Afeto de Irmã



Se você não entende como uma mulher pode amar sua cara irmã e ao mesmo tempo torcer seu pescoço, então provavelmente você é filho único. ~ Linda Sunshine


 




"Lily, você pegou meu secador?"


 


Eu pisquei ao ouvir o som estridente e fechei os olhos com força enquanto fingia que isso foi apenas parte de um sonho que havia sido muito bom.


"Lily, eu sei que foi você! Você sempre rouba as minhas coisas!"


Agora não. Eu resmunguei sonoramente enquanto me virava para o outro lado e forçava meu travesseiro em minhas orelhas para abafar o barulho. Tentei me imaginar em um lugar mais tranqüilo. Seria quente, tão quente que o sol iria se derreter no meu corpo, cobrindo-me com seu glorioso amor. Sorri ao me cercar com a serenidade das ondas. Deixei escapar um suspiro ao fingir que sentia a areia fria em meus dedos. Minhas pálpebras caíram preguiçosamente.


"Lily!"


Meu travesseiro foi violentamente arrancado de minhas mãos. "Argh!" Gritei em protesto.


"Levanta! Vernon está vindo para me buscar em meia hora e meu cabelo ainda está molhado!"


"Prenda-o," resmunguei mal-humorada e me virei para evitá-la.


Ela bufou alto e senti seu peso sair de minha cama.


Doce sucesso! Sorri triunfante e me deixei sucumbir ao sono mais uma vez.


"Levanta" ela ordenou.


Recusei a me mexer. Minha cama era muito aconchegante, quente e segura. Suspirei ao sentir o cheiro do meu lençol e ignorei a presença de minha irmã, coisa que ela também era adepta a fazer – a não ser, é claro, que ela quisesse alguma coisa.


"Lily!" ela gritou.


Eu ouvi o som de minhas cortinas amarelas serem abertas e imediatamente bloqueei a luz com minha mão. Estava muito cedo e muito claro.


"Lily!" chamou mais uma vez.


"Shh," tentei acalmá-la. Se eu fechasse meus olhos com mais força, ficava quase tudo escuro novamente. "É hora de dormir."


"Lily, levante agora!" ela ordenou. Sua voz estava firme, o que fez a parecer boba.


Eu segurei meu cobertor com força e não me movi.


"Está bem" ela bufou. "Se você vai ser tão infantil, eu vou forçar você a se levantar"


De repente, ela começou me apertar e me bater por todo meu corpo. Seus dedos ossudos me picavam enquanto ela me atacava.


Eu empurrei as mãos dela para longe. "Vá embora," resmunguei. "Volte amanhã."


Seus dedos não cederam. Eu me contorci em meio às cobertas.


"Vá embora," repeti petulante.


"Não até você devolver meu secador," ela insistiu enquanto me dava uma cotovelada.


"Ai!" gemi de dor. "Me deixe em paz! Eu não peguei o seu maldito secador!"


"Pegou, sim. Agora, levanta!"


Ela começou a me sacudir, e foi ali que eu não tive escolha se não revidar. Eu usei meus punhos, minhas pernas e meus cotovelos para bater, chutar e socar tudo o que vinha em contato a mim.


Petúnia gritou estridente. "Por Deus, Lily! Pára! Você está me machucando!"


"Sai do meu quarto!" mandei. Minha voz ainda estava sonolenta. Eu puxei minha enorme camiseta para baixo, assim eu poderia parecer um pouco mais assustadora, sem minha calcinha de "Poção-da-Semana" aparecendo.


"Não. Você precisa se levantar." E com isso, ela pegou meu cobertor e o puxou com a maior força que conseguia de seus braços fracos, frágeis e ossudos para fora do meu corpo em protesto.


Eu olhei ao redor, confusa. Eu estava no chão.


"Petúnia!" Trovejei.


"Mamãe e papai não estão aqui!" ela me informou rapidamente, enquanto tentava se afastar sutilmente. "Eles não estão aqui, então você não pode correr até eles e dar a de irmãzinha inocente que você sempre dá."


"Que bom," retorqui entre os dentes. "Agora não haverá nenhuma outra testemunha de seu assassinato."


Petúnia apenas rolou os olhos da mesma maneira esnobe que ela tem desde que ganhou o primeiro sutiã. "Não seja tão dramática, Lily," ela me disse em tom condescendente. "Em todo caso," continuou, "eu preciso que você devolva meu secador, porque eu morro se o Vernon me vir parecendo menos que perfeita."


Meu queixo caiu. Havia várias maneiras de insultar a minha irmã em um momento glorioso como este. Eu não poderia escolher apenas um. Olhando para ela incrédula, eu me perguntei como ela sequer conseguia se levantar da cama todas as manhãs, ainda por cima me arrastando junto com ela.


"Você vai pegar hepatite se ficar com a boca aperta por tanto tempo," provocou Petúnia.


Ela saberia. "É moscas," corrigi.


Ela encolheu os ombros. "Tomate, tomate."


Eu a encarei com receio antes de usar minha cama como suporte para conseguir ficar de pé.


"Que bom, você levantou," ela comentou friamente.


"É, e agora eu vou voltar para a cama. Boa noite. Saia", disse a ela.


Ela agarrou meu braço e enrolou seus dedos em volta dele como uma corrente, que me impediu de voltar para minha bela cama. "Não até você devolver meu secador."


Eu puxei meu braço de seu aperto com raiva. "Eu já te disse que eu não estou com ele! Eu posso secar meu cabelo com magia, lembra? Eu não preciso mais de secadores."


"Ah, é verdade. Você é uma aberração," disse ela, como se tivesse acabado de lembrar que sua irmã era uma bruxa.


"O termo politicamente correto é magicamente inclinado," revidei descaradamente.


"Eu conheço uma aberração quando vejo uma," ela garantiu.


Eu estava prestes a perguntar se ela havia visto um espelho ultimamente quando Petúnia lembrou que ela tinha outros propósitos na vida além de fazer minha vida miserável. Ela mesma.


"Bem, se você não está com meu secador, onde ele está? Eu já olhei no quarto da mamãe e em todos os banheiros. Este é o único lugar onde ele possa estar."


Eu suspirei e esfreguei meus olhos com as costas de minha mão. Se eu conseguisse voltar para cama nos próximos dois minutos, eu conseguiria dormir mais um pouco, se não, eu ficaria acordada pelo resto do dia. "Você já olhou embaixo da sua cama?" perguntei devidamente.


"Ah, droga," ela percebeu e saiu do meu quarto.


Revirando os olhos, fiz meu caminho de volta para cama. Nem dez segundos depois, eu ouvi o leve ruído do secador vindo do outro lado do corredor. Eu ri baixinho para mim mesma enquanto eu pegava o travesseiro do chão e colocava-o atrás de minha cabeça. Meus olhos se fecharam felizes enquanto abraçava o travesseiro no meu peito. Eu fiz isso antes que os dois minutos se acabassem. Imaginei meu sonho anterior: as bananas estavam prestes a se juntarem aos macacos em um sapateado.


"LILY!"


Assustada, pulei para fora da cama. Olhei em volta novamente. Ótimo, eu ainda não tinha passado tempo suficiente com o chão. Eu carpete era adorável e muito, muito duro. Esfreguei meu traseiro lentamente.


"Lily!" disse ela de novo.


Olhei para cima. Minha maravilhosa irmã pairava sobre mim com expectativa. Merlin me livre de passar minha vida inteira a serviço das fantasias de Petúnia.


"O quê?" grasnei. Fiz uma nota mental de trocar a fechadura da minha porta. Petúnia não precisava de varinha, ela tinha grampos. "O que você quer agora?" resmunguei, enquanto esfregava minha cabeça vermelha com os dedos.


"Eu preciso uma de suas saias emprestada" Petúnia disse freneticamente. Eu adorei que isso não saiu como uma pergunta. Os olhos dela estavam arregalados de aflição. Ela estava tendo uma manhã cheia de eventos. Eu imaginei que torturar sua irmã mais nova fosse uma tarefa estressante. "Eu derramei água na minha, agora ela está molhada," explicou, enquanto abria meu armário e começava a tirar roupas de dentro dele rapidamente.


"É apenas água," persuadi. "Não a nem sequer uma mancha na sua saia."


"Mas ela está molhada!" Petúnia insistiu, colocando uma de minhas calças na frente de seu corpo.


"Por que você não seca ela com o secador?"


Petúnia encolheu os ombros e colocou mais uma de minhas calças em sua frente. "Ah, bem," ela suspiro. "Agora já é tarde." Ela se olhou no espelho antes de sacudir a cabeça e jogar a calça no chão.


Boquiaberta, assisti silenciosamente ela fazer o mesmo processo com outros dez itens.


"Meu Deus, Lily, você não tem nada descente para vestir?"


"Eu gosto de minhas roupas," me defendi. Eu valorizava conforto, mas mesmo assim a maioria de minhas roupas eram estilosas. Eu gostava de vir para casa e ter um armário cheio. Usar uniforme todos os dias era prático e poupava tempo, mas isso causava um pouco de tédio. Minhas roupas de verão eram o meu jeito espontâneo de sair do sistema. "Além disso, a maioria de minhas roupas eram suas," relembrei-a ao vê-la deixar de lado um par de shorts que ela me deu há um ano atrás porque os achava muito comprido.


"E elas ficam bem melhores em mim," comentou Petúnia, enquanto tirava uma saia rosa do fundo do meu armário.


Franzi meu nariz. Nunca usei aquela saia. Petúnia a tinha me dado de presente em meu último aniversário, mas ela era curta de mais para meu gosto. Eu não podia sequer me curvar sem que as pessoas tivessem uma visão rápida de minha câmara secreta.


"Perfeito," murmurou feliz.


"Com certeza," sussurrei para mim mesma. Apanhei meu robe e fui até a porta. "Eu vou tomar banho", avisei. "Arrume isso enquanto eu estiver fora" falei a ela apontando para a pilha de roupas que jaziam no chão.


Petúnia me deu um olhar atravessado que eu infantilmente respondi mostrando a língua.


"Que seja, aberração."


Eu ri irônica de seu apelido carinhoso antes de fazer meu caminho para o banheiro. Dei-me um tempo no chuveiro. Eu amava o som terapêutico da água caindo contra meu corpo e o cheiro de meu xampu de morango. Eu tenho usado o mesmo tipo desde que eu era criança quando minha mãe disse que ele combinava com meu cabelo.


Eu era a única ruiva em minha família. Meu pai disse que ele tinha uma tia-avó que era ruiva. Acho que ganhei na loteria genética, e não apenas com o cabelo. Eu ri ao pegar minha varinha para depilar magicamente minhas pernas e secar meus cabelos em poucos segundos. Eu era realmente uma aberração.


Bem, depois de 19 anos, Petúnia estava certa sobre algo.


Eu me examinei de perto no espelho. Uma leve nuvem de sardas estavam se formando em meu rosto devido a exposição ao sol que recebi este verão. Meu cabelo, ao contrário dos cabelos loiros e lisos de Petúnia, tinham uma pequena ondulação neles. Meus olhos tinham um verde muito vivo. Petúnia disse que eu parecia que estava sempre celebrando o Natal. Ela estava certa, é claro; eu não combinava. Demorou um bom tempo para que eu aceitasse o fato de que eu não era muito normal.


Eu ainda estava me acostumando com isso.


Suspirei e olhei para longe. Eu poderia ser uma bruxa, mas pelo menos eu não tinha dedos ossudos.


Eu amarrei meu robe em volta de meu corpo e voltei para meu quarto. Petúnia havia saído, Merlin, obrigada, e, como eu já esperava, minhas roupas ainda estavam espalhadas pelo chão. Suspirei e me abaixei para apanhar umas calças.


"Maldita irmã," resmunguei quando finalmente meu último artigo de roupa estava em seu devido lugar. Rapidamente, eu me vesti com um par de shorts e uma regata preta. Eu não queria me exasperar com nada muito importante hoje. Meu dia inteiro foi preenchido com desagradáveis despertadas. Realmente, a forma como você acorda pode afetar todo o seu dia. Ainda assim, eu passei um rímel e um lápis de olho só para caso de o dia não virar em um fracasso total.


Eu arrumei minha cama e coloquei todos os meus travesseiros sobre minha colcha verde menta em uma posição específica. Busquei minha roupa na secadora e estava prestes a começar a dobrá-las quando ouvi um som de pancadinhas em minha janela. Animada, eu corri para deixar Calypso, minha bela coruja cinza escura, entrar. "Oi, Callie," saudei-a, enquanto ela dava uma mordida carinhosa em meu dedo.


"Senti sua falta, garota," eu ri quando ela piou alegremente para mim. Ela estendeu sua pata respeitosamente, e me apressei para desamarrar a carta que estava presa a ela antes dela voar para sua tigela de comida. Eu abri a carta ansiosamente e dei um largo sorriso ao reconhecer a caligrafia.


Lils!


Merlin, Lily! Se eu não amassasse você tanto quanto eu amo e se eu não fosse uma boa amiga para não deixar você sozinha com os Marotos e seu nojento harém de garotas em êxtase por ano, eu nunca deixaria a Espanha. Os homens, Lily! Os homens! Eles não são como os garotos daqui. Eles são homens.


Tem um rapaz que trabalha no albergue onde estamos hospedados. Ele usa aquelas calças pretas apertadas, e, Merlin, acho que estou apaixonada por ele. Ele me chamou de alguma coisa em espanhol na noite passada, depois de nós nos agarrarmos irracionalmente. Eu não faço idéia do que significava, mas soou atraente. Eu realmente vou sentir falta dele...


Me desculpe, Lily! Eu sei que estou sendo uma chata. Não se preocupe, eu ainda não permiti que nenhuma outra garota do nosso ano assumisse meu corpo, e eu ainda não gosto de aglomero! É que faz tanto tempo que eu não encontro alguém que eu não conheça desde que eu tinha onze anos. É maravilhoso. Você iria adorar. Você também deveria ter um amor de verão.


Bem, deixando o romance adolescente de lado, porque eu estou bastante certa de que quero me amordaçar agora, a Espanha é incrível. Minha mãe está apaixonada por todos os lugares bruxos, e meu pai não se cansa dos museus trouxas. Eu tentei explicar a eles que como papai é o bruxo, e mamãe é a trouxa, deveria ser ao contrário, mas não existe lógica nenhuma a se encontrar nos meus pais. Você iria amar aqui, Lily. A comida, a paisagem, as danças, o clima! Eu estou tão bronzeada que você nem me reconheceria.


Falando de bruxas, eu não conseguiria pensar em nada que me faria deixar meu paraíso a não ser você. Eu estou tão excitada que seus pais vão me deixar ficar na sua casa antes das aulas começarem. Estou com saudades de minha melhor amiga! Não era para ficarmos tanto tempo sem nos falarmos.


Eu tenho que ir, mas saiba não posso mais esperar para te ver! Eu fico com esse sorriso bobo toda vez que eu vejo Calypso. Bem, adiós, mi amiga! Não mate Petúnia antes de eu chegar ai! É a função da melhor amiga ajudar a eliminar o corpo.


Com amor,


Hestia.


A senhoria Hestia Jones e eu somos amigas desde o banquete de abertura no nosso primeiro dia em Hogwarts. As duas únicas garotas do primeiro ano que não perderam os sentidos com o sorriso atrevido de Sirius Black, com os olhos de oceano de Remus Lupin ou com o cabelo "sexy" de James Potter. Criamos uma união para vida toda. Quero dizer, nós éramos primeiranistas! Eu supus que os hormônios aflorassem cedo em Hogwarts. Talvez fosse a magia. Mas ainda assim, depois da puberdade, Hestia e eu permanecemos resistentes em nossa completa repulsa pelos idiotas que se autodenominavam "Marotos," não importa o quanto eles pareciam se opor a isto. Eu poderia perdoar Sirius por ficar interessado em Hestia. Eu mesma já tinha tido uma queda por suas irresistíveis qualidades charmosas, só que, é claro, de um jeito completamente não-sexual. Contudo, eu não poderia perdoar seu irritamente melhor amigo por sua fútil obsessão por mim. Mais um ano, e eu estaria finalmente livre de James Bendito¹ Potter. Ah, esse pensamento me dá vontade de cantar.


Hestia estava vindo amanhã para passar as duas últimas semanas de férias em minha casa antes de começarmos o sétimo ano. Eu também estava muito animada. Eu esperei o verão inteiro para ouvir seus comentários e anedotas sarcásticos. Melancolicamente, eu coloquei a carta de volta no envelope e deixei-a perfeitamente colocada em minha mesa de cabeceira. Olhei para o relógio em meu pulso esquerdo. Mas 32 horas e eu a veria pessoalmente!


Com um pensamento otimista, voltei a dobrar minhas roupas. Eu estava quase terminando quando Petúnia apareceu em meu quarto mais uma vez. Eu rapidamente considerei transformá-la em sapo. Meus dedos coçavam pela minha varinha, mas eu me forcei a me concentrar nas roupas. Eu não acho que minhas meias apreciaram muito isso. Eu fico um pouco violenta quando minha irmã está por perto.


Ela não disse nada, apenas entrou em meu quarto como se fosse o dela. Tristemente, eu tinha um pressentimento que Petúnia acreditava que fosse. Ela se empoleirou na frente da minha janela e puxou as cortinas.


Isso já era demais. Não consegui me controlar. "O que você está querendo agora?"


"Shh," ela me silenciou enquanto balançava a mão em minha direção para que me acalmasse.


Eu tive o efeito contrário. "Não, esse é o meu quarto. Eu tenho direito de sabe o que está acontecendo."


"Eu estou olhando pela sua janela," falou Petúnia, sem nunca tirar os olhos do que fosse que ela estivesse olhando, com uma voz arrogante.


Lutando contra a vontade de revirar meus olhos porque não tinha ninguém por perto para apreciar meu senso de humor, eu fiz outra pergunta. "Você não pode fazer isso no seu quarto?"


"O seu tem uma vista melhor da frente da casa," ela respondeu.


"Por que você precisa ver a frente da casa?" perguntei.


"Tem um rapaz bonitinho ali fora," ela me disse em meio a uma risadinha estridente.


Eu não pude evitar, revirei meus olhos. "Eu não chamaria Vernon exatamente de bonitinho," disse a ela. "Capaz de engolir uma baleia, possivelmente, mas bonito, não."


Petúnia estava tão irritada que ela se virou para olhar em minha direção. "Não é o Vernon. Eu não sei quem ele é. Eu só o achei bonito."


"Você mencionou," respondi secamente. Desinteressada, voltei a dobrar minhas roupas.


"Não que haja algo de errado com Vernon," continuou Petúnia pensativa. "Ele é um ser especial, e está completamente apaixonado por mim."


"Quem não estaria?" murmurei para mim mesma.


"Mas esse cara ali fora parece sexy. Olhe aqueles ombros! E o jeito que a bunda dele fica quando anda, meu Deus!" ela fez uma pausa dramática. "Eu só queria poder ver o seu rosto. Eu me pergunto por que ele está aqui. Ele não para de passar na frente da nossa porta. Talvez eu deva convidá-lo para entrar."


"Tenho certeza que seu namorado vai adorar isso. Estou ansiosa para esta conversa: 'Desculpe, colega, mas Petúnia já saiu com um menino-deus com belo traseiro."


"Eu posso estar apaixonada por Vernon, meu eu ainda sou uma garota com olhos. Não é crime apreciar o sexo oposto. É completamente normal."


"Sorte sua," mantive meu tom indiferente. Se eu não desse corda, talvez ela finalmente se cansasse e me deixasse sozinha.


"Não que você entendesse alguma coisa sobre isso," Petúnia tagarelou. "Você nunca namorou. Provavelmente você nem saiba como um garoto bonito aparenta ser."


Eu mordi minha língua. Fiquei tentando pensar em imagens reconfortantes para controlar meu temperamento, que esta prestes a explodir. Me concentrei em minhas meias. Se eu pudesse manter o foco em alinhar as listras perfeitamente, tudo ficaria bem.


"Não que isso seja importante. Eu duvido muito que alguém iria querer namorar uma aberração como você."


Bati minhas meias para baixo com raiva.


"Sério?" alfinetei. "Então você acha que não há uma possibilidade do rapaz ali em baixo preferir a mim do que a você?"


Com as sobrancelhas erguidas, Petúnia me avaliou esnobe por alguns segundos antes de zombar em minha direção. "Eu duvido."


Agora eu estava brava. O que havia de tão errado comigo? Eu levantei da minha cama e fui até a janela para espiar o garoto. Ela tinha razão. Ele parecia bem gostoso². Sua camisa preta estava apertada em seus músculos, e sua jeans acentava perfeitamente em torno de seus quadris. O Garoto-da-Janela também tinha um cabelo que gritava travessuras. Era escuro, espesso e incontrolável, do tipo que você tem vontade de passar os dedos por ele. É, esse rapaz é definitivamente bonito. Ainda assim, não havia motivo nenhum para Petúnia começar a dizer bobagens apenas ao espioná-lo, ou sugerir que eu não seria capaz de atrair seu interesse. Eu tinha tantas chances com o Garoto-da-Janela quanto ela.


Eu tive namorados. Pode não terem sido muitos, mas alguns garotos na escola mostraram interesse. Eu já flertei. Eu já me produzi e coloquei um gloss nos lábios. Eu poderia ser tão cheia de estrogênios quanto qualquer uma. Eu até tinha meu perseguidor que não aceitava "não" como resposta. Eu era Lily Evans, e poderia arrumar um namorado se eu quisesse.


"Não há motivo nenhum para que ele não queira namorar comigo," disse a ela.


"Por favor," Petúnia riu. "Como se ele fosse querer sair com uma aberração."


"Vamos descobrir," vociferei. Eu sai do meu quarto, corri pelo corredor e desci rapidamente as escadas.


"Lily!" Petúnia me chamou atrás de mim enquanto tentava me alcançar. "O que você está fazendo? Pare!"


"Não!" gritei a ela. "Nós vamos perguntar ao Garoto-da-Janela o que ele acha."


"Não!" Petúnia berrou.


"O quê?" perguntei arrogantemente. "Está com medo?" Provoquei, parada em frente à porta.


Petúnia chegou alguns segundos depois de mim e respirou fundo para estabilizar os batimentos de seu coração. Ela me examinou com os olhos antes de olhar para a porta. "De você," zombou. "Nunca."


E então ela abriu a porta.


Levou alguns segundos para ele realizar o que estava acontecendo. Ele girou os calcanhares e sua mão voou imediatamente para os cabelos.


"Olá," Petúnia ecoou em um tom que eu assumi que fosse de flerte. Ela bloqueou minha visão com a porta. Eu não consegui ver ser rosto.


"Ah, oi" ele respondeu. Sua voz falhou. Talvez ele estivesse em choque por ver Petúnia se curvando de um jeito que quase dava para ver seu intestino.


"Posso te ajudar com alguma coisa?" ela perguntou sugestivamente.


Eu revirei meus olhos. Sério, como é que eu fui ter Petúnia como irmã?


"Ah, sim, a, um, Lily está?" ele perguntou. Sua voz soava nervosa.


Eu me assustei quando ouvi meu nome. Eu me espreitei pela porta para poder vê-lo. Meu coração parou. Eu conhecia aquele cabelo.


O que James Potter estava fazendo aqui? Ele estava parado bem na frente da minha porta. James Potter na minha casa. Petúnia e eu conversamos sobre seu traseiro. Nós íamos perguntar com quem ele preferiria sair. Era James Potter, e ele estava aqui. Eu achei que iria vomitar.


"Lily!" James exclamou quando me viu. Seu rosto se quebrou em um grande sorriso. Ele parecia mais bronzeado desde a última vez que o vi em junho. Ele ficou mais alto também. Eu tentei capturar todas as coisas que o deixaram irreconhecível a mim anteriormente. Não funcionou. Minha cabeça repetia sempre a mesma coisa. James Potter estava na minha casa.


Atrás de mim, Petúnia estava fervendo. "Você quer falar com ela?" Perguntou sarcasticamente.


James olhou para minha irmã como se ele saísse de um transe. "É," ele respondeu. "Se for possível."


"Você tem certeza?" Petúnia arrebatou. "Quero dizer, ela está bem ocupada."


"Bem, eu acho que posso voltar em outra hora," sua voz vacilou. Sua voz estava mais cautelosa do que eu esperava.


"Bem, você sempre pode conversar comigo," ela realmente piscou para ele.


Eu tive que trabalhar duro para não vomitar em meus sapatos. Fechei meus punhos em cada lado.


"Não, obrigado. Eu quero só a Lily mesmo."


Petúnia ficou desesperada. "Mas ela é uma aberração!"


E foi aí que eu disse:


"Petúnia, deixe eu lhe apresentar meu namorado, James Potter."


As palavras escaparam de minha boca antes que eu pudesse impedi-las. Eu me alegrei com a expressão de choque no rosto de minha irmã mais velha. Seu queixo caiu quase para o peito, e ela estava me olhando como um peixinho fora d'água. Eu sorri presunçosamente da descrença em seu rosto.


Meu sorriso desapareceu quando eu vi a expressão de Potter. Era uma mistura de uma grande euforia que eu nunca havia visto com muita confusão. Parecia que ele havia acabado de ganhar um milhão de galeões em uma loteria que ele não se lembrava de ter apostado. Perifericamente, percebi os olhos de Petúnia olhando de mim para ele. Meus olhos se arregalaram quando olhei para o rapaz em minha frente.


Potter abriu a boca como se ele fosse dizer alguma coisa. Ah, não. Ele ia me corrigir. Potter iria dizer a Petúnia que eu menti. Ele ia dizer que ele não era meu namorado. Eu não poderia deixá-lo fazer isso. Pelo amor de Merlin, eu não podia deixá-lo fazer isso. Eu tinha que impedi-lo. Ele não podia dizer a verdade. Então, eu fiz a única coisa convincente que eu pensei que pudesse fazê-lo parar. Eu o beijei.




¹ Em inglês, "James Ruddy Potter," que no idioma britânico pode ser traduzido para "bendito," mas num sentido de eufemismo. Ruddy também serve de tradução para vermelho, rubro, corado.


² Em inglês, "lickable," que ao pé da letra seria algo como "lambível," mas achei que iria ficar um pouco estranho e vulgar colocar uma palavra assim, então optei por "gostoso," que é uma palavra mais comum em nosso vocabulário e se encaixa no que Lily quis dizer.




N/T: Essa não é a primeira fic que eu traduzo, mas é a primeira long. Agradeço muito a Molly por permitir que eu traduza suas fics. Essa fic é a primeira de uma série de três fics muito lindas que ela escreveu, e eu espero que consiga traduzir todas elas.


No decorrer das fics, vocês verão algumas notas de rodapé assim como as duas acima, para explicar alguns nomes ou possíveis trocadilhos em inglês que nem sempre se encaixam tão bem em nossa língua. Vou manter todos os nomes dos personagens na versão original (porque senão, eu até acharia outro nome para a coruja da Lily, rsrs). Por vezes também poderem traduzir a nota da autora, que estará como "N/A," e as minhas com "N/T"


Obrigada e até o próximo capítulo!

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