Amizade abalada



Kirsten Burns era uma garota inglesa de 17 anos, mas não era uma garota qualquer. Ela era uma bruxa, e estudava em Dragon Fang, uma escola de magia e bruxaria que ficava em um antiga vila da Idade Média. Tinha cabelos vermelhos e olhos verdes-vivos, e naquele momento, estava descendo do navio que levava os alunos para a escola, que ficava em uma ilha.
- Será que esse ano vamos aprender a poção polissuco? – perguntava Megan, sua melhor amiga, enquanto as duas desciam por uma ponte.
- Você pode se preocupar o quanto quiser com isso, mas no momento, eu estou mais preocupada em saber onde nós vamos ficar – respondeu Kirsten, carregando sua mala.
- Me espera que eu vou perguntar, então.
Megan saiu e Kirsten encostou na parede de uma casa, e ficou admirando o céu azul. Estava viajando e só voltou para a Terra quando sentiu que seu celular vibrou dentro de sua bolsa. Sem tirar ela das costas, pegou o celular e atendeu.
- Alô?
- Alô? Kirsten?
- Oi, mãe!
- Está tudo bem aí?
- Está tudo ótimo. Acabamos de chegar. Não precisa se preocupar. Eu te ligo de novo à noite.
- Tá certo. Um beijo.
- Outro. Tchau.
Kirsten desligou o celular e foi guardar na bolsa, mas como era meio preguiçosa, tentou fazer isso sem tirar a bolsa das costas, e acabou derrubando tudo.
- Droga – xingou ela, abaixando-se para pegar as coisas. Nem percebeu que um anel foi pulando no chão até que bateu no sapato de alguém e parou. Estava tão concentrada que nem percebeu que um garoto de cabelos avermelhados havia pego o anel e se aproximava dela.
- Com licença – disse o garoto, fazendo Kirsten levantar o rosto para ver quem era. Se deparou com um garoto lindo, de olhos azuis, que não aparentava ser muito mais velho que ela. – Isto é seu?
- Ah, sim. Obrigada.
Kirsten pegou o anel, mas não o reconheceu de cara.
- Se bem que... Ah, deixa quieto. Minha mãe deve ter colocado por engano na minha bolsa.
O garoto riu, e Kirsten sentiu seu rosto esquentar um pouco quando o viu sorrir.
- Então... você está perdida?
- Bom, na verdade... Estou. Mas minha amiga já foi perguntar.
O menino deu uma olhada para onde Megan tinha ido.
- Sinceramente, não acho que ela vai conseguir se informar tão cedo.
Kirsten se virou e viu que a fila estava enorme, e Megan não tinha chegado nem na metade.
- É, acho que você tem razão. Você já sabe em que casa vai ficar?
- Eu não vou estudar aqui.
- Não?
- Não, eu trabalho aqui.
Kirsten não sabia se corria ou se encolhia e se escondia no meio das pedras que costruíam a casa ao lado. O garoto provavelmente percebeu que ela havia ficado sem jeito, pois falou:
- Não tem problema, você não é a primeira que fala isso.
- Bom, pelo menos isso.
- Matt Serkins – apresentou-se o menino.
- Kirsten Burns.
- Kirsten. Belo nome.
- Obrigada – respondeu ela, ficando ainda mais sem jeito.
- Então... Quer ajuda? Eu tenho aqui a lista de seleção.
- Tem?
- Tenho. Deixa eu ver... Kirsten Burns... Você está com Megan Darrow, certo?
- É, isso mesmo.
- Vocês estão na casa 39 – Ele deu uma olhada na fila e viu que apenas uma pessoa tinha saído pra procurar a casa em que ia ficar. – O serviço daqui é meio devagar, vem comigo, eu te mostro onde é.
Kirsten se abaixou para pegar as coisas, mas Matt pegou primeiro:
- Pode deixar que eu levo.
- Está meio pesado.
Matt levantou a mala de Megan e quase caiu.
- Nossa, tá pesado mesmo.
Kirsten riu e explicou.
- São as coisas da Megan. Ela vem de uma família rica, então ela trouxe tudo a que tinha direito.
- Acho que ela trouxe a casa inteira aqui.
- É bem provável.
Os dois continuaram conversando até chegarem em uma casinha feita de pedras, com uma porta de madeira improvisada com o número 39 cravado em prata.
- Bem, aqui estamos – disse Kirsten. – Quer entrar?
Os dois entraram e Matt jogou a mala de Megan em uma cama.
- Você quer beber alguma coisa? – perguntou Kirsten, indo para um lugar que parecia ser uma cozinha. – Só tem água aqui.
- Quero, por favor – respondeu Matt, com a cara vermelha.
Kirsten pegou um copo e o encheu de água, logo em seguida foi até o quarto onde Matt estava e se sentou ao lado dele na cama.
- Obrigado – disse ele, pegando o copo e bebendo a água em um só gole. Ele continuou segurando o copo, olhando para o nada, e Kirsten ficou imaginando o que ele estaria pensando naquele momento. Ficaria observando-o por mais tempo se não surgisse uma aranha no chão.
- Alguma coisa errada? – perguntou Matt enquanto Kirsten subia na cama. Sem dizer uma palavra, ela apontou para o chão, na direção da aranha. – É só uma aranha – riu Matt, tirando a varinha do bolso, fez um movimento com ela e a aranha saiu voando pela janela.
- Francamente – continuou ele – não sei porque vocês, mulheres, têm tanto medo de bichos como esses.
- Você também teria medo se fosse pegar algo em uma bolsa e pegasse uma aranha por engano.
Matt estendeu a mão para ajudar Kirsten a descer, mas ela tropeçou nos próprios pés e caiu, fazendo com que Matt a segurasse de tal forma que seus rostos ficaram bem próximos. Por quanto tempo eles ficaram daquele jeito Kirsten não poderia dizer. Só poderia dizer que seus rostos foram se aproximando, cada vez mais, e ela já estava fechando os olhos. Ela sabia que dali sairia um beijo, se não fosse por Megan, que acabara de entrar reclamando do serviço do lugar.
- Eu não acredito que fiquei esse tempo todo na fila só pra descobrir onde eu estava. Os caras daqui são muito lerdos. Kirsten, você está aí?
- Sim, estou aqui, Megan – respondeu Kirsten, um pouco revoltada, após ela e Matt terem se afastado.
Megan chegou ao quarto e ficou olhando para Matt.
- Megan, este é Matt.
- Então, Matt – começou Megan, sem se importar muito com Kirsten – em que ano você está?
- Ele trabalha aqui, Meg.
- Ah – suspirou Meg, medindo o garoto – então suponho que tenha mais de 17 anos.
- Vou fazer 18 na semana que vem.
- Muito bem... Pode ter certeza de que eu vou me lembrar.
- Ahn, acho melhor eu ir – disse Matt, um pouco sem jeito – já está no meu horário de serviço. Até mais, Kirsten.
Ele saiu da porta fazendo um aceno com a cabeça para Megan, sem dizer uma palavra para ela. Kirsten sabia que ele estava sem jeito por causa do comportamento de Megan. Assim que ele saiu da casa, Kirsten começou:
- O que deu em você? Você nunca agiu desse jeito!!!
- Bem, talvez seja porque você veio pra cá com ele sem avisar sua melhor amiga.
- Sabe, Megan, algumas vezes eu me questiono...
- O quê?
- Se você é mesmo minha melhor amiga.
- Escuta, caso você não se lembre, eu fui a única que topou dividir a casa com você no primeiro ano.
- É, mas não estamos mais no primeiro ano, caso você não saiba. E agora, se me dá licença, eu vou tomar um banho.
Kirsten abriu a mala, revoltadíssima, separou um vestido e com um movimento da varinha, todas as outras roupas se separaram e foram guardadas no armário. Foi para o banheiro, e trancou a porta com um feitiço. Quando ficava muito nervosa, costumava se trancar no banheiro e tomar um banho, pra relaxar. Mas dessa vez estava um pouco mais difícil. Ela lavou o rosto, e após se enxugar, olhou para o espelho e viu uma garota com olhos verde-vivos e cabelos vermelhos. Será que somente ela havia mudado? Ou será que apenas Megan havia mudado? Ou as duas? Eram grudadas até o quarto ano, mas no quinto passaram a se afastar um pouco, e agora, no último, estavam brigando. Se conheciam há seis anos, algo não estava certo. Mas não queria se preocupar muito com isso naquele momento, e entrou no banho.

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