Maldita noite fria



Já havia se passado uma semana que Kirsten e Megan haviam brigado, e quem olhasse não diria que elas estavam morando sob o mesmo teto. Não se falavam e evitavam olhar uma na cara da outra. Kirsten estava saindo da aula de Transfiguração, quando Matt veio falar com ela.
- Ei, Kirsten – disse ele, ao chegar perto dela. – Você está livre esta tarde?
- Estou, por que?
- Tudo bem eu passar na sua casa?
- Matt, você passa todo dia em casa.
- É, eu sei, mas posso?
- Claro que pode.
Um professor chamou Matt e ele se despediu de Kirsten, indo falar com o professor. Kirsten continuou indo para a próxima aula, sem perceber que Megan a olhava, como se estivesse amaldiçoando-a.
A aula de Poções não foi muito interessante. A professora Darcy ensinou uma poção que fazia com que as pessoas diminuíssem de tamanho cada vez que espirrassem. Os alérgicos da turma sofreram, pois no final da aula, ninguém os encontrava. Depois de muitos esforços, finalmente Kirsten foi dispensada. Foi direto para a casa, mas não encontrou Megan lá. Não demorou muito para que pedras começassem a ser atiradas na janela. Esse era o sinal de Matt.
Ninguém podia saber que eles estavam juntos, pois ele era maior de idade e trabalhava na escola, e não era permitido que saísse com uma aluna. Rapidamente, ela pegou um embrulho em cima de um cômodo e saiu pela janela na parte de trás da casa, onde ninguém poderia vê-la, e correu para trás de uma pedra, onde se encontrou com Matt. Ele pegou sua mão e a conduziu correndo até o lugar onde eles ficavam todo dia, observando o pôr-do-sol, que hoje estava avermelhado, lembrando sangue. Kirsten pegou o embrulho e entregou à Matt.
- Feliz aniversário, Matt.
Matt abriu o embrulho, cheio de curiosidade e viu que era uma bola de cristal, onde os flocos de neve se agitavam sozinhos como se fosse uma tempestade, e os bonequinhos de dentro saíam de uma casinha, ficavam com frio e voltavam pra dentro. Matt ficou um tempo olhando o presente, até que Kirsten perguntou:
- O que foi? Não gostou?
- Não, eu gostei sim. É que eu estava pensando em outra coisa.
- O quê? – perguntou Kirsten, curiosa.
- Ahn, é que... – por alguma razão, Matt estava um pouco nervoso.
- O quê?
- Nada, não, esquece.
- Não, agora eu fiquei curiosa, pode falar.
Matt estava com a mão no bolso, e quando a tirou, estava segurando algo firmemente, de um modo que Kirsten não podia ver o que era.
- Kirsten – começou ele, pegando as duas mãos dela – eu não sei bem como dizer mas... Desde o primeiro dia em que te vi, senti algo que nunca senti por ninguém antes. Entende o que eu quero dizer?
Kirsten agora estava da cor dos cabelos dela. Ela olhou para aqueles olhos azuis e derreteu por inteira.
- Eu entendo... Eu também senti...
- Kirsten...
- O quê?
- Quer namorar comigo?
- Quero...
Matt abriu a mão e Kirsten pôde ver duas alianças prateadas com uma pedrinha branca na parte de cima. Cuidadosamente, ele pegou sua mão direita e colocou uma das alianças no seu dedo, que se ajustou a ele assim que foi colocada.
- É mágica?
- É... Eu não sabia se iria funcionar, fui eu mesmo que pus o feitiço.
- Pára com isso, se você não fosse um bom bruxo, não estaria trabalhando aqui.
Matt deu uma risadinha sem graça e Kirsten fez o mesmo que ele com a aliança. Assim que ela se ajustou no dedo dele, Matt se inclinou para frente e beijou-a. Um calor invadiu o corpo de Kirsten, como se ela estivesse prestes a explodir. Ela não poderia dizer quanto tempo durou o beijo, mas no momento em que eles se separaram, ela viu que seus pés não estavam mais no chão. Os dois estavam flutuando sobre o mar.
- Matt...
Matt desviou os olhos de Kirsten e olhou para baixo, e assim que o fez, os dois desabaram, caindo direto na água. Kirsten voltou logo à superfície, e logo em seguida, Matt.
- Você está bem? – perguntou ele.
- Só estou molhada. E com frio.
Kirsten começou a tremer antes que pudesse terminar a frase.
- Acho melhor a gente sair da água - disse ela, nadando para o rochedo.
Ela subiu e com um movimento da varinha, secou-se na hora, sentando-se em seguida em uma pedra. O céu agora estava meio azul, meio roxo, meio rosa, e as estrelas começavam a aparecer. Matt se deitou na grama e Kirsten levantou e foi sentar-se perto dele. Ele ficou observando as estrelas, e depois deu uma risadinha.
- O que foi? – perguntou Kirsten, deitando-se de bruços na grama.
- Não, eu só estava me lembrando de quando eu era criança.
- O que você fazia quando era criança?
- Eu lembro que eu sempre me deitava em algum lugar para ficar observando as estrelas, vendo quais formas elas formavam. Está vendo aquelas ali? - Ele apontou para uma parte do céu e Kirsten teve que se virar para ver. – Está vendo? Elas formam um unicórnio, está vendo?
Kirsten olhou e viu que realmente parecia um unicórnio.
- E você. Kirsten?
- Hã?
- O que você fazia quando via as estrelas?
- Eu? Você não quer saber...
- Vamos, você pode me contar.
- Tá certo – disse Kirsten, após dar um suspiro. – Quando era era criança, sempre que eu
olhava as estrelas, eu ficava pensando se meu pai estaria olhando para as estrelas, ao mesmo tempo que eu.
- Por quê?
- Você está mesmo interessado nisso?
- Estou. Quero saber sobre o passado de minha namorada.
- É, acho que você tem razão. Quando minha mãe era jovem, ela conheceu um cara.
Segundo ela, ele parecia ser o cara ideal, era inteligente, bonito e simpático. Eles
começaram a namorar, mas ela engravidou dele, e assim que ele recebeu a notícia, a largou. Ela teve que me criar sozinha, sem nenhuma ajuda, e eu nunca o perdoei por isso.
- Mas você nunca o conheceu?
- Não. E mesmo que conhecesse, não o perdoaria do mesmo jeito.
- Não pode ser tão rígida assim.
- Bem, eu fiquei muito bem sem um pai durante 17 anos, e não é agora que eu vou
precisar de um.
- Bem, é sua opinião. Mas quer saber? – Matt se levantou e deitou-se ao lado de Kirsten,
passando o braço em volta dela, de modo que ela também colocou o braço em cima dele, e a cabeça em seu peito. – O que seu pai fez com sua mãe é imperdoável, mas eu quero que você saiba, eu não serei como ele.
- Você vai ficar sempre comigo?
- Sempre.
Kirsten fechou os olhos e ficou sentindo a respiração dele, até um momento em que os dois adormeceram. Ela não soube por quanto tempo dormiu, mas quando acordou, o céu já havia escurecido totalmente, e a julgar pelo silêncio, todos na vila já haviam ido dormir.
- Ai, meu Deus. Matt, acorda!!
- Que foi? – perguntou Matt sonolento.
- Acho que dormimos demais. A gente tem que voltar logo.
Matt se levantou bem devagar, e depois de um tempo ele começou a agilizar, pois devia ter percebido que eles estariam encrencados até o pescoço se todos realmente tivessem ido dormir. Ele começou a escalar o rochedo, ajudando Kirsten. Quando estavam na metade, Kirsten pediu para parar.
- O que foi?
- Você não está achando estranho esse silêncio? Até o mar parece ter se calado.
Matt parou e escutou. Realmente algo estava errado. Tudo estava muito quieto. Um grito fez com que os dois subissem correndo até o topo do rochedo. Quando Kirsten viu o que estava acontecendo, ficou paralisada. Vários alunos corriam, enquanto outros recebiam torturas de pessoas vestidas totalmente com algo verde, incluindo um capuz, que tornava impossível identificá-los. Alguns professores duelavam com dois ou mais e outros alunos, que provavelmente tentaram se esconder na igreja, agora, eram arrastados para fora, pelos cabelos. Um grande crânio pairava sobre a igreja, com uma cobra saindo da boca.
A primeira reação que Kirsten teve foi a de correr em direção à vila, mesmo sabendo
que não poderia fazer muita diferença. Teria ido para lá, se Matt não a tivesse segurado.
- Kirsten, espera! Espera!!
- Me larga, Matt!!
- Escuta!! – Matt a agarrou pelos dois braços e a puxou de tal forma que eles ficaram frente à frente. – Olha, não há nada que possamos fazer agora...
Uma garota gritou, pedindo ajuda, fazendo com que os dois olhassem para ver quem
era. Mais uma vez, Matt a puxou para que ela olhasse para ele.
- Olha, o melhor que podemos fazer agora é sairmos daqui.
E pegou sua mão direita, puxando-a em direção a um precipício, onde pretendia saltar no mar. Teriam conseguido, se um feitiço perdido não tivesse atingido as pernas de Matt, fazendo com que ele caísse. Kirsten estava correndo à toda velocidade, mas na hora em que Matt caiu, ela continuou segurando a mão dele, e foi para a frente e parou, ao invés de pular, e ficou pendurada.
- Matt, não me deixa cair!!
Kirsten achou que estava escorregando, mas foi ao ver os olhos de Matt que ela percebeu que ele a estava soltando.
- Matt, por favor, não...
O que aconteceu em seguida foi muito rápido, Em um momento, Kirsten estava segurando as mão de Matt com força, para não cair, em outro, seu rosto ia se afastando cada vez mais, o que significava que Kirsten caía. Ela fechou os olhos, e só sentiu a queda na água gelada. A sensação que teve foi como se tivesse caído em um monte de facas afiadas. Rapidamente, voltou à superfície e de alguma maneira, conseguiu nadar para longe da ilha, escutando os gritos de dor, pedindo ajuda, sem imaginar que muito longe dali, um garoto da mesma idade, chamado Harry Potter, assistia tudo, através de um sonho.

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