Ch 1 - Arquitetura e Política

Ch 1 - Arquitetura e Política



Capitulo 1 - Arquitetura e Política


 


    O grito ecoava pelas masmorras secretas do Ministério da Magia. Não parecia sequer humano. Era algo mais primordial, irracional. Pura dor vocalizada. O desespero de quem só podia esperar que a morte viesse o quanto antes.


    Harry não era exatamente fã desse tipo de questionamento, mas o tinha visto ser eficiente mais de uma vez. Ineficiente também, mas o custo valia a pena. A taxa de sucesso era enorme. E o garoto inocente que achava que podia arrumar tudo com amor e justiça tinha morrido quando Molly Weasley fora assassinada por um suspeito que ele tinha soltado por falta de evidências.


    Não podiam usar nenhuma das Maldições Imperdoáveis, mas a lei sempre tinha brechas, e a dor física não era exclusiva da magia.


    Oficialmente o Departamento de Aurores pedia auxílio a consultores da polícia trouxa. Obviamente, nenhum bruxo podia torturar outro bruxo. Mas eles estavam terceirizando o serviço de uma forma que era tudo legalizado. Terceirização era a palavra da moda.


    Dessa vez, entretanto, ele nem sequer conseguia sentir pena do homem que ele via ser contorcido em ângulos inimagináveis. Ele tinha construído sua casa. E criado a armadilha que fizera Gina desaparecer há cinco horas. Cinco horas. Ele dizia que ela estava morta, mas se fosse mentira, Harry ia descobrir. Se fosse verdade... Bem, nesse caso esse bruxo maldito merecia o que estava recebendo.


    Draco fez um sinal e o torturador ao seu lado parou a máquina. Harry assistia detrás de um vidro especial. Se estivesse na sala com certeza faria algo contra o maldito construtor. E Inomináveis faziam melhor esse tipo de coisa.


    _Remendo Totalis!


    Com audíveis estalos cada osso do corpo do homem se regenerou. E praticamente todos tinham sido quebrado pela vigésima nona vez. Ele gritou novamente e depois ficou ofegante.


    O silêncio reinou na sala por alguns minutos. Apenas a respiração do homem informava que ele estava vivo.


    _Agora, senhor Strongar, devo parabenizá-lo por chegar tão longe. Mais uma e terá batido nosso recorde. Talvez te levemos para uma cela com um bolo de chocolate e um belo dementador para você passar a noite. Não faça essa cara. Dementadores será tudo que você verá, e depois de um tempo você vai passar a desejar a companhia deles, se algum gostar de você. Eles possuem esse lado tímido, mas sabia que precisam de humanos para procriar? Já tive o desprazer de ver o ato. Termina inevitavelmente com a morte do humano. Mas acho melhor do que ter a alma sugada, você não concorda?


    Harry sentiu o estômago revirar. Ele estava ao lado do Malfoy quando descobriram a forma de procriação dos dementadores.


    O homem se manteve em silêncio.


    _Claro, isso se você suportar a próxima vez. E eu te garanto, senhor Strongar, que a menos que me diga o que quero saber, haverão várias próximas vezes. Devo dizer que quase acredito que esteja gostando de tudo isso.


    A voz fraca saiu da face ainda de olhos fechados:


    _N-não...


    Draco fez um sinal e o torturador deu um tapa com força na bochecha do torturado.


    _Olhe para mim quando falar comigo, senhor Strongar. E lembre-se de me usar meu título como é devido.


    Sangue saía dos lábios partidos do homem, que abriu os olhos vermelhos de tanto chorar:


    _Por favor não, Inominável Malfoy, por favor... Eu já falei tudo... Ela morreu...


    _Senhor Strongar, por favor digo eu. Está claramente cuspindo na minha inteligência. Acha que não sou capaz de determinar os traços de um Avada Kedavra em um cômodo? E ainda que você a tivesse matado de outra maneira, onde está o corpo?


    Silêncio. Draco suspirou.


    _Muito bem, vamos bater o recorde.


    E os gritos recomeçaram.


 


 


    _Desista, Potter. É uma via única. Bruxos melhores que você morreram para tentar fazer uma ponte.


    Estavam na antessala em que Harry tinha ficado esperando. O torturador e torturado tinham sido realocados, o primeiro de volta ao mundo mortal com a memória apagada, o segundo em uma vala, morto após suas últimas palavras.


    _É a segunda pessoa que perco assim, Malfoy. Vou usar toda minha influência se necessário. Vou atravessar se necessário. Mas vou revê-la.


    Draco aumentou o tom de voz impaciente:


    _Aceite que tem coisas que nem o garoto dourado consegue fazer.


    Harry balançou a cabeça:


    _Você não entende. Eu não espero que entenda. Greengrass é só mais uma para você. Gina é minha vida.


    _Eu entendo que você vai jogar fora sua vida nessa missão impossível. Mas isso não é problema meu. E você obviamente só vai entrar no Departamento de Mistérios se Shacklebolt conseguir permissão pra você. Você provavelmente vai morrer antes de conseguir essa permissão – e saiu da sala.


    O garoto-que-sobreviveu, agora um homem, ficou relendo as falas do homem que tinha tirado a mulher que ele amava:


    “Através do Véu do Tempo! Através do Cruzamento das Realidades! Através da própria Vida e Morte, perdida pra sempre! Tolo Inominável! Tolo Inominável! Protetor de brinquedos da morte, incapaz de ver a verdade!”


    Não foi difícil ver que ele se referia ao mesmo destino que seu padrinho, Sirius. Mas como ele tinha feito isso sem usar a Sala do Véu? Malfoy garantia que o véu não tinha sido movido.


    Ele não podia ter morrido logo depois de dizer essas palavras. Mas com tantas drogas na cabeça, não era surpresa.


    Talvez devesse procurar um necromante. Alguns informantes, chantagens e propinas com certeza poderiam levá-lo ao menos até um charlatão. E esse charlatão conheceria alguém com um mínimo de conhecimentos na área, que o levaria até outro alguém, até finalmente chegar a alguém útil...


    Descartou a ideia. Morto ou não, o corpo ficaria sem oxigênio tempo demais até Harry encontrar alguém. O cérebro perderia a utilidade, e ele não queria apenas um corpo de morto-vivo.


    Precisava de um fantasma. Se esse homem tinha deixado o espírito para trás, um fantasma seria capaz de localizá-lo e levar Harry até ele.


    Suspirou.


    “Gina, meu amor...”


 


 


    Draco saiu da sala e andou pelos corredores de pedra das masmorras até a zona de aparatação. Não tinha nenhum sentimento por Potter além de gratidão, mas sabia que seria um caos caso o grande herói da modernidade fosse através de um véu mortal em busca da namorada.


    Pessoas fariam luto em todo o mundo mágico. Um grupo tarefa iria buscar descobrir melhor sobre esse véu. Questionariam se o Departamento de Mistério realmente tinha direito de manter artefatos tão perigosos ao invés de destruí-los... A típica confusão Potter.


    Ele era um Inominável e era a função dele ver coisas que os aurores idiotas não compreendiam. Um arquiteto com conhecimentos sobre uma das salas mais secretas do Ministério da Magia não era exatamente algo que se via qualquer dia. Potter cuidaria de tentar o impossível, e por alguma ironia do universo, provavelmente conseguiria.


    Já ele, tinha que descobrir o motivo do véu ser chamado de Véu do Tempo, o que era o Cruzamento das Realidades, como era possível passar através da Vida e Morte e qual era a verdade que um tolo Inominável era incapaz de ver. E, repetindo para si mesmo, como um mero arquiteto tinha esses conhecimentos. Talvez até pudesse ajudar Potter e finalmente pagar sua dívida.


    Os primeiros passos eram óbvios: espionar o próprio departamento para ver quem mais tinha conhecimentos específicos sobre o véu. Ler alguns livros de bibliotecas ocultas. Investigar as relações que o Strongar tinha. O local de trabalho dele. A casa dele. A família dele. Buscar um fantasma era perda de tempo, se ele não tinha dito nada em vida, não diria nada em morte.


    Finalmente chegou à zona e aparatou para o único lugar que podia depois de ver o que viu e escutar o que escutou.


    Apareceu exatamente na frente dela. Linda, como sempre. Os cabelos avermelhados estavam molhados, e ela saía enrolada de uma toalha do banho. Ela sequer simulou um susto. Ela sempre estava preparada para qualquer coisa, mesmo. E mal deixou a toalha cair antes de Draco a puxar pelo braço e a beijar.


    Ela soltou um gemido de desconforto antes da boca deles se encontrarem e puxou o cabelo dele com força. Nenhum dos dois tinha paciência para se preocupar com amenidades. Eles se entregavam aos seus instintos. Era primordial. Era errado. Era perfeito.


    Quando ambos finalmente estavam satisfeitos, ela sangrava no lábio que ele tinha mordido com força demais, e as costas dele sangravam em vários pontos. Marcas por todo o corpo. Satisfação absoluta.


    E então, lembrando-se do dia que teve, ele se colocou nos braços dela e ficou calado. Algumas lágrimas rolaram. E ela afagou seus cabelos. E ele soube que se a perdesse, iria muito além de véus idiotas para reencontrá-la.


 


    Meia hora depois Draco estava vestido. Deu um beijo nela e aparatou. Nunca falaram nada. Palavras eram para os românticos. Eles eram apaixonados, mas práticos.


 


 


    O hall de entrada do Ministério da Magia continuava do mesmo jeito que sempre. Pessoas chegando via Flu em lareiras, uma fonte estúpida no centro, elevadores, janelas mágicas, politicagem inútil.


    Enquanto passava distraído pela área, Shackebolt se sentiu envergonhado ao ser surpreendido por um bruxo que surgiu de repente na frente dele.


    _Potter, já te falei sobre não me surpreender-


    Parou no meio da frase. O bruxo tinha olheiras profundas e uma cara de poucos amigos. Sangue nas vestes.


    _O que em nome de Merlin é isso?


    _Pegaram Gina. Quero o Departamento de Aurores inteiro. Quero que você consiga permissão pra pesquisarmos o Véu da Morte. Quero agora.


    O olhar de Potter era sério, mas Kingsley, ainda que não fosse fã da política do mundo bruxo, ou de qualquer mundo, conhecia uma ameaça de influência quando recebia uma. E odiava ser ameaçado.


    Mas aquele era Harry Potter, cego pela perda da namorada. O potencial de caos que ele tinha nas mãos era incalculável. Cinco anos de trabalho poderiam ir pelo ralo com uma mera palavra do garoto.


    _Vamos para a minha sala, claramente precisamos conversar.


    _Não tem conversa. Me dê o que eu quero por bem, ou eu pego por mal.


    Segunda ameaça. Respirou fundo.


    _Não vou fazer nada sem entender por que ou o que você pretende, Potter. Vou ajudar se, e somente se, eu achar que devo. E você não está ajudando em nada a me convencer fazendo ameaças.


    Foi a vez do auror respirar fundo.


    _Eu não sou um idiota. Está tudo na sua mesa. Mas veja isso como uma cortesia pacífica. Eu odeio política mais que você, mas não force minha mão – deu um passo se aproximando. Por ela, eu vou esmagar o que quer que apareça na minha frente.


    Sentindo a fúria crescer dentro de si, Kingsley resolveu ficar quieto ou mandaria prender o garoto-que-sobreviveu no meio do Ministério da Magia. E os jornais o transformariam em um vilão, por prender o herói que buscava salvar o amor da vida dele.


    Magicamente, Harry Potter era bom, mas o Ministro da Magia era melhor.


    Mas um Harry Potter consciente de seu poder de opinião pública e disposto a usá-lo...


    Isso era um perigo extremamente delicado.


    O garoto se virou e foi para uma lareira, desaparecendo em seguida.


    O homem apenas observou, em silêncio. O cenário de um Potter rebelde já tinha sido previsto e medidas de contenção eram extremamente fáceis de serem implementadas.


    Entretanto, as medidas não previam aquele olhar no rosto do garoto. Elas contavam com alguma sanidade, com alguma compaixão. Ele estava completamente louco e instável, incontrolável.


    Kingsley se adiantou para a lareira mais próxima. Precisava fazer algumas visitas com urgência.

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Comentários (2)

  • Luisa Weasley

    Repostando meu comentário editado...   Essa fic é bem Dinâmica e misteriosa!  Gostei: 1) Da justificativa para Harry Potter está adimitindo torturas, pois a maioria das pessoas que retratam Harry como auror, colocam ele como um assino frio e não dão boas justificativas. Me desmotivei de ler uma fic por causa disso... Até onde JKR parou de falar de HP, ele não havia matado nem mesmo Voldemort, e não seria capaz de matar ninguém. Mas, como você disse: "E o garoto inocente que achava que podia arrumar tudo com amor e justiça tinha morrido quando Molly Weasley fora assassinada por um suspeito que ele tinha soltado por falta de evidências." 2) Da parte de terceirizar o serviço sujo; 3) Da relação Harry e Draco, por não ser nada estravagante demais, portanto, realista. 4) Sonserinos, sempre escondendo seu melhor: "...Greengrass é só mais uma para você. Gina é minha vida.     _Eu entendo que você vai jogar fora sua vida nessa missão impossível. Mas isso não é problema meu...." ..."E ele soube que se a perdesse, iria muito além de véus idiotas para reencontrá-la." Tinha ficado com dúvida antes nesse ponto: Eu não sei no que deu a conversa de Harry com Kingsley, ficou só nas ameaças? Kingsley deu alguma permissão?   Fiquei mais animado na parte: Draco e Astória, passou emoção sonserina, se é que vc me entende. Mas só para citar, esse capítulo está bem intenso.   E não fiquei intediada em nenhum momento...

    2012-05-18
  • Feuer

    Luisa!Respondendo sua dúvida, o Harry por enquanto só ameaçou, e o Kingsley foi tomar alguma providência sobre isso.Obrigado pelos comentários, fico feliz que tenha gostado do Draco e Astória, tentei passar um pouco da natureza agressiva do Draco.E no capítulo 4 tem a morte de Molly Weasley e a transformação de Harry mais exatamente, só porque você "pediu" :PAbraço! 

    2012-04-30
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