Tea Party



Tea Party


 


Parte 1


 


Harry gostou imensamente da aula de Adivinhação naquela tarde; a turma ainda estava fazendo mapas e predições, mas agora que ele e Rony tinham voltado a ser amigos a coisa recuperara a antiga graça. A Profa Sibila, que andara tão satisfeita com os garotos quando eles estiveram predizendo mortes horrendas para si mesmos, não tardou a se irritar quando os dois ficaram de risadinhas na hora em que ela explicava as várias maneiras com que Plutão era capaz de desorganizar a vida diária.


- Seria de pensar - disse ela, num sussurro místico que não ocultava seu óbvio aborrecimento - que alguns de nós - e olhou significativamente para Harry - seriam um pouquinho menos frivolos se tivessem visto o que vi quando consultei a minha bola de cristal ontem à noite. Eu estava sentada bordando, muito absorta, quando fui tomada por um impulso de consultar a bola. Levanteime e me sentei diante dela e contemplei suas profundezas cristalinas... e o que acham que vi olhando para mim?


- Uma morcega velha com os óculos maiores do que a cara? - cochichou Rony.


Harry fez muita força para ficar com a cara séria.


- A morte, meus queridos.


Parvati e Lilá levaram as mãos à boca, fazendo cara de horror.


- Sim, senhores - disse a professora, acenando a cabeça de modo impressionante -, ela está se aproximando, cada vez mais, descrevendo círculos no céu como um urubu, cada vez mais baixa... sempre mais baixa sobre o castelo...


Ela olhou diretamente para Harry, que bocejou com a boca escancarada e de maneira óbvia.


- Teria sido mais impressionante se ela não tivesse anunciado isso oito vezes antes - disse Harry, quando finalmente recuperaram o ar fresco na escada sob a sala de Sibila. - Mas se eu caísse duro toda vez que ela diz que vou cair, eu seria um milagre da medicina.


- Seria uma espécie de fantasma superconcentrado - disse Rony rindo, ao passarem pelo barão Sangrento que ia em sentido contrário, um olhar sinistramente fixo nos olhos enormes. - Pelo menos ela não passou dever de casa. Espero que a Profa Vector tenha passado um monte para Mione, adoro ficar à toa quando ela está ocupada...


 


Parte 2


 


- Ah, espera aí... - disse Harry lentamente, a meio caminho do corredor. – Espera um instante, Mione...


- Quê? - Ela se virou para olhá-lo, o rosto que era só expectativa.


- Já sei do que se trata - disse Harry.


O garoto cutucou Rony e apontou para o quadro logo atrás de Hermione. Era a pintura de uma enorme fruteira de prata.


- Mione! - exclamou Rony, entendendo. - Você não está tentando nos pegar a laço para aquela história do fale outra vez!


- Não, não, não estou! - apressou-se ela a dizer. - E não é fale, Rony...


- Você mudou o nome? - perguntou Rony, franzindo a testa.


- Que somos então? A Frente de Liberação dos Elfos Domésticos? Não vou invadir a cozinha para fazer eles pararem de trabalhar, não vou fazer isso...


- Não estou lhe pedindo isso! - disse Hermione impacientemente. - Desci aqui agora há pouco para conversar com eles e encontrei... ah, anda, Harry, quero lhe mostrar!


A garota tornou a agarrá-lo pelo braço, puxou-o para diante do quadro da fruteira, esticou o dedo indicador e fez cócegas na enorme pêra verde. A fruta começou a se contorcer e rir e, de repente, transformou-se em uma grande maçaneta verde. Hermione segurou-a, abriu a porta e empurrou Harry pelas costas, com força, obrigando-o a entrar.


O garoto teve apenas uma breve visão de um amplo aposento de teto alto, grande como o Salão Principal acima, repleto de tachos e panelas de latão empilhados ao redor das paredes de pedra, um grande fogão de tijolos no extremo oposto, quando alguma coisa pequena se precipitou do meio do aposento ao encontro dele, guinchando:


- Harry Potter, meu senhor! Harry Potter!


No segundo seguinte todo o ar dos seus pulmões foi expelido, o elfo, aos guinchos, colidiu com ele na altura do diafragma, abraçando-o com tanta força que o garoto pensou que suas costelas iam partir.


- D-Dobby? - ofegou Harry.


- o Dobby, meu senhor, é sim! - guinchou a voz na altura do seu umbigo. – Dobby teve muita esperança de ver Harry Potter, meu senhor, e Harry Potter veio ver ele, meu senhor!


Dobby soltou o garoto e recuou alguns passos, sorrindo para Harry de orelha a orelha, seus enormes olhos verdes, redondos como bolas de tênis, se enchendo de lágrimas de felicidade. Tinha quase exatamente a mesma aparência com que Harry o conhecera; o nariz fino e reto, as orelhas de morcego, as mãos e os pés compridos - exceto pelas roupas, que eram muito diferentes.


Quando Dobby trabalhara para os Malfoy, sempre usara a mesma fronha velha e imunda. Agora, porém, vestia a combinação mais extravagante de roupas que Harry já vira na vida; fizera uma escolha de peças pior do que a dos bruxos na Copa Mundial. Usava um abafador de chá à guisa de chapéu, no qual estavam presos vários distintivos coloridos; uma gravata com estampa de ferraduras de cavalo sobre o peito nu, calções que pareciam os de uma criança jogar futebol e meias desparelhadas. Uma delas, Harry reparou, era a preta que ele tirara do próprio pé e induzira o Sr. Malfoy a jogar para Dobby, e ao fazer isso, libertara-o. A outra era listrada de rosa e laranja.


- Dobby, que é que você está fazendo aqui? - perguntou Harry surpreso.


- Dobby veio trabalhar em Hogwarrs, meu senhor! - guinchou o elfo excitado. – O Prof. Dumbledore deu emprego a Dobby e Winky meu senhor!


- Winky? - exclamou Harry. - Ela também está aqui?


- Está, sim, senhor, está! - disse Dobby, e agarrando a mão de Harry puxou-o para dentro da cozinha entre quatro longas mesas de madeira que estavam ali. Cada uma das mesas, o garoto notou ao passar, estava colocada exatamente embaixo das quatro mesas das Casas em cima, no Salão Principal. Naquele momento não havia comida nelas, o jantar já terminara, mas ele supôs que uma hora antes estivessem carregadas de travessas que então eram mandadas pelo teto para as suas correspondentes no andar superior.


No mínimo uns cem elfos estavam parados pela cozinha, sorrindo, inclinando a cabeça e fazendo reverências quando Dobby passou com Harry por eles. Todos usavam o mesmo uniforme; uma toalha de chá estampada com o timbre de Hogwarts e amarrada como uma toga, como a de Winky.


Dobby parou diante do fogão de tijolos e apontou.


- Winky, meu senhor! - disse ele.


Ela estava sentada em um banquinho junto ao fogo. Ao contrário de Dobby, obviamente não saíra catando roupas. Usava uma sainha e uma blusa comportadas, e um chapéu azul combinando, com aberturas laterais para suas orelhonas. Mas, enquanto cada peça da estranha coleção de roupas de Dobby estava impecavelmente limpa e bem cuidada, pois até pareciam novas em folha, era visível que Winky não estava cuidando das próprias roupas. Havia manchas de sopa na blusa e um chamuscado na saia.


- Olá, Winky - cumprimentou Harry.


Os lábios de Winky tremeram. Então ela rompeu em lágrimas, que transbordaram dos seus grandes olhos castanhos e caíram pela roupa, exatamente como acontecera na Copa Mundial de Quadribol.


- Ah meu Deus! - exclamou Hermione. Ela e Rony tinham seguido Harry e Dobby até o fundo da cozinha. - Winky, não chore, por favor, não...


Mas Winky chorava com mais vontade que nunca. Dobby, por outro lado, sorria radiante para Harry.


- Harry Potter gostaria de tomar uma xícara de chá? - guinchou ele alto, abafando os soluços de Winky.


- Hum... ah, OK - disse o garoto.

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