<i>Detenção</i>



Draco ria descontroladamente de sua mais recente artimanha enquanto ouvia as reclamações incessantes do zelador rabugento.

- EU NUNCA FUI TÃO HUMILHADO COMO HOJE! E PARE JÁ DE RIR! - completou ao ver que o garoto achava graça. Agarrou-o pelo pescoço e começou a arrastá-lo para as masmorras, cessando suas gargalhadas com a dor. - Ah, você vai pegar uma detenção pesada por isso... E DAS ANTIGAS!

A dor foi se intensificando à medida que Filch aumentava o passo. Agora já não era possível respirar normalmente. Quando já uma dor de cabeça súbita e estonteante surgiu, ele chegou a pensar que iria desmaiar.

- Argos! - chamou uma voz masculina. O homem largou Malfoy imediatamente. Este tombou no chão ajoelhado. Levantou os olhos para ver quem era seu "salvador", porém, quando o identificou o homem alto de nariz protuberante e cabelos oleosos, desejou estar novamente nas mãos do zelador. Snape tornou a falar. - O que o jovem Malfoy aprontou desta vez?

- Ele é o responsável por aquele "belo" soneto! - respondeu raivoso apontando para a cabeça do rapaz.

- Ah... Deixe comigo, eu tenho o castigo perfeito... - mal-humorado, o zelador se retirou em marcha. Eles ficaram ali, se encarando por um tempo, até que Severo o chamou a sua sala.

Receoso, seguiu com o professor até as masmorras, onde se situava a sala que ele conhecia tão bem de suas aulas de poções. Lugar sombrio, frio, de dar arrepios. Continha vários frascos de diferentes cores, tamanhos e conteúdos, todos organizados por ordem de importância, tipo e função.

- VOCÊ É BURRO, DRACO? - urrou Snape perdendo por completo sua calma - QUER ME OBRIGAR A LHE DAR UMA DETENÇÃO PESADA NA SEMANA DOS N.I.E.M.'s? É ISSO O QUE QUER? Pois saiba que conseguiu!

O garoto passou a mão nervosamente pelos cabelos loiros platinados, sem saber o que dizer, ou fazer.

- Amanhã! Pode esquecer a detenção com Madame Hooch, você vai é passar a tarde INTEIRINHA trancafiado num calabouço! - cuspiu, ainda nervoso.

- Mas Prof. Snape! Amanhã a tarde é o jogo de Quadribol! Eu sou o capitão do time da Sonserina, assistir aos jogos é muito importante! - protestou lembrando-se de Gina, que estaria jogando na partida.

- E o que me importa? - mentiu Severo. Era óbvio que Quadribol era importante para ele, sendo que por sua vez, era diretor da Sonserina. Mas sua momentânea raiva de Draco era muito maior que o orgulho de sua tradição - O jogo é Grifinória X Corvinal! Você ficará no calabouço amanhã a tarde, quer você queira ou não.

Com essas palavras, abriu a porta da sala, expulsando o garoto do recinto. Este saiu sem demora, indo direto a seu dormitório. Só foi sair de lá, à noite, para seu N.I.E.M. de Adivinhação.





Na manhã seguinte, Draco iniciou seu dia como quem está para ser condenado. Ao sair da Sala comunal da sonserina, Emília chamou sua atenção.

- Hey, Malfoy!

- O que é? - perguntou mal-humorado.

- Leve a garota Weasley ao Baile! - disse empurrado uma bolsinha de veludo verde escuro, contendo dinheiro. - Cem Galeões, como pagamento adiantado.

- Quer saber? - falou o garoto levando as mãos à cintura - Estou farto desse seu joguinho! - e empurrou a bolsinha de volta para ela.

- Cansado de... Digamos... Duzentos e cinqüenta Galeões? - insistiu sorrindo cinicamente.

De má vontade, ele aceitou a oferta. Era pobre agora! Saiu para o Salão Principal se sentindo pior ainda (se é que isso era possível). Tomou seu café da manhã sem falar com mais ninguém e passou o resto da manhã (N.I.E.M. de História da Magia) com cara de quem comeu e não gostou.

Não almoçou, e pontualmente, às três horas da tarde, estava nas Masmorras, em frente ao calabouço. Algum tempo depois, Filch apareceu acompanhado por Snape. Ambos tinham sorrisos de satisfação nos rostos cruéis. Pareciam de boníssimo-humor.

- Chegou cedo, Malfoy! - caçoou o zelador muito satisfeito.

- Na verdade, eu fui pontual. Vocês é que se atrazaram! - retrucou sem emoção tirando um relógio enferrujado do bolso.

- Vamos logo, moleque! - Snape já o empurrava para dentro do calabouço.

Em seu interior, podia-se ver paredes de pedra maciça. Sem nenhuma janela, era iluminado por apenas um grande archote bem no centro. Nas paredes, havia correntes para prender pescoços e punhos.

Um arrepio subiu pela espinha, fazendo-o estremecer só de pensar em passar a tarde toda ali. O zelador e o professor de Poções se entreolharam satisfeitos. Colocaram-no amarrado na parede oposta à porta, acorrentado pelo pescoço e como se não bastasse pelos punhos e tornozelos.

Saíram batendo a porta com veemência. A luz do archote central se apagou aos poucos deixando Draco mergulhado na escuridão, acabado em solidão e perdido em pensamentos. Bom na verdade, era apenas um; Gina.

Com o tempo, ele foi ficando desconfortável e com dores por todo o corpo. Não era possível mexer mais de um centímetro, tornando-se impossível encontrar uma posição confortável. As correntes apertavam e cortavam sua pele delicada e como se tudo não bastasse, os lábios finos começaram a se rachar. Não sabia quanto tempo se passara, nem quanto iria agüentar...

Como em um milagre, algo muito estranho aconteceu; pelas frestas do rejunte de cimento do chão, feixes de luz começaram a contornar uma pedra. A luminosidade foi crescendo cada vez mais até a pedra se levantar e dela surgir uma garota. Cabelos cor-de-fogo, olhos chocolate, bochechas rosadas e um sorriso maroto nos lábios carnudos e avermelhados.

- Gina!

- Olá Draco! - respondeu ela simpática. Aproximou-se dele e começou a abrir as correntes com um aceno da varinha.

- Mas e o jogo?

- Digamos que ele foi cancelado! - disse sorrindo mais ainda.

- M-m-mas c-c-como? - gaguejou Malfoy - Eles não podem cancelar o Quadribol assim, sem mais nem menos... A não ser que...

- A não ser que os dois capitães de ambos os times assinem um termo oficial de adiamento. - completou satisfeitíssima.

- E como você fez para eles assinarem? - perguntou passando a mão nos machucados do punho.

- Cobrei do Harry um favorzinho mínimo e mostrei ao capitão da Corvinal... Er... A minha incrível inteligência. - completou rápido corando um pouco. Draco sabia que a garota estava mentindo, mas fazer o que? Deixou passar.

Puxou-o para dentro do buraco no chão. No caminho por um túnel escuro, lembrou-se da verdade de como conseguira que o capitão do time adversário assinasse o formulário.



FlashBack



Gina estava caminhando até um garoto de cabelos negros e olhos castanho-claros, segurando um pergaminho numa das mãos.

- Oi! - disse quando chegou.

- Oi... - respondeu o garoto sem emoção.

- Eu estou recolhendo umas assinaturas para qualquer burocracia que nos seja exigida para a partida. Colabora? - perguntou docemente.

- Claro. - respondeu apanhando o pergaminho. O garoto fez menção de ler, mas Virgínia o impediu.

- Na-na-ni-na-não, sem olhar! - disse idiotamente.

- Como é que eu vou assinar algo sem olhar? - perguntou ele arrogante.

- Sei lá, olhe para outra coisa! - retrucou a ruivinha sem pensar.

- Ah, é? Como o que? - questionou ele intrigado. Gina pensou o mais rápido que pode, mas na falta de uma idéia melhor (e mais apropriada), levantou a blusa aflita, dizendo:

- Isto! - ele ficou boquiaberto, correu a pena suavemente pelo pergaminho, deixando ali, sua assinatura. Ela apanhou o papel muitíssimo corada (já com a blusa direita).

- V-valeu! - com isso ela se apressou em sair dali.



Fim do FlashBack




Gina voltou à realidade quando os dois alcançaram o fim do túnel e a luz do Sol irradiou sobre eles. Puxou Draco para fora e fechou um alçapão disfarçado por grama falsa. Eles estavam no exterior do castelo, numa parte pouco visitada. Encontravam-se na margem do lago oposta a habitual próxima ao castelo.

- Como você descobriu isso? - perguntou Malfoy abobado.

- Ora, eu sou ou não a irmã caçula dos gêmeos Weasley? - disse sorrindo marotamente. - Vem cá! - prosseguiu puxando-o para o lago.

- Gina, que é que você vai fazer? - perguntou ele receoso.

- Nadar! Não é óbvio? - perguntou apontando para a água do lago que batia em seus joelhos. - Você vem?

Draco caminhou até seu lado. A água estava incalculavelmente fria, mas quando Gina pegou sua mão e o puxou para um mergulho, foi como se de repente, aquela fosse a água de temperatura mais agradável em que já estivera. Ficaram lá, nadando e brincando juntos, como duas crianças em uma piscina.

Ele achava impressionante o modo de como ela ficava linda até mesmo em baixo d'água. Com seus cabelos cor-de-fogo correndo soltos por todas as direções e seus olhos levemente abertos, tinham agora uma coloração azulada, impregnada naquela íris marrom-chocolate. Seus lábios carnudos e avermelhados agora estavam mais salientes do que nunca. Aqueles lábios, ah, aqueles lábios! Eram capazes de enlouquecer qualquer rapaz em Hogwarts. As curvas perfeitas do corpo magro podiam ser vistas com clareza agora que o sobretudo não estava mais junto ao corpo, mas flutuando atrás dela.

"Nossa, ele é realmente lindo!" Pensava Gina consigo mesma, emergindo para respirar. Draco estava submerso nadando atrás de um curioso peixe que insistia em nadar em círculos. Os cabelos finos, loiros platinados, rebeldes, se movendo conforme os movimentos do garoto. Uma pele clara e fina. Seu rosto continha traços delicados e pela roupa molhada, podia-se perceber que anos de Quadribol tinham favorecido para o seu "desenvolvimento". Seus olhos... Cinzas, penetrantes, frios, pediam por algo... Ou alguém...

Tentado de mais para se conter, Draco abandonou o peixe que fingia perseguir e abraçou Gina por trás. Pelo susto, ela emergiu para fora d'água acompanhada de perto pelo garoto, que surgiu logo à sua frente na superfície. Envergonhada, corou um pouco por seu deslize e tentando consertar, abraçou o garoto, trazendo-o para perto de si.

Surpreso, acabou por enlaçar a cintura da garota, mas agora sentindo algo mais. Ele queria beijá-la, tocar aqueles lábios carnudos cor-de-cereja que tanto o atormentavam. A afastou um pouco e sorriu. Os dois foram se aproximando lentamente até que Gina não se agüentou; entregou-se ao beijo. Draco e Gina ficaram ali, se beijando ardentemente durante um longo tempo.





Quando o Sol já baixava no horizonte, resolveram retornar ao calabouço, antes que Snape ou Filch aparecessem para soltá-lo. No caminho de volta pelo túnel, a conversa fluía animada. Desmentiam e confirmavam alguns boatos e fofocas que as pessoas costumavam espalhar sobre eles.

- Comensal da Morte? - perguntou Gina.

- Nunca! Impiedosa?

- Ás vezes... Cafajeste?

- Já fui... - respondeu Draco envergonhado - Galinha?

- Credo! Er... Azkaban no semestre passado?

- Boato. - respondeu ele um tanto seco. - Chute nas bolas de Crabbe?

- Fato. - o garoto abriu a boca espantado e ela se apressou em se justificar - Ah, mas ele bem que "pediu" por isso, quando tentou passar a mão em mim! - completou fazendo uma cara de nojo que fê-lo rir.

- Ok, ok... Merecido! - completou levantando as mãos em ato se entregar. Chegaram no calabouço e se sentaram um de cada lado da abertura do buraco, onde ficava o alçapão aberto.

- Onde esteve no semestre passado?

- Você sabe... Por aí. - disse dando os ombros.

- Sei, sei... - retrucou virando os olhos. - Me diga algo que seja verdade... Algo que ninguém mais saiba... - pediu ela pegando a mão dele.

- Ok, deixe-me ver... Hm... Eu odeio ervilhas! - respondeu sorrindo.

- Sério! - insistiu ela.

- Tá! Você é bonita, doce e... É completamente louca por mim! - respondeu contente dando-lhe um selinho leve. Gina sorriu. - Venha ao Baile de Formatura comigo. - pediu gentilmente, mas isso apenas fez o sorriso da garota se apagar.

- Isso é um pedido ou uma ordem? - perguntou arrogante.

- Por favor! - choramingou ele pegando a outra mão.

- Não.

- Por quê?

- Porque é uma tradição idiota e todos vão! Eu não vou fazer o que todos esperam que eu faça. - e assim se soltou das mãos dele - O que vai ter de tão importante pra você? - perguntou desconfiada.

- N-nada! - gaguejou Draco em resposta - Por que você complica as coisas? - falou grosso mudando de assunto.

- RESPONDE A PERGUNTA, MALFOY!

- Nada! Só o prazer de sua companhia! - concluiu já estressado. Será que ela sabia?

Ao ouvir o som de passos Gina sumiu no buraco fechando o alçapão atrás dela enquanto Draco se atava novamente as correntes, esperando ser solto (novamente).

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