Gritos de Amor e Dor



 


Meus queridos,


Em primeiro lugar, devo pedir desculpas aos que passaram por aqui em busca de atualizações e não encontraram “nada de novo no front”. Dessa vez, devo admitir, não escrevi a passo de tartaruga não. Simplesmente parei de escrever. O motivo? Férias! Bem, não era para ser férias da fic, mas os imprevistos e a mudança de rotina me impuseram isso. Seja como for, sobrevivi às férias e às intempéries para terminar de contar essa história.


Beijos,


Morgana


 


P.S: Muitos leitores abandonaram a fic e, como sou sentimental, sinto falta de todos. Portanto, se você ainda não desistiu, por favor, mande um sinal de fumaça (é o melhor meio já que a internet aqui, nesse meu refúgio, é muito lenta).


* * * * *


 


 


 


 


 


Medo. Grande medo. Desespero. Jamais havia sentido temor tão absurdo. Por isso os gritos saiam assim angustiados. E, mesmo se usava toda a força dos pulmões, vinham da alma. Que sangrava.


- HERMIONE! HERMIONE! – Ron urrava, continuando a se contorcer e a foçar as cordas que o prendiam junto a Harry.


Como queria acordar daquele pesadelo! Há dois meses havia voltado ao acampamento e, cerca de 10 dias depois, recebeu o perdão da menina. O caminho para reconquistá-la, porém, era longo. Lembrava-se de uma conversa que aconteceu uma semana após terem selado a reconciliação com um abraço


- Ainda está chateada comigo? – Ron perguntou ao não receber um sorriso de volta depois de cumprimentar a amiga.


- Não. Chateada não. Mas acho que esse tempo longe da missão nos distanciou demais – ela reconheceu.


- Nunca mais vai conseguir confiar em mim novamente? – Ron expressou o seu maior temor.


- Acho que você é que não confia o suficiente em si mesmo – respondeu encarando-o profundamente.


- É. Pode ser. Mas eu queria saber o que posso fazer para você voltar a me tratar como antes – o ruivinho admitiu.


- Seja você mesmo. Seja simplesmente o Ron que sempre foi – disse Mione abrindo um sorriso tímido.


- Sério? Sempre achei que você queria que eu fosse diferente. Mais estudioso, responsável, corajoso...


 - Você já é tudo isso. Ao seu jeito – ela falou e Ron não pôde deixar de perceber um brilho especial no olhar da menina.


- Um jeito um tanto patético, não é? Harry é o cara! – deixou escapar.


Lembrando-se das muitas vezes que Ron tinha manifestado ciúmes do amigo, a começar pelo Torneiro Tribruxo, Hermione percebeu que precisava tocar naquele assunto, mesmo se delicado.


- Por acaso você tem ciúme do Harry? – perguntou com uma expressão sofrida.


- Eu não quero falar sobre isso, Mione – limitou-se a dizer o ruivo.


Pela forma seca como respondeu e, especialmente, por tantos acontecimentos passados, ela sabia que aquela hipótese era bem provável. Precisava tentar dizer, de alguma forma, o quanto considerava Ron especial e único em sua vida.


- Não há razão para você ter ciúmes, Ron. Você e Harry são muito diferentes para mim... – tentou explicar.


- Claro que eu e Harry somos diferentes. Isso é um pouco óbvio, não acha? – argumentou em tom zombeteiro.


- O que eu quero dizer é que... O sentimento... er... o sentimento que tenho por cada um de vocês é diferente – arriscou.


- Achei que você sentia amizade por nós dois – disse o rapaz que, como Hermione sabia muito bem, não ficaria satisfeito com qualquer resposta.


- Ron, é um pouco difícil explicar, mas vou tentar. Considero Harry um irmão. Eu me preocupo sinceramente com ele, quero sempre apoiá-lo. Sei o quanto ele é teimoso e impulsivo, não pensa muito antes de tomar uma decisão. Claro que em geral age por idealismo, para seguir seus valores, que são muitos, e defender o mundo mágico. Mas justamente por não temer nada, ele não mede as consequências de alguns atos e eu... Bem, com esse meu jeito racional, chato até algumas vezes, eu admito, sinto que posso ajudá-lo a pensar um pouco mais antes de tomar certas atitudes, entende? – ela disparou.


- Isso que está falando não é novidade, Mione. Agora vai dizer que, como tenho uma família que sempre se posicionou contra Você-Sabe-Quem, posso ajudar e apoiar Harry. Talvez ainda diga que possuo até algumas ideias inspiradas, sou divertido quando não estou mal-humorado e, fora essa minha fuga da missão e alguns outros vacilos, pode me considerar um amigo leal – Ron rebateu com certa impaciência.


- Eu não pensei em dizer nada disso, Ron. Você é meu grande amigo, a pessoa na qual mais confio no mundo. Nunca contei para Harry, por exemplo, sobre como me senti tendo que alterar a memória dos meus pais, sobre as minhas dificuldades na escola trouxa... Eu só falei dessas coisas com você... – confidenciou.


O ruivo queria ainda fazer muitas perguntas, mas não teve coragem. Não naquela manhã. Desde que voltaram da casa de Xenofílio Lovegood, onde quase foram capturados por Comensais da Morte, Harry estava obcecado pela ideia das Relíquias da Morte. O pai de Luna havia apresentado para os três aquela lenda e o Menino-Que-Sobreviveu agora acreditava que fosse verdadeira. Hermione, por sua vez, mostrava-se muito preocupada com o amigo e era ele, Ron, que assumira a liderança da missão.


Com Harry concentrado em conseguir abrir o pomo, que acreditava guardar o anel do avó de Voldemort, Servolo Gaunt, e descobrir mais sobre a “Varinha das varinhas”, Ron e Mione sentiam-se responsáveis por encontrar as horcruxes. A missão continuava cansativa, árdua e perigosa. Por isso foi um alívio ouvir juntos, finalmente, um dos programas do “Observatório Potter” transmitidos clandestinamente pela rádio. Logo depois, porém, viveram momentos de grande terror.


Não adiantava reclamar que Harry havia desfeito os feitiços protetores ao dizer o nome “Voldemort”. O seu pior pesadelo tornara-se realidade. Aquele ser amaldiçoado, maléfico, desprezível estava segurando Hermione e a mirava com um olhar de cobiça. “Larga ela!”, berrou Ron para em seguida receber meia dúzia de socos. “Garota deliciosa... um petisco... adoro pele macia”, teve que ouvir o Lobo Greyback dizer com sua voz áspera e cheia de malícia.


Tudo que se seguiu foi um pesadelo. Greyback e sua matilha de malfeitores desconfiarem que haviam capturado Harry Potter, apesar do rosto inchado do rapaz graças a um feitiço de Hermione não denunciar isso. Em seguida, foram amarrados e levados à Mansão Malfoy. Não podiam ter escolhido local pior. Ron detestava Draco e o seu pai Lucio, que humilhavam e prejudicavam todos que consideravam um obstáculo a suas ambições.


Ron só não se sentia o pior bruxo da face da terra porque não havia tempo para isso. Como não tinha conseguido defender Hermione e a deixara entregue à perversa Belatriz? Ele se fazia esse questionamento e não encontrava uma resposta convincente. Ainda sentia um arrepio de terror percorrer o seu corpo ao lembrar-se da voz ácida daquela bruxa louca e má dizendo para não levarem Mione para o porão.


“NÃO! Pode ficar comigo no lugar dela”, Ron implorou. A reposta de Belatriz foi um tapa que marcou o rosto sardento do rapaz. “Se ela morrer durante o interrogatório, você será o próximo. No meu caderninho, traidor do sangue vem logo abaixo de sangue-ruim”, ainda teve que suportar ouvir a bruxa dizer. Queria avançar sobre ela, mas, além de ter as mãos amarradas, ainda estava sendo segurado com força por um dos capangas de Greyback.


“Se ela morrer...”. Jamais deixaria que isso acontecesse. Hermione não podia nem mesmo ser torturada por aquela Comensal da Morte sem escrúpulos e piedade. Considerava Mione frágil fisicamente, mesmo ela sendo tão poderosa como bruxa. Não suportaria receber uma cruciatus. Mas como podia impedir aquilo estando com as mãos presas e trancado em um escuro porão?


Cada vez que ouvia Hermione dar um gemido, Ron berrava o nome da menina. Fazia isso instintivamente, mas era uma forma de fazer sua voz chegar ao ouvido da amiga e lembrá-la que não estava sozinha, Nos instantes em que reinava o silêncio, tentava pensar em como escapar daquele porão e socorrer Mione. Foi num desses momentos de trégua que uma voz fraca e muito conhecida se manifestou.


“Harry? Rony?”, a voz feminina perguntou. Não restava dúvida. Era Luna. Mesmo se era bom ver a amiga, na mente do ruivo não havia espaço para outro sentimento que não fosse o temor por Hermione. Por isso continuou atento a qualquer barulho vindo lá de cima, a algum novo grito ou mesmo suspiro da morena.


Foi Harry que, mais uma vez, tomou a iniciativa de pensar em uma solução. “Luna, você pode nos ajudar a soltar essas cordas?”, ele perguntou.  “Ah, sim, espero que sim... tem um prego velho que usamos quando precisamos partir alguma coisa... aguarde um instante...”, a aluna da Corvinal respondeu, afastando-se dos dois.


Um fio de esperança. Apenas um fio. Mas Ron havia aprendido. Nos momentos de desespero é preciso se agarrar à esperança, mesmo que seja apenas uma pálida esperança. Hermione volta a gritar e o ruivo, mais uma vez, berra o seu nome com uma força que não sabe de onde vem. Ou melhor: ele sabe. A força vem do amor puro e verdadeiro que sente pela menina.


- HERMONE! HERMIONE!


O urro de Ron deixa Harry nervoso e o atrapalha a raciocinar. Luna mantém a aparente calma enquanto sr. Olivaras se agita, temeroso, antes de localizar o prego guardado com o mesmo cuidado que uma varinha. Luna, com presteza e uma rapidez que o Ron não imaginou que tivesse, usa o prego para cortar a corda. Não consegue logo. O ruivo volta a ouvir gritos vindos do andar de cima e um tremor percorre todo o seu corpo.


“Onde conseguiram esta espada? Onde?’, perguntava alto a enlouquecida e maléfica Belatriz. “Achamos... achamos”, respondeu Hermione com a voz aguda e estremecida. Mas vencida pela tortura, ela gritou novamente.


Desesperado, o ruivo ainda conseguiu indicar a Luna onde estava o desiluminador, objeto sem dúvida útil naquele escuro porão. Assim que a menina o clicou, iluminando o frio cômodo, Ron e Harry podem ver, além da amiga e fiel integrante da Armada de Dumbledore, o sr. Olivaras, Grampo, o duende, e Dino.


O alívio de enxergar aqueles rostos conhecidos durou muito pouco. Foi quebrado pelo grito violento de Belatriz, agora ainda mais furiosa. “Você está mentindo, sua sangue-ruim imunda, sei que está! Você esteve no meu cofre em Gringotes! Diga a verdade, diga a verdade!”, a bruxa da linhagem dos Black ameaçou. Hermione soltou um grito fino e angustiado. Parecia estar cedendo à dor. “Isso não pode acontecer”, pensou o ruivinho.


Ron urrou o nome da menina ainda mais forte. Mas seu berro foi cortado por mais uma ameaça da Comensal da Morte: “Me diga a verdade ou, juro, vou furar você com esta faca”! O ruivo quase se contorceu de dor. Não suportava mais ouvir os gritos da menina e nada poder fazer por ela. Nesse instante, as cordas que prendiam ele e Harry pelos pulsos caem. Luna conseguiu!


Depois de uma tentativa desesperada de aparatar sem varinha, Ron começou a andar rápido pelo porão, colocando as mãos na parede em busca de alguma fresta ou passagem secreta. Harry também repete esse gesto, mesmo se convencido que não terão sucesso.


Hermione voltou a grita depois de Belatriz lançar mais um “crucio”. O feitiço de tortura atingiu ainda mais a Ron que se descontrola, começando a socar as paredes e soluçar como uma criança. Parecia não ter mais forças para berrar, limitando-se a repetir o nome da menina baixinho, entre lágrimas.


O desespero levou Harry a buscar algo, sem saber o que, na bolsa que ganhou de presente de Hagrid. Primeiro encontrou o pomo de ouro e o sacudiu, inutilmente, em seguida o pedaço do espelho que recebeu de Sirius. Ron não consegue entender por que o amigo olha para aquele caco pedindo ajuda.


Um grito ainda mais terrível atravessou o porão. “HERMIONE, HERMIONE!”, Ron berrava enquanto lágrimas pesadas caíam de seus olhos. Mesmo se confuso pelos soluços do amigo, Harry escutou perfeitamente a Comensal pedir a Draco para ir buscar Grampo com o objetivo de fazer o duende confirmar se a espada é verdadeira. “Chegou o momento de agir”, concluiu o Menino-Que-Sobreviveu.


“Grampo, você precisa dizer a eles que a espada é falsa, não podem saber que é a verdadeira. Por favor...”, pediu Harry pouco antes de ouvir Draco ordenar que se enfileirassem nas paredes do fundo. Ron clicou o desiluminador para o úmido cômodo voltar à escuridão. O aluno da Sonserina desapareceu logo depois, levando o duende com ele.


Neste momento, assim que Ron voltou a clicar o desiluminador, os dois amigos tiveram uma grande surpresa: Dobby acabara de aparatar no porão! O elfo doméstico anunciou que viera salvar Harry Potter. O menino por quem o elfo nutre grande amizade, após se certificar que ele podia desaparatar levando humanos, pediu a Dobby para conduzir Luna, Dino e Sr. Olivaras ao Chalé das Conchas. “E depois volte. Você pode fazer isso?”, o rapaz perguntou, recebendo resposta afirmativa.


Tudo aconteceu muito rápido. Com seu ouvido atento de Comensal, Lúcio Malfoy ouviu o som da desaparatação de Dobby no porão. Ordenou a Rabicho para descer e ver o que havia acontecido. “Temos que tentar imobilizá-lo”, Harry sussurou a Ron.  Os dois se atiraram sobre o traidor assim que ele entrou no cômodo e prenderam a sua boca com a mão para evitar que gritasse.


A luta foi difícil, mas, ao final, Rabicho realizou um inesperado gesto de piedade, soltando a garganta de Harry que sufocava com sua garra de metal. Foi nesse momento que Ron conseguiu pegar a varinha da outra mão do bruxo. Em um ato de desespero, Pettigrew estrangula a si mesmo com a mão prateada que havia recebido de Voldmort.


Não tiveram muito tempo para se apiedar do servo mais covarde do Lorde das Trevas. Um berro pavoroso veio da sala de cima. Era Hermione. Ron e Harry se entreolharam e, sem dizer uma palavra, correram escada acima, deixando Rabicho morto no chão úmido do porão. Chegara a hora de salvar a amiga.


xxx


Deitada no gelado chão de mármore da sala dos Malfoy, a bruxinha sentia-se extremamente enfraquecida. Ainda assim tinha certeza de que conseguiria sobreviver. Aquela voz que ouvia berrar o seu nome cada vez que era atingida pela cruciatus lhe dava essa segurança.


Ronald Billius Weasley, ou simplesmente Ron, como gostava de ser chamado. Ele sempre a protegeria. Tinha sido assim todas as vezes – e foram incontáveis – que Malfoy a chamou se sangue-ruim e Snape tentou humilhá-la diante dos demais alunos. Agora não seria diferente. Ron a defenderia com a própria vida. Por isso não foi uma surpresa ouvi-lo se oferecer para ser torturado no lugar dela.


Estava tão assustada que não conseguiu falar. Mas teve vontade de gritar ao ouvir Belatriz dizer que o ruivo seria o próximo. Sim, o próximo a ser torturado, Mione sabia o que a aguardava. Ingenuamente, porém, achava que suportaria aquela dor. Jamais sentira sofrimento físico tão intenso. Queria ficar em silêncio para não dar a Belatriz o gosto de escutar seus gemidos, mas não conseguia.


Após poucos minutos de tortura, sentia-se massacrada, sem forças. Mas ainda teve a bravura moral de não revelar nada que pudesse colocar a vida dos amigos em risco. Enquanto Belatriz interrogava Grampo, dando-lhe uma trégua, ainda que rápida, a mente de Mione começou a viajar.


Estava encolhida em um canto da barraca, enroscadinha, chorando. Harry e Ron saíram para pegar alguns cogumelos e ela permitiu-se extravazar a tristeza que escondia dos amigos. Em poucos dias chegará a Páscoa, feriado no qual costumava visitar seus pais. Dessa vez, porém, não poderá nem mesmo ter notícias deles.


Foi surpreendia por uma voz muito conhecida. E amada. “Mione? O que está acontecendo”, Ron perguntou ao ver a menina aos prantos.


-Er... Não foi nada, Ron. Não se preocupa – ela respondeu com a voz chorosa, sem conseguir olhar na direção do amigo.


- Como não foi nada?! Você não chora sem motivo – o rapaz começou, logo se dando conta da razão daquelas lágrimas – É por causa dos seus pais, não é?


- Sim, Ron. E me sinto envergonhada por chorar de saudade dos meus pais. Sei que eles estão em segurança. Harry não tem nem mais os pais enquanto você... Toda a sua família está envolvida nesta luta contra o Lorde das Trevas e corre grande risco – a menina falou suspirando.


- Chorar de saudade dos pais não é vergonha alguma, Mione. E quanto à minha família, ela é formada por bruxos excelentes, sou a única exceção, e vai conseguir se sair bem dessa guerra – disse sem falsa modéstia.


- Eu também acredito nisso, Ron. Aliás, devo ressaltar que você não é uma exceção. É excelente como eles – a bruxinha enfatizou.


- Obrigado pela gentileza. Mas, voltando aos seus pais, entendo a sua preocupação com eles – o rapaz reforçou ao mesmo tempo que olhava de um jeito carinho para a amiga.


- Eu só espero conseguir recuperar a memória dos meus pais. É um feitiço tão complexo... Na hora de partir para a missão, eu não tive escolha e precisei arriscar. Graças a Deus deu certo – a menina desabafou.


- Claro que vai conseguir recuperar a memória deles. Nunca conheci uma bruxa tão boa em feitiço como você. E olha que venho de uma antiga família de bruxos – o ruivo afirmou convicto.


- Você está falando isso só para me animar um pouco. Tenho muito que aprender sobre os feitiços. Sequer concluí o curso de Magia e Bruxaria de Hogwarts...


- Mione, você já pode ser professora em Hogwarts! Suas aulas, com certeza, seriam menos monótonas que as do professor Binns, menos tenebrosas que as do Snape e. possivelmente, mais instrutivas que as da professora Sibila – o rapaz disse com um ar divertido.


- Obrigada por considerar que eu posso dar lições mais instrutivas que Sibila Trelawney. Você não imagina quanto isso é inspirador – respondeu Hermione finalmente abrindo um sorriso.


- Não pense que isso é fácil. As aulas da Sibila sempre foram muito concorridas – contrapôs o ruivinho feliz em ver que a menina já não estava mais triste.


- Ah, claro! Esqueci que algumas alunas mais desavisadas, entre elas a sua ex-namorada, acreditavam nos dons proféticos da professora Trelawney – continuou Hermione com ironia.


- Hermione, a Lilá tinha as suas razões para acreditar...


- Por favor, Ron! Não me venha lembrar daquele episódio do coelho. Fiquei muito chateada quando defendeu a capacidade profética da professora apenas para me contradizer. Acho que foi ali que começou a conquistar a senhorita Uon Uon – argumentou com certa irritação.


- Eu conquisto as meninas porque sou um bruxo bonito e poderoso – o ruivo ironizou com o semblante sorridente – Mas não precisa ter ciúmes de Lilá e de ninguém mais. Sou um cara completamente livre.


Essas últimas palavras deixaram a bruxinha desconcertada. “Acho que fui óbvia demais”, pensou com timidez. Ao mesmo tempo, porém, teve uma sensação boa. Seu coração a levava a interpretar assim aquelas palavras de Ron: “Estou completamente livre para você, Mione. Só espero o seu sim”. A resposta da menina, porém, foi um balde de água fria no rapaz.


- Bom para você. Assim pode se concentrar em destruir as horcruxes – ela falou.


- Nós dois podemos nos concentrar nisso. Mas essa guerra vai terminar, Mione, e vamos precisar encarar a realidade - o rapaz arriscou.


Ela entendeu tudo. Mas preferiu mudar de assunto. “Acho que ainda falta tanto... E corremos grande risco”, lamentou. O rapaz a encarou profundamente. Não queria vê-la triste. Segurou as mãos da menina e falou: “Eu vou estar do seu lado durante todo tempo, Mione. Dessa vez não vou agir como um covarde”.


Definitivamente, Ron não era um covarde. Era o herói, quem sempre a defendia, se importava com ela, prestava atenção em todos os seus gestos. Agora entendia que até as implicâncias, as discussões por assuntos tão banais, eram uma forma dele se fazer presente. Ouvir a voz do rapaz, ou melhor, os seus gritos, repetindo o nome dela, era um acalanto no meio de toda aquela dor.


Hermione nunca pensou que suportaria tamanha dor física. Reprimia ao máximo os gritos. Mas a tortura aumentava e acabava berrando. Como um eco, ouvia a voz de Ron. Ele urrava apenas uma palavra: Hermione. Mas para a menina, aquela era a mais bela declaração de amor. Sustentada por isso, conseguia aguentar Belatriz lançar-lhe mais alguns cruciatus.


Ouviu a voz estridente e sarcástica de Belatriz interrogando Granpo. “Então? É a espada verdadeira”?, a bruxa questionou.  A menina esperava ouvir a confirmação do duende, mas, para alívio dela, Grampo disse que a espada era falsa. Ainda assim, ele não foi poupado de um corte profundo no rosto.


A Comensal da Morte anunciou que chamariam o Lorde das Trevas e logo tocou a Marca Negra. Hermione, quase inconsciente, ainda a ouviu dizer ao horrendo Greyback: “Acho que podemos dar um fim na sangue-ruim. Leve-a se quiser”. O coração da menina, que já batia sem forças, quase parou.


Foi então que um grito ecoou pela sala: “NÃÃÃÃAÃÃÃÃÃÃÃO”! Era Ron que logo em seguida deu um comando de expelliarmus, atingindo a maldosa Comensal. Seguiu-se um tumulto composto por correria, som de feitiços e jorros de luz. Hermione, que mal conseguia abrir os olhos, tentou se levantar. Mas antes disso foi erguida pelos cabelos por Belatriz e sentiu a ponta afiada da faca de prata ser pressionada contra a sua garganta.


“Larguem suas varinhas. Larguem ou verão como o sangue dela é imundo!”, ordenou Belatriz. Logo todos se renderam e foi possível ouvir o som das varinhas sendo jogadas ao chão. A Comensal já planejava amarrar todos enquanto esperavam o Lorde das Trevas. Um rangido que vinha do alto anunciou o desastre que seria também a salvação de Hermione e seus amigos.


O lustre de cristal da luxuosa sala estava caindo. Hermione e Grampo, ainda semiconscientes, não conseguiram fugir, sendo atingidos pelos estilhaços. A menina desmaiou e não percebeu um ruivo aflito se aproximar. “Mione, por favor, fica bem”, o rapaz repetia enquanto com suas mãos compridas retirava o lustre de cima da menina e a erguia em seus braços.


Alguns gritos que pareciam vir de muito longe chegavam ao ouvido da menina. Mas não conseguia entender o que diziam. Ela só sentia o calor daqueles braços fortes que a envolviam e um suave perfume cítrico. Abriu vagarosamente os olhos e vislumbrou um vulto muito conhecido de cabelos vermelhos. Logo sentiu uma forte pressão no abdômen, característica da aparatação, e mergulhou mais uma vez na escuridão.


xxx


Para ouvir antes, durante ou depois de ler o capítulo:


Hero


http://irpra.la/m/50121


There's a hero, if you look inside your heart
You don't have to be afraid of what you are
There's an answer, if you reach into your soul,
And the sorrow that you know will melt away 


And then a hero comes along, with the strength to carry on,
And you cast your fears aside, and you know you can survive
So when you feel like hope is gone,
Look inside you and be strong,
And you'll finally see the truth, that a hero lies in you
(…)







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Comentários (31)

  • Morgana Lisbeth

    Tati, eu achei que aqueles gritos disseram tanto... Temi estragar a intensidade deles com a minha leituras das Entrelinhas. Mas como já estava na chuva, tinha que me molhar. Para escrever é preciso coragem. Aliás, viver exige coragem.

    2013-04-26
  • Tati Hufflepuff

    Oi Morgana! Já tinha voltado a comentar nos capítulos anteriores e estou aqui pra falar mais uma vez que estou de volta! Jamais abandonaria a fic e senti muita falta de acompanhar a história no tempo que estive longe... Provas e mais provas me tiraram o tempo totalmente mas agora estou de volta com força total! auhauahuahuahauha Mais um capítulo intenso... Dava pra sentir a dor do Ron enquanto berrava o nome da Hermione... Muito intenso mesmo! Parabéns por mais um capítulo incrível!! :**

    2013-04-22
  • Morgana Lisbeth

    Oi, Lilian! Ainda bem que agora está novamente conectada e pode acompanhar a fic. Sinto falta dos meus leitores "desaparecidos" (é sério!). Beijinhos :)

    2013-02-27
  • Lilian Granger Weasley

    Desculpa a demora kkkk eu estava  sem notbook!!! não abandonei a fic num!!! cada vez mais emocionante!!! 

    2013-02-24
  • Morgana Lisbeth

    Amo responder ao comentário de vocês! Então aqui vamos nós: Yoda, eu tinha ‘trocentas e quarenta e nove formas diferentes de escrever sobre esta cena, que considero uma das mais emocionantes da história de Ron e Mione. Os gritos de Ron, berrando o nome de Hermione, são, em minha opinião, a maior declaração de amor que alguém podia fazer. GEGO, PARABÉNS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Fico tão feliz que você tenha alcançado essa grande conquista sem deixar de acompanhar e comentar, fielmente, em (quase hehe) todos os capítulos. Será que posso me gabar e dizer que a minha escrita inspira os estudantes?!  Brincadeirinha, viu? O mérito todo é da tia Rowling. Linda é você, Camys! Continue comentando e me inspirando com sua participação :) Lilyyyy!!! Estava com tanta saudade dos seus longos e sempre tão profundos comentários! Sabe, percebo que você entende tanto do universo Harry Potter que, quando fica satisfeita com um capítulo da fic, é como se eu recebesse um “selo de fidelidade” da própria Rowling. É ser fiel à personalidade e ao enredo, (re)criando essas “cenas deletadas por falta de espaço” (rs), é um desafio hercúleo, como vc sabe. Muito obrigada por suas palavras sempre tão incentivadoras. Bjs, meninas!

    2013-02-16
  • Lily_Van_Phailaxies

    Eu vi que não tinha comentado ainda, e me perguntei: Como assim produção?! Sério, eu li logo após me avisar no twitter pelo trabalho e jurava que tinha apertado o enviar do comentário. Ao menos agora quando fui reler percebi meu erro. Então vamos para o comentário. Em primeiro lugar, babei nessa cena: - Sério? Sempre achei que você queria que eu fosse diferente. Mais estudioso, responsável, corajoso... - Você já é tudo isso. Ao seu jeito – ela falou e Ron não pôde deixar de perceber um brilho especial no olhar da menina. OHHHHHHHHHHHHHHHH, QUE FOFO! Sério tive vontade de apertar a bochecha deles e dizer: Que fofos! A conversa demonstrou tudo que esperavamos de um grande primeiro passo para um maior envolvimento. Rony precisava ouvir exatamente o que Hermione disse e ela necessitava dizer tudo aquilo, sempre imaginei que depois que o ruivo foi embora ela ficou se lamentando por não ter deixado claro o que ele significava para ela. Então acho que nem preciso acrescentar que ameiiiii essa cena, neh?! Hermione com cíumes é tão fofo, e o ruivo se mostrou firme ao afirmar que estava livre e posteriormente que ficaria ao lado dela. A cena em que Hermione é torturada, realmente é uma grande tensão de sentimentos, para Rony que novamente se sente incapaz por não protege-la e para Hermione que morre de medo com o que possa acontecer com os amigos (leia se Rony em 90% da preocpação). Estou mega curiosa para o próximo capítulo. Parabéns pois esse, novamente, saiu maravilhoso! =D

    2013-02-13
  • Camys Lovegood

    L-I-N-D-O!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    2013-02-12
  • Gego

    Awwn! E eu estava morrendo de saudade também *-*Eu passei! Vou cursar Rádio e TV, tô super ansiosa aqui. Obrigada por se preocupar. *----*Eu te entendo completamente, a minha vida estava uma loucura outro dia e jajá vai voltar tudo de novo kkkkk. Só não vai abandonar, mulher, preciso da tua fic! Ah, não esqueci aquele teu projeto de fazer outra quando essa acabar, viu? Vou cobrar, aviso logo. kkkkkkkkkkkBeijos!

    2013-02-08
  • Yoda Wesley

    Nossa, um capítulo de tirar o fôlego, muito legal a forma que você abordou esta parte da história. Parabéns e continue, estou ancioso pelos próximos capítulos.

    2013-02-07
  • Morgana Lisbeth

    Geeeego!!! Você voltou! Que maravilha! A fic não é a mesma sem a sua presença.Fico feliz em saber que o momento "sombrio" passou e que agora tem um note. Espero que esse não lhe deixei nunca na mão. E no Enem? Conseguiu? Se não, bola pra frente! Às vezes é melhor entrar mais tarde na facult. Eu comecei com 19 anos e foi ótimo!Mudando de assunto, não é só você que ficou sem entrar por aqui não. Eu estou postando a passo de tartaruga. A minha vida está uma loucura, mas não vou desistir da fic, fique tranquila. Beijos :* 

    2013-02-05
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