Uma nova sensação



Capítulo cinco

Uma nova sensação



- Professor - chamou Harry, quando o bruxo fazia menção de sair da casa.

O homem caminhou até Harry, mancando.

- Não me chame de professor, Potter - disse Moody, seu olho azul elétrico e o normal observando o garoto, com nítido interesse.

- Hum, será que eu poderia dar uma palavrinha com o senhor?

- Claro - rosnou Moody. - Se for só uma palavrinha...

- É que ontem eu vi, lá no Beco Diagonal... - começou Harry.

- É a respeito do Campeonato Mirim para aspirantes a aurores? - adivinhou Moody.

- Eu... Como o senhor sabe? - perguntou Harry, espantado.

- Ora, Potter, não é novidade nenhuma - disse Moody, com um certo ar de afetação - que você deseja ser auror. E como a notícia deste tal Campeonato é, para muitos, excitante, a maioria já sabe... Eu já imaginava que você iria querer participar.

- Será que o senhor ou alguém da Ordem pode me levar ao Centro de Aurores, até o dia 25 de agosto? - sorriu Harry.

- Claro. Somos sua guarda, não somos? Será um privilégio.

Moody girou o olho mágico em todas as direções, até que parou, mirando a própria nuca.

- Agora - rosnou Moody. - Devo entender que há algo de errado com a sua amiga. Faz muito tempo que ela não sai daquele quarto.

- Ah - fez Harry. - É.

- Cuide-se, Potter - e piscou para o garoto, saindo em seguida.



- Que massa - exclamou Rony, contente. - Eles vão levar a gente?

- Pois é! Moody até pareceu animado com a idéia.

- Moody é maluco - disse Rony, sombriamente. - Mas acho que ele é de uma grande ajuda na Ordem, não é.

- Você não faz idéia o quanto - disse Harry respeitosamente, pensando no auror.

- Ah - lembrou Rony. - Harry, talvez eu não devesse te contar que foi a Hermione que disse, mas...

- Que foi que ela andou dizendo? - perguntou Harry.

- Ela pediu para mim incentivar você a não participar do Campeonato - disse Rony, depressa.

- E agora ela acha que manda em mim? - perguntou Harry, zangado.

- Cara, sinceramente... Ultimamente você tem me impressionado - disse Rony, lançando um olhar de desaprovação a Harry. - Porque essa implicância com a Mione? Ela está preocupada com você. Ficou triste com a discussão que tiveram.

Harry abriu a boca para falar, mas fechou novamente. Alguma coisa dizia que o amigo tinha um certo tanto de razão. No fundo sentia falta de Hermione; na verdade nunca sentira tanta falta dela. Mas não ia se entregar, nem para Rony, tampouco para Hermione.

- Então - perguntou ele, triste - será que você também acha que eu não deva participar?

- Você está maluco - disse Rony. - Eu só passei o recado da Mione. Mas eu quero que você vá comigo se inscrever.

Harry tentou sorrir para o amigo, mas não conseguiu.

- Harry, se você está tão triste por ter brigado com a Hermione - disse Rony, atônito -, então vá fazer as pazes com ela.

- Não vou, não - estava decidido a não ter que correr até ela. De jeito nenhum. Não ia ceder...

Como se enganara...



- Hermione!

Harry bateu na porta do quarto.

Como sou fraco, pensava ele, será que não podia resistir, tinha que vir falar com ela.

Harry bateu novamente. Ninguém respondeu. Abriu a porta e entrou no quarto, que Hermione dividia com Gina. O quarto estava vazio. Ia sentar na cama e esperar por Hermione. Não fazia idéia de onde a garota poderia estar. Harry começou a ensaiar de como se desculparia com a amiga, até que descobriu que não seria a mesma coisa sem ela.

A atenção de Harry recaiu na escrivaninha. Livros abertos enchiam a mesinha. Para se distrair, ele começou a ler os títulos dos livros; pareciam ser escritos por trouxas.

A Torre - Um Conto de Bridget Hill - Sociedade Alternativa, uma liberdade de expressão - Diário - A Filosofia de Richard Preston... Harry voltou para o anterior. Era o diário de Hermione. Um um diário de capa azul, impresso por trouxas.

Ah, qual é, pensou consigo mesmo, não vou ler o diário dela, não tenho esse direito.

Vamos, leia, com certeza ela escreveu sobre você - insistiu a mesma vozinha, que ouvira havia mais de uma semana, quando pensara em contar a Hermione sobre as visões.

Harry hesitou, então pensou: só uma olhadinha, só para saber o que ela escrevera dele após a discussão.

Harry o abriu no meio; não ia ler nada que não fosse sobre ele, só queria saber se a garota escrevera dele nos últimos dias.

Abriu na página do dia 15 de agosto, o dia da discussão.



Caro diário,



Hoje o Harry engrossou comigo, mas eu entendo a posição dele. Tenho muita dó, as mágoas que ele guarda com a morte de Sirius, a falta dos pais. Tenho muito medo que ele cometa uma loucura.

Durante nossa discussão, ele mesmo disse, que é amaldiçoado, por que todos que o amam morrem à sua volta. Se eu tivesse coragem, diria que não é bem verdade, pois EU, ainda estou viva...

Ás vezes eu choro pelo Harry... mas tem vezes que ele é tão cabeça dura...



Harry, perplexo, virou a página para o dia dezesseis.



... E quando eu fui fazer as pazes com o Harry, ele agiu de uma maneira muito... inesperada. Me pareceu que estava com ciúmes do Rony, por eu ter conversado com ele...



Sábado...

... e o Rony está agindo estranhamente. Já o Harry quer se inscrever num Campeonato Mirim para Aurores; uma péssima idéia, na minha opinião. Será que ele não vê que é perigoso? Por quê tem que ser tão burro? Da última vez que ele se aventurou a fazer isso acabou num cemitério.

Tenho muito medo que aconteça alguma coisa a ele...



- Que é que você está fazendo? - perguntou uma voz zangada, fazendo Harry congelar. - Você está lendo o MEU diário?

Hermione entrou no quarto, furiosa.

- Ah - disse Harry. - Desculpe, Hermione, eu não...

- ISSO É INVASÃO DE PRIVACIDADE!

- Eu... - mas de repente, Harry sentiu uma vontade imensa de comentar sobre o que lera; talvez até, provocá-la. - Hum, na verdade, o que você escreveu é tão lindo, que se fosse uma garota, eu choraria. E adorei as descrições de como eu sou burro... - Harry voltou a contemplar o diário -, ah, não, desculpe, bem burro.

- NÃO VEJO GRAÇA NENHUMA! - Hermione arrancou o diário da mão dele com violência. - VOCÊ NÃO TEM ESSE DIREITO, VOCÊ NÃO PODE LER AS MINHAS COISAS PESSOAIS...

- Que por acaso me envolvem - disse Harry, calmamente.

-... E AGIR COMO SE ISSO FOSSE NORMAL, COMO SE VOCÊ PUDESSE... E PARE DE SORRIR!

Harry, ao invés de se preocupar com a fúria de Hermione, estava a admirando, sonsamente. Nunca reparara como ela era tão bela; mesmo que parecia prestes a explodir de raiva, a beleza transparecia seu rosto... no momento, zangado.

- Olha, Harry - ela parara de gritar, mas continuava zangada. - Até agora, eu tenho sido tolerante com você, mas isso foi LONGE DEMAIS.

Harry, ainda sorrindo, disse:

- Desculpe. Eu só vim aqui para pedir desculpas, pela minha, hum... ignorância, já que você só estava preocupada comigo.

Por uma fração de segundos, Harry pudera jurar que Hermione quase sorrira; mas logo em seguida ela o empurrou para fora do quarto.

Harry andava pelo corredor, abobado. Lera o que lera e não adiantava a Hermione esconder dele...

Harry, distraído, tropeçou ao lado da cortina que guardava o quadro da mãe de Sirius. Uma mão o agarrou pelos cabelos.

- Ai! Larga!

A mão o largara. Harry se levantou, massageando a cabeleira.

- A senhora ficou louca? - ralhou Harry para a mulher do quadro.

O garoto esperava que ela berrasse imediatamente, como sempre fazia; mas ela sorria... um sorriso malicioso.

- Você! - e soltou uma gargalhada irritante. - Potterzinho, você está morto.

- É mesmo? - retrucou Harry, displicente - Então acho que morri e esqueci de deitar - e se dirigiu para a cortina, para fechá-la, mas a Sra. Black estendera o braço para fora do quadro e o agarrou, com força.

- Seu pai e sua mãe eram dois lixos, que nem você, Potter - sussurou ela. - Vermes nojentos.

- CALA A BOCA, SUA VELHA! - Harry puxou o braço com violência. - E ME SOLTA!

A mulher, porém, ria.

Hermione chegou à cena, pelo mesmo lado do corredor que Harry viera.

- Hermione, me ajuda aqui.

- Ahhh, se não é outro lixo. A sangue-ruim - disse a Sra. Black, ainda apertando o braço do garoto com força.

- Não-fala-assim-dela - rosnou Harry, aos saltos, tentando se livrar do braço.

- Solta ele! - Hermione tentou puxar a mão da Sra. Black.

- NÃO ENCOSTA EM MIM - berrou ela, finalmente soltando o braço de Harry, lançando um olhar de profundo nojo à Hermione. - SUA SANGUE RUIM. SUJA. IMUNDA. SUA V...

- CALE A BOCA, SUA M... - Harry perdeu o controle, não ia tolerar aquela idiota xingando a Hermione.

- Deixa, Harry... - Hermione o puxara, mas ele se desvencilhou.

Pá!

Tarde demais.

Harry nocauteara a Sra. Black com um soco. Acertara a boca dela em cheio, machucando a mão naqueles dentes podres e afiados; fazendo a Sra. Black despencar para trás.

Rony chegou pelo outro lado do corredor.

- Harry, Mione. Mamãe pediu para eu vir aqui ver... Que é que está acontecendo? - perguntou Rony, olhando a cena boquiaberto.

- Essa..., xingou a Hermione - disse Harry, com ferocidade, segurando a mão que sangrava após o encontro de seu punho à cara da mãe de Sirius.

- Harry! - Hermione pegou a mão do garoto. - Vamos lá, a mãe do Rony pode cuidar do machucado.

Rony olhou para o quadro. Seu queixo caíra de vez.

- Devo entender - disse ele, boquiaberto -, que Harry socou a velha do quadro!?

Hermione levou Harry para a cozinha.

- Caracas - exclamou Rony, fechando a cortina e os acompanhando. - Eu não sabia que era possível. Se soubesse já teria a deixado banguela.

- Pensei que estivesse com raiva de mim - murmurou Harry, discretamente.

- E estou - confirmou Hermione, o sentando numa cadeira, quando chegaram à cozinha. - Mas estou grata por você ter me defendido.

Harry sorriu para ela.

- Mas foi uma burrice você ter feito isso com ela - disse a garota, séria. - Harry, você bateu em uma mulher.

- Que te xingou - retrucou ele. - Além do mais, ela é...

- É o quê? - perguntou Hermione.

- É um quadro! - respondeu Harry.

- Mas não deixa de ter sido um ato violento, o seu - disse Hermione, com dignidade. - Além do mais, eu não valho o risco.

Pode apostar que vale, pensou Harry.

- Cara, ás vezes você me surpreende - disse Rony, entrando na cozinha - Será que poderia repetir esse soco? Na cara do Malfoy, é claro.

- Cala a boca, Rony - disse a Sra. Weasley, em seu calcanhar. - Harry, querido - ela se aproximou do garoto, com um ar eficiente. - Ah, não foi nada tão grave, só um corte - pegou a mão do garoto e fez um aceno de varinha. - Prontinho - acrescentou ao curar o machucado.

Harry não estava mais nem ligando para o que fizera. Seus pensamentos ainda estavam no diário.

- Por que você foi bater nela, Harry? - perguntou a Sra. Weasley.

Rony abafou risadinhas.

- É por que ela me xingou - Hermione respondeu a pergunta.

- E xingou meus pais - acrescentou Harry, com simplicidade.

- Francamente, eu não eperava um comportamento tão... radical, da sua parte, Harry - disse a Sra. Weasley. - Mas ela está mesmo abusada, imagine só. Eu gostaria tanto que pudéssemos tirá-la de lá.

- Boa idéia, mamãe - disse Rony. - Podemos pedir para o Harry acabar com os restantes dos dentes dela.



Dumbledore aparecera à noite para a Oclumência. Harry estava no quarto de Sirius.

- Boa-noite, Harry.

- Professor, acho que antes de começarmos, o senhor precisa saber.

- A melhor maneira de combatermos essas visões, é praticando Oclumência - disse Dumbledore, sério. - Se precisarmos dobrar, dobraremos. É muito importante que você domine a Oclumência por inteiro, Harry.

- Mas professor - falou Harry -, o senhor não entendeu... é que a Oclumência não está mais adiantando...

- A visão que você teve com a Srta. Granger, ontem à noite, é sinal de que precisamos nos esforçar. Praticaremos todos os dias - disse Dumbledore, com simplicidade.

- Como o senhor sabe? - perguntou, surpreso.

- Harry, acho que agora não é a hora de pôr em prova o que eu sei, ou o que deixo de saber. Lembre-se, precisa esvaziar sua mente.



Harry e Hermione voltaram a se falar. Harry gostava de ter o Rony direto ao seu lado, ele sempre o divertia. Mas Rony continuava indo direto e reto encontrar Luna. Hermione parecia preocupada com o que ele poderia estar aprontando.

Harry não parava de pensar no que lera no diário...

... por que todos que o amam morrem à sua volta. Se eu tivesse coragem, diria que não é bem verdade, pois EU, ainda estou viva...

Harry não precisou somar dois mais dois para entender o que isso significava.

Outra coisa, que gastava grande parte do tempo pensando, era sobre Dumbledore saber de sua visão mais recente, antes mesmo do garoto o informar.



No jantar de 24 de agosto, Harry e Rony discutiam com Lupin e Tonks.

- É meio estranho, não é não? - comentou Tonks. - Será que é confiável esse tal Campeonato?

- Tem razão, Tonks - disse Lupin, pensativo. - É meio... estranho.

- Mas não custa tentar - disse Rony. - Harry, já pensou se um de nós ganha?

Harry encontrou o olhar de Hermione.

- Suponho que seja seguro - disse Harry, com firmeza. - Se não for, por favor, rezem para que o Fudge saía do Ministério. Ele entraria numa fria.

- Ora, ora - Quim Shacklebolt acabara de chegar. - Potter e Weasley. Estão realmente pensando em seguir a carreira de auror, não?

- Não estamos pensando - disse Rony, animado. - Já nos decidimos.

Hermione lançou um olhar feio a Rony.

- Que aconteceu, Arthur? - perguntou a Sra. Weasley, após acrescentar salsichas ao prato de Harry.

O Sr. Weasley vinha, segurando um exemplar do Profeta Diário, nervoso.

- Desgraçados - rosnou Moody, que seguia o Sr. Weasley pelos calcanhares.

- Que foi, Alastor? - perguntou Quim.

- Os Comensais da Morte fugiram de Azkaban.

Harry, que outrora pensava distraídamente em Hermione, deixara o garfo cair no prato com estrépito, ao entender o que Moody dissera.

Tonks se engasgou com o suco de abóbora.

- Eles o QUÊ?

- Está aqui - disse o Sr. Weasley, nervoso.

Quim Shacklebolt recebeu o jornal. Todos (inclusive a Sra. Weasley), o cercaram, tentando ler a matéria. Harry conseguiu ler por cima da cabeleira de Gina.



Morte e fugas em Azkaban




Pela manhã, um dos aurores que patrulham Azkaban, foi morto por Comensais da Morte, outrora presos. O corpo de Dimitri Mishkin, fora encontrado em mil pedacinhos.

Os doze Comensais da Morte, que foram presos há mais de dois meses por Alvo Dumbledore, fugiram hoje de Azkaban. Muito chocado, Cornélio Fudge, o ministro da Magia, declarou hoje, em uma rápida entrevista, uma técnica de fuga, conhecida como "a fuga de Black".

Sirius Black foge; depois doze Comensais, de uma só vez, seguem o seu exemplo,
declarou Fudge, e não devíamos ter dado ouvidos ao Dumbledore, é isso o que acontece quando os Dementadores são retirados de Azkaban.



- Por que têm que meter o Sirius no meio? - falou Harry, irritado. - E que história é essa? E a rebelião? Fudge não tinha acreditado que os Dementaores eram aliados do Voldemort? Desculpem - acrescentou ao fazer alguns deles se arrepiarem à menção do nome.

Quim se levantou apressado, dispersando todos em sua volta.

- Vamos, Tonks - disse Quim, em seguida aparatando.

- Droga - resmungou Tonks, aparatando também.

- Agora, vocês dois prestem atenção - disse Hermione, inesperadamente, segurando Harry e Rony pelos ombros. - Vocês não podem ir para o Centro. Com esses Comensais a solta. É perigoso.

- Nem vem - desvencilhou-se Rony. - Agora sim, devemos tentar. Agora sim, precisamos nos preparar, com esse mundão de Comensais a solta.

- Acho - disse Gina, de repente -, que Hermione pode ter razão...

Gina não falara em sua frente desde que Harry tivera a última visão.

- Ainda podemos levá-los - disse o Sr. Weasley. - O que acha, Moody?

- Vigilância constante, Arthur.

- Isso é loucura, Arthur - disse a Sra. Weasley, a voz tremendo. - Pode mesmo ser perigoso.

- O.k., tentarei reunir a guarda. Precisamos ir com a máxima segurança. - rosnou Moody, se levantando. - Potter, Weasley, vão para a cama, partiremos cedo.

Hermione e Gina olharam feio para Moody quando este virou as costas.

- E vocês duas, não pensem que não estou vendo - retrucou Moody de costas.

Harry e Rony subiram para o quarto.



Harry achava muito difícil dormir; talvez até conseguisse se Rony não estivesse roncando tanto, e, de quebra, falando durante o sono.

- Não - resmungava Rony, babando no travesseiro. - Eu defendi a baliza do meio...

Harry achou que não conseguiria mais dormir, já deviam ter passado umas três horas. Mas também nem queria dormir. A ansiedade do Centro o invadia, se assomando com as fugas dos Comensais.

O garoto decidiu, então, fazer companhia à Bicuço no quarto de cima.

Na realidade, a fuga em si, não era algo inesperável. Harry vira Lúcio Malfoy conversando com Voldemort, antes mesmo deste escapar de Azkaban.

Harry contemplava Bicuço, infeliz. Daqui a poucos minutos estaria amanhecendo.

E se acontecesse algo com Hermione, pensava ele, viu Malfoy solto, este acabara escapando. E se, como Rony dissera, Harry fosse algum tipo de vidente? E se tudo o que vira acabasse se realizando?

Ela corre perigo, meu caro - dizia a habitual vozinha teimosa em sua cabeça.

- Eu não vou deixar nada acontecer a ela - revidou Harry. - Isso é uma promessa.

Não pode prometer isso - insistiu a voz. - Não pode impedir que nada aconteça a ela. Não tens o dom de mudar o destino, garoto.

- Cala a boca - disse Harry, zangado.

Sacudiu a cabeça.

- Estou louco - concluiu ele.

- Falando sozinho? - perguntou uma voz baixa, num sussurro, vinda da porta.

- Hermione! Não - disse Harry depressa. - Estava só pensando.

Ela fechou a porta e se sentou ao lado de Harry, na cama.

- Por favor, Harry, me escute - Hermione segurou as mãos do garoto.

Harry se lembrou: estavam do mesmo jeito na noite em que brigaram.

- Olha, Hermione, eu sei que você quer tentar me impedir de ir. Mas não quero brigar novamente com você. E já me decidi. Eu vou.

- Por favor, Harry, não vá - a voz de Hermione tremia, seus olhos tinham um brilho estranho.

- Porque? Por que é perigoso, é? Mas não era você e o Rony que diziam que eu, por ser Harry Potter, sou o mais "capaz"? Embora eu não acredite nisso... - justificou Harry. - Mas em todo o caso, por que agora você não quer que eu vá?

- Eu gosto de você, Harry. Tenho medo que lhe aconteça algo. Lembra do Tribruxo? Lembra do cemitério?

- Tinha que lembrar - resmungou ele.

- Nem sei o que eu faço se acontecer alguma coisa a você - falou Hermione, o observando, preocupada.

Harry corou. Hermione estava mais perto agora. Segurava suas mãos e o observava, com aqueles olhos doces e amêndoados. Seus cabelos muito cheios e fofos, caíam sob seus ombros.

- Hermione - disse Harry, corando -, valeu mesmo por se preocupar tanto comigo.

Hermione continuou o observando. Harry parecia estar sendo hipnotizado por aquele olhar doce. Seu coração batia acelerado agora... Hermione se aproximava... fechara os olhos. Harry contemplou aquela boquinha rosada; então fechara os olhos também, se aproximou... as bocas de Harry e Hermione se encontraram. Harry beijou aquele lábio macio. Sua língua tocava a dela, suavemente.

Então Harry percebera: estava apaixonado. Só podia estar. Nunca se sentira assim antes. Nem mesmo quando beijara Cho Chang, pela primeira vez. Aliás dava de cem no da Cho. Era incrível. Era um beijo quente.

Hermione, parecendo finamente notar o que estava fazendo, soltou os lábios de Harry.

- Harry! - disse ela, corando furiosamente. - Que está acontecendo?

Harry também corou. Mas alguma coisa, dentro do seu ser, o intimidou. Balançou, então, os ombros para a garota; levou um dedo ao lábio dela, e se envolveu em mais um beijo.

A porta do quarto abriu.

Rony, de pijama, com o ar de quem acabara de acordar, paralisou ao ver a cena.

Harry e Hermione se soltaram. Ele tentou dizer alguma coisa, mas não saíra nada. Hermione também não progredira.

- Eu só vim avisar - disse Rony, alto, as orelhas vermelhas -, que eles estão te esperando - e saiu, batendo a porta com força.

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