O desaparecimento de Draco



Para todos que estão acompanhando: desculpem a demora em postar o 5º capítulo ;) Como compensação, ele está bem extenso! Esperamos que vocês gostem.

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Os dias seguiram quentes e apressados até que a última semana da viagem chegou. Era uma semana decisiva para a família Malfoy, no sábado o presidente do banco francês, Apollinaire Roux, ofereceria uma festa na qual anunciaria o novo sócio em seus empreendimentos financeiros.


A tensão nas reuniões havia alcançado o nível máximo nos últimos dias. Lucius e Bugiardini estavam entre os favoritos nas negociações e por isso a hostilidade entre os dois crescia a cada encontro. O italiano mal dirigia a palavra a Lucius quando o via, mas a suas costas mancomunava com os demais negociantes para tentar descreditá-lo perante Apollinaire.


Enquanto os pais se empenhavam em obter sucesso, Draco se empenhava em se divertir em sua última semana de férias. Passava os dias com Francesca, que apesar de não ser a criança mais agradável, era ao menos uma criança, e era a única disponível para brincar. O menino passava os dias pelas ruas de St. Tropez, tomando sorvete em esquinas ensolaradas, voando baixo em vassouras infantis em terrenos desocupados e escondidos e pregando peças em trouxas e em Brunette, claro. A família Malfoy raramente se reunia nos últimos tempos. Os pais somente viam seu filho pela manhã durante o café e a noite, quando chegavam das reuniões. Narcissa não deixava de passar no quarto do filho para dar um beijo de boa noite, mesmo que a criança já estivesse dormindo há tempos, exausta de um dia de brincadeiras.


Na manhã de terça-feira, Narcissa acordou atrasada. Ela estava muito cansada por conta de tantas reuniões. Levantou-se apressada, vestiu-se e saiu do quarto. Passando pela porta de Draco, chamou:


- Draco, acorde. Estamos atrasados. – continuou andando – Seu pai nos espera lá em baixo.


Ela deu mais alguns passos até notar que o filho não havia respondido seu chamado. Era notável como o menino podia dormir em qualquer circunstancia.


- Meu filho! – voltou-se, falando mais alto – Levante-se, Draco.


Mas ao chegar à porta viu que a criança não estava mais na cama. Ela entrou e checou o banheiro. Era muito improvável que o menino tivesse se levantado sem ser chamado, mesmo ela estando atrasada. Tinha dormido tanto a ponto de até mesmo Draco, o dorminhoco, ter acordado antes dela.


Desceu as escadas e se dirigiu a sala de refeições. Na mesa estavam Lucius e o Sr. e Sra. Fudge, mas não Draco. Uma pontada de preocupação lhe percorreu a espinha.


- Bom dia. – e percorreu os olhos mais uma vez pelo aposento. Não viu nenhuma pequena cabecinha loura em lugar algum. Sentou-se a esquerda de Lucius e perguntou em voz baixa – Meu amor, viu nosso filho?


- Draco? Não, Cissa. – respondeu o marido, ainda sonolento – Pensei que ia chamá-lo.


- Eu ia chamar, mas ele não estava no quarto. – olhou com os grandes olhos azuis, já se enchendo de lágrimas – Nem no banheiro.


Lucius achou que a esposa estava exagerando, mas mesmo assim tomou as mãos dela nas suas e disse:


- O menino deve ter acordado mais cedo e saído – e apertou as mãos da esposa – Ele tem andado muito ocupado nos últimos dias, com a menina italiana.


- O Draco acordando mais cedo, Lucius? – respondeu Narcissa, sarcástica – Se ele não aparecer para o café ficarei em casa para procurá-lo hoje.


- Tudo bem, meu amor. – disse Lucius, despreocupado. – Mantenha-me informado.


Narcissa desviou a atenção do marido e dedicou-se a se servir. Notou que Brunette olhava fixamente para ela. Quando retribuiu o olhar, a mulher não desviou o dela.


- Narcissa, querida. – chamou Brunette – Pode me passar o suco de abóbora?


- Claro. – respondeu Narcissa, e de má vontade entregou a jarra à Brunette – Aqui está.


Depois do desjejum, Narcissa se dirigiu à cozinha. Por mais que não gostasse de elfos domésticos, tinha que admitir que essas criaturas sabiam de tudo que ocorria na casa de seus senhores. Se alguém poderia saber do paradeiro de Draco, com certeza seriam eles. No entanto, os elfos não souberam dizer onde o pequeno senhor estava.


O segundo pensamento que lhe veio a cabeça é que Draco poderia estar com Francesca. Ela então subiu até o terraço da casa e lá encontrou uma pequena coruja de entregas locais. Conjurou pergaminho, tinta e uma pena e escreveu um bilhete à Laura, perguntando se o filho estava em sua casa.


Depois de enviar a coruja, a mulher desceu para o quarto do filho para procurar por algum sinal de Draco, algo que indicasse para onde o menino tinha ido.


Na cabeceira da cama ela encontrou uma corrente com um camafeu de prata trabalhada. Aquele era um amuleto que ela mesma tinha mandado fazer para Draco, enquanto ainda estava grávida. Dentro havia uma foto dela e outra de Lucius, para que o filho se lembrasse que nunca estaria sozinho. O garoto jamais saia de casa sem o objeto e mesmo que as vezes se envergonhasse dele, sempre o levava consigo, mesmo que escondido no bolso. Se Draco havia saído sem o amuleto, ele estava realmente sozinho.


Aquilo preocupou muito Narcissa. Ela não pode esperar pela resposta da coruja. Desceu correndo as escadas e saiu da casa, dirigindo-se a passos rápidos a casa de Laura. Enquanto andava, apalpou um bolso oculto e certificou-se que a varinha estava ali.


Chegando à porta da casa, ela subiu as escadas e bateu uma argola de metal fixada na porta. Algum tempo depois, Laura chegou para atendê-la. Narcissa reparou que a mulher também estava preocupada.


- Narcissa, eu recebi sua coruja, já ia responder... Entre, por favor.


Narcissa entrou na casa. Era bastante parecida com a do Ministro. Laura pediu que ela sentasse.


- Laura, desculpe eu aparecer aqui tão cedo. Mas não consigo encontrar o Draco em lugar algum. Quando acordei, ele não estava mais no quarto, nem desceu para tomar café conosco. Você o viu? Pensei que ele pudesse ter vindo se encontrar com sua filha.


- Na verdade, Narcissa, não o vi. E também não sei onde está a Francesca. Ontem a coloquei para dormir, como sempre, mas hoje de manhã ela também não estava lá nem em qualquer outro lugar. Pelo jeito, também não estava na sua casa, não é?


- Não.


As mulheres se olharam por algum tempo. Cada uma entendia perfeitamente a preocupação que a outra experimentava. Após um longo período de silêncio, Narcissa se levantou e, dirigindo-se à porta, despediu-se:


- Muito bem, Laura. Só posso pensar que o desaparecimento dos dois tenha alguma relação. Vou continuar a procurar o meu filho. Lucius me ajudará assim que ele chegar da reunião. Comunicarei a você qualquer evidência que encontrarmos.  Peço que você e seu marido façam o mesmo por nós, por favor.


- Claro, Narcissa. Ao menor sinal deles, aviso a vocês. Fausto não parece estar muito preocupado com o sumiço da filha. Quando conversamos sobre o assunto hoje mais cedo, ele simplesmente retrucou que uma hora ou outra a menina acabaria aparecendo.  Mesmo assim, vou tentar fazer com que ele me ajude.  


Narcissa voltou para casa. A aversão que sentia pelo Sr. Bugiardini ainda maior. Seria possível que o homem não estivesse minimamente preocupado com a própria filha? Tudo confirmava o que ela vinha suspeitando: o italiano era horrível, para dizer pouco. Quanto mais cuidado ela tomasse com ele, melhor.


 


Lucius chegou mais cedo do dia de reuniões . Narcissa não havia mandado notícias de Draco e ele não conseguia se concentrar na exposição de suas propostas. Desculpando-se com os investidores franceses, saiu antes do início da última reunião. Certificou-se de que não havia nenhum trouxa por perto e aparatou, chegando na soleira da porta da casa de Fudge.


O homem procurou por Narcissa e Draco, mas não encontrou nenhum dos dois em qualquer dos quartos que a família Malfoy ocupava. Descendo as escadas apressado, seguiu para o jardim dos fundos da casa, onde havia uma piscina bastante iluminada naquele início de noite e vários canteiros com rosas, margaridas, narcisos e outras flores. E ali, sentada num banco de madeira, ao fundo do jardim, ele encontrou sua Narcissa.


A imagem da mulher já lhe indicou que o filho ainda estava desaparecido. Narcissa tinha as feições muito tristes. Os olhos azuis estavam marejados de lágrimas e os longos cabelos louros presos descuidadamente num rabo de cavalo. Lucius não pôde deixar de reparar que sua esposa tinha no pescoço o camafeu de Draco. Sentou-se ao lado dela e tomou-lhe as mãos, acariciando-as por algum tempo antes de dizer:


- Ele não apareceu, não é, Cissa?


- Não, meu amor, nosso filho ainda está desaparecido e eu pressinto que alguma coisa ruim pode ter acontecido a ele. – Narcissa não conseguiu conter as lágrimas na presença do marido. Deitou a cabeça no ombro dele e soluçou profundamente enquanto ele passava as mãos pelos seus cabelos.


- Narcissa, por favor, tente se acalmar. Nós precisamos estar fortes para encontrar nosso filho. Eu te prometo que vou fazer de tudo para trazer Draco de volta.


Narcissa conseguiu, aos poucos, parar o choro. O afeto e a confiança de Lucius eram tudo o que ela precisava para se manter forte.


- Lucius, foi minha culpa. – ela falou enquanto levantava a cabeça do ombro do marido e a escorava nas próprias mãos – Nas últimas semanas dei pouca atenção a ele, deixei o menino muito solto. Talvez se eu estivesse mais alerta... Mas quem poderia ter feito isso com ele? Por Merlin, que mãe eu sou! Deveria ter protegido o meu filho.


- Não fale assim, Cissa. Você é uma mãe maravilhosa, nosso filho ficaria desapontado se a visse duvidar disso – ele esboçou um sorriso, tentando animá-la – e não adianta nos culparmos, amor. Vou sair agora à noite e procurá-lo por todos os lugares. Chamarei nossos elfos domésticos para me ajudar e...


Lucius foi interrompido pela chegada do casal Fudge no jardim. O Ministro parecia profundamente aborrecido com a situação, mas Brunette estava indiferente e demonstrou uma leve irritação em perder um pouco de sua noite ajudando a encontrar um pirralho perdido. Cornellius dirigiu a palavra ao casal Malfoy:


- Lucius, Narcissa. Eu sinto muito pelo desparecimento de seu filho. É devastador que nem ao menos na casa de um Ministro da Magia tenhamos segurança.


Lucius se levantou rapidamente do banco, seguido por sua mulher. Narcissa segurou a mão esquerda do marido com a sua direita e entrelaçou seus dedos nos dele. Ela evitava olhar para a Sra. Fudge, que agora parecia se entreter com o sofrimento de sua família e não fazia o menor esforço para esconder isso. Era impossível que Fudge não enxergasse o tipo maníaco com quem se casara, pensou a loura. O Ministro prosseguiu:


- Se isso os reconfortar, convoquei alguns dos meus melhores homens no Ministério para investigar o caso e buscar o filho de vocês. Todos estão apressando a partida. O desaparecimento do filho de um Conselheiro de Hogwarts é  caso de urgência. O grupo deve estar aqui no máximo em 1 hora.


- Muito obrigada Ministro – disse Lucius – Se o senhor me permitisse, gostaria de acompanhá-los nas buscas.


- Meu caro Lucius, creio que sua influência junto ao Ministério e as particularidades deste caso lhe autorizam a acompanhar nossas investigações – Colocando o chapéu coco que até então trazia nas mãos, o Ministro se despediu – Agora se me dão licença, tenho um compromisso com minha esposa que não pôde ser adiado. Comuniquem-me qualquer avanço, por favor, e no que eu lhes for útil, contem comigo.


Narcissa se adiantou em dizer:


- Muito obrigada, Ministro. Ficamos muito agradecidos com os seus esforços para encontrar Draco.


Assim que avistou o casal Fudge entrando na casa, dirigiu-se a Lucius:


- Meu amor, eu quero ir com você nas buscas. Ficar aqui só irá me deixar mais nervosa. Além do mais, não consigo permanecer nem mais um instante próxima àquela Brunette. Você reparou na expressão dela? Parecia contente com o sumiço do Draco – perdendo a paciência, ela completou num tom alto, irritado e histérico – não duvido nada que essa mulher horrível tenha um dedo nessa história.


Lucius parecia espantado com a reação da esposa. Narcissa raramente perdia a compostura. Era o exemplo perfeito da mãe de uma família bruxa tradicional, sempre solícita e preocupada com as boas maneiras. Falar daquele jeito inflamado era uma herança da família Black, muito conhecida por seus membros um tanto excêntricos. Contudo, sua esposa quase sempre conseguia passar longe da imagem descontrolada da família, ao contrário de sua irmã mais velha. Mas naquele momento, Lucius teve um vislumbre de Bellatrix Black Lestrange bem ali a sua frente.


- Narcissa, Brunette é esposa do Ministro. Qual interesse ela teria em sequestrar uma criança de 11 anos? – passando o braço pelas costas da mulher e a conduzindo até a casa, Lucius usou seu tom de voz mais suave para tentar dissipar o lado Black que aflorava nela – quanto a me acompanhar, meu amor, eu preferiria que você não fosse hoje à noite. Vai ser cansativo e você precisa descansar. Prometo que amanhã de manhã te levarei comigo.


- Mas Lucius, você não pode fazer buscas durante o dia! E suas reuniões? Estão na reta final, você não pode faltar.


Mais uma vez, Lucius mal acreditou no que ouvia. Aquilo era, com certeza, uma reação invertida. Normalmente era ele quem valorizava os negócios sobremaneira. Narcissa priorizava sempre a família. Mais uma prova de que, com o passar do tempo, o casal ia absorvendo as características um do outro e se tornando uma só entidade.


- Narcissa, minha prioridade é encontrar nosso filho. Você e ele são meu investimento mais importante, eu já lhe disse. Se alguma coisa acontecesse com Draco, eu não suportaria – uma lágrima escorreu pela face de Lucius, que já não conseguia disfarçar sua preocupação.


Narcissa enxugou o rosto do marido com o polegar e completou o que vinha tentando dizer a ele:


- Nós podemos conciliar as buscas pelo nosso filho com seu trabalho. Durante as noites você acompanha os homens do Ministério e eu farei o mesmo durante o dia, assim você pode comparecer nas reuniões. O que acha?


Admirando a coragem de Narcissa e o apoio que ela lhe dava mesmo nos momentos em que mais sofria, Lucius só conseguiu respondê-la com uma frase que há muito tempo não dizia abertamente:


- Eu te amo, Narcissa.


 


Os dias seguintes correram tal como o casal havia planejado. Lucius acompanhava as investigações durante a noite. Ao chegar em casa, tomava um banho e descansava por duas ou três horas antes de sair para as reuniões com os franceses.


Contudo, uma coisa vinha lhe perturbando bastante nos encontros. Não fosse por Narcissa ter-lhe falado sobre o desaparecimento da filha de Fausto Bugiardini, ele não teria percebido nada pelo comportamento do homem. O italiano sempre chegava bem disposto nas reuniões e se aproveitava do cansaço e da apatia de Lucius para se projetar.


Bugiardini, de fato, não demonstrava a mínima preocupação. Pelo contrário, andava mais feliz e audacioso que nas outras semanas, pouco lhe afetando a falta de notícias da filha desde terça-feira.


Já Lucius estava mais abatido do que nunca. As longas noites em claro e sua constante preocupação – não só com Draco, mas também com Narcissa que não dormira nada desde o desparecimento do filho e se alimentava muito pouco – minavam sua concentração e prejudicavam seu rendimento nas negociações, por mais que ele tentasse demonstrar para os franceses que estava bem e seguro.


 


No início da tarde de sexta-feira, Narcissa retornava para a casa do Ministro na companhia de Laura.  A cada dia estava mais desesperada por notícias. Draco havia sumido na terça-feira e até então os funcionários do Ministério da Magia não tinham sinal algum do menino. A filha da Sra. Bugiardini também não fora encontrada e as duas mães suspeitavam que seus filhos deveriam estar juntos, onde quer que estivessem.


As suspeitas de Narcissa eram, obviamente, de que o filho havia sido sequestrado. Ela só não conseguia entender por quem. Teve medo de que houvesse alguma ligação com o fato do marido ter sido um Comensal da Morte. Mas isso seria pouco provável, há anos Lucius era um homem respeitado no mundo bruxo, conseguira abafar os comentários de suas alianças com o Lorde das Trevas. O fato é que não havia uma explicação satisfatória para o que estava acontecendo e isso a deixava ainda mais sem rumo.


Nos últimos dias Narcissa vinha sentindo tonteiras, enjôos e dores de cabeça constantes. Mas pensou que só poderia ser resultado do nervoso que vinha passando. Preferiu não comentar com o marido. Pobre Lucius, estava tão desesperado quanto ela com a ausência de Draco e ainda tentava conseguir a sociedade no banco francês. Como a busca do Ministério da Magia britânico ainda não havia surtido resultados, ela decidiu tomar algumas providências por conta própria e trouxera Laura para a casa em que estava hospedada para que as duas fizessem cartazes com as fotos dos filhos, seus nomes completos, o nome dos pais e o endereço para encontrá-los. Laura, com sua ótima caligrafia, havia desenhado os cartazes e Narcissa os replicava com a ajuda da varinha.


- Laura. Eu preciso que você seja sincera comigo. – Narcissa disse em meio às pilhas de cartazes que as circundavam.


- O que é, Narcissa? Algum problema, alguma coisa sobre as crianças? – o tom da mulher se tornou apreensivo, afinal, durante aqueles dias, Narcissa nunca havia se dirigido a ela daquela forma.


- Eu suspeito que Brunette Fudge tem algum envolvimento no caso. Meu marido acha que isso não tem fundamento, mas não pude deixar de perceber que ela tem agido de maneira estranha em relação ao desaparecimento de Draco. Eu sei que ela é uma bruxa italiana e que talvez você a conheça melhor do que eu. Por isso – falando pausadamente e de modo convincente, ela prosseguiu – eu preciso que você me diga tudo que souber dela e que possa ser suspeito.


- Narcissa, eu fico envergonhada em falar sobre esse assunto, mas se é para o bem da minha filha... Brunette é a maior oportunista da sociedade bruxa italiana, mas isso você já deve imaginar.


- Sim, ela não se portou muito diferente na Inglaterra.


- Pois então. Antes de se mudar para a Inglaterra ela era amante de meu marido. – Narcissa fez uma cara horrorizada como que perguntando à Laura como mesmo sabendo de tudo isso ela tinha permanecido naquele casamento horrível – eu sei que eu deveria ter deixado o Fausto quando eu descobri. Mas a nossa relação é muito complicada e eu temo que se nos separamos ele se vingue nos meus filhos.


- Por Merlin, Laura!


- É. O fato é que os dois planejavam coisas muito audaciosas. Grandes negócios, grandes golpes. Eu os ouvi algumas vezes, costumava segui-los. Mas nunca soube ao certo quais eram seus planos. Só sei que ela o deixou no final do ano passado e poucos meses depois apareceu casada com o Ministro da Magia da Inglaterra, o que você, naturalmente, também sabe.


Os olhos intensamente azuis de Narcissa se arregalaram num instante. Um sorriso estranho surgiu em seus lábios.


- Laura. Acho que eu já compreendi tudo. Fausto e Brunette, como eu não havia percebido antes! Se você me der licença – disse a mulher agitada, levantando do sofá e precipitando-se para a escada, sempre mantendo a varinha em punho – eu tenho algumas coisas para esclarecer.


- Narcissa! Volte aqui.  Deixe que eu te acompanhe. – Laura saiu no encalço na loura.


- Me prometa que se eu permitir que você vá comigo, não interferirá nas minhas ações. Eu preciso descobrir algumas informações e você talvez não concorde com os meus métodos, mas penso que é a única forma de encontrarmos nossos filhos em segurança.


A outra mulher nem respondeu. Apenas acenou positivamente com a cabeça e seguiu Narcissa escada acima. A senhora Malfoy já tinha em mente um plano de ação. Nunca fora oficialmente uma Comensal da Morte, mas presenciou muitas reuniões de Lucius com Bellatrix e Rodolphus Lestrange e Severo Snape. Tinha raciocínio apurado e conhecimento de magia muito avançada, o que incluía a perfeita execução das maldiçoes imperdoáveis entre outros requintes de artes das trevas. Nunca ousou colocá-las em prática, mas naquele momento, com Draco correndo perigo num local desconhecido, não hesitaria por um instante em executar qualquer feitiço que fosse.


Chegou ao quarto de Brunette e, sabendo que o Ministro havia saído mais cedo, não murmurou alorromora e empurrou a porta sem se preocupar em pedir licença. Brunette estava sentada numa cadeira em frente à penteadeira, aplicando alguns produtos na face, mas não teve tempo algum para argumentar. Narcissa já havia apontado a varinha para a mulher e rapidamente enunciou:


- Imperio.


Uma sensação de quentura surgiu em seu cérebro, conectando-a à varinha e à mulher morena que se encontrava na sua frente, cujas feições eram plácidas, parecendo não se importar que tivessem lhe arrombado a porta do quarto e que alguém acabara de lhe enfeitiçar. Muito bem, Brunette. Agora quem está no comando sou eu, pensou a loura.


- E então, querida, vamos direto ao meu assunto. Quais são as notícias que você tem a me contar sobre um garotinho de onze anos chamado Draco Lucius Malfoy que sumiu misteriosamente desta casa na madrugada de terça-feira?


Narcissa teve que se controlar ao máximo para não lançar na mulher toda a sorte de feitiços que lhe ocorriam e que poderiam causar dor. Dissipando da mente todas as visões de maldições Cruciatus e de azarações ferreteantes, ela se concentrou em prosseguir o interrogatório.


- E então, meu bem? Conte aqui para a sua amiga. Alguma ideia de onde o Draco esteja? E da menina Bugiardini, algum sinal?


Brunette respondeu naturalmente, como quem contava a uma velha colega sobre uma viagem à Paris:


- As duas crianças foram levadas a um farol abandonado no final da praia. Quase ninguém vai lá, sabe? Então foi fácil para colocarmos barreiras mágicas e deslocarmos um grupo de guardas. Uma ideia ótima, não acha?


Segurando o impulso de saltar no pescoço da Sra. Fudge e acabar com aquela carinha jovem e dissimulada com as próprias mãos, a Sra. Malfoy manteve o tom ameno e prosseguiu com a influência da maldição:


- Será que não seria agradável se nós três fossemos dar um passeio até lá? Poderíamos observar o pôr-do-Sol, tenho certeza que será encantador! Vamos meninas? – dirigindo seu olhar para Laura percebeu que a mulher estava horrorizada, afinal ela acabara de executar uma maldição complicadíssima e ilegal, mas a Sra. Bugiardini manteve sua promessa, não interferindo de modo algum.


Brunette se levantou e fez menção de pegar a varinha, movimento que Narcissa captou com o canto do olhar e que a fez reforçar seu encanamento:


- Imperio.


Brunette ficou parada a meio caminho do local onde a varinha repousava sobre a mesa de cabeceira, mas foi distraída pela voz da Sra. Malfoy:


- Para que a varinha, Brunette? Vamos num passeio de garotas, para a praia, apenas. Acho que eu basto para proteger as duas, não? – sem que a Sra. Fudge percebesse, Narcissa pegou a varinha dela e a colocou num bolso interno do vestido.


Concordando alegremente com o passeio, a senhora Fudge saiu do quarto e foi caminhando a frente. Narcissa certificou-se de reforçar a maldição Imperius algumas vezes durante uma caminhada de quase meia hora. Ela preferiu não realizar uma aparatação acompanhada com a Sra. Fudge. Poderia chamar a atenção dos transeuntes ou dos guardas, quando elas se aproximassem do cativeiro.


Ao chegarem à porta do Farol, Narcissa deu um comando à Brunette para que voltasse para a casa e se trancasse no seu quarto, não saindo nem mesmo se o Ministro a chamasse. Foi prontamente obedecida, ficando sozinha com Laura Bugiardini. Estava mais nervosa que nunca. Seu filho se encontrava preso naquele farol e dependia apenas dela para sair daquele local horrível. Sim, apenas dela, porque, apesar de não ter comentado nada, ela já percebera o óbvio: Laura Bugiardini não era uma bruxa. Nunca a tinha visto empunhar uma varinha e notara durante os dias de convivência que a mulher desconhecia até mesmo os feitiços mais simples.


A Sra. Malfoy tinha a consciência de que aquele cativeiro deveria guardar barreiras mágicas de extrema complexidade e sentiu que, por mais que tentasse, talvez não fosse hábil para sozinha, defender as duas crianças, Laura e a si mesma e tirar todos dali em segurança. Foi então que se lembrou de Lucius. O marido era a pessoa certa para ajudá-la. Sendo um bruxo de talento muito apurado, e um homem extremamente preocupado com a família, ele derrubaria quaisquer barreiras que ali estivessem postas.


Sem hesitar, Narcissa pensou no momento mais feliz de sua vida: o dia em que Draco nasceu. Ela estava deitada na cama de seu quarto na Mansão Malfoy, o curandeiro havia acabado de deixar a casa. Draco estava no seu colo e Lucius sentado a seu lado, abraçando a ela e ao filho, com o olhar orgulhoso da família que eles tinham construído...


- Expecto Patronum!


Um pavão albino prateado saiu da ponta da varinha da bruxa, fazendo círculos em volta dela até parar completamente a sua frente, esperando por instruções. Ela deu uma mensagem ao animal e pediu para que ele a entregasse ao seu marido, o mais rápido possível. Quando o patrono já não era mais visível, ela suspirou, fechou os olhos e depois entrou no farol abandonado, certa de que aquela seria a missão mais importante que já realizara até então.


 


Numa sala de reuniões de um edifício em St. Tropez, Lucius Malfoy lutava para se concentrar no discurso do Sr. Apollinaire Roux, presidente do banco bruxo francês. Entre uma explanação sobre letras de câmbio e tabelas de investimentos percebeu que um pavão prateado dava bicadas furiosas na janela. O patrono da Narcissa. Levantou-se num pulo, desculpou-se com os investidores presentes e correu à janela, deixando que o patrono entrasse e o levando para o corredor. Quando estavam sozinhos, o pavão passou a ecoar uma voz doce, mas ao mesmo tempo preocupada, a voz de sua esposa:


Descobri para onde trouxeram Draco. O patrono irá te guiar até aqui. Só traga reforços se eles forem de confiança e não envolva o Ministério.

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Comentários (2)

  • Mari e Lara

    Jéssica, ficou meio tenso o final mesmo, né? Mas no 6 as coisas se resolvem... ou não, hehehe! Brincadeeira... Enfim, a previsão é que a gente poste agora no Carnaval! Obrigada por ter acompanhado a história até agora! Bjs

    2012-02-15
  • Jéssica S.

    olá meninas! Que tensão esse final, espero o próximo cap p/ ver a familia reunida de novo.Até lá.Bjs  

    2012-02-15
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