Segredos



Segredos


Lily POV:


Estava um frio de lascar. Ainda mais em Hogwarts, com aquelas paredes de pedras frias; bem que eles podiam, sei lá, cobrir tudo com algumas cortinas pra ver se aquece um pouco. Porque sinceramente, eu estava vestindo seis casacos, três calças e mais outras porções de meias. É claro que com isso eu não pude voltar à "Lily vagaba"; nem morta eu viveria com aquela saia com um frio daqueles. Não mesmo. E com aquele tanto de roupa eu quase saía rolando por aí de tanto agasalho. Com a chegada de dezembro tudo muda de figura, e começa a chover, e depois a gear, e por fim neve. Muita neve. Mas por enquanto o clima estava bem gelado, a ponto de eu ficar apenas em frente à lareira nas minhas horas vagas.


É nessas horas que eu precisava de um namorado pra me esquentar... (Não pensa em James, não pensa em James, não pensa em James, não pensa em James!) Isso me lembrava que eu não tinha devolvido seu casaco ainda. Mas é claro que eu não devolveria! Ele é quente, fofo, confortável e cheiroso. Cheiroso? Pffff. Só sei que se James sentiu falta dele, vai sentir falta pro resto da vida, pois ninguém sabe, mas eu durmo com ele. Droga, ele é quente e a cor combina com meu pijama!


E tinha Jessie também. Depois daquela festa horrível dos marotos eu voltei a biblioteca e contei a ele que eu lembrava da sua situação. Ele, também, aparentava completamente arrependido por ter bebido, e no fim mudamos de assunto e voltamos a nossa sessão de exploração da biblioteca. Jessie até chegou a achar um livro com feitiços de aquecimento para o corpo, mas quando eu tentei fazer nele um bigode roxo apareceu acidentalmente em seu rosto. Eu fiquei realmente vermelha com isso, mas depois rimos tanto que novamente fomos expulsos por Madame Pince. É... Coisas da vida.


Fora isso, nada mudou muito com o começo do mês. Maria e Dorcas pararam só um pouco com as brigas – elas pararam, pelo menos, de puxar o cabelo da outra -, e por isso agora só discutiam durante alguma aula, dando patadas na outra, discordando da outra quando o professor perguntava alguma coisa e essas coisas. Maria agora evitava cruzar com ela, uma atitude que agradeci a Merlim. Ela parecia dizer que o motivo que a briga começou foi Jason, e que agora sabe que não gosta dele. Não sei não... Mas pelo menos isso fez com que ela parecesse mais tranquila. O MacMcMea continuava com suas fofocas diárias e sem sentido, Merlim também abençoando para que Maria e Dorcas não trocassem ofensas nele. Mas mesmo assim, eu amaldiçoo esse jornal com todas minhas forças. O tanto que pescoços viraram para mim quando saiu que eu fui vista beijando James... Passei um dia trancada no banheiro da Murta Que Geme chorando, enquanto Maria e Alice apareciam pra me tirar dali a força. E, é claro, eu continuava a evitar James. Depois daquele episódio eu nunca mais olharia na cara dele, nem no coral, nem na sala comunal, em lugar nenhum.


E por falar em coral, Moreau parecia mais exigente do que nunca. Agora além de treinarmos as cordas vocais temos que treinar dança! Lina e John, os melhores dançarinos, ajudavam a gente, mas como eles esperam que aprendemos a dar um mortal? Acho que eles se esqueceram que estão falando com Lily Evans... Enfim, Moreau já apresentou algumas músicas, mas até agora não saiu nada legal. A única coisa que eu sei é que Dorcas e Maria estão brigando pelo solo.


Alice e Franco continuam fofos, Emelina e Benn também parecem ter se acertado; pelo visto Benn confirmou com a tal garota da Lufa-Lufa que estava cantando com Lina na festa. O estranho, porém, é que Lina nunca mais conversou com Remo, coisas que faziam pra caramba antes. Ele agora só anda com os marotos mesmo. Estava voltando tudo ao normal, enfim. Eu junto com Alice, Maria e Sean, a volta dos marotos, Dorcas Sophie e Emelina juntas também... Tudo como antes. Até Beth parou de correr com Sirius por aí, agora só anda com Louise e Audrey. Bom, eu não sei se alguma coisa aconteceu, mas ultimamente – e de novo – os marotos começaram a andar sonolentos, e Remo sumiu. Simplesmente desapareceu; pelo visto tinha adoecido novamente, ou sua mãe, não sei. Deve ser uma doença de família... Se bem que no meu quinto ano... Snape...


Impossível. Vou tirar essa coisa da cabeça. Remo era completamente normal! Se ele fosse um lobisomem porque a mãe dele adoeceria tanto? E como ele se transformaria aqui em Hogwarts? Pffff. Nada disso faz sentido.


Afinal, Remo é meu amigo. Se isso fosse verdade, porque ele guardaria esse segredo de mim?




Emelina POV:


Café da manhã de quinta.


- Soo, come algum coisa. Você está realmente pálida – insisti novamente, mas ela apenas fez um sinal rápido com a cabeça, passando a mão na testa.


- Não estou com fome – disse, olhando para comida com um imenso nojo, e ao mesmo tempo certa vontade.


- Aconselho você a ir à Madame Pomfrey, então. Sabe, há dias que você está assim – falei.


- Estou bem. Não tenho culpa se meu estômago é um louco – ela murmurou.


- Queria ter um estômago louco se for pra ficar com esse corpinho que você tem – Dorcas comentou se empanturrando de torta de abóbora.


- Não diga isso – Sophie falou com certo tremor. Eu a observei.


- É sério. Você está mal, Sophie! Precisa se cuidar! – insisti. – Entende que a situação está tão séria que vou acabar contando pra Jason que você não quer ir à Madame Pomfrey por estar se alimentando mal.


- Eu não vou lá porque odeio hospitais! – Sophie falou, abafando a voz. – Odeio todo aquele cheiro de poção, aquele cheiro de produto de limpeza, aquelas camas... – ela tremeu.


- Mas você tem que encontrar um jeito de melhorar esse estômago!


- Não quero comer, Emelina! – Sophie cortou. – Vou engordar se ficar comendo desse jeito...


Dorcas bufou, enquanto eu a olhava incrédula.


- Engordar? Bom, julgando você agora é a melhor coisa que deve fazer! – retruquei. – Engordar... Você deve estar cega.


Sophie não respondeu, nem relou na comida. Aquilo chegava a ser preocupante... Fazia dias que ela não comia, e quando comia era uma e no máximo três colheradas. Dorcas parecia não entender a situação, apenas falava da sua inveja de seu corpo magro. Bah.


- Ignore Emelina, Sophie – Dorcas disse com a boca cheia. – Não vê que agora que está namorando ela ficou meio maternal? Acho que já está pensando em se casar!


- Tão engraçado, Dorcas – falei irônica, suspirando e deixando de fitar Sophie para olhar pro meu prato.


- É sério! – Dorcas exclamou. – Vocês vivem grudados, fazendo carícias no outro, rindo feito duas hienas... Não se desgrudam mais, parecem aquele Chicle-Cola da Zonko's que cola o maxilar de quem come.


- E você tá ciumenta demais ultimamente. Tanto comigo quanto com Jason – falei com veemência.


- Não estou com ciúmes de você – Dorcas deu de ombros. – E eu só puxei o cabelo daquela menina outro dia porque ela ficava empinando a bunda quando Jason passava perto dela, e sabe... Não suporto piriguete.


- Aham. Como se você não se amasse agora – brinquei, e Dorcas olhou pro teto.


- Enfim, não mude de assunto. Você e Chapman vão se casar ou não? Aliás, vocês e Franlice. Aqueles lá acho que vai acabar em matrimônio também.


- Prefiro me concentrar nos meus estudos por enquanto – sorri.


- É isso que MacDonald anda espalhando pra não voltar a admitir que gosta de Jason também – Dorcas apertou o garfo com força. – Qual é a daquela garota? Ou ela gosta de Jason ou não!


- Não se sabe, mas pelo menos ela nem conversou com ele mais, e nem arranjou briga com você. O que você deveria tomar como exemplo – apontei o garfo em sua direção, e ela mostrou a língua, infantilmente.


- Eu odeio MacDonald – ela falou, tomando um gole de seu suco. – Falsa, medíocre, cretina, parva... Eu ainda vou dar um jeito de por ela de lado.


- Dorcas, acorda! Ela não quer mais brigas, o que leva a gente realmente acreditar que não está mais interessada em Jason! Por que você não para de arranjar brigas e toma alguma atitude madura e sensata para se aproximar de Jason de uma vez?


- Tenho que tirar as garotas-obstáculos do meu caminho – ela estreitou os olhos.


- Boa sorte com isso – Sophie comentou com a voz fraca. – Quando terminar com a escola inteira eu vou te dar um prêmio pela sua disposição.


- Vamos mudar de assunto – Dorcas olhou com descaso para Sophie. – Um assunto que estou trabalhando fortemente na matéria do MMM para essa semana! Os marotos!


- Você fala deles todas as edições – suspirei.


- Mas dessa vez será bombástica! – Dorcas exclamou, animada. – Ouça, você não acha que a escola inteira merece saber o motivo pelo qual todos eles somem um vez por mês à noite? Ou então, o principal deles e seu ex-amigo, Remo Lupin?


- O que tem a ver isso? – perguntei, desmontando ao pensar em Remo. Até hoje me sentia culpada pelo meu afastamento dele... Afinal, graças a ele estou com Benn hoje. – Ele visita a mãe doente, e as vezes ele adoece também. É tipo como uma doença de família.


- Francamente, Emelina! – Dorcas bufou. – Você realmente acredita nessas baboseiras? Achei que fosse inteligente suficiente para perceber que tem alguma coisa estranha...


- Não tem nada estranho, Dorcas – cortei. – Eu já o vi doente, já o ajudei uma vez, e foi assim que... Bom, foi assim que começamos a conversar.


- E quanto aos outros marotos? Tem a doença também? Eles somem todas as noites, os três! Potter, Black e Pettigrew! Claro que tem babado no meio!


- Ah é, e por acaso você tem alguma outra teoria?


- Não, mas tenho quase certeza que Hogsmeade está envolvida nisso. Eles conhecem milhares de passagens secretas nesse castelo, com certeza deve haver alguma pra lá, onde eles saem e fazem sabe-Merlim-o-que enquanto o amigo doente está fora – Dorcas fez um muxoxo. – Que belos amigos eles são, só saem pra se divertir quando o amigo está ausente... Decerto ele é um pouco desagradável com isso. Ou por ser um monitor tenta impedi-los de sair!


- Quanta besteira junta, Dorcas Meadowes. Não é de se surpreender que tudo saiu de você – balancei a cabeça, desolada.


- Acreditem em mim! No dia seguinte eles vivem cansados, sinal que passam a noite inteira... bebendo, quem sabe! Talvez foi assim também que eles descobriram sobre aquela poção milagrosa que sempre roubaram de Slughorn.


- Dorcas, para. Você não está falando coisa com coisa! – pedi.


- E está piorando minha dor de cabeça – Sophie acrescentou.


- Ok, senhoritas – Dorcas falou aborrecida. – Então o que vocês acham que os outros marotos fazem nos dias que Lupin está adoentado?


- Isso nem é da nossa conta, Dorcas – revirei os olhos. – Mas seja o que for, eles são os marotos! Devem ficar perambulando pelo castelo, roubando comida da cozinha, invadindo a Seção Reservada, eu não sei! Qualquer coisa que for, é melhor não nos metermos.


Achei que enfim a tinha vencido, mas depois de muito Dorcas voltou a falar.


- Mas é claro que temos que nos meter. Bom, pelo menos eu – ela falou com certo brilho nos olhos. – Afinal, eu sou colunista e redatora do MMM, e seja o que for que os quatro marotos aprontam, eu vou descobrir.




Sirius POV:


- Aluado está bem? – Franco perguntou.


Não era de total surpresa que ele soubesse do segredo; afinal, ele dormia ali no mesmo quarto que nós, seria impossível não notar nada de estranho. Ele aceitou numa boa, foi até legal da parte dele. As vezes ele até se enturma e nos chama pelos nossos tão conhecidos apelidos. Franco até nos ajudava as vezes, mentindo pra algumas pessoas na sala comunal que estávamos dormindo no dormitório, quando, na verdade, estávamos nos divertindo na Casa dos Gritos.


- Sim. Ele está se recuperando na ala especial da enfermaria agora... Logo ele vai voltar – James respondeu, deitado em sua cama e olhando para o teto.


- Espero que fique bom – Franco falou, folheando seu livro.


- E como vai seu namoro com nossa querida bonequinha de porcelana Alice, Franco? – perguntei com uma risada. – Já passaram para o segundo estágio?


- Eu sei que quando você quer puxar esse assunto, na verdade não tem outro melhor, Sirius – Franco suspirou.


- Ora, só quero aproveitar que estamos entre amigos para falar sobre garotas!


- Sua especialidade, devemos acrescentar – Rabicho falou.


- Modéstia a parte, sim – dei de ombros.


- Vamos falar de garotas então – Franco colocou o livro de lado. – Você e Beth. Dá pra explicar?


- Bom, não tivemos nada desde aquele longo tempo em que fomos para Hogsmeade. Só estávamos grudados porque ela cuidava de mim, eu realmente me sentia um rei – todos do quarto bufaram ao mesmo tempo, e eu simplesmente ignorei. – Mas as coisas mudam. Ela voltou com suas amigas, e eu com os meus, além de ser difícil agora na Lua Cheia andar sempre com ela. E a maré das garotas enfurecidas já passou, e estou pronto pra pegar uma nova onda.


- Sirius – James começou. – Cale a boca.


- Você está estressadinho porque já levou patada suficiente da nossa monitora ruiva, não é Pontas? – zombei, o que veio um travesseiro na minha cara a seguir. – Não negue! Quem é que fica gemendo "Lily, vem cá meu amor!" todas as noites?


- Você realmente quer disputar qual vence o pior gemido durante a noite? – James sorriu torto, estreitando os olhos. – Quem sabe... "Não toca nesse buraco aí"?


- Sério que eu falo isso? – ergui as sobrancelhas. – Bom, eu deveria estar tendo um bom sonho, sendo assim!


- Cale a boca, Sirius – os três falaram ao mesmo tempo.


- Mas falando sério. Como vai você e querida Lily, Pontas? Eu sei que é pecado olhar na garota que seu melhor amigo está de olho... Mas depois que ela passou a se arrumar...


James suspirou.


- Não voltamos a conversar desde aquela maldita edição do MacMcMea – ele respondeu com irritação. – Ainda vou dar uma chifrada na cabeça de Meadowes...


- Ou naquela misteriosa leitora que mandou a carta – Pedro ponderou. – Aquelas iniciais são muito familiares...


- O estrago já está feito. E novamente consegui afastar a Lily de mim.


- Veja por um lado bom, Pontas – comentei. – Você conseguiu dar uns bons amassos nela na nossa festa! Uma festa dos marotos nunca rendeu tanto assim pra você...


- E pra você, Sirius, rendeu? – Franco perguntou. – Que eu saiba você ainda tem sentimentos pela Sophie...


- Quem, a McKinnon? – perguntei, bufando. – Aquela lá um passado obscuro que prefiro esquecer. Não gosto de meninas com aquele porte. Percebeu no tanto que a criatura emagreceu? – tremi.


- Você chega a ser nojento – James abriu um caldeirão de chocolate.


- É verdade. Daqui a pouco ela some... Tanto que tem que tomar banho de braços abertos para não cair no ralo! – gargalhei, fazendo vários revirarem os olhos. Francamente, que mal humor é esse?


- Prefiro ficar longe dela – finalizei, e nenhum comentário veio depois disso.


Aquela garota... Eu não tinha lembranças nada boas com aquela pessoa, e não era de se surpreender... Pelo que eu ouvia naquela casa dos Black enquanto eu morava lá, Marlene McKinnon não era uma pessoa muito agradável.


Sophie McKinnon... Um enigma. Um enigma que eu não estava nem um pouco interessado em desvendar.




David POV:


- Lá vem você de novo – suspirei cansado, avistando Stanley se sentar ao meu lado no almoço. – Stanley não estou com ânimo pra suas conversas...


- Vai me dizer que andou bebendo também, Moreau? – ela riu, balançando a cabeça. – Lamentável o exemplo que você dá.


- Simplesmente. Evapore – falei pausadamente para que ela entendesse, mas ela apenas começou a se servir.


- Você acha que eu estou brincando? Sabe, eu também investiguei sua vida, e bom... Seu histórico alcoólico não é lá dos bons.


Fiquei a encarando, esperando por mais comentários. Ela simplesmente riu enquanto bebia seu vinho.


- Isso te apetita? – ela estendeu a taça em minha direção, e eu apenas ri para ela. – Nem um pouco, Moreau? Ou devo dizer... Senhor Drunco?


- Como...?


- Eu sei! Eu te disse, tenho minhas fontes tanto quanto você – ela piscou. – Alcoólico desgovernado desde seu último ano em Beauxbatons, saiu para se formar como curandeiro, mas não saiu bem sucedido. Ao invés disso começou a viver da herança dos avós bebendo e se esbaldando pelas ruas de Paris... Seus pais não devem ter ficado muito satisfeitos com isso, não é?


- Isso faz tanto tempo, Stanley – suspirei, virando meu rosto.


- Ah, não se esquive querido Drunco. Era assim que seus amigos te chamavam, certo? Nome bem criativo, devo dizer – ela soltou uma risada de desdém. – Alcoólatra. Quem diria.


- Não bebo mais. Eu cresci. Antes eu era apenas um garoto jovem demais que gostava de experimentar a vida de todas as maneiras, mas eu mudei, e aprendi a controlar esse vício que não existe mais – sorri.


- Só sei que seria horrível se isso acabasse por cair nos ouvidos de Dumbledore... Quem gosta de ter um professor ex-bêbado ensinando seus alunos? Pior, alunos que recentemente foram no mesmo caminho dele?


- Dumbledore sabe disso, assim como o resto dos professores – desafiei. – Passo errado, Stanley.


- Certo, então os professores sabem – ela estreitou os olhos. – E os alunos? Ou então... Os pais dos alunos?


- Todo mundo já passou por alguma coisa que não se orgulha no passado. Eu não sou uma exceção. E nem você – sorri novamente para ela. – Estudou em Durmstrang, certo? Todos dizem que aquela escola não é de lá agradável.


- Não generalize – ela bufou.


- Não posso generalizar considerando que já foi vista com o atual Comensal da Morte, Igor Karkaroff, não é?


Pelo visto ela não esperava por isso. Até demorou para responder, recompondo sua expressão momentaneamente desmoronada.


- Isso faz tempo – disse enfim.


- Tanto tempo como meu passado obscuro – acenei com impaciência. – Estamos quites, pois.


Pelo visto eu havia vencido essa. Moreau 1, Stanley 0.




Dorcas POV:


Só havia um jeito de dar mais algum recheio ao glorioso MacMcMea.


- Olá garotas! – me aproximei delas no começo da aula de Feitiços, enquanto Flitwick não dava as caras.


- Iih, coisa boa não é – MacDonald suspirou, e eu a ignorei.


- Tenho um convite pra vocês! – falei animada, e as três ergueram as sobrancelhas. – Festa do pijama. Hoje a noite. Eu sei que nenhuma de vocês não tem trabalhos importantes para amanhã, nem redações ou tarefas atrasadas. Eu observo, sabem? Ah, e já verifiquei seu horário de monitoria Evans, e o seu não é hoje. Por isso não há desculpas para vocês se ausentarem. Vejo vocês lá!


- Peraí, peraí Dorcas! – Evans exclamou, ainda confusa. – Festa de pijama? É isso mesmo que eu ouvi?


- Você só pode estar louca – Maria comentou, balançando a cabeça. – Maluca.


- Ouça MacDonald, não sou muito a favor da sua ida, mas como sou uma pessoa justa, nada mais certo do que te incluir na lista dos convidados – retruquei. – Eu já chamei Beth e Louise, e elas já confirmaram presença. Vocês precisam ir! Será ótimo trocar algumas fofocas.


- Pra postar em seu jornal? – Alice fez uma careta. – Nem morta.


Suspirei impaciente, vendo Flitwick adentrar a sala.


- Eu espero sinceramente que vocês vão. Somos do coral! Precisamos compartilhar informações! – pisquei.


- Senhorita Meadowes, queira se sentar, por favor – a vozinha fina do professor falou atrás de mim.


- Espero vocês no meu dormitório, às oito – informei, então dei as costas e me aproximei de Flitwick, apertando sua bochecha. – Já estou indo me sentar, fofinho!


Ele fez uma careta, me acompanhando desconfiado quando corri pra me sentar ao lado de Emelina.


- Vou tratar de dormir no dormitório de Lily quando vocês começarem com essas baboseiras – Emelina falou rapidamente. – Tenho certeza que nem ela, Maria e Alice vão participar disso.


- Como pode ter certeza?


- Eu conheço elas – ela falou em tom de obviedade. – Quando Beth e Louise forem para nosso dormitório, eu e Sophie tomamos o lugar delas no outro. Já está decidido.


- Eu não acredito que você vai fazer isso, Emelina! – xinguei baixo, enquanto o professor enchia a lousa. – É importante pra mim, e eu preciso de vocês duas pra trocarem fofocas! Vai ter comida roubada da cozinha especialmente para isso!


- Dorcas, pare de causar discórdia. Desista desse negócio de fofoca de jornal, você sabe que isso não dá futuro – Emelina insistiu enquanto copiava.


- Como não dá? E se eu quiser ser uma jornalista futuramente, hein? Nunca se sabe, querida Emelina, nunca se sabe – continuei. – Eu só quero que você e Sophie participem, como favor pra uma amiga desesperada por uma fofoca!


- O que, aliás, me faz perguntar porque sou sua amiga.


- Por favor! Por favor! Por favor, por favor, por favor! – implorei, balançando seu braço fazendo com que ela não consiga copiar. – Por favor, Lina! Lininha, fofinha, linda! Por favor!


- Argh, tá bom! – ela disse irritada soltando meu aperto, enquanto eu vibrava. – Mas vou dormir cedo.


- Não importa – a abracei e dei-lhe um beijo. – Mas cadê a Sophie?


- Aah, agora que você percebeu a ausência dela, sua amiga-da-onça? – Lina revirou os olhos. – Não está se sentindo bem, ficou deitada no dormitório. Estou pensando seriamente em contar isso a Jason. Desde o começo do ano ela vem emagrecendo e não se alimenta direito, e nem quer ir pra enfermaria!


- Deixe os assuntos familiares pra lá, te aconselho – respondi. – Sophie é inteligente o suficiente pra saber o que está fazendo, logo vai perceber que tem que comer melhor. Não precisa contatar Jason por causa disso... Você sabe que ele além de ser um deus grego é um dedo-duro também, e logo vai contar pra mãe de Sophie...


- Que é chata pra caramba, eu sei – Emelina suspirou. – Mesmo assim, estou preocupada.


- Tudo vai ficar bem – falei animada. – Agora vamos falar da festa do pijama. Estou pensando em convidar Sean.


- Desculpe te desapontar, mas ele é homem, e homens não entram no dormitório feminino – Emelina respondeu.


- A gente dá um jeito, nem se for pra flutuar o garoto – falei, enquanto ouvia o grito de indignação da sala por Flitwick ter apagado o quadro. Nem copiei. – Ele tem fofocas quentíssimas sobre seu namorado e aquela amiga mala dele, a Schain. Você não quer saber mais da vida do seu futuro marido?


- Pela centésima vez. Eu não vou me casar com ele, Dorcas – Emelina revirou os olhos, embora risse. – Talvez seja interessante saber algumas coisinhas sobre Benn sim...


- Viu? Outro motivo para você estar presente. Vai ser ótimo! – bati as palmas contente. – Já vou pensando num jeito de escapar Sean pra dentro, e no final da aula vou correr pra cozinha pra já ir pegando algumas guloseimas. O que você acha que eu devo levar?


Então foi assim que consegui animar Emelina. Pra ver a falsidade da garota... Só se interessou quando eu citei seu namorado, tsc, tsc... Essas garotas andam perdidas.


Mas eu tinha que conseguir milhares de fofocas para o MMM! Mais do que nunca, essa festa do pijama tinha que dar certo.




Maria POV:


- Meadowes é louca – Lily disse à mesa do jantar.


- Demorou pra concluir isso, amiga – falei com uma risada. – Mas e aí, vocês vão nessa festa?


- Fala sério Maria, por acaso você cogitou a possibilidade de ir? – Alice bufou. – Não se deve ouvir o que Dorcas diz, não vale a pena.


- Eu sei que ela é uma insuportável...


- Fofoqueira – Lily completou.


- Briguenta – Alice disse.


- Ciumenta.


- Louca.


- Desvairada.


- Falsa.


- É, tudo isso, eu sei – ri junto delas. – Mas por um lado... Saberemos das fofocas também!


- Você vai ficar igual ela se continuar assim, é sério – Alice falou.


- Bata na boca, nunca! – exclamei. – Toda garota gosta de uma fofoca, inclusive vocês.


- Mas eu me controlo quando se trata de Meadowes – Lily deu de ombros.


- Eu também – Alice concordou.


- Garotas, por favor! – insisti. – Eu quero saber das fofocas, preciso me atualizar! Eu não leio a coluna da Meadowes por pirraça, porque na verdade eu amo fofocas, e esse é o único meio da gente ficar por dentro de tudo.


- Sabe Maria, de todas eu achava que você fosse a última a querer ir nessa festa – Alice comentou.


- Eu sei, eu sei. Eu também não sabia que eu ia querer. Mas, de repente, eu quis saber das novidades – dei de ombros.


Alice e Lily trocaram olhares por longos segundos, até darem de ombros também.


- Tudo bem, nós vamos – falaram.


- Yes! – comemorei.


- À festa de pijama da Dorcas? – Sean chegou bem na hora, sorrindo. – Também fui convidado.


- Você? – arregalamos os olhos. – Mas você é...


- Homem, eu sei – Sean riu. – Mas mesmo assim fui convidado. Estão até querendo me flutuar até o dormitório.


- Dorcas enlouqueceu – Lily balançou a cabeça. – Quero dizer, enlouqueceu mais ainda.


- E você vai na festa? Vai ser flutuado? – Alice perguntou interessada.


- Achei bem interessante. Fofocas não faz mal a ninguém – ele falou com indiferença. Ai, como eu amo esse garoto. – Se conseguirem me empurrar pro dormitório, estou dentro.


No final acabamos por decidir que iríamos juntos. Sean até estava animado se conseguíssemos passar ele escada acima.


Acho que essa noite renderia vários babados.




Remo POV:


Eu estava fraco demais. A última noite tinha sido terrível – aliás, todas são. Mas uma parecia superar a outra, e a cada dia eu ficava mais doentio e lento. Estava de tarde e logo mais anoiteceria, o que significa mais sofrimento.


Eu tinha acabado de tomar a poção que Madame Pomfrey havia preparado para mim, quando Sirius entra na ala hospitalar vazia exceto por mim. Ele carregava seu velho violão, me olhando contente como sempre.


- Fala aí, caro Aluado! – ele se aproximou dando um tapa nas minhas costas, quase me fazendo cair da cama. – Er... Desculpa aí...


- Tudo bem – me endireitei na cama. – Onde estão os outros?


- Com certeza se empanturrando na cozinha. E eu decidi passar aqui pra te animar um pouco – ele indicou o violão.


- Vai cantar pra mim Almofadinhas? Que romântico – zombei, e ele gargalhou.


- Pelo visto você está com um humor melhor do que os outros – ele comentou. – Não, eu não vou cantar pra você, Aluado. Eu vou cantar com você.


- Acho que estou incapacitado agora – falei, me encostando no travesseiro. Sirius apenas balançou a cabeça.


- Você é perfeitamente forte à noite.


- Vai realmente comparar meu estado agora com um lobisomem...


- Para de reclamar. Vamos sim, cantar, nem que eu vire um cachorro agora e dou umas lambidas em você até você aceitar – ele ameaçou.


- Isso foi nojento – fiz uma careta.


- É melhor cantar, amigo – ele riu, então levou os dedos à boca e assobiou. No momento seguinte os músicos do coral começaram a adentrar a enfermaria.


- Sirius, você ficou louco? – sussurrei com urgência, enquanto eles caminhavam sorridentes até nós. – Se eles me virem assim... Vão desconfiar de alguma coisa! E já está anoitecendo!


- Relaxa, eles não vão saber de nada – Sirius falou despreocupado. Cachorro. – Agora que descobri que canto bem, tenho que usar isso, não é mesmo?


Sirius se virou para os músicos e fez um sinal, ao mesmo tempo que começava a soltar acordes em seu violão, cantando.


"One love, one heart


Let's get together and feel all right"


Ele fez um sinal pra mim, então continuei.


"Hear the children crying (One love)


Hear the children crying (One heart)


Sayin', Give thanks and praise to the Lord and I will feel alright.


Sayin', Let's get together and feel all right.


Whoa, whoa, whoa, whoa"


Eu cantava fraco, mas cantava. Usava o pouco que minha energia tinha me deixado, enquanto os músicos tocavam atrás de Sirius.


"Let them all pass all their dirty remarks


There is one question I'd really like to ask (One heart)


Is there a place for the hopeless sinner


Who has hurt all mankind just to save his own?


Believe me"


Sirius continuava no violão, sorrindo e cantando como se tivesse uma verdadeira plateia ali. Na verdade só tinha Madame Pomfrey, que com o barulho saiu correndo de sua sala pra começar a xingar. Quando viu o que era, porém, apenas ficou calada e começou a assistir. Aos poucos foi sorrindo, as mãos juntas de contentamento.


"One love, one heart


Let's get together and feel all right"


E por incrível que pareça, aquilo estava me animando um pouco. Eu até me sentia mais acordado e já tinha me sentado mais ereto na cama. Eu amava aquela música, deve ser por isso que Sirius tinha a escolhido.


"As it was in the beginning (One love)


So shall it be in the end (One heart)


Alright, Give thanks and praise to the Lord and I will feel alright.


Let's get together and feel all right."


Logo James e Pedro adentravam a ala hospitalar, e, ao ver a cena, simplesmente começaram a cantar no fundo; Pedro meio acanhado, já que não cantava. E James começara a dançar com Madame Pomfrey, que ria enquanto isso.


"Sayin', one love, one heart


Let's get together and feel all right.


I'm pleading to mankind (One love)


Oh, Lord (One heart) Whoa!


Give thanks and praise to the Lord and I will feel all right


Let's get together and feel all right."


A música finalizou e todos aplaudiram, enquanto Madame Pomfrey terminava de se recompor do giro que James havia feito com ela. Sirius depositou seu violão na cama ao lado.


- Vai dizer que isso não te animou? – Sirius riu.


- Sim, sim – eu ri. – Obrigado, Almofadinhas.


Sirius assentiu.


- Isso aí! – James gritou, então se atirou em cima de mim, seguido pelos outros dois, todos me envolvendo num abraço amigo.




Lily POV:


- Mais um pouco, mais um pouco! Isso, quase! – Dorcas gritava alarmada enquanto eu via o corpo de Sean subir no ar, desequilibrado. – Emelina, aponta a varinha pra lá!


Os poucos presentes da sala comunal assistiam a cena aos risos. Estava bem vazia exceto por nós e eles, já que estava no horário da janta. Dorcas tinha nos garantido que tinha comida suficiente para todas nós, portanto não tínhamos ido para o Salão Principal.


- Eu vou bater a cabeça no lustre! – Sean gritou alarmado.


- Alice, você tá apontando errado, é pro dormitório feminino, não masculino! – falei, puxando o feitiço para baixo.


- Não tenho culpa se ele é pesado! – Alice falou ofegante.


- Me chamou de gordo na cara dura... – ouvi Sean falar do alto.


- Gente, pra cá! – Dorcas gritou, enquanto eu, Alice e Emelina fazia o gesto com a varinha pra entrada. Estávamos quase conseguindo, porém a cabeça de Sean bateu no portal.


- Mais baixo, mais baixo! – Emelina exclamou.


- Ele vai cair! – eu e Alice gritamos, e Sean gritou, e Dorcas gritou, e com toda a gritaria deixamos Sean cair com um baque na poltrona.


- Desisto! – Emelina exclamou.


- É melhor mesmo, acho que isso não vai dar certo, garotas – Sean falou deprimido. – Desculpe se eu sou gordo.


- Eu não disse isso – Alice corou.


- Brincadeira, Lice – Sean riu. – Bom, foi bom tentar. Só pensava que vocês três, as melhores alunas de Hogwarts, conseguissem fazer um perfeito feitiço de levitação.


- Eu estou com fome – tentei explicar, e Sean bufou.


- Eu também estou, e já que não vou poder entrar, vou para o Salão – Sean pôs-se de pé.


- Espera aí, Sean! – Emelina exclamou. – Por que você não tenta subir a escada? Aí quando virar uma rampa, você tenta subir por ela e a gente te ajuda com algum feitiço. O que você acha?


- Boa ideia! – Dorcas concordou.


- Não sei se isso vai dar certo – Sean mordeu o lábio.


- Ah, que isso! – Dorcas o empurrou pra perto das escadas. – O máximo que vai acontecer é fraturar o crânio ou a coluna vertebral, mas não é nada demais.


- Tão encorajadora, Dorcas – Sean respondeu com sarcasmo.


- Eu sei. Agora vai – Dorcas deu-lhe um pequeno empurrão.


Sean, então, colocou o pé no primeiro degrau. Eu já tampei os ouvidos por causa daquela sirene horrível, porém, ela não veio.


- Ué... – Emelina olhou surpresa.


- Não aconteceu nada – Alice arregalou os olhos. – Sean, suba todos os degraus.


Sean assentiu, e cauteloso deu mais alguns passos, até chegar no topo da escada, da onde gritou:


- Tô vivo!


- Merlim, só pode ser um milagre! – falei boquiaberta, correndo até alcançar Sean na escada. – Como... como?


- Talvez Sean não tenha más intenções, por isso nada aconteceu, não sei – Emelina deu de ombros, feliz.


- Claro que tem más intenções! Afinal, estamos aqui pra fofocar! – Dorcas disse depressa. – Vamos, todo mundo pro dormitório!


Eu nunca tinha visto um garoto por lá, por isso foi a coisa mais estranha que me aconteceu. Mas Sean não contava como garoto, tanto que sentíamos a vontade perto dele. Até trocamos de roupa perto dele e ele não ligou... Mas era de se esperar.


O dormitório estava com comida pra todo lado, além dos colchões fofos e milhares de cobertas espalhadas pelo chão. As outras garotas já estavam lá, todas com seus diversos pijamas. Contamos a elas o milagre do Sean, e elas ficaram chocadas assim como nós. Quem não ficaria?


Enfim, pouco depois já estávamos jogadas no chão comendo, rindo de alguma besteira, comentando algumas coisa da escola, até Dorcas começar a fofocar.


E começou e não parava, e começava a surgir novas cada vez mais. Que Alan Byelard começou um namoro com Ashley Aileen da Sonserina, sendo que a mesma é a melhor amiga da sua ex, Marina Marshall; ela não parecia muito feliz quando o boato correu, e por isso as duas se afastaram muito depois disso. Que os irmãos Albert e Kalvin Fingal da Lufa-Lufa andaram brigando por uma garota da Grifinória do quinto ano, Ivy Jaclyn, uma morena alta e escultural que anda tirando suspiros de garotos por aí; tenho quase certeza que Sirius já "experimentou" ela. Que Janet Ramsey se separou do gato lindo da Lufa-Lufa, que inclusive canta no coral junto com Chapman, o Riley Upton. Merlim, aquele já deu muito o que falar, e agora que está solteiro tenho certeza que ele vai ser muito disputado entre o sexo feminino. Falamos de Zachary Trevor, o sonserino que já traiu a namorada centenas de vezes, a pobre Suzy Goldman da Corvinal. Ela não é lá das inteligentes – o que é estranho pela casa a qual pertence – e por isso não sabe que é chifrada constantemente. Nós chegamos a conclusão de que ela já percebeu, mas não quer perder o namorado, por isso prefere ficar com fama de corna. Quero dizer, ainda me pergunto como ela conseguiu um namorado... Ela não é muito... Bom... Atraente. Não posso falar nada, sou suspeita pra dizer, mas ela realmente não é de boa aparência. Mas ela tem namorado, e eu não, por isso mereço calar a boca. Por fim falamos dos irmãos Prewett que se formaram ano passado. Aqueles lá são como os irmãos Fingal, mas é um pouco diferente. Os Prewett são maduros e passam aquele ar de homem crescido e inspirador, o que faz as meninas suspirarem. Não sabemos muita coisa sobre o Gideon, mas o Fabian já foi visto com Lee Spencer, uma menina asiática-sortuda da Lufa-Lufa, sétimo ano. Mesmo que Fabian já havia se formado, eles já foram vistos em Hogsmeade juntos, se encontrando. Na minha opinião eu acho que ficam fofos juntos, por isso que ainda me pergunto do paradeiro do seu irmão restante...


- Gente, eu já disse o tanto que eu amo fofocar? – Dorcas falou com excitação quando paramos de falar de Amos Diggory (meu quase rolo) e sua misteriosa namorada, já que ele não anda saindo com ninguém ultimamente. Dorcas colocou sua prancheta de lado pra nos fitar; sim, ela estava anotando as fofocas. Já imagino a extensão que o MMM vai ficar. – Agora chega de falar desses avulsos... Vamos fofocas sobre nós!


- Ah, nem vem Dorcas – Alice falou comendo seu glorioso muffin de chocolate. – Nós até podemos falar dos outros pra você publicar nesse seu jornal, mas não quero mais ver meu nome lá!


- Concordo. É bom saber da vida dos outros, não da nossas! – Emelina falou.


- Gente, somos todas amigas aqui, não é? Nós e Sean – ela completou. – Precisamos compartilhar segredos, é o básico para uma festa do pijama!


- Errado – Beth cortou. – O essencial é fofocar, e isso já fizemos. Sem falar que se contarmos um único segredo nosso pra você, nossa vida estará arruinada.


- Ai gente, eu não sou assim, tá? – Dorcas falou com ar de inocência, no que todo mundo bufou. – É sério! Eu prometo não contar nenhum segredo de vocês no MMM!


- Eu concordo com Dorcas – Kummer falou, comendo um sanduiche de carne. – Já passam das três, e já que não temos mais fofocas, podemos contar segredos! Estamos tão sonolentas que vamos esquecer de tudo amanhã...


- Já são três? Merlim, amanhã tem aula! – exclamei, mas fui completamente ignorada.


- Eu não estou nada sonolenta, e certamente vamos acordar com nossos nomes sujos por Dorcas Meadowes amanhã – Maria falou com desagrado.


- Bom, o seu nome eu adoraria sujar – Dorcas rebateu.


- Ok, vamos contar segredos então! – Alice pigarreou a fim de interromper o início da discussão. – Se for pra parar com briguinhas novamente, vamos contar. Eu não tenho nenhum segredo, e vocês?


- Mas é claro que tem segredos! Todo mundo tem segredos! – Johnson exclamou animada. – Alguma coisa relacionada com seu namorado...


Alice corou instantaneamente.


- Não tenho nada pra esconder em relação a isso nem relação a nada – Alice respondeu, sem graça.


- Também não tenho segredos – Emelina sorriu.


- Nem eu – a voz fraca de Sophie veio de uma das camas. Ela foi a única que se recusou dormir no colchão, e até aquele momento eu tinha me esquecido que ela estava ali. Estava quase dormindo, e dava pra ver seu rosto pálido dali.


- Eu também não – Cooper também disse.


- Nem eu – falei.


- Resumindo, ninguém tem segredos aqui! – Dorcas bufou.


- Eu tenho – Sean falou baixo, de testa franzida e mordendo o lábio. Todos os olhares viraram pra ele. – Só não tenho... coragem pra dizer.


- O quê, o quê? – Dorcas deu pulinhos no colchão, fazendo Maria comentar algo relacionado a "perereca".


Sean olhou fixamente para todas nós antes de voltar a olhar pra baixo, brincando com a ponta de seu travesseiro.


- Estamos entre amigos, certo? Não vão espalhar por aí... – ele disse completamente hesitante.


- Claro que sim! Agora fale logo, criatura! – Dorcas exclamou, e Maria se debateu, incomodada.


- Bom, é que... – Sean olhava de nós pro travesseiro constantemente, ficando vermelho a medida que nos olhava. – Eu...


- Você... – Dorcas parecia que ia ter um ataque.


- Eu...


Dorcas quase estava batendo sua testa na dele de tanta expectativa, até Sean finalmente soltar com um suspiro.


- Eu sou gay.


Momentâneo silêncio, ao qual Sean olhou ao redor esperando respostas.


Até Dorcas bufar irritada.


- Ah, era isso? – falou aborrecida. – Mas que droga, disso eu já sabia!


- Já? – Sean pareceu espantando.


- Fala sério, todo mundo já sabe – Johnson comentou.


- Já? – Sean repetiu, abobado.


- Fala sério Sean – Emelina deu uma pequena risada. – Que garoto digamos assim... Macho, cantaria Bad Romance com a gente?


Sean corou mais um pouco, mas por fim riu. Eu o abracei.


- Não fique sem graça com isso, foi bom você ter admitido pra gente finalmente – falei. – Quero dizer, tínhamos quase certeza...


- Ei! Deve ser por isso que Sean conseguiu entrar aqui! – Maria falou de repente. – Porque ele não é totalmente garoto, afinal... Quero dizer, ah! Você entendeu.


- Entendi, Maria – Sean riu, enquanto eu me deitava em seu ombro.


- Nossa, que lógica mais mal feita – Dorcas desafiou Maria, que a olhou com desprezo.


- Pelo menos fui adotada com isso. Lógica, cérebro. Agora dentro do seu, se é que você tem um, deve haver apenas vento...


- O que adianta ter um cérebro se ele é mal usado? – Dorcas respondeu. – Usado para... Deixa eu ver... Ficar de olho no garoto das outras!


- Me poupe desse discurso de novo, Meadowes. Já está enjoando – Maria bocejou.


- Eu sei que você está fugindo, de novo! Se pensa que eu acreditei em você, está muito enganada!


- Mais uma prova que você não tem cérebro mesmo.


- Vaca.


- Sem cérebro.


- Safada.


- Sem cérebro – Maria cantarolou.


- Traíra!


- Sem cérebro.


- Falsa, estúpida!


- Gente, olhe como a lua está linda hoje! – Alice exclamou de repente, enquanto as duas se viravam para janela para onde Alice apontava. Estava na cara que ela queria novamente quebrar a tensão, já que o resto de nós apenas assistia a discussão entediados. – Lua Cheia, é bonita não?


Em seguida ouvimos um longo ruivo que quebrou o silêncio do quarto.


- Lua... Cheia... – Dorcas crocitou.


- O quê? – Emelina perguntou.


- Hoje é Lua Cheia! – Dorcas exclamou, levando as mãos na cabeça como se tivesse levado uma pancada.


- E daí? – Kummer perguntou.


- Eu... – Dorcas sussurrou, então seus olhos se arregalaram. – Eu descobri o maior babado da noite.


- Qual? – perguntamos.


- Eu... Não tenho certeza – ela disse, franzindo a testa. Uma expressão de choque passou em seu rosto. – Depois eu conto pra vocês.


Maria rodou o dedo na orelha apontando pra Dorcas, que ainda parecia ter levado o choque.


Seja o que for que ela descobriu, ninguém se importou muito. Naquelas alturas já estávamos cansadas demais, por isso logo acabamos dormindo. A noite tinha rendido, como muitas de nós havíamos previsto.


E amanhã seria um longo dia. Longo, longo dia.




Dorcas POV:


Muito estranho aquele lugar, a biblioteca. Não me lembro se já tinha entrado ali antes, e se sim, com certeza não fiquei por muito tempo. Eu tinha meus motivos: um lugar com aquela mulher desprezível que eu esqueci o nome, e que Emelina sempre reclamava dela; fora todos aqueles nerds que ficavam de cara colada nos livros, credo. Nunca queria fazer parte de uma turma daquelas, que horror!


Enfim, agora eu tinha que fazer um sacrifício. Por sorte meu primeiro horário é livre hoje, assim eu podia ler um pouco. Ler um pouco! Que decadência, Dorcas Meadowes...


Mas eu precisava saber.


Precisava ter certeza.


E se fosse verdade... Merlim.


Achei um livro com título interessante, e comecei a folheá-lo, passando por alguns títulos. Eca, o livro estava todo empoeirado!


Formas de Identificar um Lobisomem em sua forma humana


Uma lista prática para se livrar de aberrações que podem causar perigo à sociedade bruxa e trouxa. Atenção a todos os itens, podem ser essenciais para localizar qualquer lobisomem no meio de uma multidão.


- Pele pálida, aparência cansada, principalmente nos dias próximos a Lua Cheia. Os lobisomens ficam mais fracos no dia, para que a noite toda sua força lupina seja liberada.


- Roupas surradas, velhas ou remendadas. Mas cuidado: alguns bens disfarçados podem sim, se vestir normalmente. Se alguma vez eles aparecerem com roupa de tal característica, atenção.


- Grande mudança no humor. Lobisomens mudam de temperamento a todo o tempo, ora bravos e descontrolados, ora mansos como cachorrinhos.


- Sumiço na Lua Cheia. Quando se aproxima dessa fase da lua, geralmente lobisomens desaparecem durante esse período para se transformar em um lugar afastado. Azar, porém, quando ele está ao redor de pessoas quando isso acontece.


"Ele visita a mãe doente, e as vezes ele adoece também. É tipo como uma doença de família."


"Eu já o vi doente, já o ajudei uma vez."


"As vezes ele adoece também... Já o vi doente..."


Meu. Merlim.


"Uma vez por mês, durante a lua cheia, o bruxo que fora mordido por outro lobisomem também se transforma em uma fera assassina. Uma singularidade entre as demais criaturas fantásticas, o lobisomem dá preferência a presas humanas."


"A fase da Lua Cheia é mensal, portanto o lobisomem se transforma apenas a noite, ficando fraco de dia durante esse período. Tudo o que o denuncia é a aparência cansada, pele pálida, e as vezes desmaios e mal-estar constante."


"A fase da Lua Cheia é mensal". "Você não acha que a escola inteira merece saber o motivo pelo qual todos eles somem um vez por mês à noite? Ou então, o principal deles e seu ex-amigo, Remo Lupin?"


Os marotos...


São lobisomens?


Não, não, isso não tem cabimento. Não sei por que os outros também somem, mas apenas um deles fica pálido, apenas um deles fica cansado e some para visitar a mãe, ou então adoece. Apenas um deles tem apelido de "Aluado". Apenas um...


Remo Lupin é um lobisomem.




Sophie POV:


Aquele silêncio estava pior do que quando vomitamos na competição. Estávamos na sala de música, sendo que nem os músicos estavam ali pra tocar um som pra distrair... Mas depois do que Dorcas nos contou, era impossível se animar até mesmo com uma música. Moreau parecia desconcertado; quando Dorcas chegou nos dizendo o que tinha descoberto, ele visivelmente tentou mudar de assunto, deixando claro que já sabia de tudo. Pobre Remo...


E hoje, no coral de sexta, ainda esperávamos por ele. Era Lua Cheia hoje, por isso não sabíamos se ele vinha, já que faltou às duas últimas aulas. Por isso nem tínhamos sinal dele e nem dos marotos, que ainda não sabiam que a gente sabia também.


Emelina fungou do meu lado. Desde que Dorcas nos explicou tudo, ela caiu no choro. Lily também pareceu arrasada, enquanto Franco e os outros garotos suspiravam. Franco, pelo visto, também tinha conhecimento do segredo.


E eu, bem, nem tinha forças pra chorar. Não sei o que estava acontecendo comigo, mas eu não andava muito bem. Lina dizia que era porque eu não andava comendo, mas não acho que seja por isso, já que eu simplesmente não tenho fome.


Todos ergueram a cabeça, então, quando ouvimos risadas se aproximarem. Era Black, James e Remo. Pelo visto os dois tentavam animar o amigo, que agora estava claramente pálido e cansado, confirmando a teoria de Dorcas. Dorcas estava encostada no piano, olhando pra baixo.


- Fala aí, galera! – Sirius falou animado, então olhou ao redor, parando abruptamente de andar para nos fitar. Os outros dois fizeram o mesmo. – O que aconteceu?


Ninguém respondeu. Os três marotos trocaram olhares, e depois voltaram a olhar para nós. Emelina soluçou.


- Algum problema? – James perguntou hesitante, olhando pra Lina. – O quê...?


- Eles sabem – Remo murmurou repentinamente, e James se virou para ele.


- Sabem? Sabem do quê? – perguntou, depois voltou a nos olhar. – O quê...?


Remo parecia chocado. Sua expressão ficou levemente cansada agora, sendo completamente substituída pelo terror. Ele deu um passo para trás.


- É, nós sabemos – Dorcas falou com um suspiro, se desencostando do piano para olhar diretamente para Remo. – E fui eu que descobri.


Sirius e James trocaram olhares assustados, depois olharam rapidamente para Remo, que olhava para cada um de nós como se fôssemos algum animal estranho, ou não sei o quê. Parecia que queria correr dali agora mesmo, arfando alto.


- Como você... Por que? – Sirius falou rispidamente para Dorcas.


- Eu sou uma quase-jornalista, meu bem. É claro que eu ia descobrir isso mais cedo ou mais tarde! – ela exclamou para ele.


- Você é uma fofoqueira isso sim! Esse segredo é importante, Meadowes, e não acredito que você foi xeretar nisso! – Sirius gritou, fuzilando Dorcas com o olhar. Ela não recuou.


- Eu sei que é importante! E eu não vou contar para ninguém, Black! – Dorcas rebateu.


- Ah não? – Sirius bufou com histeria. – Não vai contar pra ninguém sendo que todos dessa sala já sabem! Sua...


- É claro que eles sabem! Porque todos são meus amigos, e são amigos de Remo também, por isso tem o direito de saber! – Dorcas falou, o que fez Sirius se calar. Então virou-se para Remo. – Eu não vou contar pra ninguém do castelo, Remo. E estou fazendo isso por você, não por Black.


James bufou.


- Certo, todos somos amigos aqui. Mas o que garante que um de nós não vai soltar para alguém do castelo e espalhar para todos?


- É claro que não faríamos isso! – Lily arregalou os olhos.


- James, querido, se nem Meadowes vai espalhar pra mais alguém, por que nós espalharíamos? – Maria falou com veemência.


- Nunca se sabe – ele deu de ombros.


- Garotos, acho que todos aqui são maduros e tem consciência que isso é sério demais para contar pra qualquer um – Moreau se aproximou, falando calmamente. – E Remo... Espero que fique bem.


Remo não tinha se alterado; ainda nos olhava tão assustado que não conseguia dizer mais nada, nem quando Moreau colocou a mão em seu ombro como apoio.


- Sentimos muito pelo que aconteceu com você, Remo. Seja quando isso aconteceu – Alice falou fraquinho, seguido por comentários dos outros.


- Deve ter sido horrível – Beth falou com a boca cheia. Francamente, como ela consegue comer tanto assim?


- Esperem – Remo finalmente falou, seguido pelo silêncio. – Vocês não... Vocês não estão com medo de mim?


- Por que estaríamos? – John falou. – Um cachorrinho não faz mal a ninguém, faz?


Remo não riu.


- Vocês deveriam sim, ter medo. Eu sou um lobisomem afinal – Remo tinha os olhos lacrimejantes, enquanto dizia aquelas palavras meio engasgado. Merlim, eu tinha tanta compaixão por ele... Parecia perdido.


- Contanto que você não se transforme com a gente por perto, não vamos ter medo de você – Dorcas comentou.


- Vocês não entendem? – Remo andou até o centro da sala, descontrolado. – Se seus pais souberem que tem um lobisomem estudando aqui... Se souberem... Se os outros pais souberem... Vocês terão que sair daqui.


- Acorda Remo, por que contaríamos a nossos pais? – Jason exclamou.


- Você é suspeito pra falar – falei pra ele, que franziu a testa.


- Eu sou um monstro! Um monstro, é o que eu sou! – Remo berrou em conflito, como se quisesse que nós nos convencêssemos disso e saíssemos correndo dali com medo. Mas ninguém se moveu. – Sou um monstro todos os meses, eu me transformo em uma aberração! Eu posso matar vocês!


Foi um momento realmente desconfortável, mas ninguém se moveu, nem houve resposta. Os marotos atrás dele não sabiam o que dizer.


- Ninguém liga – uma voz fraquinha disse, e me virei a tempo de ver Emelina se erguer e caminhar até Remo, que ainda arfava, misturando suas lágrimas com o suor que descia por seu rosto. Lina pôs-se de frente a ele, olhando-o profundamente. – Ninguém liga, Remo, se você é um lobisomem ou não. Estamos nem aí pra isso.


Remo deixou os ombros caírem, olhando para Lina desconsolado.


- Por que não? – perguntou, rouco.


- Porque estamos a seu lado. Assim que entramos nesse coral, mesmo contra nossa vontade – Emelina olhou de soslaio para Lily, sorrindo -, foi como tivéssemos assinado um contrato que diz que deveríamos nos unir sempre. A cada momento... Os bons e ruins.


- Eu não me lembro de nenhum contrato – John falou, mas Beth lhe deu uma cotovelada que o derrubou da cadeira.


- Não ligamos pra isso, Remo – Lily completou com a voz suave.


- Afinal, todo mundo tem seu segredo, certo? – Emelina virou-se para nós com um sorriso repentino. – E se Remo tem o dele, nós também temos os nossos. Eu, por exemplo... – ela franziu a testa e olhou de mim para Dorcas. – Eu sou... Chocólatra. Chocólatra pura! Ninguém me vê me esbaldando por aí, mas eu sempre corro para o banheiro e me esbaldo em sapos de chocolate!


Alguns riram baixo, inclusive eu, enquanto Dorcas exclamava.


- Ahá! Sempre desconfiei quando via aquele tanto de caixas vazias de caldeirões de chocolate no lixo! Não sei quem ganha, você ou Sophie!


Revirei os olhos, enquanto os outros voltavam a rir.


- Adorei essa ideia Emelina. – Moreau sorriu, satisfeito, indo ao centro da sala. – E já que é pra falar de segredos, vou contar o meu a vocês também. – ele nos olhou hesitante. – Bom, na minha juventude, há muito tempo atrás, devo dizer, mais ou menos na idade de vocês, eu era completamente viciado em álcool. Eu não conseguia ver um litro de uísque de fogo na minha frente e eu simplesmente necessitava daquilo. Era muito sério, e no final eu não sei como parei. É claro... Já tem gente que sabe disso, como Stanley, que até tentou usar isso contra mim. E depois do que houve no mês passado com vocês, acho que tem o direito de saber.


- Moreau era um dos nossos então! – Black exclamou, e os risos voltaram. - Acho que vou contar meu maior segredo agora. – ele olhou para James, que fez um sinal negativo de alerta, mas visivelmente Black ignorou. Que novidade. – Eu sou um animago. Clandestino.


Silêncio total. Até Moreau ficou chocado com aquilo.


- Mas vocês não vão contar pra ninguém... vão? – Black falou hesitante.


- Babado! – Dorcas exclamou.


- No que você se transforma? – Beth perguntou curiosa, como se estivesse ofendida por seu Sirius Black ter escondido isso dela.


- Cachorro. É por isso que sumimos nas noites de Lua Cheia também, porque ajudamos Aluado quando ele se transforma. Assim ele não fica sozinho, e como estamos em forma de animal, ele não pode nos machucar.


Foi um murmúrio de choque enquanto algumas garotas comentavam sobre o ato "belo". James parecia querer matar Black.


- Esperem meninos... Dumbledore sabe disso? – Moreau olhou para James e Black, sério.


- Er... Não – Black hesitou. – Mas estamos entre amigos... Ninguém vai contar, não é?


- Isso é um ato completamente irresponsável, é inegável – Moreau ralhou, mas depois suspirou. – Mas até que é...


- Fofo – Lily completou. – Mas pra onde vocês vão? Como não são vistos?


E depois disso seguiu milhares de perguntas que eu nem prestei atenção direito. Minha cabeça doía muito. Só lembrava de que eles sempre ficavam na Casa dos Gritos, que saíam a noite sem ninguém perceber e assim ajudava os outros. Moreau deu mais um bronca, Lily também, as garotas acharam o ato legal de novo, e os garotos começaram a fazer perguntas sobre a animagia. Demorou anos para eles explicarem tudo, e pelo visto eles começaram no quinto ano a treinar, e com muito esforço conseguiram se transformar.


- Uau! – John exclamou.


- Incrível – Jason completou.


- Mas então, voltando ao assunto principal – James falou, apontando para Remo que havia se encostado no piano ao lado de Emelina, que sorria constantemente para ele. Durante o questionário dos outros, James era o que parecia mais incomodado, e olhava minuto em minuto para Lily para ver sua reação. – Meu segredo é... Que eu também. Eu também sou um animago, e me transformo em um cervo.


Mais alguns comentários chocados e surpresos, e James recuou para se sentar numa cadeira, lançando um sorriso para Lily sem receber outro em troca.


- Aprovo essa ideia de revelações! – Alice disse alegre, indo ao centro da sala. – Tenho uma que espero que não vá parar no MMM. – ela mordeu o lábio, olhando desconfiada para Dorcas, que nem piscava. Estava quase tendo um ataque ao ouvir a história dos marotos. – Meu primeiro beijo, na verdade, foi com Franco.


- Com Franco? Então foi... – Maria franziu a testa.


- Nesse ano, sim. – Alice ficou da cor de um pimentão. – Eu sempre esperei que fosse ele, queria que fosse com ele por isso não saía com nenhum outro garoto.


- Primeiro beijo aos dezessete anos? Digna da fofoca do MMM! – Dorcas falou animada, e Alice a fuzilou com o olhar antes de se sentar.


Franco parecia culpado.


- Sinto muito, meu amor – ele falou, dando um beijo na testa de Alice quando ela se sentou em seu lugar, seguida pelas palmas (coisas de John). Ele se levantou e foi ao centro da sala. – Vou contar um segredo, não tão secreto, já que os marotos descobriram. Bom... Eu tenho uma cueca de ursinhos. – soltou, seguido por gargalhadas. – Presente da minha mãe, eu não podia recusar!


- Fato verídico – James assentiu, rindo assim como os outros.


- Então vou contar meu segredo! – John deu um pulo, depois das palmas a Franco. – Eu... odeio ser de descendência asiática! As pessoas me zoam, dizendo que é pequeno o tamanho do meu...


- Oh meu Deus, já entendemos! – Emelina falou rapidamente, fazendo uma cara assustada. Risadas e palmas a seguir.


- Meu segredo então – foi a vez de Beth, ainda comendo. – Eu tenho medo de palhaços – contou, causando mais risadas e mais aplausos. – É sério, eu sempre me mostro tão forte e madura, mas não posso ver um daqueles! Francamente, pra que eles servem? São arrepiantes, e estão longe de fazer alguém rir!


- Minha vez de contar meu segredo! – Dorcas foi para o centro rapidamente, nem um pouco hesitante. – Espero que vocês não deem tantas gargalhadas, mas... Quando eu estava no segundo ano, eu tinha uma paixão secreta por...


- Por? – todos perguntam, totalmente curiosos.


Dorcas olhou para todos antes de soltar.


- Severo Snape! – falou, fazendo todos se engasgar. Até Remo riu. – É sério gente, parem! Eu era uma criança bobinha! E achava aqueles cabelos cumpridos um arraso!


- Sempre tive certeza que você não bate bem, Meadowes – Maria se levanta, empurrando Dorcas pro lado enquanto as palmas cessavam. – Meu segredo. Eu odeio meu nome. "Maria", um nome tão zoado! Todo mundo sempre usa Maria pra tudo, Maria Gasolina, Maria Sapatão, Maria João, Maria tudo! É um saco!


Mais gargalhadas e mais aplausos. Estava ficando cada vez mais confortável, e Remo parecia instantaneamente melhor.


- Minha vez, minha vez! - Jason disse. – Vou confessar pra vocês, uma coisa que somente minha querida irmã sabe... – ele piscou pra mim, e eu ergui as sobrancelhas. – Eu sou loiro. Mas bem loiro mesmo – ele explica, passando a mão pelo cabelo. – Mas eu pintei ele pra deixar um loiro mais escuro.


- Prefiro você assim – Dorcas cantarolou enquanto aplaudia.


- Sophie, Lily? Faltam vocês – Moreau sorriu, aprovando mais que nunca a ideia de Emelina. Devo dizer que eu não aprovei?


Todos olharam para nós, e eu e Lily trocamos olhares desconfortáveis. Decidi me pôr de pé, então, pensando num bom segredo que eu poderia contar... Não há segredo algum que eles precisam saber, nenhum... Por isso escolhi o mais bobo de todos.


- Um segredo, não é? Ok – falei, com a voz falha, além de sem graça e meio gaguejante. – Eu... Era gorda. Muito muito gorda, antes de ingressar pra Hogwarts. As pessoas adoravam tirar uma com a minha cara, por isso sou complexada com isso... – expliquei torcendo as mãos, envergonhada. Ninguém fez nenhum comentário, então apenas aplaudiram.


- Comparando com agora querida, há uma grande diferença não é? – Beth falou, desafiadora, depois de um tempo. Decidi fingir não ouvir.


- Esqueceram de mim! – Sean exclamou. Estava há um bom tempo quieto também, como se decidisse se contaria ou não. – Bom, meu segredo é que na verdade eu sou...


- Gay – todos completaram.


- Caramba, quando você vai aprender que isso não é um segredo? – Dorcas suspirou impaciente, enquanto aplaudiam e Sean corria a se sentar, perdido.


- Lily? – Moreau olhou para ela, que suspirou e se pôs de pé.


- Não sei que segredo contar... – falou.


- Que tal contar que você está apaixonada por alguém que nunca imaginaria que ia se apaixonar? – Alice desafiou.


- BABADO! – Dorcas exclamou.


- Isso não é segredo. É uma mentira – Lily falou, olhando para Alice com veemência. – Mas enfim, vou contar... – murmurou, olhando para James. – Sinto muito, mas vou contar, se é pra não guardar segredos, não é? Dorcas já espalhou tudo o que podia no MMM... – suspirou. – Meu primeiro beijo com o... Potter, não foi na festa. Foi em Hogsmeade, naquele encontro.


- HÁ, EU SABIA! Bem que você andava estranha por aqueles dias! – Maria gritou entre exclamações, enquanto Lily corria pra se sentar, totalmente corada. Black, Franco e os outros davam tapinhas nas costas de James.


- Então é isso! – Moreau falou sorridente, e então se virou para Remo. – Espero que aprenda que não vamos nos afastar de você, por qualquer que seja seu segredo. Ou se você for um lobisomem.


- Ou qualquer outra aberração. Você não é, é? – Dorcas perguntou desconfiada, mas Remo riu, balançando a cabeça.


- Não, não sou – Remo saiu de perto do piano e foi ao centro da sala, onde Moreau estava. – Obrigado gente. Significa muito pra mim tudo isso que vocês fizeram.


Então, em um piscar de olhos, Emelina simplesmente correu e abraçou Remo, o que quase o derrubou no chão. A seguir Lily também se levantou e abraçou os dois, depois Alice, Beth, eu, Maria, e momentos depois até Moreau se perdeu na muvuca de abraços. Foi um momento bem... Especial, devo dizer. Me senti muito bem ali, com Dorcas xingando alguém que tinha pisado em seu pé – Maria sendo a suspeita número um – e de John fazendo mais alguma graça.


- Eu sugiro... – Moreau começou, sua voz abafada pelos abraços.


- Um brinde! – Black interrompeu, e houve risos.


- Não Sirius, não – Moreau também ria. – Eu ia dizer... Um número.


Respostas de concordância depois, ainda estávamos abraçando Remo. Apesar de tudo o que acontecia naquela sala de desagradável, ali eu tinha certeza que podia me sentir realmente especial no meio de todos eles.




Lily POV:


- Lily, Lily, espera aí um pouco! – ouvi me chamarem, e nem precisei me virar para saber quem era.


- Ai Potter, o que foi dessa vez? – falei impaciente. Precisava dormir! Eu tinha ido dormir lá pelas quatro da madrugada e acordei as sete, apenas três horas de sono. Estava acabada.


- É sobre o que você disse no coral. Hoje – ele disse, hesitante. Não conseguia parar de sorrir, e tinha um ar maroto que não estava me agradando.


- Era o único segredo que eu tinha, ok? Sinto muito ter contado aos outros – bocejei.


- Não, não foi problema nenhum – ele falou depressa, e eu o olhei desconfiada.


- O que você quer, então?


- Faz tempo que não conversávamos – ele deu de ombros.


- Com bons motivos – o lembrei, e ele levou as mãos aos cabelos. – Quer que eu enumere, ou coloque em ordem alfabética? Quem sabe os dois?


- Chega de sarcasmo, Lily – ele revirou os olhos. Ainda bem que ele sabe. – Só que depois de tudo hoje, com Aluado...


- Ele está bem? Já está escurecendo, não devia estar com ele? – perguntei.


- Estou indo pra lá. E sim, ele está bem – ele respondeu incomodado. – Mas como eu ia dizendo... Depois do que aconteceu no coral hoje, eu vi que há coisas mais importantes que nossas brigas.


- Claro, concordo totalmente com você – respondi. – Por isso vamos parar de brigar.


- Isso é sério? – ele parecia descrente.


- Claro. É só você não falar mais comigo, e pronto – sorri, e então voltei a andar.


- Lily, espera. Por favor – ele pediu, segurando meu braço. Eu já disse que odeio quando fazem isso? – Dá pra gente conversar normalmente?


- O que estamos fazendo então?


- Você sempre se esquiva!


- Porque tudo o que você diz não tem sentido para mim! – retruquei. – Não quero ser sua amiga novamente! Já percebeu que só acaba em coisas ruins quando estamos juntos?


- Não importa tudo o que aconteça! Eu não sei você, mas gosto de manter pessoas que eu amo perto de mim! – ele falou, os olhos tão penetrantes que mal consegui desviar o olhar.


E até demorei pra responder. Será que estava clara minha expressão de choque?


- Acontece que complica tudo – falei baixinho.


- Não custa tentar? Dar uma chance pra nossa... amizade? – ele pigarreou.


- Não. Porque... Você é um idiota – respondi, e então corri.


Quero dizer, não correr literalmente, e sim andar rápido. Assim ele não me impedia de sair de novo! Era o jeito... E pelo menos resolveu. Nada de ver ele atrás de mim novamente.


E só quando eu estava no banho, tirando todo o peso do dia do meu corpo, caiu aquela ficha enorme na minha cabeça que quase rachou meu crânio. "Gosto de manter pessoas que eu amo perto de mim!"


Oh.


O que ele quis dizer com isso? Que... Me ama?


Ele disse que me ama? Foi isso mesmo? É, Merlim? É isso?


Não pode ser. Eu devo ter ouvido errado.


Ou não. Ele disse. Disse isso mesmo!


Foi verdade? Ou eu estava com sono demais?


Ai, vou enlouquecer.


Não, haha, não é verdade!


Ou é?


Merlim, será possível isso? Eu estou maluca ou James Potter tinha acabado de me falar que me amava?


Ah sim, eu estou maluca.




Sophie POV:


Eu não estava muito bem. Nada bem mesmo, por isso passei o fim de semana inteiro deitada, mal conseguindo andar. Era muito estranho, pois parecia que estava acontecendo uma guerra dentro do meu estômago. Era a seguinte: parte do meu estômago queria comer, desesperadamente, mas a outra parte queria tirar tudo de dentro de mim. Acontece que não tinha nada pra sair! Por isso que eu estava indo a loucura. E pior... Eu tinha engordado! Isso não podia ser possível, podia?


E depois de ouvir milhares de discursos de Emelina para eu ir para enfermaria, apenas a ignorei e me preparei pro nosso número no domingo. Fui a última a sair do dormitório, porque menti para Emelina dizendo que ia à enfermaria... Me senti culpada por isso.


Mas depois me arrependi completamente de ter ficado sozinha. Acabei por encontrar com Sirius Black em um dos corredores das masmorras, a caminho para o auditório.


- Ah, não – murmurei quando o vi, então passei reto, mas ele entrou na minha frente.


- Olá, McKinnon. Faz tanto tempo que não conversávamos – ele sorriu arrogantemente.


- Por favor, Black, fique longe de mim – pedi, dando um passo pra trás. – Já não basta tudo o que aconteceu, você continua a me atormentar desse jeito?


- Somos amigos, não somos? – ele perguntou, rindo do meu desconforto. – Todos do coral são...


- Deixe de ser estúpido, e me deixe em paz – voltei a andar, e ele me seguiu.


- Afinal, o que aconteceu com você? Emagreceu tanto...


- Deixe de suas piadas idiotas! – gritei, e ele se assustou. – Acha engraçado isso, não é? Estranho pra você falar, se esgueirando por aí com Cox?


Ele demorou para me responder, me olhando surpreso.


- Você está pensando que eu fui irônico? – ele perguntou.


- Idiota! – exclamei, e ele bufou.


- Garota, você é mais louca do que eu pensei!


- Me. Deixe. Em. PAZ! – berrei, apertando o passo. Ele, então, segurou meus braços, fazendo com que ficássemos próximos suficiente para sentir a respiração um do outro.


- Eu não fui irônico. Entenda isso, McKinnon.


- Me solta, senão eu grito – ameacei.


- Pode gritar. Eu não vou te soltar até você acreditar em mim.


- Como vou acreditar em você? Sendo você o maior mentiroso de Hogwarts, não é mesmo? – me debati, mas ele era mais forte que eu. Sem falar que eu estava sem forças.


- Amei sua conclusão. Mas dessa vez acredite, não fui irônico. Garota, você está magra como uma vareta!


- CALE A BOCA! – gritei, enfezada.


Meu grito foi interrompido por seu beijo esmagador, que quase quebrou meu pescoço. Me neguei a abrir a boca, e enquanto eu tentava virar a cabeça a fim de esquivar, ele segurava meu rosto com uma mão, e com a outra minha cintura, tudo para eu não fugir...


Mas não demorou muito, eu finalmente consegui me livrar depois de muita batalha. Nesse ponto, as lágrimas já desciam dos meus olhos...


- SEU DESGRAÇADO! – berrei, deixando-o atônito novamente.


Assim saí correndo desembestada, deixando tudo pra trás, inclusive o número... Eu não estava nem aí.


Eu me odiava por ser idiota demais de cair novamente nas mãos de Black, odiava-o por fazer isso comigo e jogar na minha cara o quão gorda eu estava... Odiava tudo...


Eu queria me matar, naquele momento. Era um impulso mais forte que eu, e se eu estivesse com uma faca nas mãos... Eu não sei o que faria.


Mas eu corri, sem me importar se eu não tinha mais forças. Quando cheguei ao dormitório, simplesmente me arrastei pelo chão até o banheiro, colocando pra fora tudo o que aquela vida me fazia engolir.




David POV:


You're not alone


Together we stand


I'll be by your side


You know I'll take your hand


O centro da dança era Remo; todos decidiram se vestir de branco e preto para o número, que era completamente centrado nele. Remo estava completamente cansado, mas exibia um sorriso fraco.


A seguir, James cantou.


When it gets cold


And it feels like the end


There's no place to go


You know I won't give in


No, I won't give in


Estava sendo um número bem emocionante, tenho que confessar. A dança sempre virava para Remo uma hora ou outra, e enquanto isso os olhos de Emelina já começavam a lacrimejar.


Keep holding on


Cause you know we'll make it through,


We'll make it through


Just stay strong


Cause you know I'm here for you,


I'm here for you


Agora que eu percebi, Sophie não estava ali. Por isso que a dança tinha sempre um espaço. Sirius tinha sido o último a chegar, portanto perguntaria a ele se não tinha a visto por aí.


There's nothing you can say


Nothing you can do


There's no other way when it comes to the true


So keep holding on


Cause you know we'll make it through,


We'll make it through


A música continuava com o destaque na voz de Lily, e a dança bem formulada por Emelina – ela fez questão de ser a coreógrafa. As vozes no fundo chegava a dar um som tão profundo, que era impossível não se tocar com aquilo.


Hear me when I say,


When I say I believe


Nothing's gonna change


Nothing's gonna change,


Destiny


Whatever is meant to be


We'll work out perfectly


(Yeah, yeah, yeah, yeh-ah)


Como planejado, todos fizeram uma roda no palco, deixando apenas Remo no centro. Ele parecia tocado com aquilo, assim como os outros. Os olhos de Lily se encheram de lágrimas também.


Keep holding on


Cause you know we'll make it through,


We'll make it through


Just stay strong


Cause you know I'm here for you,


I'm here for you


There's nothing you can say (nothing you can say)


Nothing you can do (nothing you can do)


There's no other way when it comes to the true


So keep holding on


Cause you know we'll make it through,


We'll make it through


Foi um dos momentos mais bonitos que já presenciei no grupo. Como um perfeito coral, eles começaram a cantar sincronizados, e da onde eu estava sentado dava para ver uma mão da Lily se entrelaçar com a de Remo, e a outra com a de James...


(Aah ah ah)


Keep holding on!


(Ah ah ah)


Keep holding on!


Fiz uma tremenda força pra não chorar, admito. Eu tinha tanto orgulho deles... Mesmo com o incidente da última competição. Dava para ver que eles pareciam mais unidos que nunca, e era ótimo para Remo se sentir mais a vontade. Bom, ele merece, depois de tudo pelo que ele passa nas noites de lua cheia.


There's nothing you can say (nothing you can say)


Nothing you can do (nothing you can do)


There's no other way when it comes to the true


So keep holding on (keep holding on)


Cause you know we'll make it through,


We'll make it through


Quando a música terminou, logo me coloquei de pé para aplaudir, enquanto assistia, novamente, todos envolverem Remo num abraço mútuo.


O mutualismo de um verdadeiro grupo.




Emelina POV:


Droga, Sophie! Aonde é que aquela garota havia se metido? Disse que ia à enfermaria e depois iria para o auditório, mas não apareceu. Por isso passei por lá, talvez ela estivesse tão mal que teve que ficar ali mesmo... Eu bem que a alertei.


Mas acontece que quando cheguei lá e perguntei dela para Madame Pomfrey, ela simplesmente disse que ela não esteve lá. Traduzindo: Sophie mentiu para mim, e foi para enfermaria coisíssima nenhuma. Argh.


Então provavelmente ela estaria no dormitório atirada na cama e dizendo que não estava bem. Eu juro que dessa vez eu vou arrastá-la para a ala hospitalar nem que seja a força!


Cheguei à sala comunal e avistei todo o pessoal reunido perto da lareira. A sala estava vazia exceto por eles, pois já estava tarde. Eles comentavam alguma coisa do número e conversavam animadamente com os marotos, fazendo mais e mais perguntas sobre a animagia, enquanto eles contavam suas aventuras. Lily parecia relutante em ouvir, por isso a vi subir para o dormitório e arrastar Maria com ela.


Perguntei a Dorcas se ela tinha subido ao dormitório e se tinha visto Sophie por aí, mas ela respondeu que apenas viu Geovana e Audrey ir para o dormitório de Beth e Louise pra fofocar alguma coisa. Ou seja: provavelmente Sophie estava no quarto, sozinha, reclamando da vida. Era incrível como era eu que tinha que resolver tudo!


Subi para o dormitório, e ao chegar no quarto não avistei ninguém. Nenhuma fumacinha sequer de Sophie, nenhum indício que ela estava lá. Sua cama estava toda desarrumada, sinal que ela esteve por lá. Eu já ia me virar para sair, supondo que ela talvez estaria com Audrey e as outras (coisa improvável), quando escutei um barulho, vindo do banheiro.


Parecia uma tossida, mas era uma tossida bem feia, que até deu medo. De passo em passo fui caminhando calmamente, tomando o cuidado de não fazer barulho e não assustar a origem daquela tossida demoníaca, qualquer que fosse.


Quando, enfim, coloquei apenas minha cabeça pra dentro do banheiro, avistei Sophie. Ela estava agachada em frente da privada e... Vomitava.


Muito.


E era terrivelmente assustador.


E definitivamente foi a pior coisa que já presenciei na minha vida.


Ela parecia lutar, freneticamente, para vomitar. Eu a via pegar sua escova de dentes e enfiar na garganta, fazendo a vomitar... Ela se engasgava, soluçava, esperneava, como se sua vida dependesse daquilo. Não satisfeita, usava o indicador, e chorava mais e mais. Soluçava, arfava, queria de todo jeito vomitar... E chorava mais ainda, e enfiava novamente o indicador na garganta, enquanto eu a acompanhava nas lágrimas...


Era minha amiga ali... E era... Indescritível. Indescritível o que ela estava fazendo. Ela gemia e tremia. Chorava, vomitava, forçava tudo o que podia...


Acabei, então, percebendo que eu começava a chorar mais e mais, até eu soluçar. Aquilo chamou sua atenção pra mim, e seus olhos vesgos, inchados e completamente vermelhos, me localizaram ali no portal.


Ficou um longo silêncio, ao qual ela deixava o dedo ensanguentado de lado, e a escova caía de suas mãos fracas. Seu corpo desmoronou.


- Me desculpe, Emelina... – ela soluçou, lágrimas grossas descendo sem parar, enquanto sua voz estava rouca, fraca ao ponto de ser quase inaudível. – Me desculpe.




Músicas:


1- One Love (People Get Ready)


2- Keep Holding On


Segredos


Lily POV:


Estava um frio de lascar. Ainda mais em Hogwarts, com aquelas paredes de pedras frias; bem que eles podiam, sei lá, cobrir tudo com algumas cortinas pra ver se aquece um pouco. Porque sinceramente, eu estava vestindo seis casacos, três calças e mais outras porções de meias. É claro que com isso eu não pude voltar à "Lily vagaba"; nem morta eu viveria com aquela saia com um frio daqueles. Não mesmo. E com aquele tanto de roupa eu quase saía rolando por aí de tanto agasalho. Com a chegada de dezembro tudo muda de figura, e começa a chover, e depois a gear, e por fim neve. Muita neve. Mas por enquanto o clima estava bem gelado, a ponto de eu ficar apenas em frente à lareira nas minhas horas vagas.


É nessas horas que eu precisava de um namorado pra me esquentar... (Não pensa em James, não pensa em James, não pensa em James, não pensa em James!) Isso me lembrava que eu não tinha devolvido seu casaco ainda. Mas é claro que eu não devolveria! Ele é quente, fofo, confortável e cheiroso. Cheiroso? Pffff. Só sei que se James sentiu falta dele, vai sentir falta pro resto da vida, pois ninguém sabe, mas eu durmo com ele. Droga, ele é quente e a cor combina com meu pijama!


E tinha Jessie também. Depois daquela festa horrível dos marotos eu voltei a biblioteca e contei a ele que eu lembrava da sua situação. Ele, também, aparentava completamente arrependido por ter bebido, e no fim mudamos de assunto e voltamos a nossa sessão de exploração da biblioteca. Jessie até chegou a achar um livro com feitiços de aquecimento para o corpo, mas quando eu tentei fazer nele um bigode roxo apareceu acidentalmente em seu rosto. Eu fiquei realmente vermelha com isso, mas depois rimos tanto que novamente fomos expulsos por Madame Pince. É... Coisas da vida.


Fora isso, nada mudou muito com o começo do mês. Maria e Dorcas pararam só um pouco com as brigas – elas pararam, pelo menos, de puxar o cabelo da outra -, e por isso agora só discutiam durante alguma aula, dando patadas na outra, discordando da outra quando o professor perguntava alguma coisa e essas coisas. Maria agora evitava cruzar com ela, uma atitude que agradeci a Merlim. Ela parecia dizer que o motivo que a briga começou foi Jason, e que agora sabe que não gosta dele. Não sei não... Mas pelo menos isso fez com que ela parecesse mais tranquila. O MacMcMea continuava com suas fofocas diárias e sem sentido, Merlim também abençoando para que Maria e Dorcas não trocassem ofensas nele. Mas mesmo assim, eu amaldiçoo esse jornal com todas minhas forças. O tanto que pescoços viraram para mim quando saiu que eu fui vista beijando James... Passei um dia trancada no banheiro da Murta Que Geme chorando, enquanto Maria e Alice apareciam pra me tirar dali a força. E, é claro, eu continuava a evitar James. Depois daquele episódio eu nunca mais olharia na cara dele, nem no coral, nem na sala comunal, em lugar nenhum.


E por falar em coral, Moreau parecia mais exigente do que nunca. Agora além de treinarmos as cordas vocais temos que treinar dança! Lina e John, os melhores dançarinos, ajudavam a gente, mas como eles esperam que aprendemos a dar um mortal? Acho que eles se esqueceram que estão falando com Lily Evans... Enfim, Moreau já apresentou algumas músicas, mas até agora não saiu nada legal. A única coisa que eu sei é que Dorcas e Maria estão brigando pelo solo.


Alice e Franco continuam fofos, Emelina e Benn também parecem ter se acertado; pelo visto Benn confirmou com a tal garota da Lufa-Lufa que estava cantando com Lina na festa. O estranho, porém, é que Lina nunca mais conversou com Remo, coisas que faziam pra caramba antes. Ele agora só anda com os marotos mesmo. Estava voltando tudo ao normal, enfim. Eu junto com Alice, Maria e Sean, a volta dos marotos, Dorcas Sophie e Emelina juntas também... Tudo como antes. Até Beth parou de correr com Sirius por aí, agora só anda com Louise e Audrey. Bom, eu não sei se alguma coisa aconteceu, mas ultimamente – e de novo – os marotos começaram a andar sonolentos, e Remo sumiu. Simplesmente desapareceu; pelo visto tinha adoecido novamente, ou sua mãe, não sei. Deve ser uma doença de família... Se bem que no meu quinto ano... Snape...


Impossível. Vou tirar essa coisa da cabeça. Remo era completamente normal! Se ele fosse um lobisomem porque a mãe dele adoeceria tanto? E como ele se transformaria aqui em Hogwarts? Pffff. Nada disso faz sentido.


Afinal, Remo é meu amigo. Se isso fosse verdade, porque ele guardaria esse segredo de mim?




Emelina POV:


Café da manhã de quinta.


- Soo, come algum coisa. Você está realmente pálida – insisti novamente, mas ela apenas fez um sinal rápido com a cabeça, passando a mão na testa.


- Não estou com fome – disse, olhando para comida com um imenso nojo, e ao mesmo tempo certa vontade.


- Aconselho você a ir à Madame Pomfrey, então. Sabe, há dias que você está assim – falei.


- Estou bem. Não tenho culpa se meu estômago é um louco – ela murmurou.


- Queria ter um estômago louco se for pra ficar com esse corpinho que você tem – Dorcas comentou se empanturrando de torta de abóbora.


- Não diga isso – Sophie falou com certo tremor. Eu a observei.


- É sério. Você está mal, Sophie! Precisa se cuidar! – insisti. – Entende que a situação está tão séria que vou acabar contando pra Jason que você não quer ir à Madame Pomfrey por estar se alimentando mal.


- Eu não vou lá porque odeio hospitais! – Sophie falou, abafando a voz. – Odeio todo aquele cheiro de poção, aquele cheiro de produto de limpeza, aquelas camas... – ela tremeu.


- Mas você tem que encontrar um jeito de melhorar esse estômago!


- Não quero comer, Emelina! – Sophie cortou. – Vou engordar se ficar comendo desse jeito...


Dorcas bufou, enquanto eu a olhava incrédula.


- Engordar? Bom, julgando você agora é a melhor coisa que deve fazer! – retruquei. – Engordar... Você deve estar cega.


Sophie não respondeu, nem relou na comida. Aquilo chegava a ser preocupante... Fazia dias que ela não comia, e quando comia era uma e no máximo três colheradas. Dorcas parecia não entender a situação, apenas falava da sua inveja de seu corpo magro. Bah.


- Ignore Emelina, Sophie – Dorcas disse com a boca cheia. – Não vê que agora que está namorando ela ficou meio maternal? Acho que já está pensando em se casar!


- Tão engraçado, Dorcas – falei irônica, suspirando e deixando de fitar Sophie para olhar pro meu prato.


- É sério! – Dorcas exclamou. – Vocês vivem grudados, fazendo carícias no outro, rindo feito duas hienas... Não se desgrudam mais, parecem aquele Chicle-Cola da Zonko's que cola o maxilar de quem come.


- E você tá ciumenta demais ultimamente. Tanto comigo quanto com Jason – falei com veemência.


- Não estou com ciúmes de você – Dorcas deu de ombros. – E eu só puxei o cabelo daquela menina outro dia porque ela ficava empinando a bunda quando Jason passava perto dela, e sabe... Não suporto piriguete.


- Aham. Como se você não se amasse agora – brinquei, e Dorcas olhou pro teto.


- Enfim, não mude de assunto. Você e Chapman vão se casar ou não? Aliás, vocês e Franlice. Aqueles lá acho que vai acabar em matrimônio também.


- Prefiro me concentrar nos meus estudos por enquanto – sorri.


- É isso que MacDonald anda espalhando pra não voltar a admitir que gosta de Jason também – Dorcas apertou o garfo com força. – Qual é a daquela garota? Ou ela gosta de Jason ou não!


- Não se sabe, mas pelo menos ela nem conversou com ele mais, e nem arranjou briga com você. O que você deveria tomar como exemplo – apontei o garfo em sua direção, e ela mostrou a língua, infantilmente.


- Eu odeio MacDonald – ela falou, tomando um gole de seu suco. – Falsa, medíocre, cretina, parva... Eu ainda vou dar um jeito de por ela de lado.


- Dorcas, acorda! Ela não quer mais brigas, o que leva a gente realmente acreditar que não está mais interessada em Jason! Por que você não para de arranjar brigas e toma alguma atitude madura e sensata para se aproximar de Jason de uma vez?


- Tenho que tirar as garotas-obstáculos do meu caminho – ela estreitou os olhos.


- Boa sorte com isso – Sophie comentou com a voz fraca. – Quando terminar com a escola inteira eu vou te dar um prêmio pela sua disposição.


- Vamos mudar de assunto – Dorcas olhou com descaso para Sophie. – Um assunto que estou trabalhando fortemente na matéria do MMM para essa semana! Os marotos!


- Você fala deles todas as edições – suspirei.


- Mas dessa vez será bombástica! – Dorcas exclamou, animada. – Ouça, você não acha que a escola inteira merece saber o motivo pelo qual todos eles somem um vez por mês à noite? Ou então, o principal deles e seu ex-amigo, Remo Lupin?


- O que tem a ver isso? – perguntei, desmontando ao pensar em Remo. Até hoje me sentia culpada pelo meu afastamento dele... Afinal, graças a ele estou com Benn hoje. – Ele visita a mãe doente, e as vezes ele adoece também. É tipo como uma doença de família.


- Francamente, Emelina! – Dorcas bufou. – Você realmente acredita nessas baboseiras? Achei que fosse inteligente suficiente para perceber que tem alguma coisa estranha...


- Não tem nada estranho, Dorcas – cortei. – Eu já o vi doente, já o ajudei uma vez, e foi assim que... Bom, foi assim que começamos a conversar.


- E quanto aos outros marotos? Tem a doença também? Eles somem todas as noites, os três! Potter, Black e Pettigrew! Claro que tem babado no meio!


- Ah é, e por acaso você tem alguma outra teoria?


- Não, mas tenho quase certeza que Hogsmeade está envolvida nisso. Eles conhecem milhares de passagens secretas nesse castelo, com certeza deve haver alguma pra lá, onde eles saem e fazem sabe-Merlim-o-que enquanto o amigo doente está fora – Dorcas fez um muxoxo. – Que belos amigos eles são, só saem pra se divertir quando o amigo está ausente... Decerto ele é um pouco desagradável com isso. Ou por ser um monitor tenta impedi-los de sair!


- Quanta besteira junta, Dorcas Meadowes. Não é de se surpreender que tudo saiu de você – balancei a cabeça, desolada.


- Acreditem em mim! No dia seguinte eles vivem cansados, sinal que passam a noite inteira... bebendo, quem sabe! Talvez foi assim também que eles descobriram sobre aquela poção milagrosa que sempre roubaram de Slughorn.


- Dorcas, para. Você não está falando coisa com coisa! – pedi.


- E está piorando minha dor de cabeça – Sophie acrescentou.


- Ok, senhoritas – Dorcas falou aborrecida. – Então o que vocês acham que os outros marotos fazem nos dias que Lupin está adoentado?


- Isso nem é da nossa conta, Dorcas – revirei os olhos. – Mas seja o que for, eles são os marotos! Devem ficar perambulando pelo castelo, roubando comida da cozinha, invadindo a Seção Reservada, eu não sei! Qualquer coisa que for, é melhor não nos metermos.


Achei que enfim a tinha vencido, mas depois de muito Dorcas voltou a falar.


- Mas é claro que temos que nos meter. Bom, pelo menos eu – ela falou com certo brilho nos olhos. – Afinal, eu sou colunista e redatora do MMM, e seja o que for que os quatro marotos aprontam, eu vou descobrir.




Sirius POV:


- Aluado está bem? – Franco perguntou.


Não era de total surpresa que ele soubesse do segredo; afinal, ele dormia ali no mesmo quarto que nós, seria impossível não notar nada de estranho. Ele aceitou numa boa, foi até legal da parte dele. As vezes ele até se enturma e nos chama pelos nossos tão conhecidos apelidos. Franco até nos ajudava as vezes, mentindo pra algumas pessoas na sala comunal que estávamos dormindo no dormitório, quando, na verdade, estávamos nos divertindo na Casa dos Gritos.


- Sim. Ele está se recuperando na ala especial da enfermaria agora... Logo ele vai voltar – James respondeu, deitado em sua cama e olhando para o teto.


- Espero que fique bom – Franco falou, folheando seu livro.


- E como vai seu namoro com nossa querida bonequinha de porcelana Alice, Franco? – perguntei com uma risada. – Já passaram para o segundo estágio?


- Eu sei que quando você quer puxar esse assunto, na verdade não tem outro melhor, Sirius – Franco suspirou.


- Ora, só quero aproveitar que estamos entre amigos para falar sobre garotas!


- Sua especialidade, devemos acrescentar – Rabicho falou.


- Modéstia a parte, sim – dei de ombros.


- Vamos falar de garotas então – Franco colocou o livro de lado. – Você e Beth. Dá pra explicar?


- Bom, não tivemos nada desde aquele longo tempo em que fomos para Hogsmeade. Só estávamos grudados porque ela cuidava de mim, eu realmente me sentia um rei – todos do quarto bufaram ao mesmo tempo, e eu simplesmente ignorei. – Mas as coisas mudam. Ela voltou com suas amigas, e eu com os meus, além de ser difícil agora na Lua Cheia andar sempre com ela. E a maré das garotas enfurecidas já passou, e estou pronto pra pegar uma nova onda.


- Sirius – James começou. – Cale a boca.


- Você está estressadinho porque já levou patada suficiente da nossa monitora ruiva, não é Pontas? – zombei, o que veio um travesseiro na minha cara a seguir. – Não negue! Quem é que fica gemendo "Lily, vem cá meu amor!" todas as noites?


- Você realmente quer disputar qual vence o pior gemido durante a noite? – James sorriu torto, estreitando os olhos. – Quem sabe... "Não toca nesse buraco aí"?


- Sério que eu falo isso? – ergui as sobrancelhas. – Bom, eu deveria estar tendo um bom sonho, sendo assim!


- Cale a boca, Sirius – os três falaram ao mesmo tempo.


- Mas falando sério. Como vai você e querida Lily, Pontas? Eu sei que é pecado olhar na garota que seu melhor amigo está de olho... Mas depois que ela passou a se arrumar...


James suspirou.


- Não voltamos a conversar desde aquela maldita edição do MacMcMea – ele respondeu com irritação. – Ainda vou dar uma chifrada na cabeça de Meadowes...


- Ou naquela misteriosa leitora que mandou a carta – Pedro ponderou. – Aquelas iniciais são muito familiares...


- O estrago já está feito. E novamente consegui afastar a Lily de mim.


- Veja por um lado bom, Pontas – comentei. – Você conseguiu dar uns bons amassos nela na nossa festa! Uma festa dos marotos nunca rendeu tanto assim pra você...


- E pra você, Sirius, rendeu? – Franco perguntou. – Que eu saiba você ainda tem sentimentos pela Sophie...


- Quem, a McKinnon? – perguntei, bufando. – Aquela lá um passado obscuro que prefiro esquecer. Não gosto de meninas com aquele porte. Percebeu no tanto que a criatura emagreceu? – tremi.


- Você chega a ser nojento – James abriu um caldeirão de chocolate.


- É verdade. Daqui a pouco ela some... Tanto que tem que tomar banho de braços abertos para não cair no ralo! – gargalhei, fazendo vários revirarem os olhos. Francamente, que mal humor é esse?


- Prefiro ficar longe dela – finalizei, e nenhum comentário veio depois disso.


Aquela garota... Eu não tinha lembranças nada boas com aquela pessoa, e não era de se surpreender... Pelo que eu ouvia naquela casa dos Black enquanto eu morava lá, Marlene McKinnon não era uma pessoa muito agradável.


Sophie McKinnon... Um enigma. Um enigma que eu não estava nem um pouco interessado em desvendar.




David POV:


- Lá vem você de novo – suspirei cansado, avistando Stanley se sentar ao meu lado no almoço. – Stanley não estou com ânimo pra suas conversas...


- Vai me dizer que andou bebendo também, Moreau? – ela riu, balançando a cabeça. – Lamentável o exemplo que você dá.


- Simplesmente. Evapore – falei pausadamente para que ela entendesse, mas ela apenas começou a se servir.


- Você acha que eu estou brincando? Sabe, eu também investiguei sua vida, e bom... Seu histórico alcoólico não é lá dos bons.


Fiquei a encarando, esperando por mais comentários. Ela simplesmente riu enquanto bebia seu vinho.


- Isso te apetita? – ela estendeu a taça em minha direção, e eu apenas ri para ela. – Nem um pouco, Moreau? Ou devo dizer... Senhor Drunco?


- Como...?


- Eu sei! Eu te disse, tenho minhas fontes tanto quanto você – ela piscou. – Alcoólico desgovernado desde seu último ano em Beauxbatons, saiu para se formar como curandeiro, mas não saiu bem sucedido. Ao invés disso começou a viver da herança dos avós bebendo e se esbaldando pelas ruas de Paris... Seus pais não devem ter ficado muito satisfeitos com isso, não é?


- Isso faz tanto tempo, Stanley – suspirei, virando meu rosto.


- Ah, não se esquive querido Drunco. Era assim que seus amigos te chamavam, certo? Nome bem criativo, devo dizer – ela soltou uma risada de desdém. – Alcoólatra. Quem diria.


- Não bebo mais. Eu cresci. Antes eu era apenas um garoto jovem demais que gostava de experimentar a vida de todas as maneiras, mas eu mudei, e aprendi a controlar esse vício que não existe mais – sorri.


- Só sei que seria horrível se isso acabasse por cair nos ouvidos de Dumbledore... Quem gosta de ter um professor ex-bêbado ensinando seus alunos? Pior, alunos que recentemente foram no mesmo caminho dele?


- Dumbledore sabe disso, assim como o resto dos professores – desafiei. – Passo errado, Stanley.


- Certo, então os professores sabem – ela estreitou os olhos. – E os alunos? Ou então... Os pais dos alunos?


- Todo mundo já passou por alguma coisa que não se orgulha no passado. Eu não sou uma exceção. E nem você – sorri novamente para ela. – Estudou em Durmstrang, certo? Todos dizem que aquela escola não é de lá agradável.


- Não generalize – ela bufou.


- Não posso generalizar considerando que já foi vista com o atual Comensal da Morte, Igor Karkaroff, não é?


Pelo visto ela não esperava por isso. Até demorou para responder, recompondo sua expressão momentaneamente desmoronada.


- Isso faz tempo – disse enfim.


- Tanto tempo como meu passado obscuro – acenei com impaciência. – Estamos quites, pois.


Pelo visto eu havia vencido essa. Moreau 1, Stanley 0.




Dorcas POV:


Só havia um jeito de dar mais algum recheio ao glorioso MacMcMea.


- Olá garotas! – me aproximei delas no começo da aula de Feitiços, enquanto Flitwick não dava as caras.


- Iih, coisa boa não é – MacDonald suspirou, e eu a ignorei.


- Tenho um convite pra vocês! – falei animada, e as três ergueram as sobrancelhas. – Festa do pijama. Hoje a noite. Eu sei que nenhuma de vocês não tem trabalhos importantes para amanhã, nem redações ou tarefas atrasadas. Eu observo, sabem? Ah, e já verifiquei seu horário de monitoria Evans, e o seu não é hoje. Por isso não há desculpas para vocês se ausentarem. Vejo vocês lá!


- Peraí, peraí Dorcas! – Evans exclamou, ainda confusa. – Festa de pijama? É isso mesmo que eu ouvi?


- Você só pode estar louca – Maria comentou, balançando a cabeça. – Maluca.


- Ouça MacDonald, não sou muito a favor da sua ida, mas como sou uma pessoa justa, nada mais certo do que te incluir na lista dos convidados – retruquei. – Eu já chamei Beth e Louise, e elas já confirmaram presença. Vocês precisam ir! Será ótimo trocar algumas fofocas.


- Pra postar em seu jornal? – Alice fez uma careta. – Nem morta.


Suspirei impaciente, vendo Flitwick adentrar a sala.


- Eu espero sinceramente que vocês vão. Somos do coral! Precisamos compartilhar informações! – pisquei.


- Senhorita Meadowes, queira se sentar, por favor – a vozinha fina do professor falou atrás de mim.


- Espero vocês no meu dormitório, às oito – informei, então dei as costas e me aproximei de Flitwick, apertando sua bochecha. – Já estou indo me sentar, fofinho!


Ele fez uma careta, me acompanhando desconfiado quando corri pra me sentar ao lado de Emelina.


- Vou tratar de dormir no dormitório de Lily quando vocês começarem com essas baboseiras – Emelina falou rapidamente. – Tenho certeza que nem ela, Maria e Alice vão participar disso.


- Como pode ter certeza?


- Eu conheço elas – ela falou em tom de obviedade. – Quando Beth e Louise forem para nosso dormitório, eu e Sophie tomamos o lugar delas no outro. Já está decidido.


- Eu não acredito que você vai fazer isso, Emelina! – xinguei baixo, enquanto o professor enchia a lousa. – É importante pra mim, e eu preciso de vocês duas pra trocarem fofocas! Vai ter comida roubada da cozinha especialmente para isso!


- Dorcas, pare de causar discórdia. Desista desse negócio de fofoca de jornal, você sabe que isso não dá futuro – Emelina insistiu enquanto copiava.


- Como não dá? E se eu quiser ser uma jornalista futuramente, hein? Nunca se sabe, querida Emelina, nunca se sabe – continuei. – Eu só quero que você e Sophie participem, como favor pra uma amiga desesperada por uma fofoca!


- O que, aliás, me faz perguntar porque sou sua amiga.


- Por favor! Por favor! Por favor, por favor, por favor! – implorei, balançando seu braço fazendo com que ela não consiga copiar. – Por favor, Lina! Lininha, fofinha, linda! Por favor!


- Argh, tá bom! – ela disse irritada soltando meu aperto, enquanto eu vibrava. – Mas vou dormir cedo.


- Não importa – a abracei e dei-lhe um beijo. – Mas cadê a Sophie?


- Aah, agora que você percebeu a ausência dela, sua amiga-da-onça? – Lina revirou os olhos. – Não está se sentindo bem, ficou deitada no dormitório. Estou pensando seriamente em contar isso a Jason. Desde o começo do ano ela vem emagrecendo e não se alimenta direito, e nem quer ir pra enfermaria!


- Deixe os assuntos familiares pra lá, te aconselho – respondi. – Sophie é inteligente o suficiente pra saber o que está fazendo, logo vai perceber que tem que comer melhor. Não precisa contatar Jason por causa disso... Você sabe que ele além de ser um deus grego é um dedo-duro também, e logo vai contar pra mãe de Sophie...


- Que é chata pra caramba, eu sei – Emelina suspirou. – Mesmo assim, estou preocupada.


- Tudo vai ficar bem – falei animada. – Agora vamos falar da festa do pijama. Estou pensando em convidar Sean.


- Desculpe te desapontar, mas ele é homem, e homens não entram no dormitório feminino – Emelina respondeu.


- A gente dá um jeito, nem se for pra flutuar o garoto – falei, enquanto ouvia o grito de indignação da sala por Flitwick ter apagado o quadro. Nem copiei. – Ele tem fofocas quentíssimas sobre seu namorado e aquela amiga mala dele, a Schain. Você não quer saber mais da vida do seu futuro marido?


- Pela centésima vez. Eu não vou me casar com ele, Dorcas – Emelina revirou os olhos, embora risse. – Talvez seja interessante saber algumas coisinhas sobre Benn sim...


- Viu? Outro motivo para você estar presente. Vai ser ótimo! – bati as palmas contente. – Já vou pensando num jeito de escapar Sean pra dentro, e no final da aula vou correr pra cozinha pra já ir pegando algumas guloseimas. O que você acha que eu devo levar?


Então foi assim que consegui animar Emelina. Pra ver a falsidade da garota... Só se interessou quando eu citei seu namorado, tsc, tsc... Essas garotas andam perdidas.


Mas eu tinha que conseguir milhares de fofocas para o MMM! Mais do que nunca, essa festa do pijama tinha que dar certo.




Maria POV:


- Meadowes é louca – Lily disse à mesa do jantar.


- Demorou pra concluir isso, amiga – falei com uma risada. – Mas e aí, vocês vão nessa festa?


- Fala sério Maria, por acaso você cogitou a possibilidade de ir? – Alice bufou. – Não se deve ouvir o que Dorcas diz, não vale a pena.


- Eu sei que ela é uma insuportável...


- Fofoqueira – Lily completou.


- Briguenta – Alice disse.


- Ciumenta.


- Louca.


- Desvairada.


- Falsa.


- É, tudo isso, eu sei – ri junto delas. – Mas por um lado... Saberemos das fofocas também!


- Você vai ficar igual ela se continuar assim, é sério – Alice falou.


- Bata na boca, nunca! – exclamei. – Toda garota gosta de uma fofoca, inclusive vocês.


- Mas eu me controlo quando se trata de Meadowes – Lily deu de ombros.


- Eu também – Alice concordou.


- Garotas, por favor! – insisti. – Eu quero saber das fofocas, preciso me atualizar! Eu não leio a coluna da Meadowes por pirraça, porque na verdade eu amo fofocas, e esse é o único meio da gente ficar por dentro de tudo.


- Sabe Maria, de todas eu achava que você fosse a última a querer ir nessa festa – Alice comentou.


- Eu sei, eu sei. Eu também não sabia que eu ia querer. Mas, de repente, eu quis saber das novidades – dei de ombros.


Alice e Lily trocaram olhares por longos segundos, até darem de ombros também.


- Tudo bem, nós vamos – falaram.


- Yes! – comemorei.


- À festa de pijama da Dorcas? – Sean chegou bem na hora, sorrindo. – Também fui convidado.


- Você? – arregalamos os olhos. – Mas você é...


- Homem, eu sei – Sean riu. – Mas mesmo assim fui convidado. Estão até querendo me flutuar até o dormitório.


- Dorcas enlouqueceu – Lily balançou a cabeça. – Quero dizer, enlouqueceu mais ainda.


- E você vai na festa? Vai ser flutuado? – Alice perguntou interessada.


- Achei bem interessante. Fofocas não faz mal a ninguém – ele falou com indiferença. Ai, como eu amo esse garoto. – Se conseguirem me empurrar pro dormitório, estou dentro.


No final acabamos por decidir que iríamos juntos. Sean até estava animado se conseguíssemos passar ele escada acima.


Acho que essa noite renderia vários babados.




Remo POV:


Eu estava fraco demais. A última noite tinha sido terrível – aliás, todas são. Mas uma parecia superar a outra, e a cada dia eu ficava mais doentio e lento. Estava de tarde e logo mais anoiteceria, o que significa mais sofrimento.


Eu tinha acabado de tomar a poção que Madame Pomfrey havia preparado para mim, quando Sirius entra na ala hospitalar vazia exceto por mim. Ele carregava seu velho violão, me olhando contente como sempre.


- Fala aí, caro Aluado! – ele se aproximou dando um tapa nas minhas costas, quase me fazendo cair da cama. – Er... Desculpa aí...


- Tudo bem – me endireitei na cama. – Onde estão os outros?


- Com certeza se empanturrando na cozinha. E eu decidi passar aqui pra te animar um pouco – ele indicou o violão.


- Vai cantar pra mim Almofadinhas? Que romântico – zombei, e ele gargalhou.


- Pelo visto você está com um humor melhor do que os outros – ele comentou. – Não, eu não vou cantar pra você, Aluado. Eu vou cantar com você.


- Acho que estou incapacitado agora – falei, me encostando no travesseiro. Sirius apenas balançou a cabeça.


- Você é perfeitamente forte à noite.


- Vai realmente comparar meu estado agora com um lobisomem...


- Para de reclamar. Vamos sim, cantar, nem que eu vire um cachorro agora e dou umas lambidas em você até você aceitar – ele ameaçou.


- Isso foi nojento – fiz uma careta.


- É melhor cantar, amigo – ele riu, então levou os dedos à boca e assobiou. No momento seguinte os músicos do coral começaram a adentrar a enfermaria.


- Sirius, você ficou louco? – sussurrei com urgência, enquanto eles caminhavam sorridentes até nós. – Se eles me virem assim... Vão desconfiar de alguma coisa! E já está anoitecendo!


- Relaxa, eles não vão saber de nada – Sirius falou despreocupado. Cachorro. – Agora que descobri que canto bem, tenho que usar isso, não é mesmo?


Sirius se virou para os músicos e fez um sinal, ao mesmo tempo que começava a soltar acordes em seu violão, cantando.


"One love, one heart


Let's get together and feel all right"


Ele fez um sinal pra mim, então continuei.


"Hear the children crying (One love)


Hear the children crying (One heart)


Sayin', Give thanks and praise to the Lord and I will feel alright.


Sayin', Let's get together and feel all right.


Whoa, whoa, whoa, whoa"


Eu cantava fraco, mas cantava. Usava o pouco que minha energia tinha me deixado, enquanto os músicos tocavam atrás de Sirius.


"Let them all pass all their dirty remarks


There is one question I'd really like to ask (One heart)


Is there a place for the hopeless sinner


Who has hurt all mankind just to save his own?


Believe me"


Sirius continuava no violão, sorrindo e cantando como se tivesse uma verdadeira plateia ali. Na verdade só tinha Madame Pomfrey, que com o barulho saiu correndo de sua sala pra começar a xingar. Quando viu o que era, porém, apenas ficou calada e começou a assistir. Aos poucos foi sorrindo, as mãos juntas de contentamento.


"One love, one heart


Let's get together and feel all right"


E por incrível que pareça, aquilo estava me animando um pouco. Eu até me sentia mais acordado e já tinha me sentado mais ereto na cama. Eu amava aquela música, deve ser por isso que Sirius tinha a escolhido.


"As it was in the beginning (One love)


So shall it be in the end (One heart)


Alright, Give thanks and praise to the Lord and I will feel alright.


Let's get together and feel all right."


Logo James e Pedro adentravam a ala hospitalar, e, ao ver a cena, simplesmente começaram a cantar no fundo; Pedro meio acanhado, já que não cantava. E James começara a dançar com Madame Pomfrey, que ria enquanto isso.


"Sayin', one love, one heart


Let's get together and feel all right.


I'm pleading to mankind (One love)


Oh, Lord (One heart) Whoa!


Give thanks and praise to the Lord and I will feel all right


Let's get together and feel all right."


A música finalizou e todos aplaudiram, enquanto Madame Pomfrey terminava de se recompor do giro que James havia feito com ela. Sirius depositou seu violão na cama ao lado.


- Vai dizer que isso não te animou? – Sirius riu.


- Sim, sim – eu ri. – Obrigado, Almofadinhas.


Sirius assentiu.


- Isso aí! – James gritou, então se atirou em cima de mim, seguido pelos outros dois, todos me envolvendo num abraço amigo.




Lily POV:


- Mais um pouco, mais um pouco! Isso, quase! – Dorcas gritava alarmada enquanto eu via o corpo de Sean subir no ar, desequilibrado. – Emelina, aponta a varinha pra lá!


Os poucos presentes da sala comunal assistiam a cena aos risos. Estava bem vazia exceto por nós e eles, já que estava no horário da janta. Dorcas tinha nos garantido que tinha comida suficiente para todas nós, portanto não tínhamos ido para o Salão Principal.


- Eu vou bater a cabeça no lustre! – Sean gritou alarmado.


- Alice, você tá apontando errado, é pro dormitório feminino, não masculino! – falei, puxando o feitiço para baixo.


- Não tenho culpa se ele é pesado! – Alice falou ofegante.


- Me chamou de gordo na cara dura... – ouvi Sean falar do alto.


- Gente, pra cá! – Dorcas gritou, enquanto eu, Alice e Emelina fazia o gesto com a varinha pra entrada. Estávamos quase conseguindo, porém a cabeça de Sean bateu no portal.


- Mais baixo, mais baixo! – Emelina exclamou.


- Ele vai cair! – eu e Alice gritamos, e Sean gritou, e Dorcas gritou, e com toda a gritaria deixamos Sean cair com um baque na poltrona.


- Desisto! – Emelina exclamou.


- É melhor mesmo, acho que isso não vai dar certo, garotas – Sean falou deprimido. – Desculpe se eu sou gordo.


- Eu não disse isso – Alice corou.


- Brincadeira, Lice – Sean riu. – Bom, foi bom tentar. Só pensava que vocês três, as melhores alunas de Hogwarts, conseguissem fazer um perfeito feitiço de levitação.


- Eu estou com fome – tentei explicar, e Sean bufou.


- Eu também estou, e já que não vou poder entrar, vou para o Salão – Sean pôs-se de pé.


- Espera aí, Sean! – Emelina exclamou. – Por que você não tenta subir a escada? Aí quando virar uma rampa, você tenta subir por ela e a gente te ajuda com algum feitiço. O que você acha?


- Boa ideia! – Dorcas concordou.


- Não sei se isso vai dar certo – Sean mordeu o lábio.


- Ah, que isso! – Dorcas o empurrou pra perto das escadas. – O máximo que vai acontecer é fraturar o crânio ou a coluna vertebral, mas não é nada demais.


- Tão encorajadora, Dorcas – Sean respondeu com sarcasmo.


- Eu sei. Agora vai – Dorcas deu-lhe um pequeno empurrão.


Sean, então, colocou o pé no primeiro degrau. Eu já tampei os ouvidos por causa daquela sirene horrível, porém, ela não veio.


- Ué... – Emelina olhou surpresa.


- Não aconteceu nada – Alice arregalou os olhos. – Sean, suba todos os degraus.


Sean assentiu, e cauteloso deu mais alguns passos, até chegar no topo da escada, da onde gritou:


- Tô vivo!


- Merlim, só pode ser um milagre! – falei boquiaberta, correndo até alcançar Sean na escada. – Como... como?


- Talvez Sean não tenha más intenções, por isso nada aconteceu, não sei – Emelina deu de ombros, feliz.


- Claro que tem más intenções! Afinal, estamos aqui pra fofocar! – Dorcas disse depressa. – Vamos, todo mundo pro dormitório!


Eu nunca tinha visto um garoto por lá, por isso foi a coisa mais estranha que me aconteceu. Mas Sean não contava como garoto, tanto que sentíamos a vontade perto dele. Até trocamos de roupa perto dele e ele não ligou... Mas era de se esperar.


O dormitório estava com comida pra todo lado, além dos colchões fofos e milhares de cobertas espalhadas pelo chão. As outras garotas já estavam lá, todas com seus diversos pijamas. Contamos a elas o milagre do Sean, e elas ficaram chocadas assim como nós. Quem não ficaria?


Enfim, pouco depois já estávamos jogadas no chão comendo, rindo de alguma besteira, comentando algumas coisa da escola, até Dorcas começar a fofocar.


E começou e não parava, e começava a surgir novas cada vez mais. Que Alan Byelard começou um namoro com Ashley Aileen da Sonserina, sendo que a mesma é a melhor amiga da sua ex, Marina Marshall; ela não parecia muito feliz quando o boato correu, e por isso as duas se afastaram muito depois disso. Que os irmãos Albert e Kalvin Fingal da Lufa-Lufa andaram brigando por uma garota da Grifinória do quinto ano, Ivy Jaclyn, uma morena alta e escultural que anda tirando suspiros de garotos por aí; tenho quase certeza que Sirius já "experimentou" ela. Que Janet Ramsey se separou do gato lindo da Lufa-Lufa, que inclusive canta no coral junto com Chapman, o Riley Upton. Merlim, aquele já deu muito o que falar, e agora que está solteiro tenho certeza que ele vai ser muito disputado entre o sexo feminino. Falamos de Zachary Trevor, o sonserino que já traiu a namorada centenas de vezes, a pobre Suzy Goldman da Corvinal. Ela não é lá das inteligentes – o que é estranho pela casa a qual pertence – e por isso não sabe que é chifrada constantemente. Nós chegamos a conclusão de que ela já percebeu, mas não quer perder o namorado, por isso prefere ficar com fama de corna. Quero dizer, ainda me pergunto como ela conseguiu um namorado... Ela não é muito... Bom... Atraente. Não posso falar nada, sou suspeita pra dizer, mas ela realmente não é de boa aparência. Mas ela tem namorado, e eu não, por isso mereço calar a boca. Por fim falamos dos irmãos Prewett que se formaram ano passado. Aqueles lá são como os irmãos Fingal, mas é um pouco diferente. Os Prewett são maduros e passam aquele ar de homem crescido e inspirador, o que faz as meninas suspirarem. Não sabemos muita coisa sobre o Gideon, mas o Fabian já foi visto com Lee Spencer, uma menina asiática-sortuda da Lufa-Lufa, sétimo ano. Mesmo que Fabian já havia se formado, eles já foram vistos em Hogsmeade juntos, se encontrando. Na minha opinião eu acho que ficam fofos juntos, por isso que ainda me pergunto do paradeiro do seu irmão restante...


- Gente, eu já disse o tanto que eu amo fofocar? – Dorcas falou com excitação quando paramos de falar de Amos Diggory (meu quase rolo) e sua misteriosa namorada, já que ele não anda saindo com ninguém ultimamente. Dorcas colocou sua prancheta de lado pra nos fitar; sim, ela estava anotando as fofocas. Já imagino a extensão que o MMM vai ficar. – Agora chega de falar desses avulsos... Vamos fofocas sobre nós!


- Ah, nem vem Dorcas – Alice falou comendo seu glorioso muffin de chocolate. – Nós até podemos falar dos outros pra você publicar nesse seu jornal, mas não quero mais ver meu nome lá!


- Concordo. É bom saber da vida dos outros, não da nossas! – Emelina falou.


- Gente, somos todas amigas aqui, não é? Nós e Sean – ela completou. – Precisamos compartilhar segredos, é o básico para uma festa do pijama!


- Errado – Beth cortou. – O essencial é fofocar, e isso já fizemos. Sem falar que se contarmos um único segredo nosso pra você, nossa vida estará arruinada.


- Ai gente, eu não sou assim, tá? – Dorcas falou com ar de inocência, no que todo mundo bufou. – É sério! Eu prometo não contar nenhum segredo de vocês no MMM!


- Eu concordo com Dorcas – Kummer falou, comendo um sanduiche de carne. – Já passam das três, e já que não temos mais fofocas, podemos contar segredos! Estamos tão sonolentas que vamos esquecer de tudo amanhã...


- Já são três? Merlim, amanhã tem aula! – exclamei, mas fui completamente ignorada.


- Eu não estou nada sonolenta, e certamente vamos acordar com nossos nomes sujos por Dorcas Meadowes amanhã – Maria falou com desagrado.


- Bom, o seu nome eu adoraria sujar – Dorcas rebateu.


- Ok, vamos contar segredos então! – Alice pigarreou a fim de interromper o início da discussão. – Se for pra parar com briguinhas novamente, vamos contar. Eu não tenho nenhum segredo, e vocês?


- Mas é claro que tem segredos! Todo mundo tem segredos! – Johnson exclamou animada. – Alguma coisa relacionada com seu namorado...


Alice corou instantaneamente.


- Não tenho nada pra esconder em relação a isso nem relação a nada – Alice respondeu, sem graça.


- Também não tenho segredos – Emelina sorriu.


- Nem eu – a voz fraca de Sophie veio de uma das camas. Ela foi a única que se recusou dormir no colchão, e até aquele momento eu tinha me esquecido que ela estava ali. Estava quase dormindo, e dava pra ver seu rosto pálido dali.


- Eu também não – Cooper também disse.


- Nem eu – falei.


- Resumindo, ninguém tem segredos aqui! – Dorcas bufou.


- Eu tenho – Sean falou baixo, de testa franzida e mordendo o lábio. Todos os olhares viraram pra ele. – Só não tenho... coragem pra dizer.


- O quê, o quê? – Dorcas deu pulinhos no colchão, fazendo Maria comentar algo relacionado a "perereca".


Sean olhou fixamente para todas nós antes de voltar a olhar pra baixo, brincando com a ponta de seu travesseiro.


- Estamos entre amigos, certo? Não vão espalhar por aí... – ele disse completamente hesitante.


- Claro que sim! Agora fale logo, criatura! – Dorcas exclamou, e Maria se debateu, incomodada.


- Bom, é que... – Sean olhava de nós pro travesseiro constantemente, ficando vermelho a medida que nos olhava. – Eu...


- Você... – Dorcas parecia que ia ter um ataque.


- Eu...


Dorcas quase estava batendo sua testa na dele de tanta expectativa, até Sean finalmente soltar com um suspiro.


- Eu sou gay.


Momentâneo silêncio, ao qual Sean olhou ao redor esperando respostas.


Até Dorcas bufar irritada.


- Ah, era isso? – falou aborrecida. – Mas que droga, disso eu já sabia!


- Já? – Sean pareceu espantando.


- Fala sério, todo mundo já sabe – Johnson comentou.


- Já? – Sean repetiu, abobado.


- Fala sério Sean – Emelina deu uma pequena risada. – Que garoto digamos assim... Macho, cantaria Bad Romance com a gente?


Sean corou mais um pouco, mas por fim riu. Eu o abracei.


- Não fique sem graça com isso, foi bom você ter admitido pra gente finalmente – falei. – Quero dizer, tínhamos quase certeza...


- Ei! Deve ser por isso que Sean conseguiu entrar aqui! – Maria falou de repente. – Porque ele não é totalmente garoto, afinal... Quero dizer, ah! Você entendeu.


- Entendi, Maria – Sean riu, enquanto eu me deitava em seu ombro.


- Nossa, que lógica mais mal feita – Dorcas desafiou Maria, que a olhou com desprezo.


- Pelo menos fui adotada com isso. Lógica, cérebro. Agora dentro do seu, se é que você tem um, deve haver apenas vento...


- O que adianta ter um cérebro se ele é mal usado? – Dorcas respondeu. – Usado para... Deixa eu ver... Ficar de olho no garoto das outras!


- Me poupe desse discurso de novo, Meadowes. Já está enjoando – Maria bocejou.


- Eu sei que você está fugindo, de novo! Se pensa que eu acreditei em você, está muito enganada!


- Mais uma prova que você não tem cérebro mesmo.


- Vaca.


- Sem cérebro.


- Safada.


- Sem cérebro – Maria cantarolou.


- Traíra!


- Sem cérebro.


- Falsa, estúpida!


- Gente, olhe como a lua está linda hoje! – Alice exclamou de repente, enquanto as duas se viravam para janela para onde Alice apontava. Estava na cara que ela queria novamente quebrar a tensão, já que o resto de nós apenas assistia a discussão entediados. – Lua Cheia, é bonita não?


Em seguida ouvimos um longo ruivo que quebrou o silêncio do quarto.


- Lua... Cheia... – Dorcas crocitou.


- O quê? – Emelina perguntou.


- Hoje é Lua Cheia! – Dorcas exclamou, levando as mãos na cabeça como se tivesse levado uma pancada.


- E daí? – Kummer perguntou.


- Eu... – Dorcas sussurrou, então seus olhos se arregalaram. – Eu descobri o maior babado da noite.


- Qual? – perguntamos.


- Eu... Não tenho certeza – ela disse, franzindo a testa. Uma expressão de choque passou em seu rosto. – Depois eu conto pra vocês.


Maria rodou o dedo na orelha apontando pra Dorcas, que ainda parecia ter levado o choque.


Seja o que for que ela descobriu, ninguém se importou muito. Naquelas alturas já estávamos cansadas demais, por isso logo acabamos dormindo. A noite tinha rendido, como muitas de nós havíamos previsto.


E amanhã seria um longo dia. Longo, longo dia.




Dorcas POV:


Muito estranho aquele lugar, a biblioteca. Não me lembro se já tinha entrado ali antes, e se sim, com certeza não fiquei por muito tempo. Eu tinha meus motivos: um lugar com aquela mulher desprezível que eu esqueci o nome, e que Emelina sempre reclamava dela; fora todos aqueles nerds que ficavam de cara colada nos livros, credo. Nunca queria fazer parte de uma turma daquelas, que horror!


Enfim, agora eu tinha que fazer um sacrifício. Por sorte meu primeiro horário é livre hoje, assim eu podia ler um pouco. Ler um pouco! Que decadência, Dorcas Meadowes...


Mas eu precisava saber.


Precisava ter certeza.


E se fosse verdade... Merlim.


Achei um livro com título interessante, e comecei a folheá-lo, passando por alguns títulos. Eca, o livro estava todo empoeirado!


Formas de Identificar um Lobisomem em sua forma humana


Uma lista prática para se livrar de aberrações que podem causar perigo à sociedade bruxa e trouxa. Atenção a todos os itens, podem ser essenciais para localizar qualquer lobisomem no meio de uma multidão.


- Pele pálida, aparência cansada, principalmente nos dias próximos a Lua Cheia. Os lobisomens ficam mais fracos no dia, para que a noite toda sua força lupina seja liberada.


- Roupas surradas, velhas ou remendadas. Mas cuidado: alguns bens disfarçados podem sim, se vestir normalmente. Se alguma vez eles aparecerem com roupa de tal característica, atenção.


- Grande mudança no humor. Lobisomens mudam de temperamento a todo o tempo, ora bravos e descontrolados, ora mansos como cachorrinhos.


- Sumiço na Lua Cheia. Quando se aproxima dessa fase da lua, geralmente lobisomens desaparecem durante esse período para se transformar em um lugar afastado. Azar, porém, quando ele está ao redor de pessoas quando isso acontece.


"Ele visita a mãe doente, e as vezes ele adoece também. É tipo como uma doença de família."


"Eu já o vi doente, já o ajudei uma vez."


"As vezes ele adoece também... Já o vi doente..."


Meu. Merlim.


"Uma vez por mês, durante a lua cheia, o bruxo que fora mordido por outro lobisomem também se transforma em uma fera assassina. Uma singularidade entre as demais criaturas fantásticas, o lobisomem dá preferência a presas humanas."


"A fase da Lua Cheia é mensal, portanto o lobisomem se transforma apenas a noite, ficando fraco de dia durante esse período. Tudo o que o denuncia é a aparência cansada, pele pálida, e as vezes desmaios e mal-estar constante."


"A fase da Lua Cheia é mensal". "Você não acha que a escola inteira merece saber o motivo pelo qual todos eles somem um vez por mês à noite? Ou então, o principal deles e seu ex-amigo, Remo Lupin?"


Os marotos...


São lobisomens?


Não, não, isso não tem cabimento. Não sei por que os outros também somem, mas apenas um deles fica pálido, apenas um deles fica cansado e some para visitar a mãe, ou então adoece. Apenas um deles tem apelido de "Aluado". Apenas um...


Remo Lupin é um lobisomem.




Sophie POV:


Aquele silêncio estava pior do que quando vomitamos na competição. Estávamos na sala de música, sendo que nem os músicos estavam ali pra tocar um som pra distrair... Mas depois do que Dorcas nos contou, era impossível se animar até mesmo com uma música. Moreau parecia desconcertado; quando Dorcas chegou nos dizendo o que tinha descoberto, ele visivelmente tentou mudar de assunto, deixando claro que já sabia de tudo. Pobre Remo...


E hoje, no coral de sexta, ainda esperávamos por ele. Era Lua Cheia hoje, por isso não sabíamos se ele vinha, já que faltou às duas últimas aulas. Por isso nem tínhamos sinal dele e nem dos marotos, que ainda não sabiam que a gente sabia também.


Emelina fungou do meu lado. Desde que Dorcas nos explicou tudo, ela caiu no choro. Lily também pareceu arrasada, enquanto Franco e os outros garotos suspiravam. Franco, pelo visto, também tinha conhecimento do segredo.


E eu, bem, nem tinha forças pra chorar. Não sei o que estava acontecendo comigo, mas eu não andava muito bem. Lina dizia que era porque eu não andava comendo, mas não acho que seja por isso, já que eu simplesmente não tenho fome.


Todos ergueram a cabeça, então, quando ouvimos risadas se aproximarem. Era Black, James e Remo. Pelo visto os dois tentavam animar o amigo, que agora estava claramente pálido e cansado, confirmando a teoria de Dorcas. Dorcas estava encostada no piano, olhando pra baixo.


- Fala aí, galera! – Sirius falou animado, então olhou ao redor, parando abruptamente de andar para nos fitar. Os outros dois fizeram o mesmo. – O que aconteceu?


Ninguém respondeu. Os três marotos trocaram olhares, e depois voltaram a olhar para nós. Emelina soluçou.


- Algum problema? – James perguntou hesitante, olhando pra Lina. – O quê...?


- Eles sabem – Remo murmurou repentinamente, e James se virou para ele.


- Sabem? Sabem do quê? – perguntou, depois voltou a nos olhar. – O quê...?


Remo parecia chocado. Sua expressão ficou levemente cansada agora, sendo completamente substituída pelo terror. Ele deu um passo para trás.


- É, nós sabemos – Dorcas falou com um suspiro, se desencostando do piano para olhar diretamente para Remo. – E fui eu que descobri.


Sirius e James trocaram olhares assustados, depois olharam rapidamente para Remo, que olhava para cada um de nós como se fôssemos algum animal estranho, ou não sei o quê. Parecia que queria correr dali agora mesmo, arfando alto.


- Como você... Por que? – Sirius falou rispidamente para Dorcas.


- Eu sou uma quase-jornalista, meu bem. É claro que eu ia descobrir isso mais cedo ou mais tarde! – ela exclamou para ele.


- Você é uma fofoqueira isso sim! Esse segredo é importante, Meadowes, e não acredito que você foi xeretar nisso! – Sirius gritou, fuzilando Dorcas com o olhar. Ela não recuou.


- Eu sei que é importante! E eu não vou contar para ninguém, Black! – Dorcas rebateu.


- Ah não? – Sirius bufou com histeria. – Não vai contar pra ninguém sendo que todos dessa sala já sabem! Sua...


- É claro que eles sabem! Porque todos são meus amigos, e são amigos de Remo também, por isso tem o direito de saber! – Dorcas falou, o que fez Sirius se calar. Então virou-se para Remo. – Eu não vou contar pra ninguém do castelo, Remo. E estou fazendo isso por você, não por Black.


James bufou.


- Certo, todos somos amigos aqui. Mas o que garante que um de nós não vai soltar para alguém do castelo e espalhar para todos?


- É claro que não faríamos isso! – Lily arregalou os olhos.


- James, querido, se nem Meadowes vai espalhar pra mais alguém, por que nós espalharíamos? – Maria falou com veemência.


- Nunca se sabe – ele deu de ombros.


- Garotos, acho que todos aqui são maduros e tem consciência que isso é sério demais para contar pra qualquer um – Moreau se aproximou, falando calmamente. – E Remo... Espero que fique bem.


Remo não tinha se alterado; ainda nos olhava tão assustado que não conseguia dizer mais nada, nem quando Moreau colocou a mão em seu ombro como apoio.


- Sentimos muito pelo que aconteceu com você, Remo. Seja quando isso aconteceu – Alice falou fraquinho, seguido por comentários dos outros.


- Deve ter sido horrível – Beth falou com a boca cheia. Francamente, como ela consegue comer tanto assim?


- Esperem – Remo finalmente falou, seguido pelo silêncio. – Vocês não... Vocês não estão com medo de mim?


- Por que estaríamos? – John falou. – Um cachorrinho não faz mal a ninguém, faz?


Remo não riu.


- Vocês deveriam sim, ter medo. Eu sou um lobisomem afinal – Remo tinha os olhos lacrimejantes, enquanto dizia aquelas palavras meio engasgado. Merlim, eu tinha tanta compaixão por ele... Parecia perdido.


- Contanto que você não se transforme com a gente por perto, não vamos ter medo de você – Dorcas comentou.


- Vocês não entendem? – Remo andou até o centro da sala, descontrolado. – Se seus pais souberem que tem um lobisomem estudando aqui... Se souberem... Se os outros pais souberem... Vocês terão que sair daqui.


- Acorda Remo, por que contaríamos a nossos pais? – Jason exclamou.


- Você é suspeito pra falar – falei pra ele, que franziu a testa.


- Eu sou um monstro! Um monstro, é o que eu sou! – Remo berrou em conflito, como se quisesse que nós nos convencêssemos disso e saíssemos correndo dali com medo. Mas ninguém se moveu. – Sou um monstro todos os meses, eu me transformo em uma aberração! Eu posso matar vocês!


Foi um momento realmente desconfortável, mas ninguém se moveu, nem houve resposta. Os marotos atrás dele não sabiam o que dizer.


- Ninguém liga – uma voz fraquinha disse, e me virei a tempo de ver Emelina se erguer e caminhar até Remo, que ainda arfava, misturando suas lágrimas com o suor que descia por seu rosto. Lina pôs-se de frente a ele, olhando-o profundamente. – Ninguém liga, Remo, se você é um lobisomem ou não. Estamos nem aí pra isso.


Remo deixou os ombros caírem, olhando para Lina desconsolado.


- Por que não? – perguntou, rouco.


- Porque estamos a seu lado. Assim que entramos nesse coral, mesmo contra nossa vontade – Emelina olhou de soslaio para Lily, sorrindo -, foi como tivéssemos assinado um contrato que diz que deveríamos nos unir sempre. A cada momento... Os bons e ruins.


- Eu não me lembro de nenhum contrato – John falou, mas Beth lhe deu uma cotovelada que o derrubou da cadeira.


- Não ligamos pra isso, Remo – Lily completou com a voz suave.


- Afinal, todo mundo tem seu segredo, certo? – Emelina virou-se para nós com um sorriso repentino. – E se Remo tem o dele, nós também temos os nossos. Eu, por exemplo... – ela franziu a testa e olhou de mim para Dorcas. – Eu sou... Chocólatra. Chocólatra pura! Ninguém me vê me esbaldando por aí, mas eu sempre corro para o banheiro e me esbaldo em sapos de chocolate!


Alguns riram baixo, inclusive eu, enquanto Dorcas exclamava.


- Ahá! Sempre desconfiei quando via aquele tanto de caixas vazias de caldeirões de chocolate no lixo! Não sei quem ganha, você ou Sophie!


Revirei os olhos, enquanto os outros voltavam a rir.


- Adorei essa ideia Emelina. – Moreau sorriu, satisfeito, indo ao centro da sala. – E já que é pra falar de segredos, vou contar o meu a vocês também. – ele nos olhou hesitante. – Bom, na minha juventude, há muito tempo atrás, devo dizer, mais ou menos na idade de vocês, eu era completamente viciado em álcool. Eu não conseguia ver um litro de uísque de fogo na minha frente e eu simplesmente necessitava daquilo. Era muito sério, e no final eu não sei como parei. É claro... Já tem gente que sabe disso, como Stanley, que até tentou usar isso contra mim. E depois do que houve no mês passado com vocês, acho que tem o direito de saber.


- Moreau era um dos nossos então! – Black exclamou, e os risos voltaram. - Acho que vou contar meu maior segredo agora. – ele olhou para James, que fez um sinal negativo de alerta, mas visivelmente Black ignorou. Que novidade. – Eu sou um animago. Clandestino.


Silêncio total. Até Moreau ficou chocado com aquilo.


- Mas vocês não vão contar pra ninguém... vão? – Black falou hesitante.


- Babado! – Dorcas exclamou.


- No que você se transforma? – Beth perguntou curiosa, como se estivesse ofendida por seu Sirius Black ter escondido isso dela.


- Cachorro. É por isso que sumimos nas noites de Lua Cheia também, porque ajudamos Aluado quando ele se transforma. Assim ele não fica sozinho, e como estamos em forma de animal, ele não pode nos machucar.


Foi um murmúrio de choque enquanto algumas garotas comentavam sobre o ato "belo". James parecia querer matar Black.


- Esperem meninos... Dumbledore sabe disso? – Moreau olhou para James e Black, sério.


- Er... Não – Black hesitou. – Mas estamos entre amigos... Ninguém vai contar, não é?


- Isso é um ato completamente irresponsável, é inegável – Moreau ralhou, mas depois suspirou. – Mas até que é...


- Fofo – Lily completou. – Mas pra onde vocês vão? Como não são vistos?


E depois disso seguiu milhares de perguntas que eu nem prestei atenção direito. Minha cabeça doía muito. Só lembrava de que eles sempre ficavam na Casa dos Gritos, que saíam a noite sem ninguém perceber e assim ajudava os outros. Moreau deu mais um bronca, Lily também, as garotas acharam o ato legal de novo, e os garotos começaram a fazer perguntas sobre a animagia. Demorou anos para eles explicarem tudo, e pelo visto eles começaram no quinto ano a treinar, e com muito esforço conseguiram se transformar.


- Uau! – John exclamou.


- Incrível – Jason completou.


- Mas então, voltando ao assunto principal – James falou, apontando para Remo que havia se encostado no piano ao lado de Emelina, que sorria constantemente para ele. Durante o questionário dos outros, James era o que parecia mais incomodado, e olhava minuto em minuto para Lily para ver sua reação. – Meu segredo é... Que eu também. Eu também sou um animago, e me transformo em um cervo.


Mais alguns comentários chocados e surpresos, e James recuou para se sentar numa cadeira, lançando um sorriso para Lily sem receber outro em troca.


- Aprovo essa ideia de revelações! – Alice disse alegre, indo ao centro da sala. – Tenho uma que espero que não vá parar no MMM. – ela mordeu o lábio, olhando desconfiada para Dorcas, que nem piscava. Estava quase tendo um ataque ao ouvir a história dos marotos. – Meu primeiro beijo, na verdade, foi com Franco.


- Com Franco? Então foi... – Maria franziu a testa.


- Nesse ano, sim. – Alice ficou da cor de um pimentão. – Eu sempre esperei que fosse ele, queria que fosse com ele por isso não saía com nenhum outro garoto.


- Primeiro beijo aos dezessete anos? Digna da fofoca do MMM! – Dorcas falou animada, e Alice a fuzilou com o olhar antes de se sentar.


Franco parecia culpado.


- Sinto muito, meu amor – ele falou, dando um beijo na testa de Alice quando ela se sentou em seu lugar, seguida pelas palmas (coisas de John). Ele se levantou e foi ao centro da sala. – Vou contar um segredo, não tão secreto, já que os marotos descobriram. Bom... Eu tenho uma cueca de ursinhos. – soltou, seguido por gargalhadas. – Presente da minha mãe, eu não podia recusar!


- Fato verídico – James assentiu, rindo assim como os outros.


- Então vou contar meu segredo! – John deu um pulo, depois das palmas a Franco. – Eu... odeio ser de descendência asiática! As pessoas me zoam, dizendo que é pequeno o tamanho do meu...


- Oh meu Deus, já entendemos! – Emelina falou rapidamente, fazendo uma cara assustada. Risadas e palmas a seguir.


- Meu segredo então – foi a vez de Beth, ainda comendo. – Eu tenho medo de palhaços – contou, causando mais risadas e mais aplausos. – É sério, eu sempre me mostro tão forte e madura, mas não posso ver um daqueles! Francamente, pra que eles servem? São arrepiantes, e estão longe de fazer alguém rir!


- Minha vez de contar meu segredo! – Dorcas foi para o centro rapidamente, nem um pouco hesitante. – Espero que vocês não deem tantas gargalhadas, mas... Quando eu estava no segundo ano, eu tinha uma paixão secreta por...


- Por? – todos perguntam, totalmente curiosos.


Dorcas olhou para todos antes de soltar.


- Severo Snape! – falou, fazendo todos se engasgar. Até Remo riu. – É sério gente, parem! Eu era uma criança bobinha! E achava aqueles cabelos cumpridos um arraso!


- Sempre tive certeza que você não bate bem, Meadowes – Maria se levanta, empurrando Dorcas pro lado enquanto as palmas cessavam. – Meu segredo. Eu odeio meu nome. "Maria", um nome tão zoado! Todo mundo sempre usa Maria pra tudo, Maria Gasolina, Maria Sapatão, Maria João, Maria tudo! É um saco!


Mais gargalhadas e mais aplausos. Estava ficando cada vez mais confortável, e Remo parecia instantaneamente melhor.


- Minha vez, minha vez! - Jason disse. – Vou confessar pra vocês, uma coisa que somente minha querida irmã sabe... – ele piscou pra mim, e eu ergui as sobrancelhas. – Eu sou loiro. Mas bem loiro mesmo – ele explica, passando a mão pelo cabelo. – Mas eu pintei ele pra deixar um loiro mais escuro.


- Prefiro você assim – Dorcas cantarolou enquanto aplaudia.


- Sophie, Lily? Faltam vocês – Moreau sorriu, aprovando mais que nunca a ideia de Emelina. Devo dizer que eu não aprovei?


Todos olharam para nós, e eu e Lily trocamos olhares desconfortáveis. Decidi me pôr de pé, então, pensando num bom segredo que eu poderia contar... Não há segredo algum que eles precisam saber, nenhum... Por isso escolhi o mais bobo de todos.


- Um segredo, não é? Ok – falei, com a voz falha, além de sem graça e meio gaguejante. – Eu... Era gorda. Muito muito gorda, antes de ingressar pra Hogwarts. As pessoas adoravam tirar uma com a minha cara, por isso sou complexada com isso... – expliquei torcendo as mãos, envergonhada. Ninguém fez nenhum comentário, então apenas aplaudiram.


- Comparando com agora querida, há uma grande diferença não é? – Beth falou, desafiadora, depois de um tempo. Decidi fingir não ouvir.


- Esqueceram de mim! – Sean exclamou. Estava há um bom tempo quieto também, como se decidisse se contaria ou não. – Bom, meu segredo é que na verdade eu sou...


- Gay – todos completaram.


- Caramba, quando você vai aprender que isso não é um segredo? – Dorcas suspirou impaciente, enquanto aplaudiam e Sean corria a se sentar, perdido.


- Lily? – Moreau olhou para ela, que suspirou e se pôs de pé.


- Não sei que segredo contar... – falou.


- Que tal contar que você está apaixonada por alguém que nunca imaginaria que ia se apaixonar? – Alice desafiou.


- BABADO! – Dorcas exclamou.


- Isso não é segredo. É uma mentira – Lily falou, olhando para Alice com veemência. – Mas enfim, vou contar... – murmurou, olhando para James. – Sinto muito, mas vou contar, se é pra não guardar segredos, não é? Dorcas já espalhou tudo o que podia no MMM... – suspirou. – Meu primeiro beijo com o... Potter, não foi na festa. Foi em Hogsmeade, naquele encontro.


- HÁ, EU SABIA! Bem que você andava estranha por aqueles dias! – Maria gritou entre exclamações, enquanto Lily corria pra se sentar, totalmente corada. Black, Franco e os outros davam tapinhas nas costas de James.


- Então é isso! – Moreau falou sorridente, e então se virou para Remo. – Espero que aprenda que não vamos nos afastar de você, por qualquer que seja seu segredo. Ou se você for um lobisomem.


- Ou qualquer outra aberração. Você não é, é? – Dorcas perguntou desconfiada, mas Remo riu, balançando a cabeça.


- Não, não sou – Remo saiu de perto do piano e foi ao centro da sala, onde Moreau estava. – Obrigado gente. Significa muito pra mim tudo isso que vocês fizeram.


Então, em um piscar de olhos, Emelina simplesmente correu e abraçou Remo, o que quase o derrubou no chão. A seguir Lily também se levantou e abraçou os dois, depois Alice, Beth, eu, Maria, e momentos depois até Moreau se perdeu na muvuca de abraços. Foi um momento bem... Especial, devo dizer. Me senti muito bem ali, com Dorcas xingando alguém que tinha pisado em seu pé – Maria sendo a suspeita número um – e de John fazendo mais alguma graça.


- Eu sugiro... – Moreau começou, sua voz abafada pelos abraços.


- Um brinde! – Black interrompeu, e houve risos.


- Não Sirius, não – Moreau também ria. – Eu ia dizer... Um número.


Respostas de concordância depois, ainda estávamos abraçando Remo. Apesar de tudo o que acontecia naquela sala de desagradável, ali eu tinha certeza que podia me sentir realmente especial no meio de todos eles.




Lily POV:


- Lily, Lily, espera aí um pouco! – ouvi me chamarem, e nem precisei me virar para saber quem era.


- Ai Potter, o que foi dessa vez? – falei impaciente. Precisava dormir! Eu tinha ido dormir lá pelas quatro da madrugada e acordei as sete, apenas três horas de sono. Estava acabada.


- É sobre o que você disse no coral. Hoje – ele disse, hesitante. Não conseguia parar de sorrir, e tinha um ar maroto que não estava me agradando.


- Era o único segredo que eu tinha, ok? Sinto muito ter contado aos outros – bocejei.


- Não, não foi problema nenhum – ele falou depressa, e eu o olhei desconfiada.


- O que você quer, então?


- Faz tempo que não conversávamos – ele deu de ombros.


- Com bons motivos – o lembrei, e ele levou as mãos aos cabelos. – Quer que eu enumere, ou coloque em ordem alfabética? Quem sabe os dois?


- Chega de sarcasmo, Lily – ele revirou os olhos. Ainda bem que ele sabe. – Só que depois de tudo hoje, com Aluado...


- Ele está bem? Já está escurecendo, não devia estar com ele? – perguntei.


- Estou indo pra lá. E sim, ele está bem – ele respondeu incomodado. – Mas como eu ia dizendo... Depois do que aconteceu no coral hoje, eu vi que há coisas mais importantes que nossas brigas.


- Claro, concordo totalmente com você – respondi. – Por isso vamos parar de brigar.


- Isso é sério? – ele parecia descrente.


- Claro. É só você não falar mais comigo, e pronto – sorri, e então voltei a andar.


- Lily, espera. Por favor – ele pediu, segurando meu braço. Eu já disse que odeio quando fazem isso? – Dá pra gente conversar normalmente?


- O que estamos fazendo então?


- Você sempre se esquiva!


- Porque tudo o que você diz não tem sentido para mim! – retruquei. – Não quero ser sua amiga novamente! Já percebeu que só acaba em coisas ruins quando estamos juntos?


- Não importa tudo o que aconteça! Eu não sei você, mas gosto de manter pessoas que eu amo perto de mim! – ele falou, os olhos tão penetrantes que mal consegui desviar o olhar.


E até demorei pra responder. Será que estava clara minha expressão de choque?


- Acontece que complica tudo – falei baixinho.


- Não custa tentar? Dar uma chance pra nossa... amizade? – ele pigarreou.


- Não. Porque... Você é um idiota – respondi, e então corri.


Quero dizer, não correr literalmente, e sim andar rápido. Assim ele não me impedia de sair de novo! Era o jeito... E pelo menos resolveu. Nada de ver ele atrás de mim novamente.


E só quando eu estava no banho, tirando todo o peso do dia do meu corpo, caiu aquela ficha enorme na minha cabeça que quase rachou meu crânio. "Gosto de manter pessoas que eu amo perto de mim!"


Oh.


O que ele quis dizer com isso? Que... Me ama?


Ele disse que me ama? Foi isso mesmo? É, Merlim? É isso?


Não pode ser. Eu devo ter ouvido errado.


Ou não. Ele disse. Disse isso mesmo!


Foi verdade? Ou eu estava com sono demais?


Ai, vou enlouquecer.


Não, haha, não é verdade!


Ou é?


Merlim, será possível isso? Eu estou maluca ou James Potter tinha acabado de me falar que me amava?


Ah sim, eu estou maluca.




Sophie POV:


Eu não estava muito bem. Nada bem mesmo, por isso passei o fim de semana inteiro deitada, mal conseguindo andar. Era muito estranho, pois parecia que estava acontecendo uma guerra dentro do meu estômago. Era a seguinte: parte do meu estômago queria comer, desesperadamente, mas a outra parte queria tirar tudo de dentro de mim. Acontece que não tinha nada pra sair! Por isso que eu estava indo a loucura. E pior... Eu tinha engordado! Isso não podia ser possível, podia?


E depois de ouvir milhares de discursos de Emelina para eu ir para enfermaria, apenas a ignorei e me preparei pro nosso número no domingo. Fui a última a sair do dormitório, porque menti para Emelina dizendo que ia à enfermaria... Me senti culpada por isso.


Mas depois me arrependi completamente de ter ficado sozinha. Acabei por encontrar com Sirius Black em um dos corredores das masmorras, a caminho para o auditório.


- Ah, não – murmurei quando o vi, então passei reto, mas ele entrou na minha frente.


- Olá, McKinnon. Faz tanto tempo que não conversávamos – ele sorriu arrogantemente.


- Por favor, Black, fique longe de mim – pedi, dando um passo pra trás. – Já não basta tudo o que aconteceu, você continua a me atormentar desse jeito?


- Somos amigos, não somos? – ele perguntou, rindo do meu desconforto. – Todos do coral são...


- Deixe de ser estúpido, e me deixe em paz – voltei a andar, e ele me seguiu.


- Afinal, o que aconteceu com você? Emagreceu tanto...


- Deixe de suas piadas idiotas! – gritei, e ele se assustou. – Acha engraçado isso, não é? Estranho pra você falar, se esgueirando por aí com Cox?


Ele demorou para me responder, me olhando surpreso.


- Você está pensando que eu fui irônico? – ele perguntou.


- Idiota! – exclamei, e ele bufou.


- Garota, você é mais louca do que eu pensei!


- Me. Deixe. Em. PAZ! – berrei, apertando o passo. Ele, então, segurou meus braços, fazendo com que ficássemos próximos suficiente para sentir a respiração um do outro.


- Eu não fui irônico. Entenda isso, McKinnon.


- Me solta, senão eu grito – ameacei.


- Pode gritar. Eu não vou te soltar até você acreditar em mim.


- Como vou acreditar em você? Sendo você o maior mentiroso de Hogwarts, não é mesmo? – me debati, mas ele era mais forte que eu. Sem falar que eu estava sem forças.


- Amei sua conclusão. Mas dessa vez acredite, não fui irônico. Garota, você está magra como uma vareta!


- CALE A BOCA! – gritei, enfezada.


Meu grito foi interrompido por seu beijo esmagador, que quase quebrou meu pescoço. Me neguei a abrir a boca, e enquanto eu tentava virar a cabeça a fim de esquivar, ele segurava meu rosto com uma mão, e com a outra minha cintura, tudo para eu não fugir...


Mas não demorou muito, eu finalmente consegui me livrar depois de muita batalha. Nesse ponto, as lágrimas já desciam dos meus olhos...


- SEU DESGRAÇADO! – berrei, deixando-o atônito novamente.


Assim saí correndo desembestada, deixando tudo pra trás, inclusive o número... Eu não estava nem aí.


Eu me odiava por ser idiota demais de cair novamente nas mãos de Black, odiava-o por fazer isso comigo e jogar na minha cara o quão gorda eu estava... Odiava tudo...


Eu queria me matar, naquele momento. Era um impulso mais forte que eu, e se eu estivesse com uma faca nas mãos... Eu não sei o que faria.


Mas eu corri, sem me importar se eu não tinha mais forças. Quando cheguei ao dormitório, simplesmente me arrastei pelo chão até o banheiro, colocando pra fora tudo o que aquela vida me fazia engolir.




David POV:


You're not alone


Together we stand


I'll be by your side


You know I'll take your hand


O centro da dança era Remo; todos decidiram se vestir de branco e preto para o número, que era completamente centrado nele. Remo estava completamente cansado, mas exibia um sorriso fraco.


A seguir, James cantou.


When it gets cold


And it feels like the end


There's no place to go


You know I won't give in


No, I won't give in


Estava sendo um número bem emocionante, tenho que confessar. A dança sempre virava para Remo uma hora ou outra, e enquanto isso os olhos de Emelina já começavam a lacrimejar.


Keep holding on


Cause you know we'll make it through,


We'll make it through


Just stay strong


Cause you know I'm here for you,


I'm here for you


Agora que eu percebi, Sophie não estava ali. Por isso que a dança tinha sempre um espaço. Sirius tinha sido o último a chegar, portanto perguntaria a ele se não tinha a visto por aí.


There's nothing you can say


Nothing you can do


There's no other way when it comes to the true


So keep holding on


Cause you know we'll make it through,


We'll make it through


A música continuava com o destaque na voz de Lily, e a dança bem formulada por Emelina – ela fez questão de ser a coreógrafa. As vozes no fundo chegava a dar um som tão profundo, que era impossível não se tocar com aquilo.


Hear me when I say,


When I say I believe


Nothing's gonna change


Nothing's gonna change,


Destiny


Whatever is meant to be


We'll work out perfectly


(Yeah, yeah, yeah, yeh-ah)


Como planejado, todos fizeram uma roda no palco, deixando apenas Remo no centro. Ele parecia tocado com aquilo, assim como os outros. Os olhos de Lily se encheram de lágrimas também.


Keep holding on


Cause you know we'll make it through,


We'll make it through


Just stay strong


Cause you know I'm here for you,


I'm here for you


There's nothing you can say (nothing you can say)


Nothing you can do (nothing you can do)


There's no other way when it comes to the true


So keep holding on


Cause you know we'll make it through,


We'll make it through


Foi um dos momentos mais bonitos que já presenciei no grupo. Como um perfeito coral, eles começaram a cantar sincronizados, e da onde eu estava sentado dava para ver uma mão da Lily se entrelaçar com a de Remo, e a outra com a de James...


(Aah ah ah)


Keep holding on!


(Ah ah ah)


Keep holding on!


Fiz uma tremenda força pra não chorar, admito. Eu tinha tanto orgulho deles... Mesmo com o incidente da última competição. Dava para ver que eles pareciam mais unidos que nunca, e era ótimo para Remo se sentir mais a vontade. Bom, ele merece, depois de tudo pelo que ele passa nas noites de lua cheia.


There's nothing you can say (nothing you can say)


Nothing you can do (nothing you can do)


There's no other way when it comes to the true


So keep holding on (keep holding on)


Cause you know we'll make it through,


We'll make it through


Quando a música terminou, logo me coloquei de pé para aplaudir, enquanto assistia, novamente, todos envolverem Remo num abraço mútuo.


O mutualismo de um verdadeiro grupo.




Emelina POV:


Droga, Sophie! Aonde é que aquela garota havia se metido? Disse que ia à enfermaria e depois iria para o auditório, mas não apareceu. Por isso passei por lá, talvez ela estivesse tão mal que teve que ficar ali mesmo... Eu bem que a alertei.


Mas acontece que quando cheguei lá e perguntei dela para Madame Pomfrey, ela simplesmente disse que ela não esteve lá. Traduzindo: Sophie mentiu para mim, e foi para enfermaria coisíssima nenhuma. Argh.


Então provavelmente ela estaria no dormitório atirada na cama e dizendo que não estava bem. Eu juro que dessa vez eu vou arrastá-la para a ala hospitalar nem que seja a força!


Cheguei à sala comunal e avistei todo o pessoal reunido perto da lareira. A sala estava vazia exceto por eles, pois já estava tarde. Eles comentavam alguma coisa do número e conversavam animadamente com os marotos, fazendo mais e mais perguntas sobre a animagia, enquanto eles contavam suas aventuras. Lily parecia relutante em ouvir, por isso a vi subir para o dormitório e arrastar Maria com ela.


Perguntei a Dorcas se ela tinha subido ao dormitório e se tinha visto Sophie por aí, mas ela respondeu que apenas viu Geovana e Audrey ir para o dormitório de Beth e Louise pra fofocar alguma coisa. Ou seja: provavelmente Sophie estava no quarto, sozinha, reclamando da vida. Era incrível como era eu que tinha que resolver tudo!


Subi para o dormitório, e ao chegar no quarto não avistei ninguém. Nenhuma fumacinha sequer de Sophie, nenhum indício que ela estava lá. Sua cama estava toda desarrumada, sinal que ela esteve por lá. Eu já ia me virar para sair, supondo que ela talvez estaria com Audrey e as outras (coisa improvável), quando escutei um barulho, vindo do banheiro.


Parecia uma tossida, mas era uma tossida bem feia, que até deu medo. De passo em passo fui caminhando calmamente, tomando o cuidado de não fazer barulho e não assustar a origem daquela tossida demoníaca, qualquer que fosse.


Quando, enfim, coloquei apenas minha cabeça pra dentro do banheiro, avistei Sophie. Ela estava agachada em frente da privada e... Vomitava.


Muito.


E era terrivelmente assustador.


E definitivamente foi a pior coisa que já presenciei na minha vida.


Ela parecia lutar, freneticamente, para vomitar. Eu a via pegar sua escova de dentes e enfiar na garganta, fazendo a vomitar... Ela se engasgava, soluçava, esperneava, como se sua vida dependesse daquilo. Não satisfeita, usava o indicador, e chorava mais e mais. Soluçava, arfava, queria de todo jeito vomitar... E chorava mais ainda, e enfiava novamente o indicador na garganta, enquanto eu a acompanhava nas lágrimas...


Era minha amiga ali... E era... Indescritível. Indescritível o que ela estava fazendo. Ela gemia e tremia. Chorava, vomitava, forçava tudo o que podia...


Acabei, então, percebendo que eu começava a chorar mais e mais, até eu soluçar. Aquilo chamou sua atenção pra mim, e seus olhos vesgos, inchados e completamente vermelhos, me localizaram ali no portal.


Ficou um longo silêncio, ao qual ela deixava o dedo ensanguentado de lado, e a escova caía de suas mãos fracas. Seu corpo desmoronou.


- Me desculpe, Emelina... – ela soluçou, lágrimas grossas descendo sem parar, enquanto sua voz estava rouca, fraca ao ponto de ser quase inaudível. – Me desculpe.




Músicas:


1- One Love (People Get Ready)


2- Keep Holding On

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