Formatura



- A o quê? – Laura perguntou chocada, enquanto estávamos no dormitório, nos arrumando para a festa de formatura.


- Ordem da Fênix. – repeti. – Dumbledore disse que podíamos contar a você.


- Mas... mas... – ela balbuciou. – Por que ele não me chamou também? Eu poderia muito bem entrar nessa Ordem aí. Eu me considero uma boa duelista!


- Dumbledore deve ter seus motivos para não ter te convidado. – Alice disse olhando-se no espelho e se maquiando. Maria fazia feitiços e mais feitiços nos cabelos loiros de Joanne, enquanto eu arrumava os de Laura.


- Deve ter mesmo! Ele chamou o Pettigrew!


- Eu suponho que Dumbledore não queria excluir ele. Afinal, todos os amigos deles foram chamados. – Maria falou.


- E todas minhas amigas também foram. E eu simplesmente fui dispensada.


- Dumbledore deve ter seus motivos. – repeti; Laura cruzou os braços firmemente contra o corpo, de cara emburrada.


A formatura seria antes do almoço, que também era o banquete de encerramento. Eu e as outras garotas continuávamos a nos revezar a arrumar os cabelos e as vestes e por fim, às duas horas da tarde já estávamos prontas, as vestes vermelhas por cima dos vestidos, os cabelos arrumados prontamente debaixo dos capelos.


- Sempre achei esses chapéus idiotas. – Laura reclamou ajeitando seu capelo na cabeça. – Assim estraga todo o penteado.


- Tudo parte da formatura. – Maria explicou.


- Caramba, estou tão nervosa. – falei dando uma última olhada no espelho.


- Não se preocupe, Lily. Você está arrasando e tenho certeza que Pontas vai te aprovar. – Joanne riu.


- Não é só por isso. É nosso último dia aqui. E é nossa formatura.


- É esquisito. – Alice concordou.


- Vou sentir tanta falta. – Maria disse e Laura bufou quando percebeu que seus olhos marejavam. – Vocês prometem escrever?


- Não. – eu disse e todas olharam pra mim, surpresas. – Temos que continuar nos vendo, então não vai ser preciso cartas.


Nós nos entreolhamos e então nos envolvemos num abraço mútuo – tivemos que puxar Laura conosco, pois ela havia murmurado "quanta bobeira!", mas acabou cedendo.


Por volta das duas, todas descemos juntas e o Salão Comunal estava totalmente amontoado por uma nuvem de pessoas de vermelho no meio de poucas com as simples vestes negras de Hogwarts.


- Você está linda, Lil! – Tiago exclamou assim que eu desci a escada circular. Maria logo se juntou a Dougie e Joanne, Alice e Laura foram se encontrar com Edgar, Franco e Peter, respectivamente.


- Como assim? Estou com as mesmas roupas que você.


- Mas mesmo assim, você é linda. – ele sorriu bajulador.


- O que você quer? – perguntei cética. Ele ergueu as sobrancelhas, com ar de riso.


- Só estou fazendo um elogio, não posso?


- Mas você está querendo alguma coisa.


- Não, não estou. – ele revirou os olhos. – Mas e aí? Vamos?


- Vamos.


E a multidão de alunos saiu da Sala Comunal. Seguimos direto para os corredores, o Saguão de Entrada e daí para os jardins, conversando animados e fugindo das Bombas de Bosta que Pirraça tentava nos acertar.


Os jardins de verde vivo brilhavam a luz do sol; por sorte hoje não ia chover, senão eu já podia até imaginar a cara de Laura quando visse que o preparativo de nossos cabelos seria em vão.


A cerimônia da entrega dos diplomas ocorreria perto lago, como constatamos. Várias cadeiras de madeira branca foram postas enfileiradas, algumas já ocupadas por alunos de outras casas. A frente havia posto um pequeno palco, parecido horrivelmente com o do Clube de Duelos.


Os professores andavam pra lá e pra cá dando broncas nos alunos barulhentos e bagunceiros; o professor Dumbledore já estava no centro do palanque, vestindo vestes magentas costuradas com linhas douradas, conversando animadamente com o Professor Kettleburn.


Eu, Tiago e os outros logo nos arranjamos em uma fileira enquanto os alunos de mais casas também se aproximavam.


O murmúrio de todos continuava à medida que todos ocupavam seus lugares e, por fim, as aproximadamente cento e cinquenta cadeiras se encheram de vestes vermelhas.


Quando as conversas cessaram, Dumbledore se adiantou.


- Parabéns, formandos! – ele disse com a voz amplificada magicamente através de sua varinha. – A partir daqui vocês vão seguir seus caminhos, viver suas vidas tão determinadamente preparadas! E durante todos esses setes anos espero que tenham aprendido o suficiente para ter uma vida plenamente longa, feliz e cheia de sucesso!


Ele sorriu, seus olhos azuis brilhando a luz do sol.


- Vocês agora podem tomar rumo a uma estrada sem fim. Pois a morte não é um impasse, e sim um descanso. Há muita vida, muita história pela frente e desejo que vocês sigam retamente suas profissões, seus destinos e suas escolhas. E fico grato a cada um dos presentes aqui, por fazer isso se realizar.


Ele parou e sorriu novamente, seguido por uma rodada de palmas. Ainda estávamos muito encabulados com a história de "a morte ser um descanso".


- E agora, cada Professor responsável por sua casa chamará o aluno para receber o cobiçado diploma. – ele concluiu. – Herbert?


O professor Beery se aproximou, pomposo, e leu num pergaminho:


- Allen, Márcio!


As pessoas aplaudiram quando um garoto de aparência bruta se levantou. O professor Beery acenou com a varinha, conjurando um pergaminho enrolado. O aluno pousou para o fotógrafo (que deve ter sido idéia de Slughorn, pois era o mesmo homem barbudo e magricela) e descia de volta para juntos dos colegas.


- Ei! Almofadinhas! – ouvi Tiago chamar Sirius, que estava do outro lado da fileira, enquanto uma outra aluna subia no palanque.


- Quê? – ele disse em resposta.


- Vamos vaiar quando for a vez do pessoal da Sonserina?


- Você não vai vaiar ninguém! – reclamei.


- Mas, Lílian...


- Nada de "mas", Tiago. Não vamos criar confusões, por favor. É formatura.


Tiago suspirou, derrotado. Como uma boa persuadora beijei-lhe de leve no rosto, fazendo-o sorrir.


E o tempo passava. Vários alunos sorriam para a câmera com o diploma nas mãos e descia. A seguir, o professor Flitwick começou a ler com sua voz mais esganiçada, ainda agora com o Sonorus, a listagem dos nomes da Corvinal.


- Dearborn, Carátaco! – Flitwick chamou.


- Não é aquele que também pertence à Ordem? – Maria indagou, aplaudindo, quando o rapaz de cabelos castanhos e corpo ligeiramente baio se levantou.


- É ele mesmo. – confirmei.


- Kingston, Richard! – Flitwick anunciou depois de um tempo transcorrido.


- Ah, esse é o irmão do Robert. – Maria comentou.


Dougie fez cara de desagrado e disse algo parecido com "panaca".


- Achei que já tinha superado isso, Dougie. – Maria disse, deixando sua satisfação bem clara em seu tom. – Mas você sabe que eu só amo você.


- Mas eu não gosto desse cara. – ele murmurou aborrecido, enquanto Maria ria, abraçando-o.


Passado a lista dos alunos da Corvinal, era a vez da Grifinória.


- Black, Sirius! – McGonagall chamou e houve muitos aplausos, e pra meu desconsolo, vaias da turma da Sonserina.


- Agora vai querer que eu fique quieto? – Tiago perguntou irritado, apesar de estar contente ao mesmo tempo.


- Sim. Se você fizer a mesma coisa vai mostrar que é igual a eles.


Tiago franziu a testa, pensativo.


- Bolton, Joanne!


Joanne se levantou, sorridente em meio as palmas.


- Vou arrancar o pescoço nojento daquele Mulciber desgraçado... – Sirius rosnou assim que se sentou.


- Mantenha a calma, Almofadinhas. Eles só querem te provocar. – falei.


- Evans, Lílian! – meu nome foi anunciado depois de umas cinco pessoas.


Me levantei ligeiramente nervosa e caminhei entre as cadeiras. Tiago e Almofadinhas assobiavam, enquanto as vaias sonserinas eram praticamente inaudíveis. Slughorn me lançou um sorriso de incentivo quando subi no palco.


McGonagall conjurou meu diploma e depois o flash cegou meus olhos.


A lista continuava. E passou pela minha cabeça, muito nitidamente, a cerimônia do Chapéu Seletor.


- Holding, Peter!


- Longbottom, Franco!


Enquanto isso eu abria meu diploma. Tinha os habituais votos e as informações dos estudos, e o que me surpreendeu foi a foto ao lado das palavras. Era a foto que eu acabara de tirar ao lado de McGonagall e Dumbledore.


- Lupin, Remo!


- MacDonald, Maria!


Maria se levantou, fingindo uma elegância hilária.


- McKinnon, Dougie!


- Parkins, Alice!


- Pettigrew, Pedro!


- Potter, Tiago!


Tiago se levantou com um sorriso charmoso, a expressão tranquila e divertida e quando voltou ao seu lugar, lançou um sorriso irônico aos alunos da Sonserina sentados mais a frente.


- Tiago... – comecei assim que ele sentou.


- Já sei o que vai falar. Eu não fiz nada.


Decidi não discutir e mais tarde Laura foi chamada.


Slughorn começou a lista da Sonserina em seguida. Não foi preciso reclamar da atitude de Tiago: os alunos da Corvinal e Lufa-Lufa vaiaram por conta própria. Tiago não fizera o mesmo, mas seu sorriso dizia tudo.


E a chamada continuava, até...


- Snape, Severo! – Slughorn chamou.


Tiago vaiou e logo se calou, a julgar por minha expressão.


Severo caminhou lentamente, mais vaias do que aplausos, e nem ao menos sorriu pra foto junto de Slughorn.


O sol já passava do centro do céu quando todos os nomes foram chamados e poucos alunos tiveram a atitude de falar suas próprias palavras no palco.


Meu estômago já estava roncando quando Dumbledore voltou a falar:


- Então, que assim seja! Mais um ano está se acabando, e só tenho poucas palavras a dizer – ele sorriu, abrindo os braços – parabéns, formandos do ano de 1978!


E a começar por Sirius, que com certeza vira a cena em algum filme trouxa, ele arrancou o capelo da cabeça e jogou no ar. Imitado por ele todos os outros, inclusive eu, fizeram o mesmo. Depois os alunos da Lufa-Lufa e Corvinal. Os da Sonserina estavam jogando os seus nos outros alunos propositalmente.


As pessoas se abraçaram e se beijaram,algumas chorando, outras rindo.


Corri a abraçar Tiago, meus olhos com pequenas lágrimas, que ele as secou.


- Agora é vida nova, não é? – falei, em meio a um tumulto de vozes.


- É. – ele disse com a expressão repentinamente séria e constrangida. – Lílian, eu queria...


O resto, porém, não ouvi. Sirius se aproximara para nos abraçar junto a Lupin. Depois Maria, Dougie, Joanne, Rabicho, Emelina, Peter, Laura – a contragosto -, Edgar e Dorcas.


Pouco depois me encontrei com Hagrid, que estava "escondido" atrás de uma árvore próxima, só observando. Seus olhos tinham grossas gotas.


- Eu não acredito que vocês já estão se formando! – ele exclamou fazendo um grande barulho soando o nariz no que me parecia uma toalha de mesa velha e suja. – Outro dia... outro dia mesmo vocês eram apenas criancinhas!


- Não fique assim, Hagrid. – Tiago o consolou. – Nos veremos sempre que pudermos.


- Ainda mais – abaixei meu tom de voz. – porque agora participamos da Ordem da Fênix também.


Ele deu um sorriso.


- Eu sabia que vocês aceitariam!


E ele nos engolfou num abraço que me fez escutar estalos das minhas costelas.


Depois de muitas conversas e abraços partimos de volta para o castelo, agora sem as becas, que nos fazia suar através da luz quente do sol.


O resto da escola já almoçava e logo nos sentamos junto a eles. A comida estava melhor do que nunca, o que me fazia adicionar a minha lista de coisas que eu sentiria falta de Hogwarts.


- Vou sentir falta dessa comida. – Rabicho comentou junto a meus pensamentos.


- É a única coisa que sentirá falta, não é mesmo Rabicho? – Sirius riu-se.


- Vou sentir falta da minha cama. – Maria suspirou.


- E dos jardins. – Dougie disse.


- E das passagens secretas. – Tiago acrescentou.


- E de nossas noites de Lua Cheia. – Sirius lembrou-se; Aluado balançou a cabeça.


- Fale isso por você.


- Sentirei falta das aulas. – respondi.


- Pois você é a única. – Tiago disse.


- Também vou sentir. – Aluado concordou.


Assim como a comida, a sobremesa estava deliciosa. Com certeza os elfos capricharam mais do que de costume. E eu tinha que admitir que achava meio incorreto eles apenas trabalharem.


- É a lei dos elfos. Eles só devem servir seus donos. – Severo me explicara anos atrás. Fazia muito, muito tempo.


Logo depois de todos terem terminados suas refeições, Dumbledore começou a anunciar o vencedor da Taça das Casas. Grifinória ganhou pela segunda vez consecutiva.


- Taça de Quadribol e Taça das Casas! – Tiago exclamou contente, passando os braços pelo meu ombro. – Esse foi o melhor ano de todos!


- Sem dúvidas. – Dougie apoiou, enquanto a mesa da Grifinória, Lufa-Lufa e Corvinal comemoravam.


- Nada melhor pra uma festa de fim de ano. – Maria comentou.


- Estão brincando? – Sirius disse surpreso. – Isso só não basta.


- Como assim? – perguntei.


- Que tal fizermos um passeio à Hogsmeade? – Sirius disse com os olhos brilhando.


- Excelente idéia, Almofadinhas! – Tiago exclamou.


Eu desfiz o aperto de seu braço e o encarei.


- Nem pensar! Nada de passagens secretas! – ralhei.


- Lílian... – Tiago começou, mas Sirius balançou a cabeça.


- Relaxa. Já tomei conta de tudo. – ele jogou os braços por trás da cabeça, de novo.


- O que quer dizer com isso? – Maria perguntou curiosa.


- Almofadinhas conseguiu convencer Dumbledore de nos dar licença a ir pra Hogsmeade aproveitar o resto da tarde. – Aluado resumiu.


- Incrível! – Tiago bradou junto a Dougie.


- Foi mais fácil do que eu pensei. – Sirius disse despreocupado. – Dumbledore é um cara legal. Ele deixou apenas os alunos do sétimo ano, afinal, nós somos formandos agora.


- E agora Lílian? Ainda com a permissão de Dumbledore você vai querer ficar aqui? – Tiago desafiou.


- Aí é diferente.


A notícia do passeio se espalhou pelos alunos que deixavam o Salão Principal com uma pequena ajudinha de Laura. Vários alunos foram apressados para os dormitórios pegar dinheiro e voltavam para o saguão de entrada, onde Filch de cara amarrada e com certeza irritado de ter perdido uma tarde de descanso, já estava a postos com a listagem nas mãos.


Fomos todos juntos, assim como no passeio sucessor aos N.I.E.M.'s e caminhamos em direção a estradinha de terra.


Porém, antes paramos para olhar mais uma vez a escola, de longe.


- É esquisito, não é? Saber que nunca mais vamos voltar. – Tiago comentou.


- É triste. – completei.


- Deprimente. – Maria respondeu.


- Fantástico. – Sirius disse.


O olhamos incrédulos e um pouco ofendidos.


- ... é fantástico não assistir mais aulas chatas. Mas o castelo é incrível. – ele apressou a acrescentar.


Balançamos a cabeça e continuamos o caminho.


A vila estava, pra minha surpresa, lotada. Não era grande o número de estudantes, já que eram apenas alunos do sétimo ano. Mas tinha grande variedade de bruxos pra lá e pra cá. Estava realmente difícil de andar por ali, parecia mais uma rua movimentada de Londres.


- Nossa, que movimento! – Maria comentou em meio às conversas altas.


Duas bruxas de aparência idosa conversavam aos berros e eu cheguei à conclusão que ambas eram surdas. Tinha um bruxo atarracado vendendo Poções do Amor a um canto, onde era rodeado por várias bruxas com ar medonho e ceticamente superior. Além de bruxos, às vezes víamos duendes, baixos, de cara amarradas, andando apressados e falando uma língua desconhecida. Perto do correio havia um casal vendendo miniaturas de jogadores de vários times montados em vassouras, que voavam rapidamente de um lado pro outro: "Três miniaturas por um galeão!". Decidi comprar uma pra Tiago do tal de Mark Grower, que era apanhador dos Cannons.


Tentamos ir até a Dedosdemel, mas estava totalmente lotada, assim como a Zonko's e até mesmo a Madame Puddifoot.


- Porquê será que está tão lotado? – perguntei pra Tiago, enquanto nos espremíamos pra atravessar a rua, em direção ao Três Vassouras.


- Hoje é domingo. Os britânicos vêm todos pra vila em busca de diversão.


O pub estava tão apertado e abafado como os outros, mas Dougie insistiu que ficaríamos ali de qualquer jeito. Procuramos desesperados por lugares vagos, até que um grupo de viajantes se levantou e Tiago saiu em disparada para se sentar. Os bancos eram meios apertados para todos nós, mas conseguimos nos espremer.


Madame Rosmerta vinha em nossa direção com dificuldade, empurrando bruxos e tropeçando em duendes.


- O quê... – ela tentou dizer enquanto passava entre dois caras grandes, gordos e bigodudos. - ... vocês vão... querer?


- Er... quinze cervejas amanteigadas, por favor. – Joanne pediu.


Madame Rosmerta anotou rapidamente o pedido numa caderneta e saiu novamente, engolfada por mais pessoas.


- Foi uma sorte incrível termos achado esses lugares. – Edgar falou.


- Acho que entendi agora o porquê de nossos passeios serem sempre no sábado. – Dorcas comentou.


Demorou mais um tempo até Madame Rosmerta surgir com a varinha erguida e várias garrafas flutuando em nossa direção. Pagamos a ela e ela sumiu, indo atender outros clientes.


- Ah, nunca vou me esquecer da primeira vez que tomei uma cerveja amanteigada na vida. – Dougie disse contemplando sua própria garrafa.


- Nunca vou me esquecer da primeira vez que vim até Hogsmeade. – acrescentei.


- Há muitas coisas que não vamos esquecer. – Maria disse tomando um gole. – Por exemplo, o tapa que Lílian deu em Tiago no começo do sexto ano.


Nós rimos, relembrando.


- Caramba, tinha até me esquecido. – instei. – Qual foi o motivo mesmo?


- Eu queria retirar as calças do Ranhoso no meio da aula de Astronomia. – Tiago riu. – Nunca te vi tão brava. E o tapa doeu muito, devo acrescentar.


- Tenho até pena de Mulciber se o tapa foi tão forte quanto o que ela deu em você, Pontas. – Sirius disse, mas então forjou um espanto. – Peraí, eu disse isso mesmo? Retiro minhas palavras, ele bem que mereceu.


Nós rimos mais um pouco; Emelina quase se engasgou.


- Outra coisa inesquecível foi o que aconteceu com Dougie no segundo ano. – falei, sufocando o riso. – Quando o bicho-papão se transformou em Você-Sabe-Quem e ele saiu correndo da sala aos berros.


- Eu era criança, tenho isso em minha defesa. – Dougie ria.


- Não me lembro qual foi meu bicho-papão. – Sirius refletiu.


- Eu lembro. Era sua mãe dizendo que ia morar com você pra sempre. – Tiago gargalhou.


- Bem sua cara, Almofadinhas. – respondi.


- Mas a cena que eu queria ter visto de novo foi quando Alice e Franco começaram a namorar. – Laura os encarou, rindo. – Foi no quarto ano...


- ... e Franco foi tentar entrar pra equipe de quadribol pra chamar minha atenção e acabou se estatelando no chão.– Alice relembrou.


- Mas quando você me viu todo quebrado ficou com pena de mim. – Franco disse com os olhos brilhando.


E passamos o resto da tarde relembrando e relembrando. Lembrando quando Tiago fez um furo nas calças do professor Binns no terceiro ano e ele ficou se perguntando o porquê das risadas; quando Rabicho ficou trancado pra fora do quadro da Mulher Gorda porque esquecera a senha e acabou passando a noite ali; quando Joanne fez um escândalo por que um filhote de ararambóia foi parar acidentalmente dentro de sua mochila; quando eu fiz, sem querer, uma mandrágora voar por toda estufa, estilhaçando um dos vidros; quando Edgar esqueceu de pular um dos degraus soltos e acabou rolando dois lances de escada. E as histórias pareciam não acabar. Tantas coisas boas, divertidas, engraçadas, no único lugar que nos fazia feliz e que realmente nos mantinha unidos.


Já estávamos engasgados com a quarta rodada de cerveja amanteigada quando Maria olhou pela janela.


- Minha nossa! Já está de noite! – ela exclamou.


- Ficamos aqui tanto tempo assim? – perguntei, meio sonolenta por causa de tanta cerveja amanteigada.


- Acho que sim. Já são quase oito horas e...


Maria foi interrompida por um estampido, seguido por gritos e tumultos.


- O quê foi isso? – Edgar perguntou, alarmado.


- Parece que foi lá fora. – Tiago respondeu.
Deixamos o pagamento das últimas cervejas e caminhamos para fora do pub, o que não foi tão difícil: várias pessoas tinham saído para ver o que acontecia também.


Estava tudo estranho. As pessoas corriam e gritavam, apavoradas, empurrando, aparatando.


- O que está acontecendo aqui? – ouvi Almofadinhas perguntar.


Empunhamos nossas varinhas, atentos.


- Não sei. – Aluado respondeu, olhando mais adiante da vila. – Mas parece vir de lá.


Ficamos bem juntos para não nos perder, apesar de ser muito difícil de tanto que as pessoas empurravam. Tentamos subir a rua, mas fomos engolfados mais uma vez por milhares de pessoas que nos arrastavam.


- Mas o quê...?


Então Maria gritou, apontando para o Cabeça de Javali.


O estabelecimento tinha as janelas quebradas e a porta arrancada das dobradiças, jogadas de um lado, aos pedaços. Parecia estar tudo vazio, mas não era aquilo que estava chamando atenção.


Uma grotesca nuvem, parecendo uma fumaça verde, mostrava a figura de uma caveira de boca escancarada, olhos vidrados; mas ao invés de uma língua sair de sua boca, dela saía uma serpente, que causava arrepios mesmo sem emitir algum som. Foi o bastante para o pavor se apoderar de mim.


A Marca Negra pairava sobre o local.

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