Reencontro/ O mundo lá fora



Na véspera de natal no começo da noite Harry esperava Hermione e a Sr. Granger em na sala acompanhado do pai de Hermione.


–       Foi muita gentileza sua nos convidar Harry.


–       É sempre bom vê-los. A casa ainda está um pouco... escura, mas estou tentando melhorá-la aos poucos.


–       É bem mais interessante assim; gosto desse clima diferente. Que sons são esses?


–       Alguns quadros eu acho. Depois de um tempo a gente nem nota como eles reclama guardados no sótão.


Hermione desceu com a mãe; eram bem parecidas e estavam muito elegantes. O Sr. Granger acompanhou o olhar de Harry para a rua.


–       Estava pensando em jantarmos na cidade depois do espetáculo! – disse Harry ajudando Hermione com o casaco. – Tenho certeza que o senhor conhece bons restaurantes Sr. Granger.


–       É tenho uma idéia de onde podemos ir. Que tal pegarmos um taxi?


–       Ótima idéia! Senhora, senhorita... – disse Harry deixando Hermione e a mãe passarem.


O motorista do taxi hesitou quando Harry disse para onde o grupo queria ir; era um terreno baldio aos olhos dos trouxas. O trajeto demorou pouco mais que quinze minutos; Harry olhava pelo espelho retrovisor e sorria toda vez que o motorista o olhava curioso. Provavelmente com suspeitas se Harry pagaria pela corrida.


–       Pode nos apanhar mais tarde? Às dez horas?


–       Claro – respondeu o motorista conferindo o dinheiro – dez em ponto.


Havia apenas um outdoor com a foto de uma modelo; Hermione puxou o pai e Harry que a admiravam. Deram um passo e a bela fachada do teatro surgiu tomada por bruxos que aparatavam em grupos e subiam pela escada para a entrada toda iluminada. Assim que entraram Kingsley veio cumprimentá-los.


–       Robson Crusoé – comentou o Sr. Granger – que tema interessante para ser encenado por bruxos.


–       Um trouxa que sobrevive anos numa ilha sem auxilio de mais nada além da própria capacidade intelectual. Muito interessante! – disse Kingsley cumprimentando a Sra. Granger.


–       Isso diz muito a respeito de nós não acha Granger? – perguntou o Sr. Strickland, o representante do governo trouxa.


Harry não estranhou que ele e o Sr. Granger se conhecessem; a fama dos Granger como dentistas era equivalente a fama de Hermione como bruxa.


–       Sobre alguns de nós com certeza. – respondeu educadamente o Sr. Granger.


–       Fui procurar seu antigo endereço.


–       Estivemos uma temporada na Austrália e quando voltamos resolvemos comprar uma casa mais afastada do centro.


–       Demorei em localizá-los.


–       Podia ter perguntado a mim. – disse Kingsley.


–       Se estiver procurando um dentista terei prazer em indicar um colega.


–       Não. Só queria saber onde estava morando. Da próxima vez não se esqueça de mencionar ao governo... por favor.


–       Se resolver me mudar de novo talvez eu avise... – respondeu o Sr. Granger.


–       Sinceramente não sei o que Strickland pretende, mas não há base legal para isso! Trouxas não são obrigados a informar a ninguém aonde vivem. Ainda mais a outro trouxa! – disse Kingsley zangado.


–       Strickland é apenas um homem com uma dentição ruim e mau hálito. Pessoas assim tendem a ser desagradáveis. – comentou o Sr. Granger.


Harry e Kingsley riram. Hermione e a mãe já estavam em seus lugares.  A Sra. Granger olhava para os camarotes.


–       Os Weasley compraram um camarote para toda a temporada, mas acho que ninguém veio está noite. Que pena seu amigo não poder vir também.


–       Ele não gosta de teatro. – disse Harry sentando ao lado de Hermione. – Ah, veja a Srta. Dale e o filho.


O filho de Kingsley demorou a se sentar; tinha um ar desconfiado e sentou de mãos dadas com a mãe. Kingsley foi chamado ao palco e dedicou a peça a Deanna Troy. Hermione balançou a cabeça.


–       O que?


–       Patrick disse que ele faria isso.


–       Você o viu?


–       Sim, hoje à tarde...


–       Esteve no apartamento dele? O que fizeram?


–       Harry! Meus pais! – disse Hermione o cutucando dolorosamente. – Não fizemos nada! Só passei para vê-lo!


–       É? Como ele está?


–       Bem... ele quase conjurou um patrono, com forma de um tipo de felino...


–       Já volto! – disse Harry procurando por Kingsley. Contou sobre Patrick poder lançar um patrono.


–       Se ele tem bons pensamentos.


–       Está brincando!


–       Alguns bruxos mesmo... qualquer bruxo pode lançar um patrono! Se ele achar que sua melhor lembrança foi matar alguém...


–       Não acredito que Hermione foi vê-lo!


–       Fique calmo Harry! Logo Hermione saberá a verdade e você sabe que ela não gosta dele!


–       Sim...


–       E você está preparado?


–       Pra que?


–       Para a volta dos Weasley a sua vida?


–       Sim! Não vejo à hora de poder ver Gina e tentar convencê-la que me amar ainda pode valer à pena.


–       E Rony e Hermione?


–       Também. Eles... ela tem de seguir em frente. Ela merece.


–       Que bom que pense assim.


Os dois cumprimentaram a Sra. Twicht e a filha Anjelica e voltaram aos seus lugares.


O ultimo sinal soou e todos acabaram de sentar. Uma introdução apresentada pelo bruxo gordinho de corte de cabelo engraçado explicou ao publico sobre Daniel Defoe escritor inglês trouxa autor do livro. Harry pouco prestou atenção à peça. Olhava para as portas laterais onde vários Revistadores cuidavam da segurança. Andavam de um lado para o outro com as mãos para trás. Havia bem menos do que ele e Kingsley pretendiam, mas um deles chamou mais sua atenção.


–       Esse cara não descansa...


–       O que? – Hermione perguntou aos sussurros.


–       Nada. – Harry respondeu rápido.


Não houve intervalos e uma hora e meia depois Harry tentou conduzir Hermione e os pais para saírem rápido, mas a concentração de pessoas nos corredores era tão grande que nem Harry e Hermione notaram a aproximação sorrateira de Rita Skeeter.


–       Sra. Granger como vai? Gostou da peça? E essa deve ser sua irmã?


–       Minha mãe. – disse Hermione tentando fingir não estar aborrecida.


–       Que prazer! – exclamou Rita. – Conheço pouquíssimos trouxas! Deve ter muito orgulho de sua filha!


–       Sim, eu e meu marido temos muito orgulho dela.


–       Não devem saber muito a respeito da vida privada de sua filha. – disse descendo os óculos e encarando a Sra. Granger. – Sabe que é a única herdeira da Sra. Kessler? Além da obra e do acervo inestimável ela também herdou uma grande quantia em ouro.


–       Você já sabe de tudo! Que bom; achei que ia me fazer um monte de perguntas. – disse Hermione sorrindo.


–       O que vai fazer com os livros proibidos de Lena Kessler?


–       O dinheiro será usado para financiar estudos de futuros bruxos sem condições próprias.


–       Que bondade, mas e a obra de Lena Kessler? – perguntou Rita encarando Hermione e a mãe.


–       Vamos! – disse a Sra. Granger puxando a filha por uma brecha.


–       Não é de se esperar que uma trouxa saiba a importância desse ato para a história da magia. – disse Rita segurando o braço de Hermione. – A sempre surpreendente Sra. Kessler a colocou num dilema não é? Vai tudo ser incinerado como manda o figurino?


–       Solte a minha filha. – disse a Sra. Granger tirando a mão ossuda de Rita Skeeter do braço de Hermione.


Passaram por Noah Marchasson que comentava sobre a peça com alguns bruxos.


–       Figurino totalmente fora da época! Um autor trouxa pode ser desconhecido para a maioria, mas não para mim...


Ele parou de falar quando viu Hermione passar. Deu um sorriso e a cumprimentou.


–       Rita a incomodou? – perguntou Harry ajudando Hermione e a mãe a passarem pela multidão.


–       Como sempre...


Deram um susto no motorista quando surgiram do nada. O Sr. Granger deu as instruções para chegarem ao restaurante.


Apesar do horário havia muito movimento e Harry e os Granger foram muito bem recebidos. Harry e Hermione deixaram de lado suas preocupações e passaram algumas horas agradáveis.


Desceram do taxi; Harry deu uma boa olhada na calçada. A rua estava muito escura.


Hermione acomodou os pais em um dos quartos mais antigos da casa dos Black. Os parentes de Sirius enlouqueceriam se soubessem que um casal trouxa dormiria naquele cômodo.


–       Diga boa noite ao Harry. – disse o Sr. Granger beijando a testa da filha e fechando a porta.


Harry continuava de pé na sala escura olhando a janela. Rapidamente Hermione contou o que Rita Skeeter havia dito.


–       Conheci uma menina alguns anos atrás que me disse que havia coisas mais importantes que livros.


–       Ela disse é?


–       É...


–       Pare de olhar pela janela!


–       Desculpe...


–       Feliz natal! – disse Hermione entregando um pacote para ele.


–       Obrigado. Não comprei nada para ninguém... e nem fizemos uma decoração de natal.


–       Faço isso num minuto amanha!


–       Uma capa! Muito bonita, obrigado Hermione!


Harry a ajeitou sobre os ombros. Hermione o abraçou com força e caminhou até a escada. Harry deu uma ultima olhada pela rua escura como breu e fechou a cortina.


Depois de meses deitado no sofá ouvindo Hermione subir aqueles degraus naquela noite ele a seguiu.


 


Não foi difícil Rony convencer Twain a deixar substituí-lo na vigia da casa de Harry. Principalmente no meio da madrugada quando o Revistador estava tão bêbado que mal podia andar.


–       Como se eu não tivesse mais nada pra fazer! Perdendo tempo com uma trouxa! Ainda bem que ela não é tão ruim de olhar!


Rony segurou a gargalhada o quanto pode quando Twain tentou explicar que a casa que deviam vigiar estava na frente dos dois, mas não estava. Rony podia ver muito bem o numero doze. Estava tudo muito silencioso. Para chamar atenção de Rony perdido em suas lembranças sobre a casa Twain o pegou pelas vestes. O reflexo de Rony foi se livrar das mãos dele e acabou o derrubando na calçada. O Revistador levantou zangado com a varinha apontando para Rony.


–       O que pensa que está fazendo?


Twain investiu contra Rony. Não foi preciso muita força para fazê-lo voltar ao chão. O rapaz ficou sentado olhando para Rony.


–       Nunca tinha reparado como você é alto.


–       Muitos caras são altos.


–       É... o cara que me atacou também era. E agora me lembrei de um detalhe... Não espere... esqueci... Vou me vingar daquele cara.


–       Está bêbado. Vá pra casa.


–       Vou matar aquele cara! Ele me atacou!


–       E quebrou seu nariz é todo mundo sabe!


–       Eu disse a todos que foi acidente de quadribol.


–       Você me contou que ele quebrou seu nariz.


–       Por que eu contaria a você a verdade?


–       Por que somos amigos.


–       Somos?


–       Por isso vou te ajudar a vigiar a garota de pernas bonitas!


–       Isso mesmo!


 


O sol da manha de natal saiu fraco. Harry tentou preparar o café com panquecas e torradas sem magia e o resultado foi muita bagunça.


Ouviu barulho na porta; era Patrick. Estava com uma ótima aparência e carregava uma sacola. Depois de hesitar um pouco o deixou entrar.


–       Feliz natal.


–       Obrigado.


–       Hermione onde está?


–       Dormindo ainda.


–       Você não dormiu no sofá essa noite. – observou Patrick dando uma olhada pela sala. Uma pequena árvore de natal enfeitava a mesa de centro.


–       Não.


–       Trouxe um presente pra Hermione; vou lá em cima entregar.


Patrick subiu até o quarto; bateu na porta e esperou. Harry o seguiu.


–       Eu disse que ela ainda está dormindo.


–       Eu ouvi. Só quero vê-la. – disse Patrick torcendo a maçaneta.


Hermione dormia profundamente; Patrick se aproximou e a observou; as janelas fechadas deixaram o quarto escuro. Harry se colocou na frente dele.


Os dois se encaram por alguns segundos. Hermione despertou e se assustou ao vê-los a centímetros um do outro.


–       Desço em um minuto... – respondeu Hermione confusa puxando os lençóis.


Os dois rapazes desceram em silencio e encontraram o Sr. Granger tentando salvar uma das panquecas de Harry.


–       Conselheiro Rent. – disse o Sr. Granger apertando a mão de Patrick.


–       Desculpe pela bagunça Sr. Granger.


–       Tudo bem Harry.


Hermione desceu acompanhada da mãe. Todos tomaram café juntos. Por alguns momentos Patrick parecia o cara que Harry conhecera meses atrás. De sua varinha ele fez aparecer dois belos arranjos de flores, um para Hermione e o outro para a Sra. Granger.


–       Adorei o presente. Adoro flores!


–       Não foi nada. – disse Patrick. – O homem da floricultura que fica em frente à sede do FALE.


–       O Sr. Schubert! Faz séculos que não o vejo!


–       Ele me disse que você o ajudou com os aromas das flores; a mantê-los por mais tempo e ele sabia quais são suas preferidas.


–       Rosas.


–       Ele nem queria cobrar quando disse que era pra você!


–       Ele empregou dois elfos recentemente. Não vejo a hora de voltar ao FALE; deixei todos meus outros afazeres para seguir a Sra. Kessler!


–       Escreva outro livro! – disse Harry.


–       Estou pensando nisso também.


Patrick não se demorou mais. Hermione o acompanhou até a porta. Ele devia, mas não conseguiu disfarçar; enxugando os olhos tirou do bolso a caixa com a gema de ouro que Patrick havia lhe dado.


–       Não – disse ele fechando as mãos sobre as dela – fique! É muito raro e sei que pode parecer... mas guarde. Inclusive a minha...


–       O que pensa para conjurar um patrono? – perguntou Hermione puxando as mãos.


–       No começo na minha mãe... Depois do beijo que te dei, mas nas ultimas horas na dedicatória que escreveu pra mim.


–       Aquilo não tem mais valor... era para uma outra pessoa que eu achava que conhecia.


–       Bela capa! – disse Patrick para Harry o vendo no canto do corredor.


–       Obrigado...


–       Melhor eu ir então...


Harry e ele apertaram as mãos. Foi a última vez que se cumprimentariam amigavelmente.


 


Patrick viu os Granger surgirem do nada entre as casas e entrarem num taxi mais adiante. Acenou para Twain alguns metros dali. Começou a andar e a refletir no tempo que deixara a floresta onde passou muito tempo escondido com a mãe. Conseguira uma carreira de prestigio no Ministério da Magia e algum dinheiro. Mas a verdade era que precisava cada vez mais da poção e em intervalos cada vez menores; não havia muito mais o que fazer. Aquela altura não era só a dor física que Patrick queria que parasse. Um grupo de trouxas bêbados passou por ele. Rony viu um dos homens voltar e pedir um trocado a Patrick.


–       Não fale comigo trouxa.


–       Qual é cara você está bem vestido! Que falta lhe fará alguns trocados?


–       Saia de perto de mim.


–       É natal! – disse o homem tentando apertar a mão de Patrick.


–       Você quer que aperte sua mão? – disse Patrick o segurando com força. – Muito bem!


Patrick quebrou o pulso do homem que começou a gritar. O grupo foi em direção a ele, mas se dispersou ao vê-lo de perto.


–       Ele avisou. – disse Twain ao lado de Rony. – Vou falar com ele; não saia daqui.


Twain passou por cima do trouxa gemendo no chão; conversou com Patrick por alguns minutos e voltou para onde Rony estava. Patrick aparatou.


–       Ele nos dispensou. Vamos tomar alguma coisa!


–       Pra onde ele foi? – perguntou Rony preocupado.


–       E daí?


–       Seu demente! Ele acabou de ferir aquele homem e nem se preocupou que ele o visse como ele realmente é! Ele te contou o que vai fazer! Deu alguma ordem?


–       Não é da sua conta! – disse Twain dando as costas para Rony. – Agora você e o outro estranho obedecem só a mim. E sabe o que eu quero agora? Beber! E quero que você venha comigo!


–       Fui eu que quebrei seu nariz! – disse Rony. – Quando foi matar aquela mulher e falhou! Ela está bem viva, segura em algum lugar só esperando o momento de mandar esse seu chefe pra Azkaban.


Twain demorou em entender, mas quando conseguiu ficou furioso.


–       Seu maldito! – disse Twain investindo contra Rony que apenas desviou do pobre feitiço que ele lhe lançou.


–       Furnunculus!


O corpo de Twain foi coberto por furúnculos inflamados. Rony simplesmente o empurrou e tirou sua varinha.


–       Diga o que Patrick planeja.


–       Amante de sangues ruins!


Mais furúnculos começaram estourar na pele de Twain.


–       Imagine isso acontecendo dentro de você. – disse Rony com raiva. – Ele lhe disse o que vai fazer!


–       Vou matá-lo assim que tiver chance!


–       Você teve centenas nos últimos meses. Diga-me o que Patrick Rent pretende?


–       Ele vai embora.


–       É isso? Ele vai embora e acabou?


–       Foi o que ele disse... Achei que ele era melhor do que é... É um covarde também como o cara que me bateu!


Rony o largou lá sem quase poder se mexer; bêbado e o rosto deformado pelas feridas. O homem que Patrick ferira já estava sendo atendido.


 


Emily esperou por Rony no Solar Benbow por um bom tempo; Draco estava dormindo. Para afastar a preocupação e o mal estar que sentia resolveu comprar um presente para Rony. Achou melhor usar a conta de Fulton em Gringotes para sacar algum dinheiro. O banco abria normalmente no dia de natal e devia estar vazio. Um duende a conduziu até uma das portas para entrar no vagão até o cofre.


–       Será que você pode ir bem devagar? Acho que essa descida pode não me fazer bem.


–       Não! – respondeu o duende secamente.


–       Estou grávida se é que não notou!


–       Não tenho o dia todo moça. Entre no vagão!


–       A senhorita tem razão! – disse Percy Weasley se aproximando.


Pelo que Rony falava do irmão Emily não estranhou ele estar trabalhando no dia de natal.


–       Eu a acompanho.


–       Obrigada! Não é muita coisa! – disse Emily pegando a chave da bolsa.


–       Eu sou Percy Weasley.


–       Eu sou... a Sra. McLaggen.


–       McLaggen? Como o jogador?


–       Sim...


–       Muito prazer.


Os dois sentaram no vagão ouvindo os resmungos do duende.


–       Isso não é um passeio.


–       Presente de última hora? – perguntou Percy.


–       Mais ou menos. E você?


–       Trabalho.


O duende diminuiu a velocidade ao ver outro vagão no caminho.


–       Mas que...


Vários vagões estavam empilhados mais a frente. Em alguns havia marcas de sangue. O cofre de Fulton estava próximo.


–       Fique aqui. – disse Percy saindo do vagão, mas Emily não o obedeceu. Estavam ainda numa área longe dos trilhos sobre os precipícios das profundezas do banco


A porta do cofre de Fulton tinha sido arrancada; Etien Louer havia se libertado. Sua forma era grotesca; quase um lagarto de pele azulada. O chão e as paredes estavam cobertos de sangue. Fulton surgiu na porta muito ferido.


–       Vão embora... – disse se segurando em Percy.


O duende horrorizado e surpreso correu para o vagão, deu ré e fugiu.


–       Era pra levar a gente junto! – gritou Emily. – Fulton!


–       Minha querida... – disse ele cambaleando.


Etien Louer caminhou em direção a Emily. Ela viu bem de perto os olhos do Sr. Escamoso.


–       Sentimos muito em deixá-lo aqui! – disse ela timidamente.


Emily chegou a pensar que o tempo que o deixaram preso serviu como uma espécie de hibernação para que Etien Louer acabasse de se transformar na criatura que a encarava.


De repente ele se virou; Patrick estava parado sobre os trilhos segurando muitos sacos de ouro. Os dois se encararam por alguns minutos e o Sr. Escamoso sumiu na escuridão dos túneis. Patrick se virou para Percy e Emily.


–       Incrível o que as pessoas guardam em seus cofres... Ora, ora quem temos aqui! – disse se aproximando de Emily. – A Sra. McLaggen! Ficou muito bem com essa cor de cabelo!


–       Seu...


–       Ah, não se estresse. Se eu lançar um feitiço em você agora perderá esse bebê depois de carregá-lo por todo esse tempo!


–       Patrick, você está preso em nome do Ministério da Magia! – disse Percy ficando na frente de Emily e apontando a varinha.


–       Estamos em recesso e ainda sou um Conselheiro seu bobão!


–       Pra trás Patrick! Temos provas!


–       Bunko me entregou? Ele não está aqui e ele nunca sai daqui.


–       Não sei nada sobre isso!


–       Achei sangue na sala dele... – Patrick estalou os dedos. – Por isso Harry me seguiu quando subi as escadas; ele achou que eu pudesse entrar no quarto que Bunko está se recuperando! Harry Potter... Não deixaria ninguém morrer na frente dele... Nem um duende sujo como Bunko! Incrível!


–       Não sei nada sobre isso! – repetiu Percy.


Patrick começou a se aproximar mais rápido dele e de Emily; a cada passo foi ficando ficou mais alto; os braços se alongaram e a cauda surgiu. Era parecido com o Sr. Escamoso; o andar curvado pensou Emily; talvez Patrick se tornasse como o pai senão fosse a parte do sangue de sua mãe.


–       Não toque nele! – avisou a Percy o puxando pelo braço.


–       Pare... – gritou Percy sob o olhar de desdém de Patrick.


–       Você não é o herói Percy. É só um rato de escritório! Não pretendia machucar ninguém...


–       Mentiroso! – gritou Emily.


–       Ok... Então só vocês dois! Percy, o mais idiota dos Weasley; muito nesse momento concordariam comigo...


–       Não zombe do meu irmão! – gritou Rony saltando de um vagão e chutando Patrick no rosto.


Rony conjurou um escudo; mesmo assim Patrick o encurralou entre a parede e um vagão. Alguma coisa acertou Patrick com força na cabeça; uma pedra arremessada por Emily. Percy arrancou os pregos que fixavam os trilhos e os arremessou contra ele. Rony o atingiu com o feitiço nos pés e depois na cauda. Uma queimadura se formou, mas logo sumiu. Patrick tomou a varinha de Rony e a jogou no chão.


–       Se não podia comigo...


As costas de Patrick começaram a ser atingidas por feitiços lançados por Percy e Emily.


–       Ai! Se não podia comigo antes... Aí! Parem! Deixe-me terminar: se não podia comigo antes agora...


O Sr. Escamoso ressurgiu em um dos túneis. Patrick apontou a varinha para ele.


–       Crucius!


–       Fujam! – gritou Rony.


–       Cuide deles!Vá atrás deles! – mandou Patrick.


Percy levou Emily pela mão, mas mesmo grávida Emily parecia mais ágil que ele.


–       E agora? – perguntou Rony. – Consegue controlar o Sr. Escamoso e me segurar ao mesmo tempo?


–       Claro que consigo... Sr. Escamoso? Vocês se conhecem?


–       Ah, sim ele é um velho amigo...


Rony acertou Patrick um soco em cheio no nariz. Mas ele se recuperou mais rápido do que Rony e revidou com dois socos que jogou Rony contra um dos vagões


–       Gosta de quebrar narizes não, é? – disse Patrick o virando.


–       Lá em cima está cheio de gente do Ministério! Todos atrás de você! – gritou Percy de algum lugar.


–       Ah, é? – disse Patrick jogando Rony dentro do vagão.


Mesmo quase inconsciente Rony pode ver quando em uma das curvas o Sr. Escamoso saltar sobre o vagão aumentando a velocidade.


–       Crucius! – tornou gritar Patrick.


Etien Louer se contorceu por alguns metros até que Patrick disse que se ele obedecesse não usaria novamente a maldição. Os dois tornaram a se olhar e o Sr. Escamoso ficou parado.


–       Vamos Rony! Nunca passamos um tempo só nos dois. – disse Patrick rindo.


–       Sua cauda está balançando. Quer dizer que está feliz?


Rony pagou muito caro pelo comentário.


 


Quando Rony abriu os olhos reconheceu o conforto da cama e as cores do quarto, mas logo sentiu o nariz e as costelas doerem como nunca. Gina estava sentada ao lado da cama.


–       Hermione! Emily! – disse tentando se sentar.


–       Emily está com mamãe e a Sra. Granger no meu quarto; ela terá o bebê em algumas horas.


–       Percy? Fulton?


–       Percy está bem, mas seu amigo...


–       Hermione? Ela está aqui? – perguntou Rony agitado.


–       Não...


–       O que aconteceu? Só me lembro de Patrick me fazendo de saco de pancadas... Cadê o Harry?


–       Fique calmo ok? – disse Gina.


Harry entrou no quarto os dois estavam muito diferentes. Harry ainda com o cabelo muito curto e Rony de cabelos escuros. Olharam-se como dois estranhos.


–       O que aconteceu?


–       Patrick escapou de Gringotes... – disse Harry – estava insano acompanhado...


–       Aquele é o pai dele! Etien!


–       Os dois juntos mataram uma dezena de duendes e Revistadores e... ele levou Hermione... – completou Harry.


Rony saltou da cama sobre ele; mesmo com Gina o segurando; mesmo estando ferido Rony segurou Harry pelo pescoço. Os dois caíram no chão do quarto.


–       VOCÊ DEIXOU? Deixou Hermione ir embora com aquele psicopata!


–       Rony! – disse o Sr. Weasley entrando no quarto e tirando o filho de cima de Harry.


Nesse momento Rony percebeu que Harry mal conseguia se mover e como ele estava ferido nas costelas e o braço numa tipóia.


–       Estamos nos preparando para invadir a floresta e trazê-la de volta! – disse Harry se arrastando até uma cadeira. – A floresta fica em Yorktown estamos indo para lá agora. Eu, Kingsley e centenas de Revistadores! Sabemos de tudo...


–       O que você teve que fazer Rony! – disse Gina acariciando o rosto do irmão. – Emily contou tudo o que passaram...


–       O caderno...


–       O feitiço foi liberado. – disse Harry. – Eu li tudo!


–       Cale a boca!


O Sr. Granger e Kingsley entraram no quarto. Rony passou por eles para ver Emily; ela estava se preparando para dar a luz.


–       Falta pouco agora... – disse a Sra. Weasley.


–       Córmaco estará aqui em breve! – disse Emily pálida segurando a mão de Rony.


–       Ótimo. – respondeu Rony nervoso.


–       Eu vou ficar bem.


–       Sra. Granger?


–       Sim, ela vai...


–       Meu afilhado!


–       Vou chamá-lo de Fulton.


–       Você precisa ir Rony. – disse a Sra. Weasley. – Ela ficará bem.


–       Deixá-la aqui depois de tudo que passamos juntos!


–       Eu sei, mas você tem de tirar Hermione daquele mostro! Ela precisa de você agora...


Harry o aguardava no corredor. Rony começou gritar e os dois se pegaram de novo.


–       Pedi a você que a protegesse! – disse Rony com raiva.


–       Acha que não estou com medo de não vê-la mais? Estou apavorado!


–       Parem! – gritou a Sra. Granger empurrando os dois. – Se amam tanto minha filha como dizem não fiquem aí discutindo! A tragam de volta! AGORA!


 


O céu laranja dava impressão de um final de tarde de verão, mas Hermione sabia que não era real; era como o teto do Salão Principal em Hogwarts. Fora e acima da fina neblina estava muito frio e talvez até já fosse noite. Da sacada da torre de mármore ela podia ver toda floresta; a cachoeira, árvores muito altas e alguns pássaros voando juntos.


–       Gostou?


–       É...


Patrick entregou a Hermione um copo d’água.


–       Está tremendo?


–       Você... está um pouco diferente...


–       Essa é minha verdadeira forma há algum tempo. Meu pai me deixou assim antes de abandonar minha mãe. Eu era bonito não era?


–       Era...


–       Vai demorar pra você se acostumar, mas sou eu mesmo Hermione. Fora isso sou um homem normal.


–       Você tem uma cauda.


–       E garras!


–       Ahhh! – exclamou Hermione dando um salto para trás.


–       Desculpe! Estava só brincando! Não se assuste não vou machucá-la! Eu gosto de você. Venha vou mostrar tudo a você! Cresci aqui e é muito maior do que parece!


–       Quem são essas pessoas? – perguntou Hermione vendo um grupo passando carregando potes, vasilhas e cestas. As roupas eram bem gastas algumas feitas de pele de animais. Os rostos envelhecidos e sem emoção.


–       São bruxos que vieram para cá fugindo de alguma coisa e minha mãe os deixou ficar. Acabaram se juntando ao vilarejo que já estava aqui.


–       Eles têm varinhas?


–       Não! Eles podem plantar e caçar, mas sem varinhas. Não ficaram felizes em me ver.


–       Suponho que ninguém possa sair.


–       Não, ninguém que entra aqui pode sair. Sei que está pensando que Harry virá buscá-la e com certeza ele virá, mas não poderá entrar.


–       O que pretende Patrick?


–       Bem... Eu tinha planos, mas...


–       Desculpe se pareço egoísta, mas e quanto a mim?


–       Você fazia parte dos meus planos! Senão tivesse se oferecido para vir eu teria ido buscá-la! Vai acabar acostumando e pode usar as roupas de Rebecca; quando saiu daqui ela me fez comprar novas. A mãe dela a escondeu aqui quando foi presa em Azkaban.


–       Imaginei.


–       Rebecca é uma bruxa das Trevas como todo mundo aqui. – disse Patrick apontando para as pessoas voltando com galões cheios de água. – Todos aqui já feriram ou mataram alguém. Lembre-se disso. Agora vou lhe mostrar o seu quarto!


Patrick abriu as portas de um quarto todo branco com almofadas espalhadas pelo chão; havia uma banheira que parecia mais uma piscina de água azul e perfumada.


–       Fique a vontade. – disse fechando a porta.


Hermione se atirou na cama e começou a chorar. Depois de enxugar as lágrimas abriu todas as gavetas de uma cômoda; não havia nada; no guarda roupa apenas vestidos e sandálias.


–       A senhorita deve se arrumar para o jantar. – disse uma moça entrando no quarto.


–       Quem é você?


–       Vou ajudá-la a se preparar. – respondeu a moça sem olhar diretamente para Hermione.


–       Você sabe como sair daqui?


–       Patrick a aguarda em meia hora. A água está do seu agrado?


–       Qual seu nome? Como veio parar aqui?


–       Chame se precisar; basta bater palmas.


Hermione respirou fundo e olhou para o céu. Alguém viria; ela tinha certeza que alguém viria. Provavelmente naquele momento estariam pensando em como entrar naquela estúpida floresta. Pensou nos pais e como deviam estar preocupados e em Rony; o vira por alguns segundos...


Patrick a esperava numa bela mesa decorada com frutas e flores. Hermione comeu algumas frutas em silêncio. Tentava acreditar que apesar de tudo ele não a machucaria. Com muito esforço o olhou de frente; não queria que ele se zangasse.


–       Gostou do quarto? Era da minha mãe; o meu fica no andar de cima. Eu gostava de descer de vassoura e pregar um susto nela todas as manhas. Ela sempre fingia que se assustava.


–       Não há fotos dela.


–       Estão todas no meu quarto.


–       Gostaria de vê-las.


–       Levo para você mais tarde. Estou arrumando as coisas o mais rápido possível. Ninguém nos esperava, sabe como é?


–       Não fizemos reservas...


–       É!


–       Que horas são?


–       Aqui não há necessidade de contar o tempo Hermione. Relaxe.


–       Onde está o seu... amigo?


–       Eu o deixei livre por aí.


–       Ele parece perigoso.


–       Talvez só esteja zangado.


–       Sabe quem ele é?


–       Não faço idéia, mas pensarei em um meio de me comunicar com ele e aproveitá-lo.


Patrick a levou para ver de perto a cachoeira.


–       É enfeitiçada é claro, mas tem peixes. Pode nadar se quiser.


–       Essa nevoa acima de nós?


–       Proteção. Eu sinto quando alguém passa por ela. Há também agora alguns feitiços para quando Harry vier me atacar.


–       Você tentou matá-lo no galpão! Você fez coisas horríveis!


–       Hey! Lutar com um ciclope não é fácil! E teve também aqueles lobisomens na ilha...


–       Não sei como pude acreditar...


–       O que você e Harry fizeram sozinhos naquela casa todo esse tempo?


–       Conversamos.


–       Certo... Eu vi que Harry não dormiu no sofá...


–       Ele foi até o meu quarto e me contou sobre você!


–       Sério? Falaram sobre mim?


–       Não ache legal! Não foi legal! Foi uma decepção ouvir o que ele sabia sobre você! Saber como você nos enganou...


–       Eu tentei ajudar muitas vezes... – resmungou Patrick.


A tal moça acordava Hermione toda manha; esperava que tomasse banho e passava as toalhas sem nunca dizer uma palavra. Por mais que tentasse se comunicar com as pessoas ninguém lhe dava atenção. Numa noite ouviu um barulho e viu Patrick acompanhado de um homem negro de longos cabelos brancos tentando controlar o homem ou criatura que Patrick se referia como seu convidado.


–       Não pode matar ninguém por aqui entendeu? Fique de olho nele Chattar! Desculpe por isso! – disse acenando para Hermione. – Volte a dormir.


–       Ok. Boa noite...


Hermione abraçou os joelhos sentada na cama. Ainda ouviu gritos e mais reclamações de Patrick o resto da noite.


–       Deus! Harry, Rony onde estão vocês? Pai... mamãe... – disse Hermione voltando para cama. – Por favor! Não me deixem aqui!


O dia seguinte amanheceu ensolarado e quente.


–       Pena você não gostar de voar.


–       Não, não gosto.


–       Por que anda tão mal humorada?


–       Não sei... Que dia é hoje?


–       Boa tentativa, mas eu também não sei. Podemos sair hoje e ter se passado anos. Rony e Harry podem estar mortos há muito tempo.


–       Não diga isso!


–       É verdade. Aposto que pensaram em você até o ultimo dia da vida deles! Talvez tenham casado com alguma garota legal. Quem sabe tenham contado sua historia para os netos!


Hermione começou a bater em Patrick.


–       Eu gostava de você!


–       Ah é?


–       Gostava mesmo! Vou pro meu quarto!


–       Vá! E só volte quando passar esse mal humor.


–       Não fale comigo!


–       E você vai falar com quem?


–       Com a mesma pessoa que você vai falar!


Hermione bateu a porta do quarto com força. Após alguns minutos Patrick chamou por ela.


–       Tenho uma coisa para você. Um livro... Posso entrar e mostrar?


–       Vá embora!


Como não ouviu mais Patrick e estava mesmo um dia quente; Hermione entrou na banheira; deitou a cabeça na borda e fechou os olhos e recomeçou a chorar.


–       Cuidado. Pode adormecer. – disse Patrick no meio do quarto.


–       Saia daqui! – gritou Hermione encolhida na banheira


–       Só pra você saber que posso entrar aqui a hora que eu quiser.


–       Claro que pode você é o dono de tudo por aqui!


–       Sim eu sou! Tome! – disse arremessando um livro sobre a cama.


–       Não entendo você... às vezes você era tão...


–       Não importa! Você não conseguiu me amar antes... Sei que não me amará agora que sabe tudo sobre mim.


–       Você fez muitas coisas contra muita gente, mas eu disse a verdade! Eu gostava de você... Por favor, saia... – disse Hermione soluçando.


Durante a noite Hermione leu o livro “Cogumelos e espinhos venenosos: como disfarçar o gosto em poções”.


–        É mesmo interessante... – disse Hermione durante o café do dia seguinte. – Aprendeu magia com esses livros? Só sua mãe o ensinava?


–       Aprendi com ela, com Chattar e a maioria dos bruxos que viveram aqui. Aprendi a voar com um ex-jogador do Blue Sharks. Ele matou um cara numa briga e veio parar aqui; ele era muito bom batedor.


–       O que aconteceu com ele? Com todas essas pessoas que o ajudaram?


–       Morreram.


–       Como sua mãe morreu?


–       Ela só morreu.


–       A neblina...


–       Protege a floresta e a mim você já sabe disso.


–       Por que a as pessoas agem de modo tão estranho e não falam comigo? O que aconteceu com eles enquanto você esteve fora?


–       Nada. Continuaram aqui! Você acordou com vontade de fazer perguntas!


–       Aquelas fotos de quando era criança.


–       O que tem?


–       Por que me mostrou?


–       Você queria saber mais sobre mim. Mostrei o que podia e contei o que podia.


–       A história sobre você ter pegado uma varinha.


–       Morávamos numa vila e tivemos alguns problemas. Coisa de criança.


–       Sua mãe foi uma bruxa das Trevas. Quem? Qual o nome dela? Talvez eu tenha lido algo a respeito.


–       Provavelmente sim.


–       E seu pai?


–       E meu pai foi um Observador. Um casamento complicado, muitas brigas.


–       Posso imaginar. Um Observador? – perguntou Hermione surpresa.


–       É. Eu sou mais velho do que aparento. Quando meu pai nos deixou minha mãe lançou uma maldição e ele retribuiu.


–       Sinto muito Patrick.


–       Por quê? Eu gosto de ser assim. Não é uma aparência muito social, mas sou muito mais forte e...


–       Solitário. Por isso gosta tanto de saber sobre Hogwarts?


–       Não tenho esse tipo de problema Hermione. Embora tenha que confessar que sua companhia me agrada.


–       Então deveria se desculpar.


–       Sobre o que? Mentir? Matar? Seqüestrar? Pode esquecer...


–       Me espionar no banho. Foi uma grosseria!


–       Foi interessante também.


Hermione jogou um copo de suco de laranja no rosto de Patrick.  O homem que parecia ajudar Patrick se aproximou devagar.


–       O ilustre convidado matou mais uma pessoa.


–       Mesmo? – perguntou Patrick enxugando o rosto. – Vou falar com ele. Faça companhia a Srta. Granger. Esse é Chattar.


–       Senhorita. – disse Chattar fazendo um reverencia.


–       Pro favor me ajude a fugir daqui. – disse Hermione quando Patrick se afastou.


–       É impossível sair e, agora, também entrar. Às vezes trouxas curiosos acabavam entrando e ficam presos aqui com os outros; a maioria acaba se matando depois de algum tempo.


–       Animador...


–       A floresta de fora não é grande, mas foi enfeitiçada de vários modos; o primeiro círculo...


–       Primeiro...


–       É onde estamos! A vila e alguns animais domésticos, o segundo algumas criaturas de médio porte e periculosidade, mas no terceiro e ultimo circulo ninguém sabe realmente.


–       Realmente animador... Uma garota saiu daqui com Patrick.


–       Sim, mas foi por vontade dele. – respondeu Chattar e Hermione notou um certo incomodo na resposta.


Patrick voltou coberto de terra.


–       Não sei por que ele se comporta assim!


–       Vai ver não gosta daqui... – disse Hermione.


–       Engraçada... Ela perguntou como sair daqui?


–       Claro que perguntei! Senhor, pode me emprestar mais alguns livros?


–       Emprestar...


–       Claro que pode, mas só dez de cada vez. – ironizou Patrick.


–       E alguma coisa para escrever?


–       Não, nada de anotações.


Óbvio que os livros que Chattar deixou Hermione foliar não eram os mais interessantes, mas ter passado um bom tempo com a Sra. Kessler e sua incrível biblioteca foi mais que útil.


–       Sono negro! É isso! – disse Hermione enquanto Patrick a levava para um passeio.


–       Isso o que?


–       O que Chattar dá a essas pessoas. Faz a pessoa só obedecer mesmo que não concorde. É Chattar que a prepara não é?


–       Não sei do que está falando.


–       Patrick...


–       Não vou dizer nada.


–       Não precisa. Eu já sei tudo.


–       Você não é nada modesta. Conte a Chattar; eu quero ver a cara dele e conte também que é a herdeira de uma centena de livros sobre Artes das Trevas.


–       Contarei... Patrick o que você fez a Rony para ele ir embora?


–       Nada. Rony ia deixá-la de qualquer jeito...


–       Ele estava por perto afinal. Salvou os pais dele na casa da Sra. Robinson.


–       A garota está para ter o bebê; com certeza ele... O bebê é dele! Ele a traiu!


–       Você a ameaçou também não foi?


–       Ouviu o que ele disse. Ficar com você era um sacrifício!


–       Mas você quer que eu fique aqui.


–       Eu sou diferente. Rony não merecia você! Todo mundo sabe que ele é totalmente inferior a você e até a Harry! Ele é um bruxo medíocre, preguiçoso e...


–       Cale a boca! Não fale assim dele!


–       Como pôde gostar de um cara que sabia que ia te magoar? Diga que estou errado amiga da família!


Hermione se controlou para não começar a gritar; se esforçou para puxar pela memória momentos que contradiziam tudo que Patrick passou a falar de Rony.


–       Você nunca nos contou o que viu quando estava sobre o efeito daquele pó mágico.


–       Vi meu pai indo embora... E eu dizendo para minha mãe que ele voltaria porque era um covarde então eu o mataria. Vi uma cidade que ele sempre falava...


–       Seu pai deixou tudo para ficar com sua mãe e ela não mudou nada por ele? – perguntou Hermione.


–       Meu pai não era um santo. Você mais que ninguém conhece história da magia sabe da fama de torturadores que os Observadores tinham!


–       Verdade. Talvez eles tivessem nascido um para o outro afinal de contas...


–       Não quero mais falar dos meus pais! Você quer falar dos seus?


–       Não... Só responda uma coisa: quando se transformou o que sentiu?


–       Fiquei zangado. Se sair daqui já era difícil...


Hermione sentou no chão e Patrick aos poucos contou mais detalhes de sua infância.


–       Você e Rebecca namoraram quanto tempo?


–       Tempo demais. Ela me ajudou aperfeiçoando a poção Polissuco... queria sair daqui tanto quanto eu então ela se empenhou em me agradar ao máximo.


–       Ela é realmente uma grande mestra de poções!


–       Ah, é sim... entre outras coisas...


–       Pare!


Apoiada nos joelhos Hermione ouvia a historia; ao mesmo tempo observava as expressões e movimentos de Patrick ao falar. Ele gostava de se gabar.


–       Artes das Trevas. Isso une as pessoas.


–       Lena Kessler dizia isso...


–       No fim Solomon conhecia o cara que cuidava dos arquivos no Ministério.


–       Ele freqüentava o pub?


–       Sim, e me ajudou com documentos, mas o teste de aptidão mágica eu passei com folga... então Solomon me falou sobre Draco...


Continuaram a conversa sobre os últimos acontecimentos.


–       Imagine que se Hayyan Zeelen tivesse seguido os conselhos da Sra. Kessler – comentou Patrick – ele seria tão poderoso quanto Voldemort.


–       Nunca saberemos, mas talvez ele não fosse como Tom assim como Adso não era.


–       Adso era bem ingênuo para um futuro bruxo das Trevas; ele mesmo me falou onde estavam as chaves dos cofres. Acho que ele planejava livrar Anjelica e fugir.


–       O Sr. Olivaras gostava dele.


–       Vocês sempre procuram alguma coisa boa nas pessoas. Isso me impressiona.


–       Em algum momento pensou em fazer as coisas de uma maneira diferente? Sem machucar ou prejudicar alguém?


–       Quando Solomon morreu achei que poderia viver como você e Harry.


–       Poderia se quisesse. Se realmente tentasse.


–       Vocês vivem encrencados! – disse Patrick rindo. – Não é tão vantajoso assim!


Hermione teve que concordar.


–       Você pode parar com...


–       O que? – perguntou Patrick curioso.


–       A cauda...


–       Desculpe... Levei um tempo para me acostumar sem ela e agora...


Hermione teve um acesso de riso.


–       Desculpe... Se acostumar com a cauda...


–       Pare!


Ela continuou a rir


–       Odeio essa cauda.


–       Seu rosto. – disse Hermione parando de rir.


–       Que tem?


–       Está mais...  As bochechas! Você está corado!


–       Bobagem.


–       Está sim! – disse Hermione passando a mão pelo rosto vermelho e áspero de Patrick; os olhos cinza fixos nos gestos dela.  Ele pegou as mãos dela.


–       Tome cuidado ao me tocar.


–       Quando cuidei das suas queimaduras... você teve o mesmo cuidado. Passou muito tempo sem que ninguém realmente...


–       Senhor... – disse a moça que cuidava das coisas de Hermione. – O jantar. O que prefere?


–       O que Hermione decidir está bom. – disse Patrick puxando Hermione para mais uma caminhada.


O humor de Hermione mudou bastante. Patrick achou que era pelos livros, mas Hermione aproveitava o tempo que ele a deixava sozinha para observar o cotidiano das pessoas ao seu redor. Eram como robôs fazendo suas tarefas pontualmente.


–       Qual seu nome? – perguntou Hermione pela milésima vez à garota que arrumava sua cama. – Você e Chattar são os únicos que andam livremente por aqui.


–       Meu nome é Airene. Chattar é meu pai.


–       Quanto tempo está aqui?


–       Desde sempre.


–       Conheceu a mãe de Patrick? Amelie.


–       Não. Ela não se dirigia a ninguém que não ele. A senhorita tem sorte de cair nas graças de Patrick.


–       É eu sei...


Ouviram uma explosão no céu. Hermione correu para ver.


–       Estava demorando! Revistadores! – exclamou Patrick.


Uma dezena de vassouras sobrevoou a floresta lançando feitiços. Hermione tentava enxergar entre todos Harry ou Rony.


–       Eles não nos veem; estão lançando feitiços aleatórios. Olha só as vassouras que estão usando! Muito boas! Acho que vou voar um pouco com eles!


–       Espere! O que vai fazer?


–       Só voar um pouco!


–       Não vá machucar alguém!


–       Você acha que eles não querem me machucar?


Patrick conjurou a vassoura e ultrapassou a neblina; Hermione pode ver que além de ser noite estava nevando. Ele subiu trocando feitiços com os Revistadores; nenhum conseguia atingi-lo. Sobrevoava a floresta a toda velocidade e quando mergulhou de volta os Revistadores bateram com força na proteção mágica e foram resgatados pelos colegas que vieram em seguida. Patrick desceu satisfeito com o próprio desempenho; Hermione tinha os olhos no céu.


Nos dias seguintes mais Revistadores investiram contra a floresta. Patrick os derrubava com prazer.


–       Faz dias que tentam ultrapassar a proteção e nem sinal dos seus heróis. Como eu disse Hermione eles podem ter morrido anos atrás.


–       Não... Eles não me deixaram não depois de tudo...


–       Que passaram juntos? Esqueça Hermione acabou. Seu destino é agora aqui comigo.


 

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Comentários (1)

  • meroku

    otimo capitulo!!!!!!!!!!!!finalmente todos sabem a verdade sobre o Patrick 

    2012-08-23
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