A Mentirosa



Anteriormente, em Namorado:


As pontas de seus dedos roçaram em meus cabelos quando ele abandonou seu poder sobre mim. Em um silêncio atordoado, eu o observei caminhar em direção ao quarto de hóspedes. Em um tom de voz um pouco mais alto eu o ouvi dizer: "Boa noite para você também, Petúnia!"


Eu segurei uma risada ao ouvir a porta dela bater com um rangido.


James virou-se e piscou para mim. Eu revirei os olhos.


Estúpido, maldito namorado falso.




Capítulo Três


 


"A melhor política é sempre dizer a verdade, a não ser, é claro, que você seja um mentiroso excepcionalmente bom." ~ Jerome K. Jerome




Os raios de sol se irradiaram pela janela do meu quarto. Eu rolei para o outro lado da minha cama e puxei o cobertor para cima de minha cabeça. Não funcionou. Além de não bloquear o sol, o cobertor também dificultou a minha respiração. Eu o empurrei de volta e tentei fechar os meus olhos o mais apertado possível.


Por alguma razão obscura, eu tinha aquela sensação sinistra de que eu não deveria levantar hoje, como se eu estivesse prestes a descobrir alguma notícia que era melhor evitar. Eu não conseguia lembrar o porquê, mas percebi que era muito cedo para questionar o meu subconsciente se até mesmo a minha consciência era um pouco bizarra. Eu forcei minhas pálpebras para baixo ainda mais apertado.


Não funcionou, e agora eu precisava fazer xixi.


"Droga", murmurei mal-humorada. Agora eu sabia que nunca conseguiria voltar a dormir. Eu joguei minhas pernas para o lado da cama e atirei-me para frente.


Depois de navegar as cegas para o banheiro e cuidar de minha incômoda bexiga, eu cambaleei até a cozinha para comer alguma coisa. Meus shorts tinham subido muito nas minhas pernas, minha regata estava caindo e meus cabelos estavam apontando para todos os lados. A cozinha era a coisa mais brilhante que eu tinha visto em toda a minha luta matinal. Eu protegi meus olhos com os braços enquanto abria um enorme bocejo.


"Bom dia, meu raio de sol," eu ouvi uma voz masculina dizer entre risadas.


Meus olhos se arregalaram como se eles tivessem tomado dezenove xícaras de café por conta própria. James Potter estava sentando na minha cadeira da mesa da cozinha e tomando café com a minha mãe! Que diabos estava acontecendo?


Eu cambaleei para trás enquanto meu cérebro cansado tentava processar a informação. Foi então que a estupidez de ontem veio em minha cabeça em uma série de imagens constrangedoras. Olhei para minhas roupas e depois para o rosto sorridente de Potter.


"Merda!" exclamei, antes de sair correndo dali. Desta vez eu notei que sua risadinha baixa e rouca foi acompanhada pelas altas e agudas de minha mãe. Simplesmente perfeito.


Corri de volta para meu quarto e fechei minha porta rapidamente. Descansei minhas costas na porta fechada e tentei controlar minha respiração irregular, que fazia meu corpo sacudir-se como um peixe fora d'água. Eventualmente, meus joelhos e minha determinação desistiram, e eu caí no chão. Merlin, não tinha sido um sonho!


Infelizmente, eu não tinha o tempo que gostaria de ter para lamentar-me no chão. Normalmente, com certa motivação e com certo nível de TPM, eu poderia chorar por dias. Contudo, um ruído tinindo em janela me distraiu da coisa patética que algumas pessoas chamam de Lily Evans – quando, é claro, ela não estava sendo referida como "raio de sol." Quando o barulho não parou, olhei para a gaiola de Calypso. Callie estava dormindo tranquilamente, seu bico emitindo um som quase inaudível, mas ainda assim completamente calmante. Ave sortuda.


Eu cambaleei para minha janela, aborrecida. Fiquei surpresa em encontrar um papagaio verde batendo o bico sem descanso contra o vidro de minha janela. Instintivamente, corri para deixá-lo entrar. Ele esperou impacientemente para mim desamarrar a carta de sua perna antes de voar sem sequer olhar para trás.


Se fosse no fim do dia e minha mente não estivesse tão oprimida, ou, se eu não estivesse tão ansiosa para ler o conteúdo da carta, eu teria tirado um momento para reconhecer o quanto eu gostaria de voar para longe de mim mesma e dessa situação. Merlin, isso era existencial – nada muito esfarrapado para uma garota que não ficou tempo suficiente na escola trouxa para estudar Shakespeare. Eu rasguei o envelope e li a carta avidamente.


Lily,


Eu sinto muito! É sério, você deveria procurar uma nova melhor amiga agora mesmo! Eu não mereço o título! Me force a ir num encontro com Peter Pettigrew, ou pior, com Sirius Black! Faça-me conversar sobre minhas cutículas com as Lufa-Lufas fúteis do nosso ano! Faça-me sair do Quadribol! Nunca mais me permita comer nenhum outro sabor de Feijõenszinhos de Todos os Sabores a não ser o de vômito!


Eu mereço isso. Eu mereço todas essas punições e mais algumas. Está bem, talvez eu esteja exagerando um pouco. Nada que eu fizesse poderia justificar um encontro com Black. Mas mesmo assim! Eu sou uma pessoa horrível, horrível! Argh, deixe-me explicar.


Ontem eu passei boa parte do dia me despedindo da Espanha. Eu "adioséi" as bandas de mariachi, o tango e as delícias de queijo. Foi duro, mas eu lembrei que deixar meu Paraíso Español, significa entrar em la casa de Lily. Ao anoitecer, a única coisa que eu tinha que fazer era hasta La vista meu Rico Suave.


Ele acabou entrando no meu quarto do albergue. É uma longa história, um beijo espanhol é ainda mais ardente que um francês. As mãos começando a... percorrer. Normalmente, isso teria sido fantástico, mas meus pais chegaram.


Merlin, Lily. Foi horrível! Eles ficarão muito bravos. Acho que meu pai teve literalmente que prender a minha mãe para impedi-la de lançar um Avada Kedavra bem no traseiro sexy dele. Foi como naquelas novelas espanholas mas com varinhas e palavrões que eles não permitem que digam em grandes redes.


Agora, o que isso tem haver comigo ser a pior pessoa do universo? Eu estou de castigo. É isso mesmo. Nada de garotos, nada de telefone, nada de mágica, e nada de Lily. Eu apenas fui permitida enviar esta coruja para lhe informar que não poderei vir hoje, nem amanhã, nem mesmo semana que vem. Estou sendo forçada a passar um tempo com meu irmão de dez anos (basicamente, meus pais lhe deram permissão para me usar como sua escrava pessoal). As próximas duas semanas serão preenchidas recolhendo suas meias sujas e dando a ele todas as histórias em quadrinhos que ele quiser. Me mate!


Ainda assim, eu estou tão furiosa comigo mesma e tão azarada que não posso colocar a culpa neles. Eu me sinto mal por deixar você na mão, principalmente quando estou sentindo muitas saudades suas. Sinta-se livre para me ignorar na escola. Não perca seu tempo em me procurar no trem. Desconsidere minha presença completamente. Saiba apenas que você estará quebrando meu coração se fizer isso.


Ah, eu tenho que ir. Os travesseiros do Taylor não estão macios o suficiente.


Eu te amo, e vou passar o ano inteiro ignorando seus costumes irritantes (como quando você vai para biblioteca ao invés das festas pós-Quadribol) se você puder tocar seu coração e me perdoar. Antes de eu ir, aqui está o que eu aprendi em minhas férias de verão: nunca faça nada de estúpido por causa de um garoto, mesmo que ele for do tipo mais irresistível. E o mais importante, não seja pega.


Sua serva,


Hestia.


Sentindo-me tola, eu limpei as lágrimas que temiam cair dos meus olhos. Eu ia sentir falta dela, mas não era esse sentimentalismo que eu precisava para me livrar das lágrimas. Quando terminei de responder a carta de Hestia – uma resposta rápida e perdoada que me mostrava como uma melhor amiga amável e compreensiva ao invés da falsa namorada de Potter que eu realmente era – deixei Callie voar com ela. Desta vez eu tinha mais tempo para ser irônica.


Chocada, eu olhei para o minúsculo pontinho movendo-se para cada vez mais longe. Era isso aí. Praticamente perfeito. Eu não precisava mais inventar uma mentira para manter Hestia afastada. Para todos os efeitos, ninguém precisava saber que era Hestia, e não Potter, que era originalmente a proposta para ser nossa convidada por duas semanas. Eu gemi internamente. Merlin, alguém com poder devia realmente me odiar.


Essa teria sido a oportunidade perfeita para chutar Potter para fora de casa. Bendita sorte. Ou melhor, benditos homens latinos. Meu estomago roncou, e percebi que eu não poderia me esconder por muito mais tempo em meu quarto sem levantar suspeitas.


Eu apanhei meu robe e amarrei-o em volta de meu pijama amassado. Fui rapidamente ao banheiro jogar um pouco da água no meu rosto e passar um pente pelos meus cabelos emaranhados antes de voltar à cozinha para encarar meu destino inevitável: café da manhã com o meu ser insignificante.


Eu me preparei para vencer quaisquer obstáculos e constrangimentos que ficarem entre mim e meu suco de laranja matinal – sem polpa.


"Olha, ela voltou," minha mãe anunciou num tom excessivamente teatral.


Eu rolei meus olhos e tomei um gole de meu suco. Caminhei até o armário e abri a porta. Encarando a comida que estava ali dentro, eu tentei bloquear o que fosse que James Potter estava dizendo para minha mãe. Havia tantas opções: cereais, aveia, granola... Maldição! Pare de rir com a minha mãe, Potter!


Eu peguei meu muffin de blueberry¹ rancorosamente – ou melhor, tão rancorosa e agressiva que você pode ficar ao pegar uma massa coberta de açúcar – e me atirei na mesa da cozinha entre minha mãe e o rapaz com quem eu iria encontrar a infelicidade eterna nos laços do sagrado falso-matrimônio.


O braço de Potter se aproximou de meu ombro e eu puxei minha cadeira para evitá-lo.


Minha mãe riu divertida. "Não leve para o pessoal, James. Ela é sempre assim desagradável pela manhã. Não tem nada haver com você."


Eu tive que ranger meus dentes para me controlar em não contradizê-la.


Potter me deu seu sorriso habitual. "Eu sei tudo sobre a Lily pela manhã," ele afirmou.


Minha mãe nos lançou um olhar preocupado. É isso aí! Eu sabia que você era a mesma mulher que me deu a luz! Agora solte os cachorros em cima dele! Afaste-o de sua filha adolescente virgem!


"Não que eu..." James emendou aterrorizado, machas rosadas formavam-se em seu rosto. "Eu só quis dizer que Lily geralmente não está preparada para interações humanas pelo menos até dez minutos depois do café, que eu sei apenas porque nós vivemos juntos. Não de um jeito pessoal, eu quis dizer que nós vivemos no mesmo castelo."


Foi divertido assistir Potter se apavorando. Eu aprovei.


"Respire, James," minha mãe disse bem-humorada. "Eu sei que você nunca machucaria minha Lily."


Droga! Ótimo, mamãe. Porque você não simplesmente o joga em um corredor polonês? Como ela não conseguiu ver que, apesar de sua bela aparência, ele era a imagem do Diabo?


"Ah, não, não a Lily," Potter assegurou-a antes de pegar minha mão e me olhar com um nojento olhar apaixonado.


Puxando-a de volta, eu rosnei baixinho enquanto minha mãe suspirava sonhadoramente para a gente.


"Vocês são tão bonitinhos juntos."


Agora eu sabia por que Petúnia era tão sádica. Era o DNA. Eu comi meu muffin rancorosamente enquanto eles continuavam sua conversa. Toda vez que meu nome ou o nome de Potter ou qualquer outra coisa sobre toda essa situação aparecia, meus dentes rangiam violentamente. Quando terminei de comer, eu estava quase certa de que iria precisar de uma extrema reconstituição dental.


Nada parecia errado, porém, quando o sorriso de Potter se radiou para mim antes dele pegar minha mão de novo. Eu os ignorei totalmente ao me concentrar na imagem de seus dedos entrelaçados com os meus. Suas mãos eram grandes e bronzeadas. Elas também eram de uma textura mais grossa do que a minha. Eu notei calos ao longo de suas palmas que provavelmente eram produtos do Quadribol. Sua pele não era fria, mas cheia de um calor reconfortante que, felizmente, não a deixava suada. No geral, teria sido agradável, ou pelo menos tolerável, se a mão mencionada não estivesse ligada ao braço que foi levado para os cabelos despenteados do insuportável. Eu queria muito socar alguma coisa.


Seu dedão começou a massagear minha mão em círculos, e eu olhei para ele intensamente. Ele sorriu para mim como se soubesse exatamente o que eu estava fazendo. Seu rosto mostrou claramente que ele pensava que poderia fazer tudo o que quisesse comigo – tudo o que seria socialmente aceitável na frente de minha mãe, é claro – e não havia nada que eu pudesse fazer para impedi-lo. Eu continuei a olhar significativamente para ele enquanto o amaldiçoava em minha cabeça. Eu desejei coisas horríveis a ele, incluindo, mas não se limitando, em coisas como: a Sonserina vencer a Grifinória na final do Quadribol, alguém cortando todo o seu cabelo, e seu pênis sendo substituído por uma varinha no lugar.


Ele sorriu para mim como se fosse um Legilimente e soubesse que eu estava pensando sobre uma certa parte de sua anatomia. Eu apertei sua mão fortemente e enfiei minhas unhas em suas palmas o máximo que pude. Ele gemeu alto e largou minha mão. Sorri. Doce sucesso!


"James, querido, você está bem?" ouvi minha mãe perguntar com a voz preocupada.


"Eu estou bem. É preciso muito para me assustar." Ele estava sorrindo para ela, mas eu sabia que suas palavras estavam sendo direcionadas para mim.


Aborrecida, cruzei meus braços e contei alguns segundos até não parecer suspeito de minha parte deixar a mesa. Tudo o que eu queria era meditar em meu quarto sobre a ausência de Hestia.


Mamãe tinha planos diferentes. Sério, eu não sei por que ela quer conhecer a filosofia de Potter sobre vegetais. Quem se importa se o tomate deveria ser considerado um vegetal ao invés de uma fruta? Ele ainda fica bom no ketchup. Esse tipo de tolice só interessava aos psicanalistas, para poderem provar que você está louco, em todo caso. Eu ri em meus pensamentos com a idéia do que eles diriam sobre mim. Talvez eu pudesse alegar insanidade temporária para justificar a razão de eu inevitavelmente enfiar meu garfo no olho de Potter. Ah, como ele iria gritar.


"Tudo bem, Lily?"


"O quê?" perguntei enquanto meus pensamentos deliciosamente maldosos desapareciam.


Minha mãe suspirou alegremente. "Eu me lembro de quando era que nem você. Eu estava tão apaixonada que mal conseguia andar direito, muito menos prestar atenção nas conversas."


"O Sr. Evans era do mesmo jeito?" Potter, o instigador, perguntou.


"Quem disse que eu estava falando dele?" ela censurou.


"Mamãe!" gritei.


"É brincadeira," disse ela com um sorriso. "Sim, eu tenho a lembrança de seu pai e eu tão felizes quanto vocês dois agora," ela relembrou com carinho. "O que eu estava dizendo antes? Ah, sim! A Petúnia está indo tomar banho de piscina casa de Vernon depois do almoço, e eu acho que seria muito legal se você e James fossem com ela. A piscina dele é muito grande para duas pessoas. Tenho certeza que vocês vão se divertir muito mais lá do que na frente da televisão aqui."


"Não, está tudo bem, mãe," recusei rapidamente.


"Não, Lily. Vocês devem ir. Tenho certeza que James irá gostar bastante, e ele precisa conhecer sua irmã."


"Eu quero muito fazer parte da família, Lily," Potter concordou.


Eu suspirei. A sorte havia me desprezado. Eu era um joguete do destino. "Está bem," murmurei.


Petúnia parecia tão entusiasmada com essa tarefa quanto eu.


"Eu não acredito que mamãe está fazendo vocês virem comigo. Eu já me sinto envergonhada na frente de Vernon apenas por ser sua parenta, e agora ele tem que conhecer essa aberração que você chama de namorado e ele provavelmente vai querer terminar comigo porque ele quer uma namorada e não uma jaula de aberrações de circo. Meu Deus! E o pior de tudo é que mamãe está ridiculamente feliz com toda essa história!"


Suspirei. Pela primeira vez, eu concordei completamente com minha irmã. Isso não acontecia desde que eu tinha três anos, e ambas concordamos que assistir mamãe e papai se beijando era "eca." Ainda assim, embora eu estivesse a vendo fazendo birra, eu não poderia concordar com ela verbalmente. Se Vernon não poderia aceitar Potter por ser bruxo, então Petúnia não deveria se interessar por este tipo de garoto. Eu odiava o preconceito de puro-sangue e a xenofobia de trouxas. Todos eram uma aberração aos meus olhos. Petúnia não deveria odiar Potter apenar por ele poder fazer magia. Havia muitos outros motivos para isso.


"Meu Deus, o que é que Vernon e eu poderíamos dizer a vocês? Nós não falamos em Aberranês," Petúnia reclamou.


Então, como de costume, antes de eu compreender o significado de minhas palavras ou pensar em suas conseqüências, eu soltei a primeira estupidez que veio em minha cabeça. "Bem, você terá que pensar em alguma coisa para dizer, porque nós vamos," eu disse a ela.


Petúnia agarrou meu braço em um salto. "Não vão, não," ela ferveu.


Eu tentei soltar o meu braço, mas seus dedos estavam em um aperto mortal.


"Nós vamos, sim," respondi de volta.


"Ai!" gritei em dor.


"Diga à mamãe que você não quer ir," ela ordenou.


"Que tipo de irmã eu seria se eu não quisesse passar minhas últimas semanas em casa com você?"


Petúnia largou meu braço para poder cruzar os seus. "Uma boa," bufou.


Eu encolhi os ombros inocentemente. "Boas irmãs passam o tempo juntas," cantarolei.


Petúnia esfregou sua testa em irritação, e eu soube que venci. "Ótimo," ela concordou com raiva. "Só não faça nenhuma ma... ma..." eu sufoquei uma risada quando ela gaguejou a palavra. "Nenhuma coisa anormal na casa de Vernon."


"Não se preocupe. Eu já transformei humanos em sapos o suficiente essa manhã," provoquei.


Petúnia vacilou. Ah, como era fácil zombar dela.


"Não se atreva," enfatizou. "E não use seu biquíni vermelho."


Eu empalideci. Isso foi aleatório. "Por que não?"


"Você não fica bem de biquíni. Eles não são combinam com seu tipo de corpo. Você fica melhor de maiô."


"Petúnia," rosnei. "Saia do meu quarto." Ela deve ter visto à fumaça saindo de meus ouvidos, porque ela correu para a porta.


"Eu estou indo de carro. Você e seu namorado podem arrumar um jeito de ir para a casa de Vernon."


Depois de trancar a porta assim que ela saiu, percebi algo muito estranho: nós duas tínhamos aversão em dizer o nome de James Potter. Eu tentei não pensar no que isso significava enquanto abria minha gaveta. Sorrindo, eu apanhei meu biquíni vermelho.


Quinze minutos depois, eu estava em um leve vestido de algodão e com meu biquíni por baixo. Eu estava segurando minha toalha em uma mão e James Potter na outra.


"Como vamos chegar lá?" Potter me perguntou tagarelante.


Enquanto eu me arrumava, Potter aparatou de volta para sua casa para pegar sua roupa de banho e tudo o que precisava para ficar aqui. Parte de mim estava grata por ser tão fácil de enganar minha família com a idéia de que Potter e eu estávamos planejando há algum tempo. Uma parte muito maior desejava que Potter tivesse ficado em casa.


"Petúnia ficou com o carro," suspirei. "Acho que teremos que aparatar."


Potter assentiu.


"Eu oriento você," falei. "Você nunca esteve lá antes, e eu não quero ter que explicar para Petúnia porque meu namorado estrunchou e sua outra metade está a dois quarteirões daqui."


"Qual metade?" Potter perguntou com prazer.


"A esquerda," respondi vagamente.


Potter sorriu e passou os braços em volta de minha cintura.


"O que você está fazendo?" perguntei rapidamente. Minha voz se elevou pelo menos dez oitavos.


"Segurando-me em você," respondeu ele despreocupado.


"Por quê?"


"Nós não vamos aparatar, amor? Ou você gosta da sensação de mim enlaçado em você?"


Mordi minha língua. "Não me chame de amor." Eu me virei e senti o puxão familiar em meu umbigo. Desta vez, não era tão ruim porque eu tinha fortes braços para me manter firme. Pisquei e estávamos lá.


Eu suspirei aliviada. Alguma coisa em aparatar sempre me fazia sentir inquieta. Falando em inquieto, por que havia duas mãos avançando para meu traseiro?


"Potter!" guinchei.


"Perdão," desculpou-se ele com um sorriso não tão arrependido. "Eu estava desorientado."


Eu revirei meus olhos. Garotos sempre vinham com as mesmas desculpas esfarrapadas. "É claro que estava," respondi sarcasticamente. Eu ouvi o som de respingos e o segui até o portão de ferro da piscina. Potter vinha atrás de mim, e eu senti seu braço envolver o meu ombro nu. Ergui a sobrancelha para ele.


Ele encolheu os ombros inocentemente. "Estou apenas tentando manter as aparências," Potter disse como se estivesse falando sobre comprar meias para uma companhia estupidamente impulsiva e mentirosa.


"Fique de olho em suas mãos," sibilei ao entrarmos na área da piscina.


Sua mão esquerda escorregou pela minha cintura e ele observou seus dedos no tecido fino do meu vestido. "Eu definitivamente terei meus olhos abertos."


Eu pisei em seu pé e ele uivou como uma garotinha. Eu sorri presunçosamente.


"Ah," Petúnia disse ao sair de seu estado de bronzeamento em coma. "Vocês estão aqui." Ela soou tão excitada quanto eu estava quando coloquei os pés no Madame Pudifoot pela primeira vez.


"É," respondi com a voz falsamente alegre. "Nós conseguimos."


"Que ótimo," Petúnia murmurou.


Ah, é mesmo?


"Onde está Vernon?" Potter perguntou a ela bem-humorado. Era lógico que Potter era a única pessoa em todo o universo imune a indiferença e ao sarcasmo. Nem mesmo a Professora McGonagall era capaz de destruir a diversão dele e de Black.


"Na casa," Petúnia respondeu devidamente. "Ele foi buscar uma Coca Diet para mim."


"O que é isso?" Potter cochichou em meu ouvido.


"É tipo de um Whisky de Fogo," disse a ele. "Mas este provavelmente é pior para você."


"Trouxas," Potter respondeu espantado.


"É," contrapus. "Nós somos fanáticos por refrigerantes."


Eu dei um pulo quando Vernon cruzou os portões, e eu observei ele nos ignorar e caminhar diretamente até Petúnia. Eu supus que poderia ter sido pior. Ele poderia ter parado para falar com a gente, ou ele poderia estar sem camisa. Ah, estou tendo visões! Pobre córtex cerebral.


"Isso vai ser divertido," murmurei para mim mesma.


"Parece que sim," Potter, o garoto com orelhas de morcego que gosta de invadir o espaço das pessoas, respondeu. "Você viu aquele escorregador?"


A piscina de Vernon tinha um escorregador em espiral que terminava em uma magnífica cachoeira na piscina. Potter agarrou minha mão entusiasmado. "Podemos experimentá-lo, Lily?" ele perguntou ansioso. Seus olhos brilhavam numa expectativa infantil. Foi quase bonitinho.


"Sim, mas nós temos que passar o protetor solar primeiro," foi minha resposta.


Sua expressão se transformou em um beiço, mas ele obedientemente jogou sua toalha em uma cadeira de praia e tirou sua camiseta.


Caraca².


Meu Merlin. James Potter tinha um belo corpo.


Eu nunca tinha visto nenhum rapaz que me fizesse sentir tão hormonal quanto me senti naquele momento. Eu queria lamber cada milímetro de seu abdômen, passar chocolate nele, e fazer tudo de novo. Lambi meus lábios com esse pensamento.


"Lily?" ouvi. Eu sacudi minha cabeça como se estivesse saindo de um transe.


"Desculpe. Você não tinha terminado? Eu posso começar a fazer flexões se você quiser."


Eu nem sequer precisei olhar para cima para ver o enorme sorriso em seu rosto. Mas isso até que foi bom, porque a única coisa que não era mortificante para mim olhar no momento era meus pés. Merlin, meu rosto estava quente. Pelo menos havia água por perto.


"Eu não... eu... eu não estava..." gaguejei incoerentemente.


Potter riu alto. Idiota.


"Acho que namoradas não precisam inventar desculpas para babarem," provocou.


"Cale a boca, Potter," mandei.


"James," ele lembrou-me.


"Que seja," bufei. Eu olhei para Petúnia. Vernon estava descrevendo alguma coisa – provavelmente algo terrivelmente chato – para ela, mas ela prestando pouca atenção nele e assentindo em certos intervalos de tempo. Na verdade, e eu estava feliz em dizer isso, ela estava mirando o peito de meu namorado clandestinamente por cima de seu refrigerante.


É, Tuney. Faça de conta que Potter é essa latinha.


Ele poderia ser um imbecil, mas ele tinha suas utilidades. Agora que eu tinha a atenção de Petúnia, arranquei meu vestido para que ela pudesse ver que eu falhei em seguir seu conselho de coração. Naturalmente, seus olhos viraram fendas, e ela se virou desdém para Vermin. Era exatamente o que eu esperava acontecer.


Contudo, o que eu não estava preparada era para a respiração ofegante do garoto a minha frente. No primeiro momento, eu queria me cobrir. Minha bunda era muito grande, meu abdômen não era totalmente plano e meus peitos eram assimétricos. Basicamente, eu entrei em um completo pânico de auto-estima adolescente. Mas então eu vi a expressão dos olhos de Potter. Era como se ele estivesse olhando para Merlin, ou algo assim. Eu nunca havia sido visualmente adorada antes. Foi até agradável – de uma forma assustadora.


"O quê foi?" deixei escapar.


Potter passou seus olhos do meu peito para meu rosto. "Você disse alguma coisa?" perguntou.


"Acho que você precisa seguir seu próprio conselho, Potter," disse a ele atrevidamente.


"Acho que você precisa lembrar do meu nome, Evans," ele devolveu.


"Droga," amaldiçoei em um sussurro. "Eu esqueci de novo."


"Tudo bem. Petúnia está apenas nos observando. Ela está fora do campo de audição por enquanto."


"Ainda bem," falei, começando a passar o protetor em minhas pernas. Eu observei os olhos de Potter seguirem minhas mãos. Merlin, esse garoto era ainda mais hormonal do que eu.


"Lily," disse Potter com toda seriedade. "Como seu namorado, é o meu dever passar o protetor em suas costas."


Eu rolei os olhos. "Onde está escrito?"


Ele sorriu irônico. "Eu perdi minha cópia. Mas é um livro muito famoso."


"Eu tenho certeza que 'O Guia para Idiotas Dizerem Besteiras' é uma leitura fascinante," respondi sarcasticamente.


"Isso vai realmente perturbar a sua irmã," ele continuou. "Ela ainda está nos encarando como um falcão."


Eu olhei por cima de seu ombro e vi que era verdade. Petúnia dizia que não queria nada comigo, mas ela nunca conseguia se ajudar. No final das contas, era até interessante.


"Está bem," concordei, lhe entregando o frasco. O tempo pareceu passar mais lento do que de costume quando Potter se sentou em uma cadeira e fez sinal para que me juntasse a ele. Relutantemente, sentei em sua frente.


"Você está apreciando essa fachada demais," disse a ele pelo canto da boca.


"Provavelmente," ele concordou. "Mas isso é o que você quer."


Eu olhei para Petúnia.


"Não é apenas ela," ele me corrigiu com a voz rouca. Suas mãos começaram a massagear minhas costas com a loção. Foi glorioso. Seus polegares traçavam os meus ombros e seus dedos criaram uma estranha sensação de formigamento em minha pele. "Você também me quer."


Eu lutei contra o impulso de tanto revirar meus olhos quanto girá-los para trás de minha cabeça. "Não, não quero."


Seus dedos continuaram a percorrer por minhas costas lentamente, mas ele reforçou seu ponto de vista colocando seus lábios ao lado de meu pescoço. Eu fui forçada a repetir "não gema, não gema," em minha cabeça diversas vezes. Apesar dos meus batimentos acelerados e da minha respiração falhada, eu achava que estava me colocando em uma ótima batalha.


Contudo, quando seus lábios começaram a sugar um ponto preciso, um pequeno sussurro involuntário escapou de meus lábios. Seu peito nu estava muito próximo do meu. Eu estava muito quente. Ele cheirava muito a menino. Isso era tão bom. Seus dentes encontraram o lóbulo de minha orelha.


"Eu não consigo parar de pensar naquele beijo," sussurrou ele. Eu pude sentir seu hálito em meu pescoço.


"Foi apenas fingimento," falei. Eu tive que lutar para impedir o tremor em minha voz.


Ele riu baixinho, e eu soube que se ele não estivesse tão próximo a mim e se eu não pudesse sentir as vibrações em seu estômago, eu teria perdido isso. Seus lábios viajaram da parte de trás do meu pescoço se fixaram em meus ombros. Minha respiração tornou-se embaraçosamente alta e forçada.


Com um sorriso brotando em seus lábios, ele trouxe sua boca para o canto de meus lábios e me beijou o mais carinhosamente possível. Eu fiquei sem ar com a pressão, e, tenho nojo em dizer, gemi um pouco quando ele se afastou para cochichar em meu ouvido novamente:


"Você não poderia se esquecer disso, se você tentasse."


De repente, ele se afastou. Ele se levantou da cadeira com um sorriso despreocupado. "Suas costas estão prontas," declarou.


Eu concordei sem compreender, mas antes que eu tivesse a chance de clarear minha mente e tentar pensar em alguma resposta espirituosa, Potter me ergueu em seus braços.


"Ponha-me no chão," ordenei com a voz estridente.


Mas foi inútil. Com um sorriso diabólico, ele me jogou na água. Felizmente, a água não estava tão fria quanto eu pensava que estivesse no meio segundo que tive antes de quebrar sua superfície. Obviamente, a família de Vernon tinha gastado um dinheiro extra para manter a piscina aquecida.


Eu cuspi quando ressurgi. Meu cabelo estava cobrindo meus olhos, então eu puxei as pegajosas mechas cheias de cloro para fora de meu rosto. Dois segundos depois, a cabeça molhada de Potter emergiu da água. Ele deve ter pulado depois de mim. Eu rosnei ao ver o seu rosto sorridente e seus óculos embaçados.


"Eu vou matar você por isso."


O sorriu de Potter se ampliou. "Só me deixe ir naquele escorregador antes de me colocar no meu caixão."


Não pude evitar; eu ri, e então eu o mergulhei.


Nós passamos duas horas nos divertindo na piscina. Eu adorava água. Petúnia e Vernon se recusaram a se juntar a nós falando sobre chatas questões financeiras enquanto eu e Potter tentávamos descobrir quem conseguia descer o escorregador mais rápido. Eu venci.


Depois de ficar aparente que Petúnia queria que nós fossemos embora enquanto ela tentava secar seu cabelo em sua caríssima cadeira, Potter e eu agradecemos a Vernon por sua hospitalidade. Eu me certifiquei de não haver nenhum indício de sarcasmo em nossos humildes sentimentos. E então, Potter e eu aparatamos de volta para casa. Desta vez eu fiz questão de que fôssemos separadamente.


O jantar com os pais foi menos doloroso que o da noite passada. Era mais como arrancar um dente do que dividida em duas por uma serra elétrica. Sem Petúnia, eu não precisava trabalhar duro para ser uma namorada convincente. Mas sem o pára-choque, meus pais não tinham nada que os impediam de disparar perguntas.


Potter e eu fingimos sermos dois pombinhos, e minha mãe suspirou em todas as horas esperadas. Meu pai queria saber todos os pequenos detalhes de Potter para que ele pudesse encontrar alguma prova de que na verdade ele era um assassino em série e eu teria que terminar com ele.


Infelizmente, para nós dois, as respostas de Potter foram todas impecáveis. Imbecil.


Eu aprendi algumas coisas novas sobre ele, pelo menos. Por exemplo, ele jogava como artilheiro porque apesar dos apanhadores ganharem toda a glória, os artilheiros participavam mais ativamente do jogo. Ele odiava feijão de vara, mas adorava qualquer coisa com hortelã. Quando ele tinha três anos, ele costumava implorar para sua mãe deixá-lo usar calças de "menino crescido*". Ele sabia dançar. Ah, sim, e ele me amava.


Isso mesmo.


Potter, maldito James Potter, disse aos meus pais, que ele "amava sua filha com todo o seu coração."


É melhor ele estar falando de Petúnia, porque eu não quero esse amor.


Pelo menos foi o que eu falei para ele quando nós nos encontramos nos balanços a meia noite novamente.


"Relaxa, Lily," com aquela sua voz irritantemente imperturbável. "Eu só estava dizendo aos seus pais o que eles queriam ouvir. Era você quem queria que eu fosse seu namorado, se não me engano."


Eu tinha que ter certeza. "Então você não me ama?" perguntei, fazendo questão que toda a questão soasse ridícula.


"Eu sou um ótimo ator."


Não foi realmente uma resposta, mas eu não tive a chance de continuar a interrogá-lo porque ele continuava a falar.


"Você poderia aprender algumas coisas sobre mim. Nosso relacionamento é completamente unilateral."


Eu suspirei. Eu meio que percebi que meu ódio total e absoluto por ele seria um problema. Eu sequer conseguia olhar para Potter sem expor minha repulsa, a não ser, ao que parece, ele estivesse sem camisa. Então não era tão terrível assim.


"Eu estou tendo problemas em incorporar a minha personagem, eu acho."


"Tudo bem," Potter respondeu, pensando sobre a situação. Ele bateu suas palmas juntas, e eu soube que ele tinha tido uma idéia. "Que tal quando aparecer alguma coisa que te faça se sentir estranha ou com vontade de lançar um Avada Kedavra em mim, você apenas perguntar para si mesma: 'O que a namorada de James faria?'"


"Não sei se isso vai funcionar."


Potter pulou de seu balanço. "Aqui," disse ele, passando seus braços em volta de minhas costas. "O que Lily Evans faria nesta situação?"


"Eu daria um cotovelada na sua barriga e depois faria você comer vermes-cegos*."


Potter riu. "Era o que eu imaginava. Mas o que a namorada de James faria?" incentivou.


"Não sei. Ela... eu provavelmente agiria naturalmente, como se nós fizéssemos isso o tempo todo," eu olhei para Potter. "É uma boa resposta?" perguntei.


"É," ele respondeu. "Mas eu meio que esperava que você dissesse que me daria um bom amasso."


Foi ali que eu dei-lhe uma cotovelada na barriga e procurei por uns vermes-cegos.




¹Se fossemos traduzir para o português, seria "mirtilo," mas acho que a maioria das pessoas conhece por blueberry mesmo, então resolvi não traduzir esta palavra. Para quem não conhece, blueberry (ou mirtilo), é uma baga da família das azaléias, que está começando a ser implantada em algumas regiões do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, por causa do clima mais frio.


²Adaptação da expressão "Smehkaleen," criada pela própria autora. Eu mandei uma PM para ela perguntando o significado mais exato, e ela me explicou que Smehkaleen quer dizer "oh my god" ou "holy crap." Depois de pensar em várias expressões possíveis para traduzir esta "palavra", optei por "caraca," apesar de ficar meio tosco (embora talvez, esse tenha sido o objetivo da Molly ao criar esta expressão).


³Em inglês, "big boys pants" pode ser usado para dizer que uma pessoa precisa crescer, e também serve de expressão para uma criança que está saindo da fralda. No caso da história, ficou um pequeno trocadilho, e talvez um pouco a ver com as fraldas, também.


*Verme-cego (Flooberworm): Vive em valas úmidas. Animal de cor castanha que chega a atingir 25cm de comprimento, ele se mexe muito pouco. Suas duas extremidades são indistinguíveis uma da outra, e ambas produzem um muco que é, por vezes, usado para engrossar poções. O alimento preferido do verme-cego é alface, embora ele coma praticamente qualquer vegetal. (Animais Fantásticos e Onde Habitam, p. 38)




N/T: Primeiramente, perdoem-me se cometi alguma gafe em espanhol, mas é que Hestia misturou em sua carta espanhol com inglês, e eu tive que fazer isso com português, e como os meus conhecimentos de espanhol são super básicos, é possível que eu tenha escrito alguma tolice ali em cima.


Perdoem-me também pela aulinha básica de botânica, mas achei melhor deixar tudo explicado para ninguém ficar com dúvidas.
 



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Comentários (1)

  • Annabeth Lia

    Realmente muito boa a fic, genial, por favor continue com as traduções, estou esperando ansiosamente pelo proximo capitulo!!!

    2012-07-23
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