snape para segurá-lo. Uma explosão de chiados mais uma vez penetrou sua mente. Sussurros. Vozes estranhas. Sua mão agora tremia, mas não de medo e sim porquê o copo tremia, e tão violentamente que tinha certeza de que se o soltasse ele voaria para longe. Só o que ouvia eram vozes esquisitas e sem sentido em seu ouvido...
- Harry? - murmurou uma voz.
O garoto olhou para Dumbledore, Snape e Anderson (que, de olhos fechados, balbuciava, com a varinha apontada para a própria cabeça), mas percebeu imediatamente que nenhum deles o chamara, e, além disso, seus tímpanos pareciam ter se autodesligado. O que ouvia agora vinha de sua própria cabeça, penetrando suas ondas cerebrais.
- Sirius! - exclamou Harry, embora não ouvisse sua própria voz. - É você?
- Sou eu, Harry. Como você...?
- Olha, Sirius, não temos muito tempo... Preciso saber como derrotar Voldemort. Preciso saber o que aconteceu em sua última missão.
Um leve chiado interrompeu o silêncio. A voz rouca de Sirius voltou a falar:
- Dumbledore está com você? Ele está aí? Diz a ele, Harry... diz a ele...
- O quê? - perguntou Harry assustado, quando o chiado se prolongou. - Dizer o que...?
- Diga a ele que Voldemort pode ser derrotado... ele poderá ser detido somente antes do ritual...
A voz de Sirius sumiu, deixando só os chiados que cada vez mais se prolongavam.
- Que ritual? Sirius? - perguntou Harry. - Como ele poderá ser detido? Sirius...?
- O ritual que Voldemort pretende realizar para se tornar não só imortal, mas invencível, invulnerável a qualquer força, seja da magia seja da natureza. Harry, eu descobri que sua ligação com Voldemort é mais forte do que poderíamos imaginar. Ele quer te destruir, mas não poderá fazer isso sem se suicidar... Não queria lhe dizer isso, Harry, mas...
- Mas o que? - Harry achou que estaria gritando. - Sirius?
O chiado aumentou...
- Harry, o que te salvou quando bebê foi o amor, ou seja, Voldemort só poderá ser destruído com o mesmo. Então, a não ser que você cometa um suicídio, a pessoa que você mais ama, a pessoa com quem mais tem afeto, terá de ser sacrificada, assim como fez a sua mãe... se sacrificou por você...
- Não! - gritou Harry. - Sirius, então se eu morrer, Voldemort morrerá também, não é?
O cérebro de Harry fraquejava agora, com os ruídos da morte.
- Sim, Harry, mas se Voldemort realizar o ritual, ele não morrerá por mais meio nenhum...
- Então devo me matar antes do ritual, para que não precise sacrificar a pessoa que eu amo? Aí tudo acabará?
A voz de Sirius silenciou. O chiado agora estava tão alto que Harry precisou gritar:
- SIRIUS? SIRIUS?
O garoto achou por um intante que teria perdido o contato de vez, mas a voz de Sirius voltou a falar mais rapidamente.
- Harry, não quero que cometa loucuras sem pensar, entenda isso, pode haver outra maneira de eliminar Voldemort que eu desconheça... Dumbledore é um bruxo muito inteligente, Harry, você precisa dele... Prometa-me que não vai cometer um sacrifício... Ande sempre ao lado de Dumbledore... Eu sei que você fará a escolha certa e conseguirá pôr um fim às trevas... Harry, eu não consigo...
Mas o que Sirius não conseguia, Harry jamais chegou a saber, porque, bem como os ruídos e os sussurros, sua voz cessou repentinamente.
Perdera o contato.
Harry desabou da cadeira, sua mente formigando, seus sentidos pareciam ter se esgotado...
Sua mãe suplicava Voldemort... Hermione se encontrava petrifcada... Um cérebro flutuante agarrara Rony... Belatriz duelava com Sirius... O basilisco enterrara uma de suas presas no braço do garoto... Vozes distintas gritavam...
- Potter sempre desmaiando... isso é que é demonstração de pura fraqueza - disse uma voz fria.
- Deus, Potter recebeu uma carga cerebral, homem - disse uma segunda voz, assustada. - Será um milagre se não estiver morto...
- Harry... - uma voz sábia o chamou. - Harry, você está me escutando?
O garoto decidiu seguir aquela voz sábia. Seu cérebro entorpecido voltava a trabalhar. Cada função de seu corpo voltava aos seus respectivos membros.
Ele abriu os olhos. Sua vista estava embaçada.
- Beba isso, Harry - orientou-o a voz de Dumbledore, dirigindo um copo à sua boca.
Uma sensação de autorecuperação preencheu cada película de seu corpo.
- Professor... eu falei com ele - contou Harry, recebendo seus óculos. - Falei com o Sirius...
- Eu sei que falou, Harry, eu sei, mas agora levante-se. É hora de irmos. Você precisa de um bom descanso - falou Dumbledore, ajudando Harry a se levantar. - Estabelecer conexões com os mortos não é para qualqur um, então não se culpe pelo desmaio, houve um distúrbio cerebral...
- Creio que você deve ter percebido uma espécie de "trailer" em sua cabeça - disse o sr. Anderson, oservando Harry atentamente, massageando a própria barba. - Um trailer que faz você reviver grande parte de sua vida, que passa por seu subconsciente, antes de...
- Morrer? - perguntou Harry depressa. - Acho que foi isso mesmo...
O garoto relembrou tudo o que Sirius tinha lhe dito. Tudo ficara meio confuso, mas ao mesmo tempo claro para ele. Até esquecera de perguntar qual era o nome do curioso círculo de fogo que Dumbledore projetara mais uma vez, transportando-os de volta a Hogwarts.

Snape voltou à sua sala. Mas Dumbledore pediu um minuto em particular com Harry em seu escritório.
O garoto não sabia o porquê, mas estava muito calmo. Tudo o que ouvira lhe daria muito o que pensar... mas pra quê pensar? Estava muito claro seu destino...
- Harry, eu sei que você precisa descansar - disse Dumbledore -, mas por motivos próprios, antes preciso saber exatamente tudo o que Sirius lhe disse.
O garoto olhou para o próprio relógio. Havia parado, suspeitava ele, à sua viagem repentina ao Japão. Agora deviam ser umas cinco horas da matina. Pensava como seria tudo daqui para frente...
Harry contou tudo a Dumbledore. O diretor o escutou com devido interesse. Quando terminou, Harry começou a pensar que não deveria ter contado tudo exatamente o que ouviu, não queria preocupá-lo.
- Tem um ponto que eu gostaria de lembrar-lhe, Harry - falou o diretor, sentando-se em sua cadeira. - Um ponto que começou na famosa profecia... A parte que, creio eu, é a mais preocupante para você. Embora eu deva dizer, que sendo verdade ou não, eu jamais deixarei que você tente algo. Como Sirius disse, pode haver outras possibilidades de eliminar Voldemort sem lhe fazer mal, e eu vou trabalhar nisso.
Harry contemplou o Chapéu Seletor, pensativo. Dumbledore parecia muito preocupado. Mas será mesmo que havia outra opção?
- Gostaria que você se lembrasse: "Um não poderá viver enquanto o outro existir" - falou o diretor. - Isto ganhou um outro significado agora, Harry. Esta parte da profecia não se referia a Voldemort, como pensávamos... pense nisso.
O garoto refletiu... A pessoa que mais ama teria de ser sacrificada... era isto o que significava. Que tudo o que gritara com Hermione antes de regressar à Escola era a mais pura verdade... pessoas morriam à sua volta, e sempre exclusivamente ele tinha culpa nisso... Sua mãe morrendo ao lhe dar proteção... Cedrico porque não fora mais rápido para ajudá-lo... Sirius porque não ouvira Hermione... estava na hora de tomar uma atitude. Uma atitude que não levasse mais ninguém embora a não ser o próprio Voldemort.
- Sei - disse ele por fim. - Significa que Hermione não poderá viver enquanto eu existir.
Dumbledore o fitou com interesse. Seus olhos azuis estavam cansados. Harry poderia jurar que pareciam lacrimosos.
- Você está namorando a senhorita Granger?
- Sim, senhor.
- Você a ama?
- Sim, senhor.
Dumbledore se levantou de sua cadeira e foi até Harry. Pôs a mão em seu ombro e fitou-o contemplou.
- Harry, são as nossas escolhas que podem mudar o rumo de tudo. Você terá de fazer muitas delas ainda, antes de chegar a hora de enfrentar Voldemort cara-a-cara. E em cada uma delas você deve pensar com devida atenção antes de se decidir.
"Voldemort é tolo, Harry, ele não acredita no amor. Sabe, sim, graças à sua mãe, a existência dele. Mas não o aprova. O que te deixa um passo à frente dele."
Harry sentiu uma lágrima escorrer de seus olhos, mas disfarçou, olhando para o chão.
- Quero que saiba - Dumbledore disse, erguendo a cabeça do garoto - que eu sempre estarei com você, ao seu lado. Estamos juntos nisso. Não faça nada precipitado, Harry...

Harry voltou ao seu dormitório, cansado. Mas não encontrou o sono. Os passarinhos começavam a cantar lá fora. Seus colegas de Casa se mexiam durante o sono, estavam tranquilos, sossegados. Pareciam não ter tantas decisões dolorosas a se tomar. Não tinham tantas preocupações; tanto peso em seus ombros. O garoto os invejou. Queria que fosse assim com ele...
Harry Potter tinha duas alternativas: ou vivia e deixava morrer, ou morria e deixava viver. Escolheu a segunda alternativa.
Jamais pensaria em deixar que alguém morresse outra vez por seus problemas. Porque afinal os problemas eram só entre ele e Lord Voldemort, o homem que mudou o rumo de toda a sua vida. Dumbledore não tinha nada a ver com isso. Hermione tampouco. Era com ele, e sabia que estava sozinho nessa, não poderia envolver mais ninguém...
Pessoas morriam todos os dias. Pessoas inocentes. Pessoas que cruzaram o caminho de Voldemort... tudo isso precisava acabar... se o bruxo realizasse o ritual, se tornaria invencível... Harry precisava agir o quanto antes...
Ele permaneceu o dia deitado. Não foi às aulas. Não queria ver ninguém, muito menos Hermione. Sabia que o que precisava fazer àquela noite era simples. Poderia se atirar da torre mais alta de Hogwarts e tudo acabaria. Ele morreria e Voldemort também. Pôria um fim nas trevas.
Era a única chance de salvar milhares de pessoas, entre elas, sua própria namorada.
- Harry! - Rony entrou no dormitório e arrancou-lhe as cobertas. - Que é que há, cara? Porque você não levanta? Perdeu a aula do Snape. O cretino acabou de pedir uma redação de vinte e oito centímetros... Harry?
Rony o observou.
- Puxa vida! - exclamou ele. - Você está horrível!
Gina entrou em seguida no dormitório. Também o observou, espantada.
- Cara, você não dormiu?
- Não. Eu estou bem... - mentiu Harry.
- Então vamos, McGonagall não vai gostar se você não for à aula dela - disse Rony.
- Eu não vou... não estou muito bem... - disse sem encará-los.
Gina sentou-se aos pés da cama dele.
- Mas você acabou de dizer que estava...
- Olha, eu não quer conversar agora, ok? Vão logo que eu preciso descansar.
Harry não queria ser grosso com os amigos; mas achava que seria mais fácil fazer o que tinha a ser feito se não passasse muito mais tempo com eles, tornando a amizade mais dolorosa...
- Ok, mas preciso passar um recado da Hermione:
ela está doida atrás de você - disse Gina, saindo do dormitório. - Nunca a vi tão feliz antes... não vá pisar na bola com ela, amigo...
A irmã de Rony saiu, mas o ruivo recusou-se a se retirar.
- Tem algo de errado - falou Rony, cauteloso. - Você não ficaria assim à toa...
- Sério? - retrucou Harry. - Que gênio você é...
- Sabe, eu achei que depois daquela nossa briga em nosso quarto ano, não tornaríamos a brigar, se desentender ou ocultar coisas um do outro - disse Rony sem se alterar. - Só achei que fossêmos amigos...
Ia saindo do quarto, mas Harry o chamou.
- Ok, tudo bem, me desculpe... eu conto.
À medida que ouvia a história, o queixo de Rony foi caindo mais e mais. Quando terminou ele exclamou, invejoso:
- Carácoles! Japão, hein! E nem me chamou!
- Eu estou pouco ligando para o Japão - disse Harry. - Só estou preocupado com a Hermione.
- Cara, quem diria... jamais imaginei que isso poderia acontecer - comentou Rony, visívelmente impressionado. - A Mione... nossa Mione... envolvida nessa história toda... é inacreditável...
- Olha, ela jamais pode saber - alertou Harry quando o amigo ia voltando para as aulas. - A Gina tudo bem, mas só a Gina...

Harry teve a tarde toda para pensar se realmente deveria tomar aquela atitude... decidiu-se por sim.
Escreveu, então, uma carta de despedida à Hermione, e ordenou Edwiges que só a entregasse amanhã de manhã. Se cobriu, então, com sua Capa de Invisibilidade e saiu dormitório afora.
No Salão Comunal, que se enchia com os alunos que voltavam cansados das aulas, Harry divisou Gina e Rony, conversando baixinho em um canto. O retrato se abriu e ele correu para sair, quando quase topara com Hermione.
Harry a admirou. Parecia triste e ele suspeitava o porquê (ele não a procurara o dia todo, simplesmente a evitara), mas mesmo triste ela conseguia ser muito bela. Era triste saber que não poderia mais tocar aquela pele suave; beijar aqueles lábios macios; contemplar aqueles olhos doces...
Correu para fora do Salão Comunal antes que fechassem o retrato. Olhou para os dois lados do corredor.
Aqui e ali alunos ainda voltavam para suas respectivas Casas. Harry correu para a torre mais alta do castelo, a torre de astronomia. Era uma sorte ter aquela Capa, caso contrário a escola inteira o teria visto. Ele espiou pela janela da torre... era muito alto. Ele subiu no parapeito da janela, erguendo a Capa para não tropeçar. Se segurou na beirada do telhado e subiu.
Uma sensação de liberdade passou por Harry que, agora, contemplava toda a extensão de Hogwarts, no telhado mais alto de todo o castelo. Se não estivesse tão triste gritaria. O lago negro parecia infinito, ofuscando sua brilhosidade; parecia-lhe um enorme espelho. O vento passava por seus cabelos violentamente. Na verdade, o vento era tão forte que ele estava impressionado como ainda não fora varrido para fora da torre.
Então este era seu fim. Ali estava seu fim. Seu fim sem Voldemort. Tudo terminaria quando chegasse no chão, que estava a uns trinta metros abaixo.
Foi mais para cima do telhado e deixou a Capa ser levada pelo vento em direção à Floresta.
Estava pronto, pronto para mergulhar de cabeça no chão, pronto para deixar sua vida toda para trás, pronto para deixar Voldemort; Hermione; seus amigos; sua escola...
Pulou...
Mas não caiu?
Bateu os pés no ar.
Não caía... flutuava...
- Mas que...
- Harry! - gritou uma voz atrás dele.
Rony, Gina, Daisy e Max estavam lá, mais abaixo do telhado. Max estava com as mãos na cabeça, quase entortando seus óculos, de olhos fechados, vermelhíssimo, gemendo, muito concentrado no que fazia.
- Que ele está fazendo? - berrou Harry. - Pára Max! Quer morrer? Me solta!
- Acho que você está invertendo a situação - gritou Rony. - Quem está querendo se matar aqui é você.
- Vamos, Max, força, traga ele de volta ao telhado - exclamou Daisy, pálida, incentivando o irmão.
Harry tentou bater os pés mais uma vez para atravessar o "nada", mas não conseguia. Droga de telecinesia, pensou ele.
- Estou tentando - gritou Max aos nervos. - Acha que é fácil? Nunca tentei levantar uma pessoa antes, e com o vento que faz aqui...
- Harry! Por favor! O Max pode morrer se forçar demais - implorou Gina.
Harry sentiu que a força invisível o trazia de volta ao telhado. Não podia mexer um músculo. Pousou no chão.
Max ofegou. Sua irmã o abraçou enquanto ele recuperava o fôlego em seus pulmões.
- Que é que vocês estão fazendo aqui? - exclamou Harry, se recusando a chegar perto deles. - E como souberam que eu estaria aqui?
- Primeiro vamos nos haver há uma pergunta mais importante: - exclamou Rony, mais pálido que um fantasma - Você tá doidão? Bebeu umas e outras?
- A Edwiges nos entregou a carta, Harry - explicou Gina. - Então pegamos o seu Mapa do Maroto para descobrir se você estava no castelo.
- Mas eu mandei ela entregar a carta amanhã, e não para vocês, para a Mione - falou Harry, decepcionado com a coruja. - E eles, o que fazem aqui? - perguntou, apontando para Max; este se desvencilhava de Janice, que o abraçava.
- O Rony nos contou sua história - disse Max, que voltava à cor natural, ou, pensando bem, mudara de vermelho para muito branco. - Então deduzimos, antes mesmo de receber sua carta, que você poderia tentar algo assim.
Harry encarou Rony, zangado.
- Valeu, Rony. É isso o que você faz quando pedimos para guardar segredo, não é?
- Me desculpe, mas, eles são super gente fina - justificou Rony. - E pelo amor de Deus, homem, o maior problema aqui agora é um suicídio.
- Harry, como você pode fazer isso? - perguntou Janice, assustada. - É loucura!
- Rony me contou o que aconteceu - disse Gina. - Sei que deve ser duro, mas você não pode tomar uma decisão precipitada dessas... não mesmo...
- Vocês não entendem? Preciso fazer isso! - ralhou o garoto.
- Cara, essa não seria uma morte digna de Harry Potter - disse Rony. - Se atirar do alto de uma torre de quarenta metros, ainda de pijama... ia parecer muito patético quando vissem que você se suicidou.
- Esta torre tem trinta metros, Rony, trinta... - disse Harry. - Além disso, vocês poderiam dizer que foi um homicídio... podem dizer que Snape me atirou da torre.
- Boa idéia - exclamou Rony, animado. - Podemos fazer isso mesmo?
Gina lançou-lhe um olhar furioso.
- Rony! Não está ajudando!
- Estava só brincando...
Gina contemplou Harry, ali em cima.
- Eu não acredito que você vai fazer isso, Harry! Como pode largar tudo assim? A Hermione. Nunca a vi tão feliz. Vai decepcionar a coitadinha. Nunca pensei que você pudesse ser tão burro...
- O que é burrice? - exclamou sem encará-la. - Vocês não percebem que oquanto antes eu acabar com isso melhor? Voldemort está para se tornar invencível, Gina, invencível! Se ele já mata, já tortura agora, imagine que mal poderá fazer depois do ritual. Só eu posso acabar com isso. Não posso sacrificar Hermione. Eu tenho que morrer! Minha vida só servirá para isso...
- Cara, o que é que você fumou? Visgo do diabo ou ervas daninhas? - disse Rony, abestalhado. - Essa é a coisa mais ridícula que eu já ouvi. Você nem ao menos sabe se tudo isso é verdade!
- Claro que é - afirmou Harry.
- Você não pode ter certeza, Harry - Gina parecia tão pálida que a cor vermelha de seus cabelos se destacavam furiosamente.. - E sabe o que pode acontecer se você se jogar desta torre?
- Eu sei... ele atravessaria o chão - comentou Rony. - É que... é muito alto, né... - acrescentou quando Gina o encarou.
Rony abaixou a cabeça. Gina continuou:
- Se você se matar, e tudo isso o que ouviu não for verdade... cara, estaríamos perdidos. Sem você para estar ao nosso lado caso ele venha até nós... o Voldemort.
Harry a admirou, surpreso. Dissera o nome de Voldemort.
- Receio que... já me decidi, Gina, não posso voltar atrás - disse ele, lágrimas começando a saltar de seus olhos. - Eu estou agradecido pela amizade de vocês, verdade... mas não tenho escolha, não depois que Voldemort me marcou com essa cicatriz - e apontou para a própria testa.
- Estamos aqui com você, cara - manifestou-se Rony. - Somos seus amigos! Não pode fazer isso! Eu sei que é duro, mas sem você não poderemos acabar com o... Voldemort!
Harry agora realmente estava surpreso. Rony também dizendo aquele nome?
- Harry, te conheço a pouco tempo, mas percebi que você é bacana - disse Max. - Então que se dane o Voldemort!
- É isso aí, vamos chutar a bunda de Voldemort todos juntos, não é turma? - exclamou Daisy, parecendo se animar com a idéia.
- Mas que é que deu em vocês, seus idiotas - retrucou Harry, tentando manter sua voz mais gélida o possível. - Agora vão começar a cantarolar "Voldemort" por aí, é? E não vou voltar atrás, já me decidi!
Gina, desesperada, procurou por algo mais a argumentar. Então, se decidindo, disse:
- Ok. Mas se você pular, Harry, saiba que um de nós pulará atrás.
Rony, Daisy e Max deram um passo para trás, preocupados.
- Tá bom, então - e ela lançou um olhar vingativo aos amigos atrás. - Se você pular, EU pulo atrás.
Rony, assustado, foi até a irmã e a sacudiu.
- Você é doente?
Harry quase riu, mas se segurou. Era triste ter de deixar amigos tão engraçados, que sempre o faziam rir.
- Eu estou falando sério - exclamou Gina se desvencilhando. - Harry já me salvou uma vez, não foi? Na Câmara Secreta. Devo uma vida a ele. Sem falar que é meu amigo, não poderia deixar que isso acontecesse...
- Ah meu Deus! - exclamou Rony. - Você também fumou!?
Daisy riu. Max ao seu lado contemplava Harry, parecendo alerto para o caso dele tentar pular outra vez.
Harry jamais previra um problema desses. Esperava que simplesmente pulasse e acabasse com tudo...
- Então, você vai me obrigar a fazer isso mesmo? - perguntou Gina se aproximando. - Sabe, eu queria tanto terminar a escola. Mas receio que não haja outra escolha, porque se você pular, eu pulo!
Rony, boquiaberto, se aproximou também.
- Tá bom, seus chapadões, podem se matar. Querem pular? Vamos pular todos! Eu prometo que pulo também - exclamou Rony. - Mas só quero que pensem na burrada que estão fazendo, antes de se atirarem, porque, se se arrependerem a meio caminho, não terá volta...
- Certamente que nã há - concordou Daisy. - Porque daí estariam desafiando a lei da gravidade.
Max riu baixinho.
- Você quer mesmo deixar a Hermione, Harry? - perguntou Gina, séria. - Quer abandoná-la no momento em que ela mais precisa de você?
- Acho que você se esqueceu de um pequeno detalhe - falou Harry, impressionado com a atitude de seus amigos. - Estou fazendo isso para salvá-la da mesma situação.
- Ok, vamos acabar com isso de uma vez por todas - falou Rony. - Harry, escolha; alternativa A, você se mata e leva eu e Gina; alternativa B, você esquece essa baboseira de herói único, desce daí e nos deixa viver.
- Ou a altenativa C: azaro todos vocês por serem tão idiotas e pulo de uma vez por todas - sugeriu Harry.
- Peraí, não conheço essa alternativa - disse Rony, fazendo Gina olhar para o céu, entediada. - Você acha que está ensinando o padre a rezar a missa? Não senhor, eu conheço muito bem todas as alternativas e a alternativa C não é uma alternativa válida...
- Como é que duas pessoas conseguem falar tanta besteira - comentou Gina. - Não sei como a Hermione aguenta vocês...
Harry pensou. Talvez realmente tivesse de ir... mas isso poderia esperar mais um pouco, pois afinal seria ótimo passar mais uns momentos juntos ao lado de Max, Daisy, Rony, Gina e principalmente Hermione. E, ao pensar na garota, se animou mais ainda. Ao contrário do que pensou, reveria aquela garota maravilhosa que o fazia sorrir.
- Ok, então... eu desisto - convenceu-se Harry. - Não vou pular... não por enquanto. Mas me prometam que da próxima vez não me impedirão.
- Ah, Harry - Gina abraçou o amigo, chorando. - Pensei que você fosse pular mesmo.
- E eu ia - disse ele. - Mas decidi-me por esperar mais um pouco...
Rony deu um abraço muito amigo em Harry o que fez ele entender: não estava sozinho nessa jogada; não com amigos fiéis como aqueles.
- Valeu, Max - agradeceu Harry. - Valeu mesmo, cara, você é ótimo com a telecinesia.
- Não foi nada...
- Obrigado por vir, Daisy!
- Por nada - disse ela. - É para isso que estou aqui: para salvar amigos suicidas de plantão...
- Além disso, se você se matasse hoje, não poderia ir ao Centro - disse Rony. - É amanhã, lembra? E você precisa estar vivo para proteger a Hermione do lesado do Krum...

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