Caminho Inesperado



 


 


Com três dias de atraso do prazo final definido por mim mesma, aqui está o Capítulo Bônus. Tinha prometido não dar mais prazos, no entanto, cometi esse erro... É aquela velha história: o mar calmo sempre anuncia tempestade. Mas “navegar é preciso”, como afirmou Fernando Pessoa.
Com relação ao capítulo, devo dizer que é mesmo bônus por que não constava no meu roteiro original. Olhando a bola de cristal, porém, não pude conter a minha curiosidade de saber como Ron reagiu ao ver Hermione transformada em Belatriz, como disparou impropérios em cima do dragão, enfim...
Sem querer ser autoexplicativa, acrescento apenas que Ron e Hermione, apesar de apaixonados, continuam a ser... Ron e Hermione.


Boa leitura!


Morgana


 


* * * * *


 


 


 


 


 


O mar batia com força no rochedo naquela madrugada fria. Hermione jamais imaginou que passaria por isso. Era horrível ter que tomar a poção polissuco para se transformar em Belatriz Lestrante, bruxa das trevas que já causara tanto sofrimento para ela e os amigos. Não teve coragem de se olhar no espelho. Tentando se equilibrar naquelas botas de salto fino, saiu do quarto e foi para sala. Grampo descia a escada e a saudou com mau humor.


- Tem certeza que precisava se transformar na Madame Lestrange? – questionou de jeito azedo.


- Bom dia, Grampo. Isso já está decidido há muito tempo – respondeu da forma mais educada que conseguiu, mesmo se a voz grave de Belatriz garantisse uma dose de antipatia.


- Espero que não incorpore a personalidade dela... – o duende falou com certo receio.


- Precisamos ir. Ronald e Harry estão nos esperando do lado de fora – limitou-se a dizer.


Mesmo se sabia que Hermione a essa altura já tinha se transformado em Belatriz, um arrepio de terror percorreu o corpo de Ron ao vê-la saindo do Chalé das Conchas. O rapaz não conseguiu a princípio vislumbrar um traço qualquer da amiga escondido sob aquela figura odiável. Mas bastou chegar mais perto dela para perceber o medo e uma certa doçura, tão peculiar a Mione, por trás dos olhos muito negros. Apesar disso, estar perto de Hermione-Belatriz não era nada agradável.


- Nunca imaginei que fosse dizer isso, mas você está horrorosa, Mione – o rapaz afirmou enquanto a bruxa, empunhando a varinha, fazia Ronald Weasley desaparecer para dar lugar a um rapaz de barbas, cabelos grandes e ondulados, sobrancelhas grossas, sem sardas e com nariz mais curto.


- Nem me fala. Também eu estou me sentindo horrorosa – reconheceu e a forma como falou, mesmo se a voz era grave, confirmou mais uma vez que aquela era Hermione Granger.


- Com certeza agora também devo estar feio à sua altura – ele disse com um meio sorriso.


- Até que não. Você ficou bem de barba – garantiu Hermione abrindo um sorriso e Ron mais uma vez se assustou, dessa vez com aqueles dentes amarelados e feios.


A bruxa, que havia concluído a transformação de Ron, perguntou a Harry o que achava da nova aparência do amigo. “Bem, ele não faz o meu tipo, mas dará para o gasto”, respondeu o rapaz, arrancado uma risada de Hermione-Belatriz e uma careta do ruivo.


Logo os quatro desaparataram. Harry com o duende às costas, ambos escondidos sob a Capa da Invisibilidade. Chegaram ao Beco Diagonal que agora era um lugar sombrio, com muitos estabelecimentos fechados, lojas de Artes das Trevas e alguns poucos bruxos com aparência de mendigos esmolando ouro. Era estranho também observar como todos fugiam ao ver Hermione, agora transformada em Belatriz, passar.


Um homem com uma bandagem ensanguentada sobre um dos olhos, porém, ao invés de se esconder se colocou à frente da bruxa, começando a falar com dor e desespero. “Meus filhos! Onde estão meus filhos? Que foi que ele fez com os meus filhos? Você sabe, você sabe!”, berrava, parecendo enlouquecido.


O instinto de proteção que Ron tinha por Hermione, com certeza fruto do seu amor pela menina, falou mais alto. Mesmo se ela ainda trazia os traços embrutecidos e feios de Belatriz, o rapaz sabia que aquela era a sua Mione. Por isso ergueu a varinha e agiu rápido. No mesmo instante que o homem alucinado avançou e tentou agarrar o pescoço da bruxa, foi estuporado por Ron.


Não foi fácil chegar ao cofre de Belatriz Lestrange. Primeiro tiveram que enganar Travers, um Comensal da Morte desconfiado que encontraram no Beco Diagonal e os acompanhou até Gringotes. Ele estranhou ver a bruxa da linhagem dos Black na rua depois que o episódio da fuga de Harry Potter da Mansão dos Malfoy se espalhou na comunidade mágica.


Harry, sob a Capa da Invisibilidade, precisou usar a varinha para confundir os bruxos que guardavam a entrada do banco e utilizavam os “honestímetros” para detectar feitiços de ocultamento. Mas o pior para o Menino-Que-Sobreviveu foi utilizar uma maldição imperdoável, a Imperius. Primeiro em Brogode, o velho duende que ocupava um dos balcões do salão de mármore do Gringotes e suspeitou da identidade de Belatriz. Travers, a essa altura ainda mais desconfiado, também foi atingido pela mesma maldição.


Quando entraram no vagonete que os conduziria aos andares subterrâneos do banco, Hermione se dirigiu a Ron. “Obrigada por me defender. Aquele homem alucinado teria me assassinado. Acho que muitas pessoas têm motivos suficientes para querer matar Belatriz”, a bruxa falou.


- Ela mereceu conquistar tantos inimigos. Ainda bem que o jeito que fala e olha para mim não deixa dúvida que você é você. Se a poção polissuco mudasse também a personalidade, eu não a defenderia – o rapaz assegurou.


Em pouco tempo, o vagonete ganhou grande velocidade, descendo pelos trilhos repletos de curvas. Os muitos solavancos faziam os três amigos pular enquanto os seus corações também estavam aos saltos. Afinal, o burburinho dos duendes e os olhares desconfiados recebidos no salão de mármore do banco denunciavam que desconfiavam da veracidade dos disfarces de Ron e Hermione.


Depois de uma curva sinuosa, não tiveram tempo de frear para evitar passar por uma cascata que surgiu do nada. Além de ficarem encharcados com a força da água, logo foram lançados fora do vagonete, que capotou. Hermione, com sua inteligência rápida, lançou um feitiço Amortecedor para que não se machucassem na queda.


Enquanto Ron dava a mão para ajudar Hermione a se levantar, observou que ela perdera a aparência de Belatriz. “Que bom ter você de volta. Detestava olhar para o lado e ver aquela mulher ridícula”, o ruivo falou.


- Você também voltou a ser o Ron de sempre e perdeu a sua barba – a menina pensou alto, colocando a mão no próprio rosto para verificar, com alívio, que seus traços haviam retornado.


- Não sabia que você gostava de barba. Vai ver que foi por isso que Krum deixou crescer aquela barbicha horrorosa – Ron rebateu com o jeito implicante que Mione detestava.


- Ah, finalmente! Fazia tempo que você não falava de Krum...


- Estava com saudades?  - ele provocou. 


- Das suas crises de ciúme sem fundamento? Claro que não. Achei que você era outra pessoa, que tinha amadurecido. Mas pelo visto voltou a ser o mesmo Ron de sempre não apenas na aparência, mas também no jeito ciumento – constatou.


- Ciúme? Claro que não tenho ciúme...


- Podem parar, vocês dois! Não estão vendo que estamos em apuros – Harry falou alto, irritado ao ver que os amigos começavam a discutir.


- O que houve? Não temos mais o vagão. Como vamos chegar ao cofre? – Ron questionou finalmente se dando conta da gravidade da situação em que se encontravam.


- Não prestou atenção no que Grampo falou? Aquela não era uma simples cascata e sim o feitiço Queda do Ladrão, que lava e desfaz todos os disfarces mágicos. Por isso voltaram a ser vocês mesmos – explicou com certo nervosismo.


- Duendes e bruxos já sabem que há impostores em Gringotes e acionaram as defesas contra nós! Logo vão nos alcançar – Grampo repetiu.


A única solução era seguir pelos trilhos a pé até o cofre dos Lestrange. Por precaução, Hermione lançou um feitiço protetor enquanto Harry colocava o duende Brogode, mais uma vez, sob o domínio da Imperius.


Uma das maiores surpresas veio quando já quase alcançavam o cofre. Precisariam passar ao lado de um grande, pálido e quase cego dragão. Se a visão lhe faltava, o olfato ainda era dos melhores. No entanto, bastava sacudir os cêmbalos, pequenos instrumentos de metal que reproduziam os sons de martelos e bigornas, para que o gigantesco animal recuasse.


- Veja como o dragão está machucado, Ron. Com certeza foi ferido por espadas em brasa ao som desses instrumentos – reparou Hermione pesarosa.


- Por isso ele treme assim e recua sempre que escuta o som. Carlinhos ficaria horrorizado se visse isso – completou o rapaz que, mesmo se não nutria a mesma paixão do irmão pelos dragões, também sentiu pena do animal.


xxx


Tinham muitas queimaduras pelos corpos, adquiridas pelo simples toque nos objetos guardados no cofre dos Lestrange e protegidos pelos feitiços Abrasador e Duplicador. Estavam sem a espada de Gryffindor, porém levavam a taça de Hufflepuff escondida no blusão de Harry. Foi com essas condições e com os corações disparados que os três amigos subiram no dragão.


A aventura foi mais perigosa que emocionante. Haviam sido bem-sucedidos na missão de encontrar uma nova horcrux, mas tinham sido descobertos. Não seria fácil sair do prédio do Gringotes, mesmo se montados naquele gigantesco dragão enfurecido.


Para sorte dos três amigos, o dragão parecia ainda mais decidido que eles a sair de Gringotes e ganhar a liberdade. Lançava labaredas de fogo pela boca, abrindo passagem por entre as paredes. Hermione, mais uma vez, agiu rápido e lançou um feitiço para ajudar a derrubar o teto. Ron e Harry também ergueram as suas varinhas para auxiliar na fuga.


Chegaram finalmente ao saguão de mármore. Os bruxos e duendes, clientes e funcionários do tradicional banco, se desesperaram ao ver o dragão.  Sentindo a proximidade do ar fresco, o animal lançou chamas e forçou as portas de metal, que se abriram. Em pouco tempo, esticando completamente as grandes asas, começou a voar.


- Que bosta! Que porcaria de dragão. Essa besta fedorenta e cega ainda vai nos derrubar – berrava Ron quando o animal começou a alcançar uma velocidade surpreendente.


- Ai, meu Deus! Não posso olhar para baixo. Ele está voando muito rápido e muito alto – choramingava Hermione sentada no dorso do animal, entre Harry e Ron.


O ruivo continuava a disparar impropérios e um solavanco do animal fez com que fosse empurrado em direção da menina, que soltou um gemido. “Desculpe-me. Esse dragão estúpido vai acabar nos matando”, resmungou alto. “Não fala isso nem de brincadeira, Ron”, disse a menina que chorava baixinho.


- Eu também não quero que a minha vida acabe agora, Mione. Assim nem vou morrer como herói – garantiu em tom de voz mais baixo.


- Claro que vai morrer como herói, Ron. Você já destruiu pessoalmente uma horcrux, acaba de ajudar a capturar outra e está ao lado do Menino-do-Menino que sobreviveu tentando acabar com o Lorde das Trevas – Mione retrucou sem conseguir conter um tremor e o frio na barriga ao sentir o rapaz aproximar o rosto do dela para ouvi-la melhor.


- É, pode ser. Mas eu não quero morrer nem mesmo como herói. Tenho planos melhores para a minha vida – falou ao ouvido da menina.


- Quais planos, Ron? – ela perguntou, mesmo sabendo que era impossível aprofundar qualquer assunto sério durante aquele arriscado voo no dragão – Um tempo atrás você contou que pensava em casar e ter oito filhos. Depois disse que havia desistido...


- Ai! Droga! Esse dragão precisar virar o corpo e mudar de direção tão rápido assim! – queixou-se o ruivo – Acho que não dá para conversar agora, Mione.


A menina, que detestava voar até mesmo de vassoura e estava temerosa com aquela inusitada viagem, concordou com o ruivo. Ficaram em silêncio o restante do voo. Os três, que sentiam a dor das queimaduras e o frio cortante da alta altitude, tinham uma mesma preocupação. Não sabiam como fazer o dragão aterrissar e chegar à terra firme.


“Que acham que ele está procurando?”, berrou Ron para poder ser ouvido também por Harry ao perceber que o dragão rumava sempre para o norte. “Não faço ideia”, o amigo gritou em resposta.


A viagem continuou veloz e muito fria. A essa altura, os três já sentiam fome e sede. Economizavam palavras para não gastar as últimas energias que ainda tinham. Depois de longos minutos de silêncio, de sobrevoarem cidades e povoados que pareciam minúsculos vistos do alto, Ron finalmente gritou: “É minha imaginação ou estamos perdendo altitude”?


Começavam a declinar rapidamente e a paisagem, iluminada pelos tons laranja do pôr do sol, tornava-se cada vez mais nítida. Lagos se destacavam entre as montanhas e os amigos pareceram pressentir que o animal talvez precisasse beber água e por isso resolvera descer.


Foi Harry que, depois de dar o comando para subirem no dragão, agora também avisava aos amigos que chegara a hora de saltar. Estavam a poucos metros do lago e já podiam ver a barriga amarela do dragão refletida na água. “Agora!”, berrou e os três se atiraram sem pensar.


Chegaram às margens do lago tremendo de frio e tossindo. Hermione, sempre preocupada com a segurança, logo lançou feitiços de proteção nos arredores. Ao chegar ao gramado onde os amigos estavam sentados, assustou-se ao ver o quanto estavam feridos. Tratou de pegar rapidamente a essência de ditamno da bolsinha de contas e passar para Harry.


- Foi horrível! Por pouco não nos espatifamos no chão – Ron reclamou – Lembrem-me de nunca mais viajar... Como é mesmo que se chamam aquelas empresas de voo trouxas, Mione?


- Companhias aéreas, Ron – a menina, que tremia de frio, respondeu.


- Então... Lembrem-me de nunca mais viajar nessa companhia área de dragão – disse com aquele mau-humor que era jocoso ao mesmo tempo.


- Eu também não quero viajar mais nessa companhia, Ron, pode ter certeza – falou Harry com uma risada enquanto colocava ditamno nos braços.


Hermione pegou a essência para terminar de aplicar em Harry, que não podia ver os ferimentos do rosto. Ron continuou resmungando, com a voz tremida pelo frio. “Ah, e lembrem-me também de escolher melhor ao lado de quem vou sentar quando entrar novamente no Expresso de Hogwarts”.


- Você se arrependeu de ser meu amigo? – retrucou Harry.


 - Lógico que não. Mas o problema é que nos três, juntos, só nos metemos em confusão – afirmou Ron fazendo uma engraçada careta.


 - Achei que depois de sete anos você já tinha se acostumado com isso – provocou Harry.


 - Não dá para se acostumar a quase perder a vida todos os dias – garantiu o ruivinho.


 - Sem exagero, Ron. É dia sim, dia não... – completou Harry e os dois deram juntos uma grande gargalhada.


- Pode ficar quieto, por favor, Harry, até eu terminar de aplicar o ditamno? – perguntou Mione – Pronto! Agora deixa eu passar a essência em você, Ron.


Somente então Hermione olhou melhor para o ruivinho e não conseguiu conter uma exclamação de espanto. “Você está horrível! Como conseguiu se machucar tanto?”, questionou nervosa.


- Está preocupada comigo? Adoro quando você faz essa cara de aflita – Ron falou.


- Mas você precisava se machucar tanto assim? – a menina contra-argumentou.


“Podem deixar essa conversa romântica para depois? Detesto segurar vela”, Harry disparou dando uma risadinha. A menina protestou: “Harry! Que besteira é essa”? Ron, porém, ficou quieto.


Quando terminou de passar ditamno em Ron, a bruxinha começou a cuidar dos próprios ferimentos e contou com a ajuda de Harry para aplicar a essência no rosto.  Em seguida, tirou da bolsa de contas roupas secas e suco de abóbora. 


- Bem, pelo ângulo positivo, conseguimos a Horcrux. Pelo negativo... – comentou Ron.


- Nada de espada – concluiu Harry.


- Nada de espada. Aquele trairazinho safado... Pelo menos esta não podemos usar, ia ficar meio esquisito pendurar uma taça no pescoço - comentou Ron depois de tomar um gole do suco de abóbora.


Ao ver da dragão bebendo água na outra margem do lago, Hermione perguntou com preocupação: “Que acham que vai acontecer com ele? Será que vai ficar bem”?


- Você está parecendo o Hagrid. É um dragão, Hermione, sabe se cuidar. É conosco que temos de nos preocupar – respondeu o ruivo.


- Como assim? – interrogou a menina, que acabara de colocar roupas secas e estava exausta.


- Bem, não sei como lhe dar a notícia, mas acho que eles talvez tenham notado que arrombamos o Gringotes – disse sorridente.


Os três caíram na gargalhada. Depois de todos os perigos inesperados que haviam enfrentado naquele dia, tudo que mais precisavam eram descontrair. E as risadas se prolongaram por muito tempo. 


Harry se deitou e os dois amigos acharam que estava simplesmente descansando. Não imaginavam que a sua mente começava a entrar em contato com a de Voldemort. Foi então que a menina notou que um corte no canto esquerdo dos lábios do ruivo estava sangrando.


- Tem que passar a essência de ditamno neste machucado aqui – sugeriu, levando a mão próxima ao ferimento.


- Certos machucados só podem ser curados com um beijo – disse o rapaz sem pensar muito, ficando imediatamente com as orelhas escarlates.


- Deixa de ser ridículo, Ron – a menina falou batendo com a bolsa de contas nos braços do rapaz.


- Calma! Eu não terminei. É com um beijo materno. Minha mãe sempre beijava o local machucado quando não era grave. E sabe que eu ficava bom? – tentou explicar ao ver a reação de Mione.


Hermione não gostou do comentário e não aceitou aquela desculpa. Para a menina, o sentimento que tinha pelo rapaz e acreditava cada vez mais ser correspondido era assunto sério. Chegou a pensar que Ron falava assim por saber que ela gostava dele. Mas não podia acreditar que o rapaz pudesse brincar assim com algo tão importante. Preferiu ficar quieta, mas o jeito torto que olhou para o ruivo não deixou dúvidas da mágoa experimentada pela morena.


O momento um tanto constrangedor foi quebrado quando Harry começou a se mexer e contorcer, falando palavras indecifráveis. Pela expressão do amigo, não foi difícil perceber que havia feito nova e involuntária excursão à mente de Voldmort. Quando finalmente conseguiu abrir os olhos, o rapaz limitou-se a dizer: “Ele sabe”.


- Sabe o quê, Harry? – Hermione perguntou preocupada.


- Ele sabe que apanhamos a taça e vai verificar as outras Horcruxes. A última está em Hogwarts – afirmou.


Ron ficou assustado. Não esperava que Hogwarts pudesse ser invadida pelo Lorde das Trevas. Aquela era a escola deles três, da família Weasley, de toda comunidade bruxa da Inglaterra e havia formado gerações. Hermione, que estava tensa, perguntou mais detalhes sobre a descoberta. Harry explicou tudo que havia visto por meio da mente de Voldemort.


Os dois amigos começaram a se movimentar, Ron recolhendo a Horcurx, Harry, apanhando a Capa da Invisibilidade. “Esperem. Não podemos simplesmente ir. Nem temos um plano, precisamos...”, começou a menina.


- Precisamos ir andando. Vocês podem imaginar o que ele vai fazer quando descobrir que o anel e o medalhão desapareceram? E se mudar o esconderijo da Horcrux de Hogwarts, resolver que não está bastante segura? – argumentou.


Os amigos concluíram que o melhor caminho para a escola era por Hogsmeade. Como já anoitecia, mesmo se seus pés ficassem descobertos por baixo da Capa, aquela era a forma mais segura de chegar até a tradicional vila. Ainda puderam ver o dragão sumindo no horizonte e agradeceram silenciosamente àquele ser por lhes ter ajudado a fugir do Gringotes.Pouco depois do animal levantar voo, os três desaparataram.


xxx


Escondida junto aos dois amigos debaixo da Capa da Invisibilidade, Hermione via os Comensais da Morte se aproximar sem nada poder fazer. Era questão de tempo até serem descobertos. Foi quando sentiu uma mão forte e grande envolver a sua. Não precisava olhar para o lado. Sabia quem era. Talvez não existisse uma explicação lógica, mas sempre que Ron lhe dava a mão se sentia segura, confiante, pronta para enfrentar qualquer perigo.


Ron percebeu que a mão da menina estava fria e a envolveu com mais força. Sempre observara e gostava muito das mãos de Hermione. Eram tão pequenas e delicadas comparadas às suas e, ao mesmo, elas se encaixavam tão bem.


A tentativa de desaparatar fora frustada. Feitiços lançados pelos Comensais os impediam de sair dali. Logo foram cercados por dementadores convocados pelos seguidores de Voldemort. Caso conjurassem seus patronos, seriam descobertos. Ron apertou com tamanha força a mão da menina, que ela deu um gemido fraco. Foi quando da varinha de Harry irrompeu um cervo prateado, despertando imediata atenção dos bruxos das trevas.


Dizem que quem faz o bem sempre encontra ajuda na hora certa. Os três amigos puderam comprovar isso. “Potter, entre depressa”, falou uma voz áspera ao mesmo tempo em que uma porta se abria. Os três não pestanejaram e logo alcançaram o interior de um bar sujo. Já tinha estado ali outras vezes. Era o Cabeça de Javali, conhecido por ser o local de encontro de bruxos de caráter duvidoso.


- Suba, não dispa a capa, fique quieto! – murmurou a voz que ainda não desconfiara que Harry não estivesse sozinho.


Do segundo andar do bar, os três amigos puderam escutar a conversa entre o “salvador” deles e os Comensais. Com um tom rude e firme, o homem garantiu ter sido ele a conjurar o patrono e acionar o Feitiço Miadura, que disparava quando alguém quebrava o toque de recolher noturno.


Enquanto esperavam em silêncio o desenrolar da conversa, Ron entrelaçou seus dedos aos de Mione e começou a acarinhar o dorso da mão da menina com o polegar. A bruxa se sentia tímida mas ao mesmo tempo feliz com aquele toque suave.


Quando percebeu que os Comensais tinham ido embora, Hermione se desvencilhou das mãos do ruivinho e saiu da Capa da Invisibilidade, deixando Ron frustrado.  Os dois rapazes também deixaram a Capa ansiosos para poder ver melhor o local onde se encontravam.


- Lembra quando eu falei que precisava escolher melhor ao lado de quem sentar no Expresso de Hogwarts? O que estava querendo dizer é que nós três juntos somos uma mistura explosiva – Ron comentou.


- Sou obrigada a concordar, com uma ressalva. Vocês dois é que têm vocação para entrar em encrencas. Eu só participo para tentar ajudar – rebateu Hermione.


- Na verdade, você está sempre se metendo onde não é chamada – Ron contrapôs.


- O que você está falando, Ron? Definitivamente, você sofreu uma regressão – a menina protestou.


- Mas isso é verdade, Hermione. Eu e Harry estávamos lá conversando tranquilamente no vagão e você entrou para perguntar se a gente tinha visto o sapo de estimação do Neville...


- Ron! Eu não vou responder à sua provocação – a menina limitou-se a dizer.


- Mas quem disse que não acho isso bom, Hermione. Para sorte nossa, você sempre se meteu nas nossas vidas. Não é, Harry? – buscou a cumplicidade do amigo ao ver a cara fechada de Mione.


- Com certeza! Se não fosse você, com sua mente brilhante, já tínhamos morrido há muito tempo – Harry enfatizou, para alívio de Ron.


- Não precisa exagerar, Harry. Acho que não morreríamos, mas já teríamos sofrido um grande estrago – Ron argumentou, dando uma risada.


- Parem com isso! Já não acham suficientes os perigos que estamos correndo e ficam falando de morte – Hermione afirmou com autoridade.


Foi apenas então que reparam no bruxo alto, pálido, de olhos muito azuis, com cabelos e barbas grisalhos. Hermione se perguntou por que nunca havia reparado naquele barman antes e, especialmente, como não notara o quanto parecia com Dumbledore.


Em pouco tempo descobriram que se tratava de Aberforth, irmão mais novo do ex-diretor de Hogwarts. Aquela, na verdade, era a segunda vez que os salvava. Tinha sido ele que adquirira a duplicata do espelho de Sirius e, vigiando Harry, descobrira que se encontrada em apuros e mandara Dobby o salvar.


O aconchego de um lugar seguro e comida era tudo o que os amigos precisavam. Ron devorou com vontade algumas fatias de pão de forma acompanhadas de queijo e bebeu um bom copo de hidromel. Harry e até Hermione, que fazia refeições com parcimônia, se alimentaram muito bem aquela noite. Afinal, não era todo dia que gastavam energia invadindo um banco, fugindo nas costas de um dragão, escapando de Comensais e dementadores.


Harry se sentia pesado de tanto comer e se levantou um pouco. Aberforth o acompanhou e começou a conversar tentando descobrir o que rapaz tinha vindo fazer em Hogsmead. Acreditava que ele estava disposto a entrar em Hogwarts e se encontrava convencido que precisava impedi-lo a fazer tamanha loucura.


No momento em que se encontrou a sós na mesa com Hermione, Ron olhou com profundidade para a menina e sofreu ao ver como ela estava abatida.


- Não era para você estar aqui, Mione. Correndo todo esse perigo...


- Já falamos sobre isso. Você acha que por eu ser mulher não posso enfrentar perigos? Essa era uma ideia dos feiticeiros da Idade Média que consideram o gênero feminino inferior. Mas veja que na História da Magia são citados mais nomes de bruxas que de bruxos  – a menina começou.


- Não acho nada disso, Mione! Pelo contrário. Acho as bruxas são maravilhosas. Que seria de nós, bruxos, se não fossem vocês? – respondeu com um sorriso torto.


- Também não precisa levar a conversa para esse lado. Achei que a sua fase Don Juan já tinha passado – a morena reclamou.


- Don Juan? O que é isso? – perguntou espantado


- É uma figura lendária, retratada também na literatura. Don Juan ficou conhecido por conquistar muitas mulheres sem de fato gostar de nenhuma – a menina explicou


- Conquistar muitas mulheres?! Eu não sou louco para querer isso. Queria conquistar uma única bruxa, mas nem isso estou conseguindo – garantiu o rapaz com um risinho e orelhas muito vermelhas.


Hermione não sabia por que, mas se sentiu pouco confortável com essas palavras. Alguma coisa lhe dizia que aquela única bruxa era ela. Lembrou-se do livro que encontrara debaixo do travesseiro de Ron, n’A Toca, e seu rosto corou com intensidade. Para sorte dela, Harry e Aberforth voltaram a se juntar aos dois.


Os amigos acompanharam a história da família Dumbledore, com certo espanto, surpresa e dor. Não era uma história com final feliz e sim marcada pelo sofrimento imposta pela “doença” de Ariana e trágicas fatalidades que culminaram com a prisão do pai, morte da mãe e da própria menina.


Não foi fácil convencer Aberforth a mostrar um caminho para Hogwarts. Todas as passagens secretas reveladas no Mapa do Maroto estavam fechadas e havia Comensais dentro e fora da Escola de Magia. O irmão do meio de Alvo Dumbledore parecia convicto que o melhor a fazer era convencer Harry Potter e seus amigos a se refugiar no exterior.


Aos poucos, no entanto, vendo a firmeza e a coragem de Harry e dos seus dois amigos, o ex-membro da Ordem da Fênix percebeu que precisava ajudá-los. Logo os três ficaram sabendo que a taberna, conhecida por ser o ponto de encontro de bruxos com reputações nada boas, havia se transformado. Agora era a porta de entrada do verdadeiro exército do bem que vinha se reunindo para derrotar o Lorde das Trevas e seus aliados.


Com curiosidade e susto, viram a menina loura do quadro, que logo perceberam tratar-se de Ariana, seguir por um túnel pintado atrás dela. Alguns poucos minutos depois, a bruxinha voltou, mas já não estava sozinha. Uma figura muito familiar e querida foi ganhando forma aos poucos diante dos olhares perplexos dos três amigos. Era Neville Longbotton.


Depois de sair pelo quadro e descer por meio do console até a taberna, Neville recebeu os dois rapazes e Hermione com fortes abraços e um largo sorriso. “Eu sabia que você viria!”, ele não se cansava de repetir olhando para Harry.


Não podiam perder tempo. Logo subiram pelo console e alcançaram aquela curioso túnel, na verdade uma passagem muito antiga e até há pouco desconhecida que dava para Hogwarts. Quando já caminhavam pela estreito túnel, Mione se virou para Ron, que estava ao lado dela.


- Eu me sinto tão nervosa por estar voltando a Hogwarts. Essa escola é tão importante para mim... Aqui vivi as melhores e as piores emoções da minha vida. É tão estranho retornar à escola nesse momento – confessou.


- Mione, talvez não acredite, já que nunca gostei de estudar como você, mas Hogwarts é minha segunda casa. Eu tenho ótimas lembranças do tempo que estudamos aqui. E péssimas também – o ruivo falou.


Os dois trocaram um olhar profundo. A menina abriu o coração. “Eu estou bem ansiosa, Ron. Tenho medo do que a gente vai encontrar”, ela afirmou.


- Eu prometi que ia ficar do seu lado durante toda a missão, não foi? Agora quero ficar ainda mais próximo. Não vou sair de perto de você – garantiu, envolvendo com carinho a mão da menina


- Que bom, Ron. Eu vou precisar mesmo de você – reconheceu.


De mãos dadas e com grande ansiedade, Hermione e Ron seguiram apressados atrás de Neville e Harry. Temerosos pelo que aconteceria na escola, não podiam suspeitar das fortes emoções reservadas aos seus corações enamorados.


xxx


Para ouvir antes, durante ou depois de ler o capítulo:


Kiss Me


http://irpra.la/m/1124011


(…)
And your heart's against my chest,
your lips pressed in my neck
I'm falling for your eyes,
but they don't know me yet
And with a feeling I'll forget,
I'm in love now 


Kiss me like you wanna be loved
You wanna be loved
You wanna be loved
This feels like falling in love
Falling in love
We're falling in love


 


 

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Comentários (20)

  • Morgana Lisbeth

    Tati, eu me diverti também escrevendo esse capítulo. Os três cada vez mais maduros e, ao mesmo tempo, tão adolescente, tão eles mesmos, com seus defeitos e qualidades

    2013-04-26
  • Tati Hufflepuff

    Adorei o capítulo! as tiradas foram ótimas!! Harry fez um comentário tão curto e certeiro que me segurei pra não rir demais aqui! Ron ciumento = tudo de bom! auahuahauhauahuahuahauhauah Ansiosa pros próximos! :**

    2013-04-22
  • Priscilla Moreira

    Vou comentar bastante pra te motivar a postar mais um!! Aguardamos ansiosos!! beijos

    2013-03-12
  • Morgana Lisbeth

    Olá, meninas! Fernanda, estava sentindo a sua falta! Você viu que me inspirei na sua “agitação” by twitter para lançar a campanha do Capítulo Bônus? Deu supercerto (hehehe)! Realmente corta o coração ver o gelo que Mione está dando em Ron... Mas ele também vem sendo cruel, já que a menina assumiu um compromisso de se manter firme até o fim da missão. Mas o fato é que a inteligente bruxinha prepara uma vingança (hehehe). Pois é, Lílian, os opostos se atraem e se complementam. Agora entramos no momento mais tenso, com o início da guerra, mas também o mais emocionante da história. Conto com vc! Sil, tenho outros projetos pessoais mas, quando penso em abandonar Ron e Mione, muitas cenas e imagens dos dois vem à minha mente... Foi num desses dias que gastei várias folhas de um bloquinho (não estava na frente do micro) escrevendo algumas cenas deles já casados. É interessante vê-los mais maduros, mais e mais apaixonados e, ainda assim, explosivos como eles só (hehe).

    2013-03-01
  • Sil86

    Querida Morgana amo Rony e Mione e se depender de mim você terá todo o apoio pois adoro suas fics! Você consegue descrever com perfeição todo o sentimento presente em cada cena. Na torcida para que você resolva continuar!

    2013-02-28
  • Lilian Granger Weasley

    HAAAAA!!!! quero mais!!! adoreiii Muito fofo esses dois adorooo essas brigas deles mostra mais q a fisica ta certa em dizer q os opostos se atraim!! Parabéns pelo belo capítulo!! :)

    2013-02-27
  • FernandaGrif2

    Ooooooooooooiiiiiiiii *-------* Acabei de ler os 2 lindos capitulos e eu estou totalmente emocionada; Pra começar não devia estar no computador agora, porque amanha acordo cedo para a aula, mas é impossivel deixar a leitura pra depois. O fato é que meu computador quebrou a 15 dias atras e só voltou hoje. (como eu ja tinha dito no twitter) me desculpe pela ausencia e espero que isso não aconteça outra vez u.ú A Hermione é muito cabeça dura, não? Ron só dando investidas e ela nada. Mas tudo bem... entendo o lado dela também. Achei totalmente perfeitas as formas como o Ron tentou convencer a Mione a lhe dar um beijo usahsuhau principalmente com "Certos machucados só podem ser curados com um beijo" Achei super fofo os passeios dos dois na praia e os dois de mãos dadas indo pra Hogwarts ;)Não me canso de dizer que você escreve muito bem. vou esperar pelo proximo. Beijinhos 

    2013-02-27
  • Morgana Lisbeth

    Contabilista, Julliano? Que cois mais chique! E eu que mal sei qual o resultado da soma de 2 + 2 ... Ainda bem que alguma coisa a gente tem em comum (hehe). Abração!P. S: Vou tentar ser menos dramática. Tudo bem que sinto falta dos meus leitores sumidos, mas acho que ainda falta muito para entrar em desepero :) 

    2013-02-27
  • Julliano César Carneiro Viana

    Oi Morgana,mais um ótimo cap. O problema dos dois é excesso de paixão reprimida(publicamente). Enfim,vou fazer td esforço possível pra comentar os novos caps(pq agora começa a pior parte do ano pra um contabilista),portanto ñ se desespere se meu comentários demorarem um cadinho...

    2013-02-27
  • Morgana Lisbeth

    Olá, Mellissa, Eliana Freitas e Lele! Fico feliz em saber que gostaram do capítulo. Então valeu a pena não guardar apenas para mim o que a bola de cristal me revelou.Mel, acho que esses dois vão discutir a vida toda. Cada vez com menos intensidade, menor zanga, enfim, só para não perder o hábito e ter a emoção da reconciliação (hehe).Também eu, Lele, estou na maior expectativa (para não dizer tensa) com O beijo. Existem zilhões de formas de retratar esse momento e só posso escolher uma.. ai, ai! Mas vamos com coragem, tentando, ao máximo, ser fiel à história de amor desse dois queridos :)) 

    2013-02-27
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