AS MEIO-VAMPIRAS



Ao dar-se conta de que Snape e McGonagall chegavam trazendo cinco estudantes desacordados em macas, Madame Pomfrey quase teve um acesso de histeria. Providenciou camas e roupas limpas e escutou com assombro os dois professores contarem o que havia acontecido.


Quando eles se retiraram, a bruxa curandeira fechou as cortinas ao redor das macas e trocou as roupas das meninas com um cuidado excessivo. Não havia muito que fazer além de um curativo nos locais das mordidas e deixa-las repousar até que o efeito do feitiço lançado pelos vampiros passasse.


Quentinhas e envolvidas por cobertas limpas, Valentina, Cecília e Hermione dormiram até a manhã seguinte, alheias às transformações que ocorreram em seus corpos durante a noite.


Harry acordou com um murmúrio de muitas vozes falando juntas pelo dali, do outro lado da enfermaria. Abriu os olhos, piscou contra a claridade e tateou ao lado para procurar os óculos. Colocou-os e sentou na cama. Quando olhou para o lado, viu que Rony estava de olhos abertos, ainda deitado. Ele fez sinal para que Harry ficasse em silêncio e escutasse.


―Elas parecem estar voltando a si. – a voz de McGonagall comentou.


―Elas estarão com sede ao despertarem. – uma voz masculina desconhecida falou.


―Dumbledore, eu não acho que seja seguro manter alguém como ele numa enfermaria, sabe. – Madame Pomfrey disse, com a voz contida.


―Ramsés não fará mal a ninguém, Papoula, posso assegurar isso. Ele nos deu a sua palavra. – Dumbledore disse.


Rony e Harry se entreolharam com a mesma pergunta entalada na garanta. Ramsés? Quem diabos era Ramsés?


―Eu acredito, Ramsés, que você irá cumprir com sua palavra assim que a Srta. Granger despertar, e desfazer o laço de sangue. – Dumbledore disse, pressuroso.


―Certamente. Eu nunca falto com a minha palavra. – a voz masculina assegurou, solene.


A boca de Rony se abriu numa exclamação surda.


―Hermione está aqui! Por que Hermione está aqui? – ele sussurrou.


―Não sei. Mas com certeza há outras pessoas aqui também. Você não ouviu eles falarem que "elas parecem estar voltando a si"?


Rony fez que ia se levantar, e seu movimento chamou a atenção dos professores do outro lado da enfermaria, que olharam juntos na direção dos garotos.


―Ah! Vocês aí!


Madame Pomfrey correu em direção a eles e começou a se assegurar se estava tudo bem.


―Estamos OK! – Harry resmungou.


―O que há com Hermione? – Rony perguntou.


Madame Pomfrey crispou os lábios. Neste momento, Dumbledore se aproximou deles, tirando a chance da bruxa de responder.


―Vejo que os senhores estão novos em folha. Como se sentem?


―Bem. – Harry respondeu honestamente. ―Só queríamos entender...


―Há, realmente, muitas coisas a serem esclarecidas, mas precisamos esperar que as senhoritas Granger, Alves e Monfort despertem, para que possamos então ter um esclarecimento em grupo.


―O que aconteceu com elas? – Harry pôs-se de pé.


―Isso também será esclarecido depois que elas acordarem.


Harry e Rony caminharam até as camas das amigas, que estavam escondidas por cortinas, e se aproximaram da Prof. McGonagall e daquele homem estranho chamado Ramsés que estava parado de pé num canto ao lado da cama de Hermione, escondido nas sombras.


Hermione se mexeu, sonolenta. Valentina deu um longo suspiro sem ainda abrir os olhos. Cecília se moveu, respirou fundo, e piscou contra a claridade ambiente.


Madame Pomfrey e McGonagall correram para o lado de sua cama e a observaram. Cecília abriu os olhos, confusa. Por um momento, não parecia saber onde estava. Ela piscou, e seus olhos focalizaram a enfermeira e a professora olhando para ela.


―Meu Deus! – Madame Pomfrey exclamou, dando um passo para trás.


―Monfort, – McGonagall fez força para parecer calma. ―Como se sente?


―Bem. – ela respondeu com uma voz que soou melódica aos seus próprios ouvidos. ―Com sede. Muita sede. – disse, levando uma mão a garganta.


Naquele exato momento, Snape entrou na enfermaria trazendo três grandes garrafas de vidro que levitavam ao seu lado. Harry olhou e viu que havia uma bebida muito escura dentro delas. Snape depositou as garrafas nas mesas de cabeceira ao lado das camas.


―A poção já está fervendo. Enquanto isso, esse é o único remédio que posso oferecer. – Snape disse.


Dumbledore concordou com um aceno da cabeça.


―Obrigado, Severo.


Lançando um olhar de desprezo para Harry, Snape se colocou aos pés da cama de Valentina. Ela se mexia mais agora, parecia a ponto de despertar. Todos voltaram sua atenção para ela enquanto Madame Pomfrey abria uma das garrafas e oferecia o conteúdo em um copo para Cecília.


Valentina abriu os olhos e por um momento se deteve no teto, franzindo o cenho e apertando os olhos. Parecia tão intrigada com alguma coisa acima dela que Harry e Rony olharam para o teto também, mas não viram nada além do lustre de velas.


Ela então virou a cabeça, e seus olhos caíram sobre os dois amigos. Rony deu um passo para trás, de boca aberta.


Foi então que Harry entendeu o motivo da surpresa da Prof. McGonagall e de Madame Pomfrey ao se depararem com Cecília acordada. O azul dos olhos de Valentina havia se tornado diferente, quase líquido, como se dentro da íris dançasse uma substância mística. Harry não sabia explicar com o que se parecia aquilo, mas se tivesse que verbalizar sua opinião, diria que os olhos de Valentina pareciam ter um céu estrelado dentro deles.


A análise de Harry pareceu levar muitos longos minutos e ele demorou a perceber que agora Valentina abria um sorriso para ele e Rony. Entre os dentes muito brancos e alinhados, os dois caninos se destacavam pelas singelas pontas ligeiramente alongadas e afiadas.


Valentina se sentou e recostou na cama e olhou em volta, encarando os professores. Seu sorriso esmaeceu à medida que ela se começava a se lembrar do ocorrido. Seu olhar se deteve em Dumbledore.


―Ah, meu Deus! Ah, não!


―Está tudo bem, minha querida. – Madame Pomfrey se apressou até ela, abrindo sua garrafa e lhe servindo um copo da bebida. ―Está tudo bem.


―Ei! Isso por acaso é sangue de dragão?


Rony apontava para a garrafa, os olhos arregalados.


―Que dedução espantosa, Weasley. – Snape desdenhou.


Por que elas estão bebendo sangue de dragão? – Rony voltou a perguntar, alarmado demais para reparar no deboche de Snape.


―Para evitarem beber o seu, Weasley, e, quem sabe, o da escola inteira. – Snape respondeu, ríspido.


―O que o senhor quer dizer com...


Harry começou a pergunta, mas não terminou. Hermione era a próxima a acordar. Ela abriu os olhos de uma só vez, olhou os professores ao seu redor e, abrindo a boca numa exclamação surda, fez como se fosse colocar-se de pé. Uma mão forte, cujos dedos eram ornamentados de anéis de ouro, contudo, a fez voltar a se deitar. Era Ramsés.


―Deite-se, minha pequena.


Hermione olhou para ele, sem entender. Era a primeira vez que escutava aquela voz grave e ressonante. Madame Pomfrey encheu um copo com sangue de dragão e forçou-lhe goela abaixo.


Fez-se um longo silêncio. Cecília, Valentina e Hermione examinavam os rostos dos professores ali parados. Valentina já tinha descoberto como suas unhas haviam, de repente, se tornado interessantes naquele tom vítreo. Lia examinava um cacho dos seus cabelos, agora lustrosos como nunca estiveram antes. Hermione e todos os outros tinham a atenção voltada para Ramsés, que observava as meninas nas camas ao lado.


Dumbledore quebrou então o silêncio.


―Acredito, Ramsés, que você já pode reverter o laço da Srta. Granger.


Ramsés ia responder que sim quando Snape interrompeu:


―Desculpe me intrometer, Diretor, mas não seria mais adequado que os alunos pudessem, antes, entender o que lhes aconteceu?


―Claro, Severo. Você está absolutamente certo.


Harry e Rony agradeceram intimamente pela intervenção de Snape. Queriam muito entender o que havia acontecido. Hermione, por outro lado, estava imersa em seus próprios pensamentos, com cara de quem já havia somado dois mais dois.


Dumbledore se virou para Ramsés.


―Por favor, tome a palavra.


O homem concordou com um aceno da cabeça e deu um passo à frente, o que o fez sair das sombras. Finalmente Harry, Rony, Hermione, Lia e Tina puderam vislumbrar sua figura inteira.


―Tudo começou, é claro, com o retorno de Voldemort.


Um arrepio percorreu por todos, exceto por Harry, Snape e Dumbledore.


―Vocês devem se perguntar qual a ligação entre o retorno do Lord das Trevas e o acidente com essas três senhoritas. – Ramsés fez um gesto largo indicando Hermione, Tia e Lia. ―A verdade é que grande parte da minha espécie, quando Voldemort estava no poder há mais de quinze anos atrás, se uniu de bom grado a ele. A expectativa de se banquetearem com o sangue de trouxas e bruxos que ele chamava de "sangue-ruins" fez com que muitos perdessem a cabeça e quebrassem o nosso código de nos mantermos afastados da espécie humana.


Harry não conseguiu conter o ímpeto de interromper.


―O que significa, então, que a sua espécie são os vampiros?


Ramsés olhou solene para Harry.


―Exatamente, Harry Potter.


Harry não ficou aturdido com o fato do vampiro a sua frente saber o seu nome. Ramsés continuou:


―Nosso código de conduta se resume em apenas nos aproximarmos dos humanos quando necessitamos nos alimentar, o que, contradizendo as lendas, não se dá todas as noites de nossa eterna existência. O outro único motivo que nos faz nos aproximarmos dos humanos é quando sentimos uma forte atração por algum deles; uma atração tão incrível que se torna mais forte do que nosso raciocínio. É por conseqüência dessa atração que criamos novos vampiros.


Ramsés fez uma pausa, olhando diretamente nos olhos de todos, especialmente das meninas e de Harry e Rony.


―Ainda não entendi o que Voldemort tem haver com isso. – Harry disse.


―Quando Voldemort estava no poder, aqueles que se recusaram a se unir a ele, escolheram lugares isolados para hibernarem. O cheiro de sangue derramado poderia nos fazer entrar em frenesi e nos forçar a agir conforme nossos instintos mais primitivos. Eu e meu bando escolhemos os subterrâneos de Hogwarts. Uma vez que Dumbledore nos deu permissão para hibernar, nós nos instalamos no interior da segunda câmara secreta, com a promessa de que jamais nos aproximaríamos dos alunos.


"Acontece que, desde que Voldemort retomou o poder um ano atrás, que nossa espécie tem estado alvoroçada."


"Mesmo quando hibernamos, temos a capacidade de captar os pensamentos e as conversas mais inflamadas de outros bebedores de sangue, como ondas de rádio invadindo nossa mente. Isso fez com que alguns de nós acordássemos, mas resistíssemos e logo retomássemos o sono. Infelizmente, só os mais antigos conseguem ter um autodomínio tão grande sobre si mesmos, quando pensamentos de outros começam a lhes invadir a mente e o cheiro de sangue começa a persuadi-los a acordar. Infelizmente os dois mais jovens do meu bando não resistiram, embora minhas crias mais velhas tivessem feito de tudo para impedi-los. Eles acordaram, se sentiram atraídos por essas duas moças, e armaram uma armadilha para atraí-las até nossos aposentos."


―As vozes que eu escutava então... eram deles. – Valentina deduziu.


Ramsés concordou com um aceno da cabeça.


―As vozes que a senhorita diz que ouvia certamente eram deles e também de Roxana e Latifa, minhas filhas mais velhas. Elas de tudo fizeram para força-los a voltar ao sono, desde argumentos racionais até encantamentos antigos, mas nada funcionou. Eles estavam, e ainda estão absolutamente apaixonados.


"Eles me confessaram, no escritório de Dumbledore, que atrair os melhores amigos das moças era parte da armadilha. Pierre e Andrea saíram ao cair da tarde, lançaram um encantamento nos rapazes e os levaram para dentro da câmara, tendo o cuidado de deixar a entrada aberta. Então eles usaram esta moeda falsa para chamar a atenção das moças e faze-las procurar pelos dois amigos. Disseram que encontraram no bolso do jovem Potter."


Ramsés mostrou o galeão falso que Harry usava para marcar data e hora das reuniões da AD e devolveu a ele. Harry guardou o galeão cuidadosamente no bolso.


―Mas como eles puderam adivinhar como os galeões funcionam? – Hermione perguntou.


―Eles há muito vinham observando suas escolhidas. Não foi difícil fazer as deduções, especialmente depois que um dos jovens pareceu perder sua moeda falsa pelo caminho.


―Neville. – Lia murmurou, balançando a cabeça descontente.


―Há uma pergunta que eu gostaria de fazer. – Snape interrompeu, num sussurro perigoso.


Seus olhos negros estudaram cada uma das meninas, os galeões, e em seguida, Harry e Rony.


―O que alunos andam fazendo com galeões falsos encantados dentro dos bolsos? E como eles serviram para atrair outros alunos?


Hermione abriu e fechou a boca para responder. Harry ficou momentaneamente tenso e Rony corou até as orelhas. Valentina e Cecília apenas olharam de uma para a outra. Dumbledore, contudo, pareceu captar o perigo da pergunta com mais rapidez do que todos os outros, e deu uma risada simpática.


―Ora, Severo! Isso me parece coisa dos gêmeos Weasley. Uma grande piada, para ser sincero.


―Uma piada que nas mãos erradas parece ficar muito perigosa. – Snape comentou, apertando os olhos para Harry e Rony.


Harry sustentou o olhar do professor, mas a voz de Dumbledore o fez voltar a atenção para as amigas.


―Ramsés, agora que temos a situação explicada, quando poderá iniciar os procedimentos com a Srta. Granger, aqui?


―Assim que o sol se pôr. Não faltarei com a minha palavra. – o vampiro respondeu, fazendo uma educada reverência com a cabeça.


―Professor, com licença. – Valentina interrompeu. ―O que, afinal, aconteceu com a gente?


Foi McGonagall quem respondeu.


―Ora, Srta. Alves. Pensei que tivesse ficado óbvio. Ou este curativo em seu pescoço não lhe responde nada?


Ela levou a mão ao pescoço. A professora terminou por responder.


―As senhoritas foram atraídas para a câmara dos vampiros e mordidas. Felizmente, o processo de transformação não foi finalizado e vocês não se tornaram vampiras. Por outro lado, agora vocês são meio vampiras e precisarão tomar a Poção da Sobrevivência Sobrenatural até que seus iniciadores resolvam reverter o laço. A srta. Granger – McGonagall olhou para Hermione ―Terá seu laço desfeito esta noite, pois não foi mordida propositalmente. Já as senhoritas. – ela olhou preocupada para Tina e Lia e suspirou ―Como escutaram Ramsés explicar, seus iniciadores estão relutantes em reverter o laço. Até lá, tudo o que temos que fazer é esperar.


―Obrigado, Minerva. – Dumbledore agradeceu, cortês. ―Acredito que um pouco de privacidade agora venha a cair bem. Com licença.


E dando o assunto por encerrado, Dumbledore levou todos para fora da enfermaria, deixando Harry, Rony, Mione, Tina e Lia, finalmente sozinhos.


Fez-se silêncio mais uma vez. Harry sentou-se ao pé da cama de Tina e Rony sentou-se ao lado da cama de Mione. Todos refletiam, calados. Lia pegou um espelho na sua mesinha de cabeceira e se olhou, dando um sorrisinho de quem aprovava o reflexo.


Não era apenas Lia que aprovava a sua nova aparência. Harry e Rony tinham admitido intimamente que as meninas ficaram verdadeiramente mais bonitas depois de mordidas. Os cabelos ficaram mais sedosos – até mesmo os de Mione – a pele ficou mais uniforme e macia; isso sem falar dos olhos, que agora pareciam ter uma substância mágica dançando dentro deles, um brilho místico, difícil de explicar e misteriosamente atraente.


Depois de muitos minutos de silêncio contemplativo, Hermione falou.


―Vocês todos lembram quais as características de um meio-vampiro?


―Se você não lembra, Mione,quem somos nós para lembrar?


Hermione balançou a cabeça e revirou os olhos.


―Rony, você às vezes é tão obtuso. Estou dizendo que me parece uma boa idéia, nos tempos atuais, ser um meio vampiro. Quero dizer, basta lembrar das características de um.


―E quais são? – Harry perguntou.


―Eu me lembro de uma. – Valentina disse. ―Visão noturna triplamente apurada.


―E unhas afiadas como navalhas. – Lia completou.


Hermione sorriu triunfante: ―Isso aí!


―Não me parece grande vantagem perto de ter que beber sangue de dragão e a Poção da Sobrevivência Sobrenatural.


―Pode parecer que não, Harry, mas qual dos outros integrantes da AD possuem essas características? São atributos que podem nos colocar em vantagem se formos enfrentar os Comensais da Morte, ou até mesmo Você-Sabe-Quem.


―Se ao menos tivéssemos a força de um vampiro legítimo e a capacidade de ler pensamentos... isso sim seria vantagem. – Tina disse.


―Bom, mas somos capazes de atacar, não somos? Por isso que temos que tomar a poção. – Hermione continuou, apertando os dedos. ―Sem a poção, somos um perigo para qualquer bruxo.


―Um perigo mortal. Não é a toa que temos esses caninos. – Lia falou, ainda contemplando o reflexo de seus dentes no espelho. ―Que aliás, tenho que admitir que achei um charme. Vocês não?

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