Aula Tática



Naquela noite não dormi direito. Fiquei pensando em Sev e torcia para que no dia seguinte voltasse tudo ao normal.


Se aquele primeiro dia de aula não fora tão bom assim, como será o resto da semana, então?


Porém, a semana não foi tão ruim quanto eu esperava. É claro, Potter continuava a tentar chamar a minha atenção, mas eu já havia aprendido a ignorá-lo; quanto ao Sev, era incrível como raramente eu me encontrava com ele. Nas horas das refeições ele não estava presente. Imagino que se trancafiou no Salão Comunal da Sonserina. Eu nunca o via nos corredores, tampouco na biblioteca. As únicas vezes que eu o via era nas aulas de Poções, que apesar de eu manter distância de Potter e seus amigos a partir dali, ele não voltara a olhar pra mim. Eu tentava falar com ele no final das aulas, mas ele se esquivava e era sempre o primeiro a sair da sala.


- Se eu fosse você ficaria longe dele, Lilian. – comentou Maria, à mesa do café da manha do sábado, quando falei para ela e Dougie sobre minhas preocupações (Agora Dougie a ignorava). – Você sabe que é isso que eu acho, faz anos. Ele é totalmente fora de questão. Ele e seus amigos estão doidos para seguirem Você-Sabe-Quem assim que terminarem a escola. Você lembra o que um dos amigos dele fez comigo no quinto ano.


É claro que eu me lembrava. Mulciber, outro amigo do Sev além de Avery, lançara um feitiço que por muito pouco não arrancou a perna de Maria fora. Ela ficou uma semana na ala hospitalar. É meio gozado, mas foi a partir daí que eu, ela e Dougie ficamos amigos.


- Eu sei de tudo isso Maria, só que ele é meu amigo. – eu disse deprimida, brincando com um pedaço de torta de limão. - Conheço ele há tanto tempo. Ele que me falou que eu sou bruxa...


- Mas agora ele realmente está mostrando quem é de verdade. – falou Dougie lendo um exemplar do Profeta Vespertino.


- Não fale assim dele! – protestei. – Vocês não o conhecem direito...


- A gente o conhece bastante para dizer que ele gosta é das Artes das Trevas. – comentou Maria.


Eu abri a boca para contrariá-la, mas uma cabeça branca perolada submergiu do centro da mesa.


- Olá Lílian! – cumprimentou o fantasma.


- Olá Nick. – falei sem emoção.


- Ora, tire essa expressão do rosto, minha cara. – disse ele, agora flutuando sobre nossas cabeças. – Eu tenho um recado pra você.


- Recado? – perguntei intrigada. – De quem?


- Severo Snape. – ele respondeu, cordialmente. – Ele pede para encontrar a senhorita na sala de Transfiguração vazia do terceiro andar.


Meu ânimo se elevou ao máximo com a notícia.


- Obrigada Nick! – eu disse já me levantando.


- Aonde você vai? – perguntaram Dougie e Maria, em uníssono.


- Responder ao meu recado.


- Não é perigoso? – perguntou Maria. – Quero dizer, você sabe, é o Snape...


- Eu confio nele, Maria. – revirei os olhos e sai em direção à porta antes que ela voltasse a fazer perguntas.


Subi depressa as escadas, mas meu trajeto demorou um pouco porque tive que ir por um caminho mais longo, pois Pirraça, o poltergeist, andara aprontando por ali.


Quando cheguei à sala, a porta já estava entreaberta. Entrei.


Pra minha surpresa – e irritação – não era Sev que estava ali em pé, e sim Potter.


- Oi, Evans. – ele disse com um sorriso estampado de orelha a orelha.


- Eu não acredito! – exclamei. – Não era você que eu esperava encontrar!


- É, eu sei. – ele disse naturalmente. – Eu tinha certeza que você viria aqui se soubesse que era um convite do Ranhoso. Por isso pedi um favorzinho ao Nick para te mandar o recado trocado.


De algum modo, ele parecia triunfante, o que me irritou.


- Vai me dar uma detenção? – ele perguntou, erguendo as sobrancelhas, com sarcasmo. – Que eu saiba, não infringi nenhuma regra.


- Não, não vou te dar uma detenção. – falei. Minha voz saiu alta demais, tanto que ecoou pela sala. – Eu sou justa, e não dou detenção a toa. Mas também não vou ficar aqui. Esse favorzinho que o Nick te deu não valeu pra nada.


Eu me virei para sair da sala, mas ela se fechou com um estalo; a porta estava trancada e a varinha de Potter estava erguida.


- Alorromora. – falei, mas a porta não se abriu.


- Não adianta, só eu posso abrir. – ele disse brincando com a varinha. – A não ser que alguém a derrube por fora, o que é impossível. O corredor é vazio em dias de sábado...


- Me deixe sair, Potter.


- Não. – disse ele, divertindo-se.


- Isso é motivo de detenção. – falei irritada.


- Pode me dar quantas detenções você quiser.


Suspirei.


- Você realmente levou a sério aquela historia de "usar outra tática", não é?


Ele riu.


- Digamos que sim.


- E eu achei que você estava começando a mudar. – eu disse, me sentando numa cadeira próxima.


- Achou? – ele perguntou, pasmo.


- Achei. Ainda mais porque você parou de bagunçar o cabelo e ficar com aquele pomo pra lá e pra cá.


- O que você tem contra o pomo? – ele perguntou.


- Acho idiota. – respondi. – Mas voltando ao assunto, pra que é que você me trancou aqui, vai treinar algumas azarações comigo?


Novamente, ele riu.


- Não. Eu só quero conversar com você.


Ergui as sobrancelhas.


- E pra isso precisa me trancar em uma sala?


- É claro, você vive me ignorando! – ele protestou.


- Porque você merece ser ignorado.


Ele bufou.


- Eu estou tentando mudar, Evans, mas você não me dá uma chance. – ele disse e também se sentou. – Quem sabe no próximo passeio para Hogsmeade...


- Não.


- Mas você nem...


- Não Potter. – falei e então bocejei. – Quero sabe quando é que você vai me liberar. Sinceramente, estou me sentindo numa detenção.


- Também não precisa ofender. – ele fez uma careta. – Eu realmente queria que você me levasse a sério. Uma vez na vida. Você poderia me levar a sério.


Ele me encarou, meio que profundamente, esperando que eu dissesse alguma coisa, mas não houve reação em nenhuma das partes.


Por fim, eu falei.


- Nao dá pra sair com você, porque você não passa de um garoto arrogante que gosta de azarar os outros.


- Mas eu já disse que parei! – ele exclamou.


- Então prove.


- Se eu provar, você vai ter uma relação amigável comigo?


- Quem sabe. – eu disse.


Ele ficou um tempo pensando.


- E se eu... – ele começou a dizer, mas houve um estrondo e a porta se escancarou.


Sev entrou correndo desembestado na sala, com a varinha erguida.


- Sev! – exclamei.


- Eu perguntei de você pra seus amigos e eles me disseram que você foi supostamente se encontrar comigo. – ele explicou e lançou um olhar furioso a Potter. – O que você estava pensando em fazer com ela?


- Não é da sua conta, Ranhoso. – Potter tinha puxado sua varinha.


Eu fiquei no meio dos dois, com a varinha preparada caso um deles resolvessem lançar algum feitiço.


- Ah, não! – minha voz saiu esganiçada. – Vocês não vão brigar aqui!


- Ok, então. – disse Potter. – Vamos lá pra fora, Ranhoso.


- Parem! – exclamei enquanto os dois tentavam passar por cima de mim. Seria uma cena bizarra visto por outro ângulo.


- Como você quer que eu pare, Lilian! – disse Sev, agora gritando. – Esse desgraçado estava te trancando aqui e você ainda defende ele!


- Eu estou defendendo vocês de si mesmos, se é que me entendem. – falei desesperada.


Então, inesperadamente, Potter abaixou a varinha.


- Tudo bem, Ranhoso. – ele disse, erguendo as mãos em sinal de rendimento. – Eu não vou te azarar, ok? Não que você não mereça, mas a Evans...


Ele começou, mas interrompeu a frase, olhando para mim.


- ... a Evans vai entender o porquê.


Ele ainda de varinha abaixada saiu pela porta, mesmo com Sev apontando a sua para ele.


- O que ele quis dizer com "a Evans vai entender o porquê"? - ele perguntou, guardando a varinha no bolso da calça.


- É que eu... eu falei pra ele não azarar mais você. É isso.


- Não precisava ter feito isso! – reclamou ele. – Eu sei me virar sozinho! Você e essa mania de me defender em relação ao Potter e seus amigos!


- Eu não posso ver você sofrendo, Sev. – eu disse e então lhe dei um sorriso. – Mas então, você voltou a falar comigo?


- Eu fiquei meio descontrolado quando te vi com o Potter na aula de Poções, me desculpe... – ele olhou para os joelhos.


- Só se você me prometer não ter essas crises de novo.


Ele levantou a cabeça e sorriu.


- Vou tentar.


Sev me acompanhou até o retrato da Mulher Gorda e fiquei feliz que nem Dougie e nem Maria estavam no Salão Comunal, me bombardeando de perguntas. Subi para o dormitório das meninas e me joguei na minha cama. O dormitório estava vazio, exceto pelo gato de Alice Parkins, uma das garotas que dividia o dormitório comigo.


Eu estava muito mais feliz e com a consciência muito mais leve. Consegui fazer Sev prometer que pararia com essa implicância de mim com o Potter e consequentemente parar de azará-lo, assim como Potter já mostrou progresso não azarando ele hoje. Será que o Potter estava disposto a mudar realmente?


A única coisa que eu podia fazer naquele momento, olhando para o dossel vermelho da minha cama, era torcer para que ambos fossem cumprir suas promessas.

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