Surpresos



Apoiei meu cotovelo na ameia. Bufei e uma mecha de meus cabelos se moveu. O tempo estava começando a esfriar, indícios de que o inverno se aproximava. Já havia mais de um mês do ocorrido nos jardins do castelo. A garota não havia aparecido novamente e, eu não sabia o porquê, mas, me sentia decepcionado.


Bufei novamente e fitei a floresta. Ficando nas pontas dos pés, ergui meu corpo e o suspendi em direção ao declínio à frente. Olhei o musgo que proliferava na lateral externa da parede de pedras. Fiquei uns bons minutos naquela estranha observação e então voltei a plantar os pés no chão por completo.


Estendi as mãos a frente e, na penumbra, observei sua palidez, seu comprimento alongado, com os ossos salientes nos nódulos das juntas. Os contornos arredondados que ela possuía anos antes haviam sumido. Era uma mão plenamente adulta.


Provavelmente teria começado a analisar o resto de meu corpo se não tivesse ouvido a porta da torre ser aberta.


Ela entrou, fechou a porta cheia de pressa e quando estava totalmente separada da atmosfera do outro lado da madeira, soltou um suspiro de alívio ainda tocando a maçaneta.


- Olá – não resisti a chamar sua atenção para mim.


- Ah... – ela me fitou entre surpresa e nervosa – Você está ai?


A pergunta era quase uma afirmação e não denotava alegria pelo fato. Me senti ofendido.


- Sim. Eu estou – tentei usar um tom neutro.


- Me desculpe por... bem... invadir sua privacidade novamente... – ela parecia realmente chateada com aquilo, mas pelo menos havíamos iniciado uma conversa – mas é que... que... eu precisava... preciso... bom... na verdade...


Sorri e como se isso a incitasse, ela disse de uma vez.


- Estava fugindo de um garoto.


Seus ombros envergaram enquanto ela fitava os pés, mas depois voltou a me olhar.


- Não vou me demorar, será por apenas alguns minutos, até ele desistir da busca.


Franzi o cenho. Porque ela fugiria de alguém?


- Ele lhe fez algo? – minha curiosidade falou mais alto.


- Ah... Não, não, está tudo bem, ele não me fez nada, só queria – ela corou – queria me beijar.


Soltei um riso debochado diante da revelação. Aquilo não me fazia ter desejos reais de sorrir.


- E você não queria beijá-lo? – não sabia por que continuava o interrogatório.


Irritei-me comigo mesmo por não evitar a pergunta. Não sabia o que acontecia, o porquê de aquilo me interessar.


- Bom, não sei – ela estava visivelmente confusa – Acredito que sim.


Dei um meio riso e acho que ela percebeu a pitada de zombaria presente nele quando fiz nova pergunta.


- Então porque fugiu?


Estava novamente me metendo onde não devia, mas me calei, esperando sua resposta. Ela baixou os olhos, fitou os pés e depois voltou a me olhar.


- Eu nunca beijei – ela corou novamente, mas manteve o porte, coluna ereta, rosto erguido.


- Ah – eu estava surpreso.


Ela devia ter pelo menos dezesseis anos e nunca fora beijada. Sendo ela bonita como era, não era algo muito comum.


- Então você ficou com medo – afirmei.


Ela foi rápida na tentativa de negar. Balançou a cabeça e murmurou que ‘não’, mas ambos sabíamos que ela mentia. Ficamos alguns segundos ali, calados, até que ela falasse.


- E você? Sentiu medo? – ela esfregava as mãos como se estivesse com frio e baixou o olhar novamente quando aumentei a intensidade do olhar.


Sorri ao me lembrar de meu primeiro beijo, havia sido um desastre e eu fingira que ele não ocorrera logo em seguida.


- Sim, eu estava muito nervoso, mas era um pirralho muito curioso e petulante para fugir.


Ela sorriu para mim, um sorriso pequeno, o primeiro que via e que me agradou muito.


- Eu posso te ajudar com isso – sorri, mas não imaginava de onde havia tirado aquela idéia, porque a expusera e, mais ainda, porque sentia que queria levá-la adiante.


Ela me fitou e eu me aproximei, ela arregalou os olhos negros, sabia o que eu ia fazer tanto quanto eu, mas não se moveu. Meus lábios tocaram os dela de leve enquanto sentia sua maciez.


Temia que me repelisse, mas ela continuou parada, então aumentei a pressão e a senti corresponder, também gerando uma pressão sobre meus lábios.


Depois de poucos segundos me afastei e , enquanto ela ainda abria os olhos, eu sorri ao dizer:


- Problema resolvido.




N/A: Voltei! Pretendia manter a postagem dia sim, dia não, mas devido a problemas pessoais não posso despender muito tempo no processo de digitar. Este capítulo já estava pronto (na verdade grande parte dele já estava antes mesmo de eu voltar a postar XD) mas, como já expliquei, só consegui digita-lo hoje. Espero trazer o próximo com maior rapidez que este.
Mas e ai? O que acharam? BEIJO! KKKK Essa cena me veio logo que a ideia do enredo surgiu, não sei bem o porquê, mas não imaginei eles se beijando 'convencionalmente'.

Respondendo:

Lana Sodré, sim, não compreendo fics onde fazem o passado de Draco ser ignorado, onde os fatos do futuro não são influenciados por tudo que ele passou. Ele enfrentou muita coisa e tem de lidar com isso. Quanto a Ast, meu discurso é antigo: para mim ela jamais será a dondoquinha que casou por motivos alheios ao amor, creio que para estar com Draco, um Malfoy, e com todo seu passado, ela deva ter amado ele de verdade e lutado por este amor, assim como apesar de imagina-los um casal 'não muito expansivo', vejo uma relação extremamente forte.
Concordo plenamente com isso 'quase nunca vejo nada sobre o que o Draco sentia em fanfic, ou se vejo não é nada muito concreto sabe ? Sempre coisa meio bobinhas e mais voltada para o romance sem complicações, como se ele não tivesse passado por nada'. Beijos flor!

Neuzimar de Faria me lembro de ter ouvido, não recordo onde agora, que a própria J. K. havia dito que Draco era o único dentre 'o lado negro da força' (desculpe, não resisti a piada) que tinha chances de ir pro 'lado bom'. Também creio que o que faltou a ele foi uma orientação correta e que a partir do momento em que ele se vê só terá chance de definir, por si mesmo, o que irá considerar certo ou errado. Sobre a 'plat', é um grupo sobre HP no facebook, que eu e June Prado criamos há quase um ano ao perceber que os grupo do tipo eram muito limitados. Espero que decida se juntar a nós. Beijos!

Obrigada por comentarem!

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Comentários (2)

  • Lana Silva

    Ahhhh eu gostei muito. Achei incrivel serio, ficou tão fofo e não ficou forçado. Eu amei. Essas fanfics, em que não há aquela coisa sobre o passado dele e tudo mais, em sua maioria são romances. As pessoas querem simplificar - algumas vezes é até legal, do que ver todo o sofrimento - e para isso preferem abusar do romance não mostrar que ele passou pelo processor de amadurecimento que a Neuzimar falou. É sim diferente, eu tô pra ler uma Drastória, eu já li a continuação dela, que é a historia do Scorpius e da Rose, mas ainda não li a que fala do Draco e da Astória. Mas nas partes em que eles aparecem dá pra sentir tudo que eles passaram. Tem uma cena - obviamente não me esqueço dela de jeito nenhum - que  eles estão em um restaurante, em familia, Scorpius e a mãe e o pai e os Weasley chegam, no caso a familia do Ron e da Mione e eles discutem um pouco depois de um tempo e eles pedem para os Malfoy se retirarem do estabelecimento. Draco lembra que antes, 20 anos antes, ele já tinha sido expulso dali. É uma cena maravilhosa, não sei se já leu a fanfic, é Bor for this. A historia é sensacional e a autora passa tudo que eles viveram de uma maneira que parece que a J.K. Contou em detalhes a ela o que eles sofreram depois da Guerra. Bem nem preciso dizer que estou esperando o próximo capitulo pra saber o que o aguarda. Beijoos! 

    2013-03-02
  • Neuzimar de Faria

    Gostei bastante do capítulo e é bem legal perceber o Draco em seu processo doloroso de amadurecimento.   E eu gostei, também, da maneira como você descreveu esse primeiro contato entre ele e a Astória. Deu até para visualizar a cena, ficou muito bom. E eu vou lá conhecer a "plat", obrigada pelo convite. Bjos! 

    2013-02-28
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