Capítulo 7



Capítulo 7

- Era dia de sua coroação. Você não estava no castelo para os preparativos da cerimônia. Passeava em um campo distante, em outras terras; terras de outro rei. Lá você conheceu um dos príncipes do palácio, o mais jovem deles, e se vocês se apaixonaram no primeiro instante em que se olharam. Mas vocês sabiam que não podiam e nem poderiam ficar juntos, pois apesar de não serem de reinos inimigos, o jovem príncipe já estava condenado a um casamento arranjado desde que nascera. Porém vocês não ligaram, para nada disso.
“Viveram aquele único dia como se fosse o mais importante de todos os dias das suas vidas. Mas uma hora você teve que voltar para o castelo e ele pediu que você não o fizesse. Você estava a um passo da sua escolha quando o jovem príncipe foi intimado a comparecer ao palácio e, diferente de você, que hesitou em cumprir seus deveres, foi diretamente para o palácio, se reunir ao rei.
“Indignada com a atitude dele, partiu para o seu castelo a fim de cumprir com suas obrigações, independentemente de amá-lo. Assim tudo se seguiu como seguiu hoje, até a hora da festa, onde você viu um senhor muito baixo e gordo, uma bela senhora alta e elegante, uma outra senhorita, jovem e muito bonita e ele, seu amado príncipe comprometido. Logo concluiu que aquela era a noiva do rapaz, quando viu os dois de mãos dadas. - Mas a senhorita estava errada, mas jamais imaginaria uma coisa dessas. – Então, quando você foi abençoada e partiu para a segunda parte da festa, não veio direto aqui para baixo se encontrar comigo, como acabou de fazer.
“Acontece que você é incapaz de se lembrar como morreu, então continuou vivendo seu dia sem nem ao menos imaginar tudo o que aconteceu antes de estar aqui.
- E o que aconteceu?
- Você sabia que sua mãe, antes de seu pai se converter, era adepta da magia e feitiçaria, então sabia que ela escondia, mesmo após a conversão, uns frascos com determinados materiais que ela utilizava. Foi até o esconderijo dela, que era desconhecido de todos, mas não de você, pois ela sempre te levava lá para aprender com ela, e pegou um frasco que você sabia ser um veneno letal. “
Na hora do brinde, você havia tomado o vinho misturado com o veneno que você mesma colocou em seu copo. Mas não podia imaginar que efeito fosse tão devagar. O jovem príncipe a convidou para dançar e você, com intuito de se vingar dele, aceitou. Tinha um plano bolado em sua cabeça. Vocês dançaram três músicas, quando ele lhe contou que o porquê de ter ido daquele jeito para o seu castelo quando fora intimado.

“- Desculpe-me bela princesa por ter agido de forma indigna perante vossa presença, sem nem ao menos ter-lhe dado um porque de eu ter agido de tal forma antes mesmo de agir.
- Meu caro, não há o que explicar. Tu fizeste tua escolha e eu decidi fazer a minha.
- Bela dama que roubou meu coração, a verdade é que fui falar com meu pai para ele tentar cancelar meu compromisso de casar com a princesa Heloíse e quão deliciosa foi minha surpresa, quando ele disse que se eu arranjasse alguém para me casar em uma semana que eu estaria livre do meu compromisso. Eu voltei para te dizer, mas tu já não estavas mais lá. – falou o rapaz fazendo com que lágrimas caíssem de teu rosto.
- E me diga, quem é aquela dama que estava de mãos dadas contigo?
- Minha irmã Brigdte. Quem achou que fosse?”

- Naquele instante, quando ele anunciou que a bela menina que estava de mãos dadas com ele era suã irmã, você soube que havia feito a escolha errada, mas que essa escolha não tinha volta.
“Você começou a sentir que o veneno estava fazendo efeito e tudo o que conseguiu dizer ao rapaz foi “Me perdoe.”. Então você caiu no colo dele, morta. Mas como você sabe, depois de morta não tem consciência de que está morta, veio direto para cá, já morta.
- Nem ao menos vi meu corpo caído ao lado do príncipe?
- É engraçado, nem ao menos se lembra do nome dele. Criança, você não é sua alma que saiu de seu corpo. Você é seu corpo morto, vivendo.
- Não consigo entender isso. Como posso ser meu corpo morto e estar vivendo? Eu não deveria ser como um fantasma?
- Não e sim. De certa forma você é um fantasma, mas só que, ironicamente, de carne e osso.
- E o que vai acontecer agora? – perguntou a menina – Por que eu morri e vim direto para cá?
- Porque é para cá que os mortos vêm quando morrem. Sou uma feiticeira e única esperança que os mortos têm está aqui.
- E qual seria essa esperança?
- Fazer contato com os vivos para a morte findar. No dia de sua morte, seu amado príncipe Hector amaldiçoou este lugar e todos aqui. Ele estava indignado com sua morte repentina e ficou com mais raiva ainda quando descobriu que você havia se matado. Ele imaginou o porquê de você ter feito isso e então resolveu amaldiçoar a todos. Você sabe que essas coisas pegam, ainda mais quando a feitiçaria não existe apenas perto de onde se vive.
- Como assim?
- Hector era aprendiz de Merlin. Quer dizer, Merlin deixou muitos estudos pelo mundo onde viveu, e várias dessas relíquias existiam no reino de Hector e lá, é tradição que os filhos homens do rei aprendam magia provinda de Merlin, enquanto as filhas mulheres aprendem a de Morgana.
- Isso tudo é incrível. Mas como fazer contato com os vivos?
- Você quando era viva, sonhava. Fazer contato através de sonho, com alguém que por algum motivo está ligado a você, mesmo quando este alguém não está dormindo, ajudará.
- E por que até hoje não ajudou? Quer dizer, todos os dias a gente tem esta conversa, todos os dias tentamos fazer contato com os vivos, mas como saber que estão funcionando as nossas tentativas de contato?
- Não vemos o que está vivo, mas os vivos podem ver o que morreu, mesmo quando isso está escondido. Talvez, depende da sorte, pois os mortos jamais têm certeza de algo, os vivos que hoje habitam este local onde vivemos, sintam e vejam nossas tentativas de contato.
- E se não virem nunca? E se sempre tentarmos e nada acontecer? E se eles estiverem a apenas uns anos de nós ou se estiverem a milhares de anos na frente?
- Os mortos nada podem ver que seja vivo e nada podem sentir. Porém você saberá quando não mais sofrer diariamente sabendo que morreu e que nunca esteve com seu amado.
- Hum, mas você tinha comentado algo sobre saber como teria sido se eu tivesse vivido.
- Querida, você não teria se casado com Hector, pois os pais dele receberiam na hora do baile a notícia de uma guerra contra o seu reino e mais uma vez, Hector teria feito uma escolha que te desagradaria. Ele teria lutado contra seu reino, destruindo tudo o que você mais amou, mas sem deixar de te amar jamais. Porém você, desesperada, cairia em depressão e morreria.
- Quer dizer que de qualquer forma eu morreria?
- Mesmo que não tivesse sido assim, você morreria, um dia. Ninguém é imortal; mas sim, você morreria. E querida, devo te dizer que tudo o que teria acontecido, aconteceu, porém para você “teria” acontecido, pois você morreu e não pôde ver que o seu ‘teria’, virou ‘foi’.
- Quer dizer então, que a única razão de eu poder estar convivendo com todos aqui, todos os dias o mesmo dia, é porque estão todos mortos também?
- Exatamente. Você só vive o mesmo dia que eles, pois todos morreram no mesmo dia. Senão você viveria sozinha neste dia, enquanto eles fossem viver o dia que morreram. Sinto muito, de verdade; mas por enquanto não posso te dizer se estamos fazendo contato com os vivos.
- Amanhã as suas palavras serão diferentes?
- Minha querida, tudo irá se repetir, mas sim, amanhã eu posso te contar as coisas com palavras diferentes, mas não você.
- Isso é estranho, pois se fui capaz de vir até aqui assim que morri, eu deveria ser capaz de lembrar o que acontece depois de minha morte.
- Bom, isso só depende de você. Isso não é impossível de acontecer, mas se não aconteceu até agora é porque a dor ainda é grande demais para você suportar, para você aceitar sua morte.
- Como eu posso aceitar então?
- Não sei. O dia está acabando... – falou a velha de repente - Isso é tedioso. Como eu daria tudo para não ter que viver presa sempre no mesmo dia com consciência de tudo o que vivi e de que terei que viver tudo novamente. Até amanhã.
- Até amanhã. – falou Katelyn chorando e de repente, tudo se escureceu... Em breve um novo dia nasceria.

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