Negócios de Casal



Lucius subiu lentamente os degraus da escada, dedicando muita atenção a cada passo que dava. Apesar de ter prometido a seu filho que iria assegurar Narcissa sobre seus sentimentos, percebeu que essa seria uma tarefa muito mais difícil do que lhe parecera inicialmente. Por mais que tentasse encontrar palavras para iniciar a conversa, estas não lhe vinham à cabeça.


-Algum problema, Lucius? – perguntou alguém do alto da escada.


O homem olhou para cima e viu Cornellius Fudge vestido em calções de banho, uma toalha no ombro e em volta da cintura uma grande boia roxa com uma cabeça de dragão sorridente na frente. Lucius levantou uma sobrancelha:


- Não. Algum problema com o senhor, Ministro? – disse tentando reprimir a vontade de rir.


- De forma alguma. Pensei em dar um pulinho na praia. Brunette foi até lá para um mergulho noturno. – respondeu Fudge, e apertando a boia em sua cintura, completou – Na posição de Ministro da Magia, devo me esforçar para me encaixar no mundo trouxa. O que acha?


- Excelente, senhor Ministro.


E subiu rapidamente o restante das escadas. Que ultraje, o Ministro da Magia se ridicularizando para passar-se por um trouxa patético. Lucius jamais iria concordar com essa política de tolerância com os trouxas. Bruxos eram naturalmente superiores, não era correto que a magia tivesse que ser escondida dos trouxas.


Ao chegar à porta do quarto lembrou-se que tinha seus próprios problemas em que pensar. Lucius bateu suavemente na porta e a abriu em seguida:


- Narcissa?


A mulher estava sentada em uma cadeira ao canto do aposento, empunhando a varinha e inflando um objeto que ia tomando o formato de uma cabeça de pato. Ela estava vestida com as estranhas roupas de baixo que as trouxas usavam para ir à praia. Ela levantou seus olhos para o marido, com um olhar confuso:


- Lucius? Como foi a reunião dessa tarde? – perguntou Narcissa, levantando-se da cadeira.


- Que trajes são esses, Narcissa? Trajes trouxas? – disse Lucius inflamando-se. Mas a mulher veio em direção a ele, usando apenas roupas de baixo. Ele perdeu a concentração.


- Eu sei, meu amor. Mas são necessárias para irmos à praia. O Ministro diz que precisamos ser discretos...


Lucius virou-se para a cama, e agarrando um roupão jogou-o para Narcissa:


- Basta. Se vista com isso. – pediu o marido, o rosto corando – Você está me desconcentrando. Tenho um assunto muito importante para tratar com você.


Narcissa vestiu o roupão e sentou-se na cama. O que poderia ser?


- Muito bem, estou ouvindo. – respondeu ela, sem deixar transparecer a preocupação em sua voz.


Lucius cruzou os braços nas costas e se pôs a andar de um lado para o outro no quarto. Limpou a garganta e continuou:


- Draco veio até mim essa noite, compartilhar algumas preocupações a respeito de você. – disse formalmente, sem olhar na direção da mulher – A respeito do nosso casamento.


Narcissa engoliu seco. Seus temores estavam se realizando. Ela já via onde essa conversa poderia chegar. Lucius queria separar-se dela, e agora vinha a ela para discutirem os acordos do divórcio.


Ela tentou desviar sua cabeça de tais pensamentos. Lucius ainda não tinha dito nada sobre separação. Mas não pode deixar de pensar que se as coisas chegassem a tanto, ela poderia abrir mão de tudo. Dinheiro, posses, títulos. Mas Draco ficaria com ela. Somente o filho poderia fazê-la seguir em frente, caso Lucius a abandonasse.


- Narcissa? Você está me ouvindo? – perguntou Lucius, resgatando a mulher de seus devaneios.


- O que tiver que dizer, diga logo. – Narcissa olhou diretamente nos olhos cinzentos de Lucius.


O homem pareceu desconcertado, mas prosseguiu:


- Como disse, Draco pediu para conversar comigo. Ele me contou sobre a tarde que passaram juntos hoje e ele se preocupa, bem, ele se preocupa que nosso casamento esteja um pouco abalado – Lucius não pode sustentar o olhar da esposa e dirigindo seu olhar para a janela, continuou – Devo dizer que esses pensamentos não têm fundamento. Para mim, nosso casamento é tão feliz quanto poderia ser.


Olhou de volta para a mulher. Uma lágrima solitária desceu pelo rosto de Narcissa. Esta foi seguida por muitas outras. Lucius não sabia o que fazer. Sentou-se então ao lado da mulher e passou o braço por suas costas.


- Qual é o problema, meu amor? – perguntou. Ele acariciou suas costas até que ela se acalmasse.


- Eu sou suficiente para você, Lucius?


- O que quer dizer, Narcissa? – Lucius estava confuso.


- Você não preferiria estar com outra mulher? Diferente de mim? – continuou, a voz tremendo ligeiramente – Uma mulher que fosse mais jovem, mais bonita. Uma mulher como a de Fudge. Brunette tem se insinuado bastante para você. Não diga que não percebeu.


- Então é esse o problema? Brunette? – riu-se Lucius – Você não poderia estar mais enganada, Cissa. Aquela mulher não é nada além de uma aproveitadora. Uma mulher sedenta por poder. Não é o tipo de mulher     que me interessa. Além disso, Narcissa, você é muito mais bonita que ela.


Narcissa enxugou o rosto nas costas da mão. Levantou a cabeça e olhou para o marido.


- Eu não quero um casamento que seja apenas tão feliz quanto poderia ser. Eu quero mais que isso, Lucius. – agora sua voz era firme – Eu quero de volta o que nós tínhamos antes. Nós perdemos um pouco da nossa intimidade. Nos últimos meses você anda tão ocupado com esse maldito banco que não tem mais tempo para nossos assuntos.


Narcissa parou por um momento. Refletiu sobre o que havia dito e não pôde deixar de reconhecer sua parcela de culpa. Ela olhou para o marido, uma expressão triste se espalhou pelo rosto comprido.


- Eu também não tenho dado o meu melhor, eu reconheço. Toda essa história do Draco partir para Hogwarts tem mexido comigo. Tal como você, eu também ando perdendo facilmente a paciência. Não tenho sido carinhosa e não tenho cuidado tão bem de você como merece.


Lucius abraçou a esposa. Aproximando o seu rosto do dela disse:


- Eu fui tolo, meu amor. Desde a queda do Lord das Trevas, desperdicei todo o meu tempo com investimentos financeiros e assegurando uma boa imagem para nós na sociedade bruxa, achando que esta seria a melhor maneira de cuidar da nossa família. Não vi que estava deixando de lado meu empreendimento mais precioso. Você. Nosso filho. A vida que construímos juntos. – dessa vez Lucius disse tudo olhando nos olhos da esposa, sem corar ou engasgar – Esse empreendimento é o mais complicado que eu já participei, mas é também o mais importante. Não há diretrizes a se seguir, e eu fico inseguro às vezes. Mas nós vamos conseguir juntos, Narcissa.


Narcissa se comoveu com as palavras do marido. Isso era tudo o que ela precisava ouvir. Seus medos e inseguranças se dissiparam.


- Nós vamos conseguir, meu amor. Eu tenho certeza. – Narcissa segurou as mãos de Lucius e continuou a falar, sentindo a confiança que não experimentava há muito tempo – Desde a adolescência tudo que eu sempre quis foi construir uma família com você, Lucius. Nós já enfrentamos tantas coisas piores juntos que não serão algumas dificuldades com os seus negócios nem minhas inseguranças e meus ciúmes que irão nos afastar. Eu prometo que vou ajudá-lo a encontrar a melhor proposta de investimentos para os franceses. Vai ser ótimo, amor, pelo menos poderemos passar mais tempo juntos nessa viagem. Aliás, o motivo para que eu aceitasse viajar foi estar mais próxima de você por algum tempo.


Lucius sorriu para a esposa e, segurando seu rosto, beijou-a como há muito tempo não fazia. Narcissa retribuiu o beijo, sentindo que Lucius, assim como ela, estava empenhado em diminuir a distância que havia se formado entre eles. Pensou, aliviada, que não fora um desperdício se “esquecer” de colocar o pijama do marido na bagagem.


O casal não percebeu, mas um par de pequenos olhos acinzentados os espiava pela fresta da porta. Draco estava feliz e aliviado, os pais tinham se entendido. E graças a ele.


- Muito bem, Draco. – disse o garoto a si mesmo.


 


Nas semanas que se seguiram Narcissa fez como prometera. Lucius conjurou uma ampla mesa no quarto, onde espalharam rolos e mais rolos de pergaminho preenchidos com taxas e investimentos, variações de bolsas, coisas que Narcissa se esforçou para aprender, à medida que o marido lhe introduzia no mundo dos negócios. Narcissa se mostrou uma boa aprendiz e contribuiu para o andamento das negociações. Principalmente devido a sua presença nas reuniões. Sua simples presença parecia fortalecer Lucius, que apresentava resultados e propostas de uma maneira que impressionava a todos os outros.


Todos exceto o italiano. O senhor Bugiardini se mostrava a cada dia mais irritado com o sucesso do casal nas negociações e isso parecia influir em seu desempenho. O homem se tornava cada vez mais desesperado nas reuniões, apresentando propostas frágeis e que seriam impossíveis de cumprir, minando a confiança dos investidores no banco que representava.


O casal Malfoy, pelo contrario, se mostrava estável e inspirava confiança. O cuidado feminino de Narcissa se fundia com a objetividade e experiência de Lucius, apresentando os melhores resultados possíveis.


Narcissa e Lucius também haviam resgatado a velha paixão. Nas tardes livres saiam por longos períodos, passando o tempo juntos em cafés e restaurantes. Lucius tinha descoberto em sua esposa mais do que uma companheira. Ela era uma mulher inteligente e ele se lembrou de como era bom conversar com ela. Já Narcissa reencontrara no marido o homem atencioso e carinhoso com quem se casara.


A ausência do senhor e senhora Malfoy dava ao pequeno Malfoy muito tempo para se divertir, sem supervisão. Agora que suas preocupações a respeito do casamento dos pais já haviam sido sanadas, ele pode voltar sua atenção para seu plano secundário: infernizar a vida da senhora Fudge.


Os infortúnios de Brunette começaram logo na manhã seguinte a conversa de Draco e Lucius. Ao acordar e se dirigir ao banheiro para tomar um banho, deparou-se com um duende muito raivoso na banheira, que lhe mordeu o calcanhar. Xingando, ela saltitou em um pé só até o quarto e tratou da ferida, consultando-se em um livro de Gilderoy Lockhart.


Ao chegar na mesa onde todos já tomavam café da manhã, sentou-se na cadeira que lhe era sempre reservada. Ouviu-se então um som alto e um cheiro desagradável preencheu o ambiente. Todos pareceram surpresos, a exceção da criança que riu-se ao ponto de engasgar com os ovos que comia.

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Comentários (2)

  • Mari e Lara

    Jéssica, muito obrigada pelos comentários aqui na Fic! É ótimo saber que você está gostando!! O capítulo cinco já está em andamento, entra essa semana, se Deus quiser! E os problemas com o Draco.... beem, só podemos dizer que estão apenas começando =PBjs 

    2012-02-05
  • Jéssica S.

    Cap romantico e divertido, que bom que eles se acertaram e tomara que o Draco não se meta em mais problemas! Esperando o próximo cap Bjnhos!

    2012-02-05
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