Oportunidade ministerial



- Capítulo quatro -

Oportunidade ministerial




No dia seguinte, após extravasar a raiva em Hermione, Harry se sentia bem mais calmo; mas não pedira desculpas a amiga.

- Vocês já sabem que carreira vão seguir? - perguntou pela milésima vez a Sra. Weasley. - Precisam pensar muito bem nisso, para não, vamos dizer assim, seguirem o "exemplo dos gêmeos".

Nem mesmo Hermione, que sempre tinha muito o que dizer sobre o assunto, não respondera a pergunta dela. A garota parecia muito triste.

- Hermione, me disseram que com a sua inteligência você daria uma ótima auror - continuou a Sra. Weasley, pelo jeito tentando estabelecer alguma animação.

- Acho - disse Hermione desanimada - que ser auror não vale a pena... é um risco.

- Acho a carreira de auror bem interessante. - disse Harry em voz alta defendendo a carreira que pretendia seguir após a escola.

- Pode ser, mas pense bem, Harry, antes de tomar qualquer decisão - disse a Sra. Wealey parecendo não notar o gelo entre Harry e Hermione.

Rony não falava nada, só olhava de um para o outro.



- Eu não acredito que vocês brigaram - disse Rony quando os dois subiram ao quarto. - Você e a Mione.

Harry sentia uma tristeza engolfar o peito. Fora tão rude com a amiga na noite anterior que, ainda que sentisse raiva de Hermione, não podia deixar de sentir pena dela.

- Como é que você soube? - perguntou Harry, embora não precisasse.

- Bom, ela me contou. Mas mesmo que não contasse eu saberia, já que você estava gritando. - disse Rony depressa.

Harry encarou o amigo.

- Acho que você não deveria gritar com ela daquele jeito - acrescentou Rony, as orelhas corando. - Ela estava preocupada com você.

- Olha só quem fala - retrucou Harry -, você vive brigando com a Hermione.

Rony não parecia encontrar mais nada para argumentar.

- Aonde você vai? - perguntou ao ver Harry trocado se dirigindo à porta.

- Acho que vou dar uma passada na loja com os gêmeos - disse Harry sem olhar para trás.

- Ah, que bom - disse Rony animado -, eu ia te chamar para ir com a gente. Mione vai...

- Esquece - disse Harry saindo do quarto. - Vou ver o Bicuço.

Harry ia subindo a escada para o porão quando Hermione o chamou de trás.

- Que foi? - perguntou ele.

- Harry, eu só queria dizer que me arrependo de verdade da nossa discussão de ontem.

Harry deveria ter aceito estas palavras numa boa... mas alguma coisa o impedia.

- Claro. Depois de desabafar ao Rony, não é?

Hermione parecia ter sido pega de surpresa.

- Como... como é?

- Foi chorar no ombro do Ronyquinho depois de brigar com o Harry malvado ontem à noite, não foi? - disse Harry tentando parecer tão agressivo quanto na noite anterior, embora não estivesse tendo êxito nisso, e sua voz acabara se transformando em alguma coisa indecifrável ao garoto.

- Harry - Hermione corou. - Que é que está acontecendo?

- Porque não pergunta ao seu queridinho Rony? Talvez ele saiba. - e subiu as escadas sem esperar Hermione dizer mais nada.



Harry tinha muita vontade de continuar vendo as lembranças de Lupin no Diário, mas não o fazia por respeito; porque mesmo que seus pais aparecessem no Diário, as lembranças não deixavam de ser do próprio Lupin.

Rony ia direto para a loja dos gêmeos. Harry não sabia por que o amigo fazia isso com tanta freqüencia. Harry prometera ir com ele no próximo sábado.

Harry e Hermione se evitavam pelos corredores da casa, e mesmo que nas refeições estivessem no mesmo aposento, conseguiam evitar trocar olhares.

Dumbledore agora aparecia para a Oclumência quatro vezes por semana.



Na manhã de sábado, Harry acordou com uma algazarra de passarinhos. Demorou um pouco para perceber que os passarinhos estavam dentro do quarto.

- De onde eles vieram? - perguntou se levantando.

Rony tentava afugentar os que tentavam pousar no seu cocoruto.

- Fred e Jorge - resmungou Rony segurando Píchi, sua coruja assustada - Não sei como eles fizeram isso. É óbvio que não são de verdade. São espectros de passarinhos.

Bichento, o gato de Hermione, pulava de um lado para o outro, esperançoso. Edwiges piava indignada no alto do armário roído a traças.

- Ah, vamos, Harry, deixa eles aí - disse Rony impaciente.

Hermione aguardava Rony na cozinha. Harry lançou um olhar furioso ao amigo.

- Rony - disse Hermione fingindo não notar a presença de Harry. - Como nós vamos para Londres? Como você tem ido?

- Bem, tem um jeito - falou Rony. - Pó de Flu.

- Mas em que grade vamos sair? - perguntou Hermione observando o amigo. - Pensei que fosse proíbido usar as lareiras do Caldeirão Furado.

Harry se lembrou que o motivo de proíbirem o uso de lareiras no Beco Diagonal era o fato de estarem tomando "medidas de segurança", agora que sabiam que Voldemort estava a solta. Embora o garoto acreditasse que lareiras não seriam bem um dos transportes que Voldemort usaria para um ataque surpresa. E, pensando bem, quem achasse que Voldemort poderia dar as caras num lugar tão movimentado como o Beco Diagonal, provavelmente estaria endoidando.

- Ah, não - disse Rony corando -, não é lá. Bem, tem uma loja, e eu conheço a dona, sempre uso a lareira dela...

- Que loja? - perguntou Hermione interessada.

- A Três Magos, é uma loja especializada em exoterismos.

Por um momento os olhos de Harry e de Hermione se encontraram, mas os dois os desviaram imediatamente.

Rony pegou o potinho de Flu no console, encaminhou-se até a lareira, jogou uma pitada e passou o pote a Harry.

- Beco Diagonal, Três Magos - disse Rony, sumindo logo em seguida nas chamas verde esmeralda.

Harry guardou os óculos no bolso e fez o mesmo; lareiras passavam a mil diante dele. Até que...

O garoto foi lançado da lareira no chão de uma loja que cheirava fortemente a incenso. Ele se levantou repondo os óculos.

- Ah, olá, Harry Potter - disse animada, uma mulher de aspecto doentio tirando a fuligem da roupa de Harry com um espanador (embora só estivesse o sujando mais).

A primeira impressão de Harry sobre aquela mulher foi de estar cara-a-cara com uma corujona; dois olhos escuros e profundos, arregalados e com um ar lunático; longos cabelos repicados em vários pontos; e sem falar que a mulher era enorme. Não era que ela se vestisse mal, mas na opinião de Harry ela precisava urgentemente dar uma passadinha na Madame Malkin, pois seus vestidos estavam surrados em vários pontos.

Alguma coisa disparou da lareira, chutando o calcanhar de Harry: era Hermione. Rony ajudou a garota a se levantar.

- É um prazer tê-los em minha loja - disse a mulher espanando a fuligem de Hermione.

- Hm, Janice, esta é minha amiga Hermione - apresentou Rony -, e, bem, como você já sabe, este é o Harry.

- Muito prazer - cumprimentou ela, sonhadora. - Bem, como vocês sabem eu sou dona desta loja, e eu adoraria que vocês dessem uma olhada - acrescentou se dirigindo à Harry e Hermione.

Harry percebeu imediatamente que aqueles olhos ligeiramente arregalados de Janice não foram pelo momento: na verdade eles eram sempre arregalados. Então Harry viu que ela se parecia incrívelmente com Luna Lovegood, colega dele em Hogwarts.

- Hm, Sra. Lov... quero dizer, Sra. Janice - atrapalhou-se Rony -, nós adoraríamos, mas agora estamos com um pouco de pressa. Uma outra hora...

- Entendo - disse Janice distraída, contemplando o universo, como se estivesse tentando se lembrar de alguma coisa.

Rony saiu da loja quase que correndo, tropeçando em Hermione.

- Ah... até mais, Janice - disse Hermione bondosamente, sendo arrastada por Rony para fora.

Harry, porém, estava muito distraído contemplando a loja. Incensos acesos pendiam no teto. Prateleiras e mais prateleiras abrigavam objetos excêntricos que ele nunca vira antes, pelo menos não nesta vida. Haviam também, em cada canto da loja, enormes caldeirões soltando baforadas de fumaças em formatos sinistros de criaturas horripilantes.

- Harry! - chamou Rony.

- Quê! Ah... - e se despediu de Janice.

- Posso saber porque agiu daquele jeito na loja? - perguntou Hermione quando os três caminhavam pelo Beco Diagonal, apinhado de bruxos.

- Q-Que jeito? - engasgou-se Rony quando uma coruja passou raspando por sua cabeça.

Hermione, lançando um olhar severo a Rony, deixou o assunto de lado.

Era claro, tanto para Hermione, quanto para Harry, que Rony estava omitindo alguma coisa aos amigos.

Rony conduziu os dois à loja dos gêmeos.

Ao entrar na Gemialidades Weasley, Harry entendera exatamente o que Rony dissera: "a loja era incrível".

Haviam vitrines cheias de coisas bizarras inventadas por Fred e Jorge. Havia também prateleiras cheias de doces muito suspeitos ao lado de um balcão.

- Ronyquinho, irmão, há quanto tempo você não vem nos visitar, hein? - disse Jorge.

Rony lançou um olhar rápido a Harry e Hermione.

- Não sei do que está falando - disse ele estendendo a mão para cumprimentar Jorge, que estava com a mão erguida -, eu venho sempre aqui e... AHHH, SUA MÃO SAIU...

Jorge havia abaixado o braço direito, porém a sua mão continuava agarrada a de Rony.

- Calma, maninho - disse Jorge rindo a estender o braço novamente. - Olha minha mão aqui. - e puxou a mão falsa que apertava a de Rony. - Bem real, não é?

- Uma mão de borracha enfeitiçada? - perguntou Harry tentando abafar as gargalhadas. - Muito criativo.

- Não teve a menor graça - disse Hermione para Jorge.

- Não adianta disfarçar, Hermione - disse Fred saindo de uma porta atrás do balcão -, eu vi pelo espelho que você riu.

- Espelho? Que espelho?

Fred apontou para um espelho enorme atrás da garota. Esta soltou um gritinho ao ver sua imagem, pois a Hermione do espelho era careca.

Harry, Rony, Fred e Jorge riram.

Hermione lançou um olhar feio a Harry.

- Senta aqui, Harry - disse Fred o empurrando em uma cadeira enorme que estava ao lado das prateleiras.

Os braços da cadeira tomaram vida. Um braço segurou Harry na cadeira, e o outro, com uma pena, fez cócegas no garoto.

- Me... tira... daqui... - falou Harry com dificuldade, dando gostosas gargalhadas.

A cadeira o soltou.

Os quatro riam dele. E agora fora a vez de Harry lançar um olhar feio a Hermione; esta porém pareceu não se importar.

- Muito engraçado.

- Brincadeiras são conosco mesmo - disse um garoto de cabelo rastáfari que saiu da porta atrás do balcão. Era o amigo dos gêmeos.

Lino Jordan cumprimentou os três visitantes.

- Que tal um doce? - ofereceu ele.

- Não, origado - disseram Harry, Rony e Hermione depressa.

Agora uma grande quantidade de jovens enchiam a loja.

- Vocês me esperam aqui - disse Rony a Harry e Hermione - que eu tenho que comprar uma coisinha em outra loja.

- Vamos com você - disse Hermione o seguindo.

- N-não - gaguejou Rony. - É sério, é rapidinho...

- Isso que é irmão - disse Jorge assim que Rony saiu da loja -, nunca vem nos visitar e quando vem...

- Como assim? - perguntou Hermione - Ele vem quase todo o dia.

- Ele diz que vem, é? - perguntou Jorge, interessado.

- Achamos que o nosso querido irmão está nos escondendo algo - comentou Fred, após atender uma montoeira de clientes risonhos.



Mais tarde Harry e Hermione se despediram dos gêmeos, dizendo que iriam procurar por Rony.

Os dois não encontraram o amigo em lugar algum. Se dirigiram, então, para a Três Magos.

- Olá, queridos - disse a sonhadora Janice.

Ao contemplar a loja novamente, os olhos de Harry bateram num aviso afixado na parede que ele não vira antes. O garoto se aproximou e começou a ler em voz alta.



Primeiro Campeonato Anual Mirim da Liga de Defesa Contra as Forças do Mal.




O Centro de Treinamento para Aurores estará sediando, este ano, um Campeonato com oportunidades únicas para os jovens que pretendem seguir a carreira de auror.

Os interessados deverão comparecer ao Centro até o dia 25 de agosto para as inscrições.

Regulamento: só poderão participar os jovens que ainda cursam a escola e que estiverem dentro da faixa de 16 a 17 anos.

O evento será dividido em quatro etapas. São elas:

Primeira etapa:
Teoria da Magia Negra.

Segunda etapa:
Vigilância e Rastreamento.

Terceira etapa:
Estratégia e Defesa à Criaturas Malignas.

Quarta etapa:
Combate entre os Finalistas.



Obs:
Para participar é necessário ter obtido na escola a que freqüenta no mínimo cinco N.O.M.'s.

Serão selecionados somente 5 jovens para competirem.


Prêmio: O vencedor do Campeonato entrará GRATUITAMENTE para a Escola de Aurores após terminar a escola de magia, recebendo assim um super treinamento de 4 anos de duração. O vencedor garantirá também uma futura vaga para a carreira de auror no Ministério da Magia. Além de contar com um exclusivo pacote de detectores de magia negra.



O Ministério da Magia adverte: é expressamente proibido, por lei, usar neste evento quaisquer maldições a que o próprio Ministério considera imperdoáveis (p.14).



- Este evento foi aprovado pelo Ministério. -




O estômago de Harry explodiu de excitação. Era tudo o que o garoto precisava, oportunidades para seguir o seu sonho: ser auror. Então decidiu: ia se inscrever.

- Está pensando em participar? - perguntou Janice em seu ouvido.

Harry sobressaltou-se, estava distraído pensando em suas chances para participar do Campeonato.

- Estou - disse ele desviando o olhar do aviso.

Harry teve motivos para acreditar que Hermione lhe lançou um olhar preocupado, mas quando virou a amiga estava contemplando um dos caldeirões baforantes da loja.

- É uma grande chance esta, não é - disse ela olhando serenamente o aviso. - Suponho que isso tudo seja por que Você-Sabe-Quem voltou.

Janice e Harry tiveram uma longa e animada conversa.

A opinião de Harry sobre a dona da loja agora era extremamente positiva. Hermione, porém, não parecia ter muito o que declarar. Parecia muito preocupada com alguma coisa.



Rony voltou à Ordem quando já era noite, pedindo desculpas a Harry por ter sumido.

- Será que você vai se dar ao trabalho de me dizer o que está aprontando? - perguntou Harry, deitado na cama de barriga pra cima, contemplando o teto escuro e cavernoso.

- Ah, Harry, eu não estou aprontando nada... - mas Rony disse essas palavras em um tom tão pouco convincente, que Harry, deixando os pensamentos sobre o Campeonato de lado, se levantou e encarou o amigo nos olhos; este piscou.

- Ah, vamos - insistiu Harry -, não pode ser coisa tão ruim, pode?

- Não, não é - admitiu Rony sentando-se na cama. - Pelo menos pra mim não - acrescentou, corando.

Harry continuou o encarando.

- Tá bem - disse Rony displicentemente, corando. - Eu estou namorando.

Harry fez uma cara surpresa.

- Com quem? - perguntou ele, temendo ouvir algo que já desconfiara do amigo há muito tempo.

- Com a Di-Lua - respondeu o amigo em tom de desafio.

- Com a Luna? Luna Lovegood? - disse Harry, tentando manter a voz no tom mais neutro o possível.

- É - disse Rony parecendo aliviado à reação do amigo; mas ainda vermelho que nem um tomate. - Todas aquelas vezes, que eu dizia ir para a loja dos gêmeos, eu ia na verdade encontrar ela.

- Ah, eu sabia que a Janice tinha algo em comum com a Luna - lembrou Harry. - Elas são parentes, não são? É por isso que você não quis ficar muito tempo na loja.

- A Luna é sobrinha da Janice.

- Legal - disse Harry, fingindo empolgação -, espero que dê tudo certo entre você e Luna.

Harry não sabia o porquê, mas por um momento, quando imaginou que Rony diria que estivera namorando Hermione, sentiu-se estranhamente tenso. Porque aquilo? Porque temera isso? Será que o fato de os dois amigos estarem juntos seria algo ruim para ele? Bom, isso ele já não estava entendendo; mas o fato é que ficou aliviado, pois sabia que Rony estava namorando Luna e não Hermione.

Harry sacudiu a cabeça.

- Algum problema? - perguntou Rony.

- Hum... não, nenhum. Eu estava pensando num aviso que vi na loja - mentiu Harry -, você viu? Sobre a Escola de Aurores?

- Era isso o que eu queria falar com você - disse Rony excitado. - Você vai se inscrever? Eu, bem... pensei em me inscrever.

Harry e Rony passaram um longo tempo discutindo sobre o Campeonato.

- Mas eu acho bem difícil nós sermos sorteados - disse Harry. - Devem haver milhares de pessoas se inscrevendo.

- Eu não diria isso - falou Rony, empolgado. - Eu, talvez não tenha muita chance, mas já você...

- Que é que você quer dizer com isso?

- Ah, qual é - disse Rony se deitando na cama. - Você é Harry Potter, aposto como eles vão querer de qualquer maneira que você entre.

- Não vejo porque - retrucou Harry. - Ser Harry Potter não é bem o que você acha que é. Não comece com essa história de que eu sou melhor que todo o mundo - disse ele, talvez um pouco mais displicente do que pretendia.

- Harry - disse Rony, sonolento, após encerrarem o assunto da Escola de Aurores - Será que você podia não dizer nada a Mione, sabe... sobre eu e Luna?

Harry teve uma vontade enorme de perguntar "porque", mas estava morrendo de sono. Suas pálpebras estavam pesadas...



Harry segurou o braço de Hermione com violência, esta chutou a canela dele numa tentativa mal-sucedida de fugir.

- Sua sangue-ruim - retrucou ele, naquela já conhecida voz, fria e gélida. - Crucio!

Hermione caiu se debatendo em sua frente.

Sua cicatriz formigou.

- NÃO!



A câmara escura e subterrânea saiu de foco, trazendo subitamente a visão do quarto; onde Rony observava Harry de sua cama.

- Pesadelo?

- Não - respondeu Harry se levantando.

Não agüentava mais. Tinha que contar a Rony sobre suas visões com Hermione.

- Mas... isso não pode ser real, pode? - perguntou Rony, tenso, após ouvir Harry. - Quero dizer, Hermione está aqui na Ordem, segura. A não ser que você esteja vendo o que está para acontecer, e não o que está acontecendo - e lançou um olhar apreensivo. - Harry, quando você viu Sirius... foi tudo uma cilada, é óbvio que ele está tentando atraí-lo novamente.

Silêncio.

- Rony - disse Harry, de repente -, se você contar alguma coisa a Mione, eu juro que faço você engolir todos os doces da loja dos gêmeos, e...

- Calma, cara - disse Rony. - Se é importante que ela não saiba, é claro que eu não vou contar. Mas seria bom você ameaçar Gina também.

- Gina? - falou Harry sem entender. - Que é que a Gina tem a ver com isso?

Rony apontou para a porta do quarto.

A figura de Gina estava parada à porta, os olhos arregalados, petrificada, como se fosse incapaz de se mover.

- Ótimo! - exclamou Harry sentindo o coração despencar.

- Ah, que é isso - disse Gina, indignada, parecendo se recuperar do choque. - Até parece que vocês nem confiam em mim - disse ao fechar a porta e se sentar na cama de Rony.

- Não confiamos - confirmou Rony.

- Eu não vou contar nada à ela - retrucou a garota com aspereza.

- Por favor, Gina - implorou Harry. - Não era nem pra vocês dois saberem. Mas agora que sabem... é muito importante saber também que não podem contar nada a ela, e nem a ninguém. Dumbledore me fez jurar que...

Harry se calou ao ver os olhares de Rony e Gina.

- Não somos idiotas - disse Rony.

- Claro que eu não vejo razão para esconder isso dela - comentou Gina. - Mas se Dumbledore disse...

Gina também parecia muito preocupada.

- Harry - começou ela -, se isto tudo o que você viu realmente acontecer, ficará claro que são predições...

- Cara, você é vidente? - perguntou Rony, confuso.

- ... constatando, então, que você tenha o dom da adivinhação... - continuou ela, não dando ouvidos a interrupção.

- Aí ele poderia substituir a Trelawney e o Firenze!

- ... isto seria bom...

- Seria bom a Mione ser seqüestrada? - disse Rony, zangado.

- ... porque poderíamos nos prevenir de certas...

- Ele poderia também prever se o merda do Malfoy irá morrer neste ou no próximo ano.

- Rony, cala a boca! - indagou Gina, irritada com as interrupções do irmão.

Os três continuaram conversando baixinho. Harry revelou a eles que também vira ele, Bichento e Voldemort, num túnel subterrâneo, quando estava na casa dos Dursley.

- Espantoso - comentou Rony. - E você ainda estava dando ordens ao gato para perseguir Voldemort? Harry, se isso for verdade, você, além de vidente, é louco; é claro que Bichento não teria nenhuma chance contra Você-Sabe-Quem.

- Não, Rony... - disse Gina pensativa. - Talvez ele tenha sim.

- Endoidou - concluiu Rony.

- Que é que você quer dizer? - perguntou Harry a observando atentamente.

- Será que vocês não percebem? Bichento não é um gato comum. É especial. Eu vou pesquisar sobre gatos e ver se descubro o que ele tem...

Um pio fez os três sobressaltarem.

- Droga de passarinho - disse Rony, olhando para o único espectro que continuava no quarto, sobrevoando sobre eles.

Gina parecia estar muito concentrada nos pensamentos.

- Harry - disse ela -, você viu o pai do Draco, não viu?

- Vi.

- Mas sabemos que ele está preso em Azkaban, certo?

- Então é uma questão de tempo para ele fugir e se juntar ao Você-Sabe-Quem - concluiu Rony. - Aquele...

E soltou um palavrão que fizera Gina exclamar "Rony!".

- Nós já esperávamos isso - disse Harry com simplicidade. - Sem os Dementadores em Azkaban, Malfoy e os outros vão escapar.

- Harry - disse Gina novamente. - Você está praticando Oclumência?

- Claro - disse Harry, nervoso. - Não entendo o porquê continuo tendo visões. Eu e Dumbledore praticamos Oclumência quatro vezes por semana. Achei que a Oclumência fechasse a mente.

- Então - disse Gina, encerrando o assunto -, você vai pedir ao Dumbledore para dobrar essas quatro, para sete vezes por semana.

A porta do quarto se abriu. Era Hermione.

- Então - falou Gina, como se estivesse continuando um assunto já começado -, Dino Thomas me disse que o tio dele, Alpino, foi morto por um Trasgo. Aí eu lembrei a ele que você e Harry conseguiram desacordar um, logo no primeiro ano. Oi, Hermione!

Sem olhar para Harry, Hermione se dirigiu a Rony.

- Hum, será que eu podia falar com você um instante?

O estômago de Harry se contorceu furiosamente.

- Então, Gina - disse ele, se segurando para não olhar para Hermione, que ia saindo do quarto juntamente com Rony. - Dino ficou zangado?

Harry cerrou os dentes quando a porta fechou. Então se sentiu envergonhado, pois Gina parecia ter percebido.

- Ela não está contente com isso, a Hermione - disse Gina, compreensiva.

- Com o que é que ela deveria estar contente?

Gina, de repente, lançou um olhar muito estranho ao garoto.

- Harry, agora que eu entendi... - disse Gina, com a voz fraca.

- Entendeu o quê? - perguntou Harry, irritado.

- Você e a Mione. Vocês brigaram, mas... - Gina parecia estar fazendo muita força para conseguir falar. - Você está com... ciúmes dela?

Harry fitou ela, intrigado.

- Você gosta da Hermione - completou ela, parecendo falar mais para si mesma do que para Harry.

- Não estou entendendo aonde você quer chegar! - disse ele, alterado.

- Olha, Harry - Gina se levantou -, acho que vou dormir.

Harry ficou observando a garota se retirar do quarto, de cabeça baixa.

- O que há de errado com as garotas? - lamentou-se, abobado.

- Eu diria que não há nada com as garotas - disse Fineus Nigellus, do único quadro do quarto, fazendo Harry sobressaltar. - O problema é com você, garoto.

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