Capítulo 10



Capítulo 10


 


- Imagino que de alguma forma você tenha usado seus feitiços para fazer contato com alguém de meu tempo. Imagino também que eu seja a única pessoa viva neste lugar, afinal já se passaram sete séculos desde a época de vocês até a minha, e isso me faz pensar de que forma você conseguiu fazer contato comigo. Como? – perguntou Rose.


- Criança, a feitiçaria é talvez uma das artes mais inexplicáveis que existem no mundo. Aqui em minha época, tenho certeza de que talvez você encontre poções, encantamentos que com certeza você jamais aprendeu em sua escola para bruxos, pois muitos dos pergaminhos que continham material para uma arte mágica e extremamente avançada, foram perdidos em guerras e em outras ocasiões que são inúmeras.


“Mas respondendo à sua pergunta, em um certo pergaminho, escrito pela própria Morgana, existe um encantamento que se é realizado através de um ritual, que mostra como é possível fazer contato com quem está vivo.


“Tenho esse pergaminho comigo há séculos, e sim, parece algo realmente incrédulo de se ouvir – falou a mulher a Rose que deixou espaçar um riso ante a palavra ‘séculos’ – pois fui uma das alunas de Morgana, talvez a única que existe até hoje, embora na verdade, eu não exista realmente.


E com essas palavras a feiticeira foi até uma estante onde pegou um grande pergaminho e o entregou a Rose. Ele dizia:


 


“A arte de se comunicar com os vivos, só pode ser praticada por quem um dia morreu, o que é óbvio, mas também complexo. Embora existam crenças de que mortos não podem se comunicar com quem ainda é provido de fôlego (vida), um estudo avançado sobre as forças que cercam a magia, diz que, embora a pessoa feiticeira que já está morta, é capaz de fazer contato com quem está vivo, se este alguém que está vivo tem alguma ligação extremamente forte e constante (ou seja, que não será desligada um dia) com quem morreu. Também diz que diante de situação de extrema importância o contato aflora de forma mais forte e tão forte que é capaz, não só de fazer contato com um vivo, mas de trazer o vivo ao passado que ainda é um presente, por mais incompleto que seja, de um morto.


É, porém, necessário um ritual para fazer o contato com a pessoa que está que fortemente ligada ao morto.


O ritual pede que seja sacrificada existência de poderes de quem precisa fazer contato com o mundo vivo. É algo doloroso para um feiticeiro, mas o passo de fazer contato com um vivo já significa que o morto deseja esquecer sua própria existência e não mais viver sua morte, ou seja, deseja simplesmente morrer de uma vez por todas e tornar-se eternamente, inconsciente.


Os motivos pelo qual um vivo está ligado a um morto são poucos. Talvez sejam ligados pelo sangue da descendência, ou até mesmo por indeterminadas capacidades que o vivo possa possuir e que o morto um dia já possuiu.”


 


- De acordo com o que diz aqui, imagino que se vocês conseguiram fazer contato comigo, significa que de alguma forma eu estou ligada a uma de vocês. Quem? – perguntou Rose.


- A mim. – respondeu uma voz angelical, porém também um tanto autoritária e que pertencia à menina que Rose havia enxergado algumas vezes.


- Estou ligada a você de que forma? – perguntou Rose, agora realmente assustada.


- Não sei, mas você pode me ajudar, a saber. Eu sou Katelyn Glorvius de Lefroze. Sou, ou melhor, era recém nomeada rainha de toda a Inglaterra quando morri.


- Então você acha que estou ligada a você através do sangue? Ma não existem bruxos nem bruxas da realeza.


- Podem até não existir, mas imagino que em seu tempo não existam também feiticeiras.


- O que você quer dizer?


- Quero dizer que em meu tempo existiam coisas que não existem no seu, mas que existem coisas que foram passadas de alguma forma do meu tempo para o seu e independente de existirem ou não bruxos da realeza em seu tempo você carrega o sangue dos de Lefroze em suas veias.


- Isso é impossível. Como uma coisa assim pode acontecer?


- Busque sua árvore genealógica por parte de seu pai.


- Se eu sou descendente de uma rainha não deveria ter Prince ou Queen como sobrenome? – perguntou Rose.


- Muitas coisas são esquecidas durante o tempo e acabam se tornando inexistentes de acordo com as épocas. – falou a feiticeira retornando a conversa.


- Olha, isso é tudo realmente muito incrível, mas não sei se eu consigo acreditar. Por exemplo, tem muitas coisas que imagino que possam estar acontecendo, mas não sei se estão.


- Como por exemplo...? – perguntou Katelyn.


- As pessoas vivas podem perceber minha ausência?


- Não. Você voltou no tempo dos mortos e isso faz com que ninguém perceba sua ausência, ou seja, é como se o tempo tivesse parado. – respondeu Katelyn – Mas é necessário que você tome cuidado, afinal se algo acontecer com você aqui o futuro, que é seu presente, sofrerá com os efeitos colaterais.


- Eu sei. A história não pode ser mudada; mas então por que você precisa de mim se não posso te dar vida?


- Não é a vida o que eu desejo. Já vivi e por escolhas erradas, que na época julguei ser o melhor para mim eu morri. Mas quem permaneceu vivo não aceitou minha morte e por isso não sou como um fantasma.


- Ah, agora entendo. Um fantasma existe porque não aceitou sua morte e você existe porque alguém não aceitou sua morte.


- Sim, e isso me obriga a existir em uma existência constantemente igual todos os dias.


 - Você quer então que eu acabe com sua existência é isso?


- Quero simplesmente que eu possa estar na condição em que eu me propus. Eu era para estar morta, mas morrer fez com que alguns odiassem a vida e amaldiçoassem o dia em que morri, me condenando assim a reviver todo dia o dia em que morri até a hora de minha morte.


- Quem fez isso te amava?


- Sim.


- Desculpe, mas não consigo enxergar amor em sua história. Se ele te amava por que simplesmente não aceitou sua escolha, mesmo tendo sido errada, deixando que você pudesse descansar em paz?


- O amor se transformou em ódio ao saber que eu havia duvidado dele.


- Você duvidou que ele realmente te amasse e se matou.


- Fiz isso. E por isso ele me condenou a uma morte eterna. Sou capaz de sentir arrependimento, pois me arrependi ainda em vida e isso dói muito mais do que se eu simplesmente tivesse achado que não importaria morrer, nem para mim.


- Continuo achando que ele não te amou.


- Eu pedi perdão.


- E ele te condenou. Não existe amor aí. Sinto muito, mas você não sabe o que é ser amada por alguém de verdade e muito menos amar. Amar é aceitar e se possível esperar.


- Quer dizer que eu deveria ter esperado para ele dizer se estava com outra ou não? – berrou Katelyn.


- Sim. Quer saber o que é amor verdadeiro? É aceitar a condição em que o outro se encontra e ainda assim continuar amando, mesmo que o outro seja incapaz de retribuir esse amor.


- O que te aconteceu para pensar assim?


- Vi quem eu amei, por durante anos sem saber, perder a memória porque eu impus uma condição para pertencer a ele. E por mais correta que tenha sido minha atitude, ele agora não se lembra de mim e de mais nada. – contou Rose permitindo que as lágrimas caíssem para poder desabafar. Ela estava querendo chorar daquela forma desde que Scorpio havia sido obliviado, mas não se deixava permitir tal coisa, pois estava tentando provar para si mesma e para os outros, que era forte.


- Eu sinto muito, de verdade. Mas creio que algo possa ser feito. – falou Katelyn.


- Sim, ele está em um hospital onde curandeiros estão tomando conta dele, fazendo exames e tentando fazê-lo lembrar, não só com feitiços, da vida a qual ele fazia parte. – explicou Rose.


- Não quis dizer isso. Creio que a mágica antiga, desconhecida de vocês bruxos do futuro, seja capaz de ajudar. Mas seria necessária muita dedicação a encontrar o que uma vez se perdeu. – falou a feiticeira e Katelyn concordou.


- Mas eu posso levar algo assim para o futuro?


- Claro que pode. Você só não pode trazer nada do futuro para cá, pois ainda não foi inventado.


- Mas então... Minhas roupas, minha varinha... Como...?


- Sua varinha pode ter sido fabricada no futuro, mas contém expressões mágicas que a completam fazendo com ela caminhe com você independente de quando ou onde você for. – explicou a velha feiticeira – Quanto às suas roupas, bom, você está aqui conosco e nós sabemos que você é do futuro, mas quanto aos outros...


- Outros? – perguntou Rose interrompendo a mulher.


- Sim, morreu todo um reino no dia da morte de Katelyn. Bom, quanto aos outros, creio que se assustariam com suas vestimentas. Mas isso não é problema, pois creio que a senhorita seja capaz de conjurar uma igual a de nossa época.


- Sim, mas por que eu não posso usar uma emprestada de vocês?


- Porque você não pode usar o que já não existe mais.


- Mas eu segurei o pergaminho. – afirmou Rose, de repente entendendo seu próprio questionamento – Ah, então os pergaminhos ainda existem?


- Sim. Tenho muitos comigo, até mesmo um que pode ajudar o seu amado, mais rápido do que curandeiros. Até porque eu vi que seu amado não vai se recuperar do óblivio, pois foi muito forte a magia que foi lançada nele. Imagino que tenha sido feito um feitiço provindo das Artes das Trevas, pois um simples encantamento teria apagado a memória dele por poucas horas.


- Quer dizer que só vocês podem salvá-lo?


- Errado. Só você pode salvá-lo, pois apenas você é capaz de voltar no tempo morto para recuperar o que se perdeu, uma vez que é descendente legítima da rainha Katelyn Glorvius de Lefroze. – falou a feiticeira aumentando imponentemente o tom de sua voz ao anunciar o nome de Katelyn.


- Como eu posso ajudar vocês?

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