No Chalé das Conchas





Meus queridos,


O slogan do último filme de Harry Potter, mesmo se nostálgico, é muito verdadeiro e traduz o que estou sentindo nesta etapa da fic: “Tudo termina”. E estamos caminhando para o fim da minha leitura das “entrelinhas” dessa bela história de amor. Talvez quem goste de aventuras tenha sentido falta de mais ação, mas devo admitir que minha meta era fazer um texto intimista mesmo, com um toque de humor sempre porque triste seria a vida se não soubéssemos rir. Um recurso que amo também e do qual usei e abusei aqui são os diálogos. Adoro colocar os personagens para conversar, como puderam perceber. Espero que curtam. Boa leitura!


Beijos,


Morgana


P.S: Parafraseando a minha linda leitora FernandaGrif2, estou querendo “agitar isso aqui”. Então a proposta é essa: se até o final do domingo (17/2) cinco diferentes leitores postarem comentários colocando no final a frase “Quero capítulo bônus”, o cap. 21 sai na próxima semana. Combinado? Então vamos agitar que a fic está muito parada (hehe)!!!


* * * * *


 


 


 


 


Era quase um sussurro, mas ela nunca deixaria de reconhecer aquela voz. Nenhuma outra voz tinha aquele efeito de aquecê-la de todo frio, amenizar as dores, trazer esperança e alegrar o coração. Havia sido essa voz que dera força para que resistisse a tortura sofrida algumas horas antes pelas mãos da maléfica Belatriz.


Aquela voz tantas vezes pronunciara o seu nome de uma forma carinhosa, única, como nenhuma outra. Em muitos momentos também se alterara, nervosa ou irritada. Mas naqueles instantes de intenso sofrimento na Mansão dos Malfoy, tinha se transformado em berros desesperados. E foi o seu nome gritado várias vezes por essa voz que lhe deu certeza de que não estava sozinha, de que conseguiria e precisava resistir.


Aos poucos aquela voz foi ganhando novamente forma e ela pôde entender as palavras que dizia, com tanto sentimento e ternura. “Eu estou aqui. Não vou mais sair do seu lado. Vou cuidar de você, como prometi. Mas, por favor, fica bem”, dizia, aquecendo mais uma vez o coração da menina.


Ela sentia que não tinha forças para se mexer, nem para abrir os olhos. Belatriz parecia haver tirado toda a sua energia. Mas aquela voz, com palavras inesperadas e carinhosas, aos poucos a revigorava. “Eu te amo tanto, Mione. Preciso muito de você. Fica bem, por favor”.


Será que seu coração continuava a bater? Ela não estaria em outra dimensão? Aquilo tudo não seria um sonho? Escutara direito o que aquela voz da qual tanto gostava havia falado? Hermione precisava abrir os olhos e ver se Ron estava realmente ali, dizendo o que esperava ouvir há muitos e muitos meses. “Eu te amo tanto, Mione. Preciso muito de você”.


Quando finalmente conseguiu abrir os olhos, viu logo aqueles cabelos vermelhos perfumados, que estavam despenteados como nunca. O rapaz, sentado em uma cadeira ao lado da cama onde se encontrava a menina, tinha a cabeça baixa, apoiada sobre os braços. A voz silenciara, talvez vencida pela dor da espera de uma resposta aos seus suplicantes pedidos.


Hermione jamais estivera naquele quarto. No entanto, sabia onde se encontrava. Lembrava de Ron falando, quando a tomou nos braços na Mansão dos Malfoy, que iriam para o Chalé das Conchas. Tentou se levantar da cama macia que ocupava, mas sentiu uma forte dor na costela e não conseguiu evitar um gemido. No mesmo instante, o rapaz ergueu a cabeça. Ele trazia os olhos vermelhos. Com certeza tinha chorado.


- Mione? Como você está? – perguntou apreensivo, com a voz ainda muito baixa.


- Estou bem, Ron. Não precisa se preocupar – a menina sussurou.


O ruivo sabia que ainda não estava tudo bem. Hermione se encontrava muito enfraquecida, provavelmente também com corpo e alma doloridos depois de suportar a forte tortura. Fleur, que possuía uma habilidade especial com feitiços de cura, já havia servido algumas poções para a menina. A morena recobrara a cor do rosto, mas ainda tinha a expressão abatida.


- Foi horrível, Hermione. Ouvir você gritar e não poder fazer nada. Eu entrei em desespero – confidenciou.


- Eu ouvi você gritando o meu nome. Você não tem ideia de como isso me ajudou a suportar a dor. Sabia que precisava resistir a tortura por você. Pelo Harry. E pelo mundo bruxo também, é claro – falou sem evitar que uma lágrima escorresse por sua face.


O rapaz reparou nos arranhões nos braços da menina, provavelmente produzidos pelas enormes unhas de Belatriz. Mas foi o corte no pescoço que chamou mais atenção de Ron. Hermione havia sofrido demais. Não podiam continuar a relembrar aquele momento.


- Tudo terminou, Mione. Você está se recuperando. E não corremos risco algum aqui, no Chalé das Conchas. Gui e Fleur vão nos dar todo o apoio. Pelo tempo que precisarmos – garantiu o rapaz.


A bruxa abriu um sorriso tímido. Como amava aquele rosto sardento e os olhos azuis que a contemplavam com tanta profundidade. Precisava admitir que os gritos de Ron na Mansão Malfoy lhe deram força não apenas por assegurarem a preocupação do rapaz com ela. Eram também a prova de que o ruivo permanecia vivo e com energia suficiente para berrar o seu nome.


Consciente que a menina precisava descansar, Ron anunciou que sairia do quarto para deixá-la dormir um pouco Mas foi surpreendido pelo pedido da amiga. “Não vá embora. Por favor. Não quero ficar sozinha”.


Ron permaneceu sentado em um banco, na cabeceira da cama, até Hermione cair em sono profundo. Fleur entrou no quarto trazendo mais algumas poções. Foi quando Ron se deu conta que Harry, com certeza muito abalado pela morte de Dobby, deveria estar precisando dele.


Ao sair do Chalé, na companhia de Dino, Ron soube exatamente o que devia fazer. Não precisava falar coisa alguma. Bastava convocar uma pá e ajudar Harry naquela árdua e necessária tarefa de preparar o último repouso de Dobby. Nunca imaginou que um elfo doméstico poderia ser tão importante para ele. Mas aquele ser que antes lhe parecia tão desprezível havia salvado a vida de todos. Mas, especialmente, tinha libertada Hermione das garras da horrenda Belatriz.


Já era noite alta quando Ron entrou no Chalé para avisar Luna, Gui e Fleur que chegara a hora de sepultar Dobby. “Não fala nada para Mione. Ela já sofreu muito”, o ruivo pediu à cunhada, que encontrou em pé na sala, próxima à lareira.


- Herrmionii jan sabie, Rronald. Ela mi fez muites perguuntes e acheei melhorr falarr que Dobby havie morriido. Mionii fasse queston de ir ao sepultameento – contou Fleur, anunciando que conduziria a morena à área externa quando ela terminasse de se arrumar.


Um pouco a contragosto, Ron deixou novamente o Chalé e se posicionou ao lado de Harry. Menos de cinco minutos depois, a porta da sala se abriu. Gui, Fleur, Hermione e Luna saíram para se juntar ao grupo. O mais jovem dos Weasley não pensou duas vezes. Caminhou decidido ao encontro da morena que, mesmo se pálida, pareceu muito bonita aos seus olhos enamorados vestida com o robe rosa de Fleur.


Para apoiar os passos ainda vacilantes da amiga, Ron abraçou-a pela cintura. Caminhou ao lado dela em silêncio até chegarem junto ao túmulo. Mione passou todo o sepultamente abraçada ao ruivinho, sem conseguir evitar que muitas lágrimas molhassem o seu rosto. Na hora que finalmente começaram a jogar terra sobre o corpo franzino do elfo, a dor se apoderou da menina que fechou os olhos e apoiou a cabeça nos braços fortes do rapaz, recebendo em troca um afago nos cabelos.


- Vamos entrar, Hermione. Você já fez esforço demais. Precisa descansar um pouco – o rapaz falou.


Abraçados e em silêncio, Ron e Mione caminharam lentamente em direção ao Chalé das Conchas, sendo seguidos pelos demais. Apenas Harry permaneceu sozinho ao lado do túmulo do seu fiel amigo elfo.


Passava da meia-noite, mas nenhum dos hóspedes da casa dormia. Fleur cuidava do sr. Olivaras, que estava muito debilitado depois do longo tempo preso no porão dos Malfoy, e de Grampo. Hermione não conseguia ficar no quarto, apesar da insistência de Ron para que descansasse. Quando saiu para sala, encontrou o ruivinho sentado em uma poltrona da aconchegante sala do Chalé.


- Achei que você já tinha ido dormir. Está tudo bem? – Mione dirigiu-se a Ron.


- Agora sim. Mas não vou conseguir dormir. Não é possível colocar a cabeça no travesseiro e esquecer de tudo que aconteceu ontem – o rapaz respondeu.


- Eu também não consigo dormir. Harry já entrou? – a menina perguntou.


- Olhei há pouco pela janela e vi que ele está preparando uma lápide feita com uma das pedras da praia para colocar no túmulo de Dobby. Acho que Harry prefere ficar sozinho – afirmou Ron, que conhecia muito bem o amigo.


- Também acho. Está sendo muito difícil para Harry suportar a perda de Dobby – ela reconheceu.


Inesperadamente, o rapaz se levantou dizendo que não conseguia mais ficar sentado. “Preciso caminhar um pouco”, justificou-se. “Você vai lá fora?”, a morena quis saber. “Não, vou andar aqui mesmo, no corredor”, afirmou o rapaz. A menina achou curiosa aquela atitude do ruivo, mas não perdeu a oportunidade de acompanhá-lo.


- Ron? Por que você está tão tenso assim? É por causa da sua família, não é? Fleur falou comigo que seus pais e irmãos tiveram que deixar A Toca e ir para a casa da Muriel – Mione questionou.


- Claro que eu penso nisso. Também fico preocupado por que ainda não concluímos essa missão. Mas a minha maior tensão vem da lembrança do sofrimento que você enfrentou na casa dos Malfoy – revelou.


- Não precisa ficar mais tenso com isso. Eu estou bem...


Ron parou de caminhar. Já haviam dado algumas voltas no corredor que não tinha mais de três metros e era iluminado por uma luz difusa. Olhou a menina nos olhos e respirou fundo antes de continuar a falar.


- Não é fácil esquecer o que aconteceu. Foi horrível ouvir você ser torturada e estar naquele porão. Eu me senti um inútil, um fracassado. Mais uma vez não consegui fazer nada por você...


- Isso não é verdade, Ron. Você me defendeu o tempo todo e até se ofereceu para ser torturado no meu lugar. Não podia fazer nada sem a sua varinha, com as mãos amarradas – garantiu ao ver o sofrimento nos olhos do rapaz.


Estavam tão concentrados um no outro que não se deram conta do movimento na sala. Harry, que já tinha terminado de preparar a lápide de Dobby, entrara no Chalé decidido a localizar e destruir mais uma horcrux. Para isso, queria conversar com Olivaras e Grampo. O ruivo segurou as mãos da menina e se preparou para fazer uma importante confidência.


- Seus gritos... Queria estar sofrendo a cruciatus em seu lugar porque ouvir você gritar, sem poder fazer nada, foi ainda mais torturante. Eu nunca senti tanto medo e dor em minha vida. Na verdade, eu fiquei realmente desesperado. Não suportaria perder você - disparou, sem conseguir evitar que as orelhas ficassem vermelhas.


- Agradeço muito o seu carinho. Eu sei da sinceridade da sua amizade – tentou mudar o rumo da conversa.


- Não é amizade! – disse o rapaz de um jeito quase ríspido, deixando a menina desconcertada.


- Como Ron? – perguntou vacilante e já com as faces enrubescidas.


- Você sabe muito bem, Mione, que o sentimos um pelo outro não é amizade. Pelo menos não é só amizade. Sempre foi confuso, contraditório, complexo, mas, acima de tudo, intenso, muito intenso – falou o rapaz num fôlego só, com a voz suave, e um olhar perigosamente apaixonado.


Hermione entreabriu a boca, querendo emitir alguma resposta. Mas não tinha o que dizer. Sem desviar os olhos, com a fisionomia levemente assustada, percebeu o rapaz se aproximar. O ruivo estava cada vez mais perto e, num gesto decidido, levou uma das mãos à face da menina, na tentativa de direcioná-la até que os seus lábios se encontrassem. “Ron vai me beijar”, constatou com o coração aos saltos. Dessa vez, tinha certeza, não conseguiria empurrá-lo.


Os dois, mesmo se muito embaraçados, estavam hipnotizados um pelo outro. Antes dos seus lábios se encostarem, porém, foram despertados daquele transe por uma voz decidida e familiar.


- Ron? Mione? Onde estão? Eu preciso de vocês também! – Harry chamou.


O Menino-que-Sobreviveu estava tão concentrado em explicar o seu plano aos amigos que não deu importância ao fato dos dois terem surgido no batente da porta com rostos afogueados e estranhamente aliviados.


Mais uma vez muito próxima de quebrar o compromisso assumido com Minerva, a menina sentiu-se como quem se livra de um perigo. Ron, mesmo se queria muito que aquele sonhado beijo finalmente acontecesse, admitiu a interrupção de Harry como necessária. Afinal, no fundo temia mais uma vez ser rejeitado e, de modo particular, que Mione voltasse a ficar zangada com ele por não cumprir sua palavra.


xxx


Hermione geralmente acordava cedo e logo ia tomar café. Naquela manhã, porém, preferiu ficar sentada na cama lendo um romance trouxa. A porta se abriu e uma menina com cabelos louros acinzentados e olhar etéreo entrou.


- Achei que você estava lá fora com o seu namorado – Luna falou ao encontrar Hermione lendo.


- Namorado? Eu não tenho namorado... – Hermione protestou.


- Você e Ron não estão namorando? Por que? – questionou.


- De onde você tirou essa ideia, Luna? – Mione perguntou.


- Quem não sabe que vocês são apaixonados um pelo outro? – retrucou Luna.


- Não quero falar sobre isso. É uma questão pessoal... – a morena argumentou incerta.


- Eu entendo você. Ron nunca foi de falar palavras gentis. Ao mesmo tempo, jamais admitiu que outra pessoa a destratasse. É algo um tanto estranho mesmo. Cheguei a pensar que ela agia assim por ter sido atacado por um zonzóbulo – afirmou Luna com lucidez.


- Não acredito que Ron tenha sido alguma vez atacado por zonzóbulos. Mesmo assim, ele sempre foi contraditório. Hoje entendo que agia assim por insegurança – confidenciou.


- Sempre soube que Ron tinha um bom coração. Dá para ver isso pelo olhos dele, que têm um brilho límpido. Nunca estão turvos. Pessoas assim sempre são boas – Luna assegurou.


A morena tinha que admitir que Luna estava certa. Ron possuía mesmo um olhar límpido. Se perguntava por que acreditara sempre muito nas palavras dele e tão pouco naqueles olhos tão lindos e azuis. E para ser fiel à verdade, resolveu confidenciar a Luna que o amigo também estava mais gentil. Só não esperava mais um comentário desconcertante dela.


- Se ele deixou de ser grosseiro, com certeza você também ficou menos seca e autoritária – Luna falou com a sua sinceridade sempre inesperada. 


- Luna, todos nós temos os nossos defeitos – foi tudo que Mione conseguiu responder sem correr o risco de ser indelicada.


A lourinha pareceu entender que aquela conversa chegara ao fim. O silêncio foi providencial porque logo alguém bateu à porta. Era Fleur que procurava por Hermione. “Você nam veim tomarr cafeé? Rronald estan preocupado com su demore”, garantiu.


Sentado na varanda do Chalé das Conchas, Ron conversava com o seu irmão. Falavam da situação de perigo na qual se encontrava a família. Já não podiam trabalhar e evitavam sair da casa de Muriel. “Quando tomamos uma posição corajosa, corremos um risco. Mas pelo menos temos a paz da consciência tranquila”, enfatizou Gui.


Há uma semana, desde que o curioso grupo havia chegado ao Chalé, o primogênito dos Weasley queria falar desse assunto. Aquela era a oportunidade. “Como estão você e Hermione?”, perguntou.


- Bem... Estamos na mesma, eu acho – Ron respondeu, abrindo um sorriso como quem diz “não tem jeito”.


- Na mesma? Não lembro de vocês caminhando abraçados n’A Toca. E nem de andarem cochichando pelos cantos, procurando se isolar de todos sempre que possível – argumentou com um sorriso sagaz.


- É, realmente estamos bem mais próximos. Essa missão repleta de perigo, tudo que passamos juntos nos aproximou ainda mais – reconheceu.


- Não rolou nem mais um beijo? – Gui disparou com um riso divertido no rosto.


Ron deu uma risada gostosa antes de responder ao irmão. “Infelizmente não. Na verdade, não rolou nem um beijo ainda. Você não lembra que, quando tentei, Hermione me empurrou? – respondeu.


- Mas depois de passarem tantos meses juntos, você não tentou mais uma vez? – Gui insistiu de um jeito maroto.


- Gui, tivemos que enfrentar tantas situações difíceis... Também achei melhor respeitar a decisão de Hermione. Ela não quer voltar a falar desse assunto enquanto não terminarmos a missão – o ruivinho contou.


- Acho que um beijo não atrapalharia essa missão. Pelo contrário, poderia ajudar – Gui argumentou.


Ron limitou-se a sorrir, lembrando-se do quase beijo que ele e Mione haviam trocado naquela madrugada insone, pouco depois de chegarem ao Chalé das Conchas. Achou melhor não falar sobre isso com o irmão, muito menos que tinha sido a convocação de Harry a atrapalhar aquele momento de enamoramento vivido com a menina.


xxx


Desde que Harry anunciara a sua ideia de invadir o cofre dos Lestrange no Gringotes, com o objetivo de procurar uma nova horcurx, Ron e Hermione voltaram a viver momentos de tensão e discordância. Para o ruivo, que sempre tivera muita espontaneidade na hora de expor as suas opiniões e não costumava medir o peso das próprias palavras, as divergências não eram um problema. A menina, porém, sofria muito com isso. Especialmente porque não aceitava que Ron criticasse outras pessoas ou seres com aquela sem-cerimônia tão característica dele, muito menos que tentasse burlar regras ou lubridiar alguém.


Com o Chalé lotado de pessoas, Ron e Mione não tinham muitas oportunidades de ficar a sós. Quando se deu conta que estavam apenas ela e o rapaz na cozinha, Hermione não perdeu tempo e voltou ao assunto que a preocupava.


- Ron, você não pode estar falando sério quando diz que Harry não deve cumprir o acordo que fez com Grampo – a menina começou.


- Melhor a gente não conversar sobre isso. Vamos acabar discutindo – o ruivo respondeu.


- Desde quando você evita uma discussão comigo? Achei que essa era a sua diversão preferida – Hermione rebateu.


- Mione, essa fala era para ser minha? Acho que a amizade comigo não está lhe fazendo muito bem – o rapaz afirmou com um sorriso torto.


- Não fuja do assunto. O que você e Harry estão conversando sobre a entrega da espada para Grampo? – a bruxinha insistiu.


- Você sabe muito bem que precisamos daquela espada. É a nossa única arma para destruir as outras horcruxes – falou com firmeza.


- Se Harry não tinha intenção de entregar a espada, não devia ter feito esse acordo com Grampo – argumentou.


- E de que outra forma poderíamos entrar no Gringotes? Harry vai cumprir o acordo, Hermione. Mas depois de tivermos acabado com a última horcrux – enfatizou.


- Ronald, isso não está certo. Você não pode incentivar Harry a agir de forma desonesta – disse com a voz estridente que sempre adquiria quando começava uma discussão.


- Quem disse que estou incentivando Harry a agir de um jeito ou de outro. Ele é o líder dessa missão. O que decidir, está decidido. Só não quero brigar com você por causa disso – o rapaz abaixou a voz e ficou com aquele semblante de súplica que sempre derretia o coração de Hermione.


- Você não está me levando a sério. Precisa convencer Harry a entregar a espada a Grampo – rebateu a insistente menina.


- Tudo bem. Vou conversar com ele. Agora vamos mudar de assunto? – pediu Ron que, definitivamente, não queria brigar com a menina.


Hermione se deu por vencida. Olhou para o chão e reparou nas bonitas botas de couro que o rapaz usava. Já tinha visto Ron calçado com aquelas botas nos dias anteriores, mas não tivera chance de falar daquele assunto.


- Não pude deixar de reparar nessas botas que está usando... Você deu o seu sapato e as suas meias para Dobby. Achei que foi um gesto tão bonito – Mione falou com ternura.


- Era o mínimo que eu podia fazer por ele. Se Dobby sobrevivesse, eu teria que passar o resto da vida o servindo como meu senhor – afirmou o rapaz.


- Ron, a morte de Dobby é um assunto sério...


- Mas quem disse que não estou falando sério? A minha dívida de gratidão com Dobby é imensa – garantiu.


- A dívida de todos nós, com certeza. Ela salvou a sua vida, a minha, a de Harry, Luna, Dino, sr. Olivaras, Grampo. Ainda assim, nada justificava alguém ser senhor ou servo de outra criatura – argumentou.


- Pode ser. Mas a verdade é que sou que tenho uma dívida maior com Dobby – continuou.


- E por quê? Toda vida tem o mesmo valor...


- Não se trata da minha vida simplesmente, Hermione. Claro que ele me salvou e me deu esperança de conseguir livrá-la das garras daquela bruxa imunda. Mas quando Belatriz colocou o punhal no seu pescoço... Se Dobby não tivesse derrubado o lustre, não sei o que seria. Por que se acontecesse alguma coisa com você, a minha vida acabaria também – disse com a voz embargada.


Hermione também ficou emocionada. E envergonhada, ao mesmo tempo, com aquelas palavras. Não sabia o que dizer. Por isso resolveu voltar a elogiar a bravura e lealdade do elfo.


- Nunca pensei que fosse concordar com você em relação a um elfo doméstico. Mas Dobby me fez derrubar todos os conceitos que eu tinha sobre essas criaturas. Embora alguns outros, como Monstro, continuem a me fazer acreditar que eles têm a sua parcela de culpa por não serem livres – ponderou.


- Ron, já conversamos sobre isso. Há bons e maus bruxos assim como existem bons e maus elfos, bons e maus duendes. A maioria dos seres é livre para escolher o próprio caminho, mas os elfos, como servos dos bruxos, acabam sendo influenciados por eles – argumentou.


- Se fosse assim, Dobby seria o pior de todos. Ele servia ao estúpido Lucio Malfoy. Mas Dobby era bom, tinha um grande coração – reconheceu.


- Você também tem um grande coração, Ron. Gestos como esse, de dar os seus sapatos e meias para sepultar com dignidade um elfo, mostram isso – ela afirmou com um sorriso tímido.


- Mas acabei saindo em vantagem. Essas botas do Gui são mais novas e conservadas que meu velho sapato. Só eram um número menor que meu. Nada que um bom feitiço não resolvesse – contou com um belo sorriso.


Os preparativos para aquela nova jornada até Gringotes se intensificaram. Precisavam esperar alguns dias para a poção polissuco que transformaria Mione em outra Belatriz ficasse pronta. E assim se passaram semanas e semanas.


Sempre que tinha uma chance, Ron convidava Hermione para acompanhá-lo em um passeio pela praia. Já há alguns dias ensaiava falar com a menina do seu maior anseio. Aquela manhã ensolarada, com o sol colorindo de dourado as águas do mar, parecia a ocasião perfeita para isso. 


- Mione, eu... – Ron começou, tentando tomar coragem, enquanto caminhavam na areia.


- Sim, Ron. Pode falar – incentivou a menina.


- Sabe, Mione, eu ainda espero por aquele beijo que você me negou n’A Toca – por fim afirmou decidido, mesmo se as orelhas rubras denunciassem o seu esforço de vencer a timidez.


A menina corou profundamente e se desviou daqueles olhos azuis que sempre mexiam com ela. “Meu Deus! Ron não podia ter falado isso”, refletiu, tentando pensar e agir racionalmente. Sim, o seu lado equilibrado e lógico sabia a resposta que devia dar e a bruxinha deixou-se guiar por ele.


- Ron, a gente combinou de não voltar a esse assunto antes de encontrarmos e destruirmos as horcruxes. E a missão, infelizmente, está longe do fim – disse ainda olhando para algum ponto distante.


- Eu sei disso. Mas não suporto mais fingir que não está acontecendo nada entre a gente. Nós adiamos isso por tanto tempo, Mione – insistiu o ruivinho.


- Então vamos esperar um pouco mais. Depois teremos todo o tempo do mundo para conversar – tentou argumentar.


- Depois de todo o sofrimento que presenciei você passar na Mansão dos Malfoy, não sei se devo esperar mais – continuou.


- Mas eu sei, Ron. Temos que esperar. Principalmente por que, no meio dessa missão perigosa, não conseguimos nem mesmo raciocinar direito...


- Não fale por mim, Mione. Nunca tive tanta certeza do que quero em toda a minha vida – continuou o rapaz, a essa altura com todo o rosto vermelho.


- Mas eu estou confusa, Ron. E gostaria que você respeitasse esse meu momento – respondeu com firmeza, embora as suas pernas estivessem bambas.


Hermione estava blefando. Também ela tinha plena certeza do que queria. Amava Ron hoje mais do que nunca. No entanto, ele já corria perigo suficiente por ser um Weasley e, portanto, considerado um traidor de sangue. O ruivinho também estava na lista dos procurados pelos Comensais como melhor amigo de Harry Potter. Não precisava aumentar o risco de subir ao topo dos indesejáveis pelo Ministério da Magia, agora dominado pelos seguidores do Lorde das Trevas, como namorado de uma “sangue-ruim”. Por isso havia pedido para encerrarem aquele assunto.


Mesmo sofrendo com o que considerou uma rejeição da garota, Ron não se afastou dela. Continuou convidando-a para novas caminhadas na areia. Durante esses passeios não voltaram a falar de beijos ou sentimentos escondidos. Conversavam sobre suas respectivas famílias, acontecimentos passados, sonhos futuros, mundo bruxa e trouxa. Para amar é preciso conhecer. E nesses longos e despretensiosos diálogos embalados por brisa e som das ondas puderam se conhecer ainda melhor, permitindo que o amor que sentiam um pelo outro crescesse ainda mais.


xxx


Para ouvir antes, durante ou depois de ler o capítulo:


Open Your Eyes


http://bit.ly/aazkMr


All this feels strange and untrue
And I won't waste a minute without you
My bones ache, my skin feels cold
And I'm getting so tired and so old 


The anger swells in my guts
And I won't feel these slices and cuts
I want so much to open your eyes
Cause I need you to look into mine 


Tell me that you'll open your eye
(…)

 


 

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Comentários (21)

  • Morgana Lisbeth

    Tati, em minha opinião, Ron é um cara de coragem. Inseguro sim quanto ao próprio valor, mas corajoso para se sacrificar por quem am *_*

    2013-04-26
  • Tati Hufflepuff

    Que capítulo mais lindo Morgana!! Ver o quanto o sentimento do Ron amadureceu depois de pensar que poderia perder a Hermione... Ver como ele perdeu a vergonha e a insegurança para falar de sesu sentimentos com ela foi simplesmente maravilhoso!!Mais uma vez parabéns!  :** 

    2013-04-22
  • Morgana Lisbeth

    Oi, queridos! Demorei a aparecer por que precisava me concentrar no capítulo bônus. Mas agora, que está on line, tenho tempo para responder com calma os comentários (algo que amo!).Em primeiro lugar, seja bem-vinda de volta, Lumos! Senti a sua falta, pode ter certeza ;)Lulu, troca essa bola de cristal, por favor! Você antes comentava quase em tempo real (hehe). PARABÉNS pela vitória no concurso de oneshots. Foi sobre Ron e Mione? Depois me passa o link que quero ler. Bjs!Julliano, você pediu, tocou, levou! O capítulo bônus já está on line! Acho que só estava esperando vc aparecer por aqui para postar :)) Oi, Lílian, que bom revê-la! Espero novos comentáriosP.S: Gego e quem mais passou por aqui em busca do capítulo prometido, desculpem-me pela demora 

    2013-02-27
  • Lilian Granger Weasley

    Haaaaaaaaaaaa próximo por favor!!! ;) 

    2013-02-25
  • Julliano César Carneiro Viana

    Morgana,me desculpe pela demora...achei ótimo o cap.Se faltava eu responder o chamado,enfim...Quero capítulo bônus!

    2013-02-24
  • Gego

    Estou aqui de plantão por um certo capítulo bônus :)

    2013-02-23
  • luluweasley

    Ow droga, atrasada de novo. Demorei mas cheguei, vou trocar essa minha bola de cristal. Enfim, desculpas a parte. Posso matar o Harry? Tinha hora melhor para chegar não? O prêmio de maior empata da atualidade vai para Harry Potter! Adorei o lapso de coragem de Ron, quase chorei de felicidade e morri quando Mione adiou o grande momento. Todos comemoram com o capítulo bônus \o/ Prometo chegar na hora dessa vez. Estou sem tempo até para respirar, ô vida. Depois de ganhar um concurso de oneshots, ganhei também confiança necessária para tomar vergonha na cara e começar de vez a escrever. Estou enterrada de projetos de fic até o pescoço! Parabéns, Morgana, o capítulo está mais uma vez perfeito. Espere por mim no capítulo bônus, uma hora eu chego e espero chegar na hora certa dessa vez. Beijos!

    2013-02-20
  • lumos weasley

    Voltei!!!!!!!! Tive um fim de e início de ano atarefados, mas agora consegui um tempo para ler os capítulos anteriores e comentar. Amei o capítulo e fiquei admirada pela coragem do nosso ruivinho ele está de parabéns e você também.Bjs! 

    2013-02-18
  • Morgana Lisbeth

    Ok, vocês venceram! Até sábado, dia 23/2, o CAPÍTULO BÔNUS vai estar on line! Agora vou ficar reclusa no meu castelo, atenta à bola de cristal, para poder ver e descrever mais algumas “entrelinhas” desse adorável casal. Antes, porém, uma palavrinha para cada um: Yoooda, você foi a primeira a aderir à campanha! Acho que Ron chegou naquele ponto da paixão que (como bem descreveu Gonzaguinha) “já não dá mais pra segurar, explode coração”. Aliás, essas investidas vão minando todas as defesas de Mione. E olha que ela é uma fortaleza! Luis, esse trecho do livro dá pano para manga, ou melhor, para entrelinhas. E eu não podia deixar de citá-lo aqui, é claro. Depois do que aconteceu na Mansão Malfoy, dos gritos desesperados de Ron, não dá para tudo ficar na mesma, não é mesmo? Willi, Ron e Mione nos fazem viver cada emoção! As idas e vindas, o momento da quase declaração, do quase beijo, do quase namoro. Enfim... Mas que os amores assim são mais empolgantes, isso são. Obrigada por marcar presença, Kaká, e aderir à campanha do “Capítulo Bônus”. Estou preparando o texto com muito amor:) Mellissa, fico feliz que sempre curta as músicas. Escolho cada uma com muito carinho, pensando no momento dos dois e também no ritmo da cena. Se tiver alguma sugestão de música, fica à vontade. Ah, só para constar: você fechou, antes do meio-dia de domingo, a campanha do Capítulo Bônus. Foi a quinta leitora a aderir ;) Oi, Sil, que bom que continua por aqui marcando presença e me incentivando a ir em frente. Bjs! Andye, li o seu comentário na outra fic e vou lhe mandar um e-mail. Estou com pouco tempo, sabe? Mas se quiser se antecipar, será um prazer trocar mensagens com você. Meu e-mail é[email protected]. Obrigada pelo comentário fofo *_* Olá, Lele! Que legal saber que a minha fic foi a primeira que leu. Começou pelas Entrelinhas 1, inspirada na Ordem da Fênix? Espero que possa me acompanhar nessa história até o fim. Será muito bom ter a sua companhia! Eliana, aguardo o seu comentário assim que ler o capítulo :* Oiii, Gego! Está vendo como Ron está saidinho? Kkkkk Acho que ele não contava que Mione estivesse ouvindo a declaração. A única preocupação do ruivo é que ela ficasse bem. Com certeza, lembrou que os pais de Neville enlouqueceram após serem torturados por Belatriz. Mas, Gego, não sou eu que mato os leitores não! São esses dois fantásticos e teimosos bruxos. Eu apenas reproduzo o que vejo na bola de cristal. Bjs! Liana, agora que caminhamos para o fim da fic,  tudo vai (finalmente) acontecer! Imagina a minha adrenalina para falar do beijo? Bem, é impossível superar Rowling, isso é fato. Então só me resta olhar a cena por outro ângulo. Mas tem mais emoção por aí. Espero não decepcionar leitores queridos como você!

    2013-02-18
  • Annabeth Lia

    Mais um capitulo lindo e escrito com perfeição... sem duvidas não há palavras para descrever a emoção destes dois nesses capitulos incriveis, tantas descobertas, tantas conversas, tantas confissoes que me deixam sem folego, definitivamente eu AMO sua fic e "QUERO CAPITULO BONUS!!!!!!" com toda a certeza, é mais do que necessário, bjs.

    2013-02-18
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